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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
A PRODUÇÃO DE BAIRROS EXCLUSIVOS PARA A POPULAÇÃO
DE RENDA MÉDIA E ALTA NO SETOR SUL DE BAURU-SP: AS
EMPRESAS DA FAMÍLIA MARTHA E OS EMPREENDIMENTOS
JARDIM ESTORIL (1957-2006)
ANA CAROLINA ALVARES CAPELOZZA1
Resumo:
Este texto aborda o processo de produção de bairros exclusivos para a população de renda média e
alta no setor sul de Bauru, cidade de porte médio localizada no interior do Estado de São Paulo, a
partir da atuação das empresas da família Martha. Nesse processo, destaca-se a produção dos cinco
bairros Jardim Estoril, implantados, ao longo de cinquenta anos (1957-2006), pelas empresas Martha.
Através de pesquisas bibliográficas e documentais e da realização de entrevistas, este artigo discute
as singularidades de cada empreendimento, analisando a adequação de seus projetos e estratégias
de venda aos padrões do mercado imobiliário, além de identificar as relações que as empresas da
Família Martha estabelecem com o poder público local.
Palavras-chave: Empresas da Família Martha; Bairros para população de alta renda; Bauru – SP;
Cidade de porte médio.
Abstract:
This article approaches the production of exclusive neighborhoods to the population of middle and
high income in southern Bauru sector, medium-sized city located in the State of São Paulo, from the
performance of the companies of the family Martha. In this process, stands out the production of five
Jardim Estoril’s neighborhoods, implanted, over fifty years (1957-2006), by the companies Martha.
Through bibliographical and documentary research and interviews, this article discusses the
uniqueness of each development, analyzing the adequacy of its projects and Sales strategies to the
Standards of real estate market, in addition to identifying the relationships that the Martha’s family
companies establish with the local government.
Key-words: Martha Family businesses; High-income population neighborhoods; Bauru – SP;
medium-sized city.
1 – Introdução e colocação do problema
A formação urbana de Bauru esteve ligada à produção cafeeira e à
ferrovia, seguida por uma industrialização significativa, que impulsionou o setor
terciário. Sua ocupação foi iniciada em meados do século XIX, estimulada pela
aprovação da Lei Federal nº 601/1850. No início do século XX foi implantado um
importante marco para o desenvolvimento da cidade, o entroncamento ferroviário
formado pelas estradas de ferro Sorocabana (1905), Noroeste do Brasil (1906) e
Paulista (1910), que formavam conexões importantes com a capital do Estado e com
1
Mestranda no programa de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU/USP), sua pesquisa é financiada pela FAPESP. Email de contato: [email protected]
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municípios do interior. A Ferrovia Sorocabana, instalada junto ao Ribeirão Bauru,
reforçou a barreira geográfica do fundo de vale, acentuando a divisão da cidade em
duas zonas distintas: a norte/oeste, de relevo acidentado, e a sul/leste, de topografia
mais plana. (GHIRARDELLO, 1992, p.93).
Até meados da década de 1920, no núcleo central ocorriam todas as
atividades urbanas, sendo o uso habitacional combinado aos usos comerciais e de
serviços (CPEU/PMB, 1968, p.II.24). A partir da segunda metade da década de
1920, a população de renda média e alta, em busca de lotes acessíveis ao centro e
dotados de infraestrutura urbana, inicia o deslocamento no sentido sul/sudoeste da
cidade, ocupando bairros ainda com usos mistos (GHIRARDELLO, 1992, p.140).
Esta área, ocupada pela população de maior renda, foi denominada “Altos da
cidade”, visando qualificar a região perante as áreas mais baixas, ocupadas pela
população de menor renda.
