Teoria das Filas Aplicada ao Atendimento na Média Complexidade

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Teoria das Filas Aplicada ao Atendimento
na Média Complexidade no Sistema Único
de Saúde com Enfoque na Especialidade
Endodontia: uma revisão de literatura
Aluno: Fábio Henrique Dias da Silva1
Orientador: Gilberto de Oliveira Moritz2
Tutora: Juliana Pereira3
Resumo
Abstract
Este trabalho é uma revisão de literatura sobre
a formação de filas no atendimento na média
complexidade no Sistema Único de Saúde,
principalmente na Especialidade Endodontia
no Centro de Especialidades Odontológicas.
As filas são processos rotineiros no cotidiano
e geram queda na qualidade de atendimento.
O custo para manutenção das filas é muito
alto e pode causar prejuízos para a saúde do
usuário do sistema. Frente a este problema é
extremamente relevante aprofundar o conhecimento sobre este assunto e observar as soluções propostas até agora, além de idealizar
novos projetos. A avaliação, a administração
e a coordenação geral das filas parece ser um
caminho a ser seguido. Além disso, o aumento da resolutividade dos casos no atendimento
na atenção primária é uma excelente alternativa para contribuir para o processo de redução
das filas. O matriciamento está sendo cada vez
mais consolidado como uma ferramenta para
aumentar a capacidade de atendimento nas
Unidades Básicas de Saúde.
This paper is a review of literature on the
formation of queues in attendance at medium complexity in Health System, primarily in specialty Endodontics Center Dental
Specialties. Queues are routine processes in
everyday life and generate lower quality of
care. The cost to maintain the queue is very
high and may cause harm to the health of
the system user. Facing this problem is extremely relevant deepen knowledge about this
subject and observe the solutions proposed
so far, and devise new projects. The assessment, management and overall coordination
of the queue seems to be a path to be followed, since the intervention in queues have
shown promising results. Furthermore, the
increase in attendance in solving cases in primary care is a great alternative to contribute
to the process of reducing queues. The matricial is being increasingly consolidated as a
tool to increase service capacity in the Basic
Health.
Key words: Queues Theory. Healthy SysPalavras-chave: Teoria das Filas. Sistema tem. Endodontics.
Único de Saúde. Endodontia.
1
Graduada em Odontologia pela Universidade Estadual Paulista – Araraquara (2002).
Especialista em Endodontia pela Associação Brasileira de Ensino Odontológico – São Paulo
(2004). E-mail: [email protected].
2
Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2004).
E-mail: [email protected].
3
Especialista em Gestão de Pessoas nas Organizações e Bacharel em Administração pela
Universidade Federal Santa Catarina (UFSC). E-mail: [email protected].
Teoria das Filas Aplicada ao Atendimento na Média Complexidade no Sistema Único de Saúde com Enfoque na
Especialidade Endodontia: uma revisão de literatura
1 Introdução
Apesar de a saúde bucal ter importância reconhecida, uma grande
parcela da população brasileira não tem acesso a serviços odontológicos.
“No Brasil, cerca de 50 % da população tem acesso frequente à assistência
Odontológica, 30% possui acesso irregular e 20% nunca foram ao cirurgião
dentista”. (SHIROTA, 2011, p. 414)
No âmbito do sistema brasileiro público de saúde, em 2004, foi
formulada a atual Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB) que
tem entre outros objetivos, a ampliação do acesso à atenção especializada através dos Centros de Especialidades Odontológicas
(CEOs) e Laboratórios Regionais de Próteses Dentárias. (PUCCA,
2009, p. 9-16)
Os Centros de Especialidades Odontológicas são estabelecimentos de
saúde que devem oferecer os serviços de diagnóstico bucal, com ênfase no
diagnóstico e detecção do câncer de boca, periodontia especializada, cirurgia
oral menor dos tecidos moles e duro, endodontia e também atender a pacientes
com necessidades especiais. (BRASIL, 2004)
Assim, o acesso e a utilização dos serviços odontológicos especializados
visam ao princípio da integralidade nos sistemas de serviço de saúde.
