Ensino Hidroterapia

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ENSINO DE HIDROTERAPIA NA GRADUAÇÃO
ESTABELECENDO OBJETIVOS
Fátima Aparecida Caromano
Profa. Dra. do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da USP do LAFI-REACOM
Márcia Gouveia da Cunha
Fisioterapeuta e Pesquisadora Voluntária do LAFI-REACOM
Maria Sílvia Pardo
Fisioterapeuta e Pesquisadora Voluntária do LAFI-REACOM
Juliana Monteiro Candeloro
Fisioterapeuta e Pesquisadora Voluntária do LAFI-REACOM
Endereço para correspondência:
* Profa Dra Fátima Caromano.
LAFI – REACOM (Laboratório de Fisioterapia e Reatividade Comportamental).
Rua Cipotânea, nº 51, Cidade Universitária da USP, Campus São Paulo.
Curso de Fisioterapia da FMUSP, São Paulo / SP – CEP: 05360-000.
Ensino de Hidroterapia na graduação – estabelecendo objetivos
Resumo
Este trabalho é uma primeira apresentação dos objetivos de ensino a serem alcançados na disciplina de
hidroterapia, parte do currículo mínimo oficial dos Cursos de Fisioterapia.
A partir deste trabalho espera-se produzir uma discussão mais ampla.
Teaching Hydrotherapy during the graduation - establishing objectives
Summary
This work is a first presentation of the teaching objectives that must be reached in the course of hydrotherapy,
part of the official curriculum minimum of the Courses of Physiotherapy.
Starting from this work we hope to produce a wider discussion.
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Ensino de Hidroterapia na graduação – estabelecendo objetivos
Introdução
A Hidroterapia é a utilização dos efeitos físicos, fisiológicos e cinesiológicos, advindos da imersão do corpo, ou parte
deste, em meio aquático, como recurso auxiliar na reeducação funcional neuromotora, musculoesquelética ou cardiorespiratória,
visando cura, manutenção ou ainda prevenção de uma alteração funcional orgânica.
A utilização pragmática da água com objetivo terapêutico é antiga, tendo registros datados de 400 a.C., mas
somente no final do século XV iniciou-se as pesquisas que fundamentaram o uso clínico deste recurso. Seu
reconhecimento nos meios científicos é recente e deve-se a quatro fatores:
1º. A Física é uma ciência que tradicionalmente se desenvolveu com constância e com uma produção altamente significativa.
A hidrostática, hidrodinâmica e termodinâmica, ramos da física que fundamentam a hidroterapia, acompanharam este desenvolvimento.
2º. A necessidade de estudar os reajustes da função cardiopulmonar e renal normal durante alterações inesperadas, levou
os pesquisadores a descobrirem que a imersão seria o meio adequado para estes estudos.
3º. A necessidade de pesquisas com simulação de ausência de gravidade durante a preparação para enviar homens ao
espaço, e mais recentemente, a avaliação do treinamento físico na ausência de gravidade.
4º. Os bons resultados obtidos com o tratamento hidroterapêutico de uma série de disfunções, por vários grupos de
trabalho, que começam a ser difundidos.
Desta forma, a hidroterapia está bem fundamentada em pesquisas realizadas pelas áreas básicas, talvez até mais que outros
recursos utilizados pela fisioterapia (Becker, 1997, Campion, 1999).
A formação de profissionais para atuarem como especialistas na aplicação de exercício físico em meio aquático, iniciouse em 1930, com a inauguração, na Inglaterra, do primeiro centro de formação de hidroterapeutas. Posteriormente, este curso foi
integrado ao programa de graduação em Fisioterapia (Ruoti, Morris e Cole, 2000).
No Brasil a hidroterapia é uma disciplina obrigatória nos cursos de graduação em Fisioterapia.
Os conhecimentos de hidroterapia, inseridos no conjunto de conhecimentos fisioterapêuticos, vão permitir ao fisioterapeuta
compreender as possibilidades de utilização do meio aquático, seus benefícios limites e contra-indicações.
O conteúdo de hidroterapia é ministrado, normalmente, no terceiro ou quarto semestre do curso, que tem duração de
quatro anos. É o primeiro ou segundo contato do aluno com recursos fisioterapêuticos, mas é a primeira vez que o aluno irá
programar uma sessão de exercícios físicos com fins terapêuticos.
Neste contexto, é útil que o aluno disponha de um repertório para elaboração de sessão fisioterapêutica que lhe permita
desenvolver a técnica aprendida de forma eficiente e operacionalizada.
Aprender a executar uma sessão de hidroterapia significa, numa primeira etapa, aprender os fundamentos do exercício na
água e dominar sua execução. Numa segunda etapa, planejar a sessão com objetivos terapêuticos específicos, aplicar e avaliar a
qualidade técnica do tratamento. Finalmente o aluno deverá elaborar e aplicar um plano de tratamento, em seguida executá-lo e
avaliá-lo. A última etapa ocorre fora da disciplina, mais precisamente, na prática clínica supervisionada, onde o aluno tem a
possibilidade utilizar outros conhecimentos, adquiridos em outras disciplinas e, necessários para que atinja este passo.