Entre as décadas de 1920 e 1940, houve duas tentativas de produção de
bairros exclusivos para população de alta renda, o Jardim Bela Vista e o Parque
Vista Alegre. O Jardim Bela Vista, lançado como primeiro “bairro jardim” da cidade,
foi ocupado por outros grupos sociais devido à ausência de infraestrutura e de
acessibilidade. Sua localização ao norte exigia que o acesso à região central e dos
“Altos da Cidade” fosse realizado através da transposição da linha férrea
(GHIRARDELLO, 1992, p.140). O Parque Vista Alegre diferenciou-se dos bairros até
então implantados em Bauru pelo desenho urbano, que, ao considerar a topografia
do terreno e a paisagem natural, resultou em um projeto com vias curvilíneas e
menores problemas erosivos. Entretanto, a exemplo do Jardim Bela Vista, a
localização além da linha férrea e a ausência de infraestrutura levaram à sua
ocupação por operários industriais (CONSTANTINO, 2005, p.51).
Entre as décadas de 1930 e 1940, houve a intensificação da imigração e
da demanda por moradia popular, o que ampliou significativamente a produção de
loteamentos para população de baixa renda (CATELAN, 2008, p.56). Esses novos
bairros foram implantados nas periferias norte, leste e oeste, consolidando-as como
áreas de ocupação popular.
Ao mesmo tempo, foi implantado no setor sul da cidade pelo Poder
Público Municipal e pela iniciativa privada, um conjunto de obras que expandiram a
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infraestrutura do setor e atraíram uma quantidade significativa de novos bairros
destinados à população de alta e média renda (GHIRARDELLO, 1992, p.165). A
Prefeitura Municipal de Bauru construiu o aeroporto e a estação de tratamento de
água, além de pavimentar a Avenida das Mangueiras2, uma das principais vias de
acesso entre o setor sul e os “Altos da Cidade”. Já a iniciativa privada implantou o
Bauru Tênis Clube (BTC), o Bauru Atlético Clube (BAC), a Escola Ernesto Monte –
considerado um dos melhores colégios do período – e a Igreja Santa Terezinha –
maior e mais rica que a própria matriz bauruense (CPEU/PMB, 1968, p.II.25).
É nesse momento de expansão do setor sul que a família Martha adquiriu
aproximadamente 127 hectares de propriedades rurais3, gleba que deu origem aos
empreendimentos Jardim Estoril. Dando continuidade à implantação de clubes
recreativos no setor sul, na década de 1950, foi projetada e executada pelas
empresas Martha a Associação Luso Brasileira. Entre 1957 e 2006, reforçado pelos
empreendimentos Martha, o sul se consolidou como setor ocupado pela população
de média e alta renda.
Este texto discute, portanto, a produção de bairros exclusivos para
população de renda média e alta no setor sul de Bauru-SP, a partir da atuação das
empresas da Família Martha e em particular os Jardins Estoril. O trabalho foi
estruturado de maneira a discutir a produção imobiliária das empresas, as relações
desta com o poder público e o processo de produção dos bairros Jardim Estoril.
2 – Metodologias
O trabalho foi desenvolvido através de levantamento bibliográfico e
documental, além da realização de entrevistas. O levantamento bibliográfico foi
realizado no sentido de compor uma base de reflexões sobre os processos de
estruturação dos bairros para população de alta renda nas cidades média do interior
do Estado de São Paulo. Sendo neste artigo trabalhada a cidade de Bauru.
O levantamento documental foi realizado em quatro frentes: 1.
Levantamento dos processos de aprovação e inscrição dos bairros Jardim Estoril 4,
2
Atual Avenida Comendador José da Silva Martha.
Informações obtidas no processo de inscrição dos empreendimentos Jardim Estoril.
4
Consultados nos arquivos da Prefeitura Municipal de Bauru e no Cartório de Registro de Imóveis.
3
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realizado a fim de compreender os processos de formação e produção dos
empreendimentos; 2. Levantamento cadastral e de obras das empresas da Família
Martha5, visando compreender o período e a atuação dessas; 3. Levantamento das
legislações urbanas municipais6, com o objetivo de identificar a participação do
poder público na expansão do setor sul de Bauru; e 4. Levantamento nos jornais
Diário de Bauru e Jornal da Cidade7, a fim de identificar anúncios e debates
relacionados aos empreendimentos Jardim Estoril.
