Volume 24 número 3 julho-setembro 2006 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE HORTICULTURA The Brazilian Association for Horticultural Science IAC - Centro de Horticultura C. Postal 28, 13012-970 Campinas – SP Tel./Fax: (0xx19) 3241 5188 ramal 374 E-mail: [email protected] Site: www.abhorticultura.com.br Presidente/President Paulo César Tavares de Melo USP/ESALQ - Piracicaba Vice-Presidente/Vice-President Dimas Menezes UFRPE - Recife 1º Secretário / 1st Secretary Valéria Aparecida Modolo Instituto Agronômico - Campinas 2º Secretário / 2nd Secretary Eunice Oliveira Calvete UPF/FAMV - Passo Fundo 1º Tesoureiro / 1st Treasurer Sebastião Wilson Tivelli Instituto Agronômico - Campinas 2º Tesoureiro / 2nd Treasurer João Bosco Carvalho da Silva Embrapa Hortaliças - Brasília COMISSÃO EDITORIAL DA HORTICULTURA BRASILEIRA Editorial Committee C. 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Alcântara Embrapa Hortaliças Gilmar Paulo Henz Embrapa Hortaliças Marie Yamamoto Reghin UEPG Paulo Eduardo de Melo Embrapa Hortaliças Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 ISSN 0102-0536 Editores Científicos / Scientific editors Ana Maria Montragio Pires de Camargo IEA André Luiz Lourenção IAC Antônio Evaldo Klar UNESP - Botucatu Arthur Bernardes Cecilio Filho UNESP - Jaboticabal Braulio Santos UFPR Carlos Alberto Lopes Embrapa Hortaliças Daniel J.Cantliffe University of Florida Djalma Rogério Guimarães Instituto CEPA Francisco Bezerra Neto ESAM Francisco Murilo Zerbini Junior UFV Jerônimo Luiz Andriolo UFSM José Fernando Durigan UNESP - Jaboticabal José Magno Q. Luz UFU José Orestes M. Carvalho Embrapa Rondônia Luiz Henrique Bassoi Embrapa Semi-Árido Maria de Fátima A. Blank UFS Maria do Carmo Vieira UFGD Paulo César T. de Melo ESALQ Paulo E. Trani IAC Renato Fernando Amabile Embrapa Cerrados Ricardo Alfredo Kluge ESALQ Roberval D. Vieira UNESP - Jaboticabal Rogério L. Vieites UNESP - Botucatu Ronessa B. de Souza Embrapa Hortaliças Rovilson José de Souza UFLA Waldemar Pires de Camargo Filho IEA A revista Horticultura Brasileira é indexada pelo CAB, AGROBASE, AGRIS/FAO e TROPAG. Scientific Eletronic Library Online: http://www.scielo.br/hb www.abhorticultura.com.br Programa de apoio a publicações científicas Horticultura Brasileira, v. 1 n.1, 1983 - Brasília, Sociedade de Olericultura do Brasil, 1983 Trimestral Títulos anteriores: V. V. 4-18, 1964-1981, Revista de Olericultura. 1-3, 1961-1963, Olericultura. Não foram publicados os v. 5, 1965; 7-9, 1967-1969. Editoração e arte/Composition Luciano Mancuso da Cunha Revisão de inglês/English revision Patrick Kevin Redmond Revisão de espanhol/Spanish revision Marcio de Lima e Moura Tiragem/printing copies 1.000 exemplares 270 Periodicidade até 1981: Anual. de 1982 a 1998: Semestral de 1999 a 2001: Quadrimestral a partir de 2002: Trimestral ISSN 0102-0536 1. Horticultura - Periódicos. 2. Olericultura - Periódicos. I. Associação Brasileira de Horticultura. CDD 635.05 Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Volume 24 número 3 julho-setembro 2006 ISSN 0102-0536 SUMÁRIO/CONTENT * Artigos em inglês com resumo em português Articles in English with an abstract in Portuguese PESQUISA / RESEARCH Estudo de adubos e substratos orgânicos no desenvolvimento de mudas micropropagadas de helicônia Effects of organic fertilizers and substrates on development of micropropagated heliconia plantlets MRA Santos; ALO Timbó; ACPP Carvalho; JPS Morais Produção de raízes de batata-doce em função do uso de doses de N aplicadas no solo e via foliar Yield of sweet potato roots in function of nitrogen levels applied in soil and foliating AP Oliveira; MF Moura; DH Nogueira; NG Chagas; MSS Braz; MRT Oliveira; JA Barbosa Caracterização e avaliação agronômica de híbridos e linhagens de milho doce (su1) Characterization and evaluation of elite sweet-corn (su1) hybrids and lines LFG Oliveira Jr; MG Pereira; R Bressan-Smith Crescimento e metabolismo em artemísia em função do nível de irradiância Growth and metabolism of feverfew plants in response to the irradiance level LM Carvalho; VWD Casali; SP Lisboa; LCA Barbosa; PR Cecon Produção hidropônica de alface em solução nutritiva com e sem silício Hidroponic production of lettuce in hidroponic solution with or without silicon JMQ Luz; STMR Guimarães; GH Korndörfer Metodologia para a avaliação do vigor de sementes de tomate Methodology for the evaluation of tomato seed vigor CC Martins; MM Castro; AM Seneme; J Nakagawa Condutividade elétrica em sementes de abóbora, híbrido Bárbara Electrical conductivity of pumpkin hybrid Bárbara seeds RD Vieira; AS Dutra Fibra de coco e adubação foliar no crescimento e na nutrição de Cryptanthus sinuosus Coconut fiber and foliar fertilization on the growth and nutrition of Cryptanthus sinuosus JM Jasmim; RRV Toledo; LA Carneiro; E Mansur Germinação e crescimento inicial de híbridos de meloeiro em função da salinidade Germination and initial growth stage of melon plant hybrids due to salinity RCF Queiroga; RC Andrade Neto; GHS Nunes; JF Medeiros; WBM Araújo Produtividade da batata-doce em função de doses de K2O em solo arenoso Sweet potato yield as a function of K2O levels in a sandy soil CH Brito; AP Oliveira; AU Alves; CSM Dorneles; JF Santos; JPR Nóbrega Taro ‘Chinês’ em cultivo solteiro e consorciado com cenoura ‘Brasília’ e alface ‘Quatro Estações’ ‘Chinês’ taro in monocrop system and intercropped with ‘Brasília’ carrot and ‘Quatro estações” lettuce NA Heredia Zárate; MC Vieira; AR Giuliani; M Helmich; EG Chiquito; AH Amadori Teores e acúmulo de nutrientes durante o ciclo da mandioquinha-salsa em função da aplicação de nitrogênio, fósforo e potássio Levels and accumulation of nutrients in the cycle of peruvian carrot with application of nitrogen, phosphorus and potassium A Portz; CAC Martins; E Lima; E Zonta Crescimento do meloeiro irrigado com águas de diferentes salinidades Growth of melon plants irrigated with waters of different salinities FQ Porto Filho; JF Medeiros; HR Gheyi; JA Matos; ER Souza; ER Sousa Neto Irrigação por gotejamento do tomateiro industrial durante o estádio de frutificação, na região de Cerrado Response of drip-irrigated processing tomatoes to water regimes during crop fructification stage WA Marouelli; WLC Silva Efeitos de calagem e adubação no crescimento e nutrição de arnica Effects of liming and fertilization on growth and nutrition of arnica AC Oliveira Júnior; V Faquin; JEBP Pinto Crescimento e desenvolvimento da alface sob altas proporções NH4+:NO3- na solução nutritiva* Growth and development of lettuce plants at high NH4+:NO3- ratios in the nutrient solution* JL Andriolo; RS Godoi; CM Cogo; OC Bortolotto; GL Luz; JC Madaloz Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 273 279 283 289 295 301 305 309 315 320 324 329 334 342 347 352 Doses de potássio na produção e qualidade de sementes de alface Potassium rates in the lettuce seed production and quality C Kano; AII Cardoso; ARO Higuti; RL Villas Bôas Conservação de rúcula minimamente processada produzida em campo aberto e cultivo protegido com agrotêxtil Conservation of minimally processed rocket produced under open field conditions and non woven polypropylene AF Gonzalez; RA Ayub; MY Reghin Herdabilidade e correlações genotípicas entre caracteres de folhagem e sistema radicular em famílias de cenoura, cultivar Brasília Heritability and genotypic correlation among leaf and root traits in carrot, cultivar Brasilia progenies JCS Alves; JR Peixoto; JV Vieira; LS Boiteux Perfil dos consumidores de hortaliças da cidade de Santo Antônio do Descoberto - GO Profile of vegetable consumers of Santo Antônio do Descoberto town, Goiás State, Brazil M Castelo Branco; JM Nogueira; RC Santos 356 360 363 368 COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA / SCIENTIFIC COMUNICATION Biocontrole da mancha-aquosa do melão pelo tratamento de sementes com bactérias epifíticas e endofíticas Biocontrol of bacterial blotch of melon by seed treatment with epiphytic and endophytic bacteria A Oliveira; MHM Santos; EB Silveira; AMA Gomes; RLR Mariano Análise biométrica de linhagens de abóbora Biometric analysis of squash lines FV Bezerra Neto; NR Leal; FR Costa; GM Gonçalves; AT Amaral Júnior; HO Vasconcellos; M Mello Qualidade pós-colheita de tomates ‘Débora’ com utilização de diferentes coberturas comestíveis e temperaturas de armazenamento Quality of ‘Debora’ tomato using different edible coatings and storage temperatures M Chiumarelli; MD Ferreira 373 378 381 ERRATA / ERRATA 386 COMUNICAÇÃO / COMINICATION 387 NORMAS PARA PUBLICAÇÃO / INSTRUCTIONS TO AUTHORS 388 Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 pesquisa SANTOS MRA; TIMBÓ ALO; CARVALHO ACPP; JMORAIS JPS. 2006. Estudo de adubos e substratos orgânicos no desenvolvimento de mudas micropropagadas de helicônia. Horticultura Brasileira 24: 273-278 Estudo de adubos e substratos orgânicos no desenvolvimento de mudas micropropagadas de helicônia Maurício R A Santos1; Ana L O Timbó2; Ana C P P Carvalho2; João P S Morais2 1 Embrapa Rondônia, C. Postal 406, 78900-970 Porto Velho-RO;2Embrapa Agroindústria Tropical, C. Postal 3761, 60511-110 FortalezaCE; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Avaliou-se a eficiência de combinações de substratos orgânicos (casca de arroz carbonizada, pó de casca de coco verde e seco) e adubos (Vitasoloâ e húmus de minhoca), em esquema fatorial 3x2, na proporção de 3:1 (v/v), na aclimatização de plântulas de Heliconia bihai, provenientes de cultivo in vitro. Foram estabelecidos contrastes ortogonais, definidos “a priori”: pó de casca de coco x casca de arroz carbonizada; pó de casca de coco seco x pó de casca de coco verde; e Vitasolo x húmus de minhoca. Após 75 dias, avaliou-se a altura das plantas, o diâmetro do pseudocaule, o número de folhas e a área da terceira folha. Em relação a todas as variáveis estudadas, a casca de arroz carbonizada foi mais eficiente do que o pó de casca de coco; o pó de casca de coco verde ou seco não diferiram significativamente entre si; entre os adubos testados, o húmus de minhoca foi o que resultou em maior desenvolvimento das plântulas. Effects of organic fertilizers and substrates on development of micropropagated heliconia plantlets Palavras-chave: Heliconia bihai, micropropagação, aclimatização, substratos. The efficiency of three different organic substrates (carbonised rice hull, dry and green coir dust) and two fertilizers (Vitasolo® and humus of earthworm), were evaluated in factorial scheme (3x2) at the ratio of 3:1 (v/v) in the acclimatization of plantlets of Heliconia bihai, obtained from in vitro culture. The following pre-defined orthogonal contrasts were set up: coir dust (green or dry) x carbonised rice hull; green coir dust x dry coir dust; Vitasolo® x humus of earthworm. After 75 days, height of the plants, diameter of pseudostem, number of leaves and area of the third leaf were evaluated. In relation to all the variables studied, the carbonised rice hull was more efficient than the coir dust (green or dry); there wasn’t significant difference between dry or green coir dust; among the tested fertilizers, humus of earthworm was more efficient than Vitasolo®. Keywords: Heliconia bihai, micropropagation, acclimatization, substrates. (Recebido para publicação em 22 de novembro de 2004 e