Brasil Negativado, Brasil Invertebrado: Legado de 2 governos do PT Reinaldo Gonçalves1 20 fevereiro 2013 Introdução O Brasil tornou-se ainda mais negativado e invertebrado durante os 2 governos do PT (Lula e Dilma). Esta é a tese central deste trabalho. A “negatividade” é informada por inúmeros indicadores de desempenho da economia brasileira que abarcam o país, o governo, as empresas e as famílias. O “invertebramento” envolve a estrutura econômica, o processo social, as relações políticas e os arranjos institucionais. Negatividade e invertebramento são determinantes do Brasil estruturalmente mais vulnerável e frágil. Na perspectiva do realismo crítico, a análise dos governos petistas exige apuro analítico e precisão empírica. Isto ocorre porque a partir de 2003 houve o aprofundamento de um modelo de desenvolvimento (Modelo Liberal Periférico – MLP) que coloca o país em trajetória de Desenvolvimento às Avessas. Esta trajetória é marcada, na dimensão econômica, por: fraco desempenho; crescente vulnerabilidade externa estrutural; transformações estruturais que fragilizam e implicam volta ao passado; e ausência de mudanças ou de reformas que sejam eixos estruturantes do desenvolvimento de longo prazo. Nas dimensões social, ética, institucional e política desta trajetória observa-se: invertebramento da sociedade; deterioração do ethos; degradação das instituições; e sistema político corrupto e clientelista. Na perspectiva crítica não basta destacar as incoerências e incompetências dos governos petistas na implementação do MLP e na execução de determinadas políticas. A análise do desempenho deve estar associada à crítica dos problemas estruturais. Mais especificamente, neste trabalho, na seção 1 demonstra-se empiricamente que houve a ampliação e o aprofundamento do Brasil Negativado. Na seção 2 analisa-se o Brasil Invertebrado. A última seção apresenta síntese dos principais resultados. 1 Professor titular de Economia Internacional da UFRJ. [email protected]. Portal: http://www.ie.ufrj.br/hpp/mostra.php?idprof=77. 1 1. Brasil Negativado A expressão “negativado” significa estar com sinal, carga, resultado ou potencial negativo. Isto é, precisamente, o que tem ocorrido com a economia brasileira durante os governos do PT. O Brasil Negativado envolve o país, o governo, as empresas e as famílias. Não há escassez de análises criteriosas sobre a realidade brasileira recente a partir da perspectiva do realismo crítico. Vejamos somente alguns indicadores.2 1.1 País Comecemos com a avaliação do crescimento da renda durante os governos do PT. A avaliação é conclusiva; fraco desempenho pelo padrão histórico brasileiro e pelo atual padrão internacional. Como mostra a Tabela 1, a taxa secular de crescimento médio real do PIB brasileiro no período republicano é 4,5% e a taxa mediana é 4,7%. No governo Lula a taxa obtida é 4,0% enquanto as estimativas e projeções do FMI para o governo Dilma informam taxa de 2,8%. O resultado é claramente negativo: no rank dos presidentes do país, Lula está na 19ª posição e Dilma está com desempenho ainda pior (24ª posição), em um conjunto de 30 presidentes com mandatos superiores a um ano. Tabela 1 Variação % real do PIB segundo o mandato presidencial, média anual, 1890-2014 Variação real do PIB 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Garrastazu Médici Deodoro da Fonseca Café Filho Jânio Quadros Juscelino Kubitschek Costa e Silva Eurico Dutra Epitácio Pessoa Ernesto Geisel Nilo Peçanha Getúlio Vargas II Washington Luís Itamar Franco Rodrigues Alves Prudente de Morais Média 11,9 10,1 8,8 8,6 8,1 7,8 7,6 7,5 6,7 6,4 6,2 5,1 5,0 4,7 4,5 4,5 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 José Sarney Getúlio Vargas I Castello Branco Lula Artur Bernardes João Goulart Hermes da Fonseca Campos Sales Dilma Rousseff Afonso Pena João Figueiredo Fernando Henrique Venceslau Brás Fernando Collor Floriano Peixoto Mediana Variação real do PIB 4,4 4,3 4,2 4,0 3,7 3,6 3,5 3,1 2,8 2,5 2,4 2,3 2,1 -1,3 -7,5 4,7 Fontes: Elaboração do autor. Notas: A média para o governo Dilma Rousseff baseia-se nas estimativas e projeções do FMI. 2 Ver a bibliografia. 2 O Brasil Negativado dos governos petistas também é evidente quando se observam os padrões atuais de desempenho da economia mundial. Na Tabela 2 constata-se que durante os governos petistas a taxa média anual de crescimento do PIB (novamente, considerando as estimativas e projeções do FMI para os 2 últimos anos do governo Dilma) é 3,6%. Ocorre que no período 2003-2014 a estimativa é que a economia mundial cresça à taxa média anual de 3,8%; no caso dos países em desenvolvimento esta taxa deverá ser de 6,4%. Portanto o Brasil Negativado é evidente quando se constata não somente estas diferenças como os 2 fatos seguintes: em 6 dos 12 anos do período 2003-14 a taxa de crescimento da economia brasileira é menor do que a taxa média mundial; e, em todos os anos a taxa de crescimento do PIB brasileiro é menor do que a média dos países em desenvolvimento. Em conseqüência, segundo as estimativas do FMI, a participação do Brasil no PIB (PPP) mundial deve cair de 2,89% em 2002 para 2,87% em 2014. Tabela 2 Variação do Produto Interno Bruto real, Brasil, Mundo e Países em desenvolvimento (%): 2003-2014 Brasil 1,1 5,7 3,2 4,0 6,1 5,2 -0,3 7,5 2,7 1,0 3,5 4,0 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Média 2003-14 3,6 Países em Mundo desenvolvimento 3,7 6,3 4,9 7,5 4,6 7,3 5,3 8,2 5,4 8,7 2,8 6,1 -0,6 2,7 5,1 7,4 3,9 6,3 3,2 5,1 3,5 5,5 4,1 5,9 3,8 6,4 Brasil - Países em Brasil - Mundo desenvolvimento -2,5 -5,1 0,8 -1,8 -1,4 -4,1 -1,3 -4,3 0,7 -2,7 2,4 -0,9 0,3 -3,0 2,4 0,1 -1,2 -3,6 -2,2 -4,1 0,0 -2,0 -0,1 -1,9 -0,2 -2,8 Fonte: FMI. Base de dados para 186 países. Elaboração do autor. Nota: Dados para 2012-2014 são estimativas e projeções do FMI. O Brasil Negativado também é evidente quando se compara o crescimento do PIB brasileiro durante os governos petistas com a média simples e a mediana das taxas de crescimento dos 186 países que são membros do FMI e que representam um painel muito representativo da economia mundial. Na Tabela 3 verifica-se, novamente, que a taxa média 3 durante dos governos Lula e Dilma (3,6%) é menor do que a média simples (4,6%) e a mediana (4,4%) das taxas de crescimento dos 186 