Instalador (O) ID: 32430874 01-09-2010 Tiragem: 7000 Pág: 18 País: Portugal Cores: Preto e Branco Period.: Mensal Área: 18,28 x 26,26 cm² Âmbito: Ambiente e Ciência Corte: 1 de 2 REPORTAGEM Verão é sinónimo de incêndios… “Desde o anterior quadro comunitário que não há investimento na floresta nacional”, acusa ANEFA Texto_Ana Clara O VERÃO DE 2010 FOI QUENTE, à antiga. Só no ano passado foram 87 mil os hectares de floresta consumidos. E este ano, só até 31 de Julho arderam em Portugal 19347 hectares de floresta, sendo que o número vai ser muito maior. A ANEFA alerta para as consequências que as chamas aliadas à falta de investimento na floresta portuguesa podem vir a provocar. E a associação dá um exemplo: de acordo com o Inventário Florestal Nacional 2005/06, estima-se que tenha ardido nesse período 16,4% da área de pinheiro, 9,9% da área de eucaliptal, e 2,6% da área de sobreiro em Portugal. “O impacto anual dos incêndios na economia do país, que só nestas três espécies, e para o período em análise, é superior ao custo de construção dos estádios de futebol do Euro 2004, ou mesmo de 1/5 do custo do Aeroporto de Alcochete”, acusa. “Ano após ano, assistimos a um inte- mento de vegetação, é preciso sim in- numa altura em que se torna premente resse quase perverso em falar de incên- vestir na floresta, na sua manutenção e o decréscimo da taxa de desemprego”. dios florestais, deixando para trás o preservação, ou seja, é necessário que A vertente social da floresta é também valor ambiental, social e económico da o Programa de Desenvolvimento Rural realçada pela associação, que diz que floresta”, é desta forma que a ANEFA, (Proder) entre em funcionamento”, lê- aquela seria traduzida pela integração em comunicado, começa por alertar -se no comunicado a que O Instalador de trabalhadores nas zonas rurais e para o problema. teve acesso. pelos cerca de 400 mil proprietários A direcção desta associação lembra Realçam que desde o anterior Quadro cujos rendimentos advêm do capital in- que “se culpa o Inverno chuvoso e as Comunitário, “não há investimento na vestido em floresta. recentes temperaturas elevadas, culpa- floresta nacional”. Assim, “o Proder “Se considerarmos uma média de três -se políticos e até proprietários pelo poderia ser neste momento o principal pessoas por agregado familiar, significa abandono das terras, aponta-se a falta meio de combate aos incêndios flo- que mais de 12 % da população por- de meios de combate, e deixa-se no ar, restais, pois uma vez operacionalizado, tuguesa comporta as consequências como que uma nuvem de fumo a der- permitiria que municípios, empresários, dos incêndios florestais nos seus rendi- radeira causa dos incêndios florestais”. proprietários e produtores florestais mentos”, adianta o documento. Porém, “a verdade é que este flagelo tivessem dinheiro para investir na flo- Em termos económicos, os incêndios depende essencialmente da carga com- resta, necessárias florestais “têm sem dúvida um impacte bustível e do ordenamento florestal, ou acções de silvicultura preventiva nas significativo”. Utilizando como referên- da falta deste”. suas áreas”. cia os resultados preliminares do Inven- A associação considera que com um A par da importância da realização tário Florestal Nacional 2005/06, cenário severo de alterações climáti- dessas acções, “seria ainda relevante estima-se que tenha ardido nesse cas, pouco resta fazer em relação às o facto de as matas estarem permanen- período 16,4% da área de pinheiro, 9,9% condições meteorológicas que se anun- temente vigiadas pelos prestadores de da área de eucaliptal, e 2,6% da área de ciam. “Não podemos esperar por um serviços que estariam a efectuar sobreiro em Portugal Continental. Verão menos