O PAPEL DO ENFERMEIRO COMO EDUCADOR

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FERREIRA; SILVA SANTOS; FREITAS. O PAPEL DO ENFERMEIRO COMO EDUCADOR JUNTO A
CUIDADORES FAMILIARES DE PESSOAS COM ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: Suporte após a alta. Revista Objetiva VIII – ISSN 2317-­‐0034 Revista Objetiva VIII – ISSN 2317-­‐0034 O PAPEL DO ENFERMEIRO COMO EDUCADOR JUNTO A CUIDADORES
FAMILIARES DE PESSOAS COM ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO:
Suporte após a alta.
Ann Otilia Paiva Ferreira1
Carla Ribeiro da Silva Santos2
Marianny Rodrigues de Freitas3
Resumo
O acidente vascular encefálico é um déficit neurológico, que consiste na perda
repentina da função encefálica. Devido a isso, torna-se uma doença incapacitante,
ocasionando, na maioria das vezes, alguma sequela no cliente. Sendo assim, surge
o personagem de grande importância na continuação dos cuidados ao mesmo fora
do ambiente hospitalar, o cuidador familiar. Uma continuidade adequada dos
cuidados resulta em qualidade de vida para o cliente e o cuidador, sendo que este é
significativamente afetado, além de evitar possíveis re-internações. Para que o
cuidador esteja apto a cuidar adequadamente no domicílio, é necessário ser
orientado, ensinado e cabe ao enfermeiro e sua equipe o importante papel de
educadores. Portanto, o presente estudo teve como objetivo mostrar a importância
do papel do enfermeiro como educador junto a cuidadores familiares. Como método,
foi realizada uma pesquisa exploratória, descritiva, utilizando um questionário semiestruturado. Com a participação de 11 cuidadores familiares de setembro a outubro
de 2011. Os resultados obtidos foram distribuídos em gráficos e tabelas e discutidos.
Observa-se, através dos resultados, a alarmante falta de orientações recebidas,
onde apenas 8% dos entrevistados disseram que receberam orientações, porém,
essa falta de informações pode estar relacionada à falta de profissionais, tempo para
realização das atividades e falta de comunicação entre a equipe de saúde. Os
resultados alertam para o papel do enfermeiro como educador, na orientação dos
cuidadores, sobre os cuidados pós-alta. Observou-se também, a necessidade do
planejamento da alta com respeito a um plano de orientações e a importância da
realização de mais pesquisas dando ênfase ao papel de educador do enfermeiro.
Palavras-chave: Cuidador familiar. AVE. Alta-hospitalar.
1
Enfermeira Especialista em Formação Pedagógica na Saúde – FIOCRUZ, Mestranda em Ciências Ambientais e Saúde – PUC/GO, gerente
da Regional de Saúde Sudoeste I.
2
Enfermeira Especialista em Formação Pedagógica na Saúde – FIOCRUZ, Mestranda em Ciências Ambientais e Saúde – PUC/GO, gerente
da Regional de Saúde Sudoeste I. Docente do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde – IESRIVER, Supervisora Regional de
Planejamento e Gestão da Regional de Saúde Sudoeste I. 3
Enfermeira graduada pelo Instituto de Ensino Superior de Rio Verde – IESRIVER.
99 FERREIRA; SILVA SANTOS; FREITAS. O PAPEL DO ENFERMEIRO COMO EDUCADOR JUNTO A
CUIDADORES FAMILIARES DE PESSOAS COM ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: Suporte após a alta. Revista Objetiva VIII – ISSN 2317-­‐0034 Revista Objetiva VIII – ISSN 2317-­‐0034 1. Introdução
A expectativa de vida tem aumentado progressivamente nos últimos anos, em
consequência de vários fatores, dentre os quais estão: melhoria das condições
sanitárias, acesso a bens e serviços e redução nas taxas de natalidade (BRASIL,
2008). Devido o envelhecimento da população, evidencia-se um aumento das
doenças crônico-degenerativas, principalmente as afecções cardiovasculares, dentre
elas o Acidente Vascular Encefálico (AVE), que, na maioria dos casos, deixa no
paciente alguma incapacidade, surgindo, então, à necessidade de um cuidador que
o auxiliará nas realizações de atividades diárias. Esse, na maioria das vezes, é um
familiar.