Dentre as especialidades do CEO, a que tem o acesso mais difícil é a
Endodontia.
A Endodontia é a ciência e arte que envolve a etiologia, prevenção, diagnóstico e tratamento das alterações patológicas da polpa
dentária e de suas repercussões na região periapical e consequentemente no organismo. Resumidamente, essa especialidade
cuida da profilaxia e tratamento do endodonto e da região apical
e periapical. (LEONARDO, 1998, p. 1)
A dificuldade de acesso a esta especialidade ocorre devido ao desequilíbrio
entre a demanda e a capacidade de atendimento. Para que um paciente seja
atendido por um especialista dessa área, é necessário que seja encaminhado
por um profissional de algum Centro de Saúde Local (Atenção Básica). Esse
encaminhamento é direcionado ao Sistema de Regulação Central (SISREG)
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que, por sua vez, agendará o paciente com o Especialista, de acordo com a
disponibilidade de vagas. O SISREG foi desenvolvido pelo Ministério da Saúde entre os anos de 1999 e 2002 e tem passado por melhorias desde então,
objetivando a simplificação da regulação do acesso.
O fenômeno de formação de filas já é rotineiro na vida atual,
ocorre em diversas aplicações como: uma peça esperando para
ser lixada ou polida (na indústria), um avião esperando para decolar, um programa de computador esperando para ser executado
e, é claro, uma fila de seres humanos esperando serviço. (DOS
SANTOS et al., 2012, p. 1 apud BARBOSA, 2009)
As filas se formam em decorrência do aumento dos consumidores
e da incapacidade do sistema em atender a essa demanda (local
ou global, momentânea ou permanente). Assim, através de técnicas de simulação, busca-se encontrar um ponto de equilíbrio
que satisfaça os clientes e seja viável, economicamente, para o
provedor do serviço. (ARENALES, 2007, p. 524)
Os tempos de espera nas filas infligem perdas elevadas, muitas vezes
desnecessárias, às sociedades e aos sistemas econômicos.
Pior situação ocorre quando, além de elevados, os prazos são
imprevisíveis. Com tal agravante as certezas decorrentes desta
imprevisibilidade impedem o planejamento das vidas dos pacientes
e de seus familiares, da atuação do sistema de saúde e do funcionamento do sistema produtivo onde eles exerçam atividades
laborais. (MARINHO, 2006, p. 2.230)
Para visualizar possibilidades de melhorias deste problema é necessário
observar a Teoria das Filas proposta por Arenales (2007), em que ele descreve, como um método analítico que aborda o assunto por meio de fórmulas
matemáticas,
[...] onde se estuda as relações entre as demandas e os atrasos
sofridos pelo usuário do sistema, para avaliação das medidas de
desempenho dessa relação em função da disposição deste sistema.
(ARENALES, 2007 apud CHAVES et al., 2011, p. 3)
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Teoria das Filas Aplicada ao Atendimento na Média Complexidade no Sistema Único de Saúde com Enfoque na
Especialidade Endodontia: uma revisão de literatura
Com base no exposto, o objetivo deste estudo é realizar uma revisão
de literatura a respeito das filas no Sistema Único de Saúde, com enfoque
na Especialidade Endodontia no Centro de Especialidades Odontológicas e
elencar possíveis soluções para este problema.
2 Fundamentação
A constituição brasileira em seu artigo 196 estabelece que “a saúde
é um direito de todos e um dever do estado”. Ela é complementada pela lei orgânica 8080 de 1990, que regulamenta as diretrizes
do SUS, Sistema Único de Saúde, e garante acesso universal da
população aos serviços de saúde. (JUNIOR, 2005, p. 256)
Não obstante a excelência teórica da legislação, é de conhecimento
público que, na prática, o acesso aos serviços de saúde permanece
um dos problemas mais graves de nossa sociedade. A falta de uma
estrutura hierarquizada e eficiente, a escassez de recursos para a
saúde e os investimentos insuficientes em hospitais, profissionais
e tecnologia são sem dúvida os principais fatores que justificam a
atual situação. (SARMENTO JUNIOR; TOMITA; KOS, 2005, n. p.)