Também fez parte da metodologia de pesquisa a realização de
entrevistas com membros da família Martha, a fim de compreender o processo de
formação das empresas. O desenvolvimento do trabalho deu-se a partir da
interlocução de todo material pesquisado.
3 – As empresas da Família Martha e sua atuação no Brasil e no Estado de São
Paulo
A família Martha, de origem portuguesa, começou a atuar no mercado
imobiliário, na cidade de Bauru, ainda no período anterior à abertura da primeira
empresa. Em 1957, foi aprovado, sob a responsabilidade do engenheiro José da
Silva Martha Filho, o primeiro bairro Jardim Estoril (PMB, 1957). No ano seguinte, foi
criada a Construtora Martha & Pinho, fundada pelo engenheiro Martha e seu
cunhado, o arquiteto Fernando Ferreira de Pinho (Martha & Pinho, 1978, p.1-28). Em
1965 foi criada a Incorporadora Martha Indústria e Comércio, fundada pelos então
sócios Martha e Pinho, em associação ao outro cunhado, Albino Oliveira.
As empresas Martha realizaram um número significativo de obras
conjuntas; entretanto, tiveram singularidades quanto ao período de atividade e
atuação. A Construtora Martha & Pinho, atuante entre 1958 e 1983, desenvolveu e
executou projetos residenciais, comerciais, educacionais e de lazer, construídos
essencialmente no interior do Estado de São Paulo, mas também em outras regiões
do país (Martha & Pinho, 1978, p.1-28). A incorporadora Martha Indústria e
5
Realizado no site da Junta Comercial do Estado de São Paulo.
Disponível no site da Câmara Municipal de Bauru.
7
Periódicos consultados nos arquivos do Museu Histórico Municipal de Bauru e do Jornal da Cidade.
6
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Comércio atuou administrando e incorporando o patrimônio imobiliário da família, no
período de 1965 e 2010, sendo sua atuação limitada à cidade de Bauru.
Durante os 25 anos de atividade, a construtora realizou obras em
quatro Estados brasileiros, produção que, quase exclusivamente, foi composta por
obras públicas. A atuação a partir de processos licitatórios também foi sua principal
frente de trabalho no interior de São Paulo (Martha & Pinho, 1978, p.1-28).
Nas cidades de Campo Grande (MS) e Londrina (PR), foram realizados,
na primeira metade da década de 1970, dois edifícios verticais, para abrigar
estações terminais da Embratel. Em Brasília (DF), são de autoria dos sócios um
ambulatório médico para o Banco do Brasil (1972) e um edifício residencial para a
Coordenação do Desenvolvimento de Brasília (1974), órgão responsável pela
gerência dos recursos habitacionais na capital do País (Martha & Pinho, 1978, p.22).
Na capital paulista, foram realizadas duas obras: um Ginásio Estadual no
bairro de Pinheiros (1973) e um núcleo residencial de sobrados (1963) – única obra
particular da empresa para além do interior paulista –, realizado com financiamento
do Banco Hipotecário Lar Brasileiro (Martha & Pinho, 1978, p. 7 e 14).
No interior do Estado de São Paulo – excluindo-se Bauru – a empresa
atuou em 26 cidades. Das 39 obras realizadas, 34 foram executadas junto ao Estado
(quadro 1), das quais se destacam as agências bancárias, os ginásios estaduais e
os núcleos habitacionais da COHAB – que totalizaram 250 unidades habitacionais.
Quadro 1. Obras públicas realizadas pela Construtora Martha & Pinho no interior de SP.