O cuidador familiar é um instrumento de grande importância no cuidado de
pacientes sequelados de AVE, pois este dará o suporte na assistência prestada ao
mesmo. Para isso, é necessário conhecer o AVE, suas consequências, sinais e
sintomas, tratamento e reabilitação (BRASIL, 2008).
O acidente vascular encefálico, popularmente conhecido como “derrame
cerebral”, consiste na perda repentina da função cerebral decorrente do déficit do
suprimento sanguíneo. e pode ser classificado em duas categorias: o AVE
isquêmico, que ocorre devido a uma obstrução de um ou mais vasos sanguíneos
responsáveis pela irrigação de determinada região encefálica, tornando o
suprimento de nutrientes e oxigênio insuficiente; e o AVE hemorrágico, onde ocorre
ruptura de um vaso sanguíneo, causando hemorragia no tecido cerebral.
(ANTCZAK, 2005).
De acordo com Andrade et al.,(2009), após um episódio de AVE, o cliente
apresenta uma série de déficits neurológicos, os quais variam de acordo com a
artéria acometida, a gravidade da lesão e a extensão da circulação colateral. Sendo
assim, podem ser classificados em leves, moderados e graves, dentre os quais
estão: afasia, disfasia, déficits do campo visual, hemiparesia do lado acometido,
fraqueza, confusão, comprometimento das funções motoras e coma. (ANTCZAK,
2005)
Devido às necessidades de cuidado com esse cliente, surge um personagem
de grande importância: o familiar que cuida. Entende-se por cuidador, a pessoa que
está incumbida de auxiliar o doente lesado na realização das tarefas que o mesmo
100 FERREIRA; SILVA SANTOS; FREITAS. O PAPEL DO ENFERMEIRO COMO EDUCADOR JUNTO A
CUIDADORES FAMILIARES DE PESSOAS COM ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: Suporte após a alta. Revista Objetiva VIII – ISSN 2317-­‐0034 Revista Objetiva VIII – ISSN 2317-­‐0034 não consegue executar, estimulando sua autonomia do mesmo sempre que
possível. (BRASIL, 2008)
As tarefas realizadas podem variar desde as simples às mais complexas,
como, a higiene pessoal à participação financeira da família. Apesar de serem
tarefas que nem sempre exigem um alto nível de conhecimento, há a necessidade
do esclarecimento e orientação das mesmas para a continuidade de uma assistência
de qualidade no domicílio. Deve-se levar em consideração o quadro clínico do
paciente, os cuidados de enfermagem e as necessidades sociais onde a família está
inserida, possibilitando assim, o estabelecimento de vínculos entre equipe de
enfermagem, o usuário e a família.
De acordo com Bernardino et al., (2010), a família apresenta uma percepção
positiva com relação às orientações recebidas na alta, pois referem que dão mais
segurança ao cuidar, diminuindo com isso o fator de stress e ansiedade. Além dos
benefícios citados, relatam que a informação ainda no hospital, fez com que eles se
sentissem inseridos no processo de recuperação do familiar.
Portanto, este trabalho tem como objetivo mostrar a importância do papel do
enfermeiro como educador, junto a esses cuidadores, por meio de um suporte pósalta, para o esclarecimento de dúvidas e orientações nas diversas áreas do cuidado
para que se possa evitar possíveis re-internações, melhorar a qualidade da
assistência prestada ao paciente e a qualidade de vida desse cuidador.
2. Metodologia
Trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória, do tipo pesquisa de
campo, foi aplicado um questionário semi estruturado no domicílio composto por 15
perguntas, elaboradas de acordo com a análise dos artigos encontrados .Os dados
foram coletados no período de 13 de setembro de 2011 a 18 de outubro de 2011.