aceito em 16 de agosto de 2006) A demanda atual por plantas ornamentais e flores de corte dos países do primeiro mundo alcança US$ 90 bilhões por ano, com uma taxa de crescimento estimada da ordem de 12% ao ano (Lamas, 2002). Segundo dados do Instituto Brasileiro de Floricultura (IBRAFLOR, 2005), o Brasil movimenta, anualmente, cerca de US$ 1 bilhão no negócio de flores, em uma área cultivada de aproximadamente 5.250 hectares, gerando cerca de 200.000 postos de trabalho. Trata-se de uma das melhores alternativas de investimento na agricultura, porque demanda pouca área e o ciclo de produção é geralmente curto, permitindo rápido retorno do capital investido. As exportações brasileiras de flores e plantas ornamentais, em 2004, atingiram US$ 23,5 milhões, valor esse que superou em 20,96% os resultados obtidos em 2003, confirmando todos os prognósticos sobre a performance conHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 temporânea do setor exportador da floricultura brasileira. De acordo com Castro & Graziano (1997), a saturação do mercado mundial pelas plantas ornamentais tradicionais faz com que haja crescente interesse por parte dos consumidores estrangeiros pelas espécies tropicais. Neste contexto, se destacam as espécies do gênero Heliconia, muito apreciadas em função das suas peculiaridades. Seu excepcional potencial de comercialização no mercado interno e externo se deve à aparência exótica das inflorescências e à grande variação de cores e formas, com produção de flores contínua, em grande quantidade e com alta durabilidade após o corte, apresentando perspectivas promissoras como flores de corte e plantas para paisagismo. Estas espécies vêm apresentando crescente comercialização no mercado internacional, em função do aumento da área de produção nos países da América Central e da América do Sul, proporcionando uma maior oferta e, consequentemente, a sua divulgação. No Brasil, os estados com maior potencial para o cultivo são Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Pernambuco, Amazonas e Ceará (Castro, 1995). O Ceará apresenta condições edafoclimáticas favoráveis ao cultivo em todas as estações do ano e os preços da terra e da mão-de-obra são inferiores aos dos demais estados produtores, sendo necessário apenas que se utilize tecnologia apropriada para o aumento da produção (Paiva, 1998). A propagação comercial das helicônias é geralmente vegetativa, através dos rizomas. Porém, este método conduz à disseminação e ao acúmulo de agentes causais de importantes doenças que são transmitidas entre plantios sucessivos, via rizomas contaminados por 273 MRA Santos et al. fungos, bactérias e, principalmente, vírus e nematóides, que dificultam ou impedem a manifestação do verdadeiro potencial produtivo. Isto levou vários países a imporem uma rígida quarentena para a importação de rizomas, principalmente após descobertas de cepas de Pseudomonas solanacearum (Smith) em plantas doentes obtidas a partir de rizomas (Nathan et al., 1992). Por outro lado, a propagação através de sementes apresenta várias desvantagens em relação à propagação via rizomas. Em geral, produz mudas maiores, de menor valor comercial e manuseio mais difícil, por serem pesadas. As sementes apresentam dormência devido à restrição mecânica, pois o fruto é uma baga com pericarpo duro, que impede a sua germinação. O período para florescimento de mudas propagadas por sementes é muito longo, de 3 a 4 anos. Além disso, nem todas as espécies frutificam e a maioria dos cruzamentos interespecíficos são incompatíveis (Nannetti, 1994). A micropropagação apresenta-se como alternativa viável para a produção de mudas de helicônia em larga escala e com qualidade genética e fitossanitária, sendo que vários métodos têm sido utilizados. A multiplicação de gemas axilares de rizomas uma técnica eficiente e usual em programas de micropropagação de helicônias (Nathan et al., 1992). Goh et al. (1995) regeneraram plantas desta espécie, através de organogênese direta e indução de calos em explantes retirados da base de plântulas. A cultura de embriões também pode constituir uma interessante aplicação da cultura de tecidos no cultivo de helicônia, permitindo o resgate de embriões oriundos de cruzamentos híbridos, os quais não sobreviveriam na planta-mãe. Esta técnica é utilizada também para reduzir o ciclo fenológico da planta (Hu & Ferreira, 1998). A aclimatização das mudas obtidas a partir de métodos de cultivo in vitro é uma fase fundamental para o sucesso da micropropagação, pois este é o momento em que ocorre a transição do heterotrofismo para o autotrofismo, em condições ex vitro (Sciutti & Morini, 1993). Neste contexto, é fundamental a determinação dos substratos adequados 274 para a aclimatização, os quais devem garantir a manutenção mecânica do sistema radicular, a estabilidade da planta, o suprimento de água e nutrientes e as trocas gasosas entre as raízes e o ar atmosférico (Silveira et al., 2002). A determinação de substratos alternativos, que sejam viáveis para a aclimatização é de grande relevância, pois o aproveitamento de resíduos da agroindústria em práticas agrícolas representa a solução de problemas sociais e ambientais (Silveira et al., 2002). O pó de casca de coco tem sido recomendado para cultivos de plantas ornamentais, bem como a casca de arroz, também bastante utilizada por floricultores. Estes dois subprodutos são considerados substratos praticamente inertes, que não reagem com os nutrientes da adubação e possuem longa durabilidade, sem alteração de suas características físicas. Como não possuem os nutrientes essenciais para as plantas, devem ser utilizados em combinação com adubos (Carrijo et al., 2002). A utilização de húmus de minhoca, ou vermicompostagem, é uma opção muito interessante para a agroindústria, pois permite o enriquecimento da matéria orgânica disponível, por meio do aumento na disponibilização de nutrientes, de forma economicamente viável e ambientalmente sustentável (Bakker, 1994). Este adubo é, em média, 70% mais rico em nutrientes que os húmus convencionais. É rico em microrganismos, com pH neutro, alta retenção de água e mineralização lenta (Longo, 1987; Aquino et al., 1992). Como citado por Bosa et al. (2003) existem poucos trabalhos que relatam o estudo do substrato na fase de transplante da planta desenvolvida in vitro para as condições ex vitro. Considerando a escassez de estudos na literatura científica referentes à aclimatização de plântulas das espécies pertencentes ao gênero Heliconia, e a crescente necessidade da utilização de práticas agrícolas sustentáveis e economicamente viáveis, o objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência de adubos e substratos orgânicos no desenvolvimento de mudas de Heliconia bihai, durante a fase de aclimatização. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Embrapa Agroindústria Tropical, em Fortaleza – CE, de outubro/2003 a janeiro/2004. As mudas utilizadas na aclimatização foram obtidas in vitro, mediante oito subcultivos em meio MS (Murashige & Skoog, 1962) suplementado com 2,0 mg.L-1 de BAP (6-benzilaminopurina). Estas foram enraizadas em meio MS com 1,0 mg.L-1 de AIB (ácido indolbutírico), em frascos cilíndricos de vidro transparente de 100 mm de altura e 63 mm de diâmetro interno, com tampa de polipropileno de rosca, contendo 30 mL de meio de cultura, sob fotoperíodo de 16 horas e temperatura de 25±1°C. Após 30 dias de enraizamento in vitro, as plântulas foram retiradas dos frascos, lavadas e transferidas individualmente para tubetes de polipropileno rígido de 52 mm de diâmetro interno por 140 mm de altura. Os tratamentos estudados foram compostos por combinações de três substratos orgânicos com dois adubos, em esquema fatorial 3x2, na proporção de 3:1 (volume/volume): 1) pó de casca de coco seco (CS) + Vitasolo (VS) adubo comercial; 2) pó de casca de coco verde (CV) + Vitasolo; 3) casca de arroz carbonizada (CAC) + Vitasolo; 4) pó de casca de coco seco + húmus de minhoca (HM); 5) pó de casca de coco verde + húmus de minhoca; 6) casca de arroz carbonizada + húmus de minhoca. O Vitasolo é um adubo natural, cujos compostos orgânicos e minerais são bioquimicamente estabilizados, com matéria orgânica superior a 48%, alta retenção de água, e pH aproximadamente neutro. Este composto é tradicionalmente comercializado no mercado regional, como adubo completo. O pó de casca de coco verde e da casca de coco seco apresentavam, inicialmente, condutividades elétricas em torno de 3,15, sendo corrigidas, através de lavagens com água, de acordo com Rosa et al. (2001). Foram avaliadas as características químicas e físicas das seis combinações de substratos e adubos, conforme metodologias descritas em Ritas & Melida (1990). As análises químicas incluíram o pH e os terores de P, K, Ca, Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Estudo de adubos e substratos orgânicos no desenvolvimento de mudas micropropagadas de helicônia Mg, Cu, Fe, Mn, Zn e Na. As análises físicas incluíram a condutividade elétrica (CE), o volume de sólidos (Vs), o volume de poros (Vp), a relação Vp/Vs, a porosidade total (PT), a capacidade de retenção de água (CRA) e o espaço de aeração (EA). A aclimatização foi feita em condições de casa de vegetação, com sombreamento de 80%, temperatura de 30+5°C e irrigação por nebulização de 30 minutos, três vezes ao dia. Após 75 dias da implantação do experimento, foram avaliadas a porcentagem de sobrevivência; a altura total da planta; o diâmetro do pseudocaule na altura do colo da planta; o número de folhas; e a área da terceira folha, obtida através de um aparelho LICOR, modelo LI-3000. A utilização destas variáveis na avaliação do desenvolvimento das plantas foi realizada de acordo com Matos (2000). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com oito repetições, sendo a unidade experimental constituída por cinco mudas. Foram estabelecidos contrastes ortogonais, definidos a priori – C1: pó de casca de coco (seco ou verde) x casca de arroz carbo- nizada; C2: pó de casca de coco seco x pó de casca de coco verde; e C3: Vitasoloâ x húmus de minhoca. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas através do teste F, a 1 e 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em todos os tratamentos utilizados na aclimatização de H. bihai, a sobrevivência das plantas foi de 100%. As características físicas e químicas das seis combinações de substratos e adubos encontram-se, respectivamente, nas Tabelas 1 e 2. A utilização dos contrastes ortogonais na avaliação do experimento, apresentados na Tabela 3, permitiu formular questões fundamentais e, ao mesmo tempo, interpretar objetivamente os resultados obtidos. As maiores médias para todas as variáveis estudadas, representado o maior desenvolvimento vegetal, foram obtidas na combinação de casca de arroz carbonizada com húmus de minhoca: 32,67 cm de altura da planta, 19,73 mm de diâmetro do pseudocaule, núme- Tabela 1. Características físicas das combinações dos adubos e substratos empregados na aclimatização de H. bihai. Fortaleza, Embrapa Agroindústria Tropical, 2004. CS: pó de casca de coco seco; CV: pó de casca de coco verde; CAC: casca de arroz carbonizada; VS: vitasolo; HM: húmus de minhoca. ro de folhas por planta de 9,99 e área foliar de 48,32 cm2 (Tabela 3). Esta combinação apresenta relação Vp/Vs de 2,6, porosidade total de 72%, capacidade de retenção de água de 51% e espaço de aeração de 21% (Tabela 1). O menor desenvolvimento vegetal, em todas as variáveis, foi obtido na combinação de coco seco e Vitasolo, na qual a relação Vp/Vs (4,0), a porosidade total (80%) e a capacidade de retenção de água (57%), foram as maiores obtidas em todas as combinações. Por outro lado, valores inferiores na relação Vp/Vs (2,3), na porosidade total (70%) e na capacidade de retenção de água (50%) foram observados na combinação de casca de arroz e Vitasolo, que também resultou em menor desenvolvimento das plantas. Com relação ao espaço de aeração, valores abaixo do obtido na combinação de casca de arroz e húmus de minhoca (21%) foram observados nas combinações de casca de arroz e Vitasolo, e coco seco e húmus de minhoca, as quais apresentaram espaço de aeração de 20 e 17%, respectivamente. Por outro lado, as combinações coco seco e Vitasolo, coco verde e húmus de minhoca, e coco verde e Vitasolo, apresentaram espaço de aeração de 23, 31 e 36%, respectivamente, e também resultaram em menor desenvolvimento vegetal, em termos gerais. Na Tabela 2 observa-se, com relação às características químicas, que a condutividade elétrica das combinações coco seco e Vitasoloâ (2,07 dS.m-1) e coco seco e húmus de minhoca (2,12 dS.m-1) apresentam valores acima dos considerados ideais para mudas de plantas ornamentais segundo Ballester-Ol- Tabela 2. Características químicas das combinações dos adubos e substratos empregados na aclimatização de H. bihai. Fortaleza, Embrapa Agroindústria Tropical, 2004. CS: pó de casca de coco seco; CV: pó de casca de coco verde; CAC: casca de arroz carbonizada; VS: vitasolo; HM: húmus de minhoca. Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 275 MRA Santos et al. Tabela 3. Comparações entre grupos de médias pelos contrastes ortogonais para as variáveis avaliadas aos 75 dias de aclimatização de H. bihai, em diferentes combinações de adubos e substratos orgânicos1. Fortaleza, Embrapa, 2004. 1 CS: pó de casca de coco seco; CV: pó de casca de coco verde; CAC: casca de arroz carbonizada; VS: Vitasolo; HM: húmus de minhoca. C1: pó de casca de coco (seco ou verde) x casca de arroz carbonizada; C2: pó de casca de coco seco x pó de casca de coco verde; e C3: Vitasolo x húmus de minhoca. ns Não significativo. * e ** Significativo a 5% e 1% de probabilidade pelo teste F. 2 mos (apud Bosa et al., 2003), que são de 0,75 a 2,00 dS.m-1, sendo que as demais combinações encontram-se nesta faixa. É importante observar que a combinação arroz carbonizado e húmus de minhoca, que resultou no maior desenvolvimento das plantas, apresentou condutividade elétrica de 1,21 dS.m-1, situando-se próximo à mediana da faixa considerada ideal por este autor. Quanto ao pH, apenas as combinações coco seco e Vitasoloâ, e coco verde e Vitasolo encontram-se dentro da faixa considerada ideal para o cultivo de helicônias (5,5 a 6,5), de acordo com Leitão (2006). A combinação de casca de arroz e húmus de minhoca apresentou pH de 7,28, levemente básico em relação ao preconizado pela autora. Por meio do primeiro contraste pode-se verificar, na Tabela 3, em relação a todas as variáveis observadas, que a casca de arroz apresentou valores significativamente superiores aos obtidos com a utilização do pó da casca de coco, verde ou seco. A eficiência da casca de arroz carbonizada em compostos foi comprovada por Maciel et al. (2002), que trabalhou com aclimatização de porta-enxertos micropropagados de macieira, observando o enraizamento e, 276 consequentemente, o desenvolvimento das plântulas nesta fase. Outras combinações foram testadas por Rodrigues et al. (2004), que utilizaram 11 compostos de diferentes proporções de casca de arroz carbonizada, areia, húmus e terra na aclimatização de mudas micropropagadas de bromélia-imperial (Alcantarea imperialis), e observaram que a combinação de casca de arroz e areia (1:1, v/v) foi mais eficiente na indução do desenvolvimento das mudas. Couto et al. (2003) avaliaram o efeito de casca de arroz carbonizada em combinações com húmus, solo e esterco; com húmus e solo; com húmus; e com Plantmaxâ, na aclimatização de plantas micropropagadas de Prunus cerasifera, constatando que a combinação de casca de arroz e Plantmaxâ foi o melhor substrato, em relação à sobrevivência das plantas e ao seu crescimento. Nos tratamentos onde utilizou-se casca de coco verde ou seco como substrato orgânico, não foram observadas diferenças estatísticas para nenhuma das variáveis analisadas, o que pode ser verificado por meio dos quadrados médios obtidos no segundo contraste. Estes resultados não estão de acordo com os obtidos por Terceiro Neto et al. (2004), que obtiveram crescimento significativamente mais expressivo com a utilização de coco verde em relação ao coco seco, em todas as variáveis avaliadas, na aclimatização de plântulas de violeta africana (Saintpaulia ionantha Wendl.). Por outro lado, Bezerra et al. (2001) compararam o coco verde e o seco como substratos para enraizamento e produção de massa fresca e seca em estacas de crisântemo e concluíram que o coco seco é mais adequado para esta finalidade. Correia et al. (2003), avaliaram o efeito da utilização de pó de coco verde e seco no desenvolvimento de mudas de cajueiro anão precoce, e também não encontraram diferenças significativas entre estes substratos em relação às variáveis estudadas. Os tratamentos contendo húmus de minhoca resultaram em valores significativamente superiores aos obtidos nos tratamentos com Vitasoloâ, em relação a todas as variáveis estudadas. Correia et al. (2001), estudando o efeito de diferentes substratos e adubos na formação de porta-enxertos de gravioleira, observaram que o húmus de minhoca caracteriza-se por proporcionar um adequado desenvolvimento vegetativo e do sistema radicular, além de funcionar como eficiente fonte de matéria orgânica para as plantas. Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Estudo de adubos e substratos orgânicos no desenvolvimento de mudas micropropagadas de helicônia Bosa et al. (2003) avaliaram o crescimento de mudas de Gipsophila paniculata, em diferentes substratos, durante a aclimatização. Seus resultados indicaram que os substratos perlita + turfa e casca de pinus + perlita + turfa são adequados nesta fase, provavelmente devido ao fato de apresentarem alta capacidade de retenção de água, pois a disponibilidade de água otimiza a aclimatização desta espécie. A aclimatização de plântulas de violetaafricana (Saintpaulia ionantha Wendl.) foi estudada por Maciel et al. (2000), que obtiveram uma taxa de 100% de sobrevivência, em várias combinações de areia e composto orgânico, sendo que a proporção de 1:1 resultou em maior acúmulo de matéria fresca. Weber et al. (2003) estudaram o crescimento e o acúmulo de nutrientes em mudas micropropagadas de abacaxizeiro em tubete, e concluíram que a mistura de casca de arroz carbonizada, vermiculita e vermicomposto (1:1:1) constitui alternativa para a aclimatização de mudas. A mistura de casca de arroz carbonizada e pó de casca de coco (1:1) resultou em baixo desempenho das mudas, o que os autores atribuem a certas características do pó de casca de coco, como má agregação física, baixa retenção de água e limitação nutricional. Um recente trabalho relata a aclimatização de Heliconia bihai em areia lavada, vermiculita (textura média) e PlantMax®Horticultura, a pleno sol e sob 30, 40, 50, 60, 70 e 80% de sombreamento. Avaliou-se a sobrevivência de plântulas micropropagadas durante 28 dias após a transferência para as condições ex vitro. As maiores taxas de sobrevivência (95%) foram obtidas com a utilização de areia lavada e PlantMax®Horticultura, sob 80 e 70% de sombreamento, respectivamente. Os autores não consideram recomendável a utilização de vermiculita para a aclimatização desta espécie, uma vez que a maior taxa de sobrevivência que obtiveram com este substrato foi de 32,5%, com 80% de sombreamento (Rodrigues et al., 2005). Com base nos resultados obtidos neste trabalho, pode-se concluir que a Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 aclimatização de Heliconia bihai pode ser efetuada à temperatura de 30 + 5°C, irrigação por nebulização de 30 minutos, três vezes ao dia, com sombreamento de 80%, recomendandose como substrato a combinação de casca de arroz carbonizada com húmus de minhoca, na proporção de 3:1. AGRADECIMENTOS Ao CNPq pela concessão de bolsas. 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Produção de raízes de batata-doce em função do uso de doses de N aplicadas no solo e via foliar Ademar P de Oliveira; Mácio F de Moura; Dijauma H Nogueira; Nielson G Chagas; Maria do Socorro S Braz; Márcia Roseane T de Oliveira; José A Barbosa UFPB-CCA, C. Postal 02, 58397-000 Areia-PB; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Com o objetivo de avaliar doses e formas de aplicação de nitrogênio (solo e via foliar) na cultura da batata-doce, cultivar Rainha Branca instalou-se um experimento em condições de campo no período de julho a novembro/2003, no Centro de Ciências Agrárias da UFPB, em Areia, em um NEOSSOLO REGOLÍTICO Psamítico típico. O delineamento experimental constou de blocos casualizados, em esquema fatorial 5x2, compreendendo cinco doses de N (0, 50, 100, 150 e 200 kg ha-1) e duas formas de aplicação (solo e via foliar), em quatro repetições. Utilizaram-se parcelas úteis com 28 plantas espaçadas de 0,80x0,30 m. As produtividades total e não-comercial de raízes aumentaram linearmente com elevação das doses de N aplicadas no solo, ocorrendo aumento de aproximadamente 45,52 e 12,64 kg ha-1, respectivamente a cada quilograma de N adicionado. A produtividade de raízes comerciais em função das doses de N aplicadas no solo, atingiu valor máximo estimado de 19155 kg ha-1 com o emprego da dose de 154 kg ha-1 de N, enquanto que as produtividades total, comercial e não-comercial de raízes não foram influenciadas significativamente pelas doses de N aplicadas via foliar, com médias de 13800, 12600 e 1200 kg ha-1, respectivamente. A dose mais econômica de N aplicada no solo para a produção de raízes comerciais foi de 144 kg ha-1, com rendimento estimado de 19123 kg ha-1 de raízes. O nitrogênio fornecido no solo foi mais eficiente para a batata-doce expressar sua capacidade máxima de rendimento de raízes comerciais, com incremento de 6555 kg ha-1, em relação a sua aplicação via foliar. Yield of sweet potato roots in function of nitrogen levels applied in soil and foliating Palavras-chave: Ipomoea batatas, adubação nitrogenada, adubação foliar, produção de raízes. With the objective of evaluating the levels and application forms of nitrogen (soil and leaves) in the sweet potato Rainha Branca cv. an experiment was carried out from July to November/2003, in the Centro of Ciências Agrárias from Universidade Federal of Paraíba, Areia, Brazil, in Quartz Psamment soil. The experimental design was randomized blocks, in a factorial scheme 5x2, with five levels of N (0, 50, 100, 150 and 200 kg ha-1), tow applications forms (soil and by foliating), in four replications. The plots with 28 plants, spaced at 0.80x0.30cm. The total and uncommercial yield of roots increased linearly in function of the levels of N applied in the soil, corresponding approximately to 45.52 and 