alimentos alternativos na alimentação de bovinos de corte Frente à nova ordem mundial e às grandes transformações econômicas sofridas pelo país, em que as margens de retorno econômico das atividades pecuárias se encontram cada vez mais restritas, a busca por maior eficiência produtiva se torna uma questão de sobrevivência. Os produtores de carne devem buscar formas de reduzir custos e/ou aumentar receitas, no intuito de obter resultados econômicos satisfatórios na atividade. Na pecuária de corte, particularmente, e especificamente no uso do confinamento como estratégia alimentar e gerencial para a fase de engorda dos animais, a alimentação é um dos fatores que mais onera a atividade e pode, normalmente, ultrapassar 70% do custo operacional total da atividade. Portanto, atenção especial deve ser dada ao manejo alimentar dos animais. A alimentação dos animais é constituída de uma fração volumosa, oferecida à vontade e outra concentrada, com oferta limitada, dependendo dos objetivos a serem alcançados em termos de desempenho animal, respeitando-se obviamente, a relação custo/benefício no momento de se determinar qual a participação do concentrado na ração total. O volumoso, na grande maioria das situações, é o ingrediente mais barato da ração total, devendo o seu uso ser sempre maximizado. A produção de volumosos deve ser buscada sempre se preocupando com altos índices de produtividade, associados a qualidade nutricional superior e, evidentemente, a custos reduzidos. Com a obtenção eficiente de volumosos, e seu uso maximizado, o produtor se torna menos dependente da utilização de concentrados, reconhecidamente mais caros. Já na fração concentrada da dieta, os grãos participam em níveis acima de 50% e são os ingredientes quem mais oneram a mistura concentrada, principalmente no Brasil, onde a relação preço do grão / preço da carne bovina é, na maioria das vezes, desvantajosa. Desta forma, alternativas devem ser buscadas à substituição dos ingredientes clássicos que entram na formulação dos concentrados, notadamente milho e soja, por ingredientes de menor custo, mas que não limitem o desempenho animal ou que limitem a um certo ponto, de forma que o balanço final entre o custo da alimentação e a receita gerada pelo ganho de peso do s animais seja positivo. Neste sentido, cabe ao produtor ficar atento para a disponibilidade de recursos alimentares alternativos, no sentido de adquiri-los no momento oportuno, afim de utilizá-los com o intuito de redução do custo da ração total. Entretanto, não é somente o preço que determinará o uso de determinado alimento alternativo, mas também questões quanto à qualidade nutricional, presença de princípios tóxicos ou antinutricionais, etc. Antes de mais nada, é necessário que se faça a análise química-bromatológica do alimento alternativo a ser utilizado, ou que pelo menos, se utilize de dados presentes em tabelas de composição de alimentos, permitindo o balanceamento da dieta , com um eficiente equilíbrio dos nutrientes. Posteriormente, é preciso que se conheça os efeitos sobre o desempenho animal, ocasionados pela substituição dos alimentos tradicionais por aqueles considerados alternativos, de forma a permitir sua adequada utilização. Em relação aos concentrados energéticos, ou seja, aqueles alimentos fornecidos como fonte de energia para os animais, destaca-se o milho, amplamente utilizado em todo o Brasil. Como fontes alternativas de substituição ao milho podem ser empregados alimentos alternativos, cuja disponibilidade depende de região para região. Dentre esses alimentos podemos citar o sorgo, a polpa cítrica, o farelo de trigo, a aveia, o farelo de arroz, subprodutos da mandioca, casca de café, casca de soja, o caroço de algodão e o grão de soja. De acordo com uma completa revisão da literatura nacional, acerca de resultados de trabalhos científicos que envolveram a substituição do milho por alimentos alternativos na dieta de bovinos de corte, as principais conclusões encontradas foram que alimentos como o grão de sorgo moído, a polpa cítrica, a casca de soja, o grão de aveia, o farelo de trigo e a raspa de mandioca integral podem substituir integralmente o milho em rações para bovinos de corte, sem que isso implique em prejuízo no desempenho dos animais. Outros alimentos, tais como a casca de café, o farelo de arroz, o caroço de algodão e o grão de soja devem ser utilizados de forma restrita, uma vez que apresentam características nutricionais que impedem o seu uso de forma mais ampla. O caroço de algodão, o farelo de arroz e o grão de soja são alimentos ricos em extrato etéreo (gordura) e devem ser utilizados de forma que o limite de 5% de extrato etéreo na dieta total, base da matéria seca, não seja excedido, o que prejudicaria as funções digestivas normais dos animais. Quanto aos alimentos protéicos têm-se disponível o farelo de soja, como também possíveis substitutos como o farelo de algodão e o próprio grão de soja integral. Em situações em que a análise econômica demonstre viabilidade, o farelo de algodão pode substituir grande parte do farelo de soja nas dietas, sem afetar o desempenho dos animais. É interessante lembrar também que fontes de nitrogênio não protéico, notadamente a uréia, também podem substituir parte do nitrogênio total da dieta (em torno de 33%), o que contribui para reduzir o custo das rações, visto que a fração protéica da dieta é a mais cara. Trabalhos recentes têm demonstrado que a inclusão de uréia na dieta de bovinos confinados pode ser adotada além das recomendações usuais, sem qualquer tipo de prejuízo aos animais. Em algumas situações pode substituir totalmente os farelos protéicos, mantendo o mesmo ganho de peso! Enfim, os bovinos são animais capazes de utilizar quase todo tipo de alimento, ficando a cargo do produtor, devidamente assessorado por um técnico nutricionista, determinar quais alimentos disponíveis poderão ser utilizados, qual o melhor momento para sua utilização e quais os níveis que cada alimento pode ser adotado no balanceamento da ração total. O emprego de alimentos alternativos sempre foi e sempre será uma forma eficiente de o produtor assegurar desempenho satisfatório dos seus animais a um custo mínimo. Marcos Lana Costa, Zootecnista, M.Sc. *Zootecnista, doutorando em Nutição de Ruminantes no Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa