Principais tipologias dos edifícios antigos e recentes. Enfoque nos edifícios que, não sendo, na sua maioria, classificados, têm reconhecido valor enquanto Património. Boas práticas de manutenção dos edifícios e da conservação do seu valor enquanto Património. Boas práticas de conceção e execução da reabilitação do Património corrente, construído, sobretudo, em betão armado. Dificuldades encontradas. Dois exemplos de técnicas de intervenção na reabilitação estrutural de edifícios de betão armado. Condições de sucesso das intervenções, com destaque para a importância da qualificação dos agentes. 1 Principais marcos históricos da construção em betão armado em Portugal: 1896 – François Hennebique regista a patente do betão armado em Portugal 1918 – Publicado o Regulamento para o emprego do béton armado 1930 – Regulamento geral da construção urbana para a cidade de Lisboa (aspeto interessante: a dispensa de execução de paredes “em gaiola” caso se adotassem cintas de betão armado ao nível dos pisos). 1935 – Regulamento do betão armado 1967 – Regulamento de estruturas de betão armado 1983 - Regulamento de estruturas de betão armado e préesforçado 2004 a 2008 – Eurocódigo 2 2 Este gráfico mostra que, em Portugal, a produção bruta do setor da construção relativamente ao PIB tem estado substancialmente acima da média dos países ocidentais da Euroconstruct. 3 Este segundo gráfico mostra que a actividade do setor da construção em Portugal tem sido caracterizada pelo grande peso da construção de edifícios de habitação. Apesar de redução drástica a partir de 2002, a construção de novas habitações representava ainda, em 2005, em Portugal, 33,1% da actividade do setor da construção, contra uma média de 25,7% nos países Euroconstruct e em 2008 a construção de habitações novas ainda representava 31,4% da produção do sector da construção, contra 21,0%. 4 Ajudado pela política das grandes obras públicas e de apoio à aquisição de casa própria, o setor da construção e do imobiliário “secou” os recursos financeiros do País e esgotou a capacidade de endividamento das famílias. 5 Vão ser gastos 830 000 euros numa campanha, envolvendo três ministérios, para vender a estrangeiros 10 000 casas vagas nos resorts recentemente construídos nas melhores zonas do País. Já só faltam 1 709 000! (Já agora, alguém sabe quem vai pagar a campanha?) 6 Com tanta casa vazia, vai ser difícil respeitar o primeiro princípio da boa conservação dos edifícios, que é mantêlos em uso. 7 Alguns agentes do lóbi do imobiliário defendem a demolição de edifícios, como forma de evitar a degradação dos preços... http://www.apemip.pt/tabid/122/xmmid/499/xmid/6223/ xmview/2/language/pt-PT/Default.aspx 8 9 Segundo princípio: Programar a manutenção do edifício e cumprir esse programa. 10 Hoje é fácil fazer o planeamento da manutenção. Este slide mostra o exemplo dum edifício no Bairro Azul, em Lisboa, objeto dum plano de inspeção e manutenção elaborado pela Eng.ª Inês Flores. O difícil é fazer cumprir este tipo de plano, em particular nos edifícios em condomínio, dada a pulverização da propriedade e a ausência duma cultura de manutenção dos edifícios. 11 O terceiro princípio é o da reabilitação, necessária sempre que o desempenho do edifício se degrada ou os requisitos de utilização se tonam mais exigentes. 12 Um número significativo de edifícios da AML necessita de intervenções de reabilitação. 13 Globalmente, as verbas necessárias para a reabilitação do edificado são avultadas. 14 Dois exemplos de técnicas avançadas de reabilitação estrutural do betão. 15 Este exemplo descreve o processo de reabilitação de um edifício escolar, em que parte da estrutura de betão armado se encontrava severamente afetada por corrosão das armaduras, devida à contaminação do betão por cloretos. Como parte da reabilitação foi implementada a técnica da dessalinização, com o objetivo de diminuir o teor de cloretos do betão junto às armaduras, para valores aceitáveis, eliminando assim a causa da corrosão. O recurso a esta técnica possibilitou a reabilitação integral da parte afetada da estrutura de betão armado sem recorrer à sua substituição total (fonte: Stap e Zatacorr). 