Para a revisão bibliográfica, foi realizada uma pesquisa junto ao acervo da biblioteca
do IESRIVER e sites científicos como: Google acadêmico, Scielo, Bireme e Lilacs.
Participaram da pesquisa 11 cuidadores familiares de pacientes com AVE,
teve como critério de exclusão não ter participado do momento da alta hospitalar e
ser cuidador formal. A área de abrangência foram os bairros Valdeci Pires e
Promissão do município de Rio Verde GO.
101 FERREIRA; SILVA SANTOS; FREITAS. O PAPEL DO ENFERMEIRO COMO EDUCADOR JUNTO A
CUIDADORES FAMILIARES DE PESSOAS COM ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: Suporte após a alta. Revista Objetiva VIII – ISSN 2317-­‐0034 Revista Objetiva VIII – ISSN 2317-­‐0034 O bairro promissão é dividido entre ESF 301 e ESF 303, e compreende os
bairros seguintes: Santa cruz, São Tomáz e Promissão, a equipe de ACS é
composta por sete funcionárias. Já a ESF do bairro Valdeci Pires compreende os
seguintes bairros: Maurício Arantes, Primavera e Valdeci Pires e possui cinco ACS.
As enfermeiras das unidades disponibilizaram agentes comunitários de saúde (ACS)
para as entrevistas aos cuidadores. Ao sujeito da pesquisa será apresentado o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para sua assinatura e aceitação.
Segundo IBGE 2010, Rio Verde – GO é um município com população de
176.424 habitantes, corresponde a uma área de 8.379,661, conta com 30
estabelecimentos de saúde públicos e 61 privados, se destaca por sua economia
que abrange a pecuária (bovinos, suínos, ovinos e outros), agrícola sendo grande
produtor de soja, milho e outros.
3. Acidente Vascular Encefálico – Ave
O acidente vascular encefálico é um déficit neurológico, consiste na perda
repentina da função encefálica caracterizada pelo surgimento rápido de sinais
clínicos com duração maior de 24 horas, decorrente do déficit de suprimento
sanguíneo para o encéfalo, o mesmo pode ser causado por uma obstrução ou
ruptura de um vaso encefálico (BOOK,2004; EVARISTO, MUTARELLI, 2006).
De acordo com Evaristo e Mutarelli (2006), o AVE gera um grande impacto na
vida do paciente e de seus familiares, por ser uma importante causa de mortalidade
e, principalmente, por causar incapacidade funcional. Sendo assim, os ganhos
funcionais, por menores que sejam, são importantes, pois podem significar uma
melhora na qualidade de vida do paciente e, consequentemente, menor sobrecarga
aos cuidadores.
O AVE é popularmente conhecido como “derrame cerebral”, segundo
Fitzsimmons e Bohan (2007), esse termo foi criado para encorajar os profissionais
de saúde e a sociedade em geral, a pensar no AVE como uma situação de urgência,
como o “ataque cardíaco”.
3.1 Classificação do AVE
Segundo Smith e Mcknight (2007), existem duas principais categorias que
dividem o AVE: Isquêmico e hemorrágico.
3.1.1 AVE Isquêmico
102 FERREIRA; SILVA SANTOS; FREITAS. O PAPEL DO ENFERMEIRO COMO EDUCADOR JUNTO A
CUIDADORES FAMILIARES DE PESSOAS COM ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: Suporte após a alta. Revista Objetiva VIII – ISSN 2317-­‐0034 Revista Objetiva VIII – ISSN 2317-­‐0034 Evaristo e Mutarelli (2006) afirmam que o AVE isquêmico é o mais comum,
acontece em 80% dos casos, ocorre por perda ou diminuição do suprimento
sanguíneo para uma região do encéfalo, ocasionando obstrução de um vaso que
irriga o encéfalo. A obstrução pode ocorrer devido a vários fatores, tais como: a
aterosclerose ou por um êmbolo que bloqueia o vaso sanguíneo.
