dípteros de importância veterinária

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XIII Congresso Brasileiro de Parasitologia Veterinária & I Simpósio Latino-Americano de Ricketisioses, Ouro Preto, MG, 2004.
DÍPTEROS DE IMPORTÂNCIA VETERINÁRIA
Ângelo Pires do Prado
Depto. Parasitologia, Instituto de Biologia, UNICAMP
e-mail: [email protected]
A ordem Diptera que engloba as moscas e mosquitos, é a
quarta maior da classe Insecta (cerca de 120.000 espécies); seus
membros ocupam vários nichos e diferentes habitats. Algumas famílias adquiriram o hábito da hematofagia (ingestão de sangue) e conseqüentemente também se envolveram na transmissão de agentes
patogênicos causadores de doenças (vetores). Além disso, estas espécies ocorrendo em grandes populações podem causar transtornos
para o homem e animais domésticos, simplesmente pelo seu hábito
alimentar. Acrescente-se ainda, que várias famílias invadem como
larvas, os tecidos dos animais e cavidades (miíases e pseudomiíases). De positivo, podemos arrolar, que muitas espécies são benéficas porque são predadores e parasitóides (controle biológico), além
de fazerem a reciclagem (detritívoros) de material orgânico (carcaças, fezes, etc.) e polinizarem as plantas.
Os dípteros são caracterizados pela presença de apenas
um par de asas mesotorácicas funcionais, o par posterior reduzido a
uma estrutura em forma de halter ou balancim. Várias espécies são
ápteras. O corpo pode variar de diminuto a grande, suas larvas são
ápodas e às vezes sem cabeça nítida. O aparelho bucal varia muito,
porém são fundamentalmente sugadores. Suas larvas possuem várias
modificações do tipo mandibulado, chegando ao aparelho cefalofaringeano típico dos Cyclorrhapha. Os adulto apresentam 3 océlos
dorsais e dois olhos compostos bem desenvolvidos.
Três subordens se distinguem: Nematocera, Brachycera e
Cyclorrhapha. Os Nematocera (mosquitos, borrachudos, maruim,
cangalhinha, etc) incluem adultos com antenas longas, com muitos
segmentos, tipicamente filiformes; as larvas possuem cabeça bem
desenvolvida e as pupas são obtectas. (sem apêndices livres).
Os Brachycera (mutucas) incluem os adultos que apresentam antenas curtas, tipicamente estiladas; suas larvas têm cabeça
pouco desenvolvida e as pupas são exaradas (com apêndices livres).
Os Cyclorrhapha (moscas domésticas, varejeiras, etc.) incluem os adultos que apresentam antenas curtas, tipicamente aristadas; suas larvas são vermiformes, não tendo cabeça visível, as peças
bucais são articuladas com um aparelho cefalofaringeano esclerotizado, melanizado. O nome da subordem é baseado na aparência da
abertura pela qual o inseto adulto escapa do estojo pupal ou pupário,
durante a emergência.
Dípteros de importância Veterinária são encontrados em
cada uma dessas subordens, as principais espécies como segue:
Várias famílias de Nematocera têm muita importância em
Medicina Humana; entretanto, em Medicina Veterinária são muito
pouco estudados no Brasil. As famílias Culicidae, Psychodidae,
Simuliidae e Ceratopogonidae são as mais importantes, principalmente porque são hematófagos e são potenciais transmissores de
patógenos (vírus, bactérias, protozoários, helmintos), além de serem
incômodos, provocarem perda de sangue e serem agentes de alergias
e toxicoses.
Família Culicidae: são vetores biológicos e mecânicos de
bactérias, helmintos, protozoários e viroses, para o homem e animais
domésticos, como por exemplo os Plasmodium spp., Dirofilaria
immitis, vírus das encefalites eqüinas, vírus da febre do Oeste do
Nilo, vírus da febre amarela, vírus da mixomatose dos coelhos, etc.