As atividades de ensino devem ser planejadas de tal forma que o aluno trabalhe com situações cada vez mais próximas da
atuação fisioterapêutica com pacientes.
O treinamento prático de alunos na execução de técnicas fisioterapêuticas tem características próprias, dependendo da
capacidade de compreensão do aluno e, principalmente, da sua habilidade em interagir com o paciente, informando-o e ensinandoo sobre as atividades a serem desenvolvidas, auxiliando-o ou contando com o auxílio do paciente para realização dos exercícios
físicos propostos, corrigindo comportamentos motores inadequados, fornecendo feedback sobre a evolução do exercício para o
paciente e programando a continuidade da tarefa.
Esta etapa de ensino pode ser superada com êxito quando é permitido ao aluno a auto-avaliação dos passos necessários
para o treino em habilidades técnicas associadas ao feedback fornecido pelo professor (Caromano e Passarella, 1995).
O conteúdo a ser desenvolvido
Na disciplina de hidroterapia, ao final do curso o aluno deverá (objetivo terminal): planejar - de forma fundamentada,
aplicar – com técnica adequada, e avaliar uma sessão de tratamento fisioterapêutico utilizando hidroterapia.
Para tanto, deverá atingir uma série de passos intermediários, ou objetivos intermediários, descritos no quadro 1.
Como pode ser observado no quadro 1, cada objetivo terminal, para ser ensinado atingindo as necessidades de conhecimentos
de um futuro profissional fisioterapeuta, deve ser dividido em objetivos mais específicos, que por sua vez podem ainda ser mais
detalhados. Nesta proposta existem dois níveis de refinamento dos objetivos terminais a serem desenvolvidos pelo professor e
aprendidos pelos alunos.
Após ter sido estabelecido todos os objetivos a serem desenvolvidos pela disciplina e aprendidos pelo aluno, cabe ao
professor duas tarefas:
1. Determinar a melhor forma didática para ser abordado cada objetivo intermediário.
2. Estabelecer como será realizada a avaliação do aprendizado de cada objetivo.
A experiência com esta disciplina tem mostrado que a grande dificuldade no ensino diz respeito ao treinamento e à
avaliação das atividades práticas. A solução do problema, considerando-se a população de alunos atendida no Curso de Fisioterapia
de Universidade de São Paulo, foi estabelecer um roteiro de para elaboração de cada exercício físico proposto pelo aluno (quadro
2). A partir desta ficha, estabeleceu-se um roteiro a ser entregue para o aluno, juntamente com o filme que contém a prática
realizada pelo aluno na piscina, onde o aluno deve realizar observações sistematizadas de seu desempenho, avaliando detalhadamente
a técnica realizada e concluindo sobre a eficácia do exercício físico em função do objetivo de tratamento proposto (Caromano e
Passarella, 1995).
A inserção de novos objetivos intermediários, a especificação mais detalhada do objetivo terminal, o desenvolvimento de
técnicas de ensino direcionadas para hidroterapia e o avanço no conhecimento da área, deve ser freqüentemente considerados e
atualizados para melhor adequação do ensino desta disciplina que cresce em conteúdo e possibilidades terapêuticas constante e
significativamente.
Este trabalho em si é limitado, mas é o primeiro passo para que outros professores possam contribuir com idéias, estudos
e pesquisas, permitindo uma melhor compreensão da disciplina de Hidroterapia dentro do Curso de Fisioterapia.
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OBJETIVO TERMINAL
Planejar, de forma fundamentada, aplicar e avaliar uma sessão de hidroterapia.
OBJETIVOS
Conhecer a evolução tecnológica da construção de
Segunda subdivisão dos
INTERMEDIÁRIO
piscinas e equipamentos afins
objetivos terminais
1. Conhecer o histórico da
hidroterapia
2. Conhecer e executar técnicas de
prevenção de acidentes
3. Descrever os princípios físicos
decorrentes da imersão de um
corpo na água
4. Descrever o equilíbrio e o
movimento na água
5. Descrever as respostas fisiológicas
decorrentes da imersão e a possibilidade de uso pela fisioterapia
6. Descrever as respostas fisiológicas decorrentes do exercício físico em imersão e a possibilidade de uso pela fisioterapia
Conhecer a evolução tecnológica da construção de piscinas
e equipamentos afins
1. pacientes cardíacos
2. gestantes
3. deficientes físicos
4. deficientes mentais
3a. Variações em função da profundidade da água
3b. Variações em função da postura
3c. Transferência de calor na água e variações em função
da temperatura da água
4a. Para um segmento específico
4b. Para todo corpo
4c. Utilização de acessórios
5a. Respostas cardiovasculares
5b. Respostas respiratórias
5c. Respostas renais
6a. Respostas cardiovasculares
6b. Respostas respiratórias
6c. Respostas endócrinas e renais
6d. Regulação da temperatura
Dominar técnicas de prevenção.
Dominar técnicas de primeiros
socorros.
Dominar técnicas de prevenção.
Dominar técnicas de primeiros
socorros.