Os autores afirmam ainda que a redução do fluxo sanguíneo ocasiona o
surgimento de duas áreas distintas: infarto cerebral e área de penumbra. O infarto
cerebral corresponde a área que sofre diretamente com a redução do fluxo, onde a
lesão geralmente é irreversível, já na área de penumbra, observa-se ainda a
presença de células funcionantes, porém deprimidas.
3.1.2 AVE Hemorrágico
O AVE hemorrágico ocorre com o rompimento de um vaso encefálico,
provocando um extravasamento de sangue para os tecidos circunvizinhos. O sangue
extravasado provoca compressão do tecido cerebral e vasos sanguíneos
adjacentes. Essa compressão pode levar ao aumento da pressão intracraniana em
todo o encéfalo e a composição química do sangue, que é nociva ao tecido cerebral,
causa mais danos, o que requer cuidados médicos especiais (SMITH, MCKNIGHT,
2007)
Evaristo (2006), afirma que o AVE hemorrágico é dividido em duas categorias:
hemorragia
intracerebral
-HI
ou
intraparenquimatosa
HIP
e
hemorragia
subaracnóidea -HSA. HIP é mais freqüente do que a HSA, representando 75% dos
casos. Ocorre devido a alterações patológicas como a lipo-hialinose, levando ao
enfraquecimento da parede das artérias e, consequentemente, ao rompimento, sua
principal causa é a hipertensão sistêmica. Com a ruptura, ao passar os dias, ocorre
progressiva expansão da hemorragia.
“Em geral, os pacientes apresentam déficits mais graves e um tempo de
recuperação mais prolongado em comparação a aqueles com acidente vascular
cerebral isquêmico” (SMELTZER e BARE, 2005 apud AHCPR, p.1995).
4. O Cuidado
Ferreira (2009) define o cuidado, como atenção, precaução, diligência,
encargo, responsabilidade e inquietação de espírito.
103 FERREIRA; SILVA SANTOS; FREITAS. O PAPEL DO ENFERMEIRO COMO EDUCADOR JUNTO A
CUIDADORES FAMILIARES DE PESSOAS COM ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: Suporte após a alta. Revista Objetiva VIII – ISSN 2317-­‐0034 Revista Objetiva VIII – ISSN 2317-­‐0034 Segundo Castro e Junior (2008), cuidados de saúde são ações que
promovem respostas de alívio, segurança ou conforto em uma pessoa, por meio de
intervenções físicas planejadas e aplicadas por outra pessoa, o cuidador.
Conforme Brasil (2008), o cuidado supera as técnicas e vai além, pois cuidar
é olhar para o indivíduo como um todo, sendo capaz de interpretar seus gestos, sua
fala, suas limitações e seus sentimentos, sua história de vida e as emoções da
pessoa a ser cuidada. Partindo deste princípio, o cuidador terá a capacidade de
prestar uma assistência individualizada e holística.
4.1 Cuidador familiar
De acordo com as pesquisas realizadas, após um episódio de AVE, pelo
menos dois terços dos sobreviventes voltaram para casa com algum tipo de
incapacidade funcional (SMELTZER, BARE, 2005). Portanto, surge, nesse contexto,
um personagem de grande importância para o cuidado e sucesso na reabilitação do
paciente, o familiar que cuida.
Schnaider, Silva e Pereira (2009) e Born (2008) afirmam que, na maioria dos
casos, apenas um membro da família fica responsável pelos cuidados, este recebe o
nome de cuidador principal, normalmente esse cargo é preenchido por mulheres,
sendo elas, filhas, esposas e noras.
Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações – CBO sob o código 5162,
o cuidador está definido como alguém que “cuida a partir dos objetivos estabelecidos
por instituições especializadas ou responsáveis diretos, zelando pelo bem-estar,
saúde, alimentação, higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da
pessoa assistida”. A partir desse contexto, vê-se que a função do cuidador
ultrapassa o simples acompanhamento das atividades diárias (BRASIL, 2008, p. 8).
