1 Reabilitação cardíaca pós infarto agudo do miocárdio Post cardiac rehabilitation acute myocardial infarction Maiara Oliveira Alves1; Giulliano Gardenghi2 1. Maiara de Oliveira Alves, fisioterapeuta, Pós-graduanda em Fisioterapia Cardiopulmonar e Terapia Intensiva pelo CEAFI – Goiânia/GO. 2. GiullianoGardenghi, Fisioterapeuta, Doutor em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Coordenador científico do Centro de Estudos Avançados e Formação Integrada – CEAFI – Goiânia – GO; Coordenador científico do serviço de Fisioterapia do Hospital ENCORE – Aparecida de Goiânia – GO; Coordenador do Programa de Pós-graduação em Fisioterapia Hospitalar do Hospital e Maternidade São Cristóvão – São Paulo – SP. Trabalho desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Fisioterapia Cardiopulmonar e Terapia Intensiva pelo Centro de Estudos Avançados e Formação Integrada (CEAFI Pósgraduação), Goiânia/GO. Autor correspondente: Maiara Oliveira Alves. Rua Guache Quadra 24 Lote 25 Parque Residencial Isaura – Santa Helena de Goiás – Goiás, CEP: 75.920-000. Telefone: (64)99292-7240. Endereço eletrônico: [email protected] 2 RESUMO Introdução As cardiopatias representam 76% dos óbitos no mundo. Pelos números do Ministério da Saúde, as doenças cardiovasculares de origem arterosclerótica constituem a principal causa de morte e invalidez no Brasil, com destaque para o acidente vascular cerebral, doenças da aorta, a doença coronariana, designando a segunda maior causa de morte e o Infarto Agudo do Miocárdio(IAM), e dentre essas doenças crônicas, o IAM consiste na principal causa isolada de óbitos.ObjetivoContribuir junto a atuação dos profissionais que trabalham com pacientes cardiopatas, relacionados ao processo de recondicionamento cardiovascular e metabólico, discutir a atuação da fisioterapia na reabilitação do IAM. MétodosForam consultados estudos relacionados à reabilitação fisioterápica para cardiopatas pós infarto agudo do miocárdio, tendo como fonte de pesquisa: livro, monografia, dissertações de mestrado e periódicos: SCIELO,LILACS, MEDLINE e PUBMED. Sendo considerados o título e o resumo do artigo para seleção ampla de possíveis trabalhos de interesse. ResultadosA reabilitação cardíaca é o processo de desenvolvimento e manutenção do nível desejável de atividade física, social e psicológica após o início da doença coronária sintomática. A fisioterapia tem sido considerada componente fundamental na reabilitação de pacientes com doenças cardiovasculares com o intuito de melhorar o condicionamento cardiovascular e prevenir ocorrências tromboembólicas e posturas antálgicas. ConclusãoO trabalho do fisioterapeuta, na reabilitação cardíaca após o IAM tem por objetivo melhorar a aptidão cardiovascular, quando, por sua vez, estes exercícios forem praticados por um período prolongado e contínuo, proporcionando a recuperação do paciente com melhor qualidade de vida, diminuindo a eventualidade de novos IAM. Palavras-chave:Reabilitação cardíaca, fisioterapia, infarto agudo do miocárdio. ABSTRACT Introduction Heart diseases account for 76% of deaths worldwide. By figures from the Ministry of Health, cardiovascular disease of atherosclerotic origin are the main cause of death and disability in Brazil, especially stroke, aortic disease, coronary disease, designating the second leading cause of death and AMI and among these chronic diseases, AMI is the leading single cause of death. Objective Contribute with the work of professionals working with cardiac patients, related to cardiovascular and metabolic reconditioning process, discuss the role of physiotherapy in the rehabilitation of AMI. Methods studies were consulted related to physiotherapy rehabilitation for post acute myocardial infarction cardiac patients, with the database: book, monograph, master's dissertations and periodicals: SciELO, LILACS, MEDLINE and PubMed. It is considered the title and summary of the article for a wide selection of possible jobs of interest. Results The cardiac rehabilitation is the process of developing and maintaining the desired level of physical, psychological and social activity after the onset of symptomatic coronary disease. Physical therapy has been considered a key component in the rehabilitation of patients with cardiovascular diseases in order to improve cardiovascular fitness and prevent thromboembolic events and antalgic postures. Conclusion The work of physiotherapist, cardiac rehabilitation after AMI aims to improve cardiovascular fitness, while, in turn, these exercises are practiced for a long and continuous period, providing patient recovery with better quality of life, reducing the possibility new AMI. Keywords: Cardiac rehabilitation, physical therapy, acute myocardial infarction. 