16 17 18 19 20 21 A densidade de corrente aplicada foi de cerca de 1 Ampère por m2. 22 O tratamento demorou 4 semanas em dois dos blocos e 7 semanas num terceiro onde a contaminação era mais intensa. Os gráficos mostram a progressiva redução do teor de cloretos em percentagem do peso de cimento, que, no fim do trabalho se encontrava, no vários pontos monitorizados, abaixo do limiar crítico de 0,4%. 23 Num betão tratado com realcalinização, o carbonato de sódio que fica nos poros do betão, reage com o dióxido de carbono: Na2CO3 + CO2 + H2O → 2 NaHCO3 baixando o pH do betão e impedindo assim que o betão volte a carbonatar. 24 A reparação “tradicional” do betão deteriorado envolve uma “cirurgia” profunda: todo o betão contaminado ou carbonatado, incluindo o que envolve as armaduras, deve ser removido e substituído por material de substituição compatível (betão ou argamassa de reparação). A dessalinização e a realcalinização eletroquímicas permitem intervenções de reabilitação menos intrusivas, mais amigas do património e do ambiente, e mais económicas. A reparação do betão é apenas necessária nas zonas efetivamente delaminadas, envolvendo, portanto uma área menor de intervenção. Por outro lado, ao contrário da reparação “tradicional” não é preciso remover o betão que envolve as armaduras. 25 Outras modalidades de métodos eletroquímicos é a proteção catódica, envolvendo, em permanência, a aplicação duma densidade de corrente muito baixa e a monitorização do processo. 26 Uma outra técnica recente muito promissora é a que consiste na utilização de microbetões autonivelantes, com fibras, de elevado desempenho. 27 Graças às elevadas resistências, quer à compressão, quer à tração, e, também, estes materiais permitem reforços estruturais económicos e pouco intrusivos. A elevada ductilidade deste materiais torna-os indicados para o reforço de estruturas de betão armado face ao sismo. Estes dois exemplos ilustram técnicas de reabilitação avançadas, com vantagens evidentes em termos de eficácia, durabilidade, compatibilidade e economia. Requerem, no entanto, elevadas qualificações por parte de quem concebe, monitoriza e executa. 28 O círculo virtuoso “Utilizar” > “Manter” > “Reabilitar”, permite “Cuidar das casas“ e prolongar a sua vida útil, rentabilizando o património construído, evitando novas construções e, por essa via, contribuir para a sustentabilidade da economia e do País. A aplicação de qualquer destes três princípios exige conhecimento e competência, quer por parte de quem gere, quer por parte de que concebe, quer por parte de quem executa. 29 As necessidades de qualificação são transversais aos diversos agentes que intervêm no processo. 30 No que respeita à conceção e execução das intervenções, a exigência de qualificação aplica-se às três principais Áreas de atividade: Projeto e fiscalização Inspeções e ensaios Execução (empreiteiros e subempreiteiros). 31 O País precisa de Donos-de-Obra mais exigentes e de menos construtores, mas melhores construtores. Uma maior exigência de qualificação da força de trabalho e do tecido empresarial do setor da construção fará aumentar o seu valor acrescentado, logo, o seu contributo para o crescimento da economia. Uma maior qualificação traduz-se em maior qualidade do serviço prestado, o que significa maior eficácia e durabilidade das intervenções, menor desperdício, melhor cumprimento de orçamentos e prazos, logo, economias para as entidades adjudicantes, públicas ou privadas. As empresas de construção mais qualificadas, em termos de organização e de tecnologia, são mais estáveis, podem pagar melhores salários e estão em melhor posição para prestar serviços além-fronteiras, contribuindo para que o setor da construção seja um setor exportador. Em suma, a qualificação das empresas e dos recursos humanos da construção permitirá aumentar o seu contributo para a sociedade. 32 Formação para a qualificação dos executantes das intervenções, sim, mas não chega. Formação para quem concebe e elabora os projetos das obras de reabilitação, desde logo, a compatibilidade dos programas com as construções pré-existentes. Informação (para a mudança de atitude) de quem gere e deve manter os edifícios e dos seus próprios utilizadores. 33 34