Nº35 Jan-Mar 2015 Pág. 80-81 Ana Abreu Assistente hospitalar graduada de cardiologia, Serviço de cardiologia, Hospital de Santa Marta, cHLc, Lisboa; coordenadora do GeFeRc, SPc; Chair-elect núcleo Rc da eAcPR Testemunho Aprender a viver melhor a vida depois do enfarte Júlia Godinho é um dos muitos casos de sucesso em reabilitação cardíaca. Aos 46 anos de idade teve um enfarte do miocárdio. Fumava quatro maços de cigarros por dia, dormia três horas por noite, cuidava sozinha de um filho e ao mesmo tempo apoiava a mãe. Tudo associado a um grave problema económico e emocional. Quando teve o enfarte não se apercebeu de imediato da gravidade da situação, mas durante o internamento sentiu que iria morrer, chegando mesmo a desejá-lo. Após a alta não se sentia bem, mantendo sempre desconforto precordial e mal-estar recorrente. Após cinco angioplastias coronárias, acabou por ser submetida a cirurgia de revascularização miocárdica. depois de operada continuava a não se sentir bem, referindo grande cansaço. Foi-lhe então proposto entrar no programa de reabilitação cardíaca. Quando interrogada relativamente ao que mudou após a reabilitação, diz sorridente «aprendi a viver com a doença, sem angústia e sem incomodar os outros. Ajudada por toda a equipa, consigo hoje ver aquilo que se deve e o que não se deve fazer.» «Melhorei muito do aspecto emocional», refere com satisfação. «A reabilitação ajudou-me a controlar o stress causado pela doença, tendo reduzido os medicamentos para a ansiedade». Passou a ter menos sintomas e a não recorrer ao hospital com frequência, reduzindo muito 80 o número de internamentos. Acrescenta, «o programa de reabilitação cardíaca ajudou-me a cumprir a medicação, a entender e a não falhar. Hoje, tomo toda a medicação recomendada e cumpro-a religiosamente». na altura, perdeu 15 kg e alterou completamente a sua alimentação. A dietista foi fundamental no processo e manteve o seguimento do peso e dieta, ao longo das consultas. Sorri ao afirmar, «passei a escolher o que comer e dentro de horários, que habitualmente não tinha». deixou de fumar, tendo mesmo enjoado o tabaco, sem ajuda de consultas de cessação tabágica. «nessa altura percebi que os pulmões estavam entupidos», afirma. As sessões de treino de exercício no hospital, ao longo de três meses serviram não só para melhorar a sua capacidade funcional, como para incentivar o exercício posterior de manutenção, combatendo o sedentarismo. «não gosto de estar parada e continuo em movimento, mas agora de uma forma diferente», informa com satisfação. Passou a dar mais importância ao dia-a-dia e a fazer boas escolhas. considera que a sua melhoria após a Rc foi pessoal mas também familiar: «O meu próprio filho notou que melhorei muito o estilo de vida». Hoje, aos 65 anos de idade, mantém os hábitos de vida saudável, adquiridos há 15 anos, no programa de reabilitação cardíaca do Hospital de Santa Marta. «Se aconselharia outro doente com enfarte a fazer reabilitação? Sim, sem dúvida. Por todos os benefícios, mas sobretudo por ajudar a olhar a vida de um modo diferente. Aprendemos a viver com a doença. É importante sabermos que a Reabilitação cardíaca fica sempre!» Júlia Godinho 81