CAP. 18 – A QUESTÃO AGRÁRIA E A SUSTENTABILIDADE PROF. CLÉSIO FARRAPO 1. AS ORIGENS DAS PROPRIEDADES RURAIS NO BRASIL Para implantar o cultivo de cana-de-açúcar em terras brasileiras, a Coroa portuguesa instituiu um sistema de doação de terras denominado sesmaria. Plantation Assim, é possível perceber que, logo no início da ocupaçāo colonial, duas formas de propriedade de terras foram instituídas: a grande propriedade rural, voltada para exportação do açúcar, do algodão, do cacau; e a pequena propriedade rural, estabelecida por agricultores que ocupavam os lotes de pior qualidade para tirar da terra o seu sustento. Em 1820 a Coroa portuguesa suprimiu o sistema de sesmarias e, durante cerca de 30 anos, as terras brasileiras ficaram sem nenhum tipo de lei para organizar a estrutura fundiária. Somente em 1850, 28 anos após a independência do Brasil, foi assinada a Lei de Terras, com o objetivo de regulamentar a propriedade rural do jovem pals. No entanto, o anseio por melhores condições de vida e pelo direito à terra para trabalhar foi crescendo cada vez mais no país, culminando na união dos trabalhadores em organizações sindicais. O maior exemplo desse período foram as Ligas Camponesas. Logo nos primeiros meses do regime militar, foi criada uma nova lei intitulada Estatuto da Terra, que orientava as ações dos órgãos governamentais para fomentar políticas de desenvolvimento agrícola e de reforma agrária. 2. A ESTRUTURA FUNDIÁRIA BRASILEIRA Como a posse da terra pelas famílias de agricultores de subsistência não era reconhecida oficialmente, a estrutura fundiária brasileira, desde a sua origem, privilegiou os latifundiários. Em 1822, o fim do regime de sesmarias criou condições para que as unidades familiares de subsistência pudessem ocupar regularmente a terra por meio da posse ― fato que, se tivesse se concretizado, teria alterado significativamente o modelo de ocupação do meio rural brasileiro. No entanto, os latifundiários — únicos representantes políticos — fizeram valer apenas os próprios interesses; com isso, a terra continuou a ser um privilégio das elites, e não um direito dos que trabalhavam nela. 3. REFORMA AGRÁRIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Entre as entidades e organizações que promovem a ocupação de terras, destacam-se: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), o Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf) e a Organizaçāo da Luta no Campo (OLC). A agroecologia reúne um conjunto de práticas agrícolas que visam a tirar proveito de processos naturais de fertilidade do solo e de controle biológico de pragas, buscando-se o equilíbrio entre as condições ambientais e a intervenção humana, além de um alimento mais saudável. CAP. 19 – OS FLUXOS E O SISTEMA DE TRANSPORTE PROF. CLÉSIO FARRAPO 1. REDES DE TRASNPORTE: RUGOSIDADES ESPACIAIS No Brasil, as rodovias dominam a matriz de transportes. O sistema rodoviário responde por 59% da matriz, em contraste com os 24% das ferrovias e os 17% das hidrovias e outros meios somados. A opção pelas rodovias, responsáveis pelos elevados custos de deslocamento que vigoram no país, foi realizada no contexto da acelerada industrialização que teve lugar em meados do século passado. No final do século XIX e início do século XX, porém, o modelo de transporte adotado no Brasil contemplava, basicamente, as necessidades da economia agroexportadora. Nesse período, o trem era o meio de transporte mais típico. Essas redes configuravam estruturas de Bacias de Drenagem Os planos de desenvolvimento de transportes visavam a integrar as ferrovias com as hidrovias, uma vez que os rios eram bastante utilizados para a circulação regional. Na década de 1930, esboçou-se uma nova diretriz na política nacional de transporte, que passou a privilegiar a construção de grandes rodovias. Washington Luís A opção rodoviária, realizada naquela época, é atualmente uma das maiores dificuldades logísticas do pais, pois teve como resultado um sistema de transporte caro e ineficiente, que traz impactos negativos tanto para a economia quanto para o meio ambiente. Embora no Brasil existam grandes extensões de rios navegáveis, o país não dispõe de um sistema hidroviário. O sistema ferroviário, praticamente abandonado nos últimos 80 anos, hoje apresenta enormes trechos desativados ou subaproveitados. 