Ano
OBRAS
Municípios
1966-1979
Agências do Banco do Brasil
Dracena/ Matão/ Ibitinga/ Barretos/ R. Bonito/
Guarapes/ Penápoles/ S. Carlos/ Tupã/ Marília
1966
Agências dos Correios e Telégrafos
Cafelândia/ Andradina
1970-1977
Centros Telefônicos da TELESP
Penápolis/ São Manuel/ Pederneiras/ Agudos/
Marília/ P. Prudente
1971-1978
Ginásios Estaduais
Valparaíso/ Tupi Pta./ O. Cruz/ Cafelândia/
Guarapes/ São J. B. Vista/F. Rocha/ Paulínia
1972
Escritório Comercial da CPFL
São Manuel
1973-1976
Núcleos Habitacionais da COHAB
Pederneiras/Agudos
1973-1974
Ginásios de Esportes Municipais
Gália/ Lençóis Pta.
1978-1979
Agências Bancárias do BANESPA
Bastos/ Ourinhos
Fonte: Martha e Pinho (1978), organizado por CAPELOZZA (2015)
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4 – A atuação das empresas Martha em Bauru e suas relações com o Poder
Público local e estadual
Em sua cidade sede, a produção imobiliária das empresas Martha foi
mais abrangente, sendo edificado um número significativo de obras particulares.
Dentre essas, destacam-se as residências unifamiliares, os edifícios verticais, a
associação recreativa Luso-Brasileira e os cinco bairros Jardim Estoril. A maioria das
obras desenvolvidas junto ao setor privado foi implantada no setor sul e nos “Altos
da Cidade” (Martha & Pinho, 1978, p.1-28).
As obras públicas também foram uma das principais frentes de trabalho
da família, em Bauru. Com recursos municipais foram realizados o mercado-feira e
quatro núcleos habitacionais da COHAB. O mercado-feira, edificado com o objetivo
de formalizar e organizar o comércio alimentício de rua, foi implantado na região
central. Já os nucléos habitacionais, com 649 unidades habitacionais construídas,
foram implantados nos setores norte e sudeste (Martha & Pinho, 1978, p.14-17).
Com recursos do Governo Estadual foram realizadas treze obras (quadro
2). Na região central se destacam a delegacia de polícia, a agência bancária da
Caixa e os edifícios da TELESP. Nos setores norte, leste e sul, chamam à atenção a
implantação dos sete ginásios estudantis, sendo um no Jardim Estoril (Martha &
Pinho, 1978, p.6-9).
Quadro 2. Obras públicas estaduais realizadas pela Construtora Martha & Pinho em Bauru.
Ano
OBRAS
Cliente
1962
Dema
Governo Estadual
1971
Caixa Água
4º Batalhão da Polícia Militar
Ginásio Estadual Luiz Zuiani e Jardim Estoril
Governo Estadual
1973
Ginásios Est. Ernesto Monte e Cruzeiro do Sul
Governo Estadual
1974
Ginásios Est. Bela Vista e Rodrigues de Abreu
Governo Estadual
1975
Almoxarifado e Edifício Comercial
Telesp
1976
Delegacia de Polícia
Governo Estadual
1977
Ginásio Est. Pq. S. Geraldo e Prodesp
Governo Estadual
1979
Agência Bancária
Caixa Econômica Estadual
Fonte: Martha e Pinho (1978), organizado por CAPELOZZA (2015)
Em Bauru, a atuação das empresas Martha junto ao Estado foi além das
obras públicas; em 1968 a família participou da elaboração do primeiro Plano Diretor
de Bauru. O Plano foi realizado pelo Centro de Pesquisas e Estudos Urbanístico
(CPEU), ligado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
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Paulo (FAU/USP). Nessa ocasião, o Engenheiro José da Silva Martha Filho foi
convidado pelo Prefeito Municipal a coordenar a comissão técnica do plano,
composta por uma equipe multidisciplinar formada por profissionais ligados ás áreas
jurídica, política, acadêmica e da saúde (CPEU/PMB,1968, P.I.1).