3 INTRODUÇÃO A intervenção total do fluxo sanguíneo coronariano, por período maior que 20 minutos consecutivos, determina a necrose irreversível das células miocárdicas ou infarto agudo do miocárdio (IAM). Segundo a literatura especializada que discorre do assunto, quando a luz da artéria coronária é ocluída em aproximadamente 70% do seu diâmetro normal, a isquemia localizada resulta em IAM1. Portanto, a isquemia prolongada, decorrente da oclusão completa da artéria coronária ou uma oclusão quase total combinada com vasoespasmo, trombo ou uma baixa demanda de oxigênio miocárdio durante período prolongado, resultará em Infarto Agudo do Miocárdio (IAM)2. A cardiopatia pode evoluir em função da manifestação de sinais e sintomas e por fatores de risco como história familiar de doença coronariana, angina, hipertensão arterial, insuficiência valvar, infarto agudo do miocárdio, tabagismo, estilo de vida sedentária, estresse, obesidade e diabetes melittus3. As cardiopatias representam 76% dos óbitos no mundo. Pelos números do Ministério da Saúde, as doenças cardiovasculares de origem arterosclerótica constituem a principal causa de morte e invalidez no Brasil, com destaque para o acidente vascular cerebral (AVC), doenças da aorta, a doença coronariana (DC),designando a segunda maior causa de morte e o IAM, e dentre essas doenças crônicas, o IAM consiste na principal causa isolada de óbitos4. De acordo com a Diretriz de Reabilitação Cardiopulmonar e Metabólica preconizada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia5,6, a Reabilitação Cardíaca (RC) se aplica por meio de quatro fases: a Fase I, que abrange o período de hospitalização; a Fase II, que se inicia após alta hospitalar e dura de três a seis meses; a Fase III, que tem duração de seis meses a um ano e a Fase IV, cuja duração é indefinida, por ter como objetivo manutenção da atividade física. A RC surgiu mundialmente com claros objetivos terapêuticos e profiláticos, na tentativa de reduzir a escalada vertiginosa das doenças cardiovasculares incapacitantes e limitantes da vida, no que diz respeito à funcionalidade, à sociabilidade, à produtividade e ao bem-estar emocional dos indivíduos. A RC é o processo de desenvolvimento e manutenção do nível desejável de atividade física, social e psicológica após o início da doença coronária sintomática. Lembrando que a DC se refere a uma doença multifatorial, deve ser abordada com terapêutica multidisciplinar2. A fisioterapia tem sido considerada um componente fundamental na reabilitação de pacientes com doenças cardiovasculares com o intuito de melhorar o condicionamento cardiovascular e prevenir ocorrências tromboembólicas e posturas antálgicas. Oferece maior 4 independência física e segurança para alta hospitalar e posterior recuperação das atividades de vida diária7. O artigo em análise, refere-se a uma revisão, que tem por objetivo descrever parte da literatura disponível sobre o tema proposto, a fim de contribuir junto a atuação dos profissionais que trabalham com pacientes cardiopatas, relacionados ao processo de recondicionamento cardiovascular e metabólico, discutir a atuação da fisioterapia na reabilitação do IAM. MÉTODOS Após a definição do tema foi realizada revisão bibliográficacom dados virtuais relacionados à reabilitação fisioterápica para cardiopatas pós infarto agudo do miocárdio, tendo como fonte de pesquisa: livro, monografia, dissertações de mestrado, periódicos nacionais através das bases de dados: SCIELO (ScientifcEletrinic Library Online),LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde), MEDLINE (National Library of Medicine) e PUBMED (Publicações Médicas). Sendo considerados o título e o resumo do artigo para seleção ampla de possíveis trabalhos de interesse. Em seguida, efetuou-se a leitura seletiva, a qual permitiu determinar qual material bibliográfico, realmente, seria de interesse desta pesquisa. A pesquisa realizada verificou 96 publicações potencialmente relevantes, das quais restaram 24 que preencheram todos os critérios do rigor científico estabelecidos pelos autores. Os estudos selecionados estavam entre os anos de 2004 a 2016, tendo como palavras-chave: reabilitação cardíaca, fisioterapia e cardiopatias. Os critérios de inclusão foram: artigos relacionados a reabilitação cardíaca e a relação da fisioterapia no tratamento de pacientes cardiopatas, de 2004 a 2015 para elaboração do trabalho. Foram excluídos artigos anteriores ao período descrito acima, e também artigos que não citassem a fisioterapia em sua análise. RESULTADOS Serão destacados, a seguir, dos trabalhos selecionados, os estudos que obtiveram maior relevância, conforme a tabela. TABELA 1. Sumário dos estudos e seus principais resultados AUTORES OBJETIVO TIPO DO ESTUDO CONCLUSÃO 5 Gardenghi; Dias18 2007 Discutir as repercussões físicas dos diversos tipos de exercício em indivíduos participantes de programas de reabilitação cardiovascular. Revisão de literatura Santos Filho3 2010 O estudo objetivou fazer um estudo quantificativo das publicações existentes na PubMed, correlacionadas com o tema de reabilitação cardíaca e os exercícios utilizados para o tratamento dos pacientes de doença cardiovascular. Revisão de literatura Berry; Cunha4 2010 Os autores avaliaram os efeitos metabólicos, hemodinâmicos e bioquímicos dos pacientes obtidos através do programa de reabilitação cardíaca após infarto do miocárdio. Estudo observacional Barbosa et al24 2011 Avaliação da qualidade de vida em pacientes com DAC, através de semisupervisão num programa de reabilitação. Estudo quantitativo descritivo Lima et al12 2011 Identificação da percepção quanto aos serviços de fisioterapia prestados aos pacientes cardíacos em um hospital, com a detecção das ações prioritárias e dos planos de melhoria na qualidade do atendimento Estudo descritivo transversal e quantitativo A prática de exercícios físicos em pacientes portadores de cardiopatias pode comprometer a sobrevida dessa população, servindo além de um meio de proteção contra a ocorrência de doenças cardiovasculares, mas também contra a ocorrência de quaisquer doenças. Os resultados demonstraram a preocupação dos estudiosos quanto à sintomatologia e sinais de doenças cardíacas. Bem como, demonstrou a relevância da prática de exercícios aeróbicos como forma de reabilitação. Evidenciando a necessidade de maiores discussões dos profissionais de fisioterapia utilizada na reabilitação cardiovascular. Para demonstração de resultados, os autores contaram com a participação de 37 pessoas, 27 homens e 10 mulheres, com idades entre 20 e 80 anos. Os resultados do estudo demonstram que há melhora na capacidade funcional do paciente, aumentando-se a eficiência do seu sistema cardiorrespiratório e também o perfil bioquímico após o IAM. As principais conclusões desse estudo, que teve a participação de 10 pacientes cororiopatas, são que os pacientes participantes obtiveram redução da circunferência abdominal, no entanto, os resultados quanto ao Índice de Massa Corporal, Pressão Arterial Sistêmica eDiastólica não houve alterações relevantes. O estudo demonstrou que a melhora na qualidade de vida dos pacientes, reflete na saúde funcional, mental e na vitalidade, representando que a avaliação semi supervisionada é extremante seguro e relevante aos coronariopatas. O estudo foi coordenado com a participação de 30 pacientes do Sistema Único de Saúde, sendo 12 homens e 18 mulheres, com idade média de 49 anos. Os resultados demonstraram que os pacientes tem uma percepção positiva do trabalho dos profissionais, porém alguns dados avaliam que nem sempre há orientação quanto à necessidade da fisioterapia pós-cirúrgica. A visão geral dos pacientes quanto ao atendimento é boa com índice que chega à 56%. Os autores sugerem no estudo que sejam feitas medidas 6 Muela; Bassan11; Serra 2011 Avaliação de benefícios clínicos e funcionais de um Programa de Reabilitação Cardíaca em pacientes num Centro de Cardiologia. Estudo retrospectivo com comparativo Santos et al. 2012 Avaliar as respostas autonômicas e hemodinâmicas de pacientes pósIAM submetidos ao primeiro dia de protocolo de Fisioterapia na fase I da reabilitação cardiovascular, (FTCV) fase I, bem como sua segurança. Pesquisa quantitativa Baldoino; Santos; Botelho17 2013 Discussão quanto os benefícios da RC com a utilização de exercícios aeróbicos na fase ambulatorial do paciente com IAM. Revisão sistemática da literatura Silva1 2013 Coletar e sintetizar informações sobre a RC com enfoque nos