Família Simuliidae: transmitem a Onchocerca volvulus,
mixomatose e Leucicytozoon, encefalites eqüinas e estomatite vesicular para cavalos e bovinos; família Ceratopogonidae: veiculam as
Onchocerca volvulus, O.gibsoni (bovinos) e O. cervalis (eqüinos),
além de Haemoproteus e Leucocytozoon (aves) e Hepatocystis
(macacos)
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e também os vírus “bluetongue” (ovinos e bovinos), “african horse
sickness” (eqüinos), “bovine ephemeral fever” (bovinos) e “akabane
disease” (bovinos, ovinos e caprinos).
Família Psychodidae: veiculam as leishmanioses tegumentar e visceral para o homem, animais domésticos e silvestres
(cães e roedores principalmente); também podem transmitir a estomatite vesicular dos bovinos e eqüinos.
Os Brachycera da família Tabanidae também apresentam
hábitos hematofágicos e podem ser transmissores mecânicos e biológicos de patógenos para os animais domésticos e silvestres, como
por exemplo: anemia infecciosa dos eqüídeos, estomatite vesicular,
encefalites e peste suína, além do Anaplasma marginale, Trypanosoma evansi, T. vivax e T. equiperdum, como também o carbúnculo,
brucelose, tularemia e leucose bovina. Outra família de importância
é a Stratiomyidae, com a espécie Hermetia illucens que vive em
matéria orgânica em decomposição, e pode ser competidora da mosca doméstica no lixo e composto, compactando-o (reduzindo seu
volume) e podendo ser aproveitada como alimento para animais
domésticos.
Os Cyclorrhapha incluem espécies que praticam a hematofagia nas seguintes famílias: Muscidae, Hippoboscidae, e Streblidae, que lhes dá importância veterinária como potenciais transmissores mecânicos e biológicos de patógenos, como por exemplo: família
Muscidae: Haematobia irritans (mosca-dos-chifres), transmite as
filarias da Stenofilaria stilesi para bovinos; Stomoxys calcitrans
(“mosca-dos-estábulos”) transmite a anemia infecciosa dos eqüinos,
o carbúnculo hemático, o Trypanosoma evansi além de ser hospedeiro intermediário das espécies de Habronema (Nematoda); famílía
Hypoboscidae: transmite o Haemoproteus columba (pombos).
Em adição à transmissão de doenças pela hematofagia,
muitas outras espécies podem veicular doenças indiretamente pelas
suas outras atividades (transmissão mecânica) ou podem ainda incomodar o homem e seus animais domésticos. Dentre essas, destacam-se as famílias Muscidae, Fanniidae, Calliphoridae, Sarcophagidae, Oestridae, Cuterebridae, Gasterophilidae, Chloropidae, Piophilidae, Drosophilidae, Syrphidae e Phoridae. Podem veicular mecanicamente mais de uma centena de agentes patogênicos (vírus, fungos,
bactérias, protozoários e helmintos), além de serem hospedeiros
intermediários de helmintos. Além disso, algumas espécies de várias
famílias se desenvolvem obrigatória (Calliphoridae, Sarcophagidae,
Cuterebridae, Oestridae, Gasterophilidae) ou facultativamente (Muscidae, Calliphoridae, Sarcophagidae, Fanniidae, Phoridae, etc) em
tecidos e /ou cavidades dos vertebrados (míases ou bicheiras e pseudomíases); a bioterapia larvar, ainda pouco utilizada em veterinária,
é uma míase provocada com fins terapêuticos.
Assim, os dípteros (moscas, mosquitos e mutucas) exercem um papel extremamente importante nas atividades humanas e
especialmente nas criações de animais domésticos, pois a tendência
para o aumento da densidade dos animais por área (confinamento) e
o acúmulo de dejetos e restos de alimentos propiciam o desenvolvimento de seus estágios imaturos, levando conseqüentemente ao
aumento das populações desses artrópodes. A capacidade vetorial
está diretamente relacionada com a densidade do vetor, o que aumenta as epizootias e a transmissão de doenças.
O controle das populações naturais desses vetores é extremamente difícil, levando inexoravelmente ao aumento da resistência aos inseticidas químicos, comumente empregados, encarecendo os custos de produção.
Rev. Bras. Parasitol.Vet., v.13, suplemento 1, 2004
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