Fundamentos da Neurociência Telles da Costa Neves A neurociência é o estudo cientifico do sistema nervoso e é uma ciência interdisciplinar, que integra diversas áreas como a química, biologia, psicologia, medicina, etc., contudo a complexidade do sistema nervoso central da espécie humana exige o estudo isolado de cada campo e o exercício da inter-relação de pesquisas. Existem pelo menos cinco maneiras ou áreas de estudo da relação entre sistema nervoso e comportamento e/ou sua fisiologia: O espectro animal – diversidade de modelos que a natureza oferece e os padrões reconhecíveis de comportamento e de estrutura anatômica e bioquímica. Atividade também denominada Neuroetologia As diversas patologias e lesões anatômicas e suas consequências funcionais. Para deficiência, por exemplo, já se conhece pelo menos 300 causas. Os estágios do desenvolvimento humano/animal e envelhecimento. Existem estágios previsíveis de modificação anatômico-funcional e comportamental nas diversas fases do desenvolvimento do sistema nervoso humano. Efeito de drogas em diferentes sítios anatômicos existe certo consenso quanto a três formas básicas de efeito farmacológico de drogas no sistema nervoso. Estudo da mente (psique), a inteligência, capacidade cognitiva e comportamento, para um grande conjunto de alterações comportamentais estudadas pela psicopatologia e criminologia ainda não existe consenso sobre suas causas biológicas e psicossociais. O mesmo pode ser dito para alterações psiconeuroendócrino fisiológicas da experiência religiosa ou êxtase religiosos e estados alterados de consciência induzidos por técnicas como meditação e yoga. Sistema Nervoso Central O encéfalo se aloja no interior do crânio, e a medula espinal no interior de um canal existente na coluna vertebral. O encéfalo e a medula são formados por células da glia, por corpos celulares de neurônios e por feixes de dentritos e axônios. Sistema nervoso central - substância branca e cinzenta A camada mais externa do encéfalo tem cor cinzenta e é formada principalmente por corpos celulares de neurônios. Já a região encefálica mais interna tem cor branca e é constituída principalmente por fibras nervosas (dendritos e axônios). A cor branca se deve a bainha de mielina que reveste as fibras. Na medula espinal, a disposição das substâncias cinzenta e branca se inverte em relação ao encéfalo; a camada cinzenta é interna e a branca, externa. Meninges Tanto o encéfalo como a medula espinal é protegido por três camadas de tecido conjuntivo (as meninges). A meninge externa, mais espessa, é a duramáter; a meninge mediana é a aracnóide; e a mais interna é a pia-máter, firmemente aderido ao encéfalo e a medula. A pia-máter contém vasos sanguíneos responsáveis pela nutrição e oxigenação das células do sistema nervoso central. Entre a aracnóide e a pia-máter, há um espaço preenchido pelo líquido cerebrospinal ou líquido cefalorraquidiano, que também circula nas cavidades internas do encéfalo e da medula, esse líquido tem a função de amortecer os choques mecânicos do sistema nervoso central contra os ossos do crânio e da coluna vertebral. Partes do encéfalo Suas partes fundamentais são: Lobo olfativo; Cérebro; Tálamo; Lobo óptico; Cerebelo; Bulbo raquidiano (ou medula oblonga). Tronco encefálico Ponte: - regulação da respiração e bexiga - controle vestibular dos movimentos oculares Bulbo: - Regulação → respiração, cardiovascular. - Reflexos → deglutição, tosse, vômito. Mesencéfalo: - controle dos movimentos oculares - retransmissão acústica - controle motor Cerebelo → Integra a informação sensorial sobre a posição (corpo no espaço) que chega da medula espinhal com informação motora oriunda do córtex cerebral, além da informação sobre o equilíbrio. - Coordenação, planejamento e execução dos movimentos. - Manutenção da postura Tálamo - Processa informação sensorial e motora, que se dirige ou se origina no córtex cerebral, tronco encefálico e medula. Hipotálamo - Controle de temperatura corporal, ingestão de alimento e balanço hídrico - Glândula endócrina → hipófise - Secreta ADH e ocitocina Hemisférios cerebrais Córtex cerebral - Percepção sensorial - Funções motoras - Cognição - Aprendizagem e memória → Cada uma das áreas do córtex cerebral controla uma atividade específica. 1) Hipocampo: região do córtex que está dobrada sobre si e possui apenas três camadas celulares; localiza-se medialmente ao ventrículo lateral. 2) Córtex olfativo: localizado ventral e lateralmente ao hipocampo; apresenta duas ou três camadas celulares. 3) Neocórtex: córtex mais complexo; separa-se do córtex olfativo mediante um sulco chamado fissura rinal; apresenta muitas camadas celulares e várias áreas sensoriais e motoras. As áreas motoras estão intimamente envolvidas com o controle do movimento voluntário. Gânglios da base - Controle motor Lobos Cerebrais: - Lobo Frontal - Lobo Parietal - Lobo Temporal - Lobo Occipital - Ínsula (localizada entre o lobo parietal e temporal) Lobo Frontal O lobo frontal, que inclui o córtex motor e pré-motor e o córtex pré-frontal, está envolvido no planejamento de ações e movimento, assim como no pensamento abstrato. A atividade no lobo frontal aumenta nas pessoas normais somente quando temos que executar uma tarefa difícil em que temos que descobrir uma sequência de ações que minimize o número de manipulações necessárias. A parte da frente do lobo frontal, o córtex pré-frontal, tem que ver com estratégia: decidir que sequências de movimento ativar e em que ordem e avaliar o seu resultado. As suas funções parecem incluir o pensamento abstrato e criativo, a fluência do pensamento e da linguagem, respostas afetivas e capacidade para ligações emocionais, julgamento social, vontade e determinação para ação e atenção seletiva. Traumas no córtex pré-frontal fazem com que uma pessoa fique presa obstinadamente a estratégias que não funcionam ou que não consigam desenvolver uma sequência de ações correta. Lobo Parietal Os lobos parietais, localizados na parte superior do cérebro, são constituídos por duas subdivisões - a anterior e a posterior. A zona anterior designa-se por córtex somatossensorial e tem por função possibilitar a recepção de sensações, como o tacto, a dor, a temperatura do corpo. Nesta área primária, que é responsável por receber os estímulos que têm origem no ambiente, estão representadas todas as áreas do corpo. São as zonas mais sensíveis que ocupam mais espaço nesta área, porque têm mais dados para interpretar. Os lábios, a língua e a garganta recebem um grande número de estímulos, precisando, por isso, de uma maior área. A área posterior dos lobos parietais é uma área secundária que analisa, interpreta e integra as informações recebidas pela área anterior ou primária, permitindo-nos a localização do nosso corpo no espaço, o reconhecimento dos objetos através do tacto, etc. Lobo Temporal Os lobos temporais estão localizados na zona por cima das orelhas tendo como principal função processar os estímulos auditivos. Os sons produzem-se quando a área auditiva primária é estimulada. Tal como nos lobos occipitais, é uma área de associação - área auditiva secundária- que recebe os dados e que, em interação com outras zonas do cérebro, lhes atribui um significado permitindo ao Homem reconhecer o que ouve. Lobo Occipital Os lobos occipitais estão localizados na parte inferior do cérebro. Coberta pelo córtex cerebral, esta área é também designada por córtex visual, porque processa os estímulos visuais. É constituída por varias subáreas que processam os dados visuais recebidos do exterior depois de terem passado pelo tálamo: há zonas especializadas em processar a visão da cor, do movimento, da profundidade, da distância, etc. Depois de percebidas por esta área - área visual primária- estes dados passam para a área visual secundária. É aqui que a informação recebida é comparada com os dados anteriores que permite, por exemplo, identificar um cão, um automóvel, uma caneta. A área visual comunica com outras áreas do cérebro que dão significado ao que vemos tendo em conta a nossa experiência passada, as nossas expectativas. Por isso é que o mesmo objeto não é percepcionado da mesma forma por diferentes sujeitos. Para além disso, muitas vezes o cérebro é orientado para discriminar estímulos. Uma lesão nesta área provoca agnosia, que consiste na impossibilidade de reconhecer objetos, palavras e, em alguns casos, os rostos de pessoas conhecidas ou de familiares. Lobo da Ínsula Lobo da ínsula é um lobo profundo situado no fundo do sulco lateral, no encéfalo. A ínsula tem forma triangular com vértice ínfero-anterior, está separada dos lobos vizinhos por sulcos preiinsulares. Possui cinco giros (curtos e longos). Suas