Brasil (2008), p. 7, afirma que o papel do cuidador é auxiliar a pessoa
cuidada, fazendo por ela somente as atividades que a mesma não consiga
desempenhar sozinha. É importante que a pessoa cuidada realize as atividades de
autocuidado quando possível, pois “cuidar não é fazer pelo outro, mas ajudar o
outro, quando ele necessita, estimulando a pessoa cuidada a conquistar sua
autonomia, mesmo que seja em pequenas tarefas. Isso requer paciência e tempo”.
Como observado, o cuidar é um ato complexo, isso exige do cuidador muita
atenção, cautela e compreensão. A pessoa cuidada pode apresentar reações como
não querer tomar banho àquela hora, ou comer. É importante que o cuidador saiba
104 FERREIRA; SILVA SANTOS; FREITAS. O PAPEL DO ENFERMEIRO COMO EDUCADOR JUNTO A
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frustração (BRASIL, 2008).
Born (2008) e Andrade et al., (2009) afirmam que o impacto vivido pelo
cuidador e família é muito forte, pois as tarefas realizadas podem variar desde as
simples às mais complexas, como a higiene pessoal e à participação financeira da
família. Contudo, exige uma reorganização do cuidador em diversas áreas, sendo
familiar, profissional e social. Algumas mudanças vividas pelo cuidador estão
relacionadas às relações familiares, reações emocionais, consequências sobre a
saúde, vida financeira e diminuição das atividades de lazer.
Com relação a esse assunto, Brasil (2008) ressalta a importância dos
cuidados que o cuidador deve ter consigo afim de, preservar a saúde e melhorar a
qualidade de vida.
A continuidade dos cuidados no domicílio constitui um fator extremamente
importante, pois possibilita melhora no quadro do paciente e em sua qualidade de
vida, além de evitar as possíveis reinternações.
De acordo com Oliveira, Garanhani ML e Garanhani MR (2011), quando a
família retorna ao domicílio, a mesma encontra-se fragilizada e os cuidados, na
maioria das vezes, são prestados de forma intuitiva. Devido a isso, acredita-se que
existam falhas no cuidado, causadas pela ausência ou lacunas de orientações
recebidas no hospital.
Para que a continuidade dos cuidados ocorra de maneira satisfatória, é
fundamental uma alta planejada e sistematizada, que garanta o esclarecimento de
dúvidas tanto para o paciente, quanto para família. (POMPEO et al., 2007 apud
CHUANG et al., 2005).
Segundo Born (2008), cuidar é um ato complexo que implica variadas
atividades, sendo assim, torna-se difícil assinalar precisamente quais são as tarefas
realizadas, pois dependerá de alguns fatores, tais como família (classe social,
cultura e o meio em que está inserida) e de quem é o cuidador familiar.
Born (2008) afirma que dentre as atividades mais frequentes, encontram-se
as tarefas domésticas (cozinhar, lavar, limpar, passar ferro), os cuidados realizados
ao familiar (auxílio na locomoção do cliente, administração de medicamentos, em
questões de higiene, acomodação) e administração de bens (dinheiro, imóveis).
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CUIDADORES FAMILIARES DE PESSOAS COM ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: Suporte após a alta. Revista Objetiva VIII – ISSN 2317-­‐0034 Revista Objetiva VIII – ISSN 2317-­‐0034 5. Alta Hospitalar E Planejamento
De acordo com Silva M. T., Silva S. R. (2008) p.131, “alta é a saída do cliente
do hospital ou de uma determinada unidade de internação”.
Pereira et al., (2007) diz que as internações têm sido abreviadas devido ao
alto custo das mesmas. Com isso, evidencia-se real preocupação com o
planejamento da alta do paciente que assegura a continuidade do tratamento e evita
reinternações.
Marra et al., (1989) afirma que, quando há possibilidade de alta precoce, o
cliente é o maior beneficiado por vários fatores que incluem diminuição dos riscos de
infecção hospitalar, menor custo e antecipação do retorno ao lar. Porém, ao mesmo
tempo em que pode trazer benefícios e gerar satisfação, o paciente pode apresentar
sentimentos negativos, medo e insegurança.