2. AS ESTRADAS DA GLOBALIZAÇÃO O predomínio das rodovias e a precária integração entre os diferentes modos de transporte geram elevados custos de deslocamento, que dificultam a chegada dos produtos brasileiros aos mercados externos. Por isso mesmo, uma parcela significativa do orçamento e das obras previstas no Plano de Aceleraçāo do Crescimento (PAC), anunciado em 2007, está voltada para o setor. Essas obras destinam-se a configurar uma nova estrutura em ‛‛bacia de drenagem‖ por meio de empreendimentos ferroviários e hidroviários. A perspectiva do Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLT), do Ministério dos Transportes, é alcançar em 2015 o equilíbrio entre os três sistemas, com a seguinte repartição: rodoviário, 33%; ferroviário, 32%; hidroviário, 29%. Alguns dos principais empreendimentos destinam-se a facilitar o escoamento da agropecuária modernizada no Centro-Oeste, na Amazônia meridional e no leste do Pará. O centro e o sul do Mato Grosso do Sul já estão conectados aos portos de Santos e Paranaguá por meio das ferrovias Noroeste do Brasil, Novoeste e Ferropar. Os trilhos da Ferronorte alcançaram a porção setentrional do Mato Grosso do Sul e, numa segunda etapa, devem atingir Cuiabá e Porto Velho. O ramal ferroviário Cuiabá—Santarém é um projeto de longo prazo, mas o trecho paraense da rodovia que liga essas duas cidades está sendo asfaltado. Os investimentos não estão ocorrendo apenas no ramo ferroviário. Desde 2007, o Departamento Nacional de infraestrutura e Transportes (DNIT) está preparando uma espécie de ―PAC das hidrovias‖ que prevê investimentos de até RS 18 bilhões nos próximos anos. A mais importante entre essas obras é a ampliação da Hidrovia Tietê—Paraná. Hidrovia do Tocantins. Hidrovia Teles-Pires-Tapajós. A integração intermodal A configuração de uma estrutura de ‛‛bacia de drenagem‖ capaz de contribuir para a inserção competitiva do país na economia globalizada depende da integração intermodal — ou seja, entre diferentes modos de transporte. Os portos marítimos e fluviais nos quais atracam embarcações de longo curso representam os elos principais entre o sistema nacional de transportes e o mercado mundial. Os custos portuários brasileiros chegaram a figurar entre os mais elevados do mundo, em razão da fraca mecanização das operações de embarque e desembarque e da intrincada burocracia administrativa. Faltam equipamentos para movimentar a carga, Há poucos estacionamentos para os caminhões E os armazéns são insuficientes. Os investimentos em infraestrutura de transportes estão gerando novos pólos de crescimento econômico e acendem disputas pela atração de investimentos. No Nordeste, dois novos e modernos portos foram empreendimentos prioritários dos governos estaduais na década de 1990: Suape, em Pernambuco, e Pecém, no Ceará O transporte intraurbano Nas cidades brasileiras com mais de 60 mil habitantes, por exemplo, a taxa de motorização passou de 171 veículos/mil habitantes em 2003 para 206 veículos/mil habitantes em 2007. Por isso, e apesar dos programas de reduçāo de poluente dos veículos, a quantidade de poluentes emitidos pelos habitantes dessas cidades apresentou aumento de 2,3% no período. Poluição atmosférica Poluição sonora Nas metrópoles brasileiras, carentes de adequados sistemas de transporte público, o automóvel tende a substituir os deslocamentos a pé ou em bicicletas. Desde a década de 1960, as estratégias voltadas para reduzir a crise do tráfego urbano concentraram-se na multiplicação das obras viárias: pistas expressas, vias elevadas, viadutos, túneis, anéis periféricos. Essas estratégias, extremamente caras, desfiguraram grande parte da paisagem urbana, ampliaram o espaço consumido pelas infraestruturas de circulação, deterioraram áreas residenciais, parques e praças e fracassaram: O aumento da oferta de vias de tráfego estimulou o crescimento, num ritmo ainda maior, da quantidade de veículos e das distâncias percorridas. A experiência do passado recente revelou que novas infraestruturas de circulação geram seus próprios congestionamentos. Assim, surgiram propostas para enfrentar o desafio do tráfego urbano que buscam combinar investimentos nos transportes de massa com restrições ativas à circulação de veículos particulares.