principais funções são fazer parte do sistema límbico e coordenar emoções, além de ser responsável pelo paladar. Sistema Límbico É um sistema em forma de anel cortical, contínuo, que contorna as formações inter-hemisféricas. Está relacionado fundamentalmente com a regulação dos processos Emocionais e do Sistema Nervoso Autônomo. Foi considerado por Broca (1878) como lobo independente. Funções gerais: → Comportamento Emocional → Memória → Aprendizado → Emoções → Vida vegetativa (digestão, circulação, excreção etc.) Partes mais importante do sistema límbico Amigdala: Perigo, medo, alerta (comportamento de fuga). Hipocampo: memória de longa duração Córtex entorrial: fixação da memória. Tálamo: Regulador das emoções. Hipotálamo: Função vegetativa do encéfalo (controle do comportamento, temperatura, impulso de comer e beber, etc). Desempenha também papel nas emoções. O hormônio ADH, o hormônio antidiurético, é produzido pelo hipotálamo, Quando bebemos álcool este bloqueio o ADH fazendo com que vamos mais vezes ao banheiro. Giro Cingulado: Coordena odores e visões com memórias agradáveis de emoções anteriores. Reação emocional da dor e regulação do comportamento agressivo. “Deja vu”. Tronco cerebral: Reações emocionais, manutenção do ciclo vigia e sono. Área tegmentar ventral: Sensação de prazer, orgasmo. Redução do número de neurônios desta área gera alcoolismo, compulsividade por doces, cocainomania. Septo: Centros de orgasmo (quatro nas mulheres e um nos homens). Área pré-frontal: três áreas fundamentais e anatômicas: Área dorsolateral (raciocínio), área orbito frontal e área cingulada anterior dirige a atenção, papel importante na motivação do comportamento. Sistema Nervoso Periférico O Sistema Nervoso Periférico é constituído pelos nervos e gânglios nervosos e sua função é conectar o sistema nervoso central às diversas partes do corpo humano. Nervos e gânglios nervosos Nervos são feixes de fibras nervosas envoltas por uma capa de tecido conjuntivo. Nos nervos há vasos sanguíneos, responsáveis pela nutrição das fibras nervosas. As fibras presentes nos nervos podem ser tanto dendritos como axônios que conduzem, respectivamente, impulsos nervosos das diversas regiões do corpo ao sistema nervoso central e vice-versa. Gânglios nervosos são aglomerados de corpos celulares de neurônios localizados fora do sistema nervoso central. Os gânglios aparecem como pequenas dilatações em certos nervos. Nervos sensitivos, motores e mistos Nervos sensitivos são os que contêm somente fibras sensitivas, que conduzem impulsos dos órgãos sensitivos para o sistema nervoso central. Nervos motores são os que contêm somente fibras motoras, que conduzem impulsos do sistema nervoso central até os órgãos efetuadores (músculos ou glândulas). Nervos mistos contêm tanto fibras sensitivas quanto motoras. Nervos cranianos São os nervos ligados ao encéfalo, enquanto nervos ligados à medula espinal são denominados nervos espinais ou raquidianos. Possuímos doze pares de nervos cranianos, responsáveis pela intervenção dos órgãos do sentido, dos músculos e glândulas da cabeça, e também de alguns órgãos internos. Nervos espinais ou raquidianos Dispõe-se em pares ao longo da medula, um par por vértebra. Cada nervo do par liga-se lateralmente à medula por meio de duas "raízes", uma localizada em posição mais dorsal e outra em posição mais ventral. A raiz dorsal de um nervo espinal é formada por fibras sensitivas e a raiz ventral, por fibras motoras. Gânglios espinais Na raiz dorsal de cada nervo espinal há um gânglio, o gânglio espinal, onde se localizam os corpos celulares dos neurônios sensitivos. Já os corpos celulares dos neurônios motores localizam-se dentro da medula, na substância cinzenta. Os nervos espinais ramificam-se perto da medula e os diferentes ramos inervam os músculos, a pele e as vísceras. Fisiologia do sistema nervoso Funções do encéfalo - As informações vindas das diversas partes do corpo chegam até as partes específicas do encéfalo, chamadas de centros nervosos, onde são integradas para gerar ordens de ação na forma de impulsos nervosos que são emitidas às diversas partes do corpo através das fibras motoras presentes nos nervos cranianos e espinais. O encéfalo humano contém cerca de 35 bilhões de neurônios e pesa aproximadamente 1,4 kg. A região superficial do cérebro, que acomoda bilhões