Dentre as propostas estabelecidas pelo plano está o zoneamento por
faixas de densidade, que, visando à diminuição gradativa do centro para as
periferias, dividiu a cidade em quatro zonas. Parte da gleba da Família Martha –
entre elas a área onde já havia sido implantado o Jardim Estoril 1 – foi instituída
como Zona Residencial de densidade especial (fig. 1). Essa zona limitava a
densidade à metade da estabelecida para seu entorno, além de ser a única do plano
a permitir exclusivamente a implantação de residências unifamiliares isoladas no lote
– padrão que, como será visto no item seguinte, já estava definido pelas normas do
Jardim Estoril 1.
O primeiro Plano Diretor de Bauru não foi aprovado, entretanto,
direcionou a expansão urbana e a implantação de obras públicas das décadas
seguintes (LOSNAK, 2004, p.193). Nesse sentido, é possível afirmar que, embora a
área da Zona Residencial de densidade especial não tenha sido instituída, foi
ocupada – nas décadas seguintes – seguindo as diretrizes estabelecidas pelo Plano
Diretor de 1968 e pela normatização instituída pelos Jardins Estoril.
Figura 1. Mapa de zoneamento com destaque para os Jardim Estoril 1 e 4.
Fonte: Plano diretor de Bauru (1968), editado por CAPELOZZA (2015)
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5 – Os empreendimentos Jardim Estoril
Os cinco empreendimentos da família Martha, implantados entre 1957 e
2006, tiveram papel fundamental na consolidação do setor sul como área ocupada
pela população de renda média e alta. Utilizando estratégias diferentes, de acordo
com seus períodos de implantação, os Jardins Estoril se adequaram aos padrões e
tipologias dominantes no mercado imobiliário.
O Jardim Estoril 1, aprovado em 1957, introduziu uma concepção de
loteamento em Bauru, diferenciando-se pelo entendimento da topografia –
proporcionando um projeto compatível com as características do terreno –, pelo
traçado mais alongado – diferenciando-se do padrão malha de xadrez, até então
reproduzida na cidade –, pelo uso exclusivamente residencial unifamiliar, e pelo
isolamento da casa no lote. Além disso, o empreendimento introduz em Bauru a
implantação de infraestrutura pelo próprio loteador, melhoramentos urbanos que só
passaram a ser exigidos na cidade duas décadas depois, com a aprovação da lei
6.766/1979.
Essa nova concepção foi regulamentada pelo “compromisso de venda e
compra”, contrato que normatiza a aquisição dos lotes e a construção das
edificações nos cinco empreendimentos Martha. Inspirado nas “Cláusulas das
servidões para o uso dos terrenos” proposto pela Cia City para os bairros Jardim em
São Paulo (ANDRADE, 1998, p.245-249), o compromisso definiu a responsabilidade
do loteador em fornecer infraestrutura ao loteamento, e a dos proprietários em
construir as residências seguindo a regulamentação impostas pelo loteador.
Para atrair a população de renda média e alta a esse novo produto
imobiliário os empreendedores investiram em opções distintas de financiamento,
através de três etapas de venda. Nas duas primeiras etapas – iniciadas em 1959 e
1966 – foi realizado o financiamento conjunto lote/edificação. A empresa investiu na
divulgação em periódicos (fig. 2), cuja campanha frisava a possibilidade de se sair
do aluguel – através de um financiamento sem juros e acessível ao profissional
liberal. Além disso, foram destacadas as singularidades do empreendimento perante
os bairros até então implantados em Bauru: os melhoramentos urbanos e o uso
exclusivamente residencial.
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Figura 2. Divulgação da segunda etapa de vendas do Jardim Estoril 1.
Fonte: Jornal O Diário de Bauru, 12 de Junho de 1966.
Nas duas etapas iniciais de venda as edificações foram projetadas e
executadas pela Martha & Pinho, entretanto, o financiamento foi realizado por
empresas distintas. Inicialmente a construtora se associou ao Banco Lar Brasileiro, e
na segunda etapa, a venda foi realizada pela Incorporadora Martha Indústria e
Comércio, sendo todo o processo – desde o parcelamento do solo até a venda das
unidades – realizado pela família.