países do painel. Ademais, a taxa de crescimento econômico brasileiro é menor do que a média simples e a mediana da economia mundial em 10 e 7 anos dos 12 anos, respectivamente. Ou seja, o Brasil está fortemente negativado quanto ao crescimento econômico pelos padrões internacionais no período 2003-14. O fraco desempenho da economia brasileira também é informado pela posição do Brasil no rank mundial segundo a taxa de variação do PIB, em ordem decrescente. A média e a mediana das posições do Brasil são 99 e 95, respectivamente. Considerando o painel do FMI (186 países), constata-se que mais da metade dos países tiveram melhor desempenho do que o Brasil no período dos governos petistas. Tabela 3 Variação do Produto Interno Bruto real, Brasil e Mundo (média simples e mediana) (%): 2003-2014 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Média 2003-14 Brasil 1,1 5,7 3,2 4,0 6,1 5,2 -0,3 7,5 2,7 1,0 3,5 4,0 Mundo (média simples) 4,8 5,9 5,6 6,1 6,2 4,8 0,1 4,5 3,9 4,2 4,7 4,3 Mundo (mediana) 4,6 5,2 5,3 5,5 6,0 5,0 1,2 4,2 4,2 3,9 3,9 4,0 3,6 4,6 4,4 Brasil - Mundo (média Brasil - Mundo (mediana) simples) -3,7 -3,4 -0,2 0,5 -2,4 -2,1 -2,1 -1,6 -0,1 0,1 0,3 0,2 -0,4 -1,5 3,0 3,3 -1,2 -1,5 -3,2 -2,9 -1,2 -0,4 -0,3 0,0 -1,0 -0,8 Posição do Brasil 153 73 129 128 89 76 100 35 114 132 85 78 99 Fonte: FMI. Base de dados para 186 países. Elaboração do autor. Notas: Dados para 2012-2014 são estimativas e projeções do FMI. A posição do Brasil corresponde à ordenação das taxas de crescimento para os países do painel, em ordem decrescente. O fraco desempenho do crescimento econômico da economia brasileira durante os governos petistas está diretamente associado às baixas taxas de investimento. O Brasil Negativado é evidente quando se constata que a taxa média de investimento do Brasil no período 2003-14 é 18,8% enquanto a média e a mediana mundial (painel do FMI) são 23,9% e 22,5%, respectivamente (Tabela 4). Vale destacar que estas diferenças são muito significativas – estamos frente à média mundial quase que 30% maior do que a taxa de 4 investimento na economia brasileira. E, ademais, em todos os anos de governo petista a taxa de investimento é menor do que a média e a mediana do mundo. De fato, a economia brasileira apresenta uma das mais baixas taxas de investimento do mundo. No painel de 170 países (ordem decrescente) o Brasil ocupa a 126ª posição, média para o período 2003-14.. Tabela 4 Taxa de investimento, Brasil, Mundo e Países em desenvolvimento (média simples e mediana) (% do PIB): 2003-2014 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Média 2003-14 Brasil 15,8 17,1 16,2 16,8 18,3 20,7 17,8 20,2 20,6 20,2 20,8 21,2 Mundo (média simples) 22,6 23,4 24,2 24,4 25,3 25,4 23,0 23,4 23,5 23,8 23,9 24,1 Mundo (mediana) 21,2 22,4 22,4 23,0 23,8 24,0 20,9 21,9 22,1 22,5 23,0 23,2 18,8 23,9 22,5 Brasil - Mundo (média Brasil - Mundo simples) (mediana) -6,9 -5,4 -6,2 -5,3 -8,0 -6,2 -7,6 -6,2 -7,0 -5,4 -4,7 -3,3 -5,2 -3,1 -3,2 -1,7 -2,9 -1,6 -3,6 -2,3 -3,2 -2,3 -2,9 -2,0 -5,1 Posição no rank mundial -3,7 145 141 154 152 144 123 127 105 107 108 106 105 126 Fonte: FMI. Base de dados para 186 países. Elaboração do autor. Nota: Dados para 2012-2014 são estimativas e projeções do FMI (painel 170 para os quais há dados para todos os anos). O Brasil Negativado também aparece em outro importante indicador de desempenho econômico – inflação. Durante os governos petistas a taxa média de inflação é 6,1% (preços ao consumidor) (Tabela 5). Esta taxa é ligeiramente maior do que a média das taxas de países do painel do FMI e muito maior do que a mediana das taxas destes países. A negatividade brasileira é informada pelo fato de que a taxa de inflação no Brasil é maior do que média mundial em 6 anos e maior do que a mediana mundial em 9 anos. 5 Tabela 5 Inflação - Custo de vida, Brasil, Mundo e Países em desenvolvimento (média simples e mediana): 2003-2014 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Média 200314 Bras il 14,7 6,6 6,9 4,2 3,6 5,7 4,9 5,0 6,6 5,2 4,9 4,8 Mundo (média simples) 6,2 5,5 6,0 6,0 6,1 10,2 4,7 4,6 6,9 6,1 5,1 4,5 Mundo (mediana) 3,2 3,6 4,0 4,4 4,8 8,9 3,1 3,6 5,0 4,5 4,2 3,8 Mundo (média simples) Brasil -8,5 -1,1 -0,9 1,8 2,5 4,5 -0,2 -0,4 0,3 0,9 0,2 -0,3 Mundo (mediana) Brasil -11,5 -3,0 -2,9 0,2 1,2 3,2 -1,7 -1,4 -1,7 -0,7 -0,7 -1,0 6,1 6,0 4,4 -0,1 -1,7 Fonte: FMI. Base de dados para 186 países. Elaboração do autor. Nota: Dados para 2012-2014 são estimativas e projeções do FMI. O país negativado também é revelado pelos dados das contas externas. O saldo da conta corrente do balanço de pagamentos sai do superávit de R$ 4 bilhões em 2003 para o déficit de US$ 24 bilhões em 2009 e cresce continuamente deste então (Tabela 6). Estimativas do FMI indicam que o déficit chegará a US$ 88 bilhões em 2014, último ano do governo Dilma. Na realidade, durante este governo o déficit também deverá crescer continuamente quando medido como proporção do PIB. Quando Lula toma posse a relação saldo das contas externas é 0,8% do PIB, quando Dilma sair esta relação chegará a -3,3% do PIB. Evidência conclusiva de país negativado durante os governos petistas. As comparações internacionais sugerem um quadro diferente quando se verifica que em todos os anos do período em questão a situação das contas externas do Brasil foi mais favorável (ou menos desfavorável) que aquela informada pela média e mediana do mundo. Entretanto, vale destacar que há evidente tendência de desaparecimento desta diferença a favor do Brasil visto desde a crise de 2008 esta diferença tem caído e deve se tornar nula em 2014. Portanto, pode-se argumentar que o governo Dilma deixará como legado a trajetória de negatividade de mais um indicador econômico. 