12.64 kg ha-1, respectively to each kilogram of N. The commercial yield in function of the N levels applied in the soil, reached the maximum value of 19255 kg ha-1 with 154 kg ha-1 of N. The total, commercial and uncommercial roots yields obtained in function of the N levels applied to the leaves did not suffer significant changes with rates of 13800, 12600 and 1200 kg ha-1, respectively. The most economical N level applied in the soil related to commercial roots yield was 144 kg ha-1, with roots estimated yield of 19123 kg ha-1. The nitrogen supplied in the soil was more efficient for the sweet potato to express its maximum commercial roots yield, with increment of 6555 kg ha-1, when compared to the leaves application. Keywords: Ipomoea batatas, nitrogenous fertilization, foliating fertilization, root production. (Recebido para publicação em 09 de dezembro de 2004; aceito em 27 de julho de 2006) A batata-doce é uma planta de gran de importância econômico-social, participando no suprimento de calorias, vitaminas e minerais na alimentação humana. As raízes apresentam Ca, K e teor de carboidratos variando entre 25% e 30%, dos quais 98% são facilmente digeríveis (Clark & Moyer, 1988). É a quarta hortaliça mais consumida no Brasil. Além de ser rústica, de fácil manutenção, apresenta boa resistência contra a seca e ampla adaptação, sendo cultivada em praticamente todos os estados brasileiros (Miranda, 2003). No Brasil, a batata-doce é muito popular, sendo cultivada em todas as regiões, principalmente no Sul e NorHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 deste. Nesta última, assume importância social, principalmente por se constituir em uma fonte de alimento energético, e contribuir na geração de emprego e renda, garantindo a fixação do homem à terra. No estado da Paraíba, a batata-doce é mais cultivada e difundida nas regiões próximas aos grandes centros consumidores, especialmente nas microrregiões do brejo e litoral paraibano, sendo considerado o maior produtor nordestino, e o quarto em escala nacional (Soares et al., 2002). Contudo, apesar deste destaque, é paradoxalmente um dos estados que possui uma das mais baixas produtividades média (6,8 t ha-1), sendo a fal- ta de um programa de nutrição mineral para a cultura, um dos principais fatores responsáveis por este fato (Silva et al., 2002). O nitrogênio é o segundo nutriente mais exigido pelas hortaliças (Filgueira, 2000). Seu fornecimento via adubação funciona como complementação à capacidade de suprimento dos solos, a partir da mineralização de matéria orgânica, geralmente baixos em relação às necessidades das plantas (Malavolta, 1990). Em várias hortaliças, o nitrogênio desempenha papel fundamental no crescimento e no rendimento dos produtos colhidos (Wiedenfeld & Braverman, 1991; Albregts & Chandler, 1993; Pei279 AP Oliveira et al. xoto et al., 1996; Carnicelli et al., 2000; Resende & Souza, 2000; Santos et al., 2001). Na batata-doce, a utilização do nitrogênio merece atenção especial. Em solos com alta disponibilidade desse elemento ocorre um intenso crescimento da parte aérea, em detrimento da formação de raízes tuberosas. Contudo, as diferentes variedades de batata-doce respondem de modo distinto à aplicação de nitrogênio. Enquanto umas apresentam desenvolvimento de raízes, outras apresentam desenvolvimento vegetativo exuberante (Chaves & Pereira, 1985). O ideal é acompanhar o crescimento da cultura e aplicar o fertilizante nitrogenado quando começar o aparecimento de sintomas de deficiência do nutriente (Silva et al., 2002), caracterizada inicialmente por clorose nas folhas mais velhas, seguido das mais novas, nas quais, com a evolução da deficiência, surgem manchas necróticas internervais, podendo ocorrer abscisão das folhas (Chaves & Pereira, 1985). Embora o nitrogênio seja um importante nutriente para as hortaliças (Filgueira, 2000), pouco se conhece, ainda, a respeito das quantidades a serem utilizadas, que permitam a obtenção de rendimentos satisfatórios na cultura da batata-doce. As poucas informações a respeito do seu emprego nessa hortaliça indicam que sua aplicação deve ser fracionada, sendo aplicado 1/3 no plantio, e o restante em 30 a 45 dias em cobertura, sendo recomendado para solos de alta, média e baixa fertilidade o emprego de, respectivamente, 100, 60 e 30 kg ha-1 de N, (Embrapa, 1995). A adubação nas hortaliças pode representar de 20 a 30% dos custos de produção (Trani & Raij, 1996), e considerando a necessidade de se definir uma dose de nitrogênio capaz de proporcionar rendimento máximo para a cultura da batata-doce, realizou-se o presente trabalho com o objetivo de avaliar o comportamento dessa hortaliça submetida a diferentes doses de N, aplicadas no solo e via foliar. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado em área experimental do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, 280 em Areia-PB, entre julho e novembro de 2003 (datas do plantio à colheita), no delineamento experimental de blocos casualizados, com os tratamentos distribuídos em esquema fatorial 5x2, constando de cinco doses de N (0; 50; 100; 150 e 200 kg ha-1), empregando-se uréia como fonte, e duas formas de aplicação (no solo e via foliar) e quatro repetições. O solo da área foi classificado como NEOSSOLO REGOLÍTICO Psamítico típico de textura franca (Embrapa, 1999). As análises químicas na camada de 0-20cm, foram realizadas conforme Embrapa (1997), e resultou em: pH (H2O)= 6,5; P= 36,8 mg dm-3; K= 120 mg dm-3; Al+3= 0,0 cmolc dm-3; Ca+2= 2,6 cmolc dm-3; Mg+2= 0,6 molc dm-3; CTC= 6,7 cmolc dm-3; V%= 85 e matéria orgânica= 8,11 g dm-3. A adubação de plantio foi realizada de acordo com recomendações do Laboratório de Química e Fertilidade do Solo da Universidade Federal da Paraíba (Embrapa, 1997), e constou da aplicação de 20 t ha-1 de esterco bovino, 200 kg ha-1 de superfosfato simples e 68 kg ha-1 de cloreto de potássio. Na adubação de cobertura, aplicaram-se as doses de N, definidas no delineamento experimental, diretamente no solo (em circulo ao redor das plantas) e via foliar (10 g de N L-1 de água). Na aplicação do N no solo, foram fornecidos por parcela 0; 60,5; 121; 242; 302 e 484 g de uréia, conforme a distribuição dos tratamentos, sendo 50% aos 30 e o restante, 60 dias após o plantio. Na aplicação do N via foliar, foram realizadas duas pulverizações com auxílio de pulverizador costal, com capacidade de 20 litros, nos mesmos períodos de aplicação no solo e nas mesmas doses, sendo diluídas na proporção de 10 g de N L-1 de água, com volume de calda de 5 litros por parcela. O preparo do solo constou de aração, gradagem e confecção de leirões. No plantio, foram utilizadas duas ramas por cova da cultivar Rainha Branca, retiradas de plantio jovem, cortadas um dia de antecedência para facilitar o manejo, e seccionadas em pedaços de aproximadamente 0,40 m de comprimento, contendo em média oito entrenós e enterradas pela base, com auxílio de um pequeno gancho, numa profundidade aproximada de 0,10 m. As parcelas mediram 11,04 m2, e continham quatro fileiras espaçadas de 0,80 m e quatorze plantas por fileiras espaçadas de 0,30 m, sendo utilizadas as duas fileiras centrais como úteis, totalizando 28 plantas, com área de 6,72 m2. Durante a condução do experimento foram realizadas irrigações pelo sistema de aspersão convencional nos períodos de ausência de precipitação, com turno de rega de três dias; capinas manuais com auxílio de enxadas com o objetivo de manter a cultura livre da competição por plantas daninhas; amontoas para proteger as raízes contra raios solares e manter a formação dos leirões. Não foram efetuadas aplicações de defensivos em decorrência da ausência de pragas e/ou de doenças. Foram obtidos dados de produtividade total, comercial e não-comercial de raízes. A produtividade total correspondeu ao peso de todas as raízes, enquanto que as produtividades comercial e não-comercial corresponderam ao peso das raízes classificadas. Foram consideradas comerciais aquelas de formato uniforme, lisas com peso igual ou superior a 80 g, e não-comerciais as que estavam fora deste padrão (Embrapa, 1995). Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância, utilizando-se o “software” SAEG (2000), com desdobramento da soma de quadrado da interação (doses e formas de aplicação), independente de sua significância. Dentro de cada forma de aplicação, foram testados diversos modelos polinomiais para os efeitos de doses de N. O critério para escolha do modelo foi a significância pelo teste F a 5% de probabilidade e que este apresentasse o maior valor de coeficiente de determinação (R2). A partir da equação de segundo grau ajustada, calculou-se a dose de N aplicada no solo que proporcionou produção máxima econômica de raízes comerciais. Entretanto, a fim de atenuar os problemas de variação cambial, para a forma de aplicação de N que permitiu o cálculo da dose mais econômica, trabalhou-se com uma relação de troca ao invés de moeda corrente, igualando-se a derivada segunda à relação entre preços do produto e do insumo (Raij, 1991; Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Produção de raízes de batata-doce em função do uso de doses de N aplicadas no solo e via foliar Figura 1. Produtividade total de raízes de batata-doce em função de doses de N aplicadas no solo (y1) e via foliar (y2). Areia, UFPB, 2004. Figura 2. Produtividade comercial de raízes de batata-doce, em função de doses de N aplicadas no solo (y1) e via foliar (y2). Areia, UFPB, 2004. Natale et al., 1996), vigentes em AreiaPB, em novembro de 2003, buscandose assim dados mais estáveis. Neste estudo, os valores utilizados para as variáveis raízes comerciais e N, foram, respectivamente: R$ 0,50 kg-1 de raízes, R$ 3,0 kg-1 de uréia. Dessa maneira, a ‘moeda’ utilizada nos cálculos da dose econômica de N, foi a própria raiz de batata-doce. Assim, a relação de equivalência entre o quilograma de uréia e o quilograma de raízes foi igual a 6 ressaltando, porém, que o preço do quilograma de raízes correspondeu ao utilizado pelo produtor e, que essa relação de preços pode variar a cada ano, conforme a demanda e a oferta. A fórmula obtida Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 para o cálculo da dose de máxima eficiência econômica de N foi: Dose de N= 93,68 - relação de equivalência/2(0,303), onde a relação de equivalência, é a relação entre os preços do insumo e do produto. A receita prevista, devido a aplicação do N, pode ser calculada pelo aumento de produção proporcionada pela dose econômica, custo do fertilizante e pela receita obtida, igualandose a derivada primeira a zero. RESULTADOS E DISCUSSÃO Houve efeito significativo das doses de N aplicadas no solo (P<0,005) sobre as produtividades total, comercial e não- comercial de raízes (Figuras 1, 2 e 3). No desdobramento das interações, as médias da produtividade total e não-comercial ajustaram-se ao modelo linear, enquanto que a produtividade comercial de raízes, ao modelo quadrático de regressão, em função das doses de N aplicadas no solo. A aplicação via foliar de N não teve efeito significativo sobre a produtividade total, comercial e nãocomercial de raízes. As produtividades total e não-comercial de raízes aumentaram linearmente com elevação das doses de N aplicadas no solo, ocorrendo aumento de aproximadamente 45,25 e 12,6 kg