de corpos celulares de neurônios (substância cinzenta), constitui o córtex cerebral. O córtex cerebral está dividido em mais de quarenta áreas funcionalmente distintas. Cada uma delas controla uma atividade específica. Tálamo e Hipotálamo - Todas as mensagens sensoriais, com exceção das provenientes dos receptores do olfato, passam pelo tálamo antes de atingir o córtex cerebral. Este é uma região de substância cinzenta localizada entre o tronco encefálico e o cérebro. O tálamo atua como estação retransmissora de impulsos nervosos para o córtex cerebral. Ele é responsável pela condução dos impulsos às regiões apropriadas do cérebro onde eles devem ser processados. O hipotálamo, também constituído por substância cinzenta, é o principal centro integrador das atividades dos órgãos viscerais, sendo um dos principais responsáveis pela homeostase corporal. Ele faz ligação entre o sistema nervoso e o sistema endócrino, atuando na ativação de diversas glândulas endócrinas. É o hipotálamo que controla a temperatura corporal, regula o apetite e o balanço de água no corpo e está envolvido na emoção e no comportamento sexual. Tronco Encefálico - Formado pelo mesencéfalo, pela ponte e pela medula oblonga (ou bulbo raquidiano), o tronco encefálico conecta o cérebro à medula espinal. Além de coordenar e integrar as informações que chegam ao encéfalo, ele controla a atividade de diversas partes do corpo. O mesencéfalo é responsável por certos reflexos. A ponte é constituída principalmente por fibras nervosas mielinizadas que ligam o córtex cerebral ao cerebelo. O bulbo raquidiano participa na coordenação de diversos movimentos corporais e possui importantes centros nervosos. Cerebelo - É o responsável pela manutenção do equilíbrio corporal, é graças a ele que podemos realizar ações complexas, como andar de bicicleta e tocar violão, por exemplo. O cérebro recebe as informações de diversas partes do encéfalo sobre a posição das articulações e o grau de estiramento dos músculos, bem como informações auditivas e visuais. Funções da medula espinal - A medula espinal elabora respostas simples para certos estímulos. Essas respostas medulares, denominadas atos reflexos, permitem ao organismo reagir rapidamente em situações de emergência. A medula funciona também como uma estação retransmissora para o encéfalo. Informações colhidas nas diversas partes do corpo chegam à medula, de onde são retransmitidas ao encéfalo para serem analisadas. Por outro lado, grande parte das ordens elaboradas no encéfalo passa pela medula antes de chegar aos seus destinos. A parte externa da medula, de cor branca, é constituída por feixes de fibras nervosas mielinizadas, denominados tratos nervosos, que são responsáveis pela condução de impulsos das diversas regiões da medula para o encéfalo e viceversa. Divisão funcional do SNP As ações voluntárias resultam da contração de músculos estriados esqueléticos, que estão sob o controle do sistema nervoso periférico voluntário ou somático. Já as ações involuntárias resultam da contração das musculaturas lisa e cardíaca, controladas pelo sistema nervoso periférico autônomo, também chamado involuntário ou visceral. SNP Voluntário Tem por função reagir a estímulos provenientes do ambiente externo. Ele é constituído por fibras motoras que conduzem impulsos do sistema nervoso central aos músculos esqueléticos. SNP Autônomo Tem por função regular o ambiente interno do corpo, controlando a atividade dos sistemas digestivos, cardiovascular, excretor e endócrino. Ele contém fibras nervosas que conduzem impulsos do sistema nervoso central aos músculos lisos das vísceras e à musculatura do coração. SNP Autônomo Simpático e SNP Autônomo Parassimpático O SNP autônomo (SNPA) é dividido em dois ramos: simpático e parassimpático, que se distinguem tanto pela estrutura quanto pela função. Enquanto os gânglios da via simpática localizam-se ao lado da medula espinal, distantes do órgão efetuador, os gânglios das vias parassimpáticas estão longe do sistema nervoso central e próximos ou mesmo dentro do órgão efetuador. As fibras nervosas simpáticas e parassimpáticas inervam os mesmos órgãos, mas trabalham em oposição. Enquanto um dos ramos estimula determinado órgão, o outro o inibe. Essa ação antagônica mantém o funcionamento equilibrado dos órgãos internos. O SNPA simpático, de modo geral, estimula