protocolos de exercícios e sua contribuição para a recuperação após IAM. Revisão de literatura Guimarães21 2015 Avaliação dos benefícios da reabilitação cardíaca, no potencial preventivo das doenças cardiovasculares. Revisão bibliográfica preventivas e educacionais no sentido de melhor atender os pacientes e relatam a necessidade de estudos com outras categorias de pacientes. Os autores utilizaram neste estudo 88 pacientes, sendo 60 homens e 28 mulheres, com idades variáveis entre 37 e 81 anos. O programa teve como intuito avaliar os pacientes antes e depois da Reabilitação Cardíaca. Os resultados demonstram melhoras nos parâmetros fisiológicos, hemodinâmicos e funcionais dos pacientes. Percebendo-se uma gradativa evolução no desempenho cardiovascular e metabólico pós exercício. O estudo contou com a colaboração de 51 pacientes, com média de idade de 55 anos. Os pacientes apresentaram resultados satisfatórios durante a pesquisa, pois segundo os pesquisadores houve alterações hemodinâmicas significativas sem qualquer intercorrência clínica. O que demostra a eficácia do exercício no pós IAM. Os resultados sistemáticos do estudo demonstram a eficácia e segurança dos exercícios aeróbicos. Relata-se ainda, a otimização da capacidade funcional do paciente. Os autores relatam que a associação do exercício com o protocolo correto de tratamento resulta em melhoria do quadro a curto e longo prazo. Destaca-se ainda, a necessidade da continuidade do programa, já que resulta em melhoria geral na qualidade de vida do paciente com a melhoria do condicionamento. O estudo demonstra a importância da prática do exercício físico no programa de RC. Evidencia a evolução do paciente após o IAM com a utilização de exercícios contra resistentes, que melhoram o desempenho e aumentam a flexibilidade. Os resultados do estudo demonstram os benefícios da atividade física aos pacientes cardiopatas. Os principais benefícios relatados pelo autor foram a melhoria da capacidade respiratória e musculoesquelética. Destacou se ainda a importância da atividade em associação com protocolos de reabilitação para tratamento dos cardiopatas. 7 DISCUSSÃO Os autores relatam que a reabilitação cardíaca é um tipo de programa que envolve toda uma equipe multidisciplinar. Sendo que estes profissionais são responsáveis pela reabilitação dos pacientes pós IAM. Essa equipe deve ser composta por médicos, fisioterapeuta, psicólogo, nutricionista, enfermeiro e educador físico5. Os exercícios físicos do paciente ficam à cargo do fisioterapeuta, sendo este um profissional capacitado para estabelecer os protocolos adequados à RC. Os estudos relatam que a RC é responsável pelo melhoramento na capacidade funcional do paciente, favorecendo melhores hábitos e consequentemente propiciando uma melhor qualidade de vida8. A RC propicia a redução da frequência cardíaca em repouso, da Pressão Arterial Sistólica (PAS) e do fluxo sanguíneo coronariano9, além de contribuir com a melhoria das taxas de mortalidade e ocorrências de eventos coronarianos, como a revascularização miocárdica e reinfarto2, resultando em melhor qualidade de vida ao paciente11. Ao ser elaborado um programa de RC, devem-se considerar a terapêutica adotada para o paciente, medidas preventivas, sintomas, condições psicológicas e sociais, além da orientação educacional para a modificação de hábitos de vida2,9,10. A prevenção secundária tem vital importância na reabilitação, incluindo a correção dos fatores de risco, tais como hiperlipidemia, tabagismo, hipertensão arterial, obesidade, resistência à ação da insulina e vida sedentária2,11,12. A aplicação precoce de exercícios à beira do leito, seja passiva ou ativa, combate e evita as complicações da imobilização prolongada, como redução da capacidade funcional, redução da volemia, redução do rendimento cardíaco, alteração dos reflexos cardíacos, predisposição ao tromboembolismo pulmonar, redução da massa muscular, principalmente das fibras tipo I, e aumento da depressão e ansiedade1,2,13. Estudos sobre a Avaliação dos Efeitos da Reabilitação Cardíaca em Pacientes PósInfarto do Miocárdio4, apontam que a implantação de programas de RC na abordagem de pacientes com diagnóstico de infarto agudo do miocárdio está bem estabelecida em vários trabalhos científicos4,14,15, assim como sua influência positiva sobre a redução da mortalidade. Por tudo isso, pode-se descrever os objetivos gerais da