É compreensível que
[...] nos diferentes serviços do mundo contemporâneo, a relação
interpessoal direta, ou, indireta sempre envolve a obrigação de
esperar. Porém, oferecer um serviço de qualidade significa saber
compreender a demanda de clientes, organizar sistemas que a
controlem e ajustar a capacidade de atendimento em função da
demanda, consequentemente reduzindo a espera e mantendo
um serviço adequado para o cliente. (GIANESI; CORRÊA, 2005
apud CHAVES et al., 2011, p. 3)
Segundo Paulins (2005), a satisfação dos clientes é diretamente proporcional à qualidade do serviço recebido e inversamente proporcional à
expectativa frustrada.
De acordo com Chaves et al. (2011), em ambientes como o atendimento
do setor de saúde, onde o cliente precisa ser atendido, mas não deseja ter que
esperar, satisfazer sua vontade de permanecer o menor tempo possível em
espera é um objetivo que as empresas tentam fazer para cativá-los diante dos
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serviços oferecidos. Na produção de serviços, Tsai e Lu (2005) defendem que
reduzir o tempo de espera se torna um diferencial competitivo, sendo ainda
um nível de excelência na qualidade.
[...] as filas são um determinante de custos sociais em esquemas
de prestação de serviços onde o sistema de preço não ofereça
influência relevante na alocação de recursos. O tempo de espera
pode exercer um duplo papel. Primeiramente, o tempo gasto
impõe, aos pacientes que estão na fila, um custo de oportunidade que está relacionado com o valor das atividades que eles
deixam de exercer enquanto esperam o atendimento. Além disso,
tempo gasto nas filas desvaloriza o valor presente dos serviços
prestados, dada uma taxa de desconto intertemporal subjetiva
ao paciente. Ao valor atual desses dois componentes de custos
devem ser adicionados os custos da provável deterioração da
situação de saúde ao longo desse mesmo tempo, e os custos do
tratamento realizado enquanto o paciente espera na fila. (MARINHO, 2004, p. 3)
Para Prado (1999), a composição dos elementos de uma fila é descrita
por uma população, esta podendo ser finita ou infinita. Os clientes se originam
da população e para serem atendidos formam uma fila antes da efetivação
do serviço. Após o atendimento, os clientes saem do sistema de filas. Uma
população é admitida como infinita quando se desconhece sua quantidade
ou quando é muito grande. Em outros casos a população, quando conhecida,
é considerada finita. A figura a seguir representa um modelo básico de filas.
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Figura1: Processo Genérico de Filas
Fonte: Adaptada de Hillier e Lieberman (2006)
O processo de chegada é quantificado através da taxa média (λ) ou
pelo intervalo de tempo entre chegadas sucessivas (IC) que ocorrem de maneira aleatória (ARENALES et al., 2007). Para caracterizar esta aleatoriedade
corretamente um processo de chegada deve dispor de uma distribuição de
probabilidades tal como uma distribuição normal, de Poison, exponencial
negativa, Erlang, etc.
Já o processo de atendimento é quantificado através do ritmo médio
de atendimento (µ) e do tempo ou duração média do serviço (TA). Arenales
et al. (2007) admitem que não mais de um usuário pode ser atendido por um
servidor no mesmo instante, que o processo não varia ao longo do tempo e
que não é afetado pelo número de usuários presentes no sistema. (CHAVES
et al., 2011, p. 3)
O número de Especialistas em Endodontia é uma das características
utilizadas para modelar um sistema de filas. O mais simples sistema apresenta
um único Especialista que atende apenas um paciente por vez. Entretanto,
caso a demanda de clientes aumente, não é possível aumentar o TA sem
perda de qualidade no serviço. Neste caso o servidor ficará sobrecarregado e
irá ocorrer o prolongamento no tempo de espera.
A preocupação dos administradores da área é otimizar as atividades.