ha-1, respectivamente para cada quilograma de N adicionado, com valores máximos de 23524 e 3490 kg ha-1 obtidos na dose máxima de N (200 kg ha-1). A produtividade de raízes comerciais em função das doses de N aplicadas no solo, atingiu valor máximo estimado de 19155 kg ha-1 com a dose de 154 kg ha-1 de N, enquanto que a produtividade média obtida em função das doses de N aplicadas via foliar, foi de 12600 kg ha-1 (Figura 2). O nitrogênio fornecido no solo foi mais eficiente para a batata-doce expressar sua capacidade máxima de rendimento de raízes comerciais, com incremento de 6555 kg ha-1, em relação a sua aplicação via foliar. Este fato pode ser atribuído a redução na sua perda, porque a volatilização de amônia proveniente da uréia pode ser reduzida, se o fertilizante for incorporado no solo, seguido de irrigação (Ribeiro, 1996). O manejo adequado deste nutriente também é essencial para maximizar a produção, sendo seu fornecimento no solo a forma mais eficientemente aproveitada pelas plantas (Azam et al.,1985). No feijão-caupi, Oliveira et al. (2003), observaram aumento de produtividade, quando o nitrogênio foi fornecido diretamente no solo. A ausência de resposta da batata-doce ao nitrogênio aplicado via foliar, possivelmente esteja relacionado com a maior volatilização desse nutriente (Ribeiro, 1996). A produtividade média nacional de raízes comerciais em batata-doce é de 10 t ha-1 (Embrapa, 1995). Portanto, a produtividade máxima de raízes comerciais obtida em função do nitrogênio 281 AP Oliveira et al. aplicado no solo, foi superior a média nacional em 9,15 t ha-1, enquanto que para o nitrogênio fornecido via foliar este incremento foi de 3,58 t ha-1. A redução na produtividade de raízes comerciais verificada nas doses acima de 154 kg ha-1 de N aplicadas no solo, pode indicar que, seu excesso foi prejudicial à formação de raízes comerciais na batata-doce, possivelmente em função da elevada produção de massa verde e formação de raízes adventícias (Embrapa, 1995). Também, pode ter ocorrido efeito tóxico do amônio e da baixa taxa de nitrificação ou devido ao efeito indireto do amônio, reduzindo a absorção de K+, Ca++ e Mg++, pela batata-doce (Carnicelli et al., 2000). Em várias hortaliças, Huett (1989) verificou redução de produtividade, em função de doses elevadas de N. A dose mais econômica de N aplicada no solo para a produção de raízes comerciais foi de 144 kg ha-1, para a relação de equivalência igual a 6, resultando num rendimento estimado de 19123 kg ha-1 de raízes, e o aumento de produção proporcionado por esta dose de N foi de 7186 kg ha-1. Deduzindo-se o custo de aquisição de 144 kg de nitrogênio, equivalente a 320 kg de uréia (640 kg de raízes comerciais), obtevese um receita prevista de 6546 kg ha-1 de raízes, para o N aplicado no solo. A dose mais econômica de N esteve próxima daquela responsável pelo rendimento máximo, e sob o ponto de vista de rendimento proporcionou rendimento de raízes acima da média nacional. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem aos agentes em Agropecuária Francisco de Castro Azevedo, José Barbosa de Souza, Francisco Soares de Brito e Francisco Silva do Nascimento e ao diarista Genival Gomes da Silva, que viabilizaram a execução dos trabalhos de campo. REFERÊNCIAS ALBREGTS EE; CHANDLER CK. 19932. Slow release fertilizer rates for strawberry fruit production. Proceedings of the Florida State Horticultural Society 106: 187-189. 282 Figura 3. Produtividade não-comercial de raízes de batata-doce, em função de doses de N aplicadas no solo (y1) e via foliar (y2). Areia, UFPB, 2004. AZAM F; MALIK KA; SAJJAD MI. 1985. Transformations in soil and availability to plants of N 15 applied as organic fertilizer and legumes residues. Plant and Soil 86: 3-13. ARAÚJO CJH; PEREIRA PRG; FONTES PCR; CAMARGOS MI. 2000. Índices de nitrogênio na planta relacionados com a produção comercial de cenoura. Horticultura Brasileira 18: 808-810. CHAVES LHG; PEREIRA HHG. 1985. 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Os híbridos de milho-doce foram obtidos de cruzamentos simples e, seus parentais, a partir de retrocruzamentos. O híbrido comum foi obtido do cruzamento simples e seus parentais a partir de seleção recorrente recíproca. O delineamento utilizado foi blocos ao acaso com duas repetições e parcelas compostas de quatro fileiras de cinco metros cada, em dois locais. Estudou-se o comportamento dos híbridos em relação à heterose, coeficiente de determinação genotípica e caracteres morfoagronômicos. Os dois híbridos de milho-doce avaliados sobressaíram-se em relação aos seus parentais e doadores, mas não em relação ao híbrido de milho-comum. Foi detectada heterose em várias características, tais como produtividade de espigas sem palha, porcentagem de espigas atacadas por pragas, e uma forte influência genotípica, como indicado pelo coeficiente de determinação genotípica. Characterization and evaluation of elite sweet-corn (su1) hybrids and lines Palavras-chave: Zea mays L., melhoramento, caracteres morfoagronômicos, híbridos, retrocruzamento. Keywords: Zea mays L., breeding, morphoagronomic traits, hybrid, backcross. Two sweet-corn (su-1 mutant and common-corn) hybrids, as well as the respective parentals and donators, summing up 11 genetic materials, were evaluated in two environments, in Itaocara and Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro State, Brazil. The sweetcorn hybrids were obtained by simple crosses between sweet-corn parentals carrying the gene su-1, transferred by backcross. Heterosis, the genotypic determination coefficient and morphoagronomic traits were evaluated. The experimental design consisted of randomized blocks, with two replications in each environment. Four-row plots, 5-m long, were used. The two sweet-corn hybrids overcame their parentals and donators. Comparison between sweet- and commoncorn hybrids showed no significant differences. Heterosis was detected in almost all traits, as for example, yield of ears without straw and percent of ears damaged by pests, as well as significant genotypic influence, revealed by the genotypic determination coefficient. (Recebido para publicação em 14 de fevereiro de 2005; aceito em 29 de agosto de 2006) O milho-doce, considerado como olerícola, é um tipo especial de milho, de alto valor nutricional. Possui genes que limitam a biossíntese de amido, o que causa acúmulo de polissacarídeos solúveis de caráter adocicado no endosperma e, devido a esse baixo teor de amido, não é indicado para elaboração de pratos como pamonha e curau (Valentini et al., 2002). Pode ser utilizado em conserva (enlatado), congelado na forma de espigas ou grãos, desidratado ou consumido in natura, colhido antes da polinização e usado como “Baby Corn” ou minimilho. Após a colheita, a palhada pode ser utilizada para silagem (Souza et al., 1990; Teixeira et al., 2001). O milho-doce é caracterizado por possuir pelo menos um dos oito genes mutantes que afetam a síntese de carboidratos no endosperma. Os principais genes são “Shrunken-2” (sh2) localizado no cromossomo 3, “Brittle” Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 (bt), no cromossomo 5, e “Sugary Enhancer” (se), “Sugary” (su) e “Brittle2” (bt2), todos no cromossomo 4. Existem ainda os genes “Dull” (du), no cromossomo 10, “Waxy” (wx), no cromossomo 9, e “Amylose Extender” (ae), no cromossomo 5. Todos podem atuar de forma simples ou em combinações duplas ou triplas (Tracy, 1994). Genótipos su1 possuem em média 30% a menos de proteína que genótipos sh2 (Goldman & Tracy, 1994). A qualidade do milho-doce é avaliada não só pelo teor de açúcar como também pela textura dos grãos. A textura uma característica determinante na aceitação e condições de processamento (Scapim et al., 1995), uma vez que todas as cultivares de milho-doce apresentam engrossamento da textura no decorrer da maturação, em maior ou menor proporção (Gama & Parentoni, 1992). Atualmente, as lavouras de milho têm alcançado altos níveis de produti- vidade. Em 2003, o milho apresentou aumento de 34% na produção, alcançando 48,3 milhões de toneladas de grãos produzidos, quase a metade (24,1 milhões de toneladas) colhida na região Sul (IBGE, 2003). Essa evolução se deve ao desenvolvimento de tecnologia em diversas áreas, incluindo o melhoramento genético. O melhoramento do milho tem conseguido aumentar não somente a produtividade, mas também inserir outras características desejáveis na planta (Parteniani, 1988), como espigas grandes, cilíndricas, bem empalhadas e bem granadas; grãos tipo dentado, de cor amarela e profundos; estigmas claro e soltos; sabugo de coloração branca e grãos com endurecimento relativamente lento, possibilitando período de colheita mais longo, sendo essas características necessárias para recomendação de cultivar para o consumo in natura (Fornasieri-Filho, 1992). Características indesejáveis do milho-doce também es283 LFG Oliveira Júnior et al. tão sendo atenuadas utilizando o melhoramento genético, como o déficit germinativo, baixa produtividade e alta susceptibilidade ao ataque de pragas e doenças (Scapim et al., 1995; Alexander & Creech 1977). A alta tecnologia que vem sendo empregada no cultivo do milho-doce, assim como sua utilização pela indústria, requer cultivares que, além de produtivas, sejam uniformes quanto à maturação, tamanho e formato de espigas (Parentoni et al., 1990). Em relação ao consumidor, as características mais exigidas são a coloração amareloalaranjada e o pericarpo mais fino, que contribui para a maciez do grão (Lemos et al., 1999). O milho é a espécie de maior diversidade genética na natureza (Bull, 1993). Isso facilita a exploração da heterose, especialmente em programas que almejem o desenvolvimento de cultivares. Existem entre outros, dois grupos heteróticos principais, denominados de duro e dentado. A maioria dos híbridos de milho pertence a tais grupos heteróticos (Fancelli & Dourado Neto, 1996). Em programas de seleção recorrente recíproca, o melhoramento ocorre simultaneamente em ambas populações, ampliando a cada ciclo, o potencial genético das populações e das linhagens derivadas e, consequentemente, dos híbridos resultantes (Eyherabide & Hallauer, 1991). O melhoramento genético do milhodoce pode ser resumido em duas ações: introdução do caráter doce (monogênico recessivo) a partir de uma fonte genética qualquer em um material de endosperma normal ou utilização de germoplasma doce em um programa de melhoramento de rotina (Parentoni et al., 1990). O método de retrocruzamento é a principal ferramenta para incorporar características monogênicas. O método se baseia em introduzir um gene de interesse, como o caráter doce, em determinado material genético superior, através de cruzamentos com a fonte do gene desejado, seguido de cruzamentos sucessivos com o parental superior. O objetivo do método é recuperar o genótipo do genitor recorrente, exceto para uma ou poucas características que o 284 melhorista procura transferir a partir do genitor doador (Borém, 2001). O objetivo deste trabalho foi obter híbridos de milho-doce (su1) de alta produtividade por meio de retrocruzamento, caracterizar morfológica e agronomicamente os híbridos e seus progenitores e obter a estimativa da heterose para os caracteres avaliados. MATERIAL E MÉTODOS Material Genético Foram utilizadas as linhagens