6 Tabela 6 Balanço de pagamentos, saldo da conta corrente, Brasil e Mundo (média simples e mediana), (valor e % PIB): 2003-2014 Brasil – Mundo (média valor US$ Brasil (% PIB) simples) (% PIB) bilhões 4 0,8 -2,5 12 1,8 -2,3 14 1,6 -1,6 14 1,3 -0,6 2 0,1 -2,3 -28 -1,7 -4,1 -24 -1,5 -3,7 -47 -2,2 -3,3 -53 -2,1 -3,7 -79 -2,6 -4,2 -80 -2,8 -4,1 -88 -3,3 -4,0 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Média 200314 -29 -0,9 Mundo Brasil - Mundo (mediana) (% (média simples) PIB) (% PIB) -2,0 3,2 -2,2 4,0 -2,2 3,2 -2,7 1,8 -4,3 2,4 -5,7 2,4 -4,0 2,2 -3,2 1,1 -3,1 1,6 -3,5 1,6 -3,3 1,3 -3,4 0,6 -3,0 -3,3 2,1 Brasil - Mundo (mediana) (% PIB) 2,8 3,9 3,8 3,9 4,4 4,0 2,5 1,0 1,0 1,0 0,5 0,0 2,4 Fonte: FMI. Base de dados para 186 países. Elaboração do autor. Nota: Dados para 2012-2014 são estimativas e projeções do FMI. O Brasil Negativado é particularmente evidente quando se analisa o desequilíbrio de estoque – posição líquida de investimento internacional (ativo externo menos passivo externo) (Tabela 7). Este é, na realidade, um dos mais robustos indicadores de vulnerabilidade externa estrutural. Os dados disponíveis mostram a evidente deterioração da posição do Brasil no rank mundial. Em 2006 o Brasil estava “negativado” em US$ 365 bilhões, ou seja, o passivo externo era maior do que o ativo externo (cujo item principal é a reserva internacional administrada pelo Banco Central). Em 2011 o Brasil estava negativado em US$ 738 bilhões. De fato, o país passou da 6ª posição no ranking mundial para a 4ª posição dos mais vulneráveis financeiramente. Naturalmente, não é possível comparar o Brasil com os Estados Unidos – país com o maior déficit (US$ 4 trilhões), simplesmente porque este país é o epicentro dos sistemas financeiro e monetário internacional. O país na segunda pior posição é a Espanha que enfrenta profunda crise econômica. 7 Tabela 7 Posição líquida de investimento internacional, países selecionados (US$ bilhões): 2006-11 Estados Unidos Espanha Austrália Brasil Itália França Reino Unido México Turquia Indonésia Canadá Índia Irlanda Coréia do Sul Suécia África do Sul Áustria Argentina Luxemburgo Rússia Holanda Bélgica Arábia Saudita Cingapura China, P.R.: Hong Kong Suíça Alemanha China Japão 2006 -2.192 -854 -461 -365 -402 26 -757 -357 -206 -137 -39 -60 -12 -187 -50 -41 -70 21 59 -39 23 120 350 2007 -1.796 -1.211 -561 -536 -561 -41 -647 -370 -314 -169 -172 -75 -54 -230 -7 -68 -73 34 53 -151 -51 143 375 369 2008 -3.260 -1.201 -486 -279 -528 -346 -148 -322 -200 -148 -98 -86 -179 -58 -46 -10 -67 58 63 255 35 192 464 305 2009 -2.322 -1.415 -685 -596 -555 -255 -477 -336 -277 -214 -197 -126 -226 -105 -36 -37 -32 59 44 103 138 266 435 472 2010 -2.474 -1.245 -774 -882 -495 -203 -546 -409 -362 -291 -260 -203 -199 -138 -28 -68 -31 47 51 16 178 307 484 561 2011 -4.030 -1.264 -848 -738 -422 -411 -404 -389 -322 -319 -271 -206 -197 -85 -35 -25 -9 52 59 138 277 314 584 674 528 522 852 640 1.808 492 692 947 1.188 2.195 632 617 876 1.494 2.485 735 761 1.156 1.491 2.892 665 839 1.164 1.688 3.088 711 878 1.093 1.775 3.255 Fonte: FMI, Principal global indicators. 1.2 Governo Durante os governos petistas não é somente o país que está negativado, o governo também está. As contas do setor público mostram déficit nominal em todos os anos do período 2003-14. A taxa média neste período é -2,7%, maior do que a média (-1,2%) e a mediana (2,1%) no mundo (Tabela 8). Vale notar que os déficits públicos no mundo aumentaram significativamente a partir de 2008 em decorrência do uso das políticas fiscais expansionistas na estabilização macroeconômica. A negatividade das contas públicas é evidente quando se constata que em 8 anos o déficit público no Brasil é maior do que a média mundial e em 6 anos é maior do que a mediana mundial. 8 Tabela 8 Contas públicas, resultado nominal governo geral, Brasil e Mundo (média simples e mediana), (% PIB): 2003-2014 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Média 2003-14 Bras il -5,2 -2,7 -3,4 -3,5 -2,6 -1,3 -3,0 -2,7 -2,6 -2,1 -1,6 -2,0 Mundo (média simples) -2,3 -1,4 0,2 1,8 1,6 0,4 -3,9 -2,8 -1,8 -2,2 -1,9 -1,7 Mundo (mediana) -2,5 -1,6 -1,4 -0,5 -0,2 -1,0 -4,1 -3,5 -2,8 -2,9 -2,5 -2,1 Brasil - Mundo (média simples) -2,9 -1,3 -3,6 -5,3 -4,2 -1,7 0,9 0,1 -0,8 0,0 0,3 -0,3 Brasil - Mundo (mediana) -2,7 -1,1 -2,0 -3,0 -2,4 -0,3 1,1 0,8 0,2 0,8 0,9 0,1 -2,7 -1,2 -2,1 -1,6 -0,6 Fonte: FMI. Base de dados para 186 países. Elaboração do autor. Nota: Dados para 2012-2014 são estimativas e projeções do FMI. Em todos os anos dos governos petistas o país teve que fazer enorme esforço de controle de gastos para gerar superávit primário (3,2% do PIB, média no período 2003-14). Entretanto, isto não foi suficiente para compensar as elevadas despesas com o serviço da dívida pública (juros). Este fenômeno resulta, sem dúvida alguma, do fato de que a política macroeconômica dos governos petistas tem se caracterizado por taxas de juros reais extraordinariamente elevadas pelos padrões internacionais. O resultado é evidente: durante os governos petistas o serviço da dívida pública representa, em média, 6,0% do PIB (Tabela 9). Este coeficiente é 3,3 e 4,1 vezes maior que a média (-1,8%) e a mediana (-1,5%) mundiais. O país negativado é evidente quando se verifica que, em todos os anos do período em questão, a relação pagamento de juros / PIB do Brasil é maior do que a média e a mediana observadas no mundo. O fraco desempenho da economia brasileira também é informado pela posição do Brasil no rank mundial segundo a relação entre o serviço do pagamento de juros da dívida pública bruta e o PIB, em ordem decrescente. A média e a mediana das posições do Brasil são 5. Considerando o painel do FMI (dados completos disponíveis para 103 países), constata-se que o Brasil está no grupo dos 5 países que mais pagam juros (em termos relativos) sobre a dívida pública no período em questão. E, ademais, não houve mudança 9 significativa desta posição ao longo do período em análise (7ª posição em 2004 e previsão desta mesma posição em 2013-14). O fraco desempenho dos governos petistas na gestão macroeconômica é evidente quando se considera que a média anual do serviço da dívida pública é 6% do PIB, que corresponde a um terço da taxa de investimento média anual verificada no período em questão. Tabela 9 Contas públicas, serviço da dívida pública governo geral, Brasil e Mundo (média simples e mediana), (% PIB): 2003-2014 Brasil Mundo Mundo (média (mediana) simples) Brasil Brasil Mundo Mundo (média (mediana) simples) 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 -8,5 -6,6 -7,3 -6,8 -6,1 -5,4 -5,2 -5,2 -5,7 -4,9 -4,8 -5,1 -2,4 -2,2 -2,0 -1,7 -1,6 -1,6 -1,7 -1,6 -1,6 -1,7 -1,7 -1,7 -1,8 -1,6 -1,6 -1,4 -1,3 -1,1 -1,3 -1,4 -1,5 -1,6 -1,5 -1,6 -6,1 -4,4 -5,3 -5,1 -4,5 -3,8 -3,5 -3,6 -4,1 -3,2 -3,1 -3,4 -6,6 -5,0 -5,8 -5,4 -4,8 -4,3 -3,9 -3,8 -4,2 -3,3 -3,2 -3,5 Média 200314 -6,0 -1,8 -1,5 -4,2 -4,5 Relação entre o Relação serviço da entre o dívida serviço da pública dívida no Brasil pública e no no Brasil Mundo e no (média Mundo simples) (mediana) 3,5 4,6 2,9 4,2 3,7 4,7 4,0 5,0 3,8 4,7 3,5 4,8 3,0 4,1 3,2 3,7 3,5 3,7 2,9 3,1 2,8 3,1 3,0 3,3 3,3 Posição do Brasil 4 7 3 4 4 4 6 5 4 6 7 7 4,1 5 Fonte: FMI. Base de dados para 186 países. Elaboração do autor. Nota: Serviço a dívida corresponde à diferença entre o resultado nominal e o resultado primário. Dados para 2012-2014 são estimativas e projeções do FMI. Há dados completos para 103 países. A posição do Brasil corresponde à ordenação da relação entre o serviço do pagamento da dívida pública bruta e o PIB para os países do painel, em ordem decrescente. O país negativado aparece também no desequilíbrio de estoque relativo à dívida pública. Durante o governo petista houve queda da relação entre a dívida pública e o PIB (74,8% em 2003 e estimativa de 58,9% em 2014) (Tabela 10). Entretanto, a relação média de 66,0% é significativamente maior do que a média (55,6%) e a mediana (44,7%) dos países do painel do FMI. 10 O fraco desempenho comparativo dos governos petistas na gestão das contas públicas é evidente quando se considera que em todos os 12 anos de governos petistas a razão dívida pública/PIB brasileira é maior do que a média e a mediana mundiais. O fraco desempenho da economia brasileira também é informado pela posição do Brasil no rank mundial segundo a relação entre a dívida pública bruta e o PIB, em ordem decrescente. A média e a mediana das posições do Brasil são 45 e 46, respectivamente. Considerando o painel do FMI (163 países), constata-se que o Brasil está no primeiro terço dos países mais endividados no período em questão. E, ademais, não houve mudança significativa entre a posição no início e no final do período (51ª posição em 2004 e 2014). Tabela 10 Contas públicas, dívida pública bruta governo geral, Brasil e Mundo (média simples e mediana), (% PIB): 2003-2014 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Brasil 74,8 70,8 69,2 66,7 65,2 63,5 66,9 65,2 64,9 64,1 61,2 58,9 Mundo (média simples) 75,1 70,7 64,7 56,5 49,9 47,6 50,5 49,0 49,5 51,0 51,4 51,4 66,0 55,6 Média 2003-14 Mundo Brasil - Mundo (mediana) (média simples) 60,3 0,3 54,1 -0,1 50,0 -4,5 41,8 -10,1 38,0 -15,2 38,4 -16,0 41,6 -16,4 41,1 -16,2 41,9 -15,4 43,7 -13,1 43,3 -9,7 42,7 -7,5 44,7 -10,3 Brasil - Mundo (mediana) -14,5 -16,7 -19,2 -24,8 -27,2 -25,2 -25,3 -24,0 -23,0 -20,4 -17,9 -16,2 Posição do Brasil 53 51 53 44 40 40 37 41 46 44 48 51 -21,2 46 Fonte: FMI. Base de dados para 186 países. Elaboração do autor. Nota: Serviço a dívida corresponde à diferença entre o resultado nominal e o resultado primário. Dados para 2012-2014 são estimativas e projeções do FMI. Há dados completos para 163 países. A posição do Brasil corresponde à ordenação das relações dívida pública bruta/PIB dos países do painel em ordem decrescente. 1.3 Empresas O Brasil Negativado dos governos petistas abarca não somente o país e o governo, como também as empresas. Os dados do Banco Central são conclusivos: houve extraordinária expansão do crédito, principalmente, a partir de 2007. A valor total das operações de créditos das pessoas jurídicas aumentou 2,6 vezes, de R$ 223 bilhões em 2002 para R$ 594 bilhões em 2012 (valores constantes de 2012), o que representa crescimento média anual de 9,8%, ou seja, quase o triplo do crescimento da renda (Tabela 11). 11 O Brasil Negativado no setor empresarial é evidente quando se verifica que a inadimplência (atrasos superiores a 90 dias) cresceu 5,3 vezes (de R$ 7,8 bilhões em 2002 para R$ 41,7 bilhões em 2012) – taxa de 18,3% a.a. De fato, a taxa de inadimplência das empresas duplica visto que aumenta de 3,4% em 2002 para 6,9 em 2012. Há evidente tendência de aumento desta taxa. Durante os governos petistas as empresas tornam-se cada vez mais negativadas visto que a relação dívida das empresas / excedente operacional bruto aumenta de 26,0% em 2002 para 40,3% em 2012. Não é por outra razão que, considerando as elevadas taxas de juros cobradas no Brasil, há transferência de renda do excedente econômico do setor produtivo para o setor financeiro. Durante os governos petistas a relação entre os ativos totais do 50 maiores bancos e os ativos totais das 500 maiores empresas aumenta continuamente de 0,97 em 2004 para 1,78 em 2011. Na realidade, trata-se, aqui, do fenômeno da dominação financeira que é marcante durante dos governos petistas.3 Tabela 11 Empresas - dívida e inadimplência: 2003-2012 (valores constantes de 2012, R$ milhões; coeficientes em %) Taxa de Inadimplênci Dívida, índice Dívida Inadimplênc inadimplênci a, índice ia 2002 = 100) total a 2002 = 100 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 233.039 215.270 225.110 244.155 274.571 320.194 422.717 461.858 480.528 534.110 593.961 7.830 6.477 5.982 6.267 9.429 12.212 13.251 25.846 28.458 34.938 41.179 3,4 3,0 2,7 2,6 3,4 3,8 3,1 5,6 5,9 6,5 6,9 100 92 97 105 118 137 181 198 206 229 255 100 83 76 80 120 156 169 330 363 446 526 Dívida PJ / EOB 26,0 22,2 21,7 22,8 24,2 26,5 33,7 36,0 34,0 36,7 40,3 Ativos totais 50 maiores bancos / Ativos totais das 500 maiores empresas 0,99 1,05 0,97 1,09 1,17 1,35 1,45 1,75 1,74 1,78 - Fonte: BACEN e IBGE. Elaboração do autor. Notas: A taxa de inadimplência é a média dos atrasos acima de 90 dias sobre operações de crédito para pessoas jurídicas em 7 tipos de operações. Os sete tipos de operações de crédito para as quais o Banco Central informa dados sobre inadimplência são: operações com juros prefixados - conta garantida, operações com juros prefixados - desconto de duplicatas, operações com juros prefixados - capital de giro, operações com juros prefixados - aquisição de bens, operações com juros prefixados - vendor , operações com juros prefixados - hot money, e operações com juros prefixados - nota promissória. Dívida total das pessoas jurídicas é o saldo total das operações de crédito (média anual). Para o cálculo do valor constante (2012) o deflator usado é o IPCA. Inadimplência é a estimativa do valor total das operações de crédito para pessoas jurídicas com atraso de pagamento maior do que 90 dias. A estimativa do valor da inadimplência total é calculada 3 GONCALVES, Reinaldo. Dominação financeira. Rio de Janeiro: Corecon-RJ. Jornal dos Economistas, No. 277, pp. 12-13, agosto 2012. 