O autor acima citado acredita que as orientações no momento da alta podem
contribuir significativamente com o sucesso na continuidade dos cuidados ao
domicílio e diminuir a incidência de sentimentos negativos, por promover ao cuidador
e ao paciente redução da ansiedade e insegurança.
Segundo Smeltzer e Bare (2005), o planejamento eficaz da alta começa com
a admissão do paciente e compreende um processo que envolve a identificação das
necessidades do mesmo e a criação de um plano completo para satisfazê-lo, sendo
essencial a cooperação do paciente e da família.
Segundo Pompeo et al., (2008), a enfermagem pode ser confundida pelos
clientes com outra categoria, por não estar envolvida sistematicamente com o
planejamento da alta hospitalar. Em uma pesquisa realizada sobre as orientações no
momento da alta, constatou-se que em 78,2% dos casos não houve participação do
profissional enfermeiro.
Pereira et al., (2007) afirma que a equipe multidisciplinar atua no
planejamento da alta, porém o enfermeiro é responsável pelo elo entre os
profissionais, visando sempre o bem-estar e os recursos necessários para garantir a
continuidade dos cuidados no domicílio.
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Através dos dados obtidos, é importante ressaltar três pontos fundamentais: o
perfil dos cuidadores familiares, identificar falhas com relação as orientações
recebidas no momento da alta e as principais dúvidas com a relação aos cuidados
no domicílio.
Tabela 1- Perfil dos cuidadores familiares
Características
SEXO
MASCULINO
FEMININO
FAIXA ETÁRIA
29 a 39 ANOS
40 a 50 ANOS
ACIMA DE 50 ANOS
GRAU DE ESCOLARIDADE
ANALFABETO
1º GRAU COMPLETO
1º GRAU IMCOMPLETO
2º GRAU COMPLETO
GRAU DE PARENTESCO
FILHO(A)
ESPOSO(A)
OUTROS
ESTADO CIVIL
SOLTEIRO
CASADO
DIVORCIADO
N
%
4
7
36%
64%
3
3
5
27%
27%
45%
1
8
1
1
9%
73%
9%
9%
5
4
2
45%
36%
18%
1
9
1
9%
82%
9%
Fonte: Pesquisa de campo, ESFs Valdeci Pires e Promissão, de Setembro a
Outubro de 2011.
Na Tabela 1, observa-se que 64% das pessoas entrevistadas são do sexo
feminino e 36% do sexo masculino. Segundo Born (2008), a responsabilidade recai
sobre a família e, em especial, sobre a mulher, que, sem preparo anterior, se depara
na situação de cuidadora.
Quanto à faixa etária, não houve participantes com idade entre 18 a 28 anos,
as opções de idade entre 29 a 39 anos e entre 40 a 50 anos ficaram empatadas,
com 27% e a maioria, ou seja, 45% tem acima de 50 anos. Na pesquisa sobre o
perfil do cuidador, realizada por Fonseca, Penna e Soares (2008), a média de idade
107 FERREIRA; SILVA SANTOS; FREITAS. O PAPEL DO ENFERMEIRO COMO EDUCADOR JUNTO A
CUIDADORES FAMILIARES DE PESSOAS COM ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: Suporte após a alta. Revista Objetiva VIII – ISSN 2317-­‐0034 Revista Objetiva VIII – ISSN 2317-­‐0034 encontrada foi de 54 anos, enquanto na pesquisa realizada por Perlini e Faro (2005),
a maioria dos entrevistados apresentavam idade entre 40 e 59 anos.
As opções de 2ª grau incompleto, superior incompleto e superior completo
não foram marcadas na tabela, analfabeto,1ª grau completo e 2ª grau completo 9%
e a maioria, 73%, possuem 1ª grau incompleto. Schnaider, Silva e Pereira (2009),
em uma pesquisa realizada sobre cuidadores, verificaram que 57,1% dos mesmos
possuíam ensino fundamental incompleto (1ª grau incompleto).