Em 1972 foi iniciada a terceira etapa de vendas, com duas mudanças
significativas: o lote passou a ser vendido sem a edificação construída, e as vendas
passaram a ser realizadas por uma imobiliária da cidade. Este tipo de parceria foi a
que prevaleceu nos empreendimentos posteriores, caracterizando a relação das
empresas Martha com imobiliárias da cidade.
Os Jardim Estoril 2 e 3 – aprovados respectivamente em 1977 e 1995 –
mantiveram algumas características do primeiro empreendimento do grupo, como a
infraestrutura implantada pelo loteador, o uso exclusivamente residencial unifamiliar,
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e o isolamento da casa no lote (PMB, 1977 e 1995). Entretanto, apresentaram
singularidades
em
seus
projetos.
O
Jardim
Estoril
2,
possui
o
maior
dimensionamento dos lotes e um traçado urbano diferenciado – no qual as quadras
centrais deixam de ser cortadas pelo sistema viário, a fim de abrigar as áreas verdes
– sendo o empreendimento Martha mais valorizado até a implantação do
Residencial Jardim Estoril 5, em 2006. Já o projeto do Jardim Estoril 3 teve que se
adequar à topografia acidentada do terreno e a proximidade da linha férrea, e foi o
empreendimento menos valorizado do grupo.
Em 1983, foi lançado o Jardim Estoril 4 (PMB, 1983). Seguindo as
tendências dos empreendimentos imobiliários no setor sul e incentivado pela
primeira lei de zoneamento da cidade, é o único do grupo a permitir o uso misto e a
verticalização. O uso comercial e a verticalização foram estrategicamente
localizados nas principais vias de acesso à área central e aos bairros localizados ao
sul/sudeste – onde, posteriormente, foram implantados os loteamentos horizontais
fechados. As demais quadras do bairro seguiram o padrão de seus antecessores,
sendo de uso exclusivamente residencial unifamiliar.
Em 2006, é lançado o último bairro das empresas Martha (PMB, 2006). O
Residencial Jardim Estoril 5, retomou o uso exclusivamente residencial unifamiliar e
incorporou uma tendência do mercado imobiliário do período: o loteamento fechado.
O empreendimento foi aprovado inicialmente como loteamento aberto, entretanto
após sua aprovação foi realizado um convênio de fechamento entre a Incorporadora
Martha e a Prefeitura Municipal de Bauru. Sua implantação insere-se em um
processo de produção significativa deste tipo de empreendimento nas cidades
médias paulistas (SPOSITO, 2006, p.175-197). Em Bauru, esses loteamentos se
inserem, especialmente, nas periferias sul e sudeste, processo que se inicia na
década de 1980 e é intensificado nas décadas seguintes (CAPELOZZA, 2012, p.31).
Entretanto, o empreendimento se diferenciou dos até então produzidos na cidade,
devido à localização junto à malha urbana e ao maior dimensionamento dos lotes.
6 – Conclusões
A produção imobiliária da construtora Martha & Pinho, atuando
conjuntamente com a incorporadora Martha Indústria e Comércio, indica a
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participação significativa da família no mercado imobiliário. Dentre a atuação das
empresas Martha destaca-se a realização de obras públicas, especialmente nas
cidades do interior do Estado de São Paulo.
Em Bauru, a atuação das empresas Martha se deu em diversas regiões
da cidade. As obras realizadas junto ao setor privado foram concentradas na região
central, no setor sul e nos “Altos da Cidade”, atendendo a população de renda média
e alta. As obras públicas, especialmente os núcleos residenciais da COHAB e os
ginásios estaduais, foram realizadas em diversas regiões da cidade, atendendo e a
população de menor faixa de renda.
