BRCA1 INFLUÊNCIA DE ALTERAÇÕES NA 5'UTR DO GENE BRCA1 ENCONTRADAS EM PACIENTES COM CÂNCER DE MAMA HEREDITÁRIO NA TRANSCRIÇÃO 1,2 1 Fernandes, L.R. ; Costa, E.C.B. ; Moreira, M.A.M. Universidade Federal do Rio de Janeiro 2 Instituto Nacional de Câncer Tabela 1: Alterações observadas na 5'UTR em pacientes do grupo de Aconselhamento Genético em Câncer de Mama e/ou Ovário do INCA. INTRODUÇÃO No Brasil, o câncer se apresenta como uma expressiva causa de mortalidade. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer, as estimativas brasileiras para os anos de 2008 e 2009 apontaram o mesmo perfil da magnitude observada no mundo: O câncer de mama permanece como o segundo tipo de câncer mais freqüente no mundo e o primeiro entre as mulheres, com um risco estimado de 51 casos a cada 100 mil mulheres. Já na região Sudeste o câncer de mama é o mais incidente, com um risco estimado de 68 casos novos a cada 100 mil mulheres (Estimativa 2008, INCA, http://www.inca.gov.br /estimativa/2008/versaofinal.pdf). Cerca de 10% dos casos de câncer de mama apresentam um padrão monogênico de transmissão, caracterizando a chamada síndrome de predisposição ao câncer de mama e/ou ovário (www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=336). Em aproximadamente 64% destas famílias, mutações germinativas no gene BRCA1 podem ser identificadas por seqüenciamento direto (Ford et al, 1998). Outros fatores que foram associados ao desenvolvimento do câncer de mama são alterações que não afetam a função do gene BRCA1, mas sua expressão. Estudos têm relatado que até 33% dos casos de câncer de mama esporádico foram associados ao baixo nível de expressão do gene BRCA1 devido a hipermetilação da região promotora, sugerindo que o perfil de expressão do RNA mensageiro esteja associado ao desenvolvimento do tumor (Miyamoto et al, 2002). A região promotora do gene BRCA1 possui dois éxons alternativos que não são traduzidos, denominados 1A (5'UTR-a) e 1B (5'UTR-a), e cada um deles tem seu próprio promotor: Alfa e Beta respectivamente (Xu et al, 1997) (Figura 01 A). As 5'UTRs contém motivos capazes de regular diversos aspectos da função do transcrito, como a exportação nuclear, a localização citoplasmática, a eficiência de tradução e a estabilidade do transcrito (Hughes, 2006). A estrutura da região 5'UTR-b do gene BRCA1 revela mecanismos potenciais, adicionais aos promotores, na regulação de sua expressão, como a formação de estruturas secundárias (Sobczac e Krzyzosiak, 2002) e a presença de um elemento de ligação para receptor de estrogênio (ERE) (Xu et al, 1997) (Figura 01 B). Recentemente, mutações que causam doenças como síndrome de hiperferritinemia e cataratas, trombocitemia hereditária e doença de Alzheimer, através do aumento ou diminuição da eficiência de tradução, têm sido documentadas, definindo a patofisiologia traducional como um novo mecanismo de doenças humanas (Cazzola e Skoda, 2000). Estudos envolvendo câncer de mama esporádico mostraram que transcritos contendo a seqüência 5'UTR-a são os únicos observados em tecido mamário normal, enquanto ambos os transcritos contendo seqüências 5'UTR-a ou 5'UTR-b podem ser observados em tecidos com a patologia. Além disto, a eficiência da tradução do transcrito contendo a seqüência 5'UTR-b é 10 vezes menor que com a seqüência 5'UTR-a (Sobczak e Krzyzosiak, 2002), assim, esse fator também poderia estar relacionado com a redução da expressão de BRCA1. Paciente Região Analisada Ex.1A Figura 1: (A) Representação esquemática da região promotora de BRCA1. O círculo em rosa indica motivo de ligação para receptor de estrogênio. A seta indica o sentido da transcrição. (B) Representação esquemática das estruturas secundárias observadas na 5'UTR-b, representadas pela linha preta, até do códon inicial (AUG). Os círculos na cor verde indicam a presença de uORFs (upstream Open Reading Frames). As setas em vermelho indicam a