ações que mobilizam energia, permitindo ao organismo responder a situações de estresse. Por exemplo, o SNPA simpático é responsável pela aceleração dos batimentos cardíacos, pelo aumento da pressão sanguínea, pelo aumento da concentração de açúcar no sangue e pela ativação do metabolismo geral do corpo. Já o SNPA parassimpático estimula principalmente atividades relaxantes, como a redução do ritmo cardíaco e da pressão sanguínea, entre outras. Mediadores químico no SNPA Simpático e Parassimpático Tanto nos gânglios do SNPA simpático como nos do parassimpático ocorrem sinapses químicas entre os neurônios pré-ganglionares e os pósganglionares. Nos dois casos, a substância neurotransmissora da sinapse é a acetilcolina. No SNPA parassimpático, o neurotransmissor é a acetilcolina, como nas sinapses ganglionares. Já no simpático, o neurotransmissor é, com poucas exceções, a noradrenalina. Função do Sistema Nervoso O sistema nervoso é responsável pelo ajustamento do organismo ao ambiente. Sua função é perceber e identificar as condições ambientais externas, bem como as condições reinantes dentro do próprio corpo e elaborar respostas que adaptem a essas condições. A unidade básica do sistema nervoso é a célula nervosa, denominada neurônio, que é uma célula extremamente estimulável; é capaz de perceber as mínimas variações que ocorrem em torno de si, reagindo com uma alteração elétrica que percorre sua membrana. Essa alteração elétrica é o impulso nervoso. As células nervosas estabelecem conexões entre si de tal maneira que um neurônio pode transmitir a outros os estímulos recebidos do ambiente, gerando uma reação em cadeia. Neurônios: células nervosas - Um neurônio típico apresenta três partes distintas: corpo celular, dendritos e axônio. No corpo celular, a parte mais volumosa da célula nervosa, se localiza o núcleo e a maioria das estruturas citoplasmáticas. Os dendritos (do grego dendron, árvore) são prolongamentos finos e geralmente ramificados que conduzem os estímulos captados do ambiente ou de outras células em direção ao corpo celular. O axônio é um prolongamento fino, geralmente mais longo que os dendritos, cuja função é transmitir para outras células os impulsos nervosos provenientes do corpo celular. Os corpos celulares dos neurônios estão concentrados no sistema nervoso central e também em pequenas estruturas globosas espalhadas pelo corpo, os gânglios nervosos. Os dendritos e o axônio, genericamente chamados fibras nervosas, estendem-se por todo o corpo, conectando os corpos celulares dos neurônios entre si e às células sensoriais, musculares e glandulares. Células Glia - Além dos neurônios, o sistema nervoso apresenta-se constituído pelas células glia, ou células gliais, cuja função é dar sustentação aos neurônios e auxiliar o seu funcionamento. As células da glia constituem cerca de metade do volume do nosso encéfalo. Há diversos tipos de células gliais. Os astrócitos, por exemplo, dispõem-se ao longo dos capilares sanguíneos do encéfalo, controlando a passagem de substâncias do sangue para as células do sistema nervoso. Os oligodendrócitos e as células de Schwann enrolam-se sobre os axônios de certos neurônios, formando envoltórios isolantes. Impulso Nervoso - A despolarização e a repolarização de um neurônio ocorrem devido as modificações na permeabilidade da membrana plasmática. Em um primeiro instante, abrem-se "portas de passagem" de Na+, permitindo a entrada de grande quantidade desses íons na célula. Com isso, aumenta a quantidade relativa de carga positiva na região interna na membrana, provocando sua despolarização. Em seguida abrem-se as "portas de passagem" de K+, permitindo a saída de grande quantidade desses íons. Com isso, o interior da membrana volta a ficar com excesso de cargas negativas (repolarização). A despolarização em uma região da membrana dura apenas cerca de 1,5 milésimo de segundo (ms). O estímulo provoca, assim, uma onda de despolarizações e repolarizações que se propaga ao longo da membrana plasmática do neurônio. Essa onda de propagação é o impulso nervoso, que se propaga em um único sentido na fibra nervosa. Dendritos sempre conduzem o impulso em direção ao corpo celular, por isso diz que o impulso nervoso no dendrito é celulípeto. O axônio por sua vez, conduz o impulso em direção às suas extremidades, isto é, para longe do