Durante a produção dos empreendimentos Jardim Estoril, as empresas
Martha tiveram outras frentes de trabalho, constatando a abrangência e a
versatilidade das empresas, cuja atuação poderia envolver desde a propriedade do
terreno – passando pelo projeto e execução – até a venda das unidades.
Ao longo de cinquenta anos os loteamentos da Família Martha foram
produzidos de maneira diferente. Enquanto os Jardins Estoril 1, 2 e 3 implantaram
uma concepção diferente da até então utilizada nos loteamentos da cidade, os
Jardim Estoril 4 e 5 se adequaram à produção imobiliária para população de média e
alta renda do período. Por fim, foi possível concluir que os bairros de propriedade da
Família Martha, juntamente com a legislação aprovada pelo Poder Público
Municipal, consolidaram o setor sul como área ocupada pela população de renda
média e alta.
7 – Referências Bibliográficas
ANDRADE, Carlos Roberto Monteiro de. Barry Parker um arquiteto inglês na
cidade de São Paulo. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.
CAPELOZZA, Ana Carolina Alvares. Estética da segurança em loteamentos
fechados horizontais de Bauru (SP). Presidente Prudente: FCT-UNESP: FAPESP,
Relatório de iniciação científica, Abril/2012.
CATELAN, Márcio José. A Produção do espaço em Bauru: do subterrâneo à
superfície. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Faculdade de Ciências e
Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2008.
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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
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CONSTANTINO, Norma Regina Truppel. A construção da paisagem de fundos de
vale: o caso de Bauru. Tese (Doutorado Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo (FAU/USP). São Paulo, 2005.
CPEU/PMB (Centro de Pesquisas e Estudos Urbanísticos e Prefeitura Municipal de
Bauru). Plano Diretor de Bauru. São Paulo, 1968. Documentos originais do plano –
arquivo FAU-USP.
GHIRARDELLO, Nilson. Aspectos do direcionamento urbano de Bauru.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 1992.
LOSNAK, Célio José. Polifonia Urbana: imagens e representações. Bauru: Editora
EDUSC, 2004.
MARTHA & PINHO LTDA. 1978. Portfólio de vinte anos da Martha & Pinho:
Arquitectura, Engenharia Civil e Urbanismo. Bauru, 1978.
SPOSITO, M. E. B. Loteamentos fechados em cidades médias paulistas - Brasil. In:
SPOSITO, E.; SPOSITO, M. ; SOBARZO, O. (Org.). Cidades médias: produção do
espaço urbano e regional. 1a. ed.São Paulo: Expressão Popular, 2006, p. 175-196.
Legislação
BAURU. Lei nº 2339, de 15 de fevereiro de 1982. Estabelece normas para
parcelamento, uso e ocupação do solo no município de Bauru.
BAURU. Lei nº 4126, de 12 de Setembro de 1996. Institui o plano diretor de
desenvolvimento integrado de Bauru e da outras providências.
Processos de Aprovação
PREFEITURA MUNICIPAL DE BAURU (1957). Processo de aprovação nº 2813/57 –
Aprovação das plantas do Jardim Estoril 1. Departamento de Diretrizes e Normas.
PREFEITURA MUNICIPAL DE BAURU (1977). Processo de aprovação nº 17977/77
– Aprovação das plantas do Jardim Estoril 2. Departamento de Diretrizes e Normas.
PREFEITURA MUNICIPAL DE BAURU (1981). Processo de aprovação nº 9052/81 –
Aprovação das plantas do Jardim Estoril 4. Departamento de Diretrizes e Normas.
PREFEITURA MUNICIPAL DE BAURU (1995). Processo de aprovação nº 33646/95
– Aprovação das plantas do Jardim Estoril 3. Departamento de Diretrizes e Normas.
PREFEITURA MUNICIPAL DE BAURU (2006). Processo de aprovação nº 25277/06
– Aprovação das plantas do Jardim Estoril 5. Departamento de Diretrizes e Normas.
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