posição aproximada onde as alterações observadas, em cada paciente, se encontram (Figura adaptada de Sobczak e Krzyzosiak, 2002). ERE 5’UTR-a 5’UTR-b A P113 P033 P121 P127 P091 B OBJETIVOS Avaliação da influência de 3 variações na 5'UTR de BRCA1, observadas em 5 pacientes caracterizados com síndrome da predisposição ao câncer de mama, na transcrição e tradução de gene repórter. MATERIAL E MÉTODOS As alterações g3800C>T, g3988A>C e g3777G>A foram detectadas na região 5'UTR-b do gene BRCA1 (GenBank L78833) em 5 pacientes do Programa de Aconselhamento Genético em Câncer de Mama e/ou Ovário do INCA (Costa et al, 2005) (Tabela 01). Essas variantes, assim como as 5'UTR-a e b selvagens, foram clonadas no vetor pEGFP-N1(Clontech, Figura 02). Os plasmídeos recombinantes construídos foram transfectados em linhagem celular MCF7, utilizando lipofectamina (Invitrogen) e o perfil de expressão das construções foi analisado através de citometria de fluxo (Figura 03). Clonagem pEGFP-N1 Substituição EGFP SV40 poly A Kan/Neo Figura 2: Desenho esquemático do vetor pEGFPN1 utilizado para construção dos plasmídeos recombinantes no estudo da 5'UTR. Cada éxon 1B e 1A amplificados foram inseridos no sítio múltiplo de clonagem (rosa), adjacente ao gene EGFP (Enhanced Green Fluorescent Protein), sendo transcritos sob o comando do promotor CMV (Cytomegalovirus). (Figura adaptada de clontech Catalog #6085-1) Figura 3: Desenho experimental utilizado no estudo da 5'UTR do gene BRCA1. RESULTADOS A intensidade média de fluorescência (MFI) observada sob a influência da 5'UTR-b selvagem foi significativamente menor que a 5'UTR-a selvagem (p<0,0001)(Figura 04). A MFI observada em cada 5'UTR-b com alteração foi comparada a 5'UTR-b selvagem, mas a diferença não foi significativa em nenhuma avaliação (p>0,1) (Figura 04). Figura 4: Desenho gráfico resultado obtido através de citometria de fluxo. Foram comparadas as médias da intensidade de fluorescência observadas em cada ensaio (MFI) realizado em triplicata. Para avaliação da variação na expressão foi utilizado o teste t pareado (www.graphpad.com/ quickcalcs/ttest1.cfm). A MFI observada sobre a influência da 5'UTR-a selvagem (*) foi significativamente superior as observadas sob influência da 5'UTR-b, tanto selvagem quanto as variantes. A comparação entre as MFIs observadas sob influencia das 5'UTRs-b avaliadas não mostrou diferença significativa entre nenhuma delas. Ex.1B (1 4 1 p b ) Sítio Múltiplo de pUC ori 4733 pb BRCA1 CMV CONCLUSÕES Ao contrário do descrito na literatura para outras alterações na 5´UTR de BRCA1 em casos de câncer esporádico, as alterações avaliadas nesse estudo não modificaram o perfil de expressão do gene repórter. Entretanto podem influenciar a expressão de BRCA1 associada a outros fatores no indivíduo que não puderam ser reproduzidos in vitro, uma vez que foram encontradas em pacientes que não apresentaram mutação na região codificante do gene. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Cazzola M, Skoda RC. (2000) Blood. 1;95(11):3280-8. Costa ECB. (2005) Dissertação de Mestrado - Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Departamento de Genética, Pós-graduação em Genética Ford D, Easton DF, Stratton M, et al (1998) Am.J.Hum.Gent.,62:676-689. Hughes TA. (2006) Trends Genet. Mar;22(3):119-22. Miyamoto K, Fukootmi T, Asada K, et al (2002) Jnp. J.Clin.Oncol., 32(3):79-84. Sobczak K and Krzyzosiak WJ. (2002) The Journal of Biological Chemistry, 277(19):17349-17358. Xu, C.-F., Chambers, J. A., and Solomon, E. (1997) J. Biol. Chem. 272, 2099420997 MS - Ministério da Saúde INCA Instituto Nacional de Câncer FAF - Fundação Ari Frauzino para Pesquisa e Controle do Câncer CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior FAPERJ Fundação para o Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro Projeto Gráfico: Serviço de Edição e Informação Técnico-Científica / CEDC / INCA 1 2