A questão crucial é “quanto” ou “como” a China vai crescer? segunda-feira, 19 de novembro de 2012 Especialista em relações com a China, Milton Pomar analisa os desafios do líder ungido pelo 18° Congresso do Partido Comunista Por vários anos titular da seção Conexão Ásia, publicada em AMANHÃ, Milton Pomar estuda atentamente os movimentos da nova equipe que comandará a China a partir das mudanças sacramentadas pelo 18° Congresso do Partido Comunista. Alheio ao que considera “clichês” pronunciados sobre a China, país que visita regularmente desde 1997 e onde publica uma revista em mandarim sobre oportunidades de negócios no Brasil, Pomar não coloca sua atenção somente no desafio de calcular quanto a China vai crescer, mas em “como” o país a ser presidido por Xi Jinping em 2013 vai crescer. O objetivo, ratificado no congresso do PC chinês, de substituir um modelo de crescimento acelerado baseado em investimentos e exportações por uma política de promover o aumento do consumo e do mercado interno, é uma mudança complexa que foi decidida no final de 2010 (para vigorar no período 2011-2015). E que exigirá habilidade do mandatário chinês que representa a quinta geração política desde Mao Tse Tung, revolucionário que deflagrou a era comunista na China, em 1949. “Aumentar o consumo doméstico de 35% para 55% do PIB até 2015, em uma economia de US$ 8 trilhões [2012], é algo para lá de hercúleo”, acredita Milton Pomar, diretor da BWP Consultoria. A mudança estrutural de focar no consumo interno para elevar o PIB deverá abrir caminho para algumas insatisfações políticas dentro do país mais populoso do mundo – e hoje o principal parceiro comercial do Brasil. “O novo presidente terá que lidar com a disputa política intensa entre as forças que serão beneficiadas e as que serão contrariadas”, projeta Pomar. Os importadores chineses, assim como Hong Kong e as regiões do centro-oeste do país, não terão motivos para reclamar, segundo Pomar. Mas o governo que assumirá as rédeas do país no próximo ano, e que terá mais sete pessoas compondo o alto escalão do governo, deverá ter muito jogo de cintura para lidar com o descontentamento de cidades portuárias importantes, como Shanghai, Dalian eTianjin. 1/2 A questão crucial é “quanto” ou “como” a China vai crescer? segunda-feira, 19 de novembro de 2012 Além disso, a dificuldade que já afeta os exportadores chineses – a reboque da crise financeira de grandes importadores como EUA, Japão e União Europeia – é um ponto de preocupação. Além da desaceleração de mercados emergentes, como o Brasil. Jinping, ao assumir o país em um cenário totalmente oposto ao de dez anos atrás – quando a China crescia a uma espantosa taxa de 10% ao ano – reduzirá a elevada taxa de investimento, que hoje é de 50% do PIB chinês. A corrupção, segundo Pomar, continuará sendo combatida com força. O especialista diz que os problemas de produção alimentar e as gritantes diferenças de renda também deverão estar na pasta de prioridades de Jinping, que assume o país aos 59 anos, e deverá ficar por dez anos no cargo, seguindo a praxe que o Partido Comunista reserva aos líderes que assumem a presidência. Outra preocupação de Jinping será a forma de lidar com os sucessivos protestos sociais. Em 2010, por exemplo, foram contabilizadas 180 mil manifestações no país, o dobro do ano anterior. Em 2011, mesmo que não haja nenhuma informação oficial, algumas revistas, como a Newsweek, afirmam que o número foi ainda maior. “A partir de março de 2013, quando assume o novo governo, será possível ter uma noção mais aproximada do que acontecerá nos dois anos seguintes, até a formulação do 13º Plano Quinquenal, que - aí sim - externará as mudanças a serem implementadas”, projeta Pomar. 2/2