corpo celular; por isso diz-se que o impulso nervoso no axônio é celulífugo. A velocidade de propagação do impulso nervoso na membrana de um neurônio varia entre 10cm/s e 1m/s. A propagação rápida dos impulsos nervosos é garantida pela presença da bainha de mielina que recobre as fibras nervosas. A bainha de mielina é constituída por camadas concêntricas de membranas plasmáticas de células da glia, principalmente células de Schwann. Entre as células gliais que envolvem o axônio existem pequenos espaços, os nódulos de Ranvier, onde a membrana do neurônio fica exposta. Nas fibras nervosas mielinizadas, o impulso nervoso, em vez de se propagar continuamente pela membrana do neurônio, pula diretamente de um nódulo de Ranvier para o outro. Nesses neurônios mielinizados, a velocidade de propagação do impulso pode atingir velocidades da ordem de 200m/s (ou 720km/h ). Sinapses: transmissão do impulso nervoso entre células Um impulso é transmitido de uma célula a outra através das sinapses (do grego synapsis, ação de juntar). A sinapse é uma região de contato muito próximo entre a extremidade do axônio de um neurônio e a superfície de outras células. Estas células podem ser tanto outros neurônios como células sensoriais, musculares ou glandulares. As terminações de um axônio podem estabelecer muitas sinapses simultâneas. Na maioria das sinapses nervosas, as membranas das células que fazem sinapses estão muito próximas, mas não se tocam. Há um pequeno espaço entre as membranas celulares (o espaço sináptico ou fenda sináptica). Quando os impulsos nervosos atingem as extremidades do axônio da célula pré-sináptica, ocorre liberação, nos espaços sinápticos, de substâncias químicas denominadas neurotransmissores ou mediadores químicos, que tem a capacidade de se combinar com receptores presentes na membrana das células pós-sináptica, desencadeando o impulso nervoso. Esse tipo de sinapse, por envolver a participação de mediadores químicos, é chamado sinapse química. Os cientistas já identificaram mais de dez substâncias que atuam como neurotransmissores, como a acetilcolina, a adrenalina (ou epinefrina), a noradrenalina (ou norepinefrina), a dopamina e a serotonina. Disso é feito o funcionamento do cérebro: da transmissão constante de sinais elétricos e químicos de um lado para outro. O que você faz, pensa ou sente a cada instante depende de quais neurônios estão mais ou menos ativos a cada instante. Doenças e Distúrbios do Sistema Nervoso Acidente Vascular Cerebral (AVC) É um distúrbio grave do sistema nervoso. Podem ser causados tanto pela obstrução de uma artéria, que leva à isquemia de uma área do cérebro, como por uma ruptura arterial seguida de derrame. Os neurônios alimentados pela artéria atingida ficam sem oxigenação e morrem, estabelecendo-se uma lesão neurológica irreversível. A porcentagem de óbitos entre as pessoas atingidas por AVC é de 20 a 30% e, dos sobreviventes, muitos passam a apresentar problemas motores e de fala. Algum dos fatores que predispõem ao AVC são as hipertensões arteriais, a taxa elevada de colesterol no sangue, a obesidade, o diabete melito, o uso de pílulas anticoncepcionais e o hábito de fumar. Ataques Epiléticos – Epilepsia não é uma doença e sim um sintoma que pode ocorrer em diferentes formas clínicas. As epilepsias aparecem, na maioria dos casos, antes dos 18 anos de idade e podem ter causas diversas, tais como anomalias congênitas, doenças degenerativas do sistema nervoso, infecções, lesões decorrentes de traumatismo craniano, tumores cerebrais, etc. Cefaleias - São dores de cabeça que podem se propagar pela face, atingindo os dentes e o pescoço. Sua origem está associada a fatores diversos como tensão emocional, distúrbios visuais e hormonais, hipertensão arterial, infecções, sinusites, etc. A enxaqueca é um tipo de cefaleia que ataca periodicamente a pessoa e se caracteriza por uma dor latejante, que geralmente afeta metade da cabeça. As enxaquecas são frequentemente acompanhadas de fotofobia (aversão a luz), distúrbios visuais, náuseas, vômitos, dificuldades em se concentrar, etc. As crises de enxaqueca podem ser desencadeadas por diversos fatores, tais como tensão emocional, tensão pré-menstrual, fadiga, atividade física excessiva, jejum, etc. Doenças degenerativas do sistema nervoso - Diversos fatores podem causar morte celular e degeneração, em