12 aplicando a taxa média de inadimplência dos 7 tipos de operações sobre o valor total das operações de crédito (média anual) para pessoas jurídicas. EOB = Excedente operacional bruto (renda das empresas). IBGE, Contas Nacionais. 1.4 Famílias Durante os governos petistas o Brasil Negativado inclui não somente país, governo e empresas como também as famílias. É neste ponto onde se verifica a mais forte expressão do legado negativo dos governos petistas. A dívida das pessoas físicas aumentou de R$ 113 bilhões em 2002 para US$ 545 bilhões em 2012 (valores constantes de 2012). A dívida per capita (adultos), por seu turno, cresceu de R$ 1.026,00 em 2002 para R$ 3.457,00 em 2012; ou seja, 3,4 vezes maior (Tabela 12). O extraordinário aumento do endividamento é evidente: a razão dívida per capita / salário médio subiu de 5,1% em 2002 para 16,6% em 2012; e, neste mesmo período, a razão dívida total das pessoas físicas / renda total do trabalhador cresceu de 12,1% para 29,2%. No contexto de políticas dos governos petistas de políticas de juros altos (recorrentemente entre os mais elevados do mundo), o resultado não poderia ser outro: aumento extraordinário da inadimplência – número cada vez maior de pessoas negativadas! O valor total da inadimplência aumentou de R$ 8,5 bilhões em 2002 para R$ 33,9 bilhões em 2012; ou seja, quintuplicou em 10 anos de governos petistas. A inadimplência per capita (adultos) aumenta 3,3 vezes. Neste ponto vale destacar que o salário médio real nas regiões metropolitanas aumenta somente 10% no período 2002-12. Tabela 12 Dívida das pessoas físicas (PF) – indicadores: 2002-2012 (valor em R$ milhões, valor constante 2012; coeficientes em %) Dívida PF Dívida Dívida PF / Renda Atraso per per capita Dívida PF do total capita / Salário trabalhad (R$) médio or 2002 133.350 5,1 12,1 8.494 1.026 2003 133.921 5,4 11,7 8.409 1.011 2004 152.298 6,2 12,9 7.887 1.128 2005 196.720 7,8 15,7 9.002 1.429 2006 245.820 9,3 18,1 13.711 1.751 2007 289.624 10,5 19,8 15.301 2.023 2008 329.677 11,4 20,9 17.708 2.259 2009 359.687 11,9 21,9 21.444 2.417 2010 420.942 13,5 23,5 19.019 2.775 2011 498.172 15,2 27,0 24.007 3.221 33.881 2012 545.221 16,6 29,2 3.457 Inadimplê ncia per capita (R$) 65 63 58 65 98 107 121 144 125 155 215 Inadimplên cia per capita (índice 2002 = 100) 100 97 89 100 149 164 186 220 192 237 329 Taxa de inadimpl ência 6,4 6,3 5,2 4,6 5,6 5,3 5,4 6,0 4,5 4,8 6,2 Fontes: BACEN e IBGE. Elaboração do autor. Notas: O deflator é o IPCA. O per capita refere-se à população adulta. 13 Salário médio: Rendimento médio nominal habitual principal, média das regiões metropolitanas. IBGE, Pesquisa Mensal de Emprego. Renda do trabalhador é a soma dos salários e do rendimento misto bruto. Dados para 2009-2012 são estimativas que se baseiam na relação média constante entre estas remunerações e o PIB (média 2008-09 = 42,1%). IBGE, Contas Nacionais. Taxa de inadimplência: proporção percentual do valor das operações de crédito para pessoas físicas (PF) que têm atrasos superiores a 90 dias. Os dados do Banco Central mostram que a taxa média de inadimplência manteve-se relativamente estável (5,5%) ao longo de 10 anos. Entretanto, vale ressaltar que há aumento extraordinário do valor total da inadimplência (4 vezes em 2002-2012) (Tabela 13). Os maiores aumentos de inadimplência são em operações de crédito pessoal (inclusive, crédito consignado) e aquisição de veículos. Tabela 13 Inadimplência de pessoas físicas: 2002-12 (R$ milhões, constante 2012) Cheque Crédito especial pessoal 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 1.401 1.161 983 956 1.488 1.733 1.782 2.306 1.924 1.933 2.453 3.750 3.454 3.533 4.473 6.298 6.549 7.729 9.602 9.211 11.412 15.412 Aquisição de veículos Aquisição de outros bens Outras operações Total 1.376 1.498 1.393 1.201 2.468 3.045 3.805 5.043 4.480 6.559 10.491 671 904 847 1.131 1.559 1.810 1.974 1.605 1.072 1.218 1.265 1.295 1.392 1.132 1.241 1.899 2.164 2.417 2.887 2.333 2.885 4.260 8.494 8.409 7.887 9.002 13.711 15.301 17.708 21.444 19.019 24.007 33.881 Valor total, índice 2002 = 100 100 99 93 106 161 180 209 253 224 283 399 Fonte: BACEN. Elaboração do autor. Notas: Crédito pessoal inclui crédito consignado. “Outras operações” inclui: financiamento imobiliário, cartão de crédito (rotativo e parcelado), adiantamento a depositantes, renegociação de dívidas, desconto de cheques e de recebíveis. Cartão de crédito (rotativo e parcelado) e financiamento imobiliário responderam por 60% e 30%, respectivamente, do valor total de “Outras operações” em 2012. Para este tipo aplicou-se a mesma taxa média de inadimplência dos 4 tipos de operações para os quais o Banco Central divulga dados. No que se refere ao número de pessoas negativadas estimativas preliminares indicam que o número total aumenta 3 vezes, de 2,8 milhões em 2002 para 8,6 milhões em 2012 (Tabela 14).4 4 Naturalmente, há redundância nestas estimativas visto que a mesma pessoa pode estar inadimplente em diferentes tipos de operações de crédito. Não se pretende maior rigor com estas estimativas e, sim, destacar o aumento da gravidade do problema de endividamento das famílias durante os governos petistas. A convicção do autor é que os dados subestimam significativamente o número de pessoas efetivamente “negativadas”. 14 Tabela 14 Inadimplência de pessoas físicas - Estimativa do número de pessoas (em mil): 2002-12 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Cheque especial 467 387 328 319 496 578 594 769 641 644 818 Crédito pessoal 938 864 883 1.118 1.574 1.637 1.932 2.400 2.303 2.853 3.853 Aquisição de veículos 69 75 70 60 123 152 190 252 224 328 525 Aquisição de outros bens 671 904 847 1.131 1.559 1.810 1.974 1.605 1.072 1.218 1.265 Outras operações 648 696 566 620 950 1.082 1.209 1.444 1.167 1.442 2.130 Total 2.792 2.925 2.693 3.248 4.702 5.259 5.900 6.470 5.406 6.486 8.590 Número de pessoas inadimplent es, índice 2002 = 100 100 105 96 116 168 188 211 232 194 232 308 Fonte: BACEN. Elaboração do autor. Notas: A estimativa do número de pessoas inadimplentes supõe os seguintes valores médios das operações de crédito: cheque especial = R$ 3.000,00; crédito pessoal - R$ 4.000,00; aquisição de veículos = R$ 20.000,00; aquisição de outros bens = R$ 1.000,00; e, outras operações = R$ 2.000,00, em valores constantes de 2012, e iguais em todos anos do período. Vale notar que o salário médio real nas regiões metropolitanas aumentou somente 10% no período 2002-2012. Portanto, é razoável a hipótese de manutenção do nível médio de endividamento ao longo deste período. 