reabilitação cardíaca como sendo: restaurar a capacidade funcional, social e laborativa em pacientes com DC; prevenir ou reverter o processo aterosclerótico por meio de mudança de hábitos de vida e combate aos 8 fatores de risco; reduzir a morbimortalidade e aumentar o limiar de angina de peito, aumentandoa qualidade de vida2,16. Diversos trabalhos demonstram a importância da inserção dos pacientes pósIAM em programas de RC visando à prevenção dos fatores de risco e a promoção de benefícios advindos da prática de exercício físico. Sabe-se que o sedentarismo é responsável direto pelo baixo condicionamento físico traduzido pela redução no consumo de oxigênio (VO2) de pico, além da redução nos níveis de HDL-colesterol (colesterol bom), elevados níveis de triglicérides, aumento do peso corporal e diminuição da autoestima. Esses fatores de risco, entretanto, são facilmente revertidos ou controlados pela prática regular de exercício físico, sendo este fundamental para aumentar a capacidade da função cardiovascular e diminuir a demanda de oxigênio do miocárdio após o IAM. Verificaram-se níveis de VO2 pico extremamente abaixo do normal em um estudo com 2.896 indivíduos cardiopatas, ressaltando a importância da RCA para a melhora da função física e prognóstica a longo prazo17. A ação mais benéfica do treinamento físico é a melhora da capacidade funcional, geralmente acompanhada pelo aumento do consumo máximo de oxigênio (VO2máx). Sabe-se que o VO2máx apresenta duas limitações para o seu aumento: a limitação central, determinada pela oferta de oxigênio (oferta O2 = DC X D(a-v)O2) que é o produto do débito cardíaco pelo conteúdo arterial de oxigênio, e a limitação periférica, determinada pela diferença arteriovenosa de oxigênio (D(a-v)O2). A oferta de oxigênio dos tecidos é garantida pela fisiologia pulmonar (hematose) e pela capacidade do sistema cardiovascular de conduzir o sangue oxigenado aos tecidos e reconduzir o sangue venoso aos pulmões. A diferença arteriovenosa de oxigênio demonstra a capacidade do sistema muscular em extrair oxigênio do sangue arterial. Portanto, uma integração saudável entre os sistemas cardiovascular, respiratório e musculoesquelético garante, durante o treinamento, ganhos maiores de capacidade aeróbica e maior tolerância às atividades físicas 2,15,16. O exercício aeróbico é uma modalidade frequentemente utilizada como protocolo da RC, sendo de fundamental importância à realização deste para minimizar ou reverter às consequências advindas do IAM. Num estudo sobre ‘Efeito do treinamento físico aeróbico em coronariopatas submetidos a um programa de RC’19, os autores demonstraram que a melhora da capacidade física consequente ao aumento do VO2 de pico, devido a um melhor desempenho cardiovascular. Utilizando-se do exercício aeróbio de moderada intensidade durante um período mínimo de 12 semanas com duração de 20-30 minutos e 5 minutos de aquecimento e desaquecimento como intervenção integrando 63 pacientes na amostra18. Exercícios aeróbicos também foram englobados no estudo sobre ‘O treinamento físico 9 melhora a função autonômica após o infarto agudo do miocárdio: um estudo controlado’20, onde os autores afirmam que houve significativa melhora nos parâmetros hemodinâmicos em repouso, entre eles, a capacidade cardiorrespiratória incluindo 38 portadores de IAM durante 8 semanas com duração de 35 minutos, além de 10 minutos de aquecimento e 10 minutos de desaquecimento. Os resultados do estudo referente a avaliação dos efeitos da reabilitação cardíaca em pacientes pós IAM4 corroboram com os achados do estudo referente Efeito do treinamento físico aeróbico em coronariopatas submetidos a um programa de Reabilitação Cardiovascular19, onde os autores submeteram 37 pacientes a exercícios aeróbios por 10 meses, com frequência de três vezes na semana e duração de 20-40 minutos a sessão. Os resultados desse estudo demonstram a melhora da capacidade funcional com aumento significativo do VO2 de pico, traduzindo-se em maior capacidade de suportar esforços prolongados. Os resultados apontam ainda para a redução do colesterol total, LDL-colesterol, níveis séricos da glicose e aumento do HDL-colesterol4,19. A adaptação fisiológica do sistema nervoso autônomo frente à realização de exercício se traduz pela diminuição das catecolaminas sanguíneas e urinárias em repouso e durante o treinamento submáximo. Isso ocorre provavelmente pela