Veterinária Atuar em lugares diferentes e aprender uma coisa nova a cada dia Cerca de 25% da proteína animal consumida no mundo é produzida no Brasil, número que por si só mostra o campo de trabalho que se apresenta para o médico veterinário, que é presença obrigatória em toda a cadeia produtiva, desde a criação até a industrialização de alimentos de origem animal. “Precisamos respeitar a ética na criação de animais – esse é um grande desafio – e ter noção do impacto de sua saúde na produção de alimentos para consumo humano”, alerta o professor doutor Holmer Savastano Jr., diretor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos que, em 2009, abriu o curso de Medicina Veterinária no campus de Pirassununga/SP, o maior em área (1,3 mil hectares) da Universidade de São Paulo (USP). O trabalho no campo e a formação na Universidade Federal de Uberlândia/MG, onde seus professores já preconizavam a falta de alimentos no mundo antes que essa preocupação se disseminasse nos fóruns internacionais, foram dois dos fatores que levaram Eduardo Canassa Castro para a Veterinária. Desde o início da carreira atuou como consultor autônomo, prestando serviço em fazendas de leite, de bovinos de corte e granjas, o que o fez percorrer uma média mensal de seis mil quilômetros. Chegou a trabalhar em 17 fazendas ao mesmo tempo. Estudos e especializações levaram-no a buscar a excelência 207 em embriões e, também, a desenvolver experiências in vitro, voltadas para o aprimoramento dos plantéis. “É uma das profissões mais gratificantes, pois trabalhar no campo dá o privilégio de atuar em lugares diferentes e aprender uma coisa nova a cada dia. A evolução é constante”, diz. Há 27 anos na carreira, Canassa Castro atua hoje na reprodução de bovinos, buscando o melhoramento genético das raças e o aperfeiçoamento do processo produtivo, com a consciência de que escolher um mau reprodutor pode estragar todo o plantel, acarretando grandes prejuízos. “Temos o maior rebanho do mundo, mas não o maior desfrute”, fato que aponta como o maior desafio da pecuária de um país que é o maior exportador mundial de carne bovina e de frango, sendo detentor do maior rebanho de bovinos do planeta e um dos recordistas em produtividade e qualidade da suinocultura. Se, de um lado, seu trabalho colabora para minimizar o problema da fome – “direcionei a carreira para esse foco e tenho muita satisfação com isso, pois a fome é o grande desafio da humanidade” –, de outro, a contribuição da veterinária é fundamental para que o produtor nacional consiga atender aos cada vez mais rigorosos requisitos de sanidade animal impostos pelos países importadores. Nas universidades que têm seu próprio hospital, o estudante inicia o estágio logo nos primeiros anos da graduação. Ciência que se dedica à prevenção, ao controle e à erradicação de doenças animais, buscando assegurar a qualidade, a quantidade e a segurança dos alimentos que deles se originam, a Medicina Veterinária requer boa formação em ciências biológicas e agrárias. É preciso, principalmente, gostar da área de saúde, pois o ciclo inicial do curso tem disciplinas como Histologia, Embriologia e Bioclimatologia. O domínio de línguas, principalmente inglês e espanhol, é importante para acompanhar os estudos científicos e a internacionalização da economia. Com quase dez mil vagas oferecidas nas 13 faculdades do país, o curso dura cinco anos e o estágio é obrigatório, integrando a grade curricular. A profissão tem diversos ramos promissores, segundo a professora doutora Terezinha Knöbl, coordenadora do curso de Medicina Veterinária das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Destaque especial para a nutrição de aves e suínos, a fiscalização da defesa sanitária animal e a inspeção de produtos de origem animal, cuja procura deverá ser ampliada na próxima década. Marilisa Costa Petry, vice-presidente da Sociedade de Veterinária do Rio Grande do Sul, Estado que conta com 10,3 mil médicos veterinários, lembra que indústrias de alimentos, de rações e de suprimentos minerais precisam de bons profissionais, a exemplo de outros mercados, como o de pequenos animais (cães e gatos) e de tratamentos especializados, que abrangem radiologia, cirurgias de risco, quimiote208 Escolha Certa! As profissões do século 21 rapia e pesquisas, principalmente com células-tronco, que está em fase de crescimento. Há muitos anos a carreira está em alta, afirma Neimar Roncati, coordenador de Medicina Veterinária da Universidade Anhembi Morumbi. Além do prolongado ciclo de crescimento do setor agropecuário em geral, o número de animais de estimação domésticos cresce dia a dia. “Com o estresse da vida moderna, muitas pessoas buscam um companheiro ou amigo nos animais, o que aumenta a preocupação com o seu bem-estar e, consequentemente, a procura por médicos veterinários. O chamado mercado pet no Brasil ainda não atingiu metade do seu potencial.” Os profissionais atuam, ainda, em clínicas médicas e cirúrgicas, em hospitais e laboratórios clínicos veterinários, no planejamento e na administração de propriedades rurais, no controle de exploração dos animais silvestres, na docência, em institutos de pesquisa ou como consultores. Segmentos de exploração econômica relativamente novos, mas que estão em franco desenvolvimento, são a ovinocultura (criação de ovelhas) e a caprinocultura (criação de cabras). A profissão é regulamentada e seu exercício, tanto na iniciativa privada como em entidades do governo, exige inscrição em conselho estadual da categoria. Segmentos de exploração econômica relativamente novos, mas que estão em franco desenvolvimento, são a ovinocultura (criação de ovelhas) e a caprinoculturada (criação de cabras). Marilisa, por exemplo, desenvolveu a sua carreira de 32 anos na Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul, atuando no Serviço de Erradicação da Febre Aftosa, uma doença que condena rebanhos à extinção e impede a venda de animais criados em regiões de risco, além de prejudicar fortemente as exportações. Ela fez o curso numa época em que poucas mulheres queriam ser veterinárias, mas não teve dificuldade para se empregar e iniciar uma bem sucedida carreira. “É preciso buscar a qualificação, o curso é amplo e envolve muitas áreas do conhecimento”, aconselha. Por isso, o profissional não deve nunca se descuidar do aprendizado continuado, além de manter um olhar atento sobre as novidades, que surgem constantemente, em especial no mercado pet, caso, por exemplo, da acupuntura e da homeopatia veterinária, que vêm obtendo boa aceitação. 209