Docede-Cuba e 43IN, obtidas do banco de germoplasma da Universidade Federal de Viçosa (UFV), e as populações Piranão-8 e Cimmyt-8, fornecidas pelo banco de germoplasma da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF). O gene mutante su1, responsável pelo sabor doce no milho foi transferido a partir das linhagens de milho-doce 43 IN e Doce-de-Cuba para as populações de milho comum Cimmyt-8 e Piranão-8. A introgressão do gene e a estabilidade foram obtidas através de cinco ciclos de retrocruzamento, em que se recuperou 98,45% do genoma recorrente. De posse dos dois conjuntos de indivíduos de milho-doce retrocruzados, realizou-se o cruzamento entre os mesmos visando à obtenção de híbridos (Tabela 1). Delineamento Experimental e Tratos Culturais Para verificar o desempenho dos híbridos obtidos, realizou-se o plantio das onze populações no mês de setembro de 2003, utilizando-se delineamento em blocos ao acaso, com duas repetições e parcelas formadas por quatro fileiras de 5 metros de comprimento cada, com espaçamento de 1,00 x 0,20 m entre linhas e plantas, respectivamente. Foram utilizados dois ambientes distintos: Colégio Agrícola Antônio Sarlo, localizado em Campos dos Goytacazes, e PESAGRO-RJ, na Ilha Barra do Pomba, em Itaocara, RJ. Campos dos Goytacazes situa-se no Norte do Estado do Rio de Janeiro, a 21º 45’ S, 41º 20’ W e 11 m de altitude (Oliveira, 1996). O clima é classificado como tropical chuvoso, de bosque (Am) com uma precipitação média anual de 1023 mm, evapotranspiração potencial de 1601 mm anuais e temperatura média anual de 23º C (Ometto, 1981). Itaocara localiza-se na Região Noroeste Fluminense, a 21º 39’ 12’’ S, 42º 04’ 36’’ W e 60 m de altitude. O clima do tipo Awi, com temperatura média anual de 22,5ºC e precipitação média anual de 1041 mm (Fontes, 2001). A semeadura foi feita manualmente, utilizando-se três sementes/cova, 0,02 m de profundidade. Utilizou-se irrigação por aspersão, duas vezes por semana, por um período de duas horas, com aspersor de 3 m3 hora-1 de lâmina d’água. Durante o ciclo das plantas, foi realizado um desbaste, 25 dias após a semeadura, deixando uma planta por cova. Para o controle de ervas daninhas utilizou-se capina e controle químico. Determinações Agronômicas Foram avaliadas as seguintes características: no. de espigas por parcela (NE), porcentagem de espigas atacadas por pragas (EAP), diâmetro da espiga (DE), diâmetro do sabugo (DS), comprimento do grão (CG), no. de fileiras de grãos (NFG), comprimento da espiga com palha (CECP), comprimento da espiga sem palha (CESP) e produtividade sem palha (PrE). As espigas foram colhidas 23 dias após a polinização. Para DE, DS, CG, NFG, CECP e CESP utilizou-se a média das cinco melhores espigas da fileira. Foram avaliadas ainda a altura de planta (AP), medida em oito plantas por parcela a partir do nível do solo até o nó da inserção do pendão; altura de inserção espiga principal (AE), medida em oito plantas por parcela a partir do nível do solo até a inserção da espiga principal; no. de plantas por fileira (NP), obtido pela contagem das plantas de cada parcela na época da colheita; no.de folhas da planta (NF), medidas em oito plantas por parcela; no. de dias para o florescimento (do plantio ao florescimento) (NDF); no. de dias para colheita (do plantio a colheita) (NDC); no. de plantas acamadas (NPA), obtido pela contagem das plantas de cada parcela e; no. de plantas quebradas (NPQ), obtido pela contagem das plantas quebradas de cada parcela. A determinação dos valores da heterose foi realizada através da comparação de cada híbrido com o valor da média dos pais e com o valor do pai mais produtivo. Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Caracterização e avaliação agronômica de híbridos e linhagens de milho doce (su1) Os resultados de todas as características foram submetidos a análise Univariada, por local e conjuntamente, e o DMS foi calculado pelo teste t de Student, a 5% de probabilidade, utilizando-se para tanto o programa estatístico SAS (SAS, 1996). Tabela 1. Caracterização de materiais de milho. Campos dos Goytacazes, UENF, 2003-2004. RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise estatística univariada mostrou não haver interação genótipo x ambiente para nenhuma característica nos experimentos instalados em Itaocara e Campos dos Goytacazes (resultados não apresentados). Portanto, foi realizada a análise conjunta dos dados. Neste trabalho não foram feitas inferências quanto aos ganhos de heterose do híbrido HDC, uma vez que a origem da linhagem PDC ainda está sob investigação. Algumas características apresentadas pela linhagem PDC a excluem do material genético selecionado para este trabalho, como, por exemplo, dias até o florescimento, em que a linhagem mostrou-se muito precoce, e altura das plantas, em que as plantas desta linhagem foram tão altas quanto plantas de materiais que não possuem o gene braquítico (br2). As linhagens de milho-doce 43IN e Doce-de-Cuba foram mais suscetíveis ao ataque de pragas quando comparadas aos demais genótipos (Tabela 2). Anteriormente, Treat & Tracy (1994) e Bordallo et al. (2005) haviam obtido resultados semelhantes. Considera-se que a maior susceptibilidade seja devido a uma maior concentração de açúcares e de outros atrativos nos grãos de milho-doce. A população Cimmyt-8 e o híbrido UENF506-8, com 28,7 e 25,7% de espigas atacadas, respectivamente, apresentaram maior resistência ao ataque de pragas por possuírem endosperma amiláceo e rústico, menos atrativo que o endosperma doce (Bordallo et al., 2005). Dois outros materiais, a linhagem C43 (22,9%) e o híbrido H43IN (22,4%) também apresentaram resistência significativa quando comparados às linhagens 43IN (60,0%) e Doce-de-Cuba (55,6%). Por outro lado, as linhagens P43 (42,0%) e PDC (35,7%), assim como a população Piranão-8 (36,6%), apresentaram um Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 1 RC: retrocruzamento. Tabela 2. Espigas atacadas por pragas (EAP), diâmetro da espiga (DE), diâmetro do sabugo (DS), comprimento do grão (CG), número de fileiras de grãos (NFG), comprimento da espiga com (CECP) e sem palha (CESP) e produtividade sem palha (PrE) de onze populações de milho. Campos dos Goytacazes, UENF, 2003-2004. H= Índice de determinação genotípica. nível apenas intermediário de resistência, o que pode significar que a população Piranão, por apresentar grãos do tipo dentado, próximo a farináceo, seja menos resistente ao ataque de pragas que as populações de grãos duros (Pereira, 2004. Comunicação pessoal). Verificouse também que a resistência tendeu a permanecer nas linhagens obtidas por retrocruzamento, demonstrando que a resistência do genitor recorrente foi recuperada após cinco ciclos do retrocruzamento. Quanto aos híbridos, além de apresentarem boa resistência ao ataque de pragas (Tabela 2), apresentaram heterobeltiose elevada, de 30,9% e 21,1% para H43IN e UENF506-8, respectivamente (Tabela 3). Os materiais genéticos que possuem o gene mutante su1 apresentaram espigas e sabugos de maior diâmetro (Tabela 2), sendo esta uma característica própria do milho-doce. Verificou-se também que para tais características, o híbrido doce não apresentou heterose, enquanto o híbrido comum apresentou heterobeltiose (3,0 e 5,7%, para diâmetro da espiga e do sabugo, respectivamente). Para o comprimento dos grãos, o híbrido doce apresentou heterobeltiose de 2,0%, enquanto o híbrido comum não apresentou heterose significativa (Tabela 3). 285 LFG Oliveira Júnior et al. Tabela 3. Estimativa da heterose (%) de cruzamentos, entre as linhagens de milho obtidas por retrocruzamento P43 e C43 e entre as populações genitores recorrentes Piranão-8 e Cimmyt-8. Campos dos Goytacazes, UENF, 2003-2004. Observou-se também dois grupos de materiais bem distintos quanto ao número de fileiras de grãos (Tabela 2). Um grupo com maior número de fileiras, composto pelas duas linhagens doadoras (43IN e Doce-de-Cuba) e outro grupo, com menor número de fileiras, composto pelos demais materiais, mostrando novamente que cinco ciclos de retrocruzamento foram suficientes para recuperar a maioria dos genes recorrentes. As características comprimento de espiga com palha (CECP) e comprimento de espiga sem palha (CESP), apresentaram efeitos de heterobeltiose (Tabela 3) para ambos os híbridos doce e comum, com efeito de 10,0% e 4,4% para CECP e CESP no híbrido H43IN, e 4,7% e 10,4% para CECP e CESP no híbrido UENF506-8. Verificou-se, tanto com palha quanto sem palha, que o milho comum apresentou maiores espigas e que os genótipos doadores apresentaram os menores comprimentos. Verificou-se o maior efeito (presença) dos genes do genótipo doador nos retrocruzados, fazendo com que eles apresentassem menor comprimento que as populações Piranão-8 e Cimmyt-8 (Tabela 2). Desta forma, pode-se caracterizar os materiais de milho-doce (43IN e Doce-de-Cuba) como aqueles de maior diâmetro de espiga e de sabugo, maior número de fileiras de grãos, menor comprimento de espigas com palha e sem 286 palha, e, para a linhagem Doce-de-Cuba, maiores grãos. Determinadas características da espiga são indispensáveis durante a comercialização de milho-verde, seja para a indústria (na forma de enlatado) ou para o consumidor (in natura), que adquire o produto com base principalmente no tamanho e qualidade das espigas (Gama et al., 1983; Viana et al., 1983). Desta forma, os produtores de milho-verde, seja milho-doce ou milho comum, procuram sempre cultivares que possuam espigas atrativas, ou seja, espigas despalhadas maiores que 15 cm de comprimento, diâmetro superior a 3 cm e isentas de pragas e doenças (Paiva Júnior et al., 2001). Por esses critério, pode-se constatar que todos os onze materiais são classificados como comerciais para comprimento e diâmetro, sobressaindo as populações de milho comum e os híbridos de milho-doce (Tabela 2). Para resistência ao ataque de pragas e doenças, o híbrido 43IN e a linhagem Doce-de-Cuba não poderiam ser recomendados. Além dos atributos comerciais, a produtividade é uma característica de extrema importância. No presente trabalho observou-se que as médias para produtividade (PrE) dos híbridos avaliados, H43IN (7,83 t ha-1) e HDC (7,62 t ha-1), apresentaram melhoras significativas em relação aos genitores doado- res (5,97 e 5,40 t ha-1 respectivamente) (Tabela 2). O híbrido H43IN expressou heterobeltiose de 21,1% sobre seus parentais (Tabela 3). Os híbridos UENF506-8 (9,05 t ha-1) e H43IN (7,83 t ha-1) foram os mais produtivos, não apresentando diferença significativa entre si (Tabela 2). O híbrido HDC foi ligeiramente inferior (7,62 t ha-1), o suficiente para diferir estatisticamente do híbrido UENF506-8, que apresentou ganho de heterobeltiose de 11,0% (Tabela 3). Segundo Borém (2001) valores de coeficiente de determinação genotípica (H) maiores que 80% indicam que os indivíduos selecionados para tais características (DE, DS, CG, NFG, CECP, CESP e PrE) possuem variabilidade devida ao genótipo, ou seja, mais de 80% da variabilidade genética é devido ao efeito predominantemente do genótipo (Tabela 2). Já para a característica de espigas atacadas por pragas essa influência não foi tão acentuada (54,5%), podendo ainda ser considerada de média influência genotípica. Com relação à altura de plantas (Tabela 4), o híbrido 43IN e a linhagem Doce-de-Cuba (186 cm e 178 cm) apresentaram altura superior aos demais materiais, o que era esperado, pois esses dois genótipos não possuem o gene braquítico (br2), responsável pela redução do porte da planta. Verificou-se, assim, que durante o retrocruzamento, o gene braquítico foi totalmente recuperado. Para o caráter altura de inserção de espiga principal (Tabela 3), os híbridos H43IN e UENF506-8 apresentaram ganho de heterose de 5,6% e 4,9%, respectivamente. O número de plantas por parcela (Tabela 4) não apresentou diferença significativa, variando de 21 a 24,7 plantas por fileira de cinco metros. O híbrido H43IN apresentou um ganho de heterobeltiose de 13,9%, enquanto que o híbrido UENF506-8 apresentou heterose de 2,1%. Com relação ao número de espigas (Tabela 4), pôde-se distinguir três grupos: o primeiro composto pelos materiais 43IN e Doce-de-Cuba com 21,2 e 20,2 espigas por fileira, respectivamente; o segundo grupo composto pelos materiais Piranão-8, Cimmyt-8 e UENF506-8 que apresentaram 33,5, Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Caracterização e avaliação agronômica de híbridos e linhagens de milho doce (su1) 34,0 e 34,0 espigas por fileira, respectivamente; e o terceiro grupo, intermediário aos dois anteriores, composto pelo restante dos materiais, onde o número de espigas por fileira variou entre 24,0 e 28,5. Em relação a esta característica, o híbrido H43IN apresentou ganho de heterobeltiose de 9,2%, enquanto o híbrido UENF506-8 apresentou heterose de 0,7% (Tabela 3). Os materiais de milho-doce 43IN e Doce-de-Cuba, por não possuírem gene braquítico, são de maior porte e apresentam maior espaçamento entre os internódios. Consequentemente, possuem menor quantidade de folhas por planta (Tabela 4). Em relação a esta característica, observou-se a formação de dois grupos bem distintos, um composto pelos materiais de milho-doce e, o outro, pelos demais materiais, portadores do gene braquítico. O número de dias para o florescimento e número de dias para colheita (Tabela 4) praticamente não diferiram entre os materiais avaliados, com exceção da linhagem PDC, cuja procedência não é totalmente esclarecida. Os materiais avaliados não diferiram entre si em relação ao número de plantas acamadas e de plantas quebradas (Tabela 4). Observando as características altura de plantas, altura de espigas, número de espigas, número de folhas, número de dias para o florescimento e número de dias para a colheita verificou-se que o índice de determinação genotípica, H, apresentou forte influência do genótipo, superior a 84% (Tabela 4). Já para a característica de número de plantas, número de plantas acamadas e número de plantas quebradas a influência genotípica foi menor. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a FAPERJ (Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) pelo auxílio financeiro concedido; a E.E. da PESAGRO-RJ (Itaocara) e ao Colégio Agrícola Antônio Sarlo (Campos dos Goytacazes), pela oportunidade de implementar os experimentos de campo, e ao técnico agrícola Geraldo Francisco de Carvalho, pelo auxílio em toHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Tabela 4. Altura de planta (AP), altura de inserção de espiga principal (AE), número de plantas por parcela (NP), número de espigas (NE), número de folhas (NF), número de dias para o florescimento (NDF), número de dias para colheita (NDC), número de plantas acamadas (NPA) e número de plantas quebradas (NPQ) de onze populações de milho. Campos dos Goytacazes, UENF, 2003-2004. H= Indice de determinação genotípica das as etapas do experimento. 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Schultz-Bip.] é uma planta medicinal fortemente aromática, cujo princípio ativo característico é a lactona sesquiterpênica partenolídeo. Entre os fatores que afetam o cultivo das plantas medicinais destaca-se a irradiância luminosa. O presente trabalho teve por objetivo verificar efeitos de três níveis de irradiância luminosa (730, 523 e 382 µmol de fótons m-2 s-1) na altura, área foliar, número de folhas, teor de açúcares, de amido e de partenolídeo em artemísia. As plantas cresceram a pleno sol e com 30 e 50% de redução na irradiância por 105 dias. A redução na irradiância foi obtida por meio de sombreamento artificial, com a utilização de telas de polietileno pretas. A redução na irradiância incidente causou aumento na altura e na área foliar total de cada planta, mas não alterou o número de folhas. Houve diminuição nos teores de açúcares e de amido em função do sombreamento, mas os teores de partenolídeo não foram alterados significativamente. Growth and metabolism of feverfew plants in response to the irradiance level Palavras-chave: Tanacetum parthenium, sombreamento, plantas medicinais, açúcares solúveis, amido, partenolídeo. Keywords: Tanacetum parthenium, shadowing, medicinal plants, soluble sugars, starch, parthenolide. Feverfew [Tanacetum parthenium (L.) Schultz-Bip.] is a strongly aromatic medicinal plant, whose active principle is the sesquiterpene lactone parthenolide. Irradiance ranks among the most important factors that affect growth of medicinal plants. The effect of three irradiance levels (730, 523 and 382 µmol of fotons m-2 s-1) were assessed on feverfew plants height, leaf area, and leaf number, as well as on the contents of sugar, starch, and parthenolide. Plants grew on full sunshine and under 30 and 50% of irradiance reduction, for 105 days. Irradiance was controlled by shadowing plants with a black polyethylene screen. Reduction on irradiance increased plant height and total leaf area, but had no effect on leaf number. A reduction in sugar and starch contents in association with shadowing was observed. Nevertheless, shadowing did not affect significantly the parthenolide content. (Recebido para publicação em 23 de fevereiro de 2005; aceito em 29 de agosto de 2006) N as últimas décadas têm-se testemunhado o retorno ao uso de plantas medicinais e seus derivados, em função dos altos preços dos medicamentos quimio-sintéticos e da busca por uma vida mais saudável. A artemísia ou artemigem, Tanacetum parthenium (L.) Schultz.-Bip., é uma planta fortemente aromática, que nos últimos 20 anos, tem recebido considerável atenção, em razão de suas propriedades profiláticas com respeito à freqüência e severidade dos ataques de enxaqueca (Hewlett et al., 1996; Weber et al., 1997). O constituinte químico característico e responsável pelo seu efeito terapêutico é o partenolídeo, uma lactona sesquiterpênica, presente na parte aérea dessas plantas (Bohlmann & Zdero, 1982; Begley et al., 1989; Rey et al., 1992; Hendriks et al., 1996; Hewlett et al., 1996; Brown et al., 1997). A demanda crescente por plantas medicinais torna o cultivo cada dia mais 1 importante. Na produção de plantas medicinais há aspectos intrínsecos, ambientais e técnicos que influem na área cultivada e, consequentemente, na produção de metabólitos pela planta e na utilização destes na elaboração de princípios ativos (Ming, 1994). A luz como fonte primária de energia é um dos principais fatores, relacionados à produtividade fotossintética, a ser considerado. As respostas das plantas à redução da intensidade luminosa são muitas e variadas. Essencialmente há duas estratégias para enfrentar a condição de sombreamento: alterar o processo de crescimento e desenvolvimento e, assim, evitar o sombreamento, ou tolerar e manter o padrão de crescimento (Smith & Whitelam, 1997). Em geral, a baixa intensidade de luz resulta em diminuição na taxa de fotossíntese, na biomassa e na produção, podendo ainda afetar o transporte de fotoassimilados e a relação fonte:dreno (Souza et al., 1999). No entanto, a plasticidade adaptativa das espécies vegetais à radiação solar depende do ajuste do aparato fotossintético, a fim de possibilitar conversão altamente eficiente de energia radiante em carboidratos e consequentemente promover maior crescimento (Alvarenga et al., 2003). Este trabalho teve por finalidade verificar os efeitos de três níveis de irradiância luminosa na altura, área foliar, número de folhas, teor de açúcares solúveis, de amido e de partenolídeo em plantas de artemísia. MATERIAL E MÉTODOS Plantas de artemísia, Tanacetum parthenium (L.) Schultz.-Bip, foram obtidas de sementes cedidas pelo Grupo Entre Folhas, localizado em Viçosa, MG. Aproximadamente dois meses após semeadura em bandejas de isopor, plan- Trabalho executado com apoio do CNPq, como parte de tese de doutoramento em fitotecnia na Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG. Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 289 LM Carvalho et al. tas com cerca de 0,11 m e com 15 folhas, em média, foram plantadas em vasos de dez litros, preenchidos com substrato constituído por terra:areia:esterco bovino decomposto, na respectiva proporção de 3:2:1. Amostras do substrato dos vasos foram analisadas na Universidade Federal de Viçosa (UFV), resultando em boa disponibilidade de bases trocáveis (valor de soma de bases, SB= 6,02 cmol dm-3 e de saturação de bases, V= 78%) e ótima disponibilidade de fósforo (268 mg dm-3). O experimento foi conduzido no viveiro de plantas ornamentais da UFV, em Viçosa (20° 45’S, 650 m de altitude), segundo esquema de parcelas subdivididas, tendo nas parcelas três níveis de irradiância luminosa incidente (730, 523 e 382 µmol de fótons m-2 s-1, em média), que corresponderam à exposição da planta a pleno sol e a 30 e 50% de sombreamento. O sombreamento foi obtido com tela plástica de polietileno preta. Nas subparcelas foram alocadas seis épocas de colheita (30, 45, 60, 75, 90 e 105 dias após início do sombreamento das plantas). O delineamento utilizado foi blocos ao acaso, com quatro repetições, sendo cada parcela constituída por seis vasos e, cada subparcela, por um vaso. As épocas de colheita da parte aérea das plantas foram determinadas a partir dos resultados de Hendriks et al. (1997) e de Figueiredo (1998) com plantas de artemísia, considerando que o estádio de desenvolvimento das plantas poderia afetar não só o crescimento, mas também os teores de partenolídeo e de açúcares solúveis e insolúveis disponíveis na parte aérea. As plantas foram secas à temperatura ambiente e a umidade do ar foi mantida em torno de 50% (câmara seca), por meio de desumidificador comercial, com capacidade de 18 L dia-1 em 280 m3, circulação 600 m3 hora-1, motor 390 watts e 110 volts, durante cerca de 20 dias. O crescimento das plantas foi monitorado por meio de medições periódicas da altura média das plantas, número de folhas e da área foliar total de cada planta. As primeiras medições foram realizadas no dia em que implementou-se o regime de sombreamento, denominado dia zero. 290 Na determinação da área foliar utilizou-se análise de regressão múltipla para estimar a equação (Y= 4,46065+1,15393C - 0,0241692C 2 5,03714L+0,701271L 2+0,192815CL, cujo coeficiente de determinação foi r2= 0,9169) que mais se ajustasse aos dados. Para isso, antes de iniciar o experimento propriamente dito, foram feitas medições de comprimento e maior largura das lâminas foliares maiores e de dimensão média em cerca de doze plantas de artemísia, em três estádios de desenvolvimento. As medidas foram tomadas utilizando-se régua milimetrada. A área destas mesmas lâminas foliares foi avaliada por meio do medidor de área foliar portátil Li-cor, modelo 