O paciente deve ser a principal preocupação e o trabalho executado tem
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que apresentar a melhor qualidade possível. A consequência de uma grande
procura por um serviço de qualidade, que não consegue atender a todos, é a
formação de fila. Esta geralmente apresenta um processo igualitário em que
o primeiro a chegar é o primeiro a ser atendido. Entretanto, pode ocorrer
alterações no fluxograma do atendimento e alguns pacientes passam a ter
prioridade no tratamento.
Sempre que há espera, existe a necessidade de criar um local para que
as pessoas aguardem.
Ao longo dos anos, a falta de qualidade no acesso aos serviços de
saúde evidenciou a necessidade de o Ministério da saúde desenvolver um
Sistema de Regulação em Saúde. O período de 1999 a 2002 representou
o movimento inicial no desenvolvimento do aplicativo de Regulação denominado “Sistema de Regulação (SISREG)”. A partir do desenvolvimento, o
SISREG vem passando por melhorias em suas funcionalidades, para que,
integrado aos outros sistemas do Ministério da Saúde, automatize a rotina
dos Complexos Reguladores e seja estabelecido de fato, como ferramenta de
regulação. (BRASIL, 2004)
Assim; para sua inclusão no Tratamento Endodôntico no CEO o paciente
deve preencher os pré-requisitos determinados pelas normas do protocolo de
encaminhamento para a especialidade. (BRASIL, 2006)
Caso o usuário seja encaminhado para média complexidade sem a
indicação correta, ele estará ocupando a vaga de outra pessoa e consequentemente aumentando a fila de espera.
Visando eliminar esse problema, Zaitter (2009), analisou duas unidades
de saúde de dois distritos sanitários do município de Curitiba durante seis
meses, com o objetivo de realizar uma pré-avaliação, eliminando dessa forma
os pacientes que estavam fora dos critérios de inclusão para Endodontia no
Centro de Especialidades Odontológicas.
O procedimento foi realizado em uma Unidade Básica de Saúde em
um período de seis meses. Foi utilizada outra UBS para controle. O resultado
obtido na UBS em que ocorreu a intervenção foi uma redução de 27% do
número de inscritos no primeiro mês, 38,19% no segundo, 61,80% no terceiro
e 69,09% no quarto mês. Se no início da pesquisa a fila era de 198 pessoas,
após a intervenção esse número foi reduzido para 17. Na unidade de saúde
em que não ocorreu intervenção na fila o número de inscritos aguardando
aumentou em cinco dos seis meses.
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Especialidade Endodontia: uma revisão de literatura
Vantagens da pré-avaliação:
Esse
• Eliminar faltas de pacientes na primeira consulta: existe um número
elevado de pacientes que faltam na primeira consulta e acabam
ocupando a vaga de outra pessoa que pode estar mais interessada
no tratamento. Os pacientes que não comparecem na consulta de
pré-avaliação são automaticamente removidos da lista para inclusão
do SISREG. Considerando que a porcentagem de falta na primeira
consulta oscila entre 30% a 40%, a redução da fila seria significativa.
• Eliminar elementos dentários que estão fora do critério de inclusão do CEO: muitas vezes o paciente que comparece à primeira
consulta apresenta um dente que não oferece condições para
receber o tratamento endodôntico como: mobilidade acentuada,
2/3 de extrusão dentária por perda de antagonista, coroa dentária
insuficiente para colocação dos grampos para isolamento absoluto,
comprometimento da região de furca. Além disso, alguns pacientes
comparecem à primeira consulta sem adequação do meio bucal
realizada, o que contraindica a execução da Endodontia.
• Selecionar os pacientes que deverão passar pela especialidade Periodontia, para aumento de coroa clínica, antes de agendar consulta
para realizar Endodontia.
• Selecionar casos que tenham resolutividade na atenção básica
como: exodontia e pulpotomia.
Uma das maneiras de facilitar a pré-avaliação é realizar matriciamento.