A tabela demonstra que não houve a participação de pai ou mãe, 18% dos
entrevistados foram classificados como outros, 36% como esposo (a) e a grande
maioria dos cuidadores eram filhos (as), 45%. De acordo com pesquisa realizada por
Fonseca, Penna e Soares (2008), a maioria dos entrevistados eram filhos. Lavinsky
e Vieira (2004) relacionam o cuidado dos filhos como retribuição do cuidado
recebido pelos pais, antes foram cuidados e agora são cuidadores.
Nesta tabela, visualiza-se também que entre os cuidadores entrevistados não
havia viúvos e outros, 9% são divorciados e solteiros e a grande maioria, 69% são
casados.
Tabela 2- Falhas com relação às orientações recebidas no momento da alta
hospitalar.
ORIENTAÇÕES
SIM
N
NÃO
%
N
%
RECEBEU ORIENTAÇÃO
1
9%
10
91%
DÚVIDAS
8
73%
3
27%
Fonte: Pesquisa de campo, ESFs Valdeci Pires e Promissão, de Setembro a
Outubro de 2011.
A tabela 2 mostra claramente o déficit das orientações no momento da alta.
Observa-se que 91% dos cuidadores, ou seja, dos 11 entrevistados, 10 não
receberam orientações no momento da alta, apenas 9% receberam.
Por meio da tabela 2 visualiza-se que 73%, a grande maioria dos
entrevistados, diz ter dúvidas a respeito dos cuidados prestados, enquanto que, 27%
dizem que não.
Na pesquisa realizada por Andrade et al., ( 2009), os dados obtidos sobre
orientação também são alarmantes, 97,4% não receberam orientação acerca dos
cuidados a serem prestados no domicílio.
108 FERREIRA; SILVA SANTOS; FREITAS. O PAPEL DO ENFERMEIRO COMO EDUCADOR JUNTO A
CUIDADORES FAMILIARES DE PESSOAS COM ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: Suporte após a alta. Revista Objetiva VIII – ISSN 2317-­‐0034 Revista Objetiva VIII – ISSN 2317-­‐0034 Oliveira, Garanhani M L e Garanhani M R (2011) dizem que, ao retornar ao
domicílio, o cuidador encontra-se fragilizado e, pela falta de informações, muitas
vezes presta os cuidados de forma intuitiva.
Gráfico 1- As principais dúvidas dos cuidadores.
Fonte: Pesquisa de campo, ESFs Valdeci
Promissão, de Setembro a Outubro 2011.
Pires
e
Pires
e
Gráfico 2 - Sentimento ao cuidar.
Fonte: Pesquisa de campo, ESFs Valdeci
Promissão, de Setembro a Outubro 2011.
109 FERREIRA; SILVA SANTOS; FREITAS. O PAPEL DO ENFERMEIRO COMO EDUCADOR JUNTO A
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Fonte: Pesquisa de campo, ESFs Valdeci
Promissão, de Setembro a Outubro 2011.
Pires
e
Pires
e
Pires
e
Gráfico 4- Recebimento de auxilio
Fonte: Pesquisa de campo, ESFs Valdeci
Promissão, de Setembro a Outubro 2011.
Gráfico 5- Fatores que ajudam a enfrentar situações difíceis
Fonte: Pesquisa de campo, ESFs Valdeci
Promissão, de Setembro a Outubro 2011.
110 FERREIRA; SILVA SANTOS; FREITAS. O PAPEL DO ENFERMEIRO COMO EDUCADOR JUNTO A
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aos cuidados, as opções de: higiene corporal, higiene oral, eliminações,
complicações e outras não foram marcadas, 25% diz ter dúvidas com a
administração de medicamentos; alimentação e risco de acidentes constituem as
principais dúvidas, 38%.
Andrade et al., (2009), em uma pesquisa afirma que, para sanar essas
dúvidas são necessárias orientações e ensinamentos, que devem ser abordados em
diversos aspectos e de forma básica e informativa.