maior ou menor escala, do sistema nervoso. Esses fatores podem ser mutações genéticas, infecções virais, drogas psicotrópicas, intoxicação por metais, poluição, etc. As doenças nervosas degenerativas mais conhecidas são a esclerose múltipla, a doença de Parkinson, a doença de Huntington e a doença de Alzheimer. Esclerose Múltipla - Se manifesta por volta dos 25 a 30 anos de idade, sendo mais frequente nas mulheres. Os primeiros sintomas são alterações da sensibilidade e fraqueza muscular. Pode ocorrer perda da capacidade de andar, distúrbios emocionais, incontinência urinária, quedas de pressão, sudorese intensa, etc. Quando o nervo óptico é atingido, pode ocorrer diplopia (visão dupla). Doença de Parkinson Manifesta-se geralmente a partir dos 60 anos de idade e é causada por alterações nos neurônios que constituem a "substância negra" e o corpo estriado, dois importantes centros motores do cérebro. A pessoa afetada passa a apresentar movimentos lentos, rigidez corporal, tremor incontrolável, além de acentuada redução na quantidade de dopamina, substância neurotransmissora fabricada pelos neurônios do corpo estriado. Doença de Huntington - Começa a se manifestar por volta dos 40 anos de idade. A pessoa perde progressivamente a coordenação dos movimentos voluntários, a capacidade intelectual e a memória. Causado pela morte dos neurônios do corpo estriado. Pode ser hereditária, causada por uma mutação genética. Doença de Alzheimer - O nome da doença surgiu por causa do neurologista alemão Alois Alzheimer. Esta doença é uma demência que se manifesta por volta dos cinquenta anos e se caracteriza por uma deterioração intelectual profunda, desorientando a pessoa, que perde progressivamente a memória, as capacidades de aprender e de falar. Essa doença é considerada a primeira causa de demência senil. A expectativa média de vida de quem sofre desta moléstia é entre cinco e dez anos, embora atualmente muitos pacientes sobrevivam por 15 anos ou mais. PS.: Demência senil - forma clínica de deterioração intelectual do idoso. Cerca de 10% de todas as pessoas maiores de 65 anos sofrem uma degeneração intelectual significativa. Através do Alzheimer, ocorre alterações em diversos grupos de neurônios do córtex-cerebral, é uma doença hereditária, tendo origem por mutação gênica. É uma demência degenerativa primária ainda pouco conhecida: pré-disposição hereditária, fatores congênitos, perturbações metabólicas diversas, intoxicações, infecções por vírus, etc. Uma anomalia enzimática parece ser uma provável causa que transformaria, por fosforilação excessiva e inadequada, uma proteína normal do cérebro (TAU) em proteína anormal (A68) encontrada nos neurofilamentos encefálicos. Mas todas essas causas ainda são consideradas hipóteses. Não existe uma prevenção possível para esta doença. Só um tratamento médico-psicológico intensivo do paciente, que visa mantê-lo o maior tempo possível em seu tempo normal de vida. Com a ajuda da família e a organização de uma assistência médico-social diversificada é possível retardar a evolução da doença. Em 1993, a Food and Drug Administration autorizou a comercialização nos Estados Unidos, do primeiro remédio contra a doença - THA (tetrahidro-aminoacrime) ou tacrine. Doenças infecciosas do sistema nervoso - Vírus, bactérias, protozoários e vermes podem parasitar o sistema nervoso, causando doenças de gravidade que depende do tipo de agente infeccioso, de seu estado físico e da idade da pessoa afetada. Diversos tipos de vírus podem atingir as meninges (membranas que envolvem o sistema nervoso central), causando as meningites virais. Se o encéfalo for afetado, fala-se de encefalites. Se a medula espinal for afetada, falase de poliomielite. Infecções bacterianas também podem causar meningites. O protozoário Plasmodium falciparum causa a malária cerebral, que se desenvolve em cerca de 2 a 10% dos pacientes. Destes, cerca de 25% morrem em consequência da infecção. O verme platelminto Taenia solium (a solitária do porco) pode, em certos casos, atingir o cérebro, causando cisticercose cerebral. A pessoa adquire a doença através da ingestão de alimentos contaminados com ovos de tênia. Os sintomas são semelhantes aos das epilepsias. Como ser neurocientista? Não existe graduação em neurociência: neurocientistas são em geral biólogos, biomédicos, médicos, psicólogos - mas vários vêm também da física, engenharia, nutrição ou outras formações específicas. Se você ainda não entrou na faculdade mas acha que gostaria de ser neurocientista, deve pensar sobretudo em que tipo de formação gostaria de ter: - uma visão ampla da vida, focando em sua diversidade de formas, funções e comportamento e com uma base sólida de evolução da diversidade animal (biologia); - uma visão focada em processos celulares e moleculares da vida (biomedicina); - uma formação detalhada em anatomia e fisiologia humana apenas, com a possibilidade de optar mais tarde por trabalhar em clínica (medicina); - uma formação focada no comportamento animal, principalmente humano (psicologia). A formação de um neurocientista começa após a graduação, em um programa de pós-graduação em Neurociência (embora existam poucos na Brasil) ou em um dos diversos programas que tem linha de pesquisa na área como, por exemplo, Farmacologia, Fisiologia, Morfologia ou Biofísica. Cada programa de pós-graduação tem seus critérios de avaliação e exigências, mas é quase regra a apresentação de um Projeto de pesquisa, apoiado por um pesquisador do programa escolhido, que seja considerado como possível orientador do candidato. Outro caminho é optar pela divulgação científica, especialmente para os profissionais de outras áreas, como jornalismo. Há para isto cursos de especialização e de pós-graduação em locais como a Unicamp (SP), USP e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz – RJ). Cursos de Pós Graduação em Neurociência Bahia Curso de Especialização em Neuropsicologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Curso de Especialização em Saúde Mental da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Espírito Santo Programa de Pós-graduação em Psicologia com linhas de pesquisa em Neurociências da Universidade Federal do Espírito Santo Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas com linhas de pesquisa em Neurociências da Universidade Federal do Espírito Santo Minas Gerais Programa de Pós-graduação em Neurociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Pará Programa de Pós-graduação em Neurociências e Biologia Celular da Universidade Federal do Pará (UFPA) Paraná Curso de Especialização em Neuro-Psicanálise do Instituto Superior do Litoral do Paraná Programa de Pós-graduação em Neurociência da PUCPR Programa de Pós-graduação em Farmacologia com linhas de pesquisa em Neurociências da Universidade Federal do Paraná Programa de Pós-graduação em Bioquímica com linhas de pesquisa em Neurociências da Universidade Federal do Paraná Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular com linhas de pesquisa em Neurociências da Universidade Federal do Paraná Pernambuco Programa de Pós-Graduação em Neuropsiquiatria e Ciência do Comportamento da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Programa de Pós-Graduação em Fisiologia com linhas de pesquisa em Neurociências da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Programa de Pós-Graduação em Psicologia com linhas de pesquisa em Neurociências da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Rio de Janeiro Programa de Pós-graduação em Ciências Morfológicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Programa de Pós-graduação em Farmacologia com linhas de pesquisa em Neurociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica da PUC Programa de Pós-graduação em Neurologia (área de concentração: Neurociência) da UNI-RIO Programa de Pós-graduação em Neurologia e Neurociências da UFF Rio Grande do Norte Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Programa de Pós-graduação em Psicobiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Rio Grande do Sul Programa de Pós-graduação em Neurociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Santa Catarina Programa de Pós-graduação em Neurociências da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) São Paulo Programa de Pós-graduação em Neurologia/Neurociência da UNIFESP Programa de Pós-graduação em Neurociências e Comportamento da USP Sites para pesquisa em Neurociências: http://www.cerebronosso.bio.br/ http://www.institutodafelicidade.org.br/?pg=inicial http://neurociencia.tripod.com/#. http://www.sbneurociencia.com.br/ http://www.sbnec.org.br/site/ http://www.suzanaherculanohouzel.com/ http://www.revistaneurociencias.com.br/