[...] projeto busca garantir às equipes das Unidades Básicas de
Saúde maior apoio quanto à responsabilização do processo de
assistência, garantindo a integralidade da atenção em todo sistema de saúde ao fazer uma intervenção com o olhar do gestor
municipal buscando implementar mudanças de programas e
ações que descentralizem o acesso à especialidade e ao mesmo
tempo disponibilizar recursos e equipamentos para que efetivamente possa ocorrer esta intervenção. Estabelecer a contribuição
de distintas especialidades e profissionais na construção de rede
compartilhada entre a referência e o apoio, personalizar a referência e contra-referência, definir responsabilidade pela construção
do caso com a equipe de referência, buscando elaborar juntos
protocolos a fim de reduzir filas de espera. (ARONA, 2009, p. 29)
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Ainda de acordo com Arona (2009, p. 31), o apoio matricial
[...] à equipe de referência são, ao mesmo tempo, arranjos organizacionais e uma metodologia para a gestão do trabalho em
saúde, objetivando ampliar as possibilidades de realizar-se clínica
ampliada e integração dialógica entre distintas especialidades e
profissões. O apoio matricial em saúde objetiva assegurar de um
modo dinâmico e interativo a retaguarda especializada a equipes e
profissionais de referência. O apoio tem duas dimensões: suporte
assistencial e técnico-pedagógico.
Funciona em forma de rede onde a construção deve ser compartilhada entre a referência e o apoio, é complementar, personalizando
a referência e contra-referência. Mantém responsabilidade pela
condução do caso com a equipe de referência, buscando elaborar
juntos protocolos a fim de reduzir filas. (ARONA, 2009, p. 31)
Uma das maneiras de facilitar o matriciamento e, consequentemente,
diminuir o número de inclusões de pacientes para a especialidade Endodontia
no SISREG seria a implementação da radiografia digital na Prefeitura Municipal
de Florianópolis. Isso proporcionaria um prontuário eletrônico mais completo
e permitiria que o profissional da média complexidade fizesse avaliações radiográficas mesmo antes de o paciente comparecer em consulta. Pacientes com
dentes para os quais a Endodontia não fosse indicada não seriam agendados
com os Especialistas no CEO e, sim, para as Unidades Básicas de Saúde,
recebendo tratamento de atenção primária.
3 Metodologia
Segundo Pádua (2004), pesquisa é toda atividade voltada para a solução de problemas. É a atividade que permite elaborar um conhecimento
que auxilie na compreensão da realidade e nos oriente em nossas ações. O
conhecimento é elaborado historicamente através do exercício da reflexão.
As conclusões e ações executadas são baseadas neste processo.
Godoy (1995) caracteriza a pesquisa como um esforço para a descoberta
de novas informações ou relações e para a verificação e ampliação do conhecimento existente. O caminho seguido nesta busca pode possuir contornos
diferentes; e dentre eles é possível realizar a Pesquisa Bibliográfica.
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Segundo Silva (2005), pesquisa bibliográfica é aquela baseada na análise
da literatura já publicada em forma de livros, revistas, publicações avulsas,
imprensa escrita e até eletronicamente, disponibilizada na Internet. A revisão
de literatura/pesquisa bibliográfica contribuirá para: obter informações sobre
a situação atual do tema ou problema pesquisado; conhecer publicações
existentes sobre o tema e os aspectos que já foram abordados; verificar as
opiniões similares e diferentes a respeito do tema ou de aspectos relacionados
ao tema ou ao problema de pesquisa. (SILVA, 2005)
Este artigo foi realizado através do levantamento bibliográfico em artigos, principalmente de Zaitter (2009), Marinho (2004) e Arona (2011). Além
disso, foi utilizado o site do Ministério da Saúde e o livro sobre a Teoria das
Filas, de Hillier e Lieberman, 2006. Existem algumas referências a respeito da
intervenção nas filas no Sistema Único de Saúde, entretanto sobre a Especialidade Endodontia ainda são escassas, sendo um vasto campo para estudos.