diminuição dotônus simpático e elevação do tônus parassimpático, acarretando redução da frequência cardíaca (FC) e da PAS. A maior estabilidade elétrica do miocárdio devido à redução das catecolaminas em repouso e em exercício submáximos e ao aumento do tônus vagal favorece a melhor modulação autonômica do coração e permite o aumento do limiar de fibrilação ventricular2,15,16. Ao associar o fato de que a FC é reduzida como efeito adaptativo ao exercício e de que a circulação coroniana ocorre no período da diástole, conclui-se que o treinamento físico tende a promover um aumento do tempo de diástole ventricular e, consequentemente um aumento do fluxo sanguíneo coronariano2, 21. Quando ocorrem obstruções ao fluxo sanguíneo normal, novos vasos podem ser formados ou resgatados, de maneira que o sangue percorra caminhos alternativos, já que os caminhos normais estarão bloqueados. Esse fato é conhecido como o desenvolvimento de circulação colateral, e pode permitir que o coração sofra menos após a obstrução coronariana que conduz ao IAM. No entanto, sabe-se, atualmente, que, na maioria dos casos, não ocorre aumento da circulação colateral, e que a melhoria da isquemia, é devido principalmente, ao menor consumo de oxigênio pelo miocárdio2,15. 10 A periodicidade na realização de exercícios combate vários fatores de risco, tais como o sedentarismo, a taxa elevada de gorduras sanguíneas, a ansiedade e a depressão, por liberação de endorfinas2,22. Até pouco tempo, aceitavam-se quatro fases da reabilitação pós IAM: fase I (período intra-hospitalar), fase II (após a alta hospitalar), fase III (período de condicionamento ou de progressão da intensidade dos exercícios) e fase IV (período de manutenção do condicionamento físico adquirido na fase III). Atualmente, devido a novos conceitos de estratificação de risco e manejo, a RC composta vem sendo denominada fase hospitalar e fase ambulatorial. A fase hospitalar é a fase I, fase aguda, período compreendido desde o início do evento coronário até a alta hospitalar. A fase ambulatorial corresponde à reabilitação após a alta hospitalar, envolvendo a fase II (até dois ou três meses depois do evento coronário) e a fase III (após o terceiro mês) visando ao aprimoramento máximo possível do condicionamento físico e manutenção do mesmo, e por último, a fase IV (não supervisionada)2,23,24. A fase I inicia-se após o paciente ter sido considerado estável clinicamente, como decorrência da otimização do tratamento clínico e/ou utilização de procedimento intervencionista5. Na fase hospitalar, o tratamento fisioterapêutico consiste na utilização de exercícios metabólicos, visando o aumento da circulação sanguínea, eliminação das obstruções com os exercícios respiratórios e a manutenção de pulmões limpos. Os profissionais ainda desenvolvem exercícios para manter a amplitude de movimento, elasticidade dos músculos, treino para redução dos efeitos do repouso prolongado, entre outras estratégias para a melhoria da qualidade de vida do paciente. Todas essas mudanças refletem na autoconfiança do paciente e propicia a redução dos custos e permanência hospitalar7,23. A tabela 2 ilustra a evolução nessa fase que tem como objetivo consumo calórico máximo de 2 METs; a progressão da intensidade de esforço é feita seguindo o programa de STEPs, no qual cada STEP equivale a um grupo de exercícios protocolados em relação ao tipo, intensidade e repetição2. Normalmente, esse tipo de exercício é orientado por fisioterapeutas. Vale ressaltar que, além da orientação ao exercício, cabe aos profissionais envolvidos nessa fase do processo de reabilitação, a orientação quanto aos fatores de risco cardiovascular e também quanto às mudanças no estilo de vida. Pacientes que respondam de maneira favorável a essa primeira fase dos programas de reabilitação devem ter sua intensidade de exercício aumentada, sempre levando em consideração a individualização da prescrição da atividade física2,18. 