2. Brasil Invertebrado Na análise do Brasil Invertebrado cabe fazer menção a 4 questões que são consideradas como “conquistas notáveis” dos governos petistas (em particular, do governo Lula): desempenho macroeconômico; acúmulo de reservas internacionais; distribuição de renda e desenvolvimento social; e mudanças estruturais na economia. 2.1 Desempenho macroeconômico Na seção anterior fica claro o fraco desempenho dos governos petistas em relação às questões-chave para a economia (crescimento, contas públicas, contas externas etc.). A questão do invertebramento da economia brasileira é ainda mais evidente quando se analisa o desempenho macroeconômico durante os governos petistas em perspectiva histórica. Para isto, cabe usar o Índice de Desempenho Macroeconômico segundo o mandato presidencial. O IDM de cada mandato é a média simples dos índices correspondentes a seis variáveis macroeconômicas: variação do PIB, hiato de crescimento, variação do investimento, inflação, razão dívida pública interna / PIB, e dívida externa / exportação (Filgueiras e Gonçalves, 2007, pp. 237-239) (Tabela 15). 15 De modo geral, pode-se afirmar que os governos com melhores resultados foram aqueles da Era Desenvolvimentista (1930-79). Os piores desempenhos marcam os governos das fases Crise, instabilidade e transição (1980-94) e Modelo Liberal Periférico (1995 em diante). Neste último, vale destacar o desempenho medíocre do governo FHC e o fraco desempenho do governo Lula. Ambos os governos têm indicadores-síntese abaixo da média e da mediana no conjunto de 29 governos. O governo FHC ocupa a 28ª posição (penúltima) e o governo Lula está na 22º posição. Portanto, pode-se afirmar que o desempenho econômico do Brasil foi medíocre no governo FHC e fraco no governo Lula. No que se refere ao governo Dilma, todos os indicadores apontam para resultado ainda pior do que o governo do Lula. Tabela 15 Índice de Desempenho Macroeconômico (IDM) segundo o mandato presidencial, 18902010 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Eurico Dutra Garrastazu Médici Epitácio Pessoa Café Filho Deodoro da Fonseca Getúlio Vargas II Juscelino Kubitschek Nilo Peçanha Costa e Silva Rodrigues Alves Washington Luís Afonso Pena Hermes da Fonseca Campos Sales Jânio Quadros IDM 76,9 74,9 73,9 71,3 71,3 70,6 69,3 69,1 68,6 67,5 64,4 62,6 62,5 62,3 61,4 Média 56,0 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Ernesto Geisel Prudente de Morais Artur Bernardes Getúlio Vargas I Castello Branco João Goulart Lula Itamar Franco Floriano Peixoto Venceslau Brás João Figueiredo José Sarney Fernando Henrique Fernando Collor IDM 60,5 59,1 58,9 57,7 56,6 55,5 50,4 48,6 47,5 45,4 45,2 43,7 39,6 32,2 Mediana 60,0 Fontes e notas: Mediana e média (geométrica) referem-se ao período republicano (1890-2010). O IDM de cada mandato é a média simples dos índices correspondentes a cada uma das seis variáveis macroeconômicas (variação do PIB, hiato de crescimento, variação do investimento, inflação, razão dívida pública interna / PIB e dívida externa / exportação. Para as fontes e detalhes metodológicos, ver Filgueiras e Gonçalves (2007), p. 237-239. 2.2 Reservas internacionais O acúmulo de reservas é visto como conquista dos governos petistas. Nada mais distante da realidade. O crescimento das reservas internacionais respondeu, em grande medida, à conjuntura de liquidez internacional e às pressões ocasionais do setor de agronegócio nos períodos de grande apreciação cambial. As estimativas sobre custo das reservas abordam dois lados da questão: custo cambial e custo fiscal. O primeiro decorre da 16 diferença entre a taxa média de retorno de ativos de estrangeiros no país e a taxa média de remuneração das reservas internacionais brasileiras. No período 2009-11 o custo cambial (média anual) estimado é US$ 5,7 bilhões, que representou 23% do superávit da balança comercial (Tabela 16). Tabela 16 Custos das reservas internacionais: 2009-11 Custo cambial (US$ milhões) Custo cambial / Superávit balança comercial de bens (%) Custo fiscal das reservas (R$ milhões) Custo fiscal / Resultado primário (%) Custo fiscal (% do PIB) 2009 2010 2011 Média 5.803 5.577 6.138 5.710 22,9 27,6 20,6 22,7 36.993 47.907 56.669 47.190 93,8 60,8 60,6 71,7 1,1 1,3 1,4 1,3 Fonte e nota: Elaboração do autor com base em dados do Banco Central e da Secretaria do Tesouro Nacional. O custo fiscal, por seu turno, resulta da diferença entre o custo médio da dívida pública mobiliária federal interna (DPMFi) e a taxa de remuneração das reservas internacionais. Dado o enorme diferencial entre o custo da DPMFi e a remuneração das reservas, o custo fiscal é muito elevado. O custo fiscal (média anual) estimado para o período 2009-11 é R$ 47 bilhões, que representou 72% do superávit primário do governo central e 1,3% do PIB. Portanto, tanto na ótica cambial como na fiscal, as reservas internacionais têm custos relativamente elevados para o país. Os custos das reservas internacionais atingem níveis ainda mais elevados no caso do empréstimo feito ao FMI em 2010. Estimativas indicam que custo fiscal médio anual é R$ 2 bilhões (aproximadamente US$ 1,1 bilhão à taxa média de R$/US$ 1,80). O custo cambial anual é US$ 398 milhões no caso em que o custo de oportunidade do empréstimo é a redução do passivo externo do país e US$ US$ 178 milhões no caso em que o custo de oportunidade é a aplicação em outros haveres externos. Os argumentos usados para se justificar estes custos não se sustentam. O argumento que o Brasil tem que pagar “pedágio para participar da festa do G-20” é inqualificável e o argumento que o país tem benefícios com o aumento do poder de voto no FMI é equivocado. As mudanças no esquema de poder de voto no FMI são marginais e claramente não afetam a correlação de forças e a estrutura de dominação no sistema internacional. É pura ilusão