Em situação de fluxo alinhado.
Em situação de fluxo desalinhado.
Nível de imersão.
Temperatura da água.
Tempo de imersão.
Metabolismo energético aeróbico
Metabolismo energético anaeróbico
Nível de imersão
Temperatura da água
Tempo de imersão
Tipo de exercício físico realizado
7. Descrever os cuidados com o
paciente em função das
respostas fisiológicas
produzidas pela imersão e pela
prática de exercícios na água
8. Descrever as adaptações ao
treinamento físico na água
9. Descrever e executar as técnicas
de cinesioterapia na água
10. Fundamentar e descrever os
métodos exercícios de
hidroterapia
11. Descrever exercícios de
hidroterapia
12. Programar e aplicar e avaliar
uma sessão de hidroterapia
13. Programar plano de tratamento
aplicar e avaliar
14. Aplicar e avaliar plano de
tratamento na situação alunoaluno e aluno-pacientes
8a. Diferentes modalidade de exercício físico
9a. Para inserir o paciente na água
9b. Para retirar o paciente da água
9c. Para realizar exercícios de facilitação do movimento
9d. Para realizar exercícios de resistência do movimento
9e. Para exercícios de condicionamento físico
9f. Para exercícios de relaxamento
9g. Para exercícios de coordenação motora
9h. Para exercícios de equilíbrio
10a. Exercícios de calistenia
10b. Exercícios para condicionamento físico
10c. Exercícios de relaxamento e Watsu
10d. Método Halliwick
10e. Método Bad Ragaz
11a. Descrever a seqüência de movimentos e/ou posturas a
ser realizada pelo paciente
11b. Descrever a posição do terapeuta durante o exercício
11c. Descrever o ensino dos movimentos para o paciente
11d. Descrever a seqüência de comandos verbais
11e. Descrever as compensações a serem observadas
11f. Descrever as atividades a serem desenvolvidas pelo
terapeuta e sua função
11g. Definir a função do exercício
Caso clínico específico hipotético
Ficha de exercícios
Populações de diferentes faixas etárias:
- Gestantes
- Cardiopatas
- Pneumopatas
- Pacientes estressados
- Obesos
Utilização de acessórios
Trabalho terapeuta-paciente
Trabalho terapeuta-grupo
Atividades recreacionais
Caso clínico específico hipotético
Casos clínicos reais
Critérios estabelecidos na ficha de programação de exercícios
Quadro 1 Objetivos a serem atingidos pelo aluno na disciplina de Hidroterapia. As células marcadas com fundo cinza referem-se aos con-teúdos que podem se
melhor explorados na prática clínica profissionalizante e posteriormente em cursos de especialização em hidroterapia.
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FICHA DE PLANEJAMENTO ATIVIDADES DE HIDROTERAPIA
Grupo: ......................................................................................... Data: ___/___/___
Atividade nº: ......................................................................................................................
1. Descrição cinesiológica do exercício físico:
2. Desenho da seqüência do exercício físico:
3. Função da atividade física:
4. Posicionamento do terapeuta:
5. Posicionamento do paciente:
6. Forma de ensino do(s) movimento(s) ao paciente:
7. Comando verbal:
8. Meios auxiliares (tipo e função):
9. Fixação do paciente:
10. Observações:
Quadro 2 Ficha de planejamento de atividades de hidroterapia
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FICHA DE OBSERVAÇÃO DO COMPORTAMENTO DO TERAPEUTA E DO
PACIENTE DURANTE SESSÃO DE HIDROTERAPIA
Grupo: ......................................................................................... Data: ___/___/___
Atividade nº: ......................................................................................................................
RESPONDA SIM, NÃO, OU PARCIALMENTE E COMENTE DE FORMA BREVE E OBJETIVA.
1. O ensino do movimento(s) ao paciente foi adequado e eficiente?
2. O paciente realizou o exercício como descrito durante a sessão?
3. A função do exercício era compatível com a prescrita?
4. O posicionamento do paciente estava adequado e conforme planejado?
5. O posicionamento do terapeuta estava adequado e conforme planejado?
6. A fixação estava adequada e conforme o planejado?
7. O comando verbal foi correto e audível?
8. A utilização dos meios auxiliares foi correta e conforme o planejado?
9. O paciente foi fixado de forma adequada, não realizando movimentos de compensação que
comprometessem o exercício físico do paciente?
10. Observações:
Quadro 3 Ficha de auto-avaliação do desempenho na sessão de hidroterapia
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Referências bibliográficas:
BECKER BE e COLE A. Comprehensive Aquatica Therapy. Butterworth-Heinemann, Boston, 1997.
CAROMANO FA E PASSARELLA J. Uso do videotape como feedback no processo de ensinoaprendizagem de comportamentos fisioterápicos em hidroterapia. Revista de Fisioterapia da USP,
2(1):22-30, 1995.
CAMPION MR. Hidroterapia – princípios e prática. Manole, São Paulo, 2000.
RUOTI RG, MORRIS DM, COLE AJ. Reabilitação Aquática, Manole, 2000.
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