11 TABELA 2.Programa de STEPEs na Fase I STEP 1 - Consumo Calórico = 2 METs Paciente deitado Exercícios respiratórios diafragmáticos Exercícios ativos de extremidades Exercícios ativo-assistidos de cintura, cotovelos e joelhos STEP 2 - Consumo Calórico = 2 METs Paciente sentado Exercícios respiratórios diafragmáticos, associados aos exercícios de MMSS (movimentos diagonais) Exercícios de cintura escapular Exercícios ativos de extremidades Paciente deitado Exercícios ativos de joelhos e coxofemoral Dissociação de tronco/coxofemoral STEP 3 - Consumo Calórico = 3 a 4 METs Exercícios ativos de MMSS (movimentos diagonais e circundução) Alongamento ativo de MMII (quadríceps, adutores, tríceps sural) Deambulação: 35m STEP 4 - Consumo Calórico = 3 a 4 METs Paciente em pé Alongamento Ativo de MMSS e MMII Exercícios ativos de MMSS (movimentos diagonais e circundução) Exercícios ativos de MMII (flexo-extenção e abdução/adução) Deambulação: 50m - 25m lentos/ 25m rápidos Ensinar contagem de FC (pulso) STEP 5 - Consumo Calórico = 3 a 4 METs Paciente em Pé Alongamento Ativo de MMSS e MMII Exercícios ativos de MMSS (dissociados) Exercícios ativos de MMII (flexo-extenção e abdução/adução) Rotação de Tronco e pescoço Marcar passo com elevação de joelho Deambulação: 100m (checar pulso inicial e final) STEP 6 - Consumo Calórico = 3 a 4 METs Paciente em Pé Alongamento Ativo de MMSS e MMII Exercícios ativos de MMSS e MMII (dissociados), associados à caminhada Descer escadas lentamente e retornar de elevador (um andar) Deambulação: 165m (medir pulso inicial e final) Instruções para continuidade dos exercícios em casa STEP 7 - Consumo Calórico = 3 a 4 METs Continuação do STEP 6 Descer e subir lentamente (um andar) Respostas inadequadas nessa fase, que demandam atenção da equipe multidisciplinar, são, por exemplo, angina, hipotensão durante a realização dos exercícios (queda de 15 mmHg da pressão arterial sistólica) e arritmias cardíacas. Sempre se devem levar em consideração 12 fatores como extensão do infarto e função ventricular esquerda, considerando sinais clínicos de insuficiência cardíaca18. Os estudos relatam que a fase II, que é primeira etapa hospitalar, tem início com a alta do paciente ou pós evento cardiovascular ou descompensaçao clínica. A duração é entre 3 e 6 meses, podendo ser prorrogada conforme o caso. Os exercícios desse programa são individualizados, com intensidade, duração, frequência, modalidade de treinamento e progressão próprios para cada paciente5. Objetivando a melhoria da função cardiovascular, a capacidade física de trabalho, endurance, flexibilidade, educar o paciente quanto à atividade física, modificação do estilo de vida, melhorar o perfil psicológico, preparar o paciente para o retorno de suas atividades24. A determinação da intensidade apropriada do exercício é baseada nos princípios da especificidade e da sobrecarga. O princípio da especificidade se refere às possíveis adaptações nos sistemas metabólico e fisiológico em função da demanda imposta. A carga de trabalho e os períodos de repouso entre as cargas podem ser selecionados de maneira que o treinamento seja direcionado para: a) fortalecimento muscular sem aumento significante no consumo de oxigênio total (exercícios resistidos isométricos); b) predominância de processos aeróbicos sem mobilização excessiva de mecanismos anaeróbicos (exercícios dinâmicos); e c) ganhos simultâneos nos sistemas aeróbico e anaeróbico. Outro aspecto relativo à especificidade, conforme os estudos realizados, pode ser dito em relação à área treinada. Por exemplo, exercícios realizados com os membros inferiores promovem adaptações que não são transferíveis para os membros superiores, e vice-versa2,15. O princípio da sobrecarga se refere a uma quantidade de estresse imposta a um sistema ´que é maior do que o esforço usualmente observado nas tarefas da vida diária. O incremento na endurance cardiovascular e muscular pressupõe que uma sobrecarga seja imposta a esses sistemas por um período de tempo prolongado (pelo menos 20 minutos). A carga de exercício deve ser acima do limiar do estímulo de treinamento (aquele estímulo que elucida uma resposta de treinamento ou condicionamento) para que o efeito do treinamento se evidencie. Uma vez que ocorra uma adaptação a essa sobrecarga proposta, uma nova intensidade (carga de exercício) deve ser prescrita a fim de que o indivíduo continue aumentando sua capacidade funcional2,18. Uma vez que o paciente esteja liberado para dar início ao programa de exercício físico e as diretrizes de seu protocolo tenham sido estabelecidas, inicia-se, portanto, a condução do tratamento. A sessão fisioterapêutica é concebida de uma forma semelhante à que, fisiologicamente, acontece com o indivíduo que passa de um estágio de repouso ou de baixa 13 demanda energética, para um estado metabólico mais intenso que perdura por um dado período