Ao analisar o gráfico 2, observa-se que nenhum dos cuidadores sente
segurança ao cuidar. O sentimento de insegurança e preparação são relatados por
poucos, constituindo 9% dos entrevistados. Tranqüilidade foi relatada por 18%,
enquanto que o despreparo, por 27%, e a maioria, 45%, sentem-se preocupados ao
cuidar.
Segundo Oliveira, Garanhani M L e Garanhani M R (2011), por se tratar de
um momento desconhecido, ocorre uma explosão de sentimentos negativos no
cuidador, entre eles estão os sentimentos de desespero, medo e insegurança. Em
contrapartida, é vivenciado pelo mesmo, sentimentos positivos como felicidade e
esperança por ter o paciente vivo.
O gráfico 3 mostra opiniões positivas a respeito da importância das
informações, nenhum dos participantes marcou as opções: não são necessárias e
não ajudam; 36% dos cuidadores acham que as informações são necessárias, 64%
julgam que as informações ajudam.
Andrade et al., (2005) ressalta a importância das informações, visto que, o
despreparo técnico do cuidador, pode ser causa de sobrecarga emocional no
cuidador, resultando no cuidado ineficaz ao paciente e a si mesmo.
Entre os cuidadores entrevistados, 55% recebem ajuda de alguém para
prestar o cuidado ao familiar, enquanto que 45% não têm nenhum auxílio (gráfico4).
Born (2008) relata que, na maioria das vezes, o cuidador é um único membro
da família responsável pelos cuidados, chamado de cuidador principal, porém, isso
acarreta em sobrecarga para o cuidador.
Conforme o gráfico 5, os participantes não marcaram as opções de amigos e
outros, equipe de saúde ficou com 9%. A família está em segundo lugar com 36%, e
a maioria acredita que é a religiosidade com 55%.
111 FERREIRA; SILVA SANTOS; FREITAS. O PAPEL DO ENFERMEIRO COMO EDUCADOR JUNTO A
CUIDADORES FAMILIARES DE PESSOAS COM ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: Suporte após a alta. Revista Objetiva VIII – ISSN 2317-­‐0034 De acordo com Andrade et al.,
(2009),
religiosidade
Revista Objetiva a
VIII – ISSN 2317-­‐0034 é uma das formas de
suportar o sofrimento, vivenciado pelos sentimentos de fé e esperança, diante da
expectativa de melhora do familiar
7. Conclusão
O AVE é uma patologia crônica incapacitante, que acomete o indivíduo e a
família (principalmente o cuidador familiar), por ser um importante personagem na
continuidade dos cuidados em domicílio. Para que essa continuidade ocorra com
sucesso e possibilite qualidade de vida para o paciente e cuidador, é preciso que o
familiar seja orientado por meio de um planejamento de alta hospitalar.
No planejamento da alta hospitalar, o enfermeiro atua como coordenador
junto a equipe multidisciplinar, planejando as ações que o cuidador desempenhará
no domicílio. Cabe ainda a esse profissional, o papel de educador, orientando
quanto as informações e esclarecendo dúvidas.
O nível de escolaridade é um fator preocupante, percebe-se que o mesmo é
baixo, o que pode interferir significativamente na compreensão das possíveis
orientações. Portanto, o enfermeiro como educador deve estar atento quanto ao
público e adequar sua fala para os diversos níveis de escolaridade, possibilitando
uma compreensão adequada.
Observa-se ainda que a maioria recebe ajuda para prestar os cuidados,
porém, esse auxílio ocorre por meio de pessoas leigas, o que não favorece quanto a
maneira correta de dar continuidade aos mesmos em domicílio.
Cabe ao Enfermeiro desenvolver um plano de cuidados com a finalidade de
preparar o cuidador para dar continuidade aos cuidados adequadamente, atendendo
o indivíduo como um ser indivisível, nas diversas áreas das suas necessidades
humanas básicas, promovendo assim melhora na qualidade de vida da pessoa
cuidada e cuidador.
8. Referências Bibliográficas
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