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SISTEMA AGROFLORESTAL: UMA ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL
Resumo
As práticas agroflorestais são formas de uso e manejo das árvores nos agroecossistemas que
permitem a melhoria das condições de fertilidade e de preservação do solo, a geração de
autonomia e a maior segurança alimentar das famílias agricultoras O estudo de sistemas
agroflorestais possibilitam uma visão sistêmica da agricultura, constituindo-se em uma
alternativa ao modo de ensino convencional da agronomia universitária. Esse trabalho
objetivou promover experiências de aprendizado entre acadêmicos de agronomia e grupos
sociais locais durante a implantação de um pomar agroecológico de frutas no campus da
Uergs de Cachoeira do Sul. Pomares agroecológicos primam pelo desenvolvimento rural
sustentável dentro dos princípios ecossociais, compatibilizando a agricultura familiar com a
preservação da vida e conservação dos recursos naturais. A integração das árvores nas
paisagens agrícolas, bem como as práticas agroflorestais auxiliam na reabilitação de terras
degradadas, protegem as bacias hidrográficas, contribuem para a melhoria do clima e
aumentam a biodiversidade acima e abaixo do solo, melhorando o equilíbrio dos ecossistemas
e amenizando as adversidades ambientais. No processo educativo de abordagem sistêmica da
agricultura a construção do conhecimento apoia-se na troca de experiências entre os grupos
sociais presentes, sendo que nesta atividade pode-se observar a interação entre acadêmicos de
agronomia, alunos de ensino médio e agricultores. Ao final da atividade os participantes
debateram e apresentaram questionamentos e reflexões, como por exemplo, sobre a
valorização e reconhecimento das práticas de manejo das árvores e uso de sementes crioulas.
A atividade possibilitou além de um panorama das práticas agroflorestais em pomares de
frutas, a experimentação de plantar e manter um pomar nos primeiros meses.
.
Palavras-chave: pomar; agroecologia; abordagem sistêmica; sistemas agroflorestais;
estudantes de agronomia
Abstract
Agroforestry practices are forms of use and management of trees in agro-ecosystems that
allow the improvement of fertility conditions and soil preservation, generating autonomy and
greater food security of farming families The study of agroforestry systems enable a systemic
vision of agriculture , constituting an alternative to conventional teaching mode of university
agronomy. This study aimed to promote learning experiences between academics agronomy
and local social groups during the implementation of an agro-ecological fruit orchard on the
campus of UERGS - Cachoeira do Sul. Agroecological orchards excel in sustainable rural
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development within the eco-social principles, harmonizing family farming with the
preservation of life and conservation of natural resources. The integration of trees in
agricultural landscapes, and agroforestry practices help in the rehabilitation of degraded
land, protect watersheds, contribute to improving the climate and increase biodiversity above
and below ground, improving the balance of ecosystems and mitigating adversity
environmental. In the educational process of systemic approach to agriculture the
construction of knowledge rests on the exchange of experiences among those present social
groups, and this activity can be observed the interaction between agronomy students, high
school students and farmers. At the end of the activity the participants talking and presented
questions and reflections, such as on the valuation and recognition of the management
practices of trees and use of native seeds. The activity allowed in addition to an overview of
agroforestry practices in fruit orchards, experimentation to plant and maintain a orchard in
the early months.
Key words: orchard; agroecology ; systemic approach; agroforestry systems ; agronomy
students
1. Introdução
A expansão e modernização da agropecuária brasileira proporcionaram significativos
aumentos das áreas plantadas, resultando, porém em uma severa diminuição da cobertura
florestal natural. Os sistemas agroflorestais (SAF´s) são agroecossistemas que surgem como
uma alternativa de sistema de cultivo, o qual combina cultivos simultâneos com espécies
arbóreas, culturas agrícolas, hortaliças, plantas frutíferas, com ou sem a presença de animais
de interesse, buscando semelhanças mais próximas possíveis aos ecossistemas naturais
(Gliessman, 2000).
Além do mais, os sistemas agroflorestais apresentam algumas vantagens em relação
aos sistemas de produção agrícola tradicionais:
a) Ecológicas – melhoria da conservação do solo e da água, aumento da biodiversidade,
redução no uso de insumos e fertilizantes químicos, redução dos impactos ambientais;
b) Econômicas – obtenção de produtos agrícolas e florestais na mesma área, aumento e
diversificação da renda;
c) Sociais – melhoria da distribuição da mão-de-obra ao logo do ano, diversificação da
produção, melhoria das condições de trabalho no meio rural e da qualidade de vida do
produtor.
Esse sistema de cultivo, visa a sustentabilidade a longo prazo, com o fortalecimento da
agricultura familiar, diversificação da propriedade e valorização da produção local. Eleva a
qualidade de vida das famílias com o aumento da produção agrícola, concentração de renda,
sem incremento do custo social, descrito pela contaminação por agrotóxicos, tanto da água,
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como do ar e do solo, tendo efeitos negativos sobre a saúde das pessoas; onde a renda do
pequeno agricultor é transferida para as grandes empresas as quais possuem isenção de várias
taxas de impostos. Por ser um sistema de produção diferente dos demais, os SAF´s recebem
várias críticas a respeito de seu modo de funcionamento. A renda obtida momentaneamente
pode até ser menor quando comparada aos demais sistemas de produção, porém a produção é
constante e esta renda consequentemente também, sendo então um sistema estável, adaptado
ambientalmente, no qual são utilizados plantas e animais apropriados às condições locais.
Neste trabalho objetivou-se implantar de forma coletiva e pedagógica um pomar
agroecológico tipo SAF, de forma a experimentar um modelo de produção agrícola para
garantia de soberania alimentar, diversificação de plantas, espécies adaptadas ao solo e clima
da região, com produção em diferentes épocas durante todo o ano.
2. Metodologia: Pomar agroecológico, um Sistema Agroflorestal em ascensão
Através de atividade coletiva de acadêmicos do segundo semestre do curso de
Agronomia da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), implantou-se na Estação
Agronômica da Uergs de Cachoeira do Sul/RS um pomar agroecológico, modelo sistema
agroflorestal. As atividades ocorreram no período de 28/8/2015 a 30/10 2015 e as mudas para
a formação do pomar foram doadas pelo Projeto Quintais Orgânicos da Embrapa Clima
Temperado (Portal Projeto Quintais, 2015). A ideia de construção desse projeto surgiu dos
acadêmicos durante a disciplina de Abordagem Sistêmica na Agricultura, componente
curricular de caráter obrigatório oferecido no primeiro semestre do curso de Agronomia da
Uergs. O estudo sobre a importância da existência de diversidade de espécies em sistemas
produtivos despertou o interesse dos acadêmicos em experimentar a prática de implantação e
manutenção de um sistema agroflorestal destinado à subsistência e geração de renda na
agricultura familiar. O grupo realizador constituiu-se de 36 acadêmicos e um docente
orientador, tendo sido o projeto organizado em três etapas: a interação com a comunidade
local do entorno da Estação Agronômica, a implantação propriamente dita do pomar e a
discussão dos resultados da atividade com a comunidade na forma de grupos de trabalho, com
enfoque em diferentes temas estudados durante o projeto.
Na abordagem sistêmica da agricultura, um dos eixos do sistema produtivo é a
dimensão social. Neste projeto buscou-se a interação dos atores da proposta com a
comunidade local visando a troca de saberes, tendo como foco os sistemas agroflorestais. Em
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um primeiro momento realizou-se uma tarde de discussão entre os acadêmicos de agronomia
e os alunos do terceiro ano do ensino médio da Escola Estadual de Ensino Técnico Agrícola
Nossa Senhora da Conceição. Aproximadamente 100 alunos da escola técnica participaram da
atividade, e discutiu-se temas como “por que não capinar as entrelinhas do pomar?” e “o que
são sementes crioulas?”
Em um segundo momento deu-se seguimento à implantação do pomar. A área
experimental constituiu-se de 100m2, com histórico de pastagem e relevo levemente
inclinado. A partir de uma análise química do solo fez-se uma aplicação de calcário dois
meses antes da implantação do pomar. Plantou-se 80 mudas com espaçamento de três metros
entre plantas e três metros entre linhas, num total de 18 espécies frutíferas, entre elas:
laranjeiras (Citrus sinensis), romãzeiras (Punica granatum), tangerina (Citrus reticulata
Blanco), pitangueira (Eugenia uniflora), pessegueiro (Prunus persica), e figueira (Ficus
carica). Foram abertas as covas de 40x40x40 centímetros (comprimento, largura e
profundidade), sendo acrescentado esterco curtido de gado tanto nas covas quanto nas
entrelinhas como adubo orgânico (Figura 1). Abriram-se as covas em curva de nível,
tutorando as mudas quando necessário (Figura 2) com amarrio em oito para que não houvesse
o posterior estrangulamento da muda, e em seguida fez-se a irrigação de forma manual. A
lógica do sistema implantado é a diversificação de plantas e espécies adaptadas ao solo e
clima da região, sendo que as espécies plantadas frutificam em épocas diferentes durante o
ano (Tabela 1). Entre as vantagens da maior diversidade é que ocorre menor incidência de
doenças, e facilita o controle biológico, não havendo a dependência por agrotóxicos. Foram
plantadas linhas de árvores frutíferas, no sentido leste-oeste para melhor aproveitamento da
incidência de sol sobre as mudas.
Tabela 1: Espécies com maturação em diferentes épocas, que podem ser plantadas na
formação de pomares agroecológicos.