imaginar que os incrementos marginais de poder de voto aumentem a influência do país no FMI. 17 Por fim, o aumento dos recursos do FMI transforma-se em instrumento poderoso de pressão sobre os países em crise para ajustes externos focados nos pagamentos ao sistema financeiro, nas políticas de arrocho fiscal que criam graves problemas econômicos e sociais, e na promoção de agendas que podem aumentar fragilidades e vulnerabilidades dos países em crise. Se a opção é pela solidariedade internacional o melhor instrumento é a compra de títulos públicos dos países em situações de crise; alternativa esta que, ademais, tem o benefício de retorno financeiro positivo para o país. 2.3 Distribuição de renda e desenvolvimento social A melhora na distribuição de renda não é vigorosa ou sustentável em decorrência da própria natureza do modelo de desenvolvimento (MLP), que envolve trajetória de desempenho fraco e instável (Delgado, 2011). Esta visão foca, ainda, em dois argumentos. O primeiro é que os indicadores capturam fundamentalmente os rendimentos do trabalho e os benefícios da política social. A Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios, que serve de base para o cálculo dos indicadores de desigualdade, subestima os rendimentos do capital (juros, lucros e aluguéis). O segundo argumento é que a distribuição da riqueza, muito provavelmente, não se alterou tendo em vista a vigência de elevadas taxas de juros reais no governo Lula, o reduzido crescimento do salário médio real, a concentração de capital e a ausência de medidas que inibam práticas comerciais restritivas (abuso do poder econômico) das grandes empresas. Para ilustrar, há evidência de aumento da concentração da propriedade da terra no Brasil em decorrência da própria expansão do setor primário (Tabela 17). A participação da grande propriedade na área total dos imóveis rurais aumentou de 52% em 2003 para 56% em 2010. Também como exemplo de concentração de capital e de riqueza, conforme vimos acima, no início do século XXI o valor dos ativos totais dos 50 maiores bancos era igual aos ativos totais das 500 maiores empresas; em 2011 os ativos dos 50 maiores bancos eram 78% mais elevados do que os ativos das 500 maiores empresas. 18 Tabela 17 Distribuição da área dos imóveis rurais segundo o tamanho da propriedade (%) Categoria 2003 2010 9,4 8,2 Pequena Propriedade 17,8 15,6 Média Propriedade 21,2 20,0 Grande Propriedade 51,6 56,1 Minifúndio Fonte: TEIXEIRA, Gerson. Agravamento do quadro de concentração da terra no Brasil? Boletim DATALUTA, julho 2011. A base de dados do PNUD tem coeficientes de Gini para meados dos anos 1990 (111 países) e primeira década do século XXI (145 países). Entretanto, somente para 110 países há dados para os dois períodos. Considerando este painel de 110 países, apesar de haver queda da desigualdade na América Latina na primeira década do século XXI, os países da região continuam com os mais elevados indicadores de desigualdade de renda no mundo. Para ilustrar, em meados desta década 4 entre os 5 países com maior desigualdade estão na região (Colômbia, Bolívia, Honduras e Brasil), como mostra a Tabela 18. No conjunto dos 10 países mais desiguais há 8 países latino-americanos. O Brasil experimentou melhora marginal na sua posição no rank mundial dos países com maior grau de desigualdade entre meados da última década do século XX e meados da primeira década do século XXI. Em painel de 110 países o Brasil saiu da 4ª posição no rank mundial dos mais desiguais para a 5ª posição.5 5 Países como Haiti, Angola, Belize e Namíbia, que têm elevados coeficientes de Gini ainda mais elevados, não estão na base de dados do PNUD para meados dos anos 1990 embora estejam presentes na base de dados para meados da primeira década do século XXI. Esses e outros países foram excluídos para termos um painel (110 países) que permitisse a comparação ao longo do tempo. 19 Tabela 18 Mundo – Coeficientes de Gini em ordem decrescente (10 países com maior desigualdade de renda): meados dos anos 1990 e primeira década do século XXI Gini, meados anos 1990 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Suazilandia Nicarágua África do Sul Brasil Honduras Bolívia Paraguai Chile Colômbia Zimbábue 60,9 60,3 59,3 59,1 59,0 58,9 57,7 57,5 57,1 56,8 Gini, 2000-10 Colômbia África do Sul Bolívia Honduras Brasil Panamá Equador Guatemala Paraguai Lesoto 58,5 57,8 57,2 55,3 55,0 54,9 54,4 53,7 53,2 52,5 Fonte e nota: Conjunto de 110 países para os quais há dados para meados dos anos 1990 e primeira década do século XXI. No que se refere à questão social é importante destacar que o desenvolvimento é relacional, ou seja, o nível de cada país deve ser comparado com o do resto do mundo. Nesse sentido, os avanços que ocorrem no Brasil não implicam ganhos relativamente ao resto do mundo durante os governos petistas. Para ilustrar, tomemos o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do PNUD. De fato, ao longo do período 2000-11 o IDH do Brasil aumentou de 0,665 em 2000 para 0,718 em 2011 (Tabela 19). Entretanto, este mesmo fenômeno ocorre para a maioria dos países. Em conseqüência não há mudanças nas diferenças entre o IDH do Brasil e a média dos IDHs dos outros países. O mesmo ocorre em relação à mediana. Esta ausência de avanço relativo é informada também pela posição do Brasil no ran mundial, que se manteve praticamente estável (70ª posição) durante os governos petistas. Tabela 19 Diferenças entre o IDH do Brasil e do resto do mundo, anos selecionados: 2000-2011 Brasil Média Mediana Brasil - Mundo, média Brasil - Mundo, mediana Posição do Brasil no rank mundial 2000 0,665 0,615 0,643 0,050 0,022 71 2005 0,692 0,643 0,673 0,049 0,019 70 2006 0,695 0,649 0,681 0,046 0,014 72 2007 0,700 0,655 0,685 0,045 0,015 71 2008 0,705 0,660 0,691 0,045 0,014 71 2009 0,708 0,662 0,692 0,046 0,016 71 2010 0,715 0,666 0,697 0,049 0,018 70 2011 0,718 0,668 0,698 0,050 0,020 70 Fonte: PNUD. Elaboração do autor. Notas: Dados referem-se ao painel de 153 países para os quais há dados para todos os anos do período. 