Segundo Lakatos e Marconi (1991, p. 163), “[...] toda pesquisa implica
o levantamento de dados de variadas fontes, quaisquer que sejam os métodos
ou técnicas empregadas [...]”. As autoras ainda mencionam que o “[...] levantamento de dados é o primeiro passo [...]” de qualquer pesquisa para que,
posteriormente, seja possível nortear as soluções para os problemas propostos.
4 Considerações Finais
O objetivo deste estudo é realizar uma revisão de literatura a respeito das
filas no Sistema Único de Saúde, com enfoque na Especialidade Endodontia
no Centro de Especialidades Odontológicas e elencar possíveis soluções para
esse problema.
A Saúde Bucal tem recebido atenção especial do Governo Federal,
e muitos investimentos estão sendo realizados, entretanto, alguns projetos
precisam ser aperfeiçoados, como é o caso do Centro de Especialidades
Odontológicas, especificamente na especialidade Endodontia.
O tratamento endodôntico é oneroso no serviço privado. Sendo assim, a
partir do momento em que ele foi disponibilizado no SUS, a procura foi muito
grande. Contudo, o equilíbrio entre a demanda e a capacidade de atendimento
parece estar longe de acontecer. Isso provoca um aumento no tempo médio
de espera, que é um dos fatores que mais causam insatisfação e irritação aos
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pacientes. Além disso, longos períodos de espera acarretam grandes perdas
de tempo no sistema e prejuízos para a saúde do usuário.
Segundo Zaitter (2009), não existe até o momento uma medida que resolva com eficácia o problema de acesso aos serviços de saúde, principalmente
nas Especialidades Odontológicas, devido à peculiaridade das dificuldades
encontradas. A falta de recursos materiais e profissionais na saúde básica é
apontada como uma das causas para o aumento da demanda em algumas
especialidades, principalmente na Endodontia.
Tal fato, consequentemente, gera a formação de filas, causando demora
no atendimento do paciente, sendo esse um fator de insatisfação e queda
na qualidade da prestação de serviço de uma instituição pública ou privada.
Portanto, o monitoramento, controle e intervenção na fila, de qualquer área,
de média ou de alta complexidade, deve ser um processo constante, principalmente quando se observa o custo da manutenção desse sistema.
A intervenção na fila deve ser feita baseada no princípio da equidade
(uma das diretrizes do SUS), isto é, tratar cada problema específico de acordo
com a sua necessidade. Além disso, o incentivo, a prevenção e a promoção de
saúde são de suma importância para resolver a maior parte dos problemas do
usuário na atenção básica. Nesse ponto, é importante destacar a funcionalidade do matriciamento no auxílio a diagnósticos e ampliação na capacidade
de resolver problemas das equipes nas UBSs.
Uma das medidas adotadas para controle da redução da fila de espera
é aumentar a resolutividade na atenção básica, permitindo com isso, que o
profissional concentre sua atenção no serviço especializado propriamente dito.
(FREEMAN, 1997 apud ZAITER et al., 2009, p. 419)
O matriciamento é uma das alternativas para aumentar a resolutividade
da atenção básica. Além disso, Arona (2009, p. 8) escreve que
Com o apoio matricial um especialista pode participar organicamente de várias equipes técnicas de referência, ampliando a
capacidade de resolver problemas das equipes, o que gera diminuição de consultas e encaminhamentos. É importante ressaltar a
possibilidade de abrir um canal de comunicação interprofissional
eliminando o medo de perda de autonomia e fortalecendo o
sistema de cogestão.
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O Matriciamento na Especialidade Endodontia pode ser realizado
desde que ocorra a implantação da Radiografia Digital, incorporando esse
documento ao prontuário eletrônico do paciente. Esse processo facilitaria a
análise radiográfica, em alguns casos, pelo Especialista em Endodontia, o
que possibilitaria diagnósticos mais rápidos e direcionamentos de casos com
indicação para tratamento na atenção primária.