Espécies
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Amora-preta
x
x
Araçá
x
x
x
Araticum
x
x
x
Caqui
x
x
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x
Cereja
Figo
x
x
x
x
Goiaba
x
Guabiju
x
Guabiroba
x
x
x
x
Jabuticaba
x
x
x
x
x
x
Limão
x
x
x
x
x
x
Pitanga
x
Romã
x
x
Tangerina
x
Videira
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Uvaia
x
x
Laranja
Pêssego
x
x
x
x
Fonte: Portal Quintais da Embrapa (2015)
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Figura 1: Visão geral do pomar agroecológico da Estação Agronômica da Uergs em outubro
de 2015, com ênfase à adubação orgânica (Foto: Lilian Alessandra Rodrigues)
Plantaram-se também três variedades de batata-doce (Ipomoea batatas entre as
frutíferas e posteriormente serão plantados milho, feijão e plantas leguminosas de adubação
verde nas entrelinhas. A implantação de quebra-vento com aroeira brava (Lithraea
molleoides) tem como função principal o conforto ambiental, o qual é proporcionado pela
sombra e redução da velocidade do vento, além de ser uma barreira contra os patógenos que
podem ser trazidos pelo mesmo. Além disso, a aroeira libera compostos químicos alelopáticos
que atuam como repelentes a patógenos indesejados para o sistema em questão. Para o
controle da formiga cortadeira colocaram-se cilindros de garrafa pet (Figura 3), pois com isso
a formiga ao tentar subir escorrega e não consegue adentrar para junto da muda. Observou-se
também que joaninhas estavam fazendo o controle biológico do pulgão na laranjeira, este
suga a seiva dos tecidos das folhas e brotos novos causando amarelecimento,
encarquilhamento e enrolamento das folhas.
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Figura 2: Tutoramento da muda de figo, após o plantio do pomar agroecológico da Estação
Agronômica da Uergs em setembro de 2015. (Foto: Lilian Alessandra Rodrigues)
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Figura 3: Controle físico da formiga cortadeira na muda de romã no pomar agroecológico da
Estação Agronômica da Uergs em setembro de 2015. (Foto: Lilian Alessandra Rodrigues)
Após as atividades de implantação e manutenção primárias do pomar, marcou-se uma
reunião com os produtores familiares do entorno da Estação Agronômica para compartilhar os
conhecimentos adquiridos com a experiência. Formaram-se cinco grupos temáticos de
estudos, dirigidos por cinco grupos de acadêmicos. Os temas escolhidos para o debate foram:
1. Sistemas de produção sem o uso de agrotóxicos; 2. Quintais orgânicos de frutas e sua
relevância para a soberania alimentar na agricultura familiar; 3. Vantagens da produção
agrícola em sistemas agroflorestais; 4. O uso de sementes crioulas na agricultura familiar; 5.
Sementes transgênicas como parte de sistema de dependência tecnológica e financeira do
produtor familiar. Os grupos apresentaram cada um o tema proposto e promoveram o debate
entre todos.
3. Resultados das atividades de promoção da diversidade de espécies e consórcios em
Pomar Agroecológico
Ao final da atividade os acadêmicos puderam observar que a diversificação e
consorciação promovida no pomar agroecológico, constitui-se em uma prática viável para a
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propriedade rural. Constatou-se que a técnica consiste na implantação de várias culturas,
sendo estas anuais ou perenes, fazendo com que o agroecossistema seja o mais próximo
possível do ecossistema natural. Como foco, pode-se citar o plantio de árvores frutíferas,
incorporadas na alimentação da família e a diversidade de espécies cultivadas, formando o
conjunto funcional de ciclo de plantas, animais e insetos formam um ecossistema saudável. A
biodiversidade contribui com a nutrição, a qualidade de vida, a restauração do ecossistema e a
não dependência de única fonte de renda, além dessa renda ser contínua durante todo o ano.
4. Considerações Finais
Pode-se concluir com a experiência prática de promoção da agroecologia, que este é
um sistema de produção sustentável, que produz alimentos saudáveis, sem o uso de
agrotóxicos e adubos químicos, conservando a biodiversidade e os demais recursos naturais
essenciais à vida, tendo como base a manutenção do equilíbrio ecológico, eficiência
econômica e justiça social. Esta base tecnológica se mostra como forma adequada de produzir
alimentos saudáveis e acessíveis á população, preservando o meio ambiente e o conhecimento
acumulado pelos camponeses ao longo dos séculos.
5. Referências bibliográficas
ALTIERI, M. Agroecologia: as bases científicas para uma agricultura sustentável. Trad.
Jesus, E. L. de e Vaz, P. Rio de Janeiro e Porto Alegre: ASPTA e Ed. Agropecuária. 2002.
592p.
GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: processos escológicos na Agricultura Sustentável. Porto
Alegre: Ed. Da Universidade-UFRGS, 2000.
Embrapa. Informações básicas para implantação de quintais orgânicos de frutas. Pelotas - RS:
Embrapa Clima Temperado, 2013.
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