20 2.4 Mudanças estruturais na economia Durante os governos petistas a estrutura econômica brasileira iniciou ou aprofundou tendências que comprometem a capacidade de desenvolvimento do país no longo prazo. Estas tendências são: desindustrialização e dessubstituição de importações; reprimarização das exportações; maior dependência tecnológica; desnacionalização; perda de competitividade internacional; crescente vulnerabilidade externa estrutural; maior concentração de capital e política econômica marcada pela dominação financeira. Alguns indicadores mostram estas tendências (Tabela 20). Tabela 20 Desenvolvimento às Avessas – Indicadores selecionados: 2002-2010 (coeficientes em %) Questão estrutural Desindustrialização Dessubstituição de importações Reprimarização das exportações Dependência tecnológica Desnacionalização Competitividade internacional - perda Vulnerabilidade externa estrutural Concentração de capital Dominação financeira Indicador Razão entre o PIB da indústria de transformação e o PIB da agropecuária Coeficiente de penetração das importações na indústria de transformação Participação dos manufaturados no valor das exportações Razão entre a despesa com importação de tecnologia (bens e serviços) e os gastos com P&D Participação das empresas estrangeiras nas vendas das 500 maiores empresas (a) Razão entre o coeficiente de exportação e o coeficiente de importação da ind. transformação Passivo externo financeiro líquido (US$ bilhões) Participação das vendas das 10 maiores empresas nas vendas das 500 maiores Razão entre os ativos totais dos 50 maiores bancos e os ativos das 500 maiores empresas 2002 2010 3,2 2,7 11,0 16,4 56,8 45,6 2,4 3,7 47,8 48,5 1,00 0,90 222 635 19,9 25,4 0,99 1,74 Fontes: Gonçalves (2012). Notas: Dados são mediais móveis de 4 anos. (a) Exclusive Petrobrás, BR Distribuidora e Vale. O Nacional-desenvolvimentismo (ND) é o projeto político-ideológico de desenvolvimento econômico assentado no trinômio: industrialização substitutiva de importações, intervencionismo estatal e nacionalismo. A experiência brasileira no período 1930-79 (Era Desenvolvimentista) envolveu, principalmente, a formação de uma economia industrial moderna e o significativo crescimento da renda. Por outro lado, como legado dos governos petistas há o que se pode denominar Nacional-desenvolvimentismo às Avessas. É a trajetória do Brasil no início do século XXI que 21 se caracteriza, na dimensão econômica, por: fraco desempenho; crescente vulnerabilidade externa estrutural; transformações estruturais que fragilizam e implicam volta ao passado; e ausência de mudanças ou de reformas que sejam eixos estruturantes do desenvolvimento de longo prazo. Nas dimensões social, ética, institucional e política desta trajetória observase: invertebramento da sociedade; deterioração do ethos; degradação das instituições; e sistema político corrupto e clientelista. 3. Síntese A evidência é conclusiva: fraco desempenho da economia brasileira; números negativos das contas externas e das contas públicas; e, crescente endividamento das empresas e das famílias. O Brasil Negativado abarca o país, o governo, as empresas e as famílias. O desempenho dos governos petistas é fraco pelos padrões históricos brasileiros e pelos atuais padrões internacionais. Neste texto sequer tratamos da tragédia da saúde pública, da baixa qualidade da educação, da precariedade da infraestrutura social (habitação, transporte, saneamento), e da barbárie na segurança pública. Nos governos petistas, se houve, foram mudanças incipientes e marginais nestas áreas. Nos governos petistas as “conquistas notáveis” são ilusórias. O acúmulo de reservas é resultado do excesso de liquidez internacional e tem custos elevados para o país. O empréstimo do país ao FMI é puro desperdício de divisas. As políticas distributivas não atingem a estrutura de concentração de riqueza e não alteram a distribuição funcional da renda (salários versus juros, lucros e aluguéis). No que se refere ao desenvolvimento social, tomando o IDH como referência, constata-se a total ausência de ganhos do país relativamente ao resto do mundo. Na perspectiva do processo de desenvolvimento os governos petistas são responsáveis por mudanças estruturais que aprofundam o Modelo Liberal Periférico e geram o Desenvolvimento às Avessas. Esta trajetória é marcada, na dimensão econômica, por: fraco desempenho; crescente vulnerabilidade externa estrutural; transformações estruturais que fragilizam e implicam volta ao passado; e ausência de mudanças ou de reformas que sejam eixos estruturantes do desenvolvimento de longo prazo. Nas dimensões social, ética, institucional e política desta trajetória observa-se: invertebramento da sociedade; deterioração do ethos; degradação das instituições; e sistema político corrupto e clientelista. 22 O país encaminha-se para completar dois séculos de independência e a percepção generalizada é que o país tem um sistema político clientelista e corrupto. A sociedade, por seu turno, mostra-se invertebrada e anestesiada. Há a cooptação da grande maioria das organizações sociais, sindicais, estudantis e patronais. Grupos sociais não-organizados assim como movimentos sociais de maior envergadura são neutralizados por meio de políticas assistencialistas. Boa parte das organizações não-governamentais é composta por empresas prestadoras de serviços de quinta categoria ou biombos para lavagem de dinheiro. Instituições públicas e privadas mostram sinais evidentes de deterioração. Corporativismo e fragilidade institucional corrompem as bases da máquina administrativa do Estado e frustram o processo de modernização via renovação de quadros e investimento em equipamentos. Agentes de regulação, quando não são capturados pelos interesses particulares, tornam-se ineficazes frente à própria fragilidade institucional do sistema judiciário. A impunidade de corruptos e corruptores continua como a regra geral que tem poucas e surpreendentes exceções. Grandes grupos econômicos desempenham papel de atores protagônicos via abuso do poder econômico, corrupção e financiamento de campanhas eleitorais. É o Brasil Invertebrado! Nos últimos anos tem havido ampliação e aprofundamento do Brasil Negativado e do Brasil Invertebrado. Este é o legado dos governos Lula e Dilma. Bibliografia BOSCHETTI, Ivanete et al. Capitalismo em Crise. Política Social e Direitos. São Paulo: Editora Cortez, 2010. CACCIAMALI, Maria Cristina. Brasil. 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