e, a seguir, retorna aos níveis iniciais de gasto calórico2,18,22. O programa de treinamento físico envolvetrês etapas: aquecimento, equilíbrio e resfriamento. Deve-se fazer um registro diáriodo programa, das respostas da frequência cardíaca, da pressão arterial e dos sinais esintomas apresentados durante as sessões detratamento2,23. A fase do aquecimento deverá ter duração de 5 a 10 minutos, sendo efetuados exercícios de alongamentos dinâmicos e aeróbicos e de coordenação associados a exercícios respiratórios. Essa fase tem por objetivo preparar os sistemas músculo-esquelético e cardiorrespiratório para a fase de condicionamento2,15,23. Na fase de equilíbrio são realizados exercícios aeróbicos e exercícios de resistência muscular; com duração de 40 minutos dependendo da capacidade do indivíduo. A frequência cardíaca deve ser aferida durante esse período, bem como a pressão arterial2,23. A fase de resfriamento corresponde ao período em que o indivíduo interrompe o exercício físico e passa de uma demanda energética aumentada, para uma demanda energética que progressivamente vai diminuindo. Podem ser realizados 5 minutos de caminhada de baixa intensidade utilizada para prevenir a estagnação do sangue nas extremidades, particularmente nas pernas, 3 minutos de alongamento associado aos exercícios respiratórios com o objetivo de retornar o organismo às condições de repouso com valores de pressão arterial e frequência cardíaca próximo aos basais e prevenir o aparecimento de lesões musculares2,15,23. Após a liberação da fase II, os pacientes são conduzidos a fase III, porém essa pode ser aplicada em qualquer etapa da doença, não sendo uma sequência das anteriores. Perdura pelo período 6 a 24 meses5, com objetivo principal de adaptar o sistema cardiovascular para a retomada da rotina cotidiana do paciente2. A fase IV é um programa de longo prazo, de duração indefinida e muito variável. Observa-se, conforme estudos que essa fase não goza de acompanhamento obrigatório para a manutenção das práticas desportivas do paciente, há apenas a manutenção do programa de exercício, respeitando-se a preferência natural do paciente5. A reabilitação não-supervisionada tem como objetivo principal exercitar pacientes sob supervisão indireta, estendendo a prática de exercícios a um maior número de pacientes. Os programas de reabilitação não supervisionada têm-se mostrado eficientes para aumentar a potência aeróbica, a capacidade funcional e modificar os fatores de risco coronariano24. Cabe ressaltar a importância do treinamento dos profissionais de saúde envolvidos em programas de reabilitação, quanto às manobras de reanimação cardíaca (suporte básico da 14 vida), disponibilidade de material para atendimento de emergência e, acima de tudo, prévia avaliação médica, preferencialmente por médico cardiologista, liberando então, o paciente para a prática de atividades físicas18. Considerações Finais Atualmente, os programas de reabilitação cardíaca vêm sendo estendido aos pacientes acometidos de IAM, bem como com doenças cardiovasculares, com o propósito de permitir um retorno prematuro às atividades diárias, propiciando ainda uma melhor qualidade de vida, com a prática de exercícios físicos com segurança e baixo custo. Para que isso aconteça, é fundamental que a avaliação, acompanhamento, orientação e supervisão profissional fisioterapeuta do paciente seja contínua e objetiva. Conclui-se, portanto, que o trabalho do fisioterapeuta, na reabilitação cardíaca após o IAM tem por objetivo melhorar a aptidão cardiovascular, quando, por sua vez, estes exercícios forem praticados por um período prolongado e contínuo, proporcionando a recuperação do paciente com melhor qualidade de vida, diminuindo a eventualidade de novos IAM. Referências Bibliográficas 1.Silva MSM. Reabilitação cardíaca após infarto agudo do miocárdio: revisão sistemática. Corpus et Scientia.2013;9(1):89-100. 2. Machado, MGR. Bases da fisioterapia respiratória: terapia intensiva e reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogman, 2008. 3. Santos filho SD. Interesse científico em saúde cardiovascular e reabilitação cardíaca. RevCiênc Saúde.2010;1(1):33-40. 4. Berry JRS, Cunha AB. Avaliação dos Efeitos da Reabilitação Cardíaca em Pacientes PósInfarto do Miocárdio. ArqBras de Cardiol.2010;23(2):101-110. 5. Sociedade Brasileira de Cardiologia. 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