Dentre os possíveis casos que poderiam ser solucionados na Unidade
Básica de Saúde e que não precisariam ser encaminhados para a Especialidade Endodontia, citamos:
• dentes com indicação de pulpotomia;
• dentes com comprometimento de furca;
• dentes com mobilidade grau 3;
• dentes extruídos, sem antagonistas; e
• capeamento pulpar direto ou indireto.
De acordo com Leonardo (1998), o diagnóstico é a base para o tratamento bem executado. Para isso é necessário conhecimento, experiência e
senso clínico do profissional. Uma das vias facilitadoras para o diagnóstico
em Endodontia é a Radiografia Digital.
A imagem digital é aquela que pode ser registrada não no filme
radiográfico, mas em um receptor (sensor) que, após ser sensibilizado pelos raios X, capta a imagem e a transfere ao computador, onde poderá então ser arquivada, analisada, manipulada e
quantificada. (LEONARDO, 2009, p. 390)
A atualização tecnológica envolvendo o tratamento de canais radiculares deve ser constante, principalmente nas instituições públicas em que a
demanda geralmente é maior que a capacidade de atendimento, o que gera
fila de esperas.
Marinho (2004, p. 38) fez algumas considerações de caráter econômico
e gerencial para a administração de filas em saúde, delineando
[...] o perfil de algumas ações possíveis para, eventualmente,
reduzir esse problema. É importante ressaltar que o sucesso na
adoção de cada uma delas dependerá, inequivocadamente,
das condições materializadas no SUS e que a adoção dessas
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recomendações acarretaria custos consideráveis e substanciais
mudanças qualitativas no sistema. Como tais medidas têm sido
preconizadas com alguma frequência na literatura, supõe-se que
a relação custo-benefício de sua adoção seja favorável.
Dentre as medidas de caráter gerencial e administrativo pode-se destacar
(MARINHO, 2006, p. 33):
• Definir claramente as responsabilidades sobre a avaliação, a
administração e a coordenação geral das filas.
• Atentar para o fato de que as filas demandam recursos para
a sua administração, além dos custos sociais e privados que
acarretam. Investir na redução das filas pode ser socialmente
muito vantajoso.
• Encetar a avaliação e o acompanhamento rigorosos e permanentes dos pacientes postos nas listas. Devem ser adotados
procedimentos previamente especificados se o tratamento se
torna desnecessário por algum motivo.
• Observar que a melhoria da qualidade, ou a conscientização da
população, sem a adoção de medidas de prevenção, proteção
e promoção de saúde, podem aumentar a demanda pelos
serviços especializados. A melhoria na coordenação vertical
no SUS, envolvendo, principalmente, a atenção básica pode
reduzir os problemas da fila.
• Incrementar a administração e a divulgação criteriosas de
informações sobre o sistema, contemplando elementos da
demanda e da oferta, o que diminui as incertezas e facilita
o planejamento.
A criação de indicadores é uma medida administrativa indispensável
para quantificar a fila. É necessário definir prazos de espera e regular número
de pessoas registradas em listas de espera no aguardo por atendimento, estabelecendo prioridades para alguns casos. Uma das maneiras de incentivo para
aumentar a eficácia do atendimento é desenvolver incentivos para aumento
de produtividade. (MARINHO, 2004)
Fica claro que a intervenção nas filas de espera no SUS é uma medida extremamente necessária. A qualidade no atendimento ao paciente está
diretamente associada ao tempo de espera para o tratamento requisitado,
sendo que esse parâmetro é considerado uma vantagem competitiva, em
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Teoria das Filas Aplicada ao Atendimento na Média Complexidade no Sistema Único de Saúde com Enfoque na
Especialidade Endodontia: uma revisão de literatura
empresas privadas ou órgãos públicos. Além disso, o custo para manter uma
fila é muito alto e a verba para sustentá-la pode ser usada na contratação de
novos profissionais e na melhoria dos equipamentos.
O investimento em tecnologia é vital para a eficiência de qualquer
instituição, pública ou privada, pois melhora a qualidade do atendimento e
a eficiência do diagnóstico de determinadas especialidades médicas e odontológicas.
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