quente, ou um Inverno limpezas florestais, e ainda pela Considerando um valor médio de 2500 menos húmido e propício ao desenvolvi- manutenção de postos de trabalho, euros por hectare (ha) de pinheiro ar- 184 O Instalador Set’10 www.oinstalador.pt efectuando as Instalador (O) ID: 32430874 01-09-2010 Tiragem: 7000 Pág: 19 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 19,35 x 17,06 cm² Âmbito: Ambiente e Ciência Corte: 2 de 2 dido, 1500 euros por cada ha de eu- FUNDO FLORESTAL PERMANENTE sustentabilidade da floresta, elemento calipto e 1500 euros por ha de sobreiro, Ainda assim, recorde-se que Portugal é, essencial na preservação do ambiente, a “é notório o impacto anual dos incêndios no entanto, o único país europeu que economia nacional e o desenvolvimento na economia do país, que só nestas três desenvolveu um Fundo de apoio à flo- rural, é posta em causa todos os anos, espécies, e para o período em análise, é resta. Criado em 2004, o Fundo Flores- sem que se compreenda afinal que, os in- superior ao custo de construção dos es- tal Permanente (FFP), gerado através cêndios florestais se combatem no In- tádios de futebol do Euro 2004, ou de um imposto aplicado aos com- verno”, conclui o documento. mesmo de 1/5 do custo do Aeroporto de bustíveis e pago por todos os con- Recorde-se que na Fase Bravo (1 a 30 Alcochete”. “Fazendo uma retrospectiva tribuintes, gera anualmente 30 milhões de Junho) estiveram envolvidos 6625 dos últimos 10 anos, verifica-se que o de euros, que deveria ajudar a ultrapas- homens no combate às chamas e que a custo dos incêndios florestais daria para sar “alguns destes constrangimentos, juntar aos 9900 elementos que se en- cobrir os investimentos referentes ao e relançar o investimento no sector”. volveram na Fase Charlie (1 de Julho a equivalente a ¼ do valor de construção “Contudo, esta verba apenas tem sido 30 de Setembro), até 4 de Agosto, os do TGV”, alertam. aplicada no apoio ao planeamento, cria- dados contabilizam 16225 homens. No período entre 2000 e 2004, foram ção e manutenção de estruturas orga- Até ao início de Agosto estiveram no gastos em prevenção cerca de 150 mil- nizativas ligadas à produção, arranjo de terreno 3800 meios terrestres, 86 hões de euros, contrastando com os caminhos e estradas”. meios aéreos e estavam operacionais 330 milhões gastos no combate aos in- Feitas as contas, os cerca de 150 mil- em Portugal Continental 302 postos de cêndios, o que transfigura uma clara hões de euros já adquiridos por este vigilância das florestas nacionais. No falta de estratégia. Em 2003, o custo Fundo, dariam para arborizar mais de final de Setembro, estes dados serão tido em prevenção, combate, perdas de 100 mil hectares ou para limpar cerca outros e, infelizmente, não serão, segu- bens e serviços e recuperação, ascen- de 200 mil hectares, ajudariam na cria- ramente, melhores, a avaliar pelo Verão deram os 1.026,7 milhões de euros, no ção de mais de 10 mil postos de tra- quente que o País está a atravessar. entanto em 2004, os gastos em pre- balho permanentes, e ao nível das Até 15 de Agosto, as chamas já con- venção rondaram os 52, 6 milhões, ou receitas para o Estado, representaria sumiram em Portugal 71000 hectares seja, 20 vezes menores ao efectiva- cerca de 37 milhões de euros de con- de floresta. mente necessário. tribuição para a Segurança Social. “Na verdade, o milhão de euros gastos “Deste modo, parece claro a necessi- em 2003, daria para arborizar mais de dade de mudar mentalidades, e de se in- 700 mil hectares ou para limpar cerca verter o conceito de prioridade. A de 1.400 mil hectares, no entanto, continua-se à espera de soluções ‘vindas do céu’, quando a floresta reclama por prevenção e gestão activa”, salienta a ANEFA.