3000. Posteriormente, no decorrer do período experimental, foi possível estimar, em cada época de colheita, a área da folha maior e da folha de dimensão média, sem precisar retirá-las das plantas, por meio da equação de regressão obtida e de medidas de comprimento (C) e largura (L) máximas dessas lâminas foliares. A área foliar total foi, em seguida, estimada multiplicando-se a área foliar média de cada planta pelo número de folhas (Figueiredo, 1998; Carvalho, 2001). Em todas as épocas determinou-se o teor de açúcares solúveis totais, redutores, não redutores e de amido nas folhas do terço superior das plantas. A determinação de açúcares e amido foi feita a partir de amostras foliares de 300 mg retiradas das folhas expandidas do 2o. e 3o. nó a partir do ápice (Carvalho, 2001), segundo procedimento adotado por Gomes (2000). A determinação do teor de açúcares solúveis totais foi realizada com alíquotas desse extrato e reação com antrona (Hodge & Hodfreiter, 1962). O teor de açúcares redutores foi determinado conforme metodologia descrita por Nelson (1944) e adaptada por Somogy (1952). O teor de açúcares nãoredutores foi estimado por meio da diferença entre o teor de açúcares solúveis totais e o de açúcares solúveis redutores. Na extração de amido foi utilizado o resíduo proveniente da extração de açúcares solúveis totais, ressuspendido em 5,75 mL de ácido perclórico a 30% e mantido em repouso por 30 minutos, com agitações ocasionais. A suspensão foi, então, centrifugada a 3000 x g du- rante dez minutos. Esse procedimento foi repetido por mais duas vezes, sendo o precipitado descartado e os sobrenadantes combinados. O volume final foi ajustado com água destilada para 50 mL. A determinação do teor de amido foi feita em alíquota do extrato, por meio da reação com antrona (McCready et al., 1950, citado por Gomes, 2000). A extração do partenolídeo, a partir da parte aérea das plantas (folhas, botões florais e inflorescências), foi realizada de acordo com método descrito por Brown et al. (1997; 1999), com adaptações de Carvalho (2001). Após moagem de folhas e inflorescências, amostras de 200 mg da parte aérea das plantas foram homogeneizadas em clorofórmio e em seguida, submetidas a banho-maria com ultra-som, por 15 minutos, para extração do partenolídeo. Posteriormente, esse extrato foi filtrado e levado ao evaporador rotativo a 38°C, para eliminação do solvente. As condições de determinação do teor de partenolídeo em cada amostra foram similares às descritas por Hendriks et al. (1997). Os extratos foram analisados por cromatografia gasosa, utilizando-se aparelho Shimadzu, modelo GC - 17A, equipado com detector de ionização de chama, acoplado a registrador e integrador C-R6A Cromatopac. A coluna utilizada foi a capilar SBP-5 (Supelco), com 30 m de comprimento por 0,25 mm de diâmetro interno e filme com espessura de 0,25µm. O gás carreador foi o nitrogênio. As temperaturas utilizadas no injetor (270oC) e no detector (300oC) foram definidas em testes preliminares. A temperatura da coluna durante a extração aumentou de 220 a 250oC, com isoterma de dez minutos em 250oC. As amostras do extrato foram precisamente pesadas (10 mg) e diluídas em clorofórmio, sendo injetado 1 µL. Nas alíquotas (1 µL) do extrato total, o teor de partenolídeo foi quantificado por referência com curva-padrão. O teor de partenolídeo nas amostras foi expresso por planta individual, em relação a massa seca da parte aérea (em miligrama) e em porcentagem (m/m) de massa seca. Os dados obtidos foram analisados utilizando-se técnica de superfície de Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Crescimento e metabolismo em artemísia em função do nível de irradiância resposta. Os modelos foram escolhidos baseando-se na significância do teste t, a 5% de probabilidade, e no coeficiente de determinação. RESULTADOS E DISCUSSÃO A redução na irradiância causou aumento na altura média das plantas de artemísia, em função do tempo após início do sombreamento. Enquanto as plantas crescidas por 105 dias em ambiente com 30 ou 50% de sombreamento alcançaram, em média, 0,92 m e 1,06 m, respectivamente (Figura 1a), as plantas mantidas a pleno sol atingiram cerca de 0,76 m de altura. Portanto, considerando-se as médias obtidas no nível de maior irradiância como referência, houve aumento em torno de 21 e 39%, respectivamente, na altura média das plantas crescidas a 30 e 50% de sombreamento. Apesar das reações ao sombreamento serem diversas, o estímulo no crescimento em altura é uma das respostas mais características e rápidas ao sombreamento (Morelli & Ruberti, 2000). Essencialmente, as plantas são capazes de evitar ou tolerar o sombreamento. As espécies que respondem ao sombreamento com maior crescimento em altura são capazes de escapar às alterações mais prejudiciais causadas pelo sombreamento (Taiz & Zeiger, 1998; Morelli & Ruberti, 2000). Esse é o caso da sálvia (Salvia officinalis) e do tomilho (Thymus vulgaris) que, à semelhança da artemísia, tiveram maior crescimento em altura quando submetidos a sombreamento (Li et al., 1996). O número de folhas nas plantas de artemísia não foi modificado em função do nível de irradiância. No entanto, a área foliar total de cada planta (Figura 1b) variou, sendo maior nas plantas crescidas nos menores níveis de irradiância. O valor máximo de área foliar (1,14 m2), estimado fixando-se o nível de irradiância, foi alcançado 64 dias após início do sombreamento, pelas plantas submetidas a 50% de redução de irradiância. Nesse mesmo dia, as plantas crescidas a 30% de sombreamento alcançaram área foliar de 1,04 m2 e, as que se desenvolveram a pleno sol, 0,89 m2. Assim, adotando como referência a Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Figura 1. Altura (a) e área foliar total por planta (b) de artemísia, em função do tempo e da intensidade de sombreamento. Viçosa, UFV, 2006. média de área foliar das plantas crescidas a pleno sol, as plantas crescidas com 50% de sombreamento tiveram, 64 dias após o início do sombreamento, incremento de 28% e 39% em área foliar e altura respectivamente. Plantas de trigo, de pitanga, de Croton urucurana Baill e da invasora Ischaemum rugosum tiveram maior área foliar quando cresceram sob sombreamento artificial (Friend & Pomeroy, 1970; Marenco & Reis, 1998; Scalon et al., 2001; Alvarenga et al., 2003). O aumento da área foliar decorre de ampliação da superfície fotossintetizante na planta visando maximização da absorção luminosa (Scalon et al., 2001). Em geral, folhas sombreadas podem ter área superficial 20 a 80% maior do que folhas crescidas ao sol (Nobel, 1991). A redução no nível de radiação incidente induziu as plantas a investirem maior proporção dos seus recursos no cresci- mento em altura e em área foliar. O aumento na área foliar total pode decorrer tanto de aumento na expansão celular, quanto de aumento no número de divisões celulares ao longo da lâmina foliar (Friend & Pomeroy, 1970). A redução na área foliar total das plantas, verificada nas últimas épocas de colheita, provavelmente ocorreu devido tanto à perda das folhas senescentes (folhas mais basais), quanto à redução nas dimensões das folhas. Isto porque a metodologia de área foliar total por planta considerou não apenas o número de folhas em cada planta, mas também a dimensão. A redução na irradiância luminosa incidente nas plantas de artemísia não alterou significativamente o acúmulo de massa fresca e seca da planta inteira (dados não apresentados), apesar de ter causado aumento significativo na altura e na área foliar total de cada planta (Fi291 LM Carvalho et al. Figura 2. Teor de açúcares solúveis redutores (a), não-redutores (b), totais (c) e de amido, em miligrama por grama de massa fresca (mg g-1 MF), nas folhas expandidas do 2o. e 3o. nós das plantas de artemísia, em função do tempo e da intensidade de sombreamento. Viçosa, UFV, 2006. gura 1) e diminuição no teor de açúcares solúveis e totais das folhas (Figura 2). Diminuição nos teores de açúcares solúveis e de amido ocorrem em decorrência de reduções na taxa fotossintética (Kasperbauer, 1994; Dubey & Pessarakli, 1995). Os teores de açúcares solúveis redutores, não-redutores, totais e de amido foram maiores nas plantas mantidas a pleno sol durante todo seu desenvolvimento (Figura 2). Fixando-se o nível de irradiância, verificou-se maior teor de açúcares solúveis totais (Figura 2c) 73 dias após início do experimento nas plantas a pleno sol (145,3 mg de açúcar por grama de massa fresca). Nesta mesma data, as plantas crescidas em 30% de sombreamento tiveram 96,6 mg e, as crescidas a 50%, tiveram 95,2 mg de açúcar por grama de massa fresca. Da mesma forma, maior teor de açúcares redutores, monossacarídeos simples como a glicose (Figura 2a), e de açúcares não-redutores (Figura 2b), como a sacarose, principal forma transportável 292 de açúcar, ocorreu nas plantas crescidas a pleno sol. O teor máximo de açúcares não redutores (Figura 2b) ocorreu 79 dias após início do experimento, nas plantas crescidas a pleno sol (120,9 mg g-1 de massa fresca). Nesta mesma data, plantas submetidas a 30% e 50% de sombreamento apresentaram, respectivamente, 74,9 mg e 74,0 mg g-1 de massa fresca. A redução no teor de açúcares solúveis totais, em função do sombreamento das plantas, deveu-se mais a reduções no acúmulo de açúcares não-redutores (em torno de 38%), do que a reduções no acúmulo de açúcares redutores (em torno de 3%). Portanto, provavelmente, o sombreamento prejudicou mais a partição de fotoassimilados do que a capacidade fotossintética dessas folhas. Marenco & Reis (1998) verificaram alteração na relação fonte:dreno de plantas de Ischaemum rugosum, invasora de plantios de arroz, sendo que em condições de irradiância mais altas, as raízes foram os drenos preferenciais, enquanto com al- tos níveis de sombreamento, as folhas assumiram este papel. O teor de amido (Figura 2d) também foi máximo nas plantas a pleno sol. Cerca de 78 dias após início do experimento, as plantas que cresceram sem sombreamento continham cerca de 63,3 mg de amido por grama de massa fresca, enquanto aquelas crescidas em 30% e 50% de sombreamento, continham, respectivamente, 50,3 mg e 56 mg× g-1 de massa fresca. Tanto a síntese de sacarose e de amido, quanto a alocação de carbono dentro da planta têm padrões distintos, mas podem mudar rapidamente se as condições ambientais são alteradas (Dickson, 1991). Há marcante redirecionamento do fluxo de fotoassimilados dos órgãos fonte e dos sítios de armazenamento em direção ao crescimento em altura nas plantas capazes de evitar a sombra (Smith & Whitelam, 1997), o que parece ter acontecido, uma vez que houve incremento na altura e atraso na emissão de botões florais (dados não apresentados). Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Crescimento e metabolismo em artemísia em função do nível de irradiância O teor de partenolídeo por planta individual não foi alterado significativamente em função dos níveis de irradiância. Na Figura 3 verifica-se que o padrão básico de alteração no teor de partenolídeo, em função do tempo de sombreamento foi semelhante nas três condições de irradiância estudadas, com dois picos máximos de acúmulo de partenolídeo, seguidos por declínio. Resultados similares foram obtidos com óleo essencial em salsa (Porter, 1989). Considerando 100 g de massa seca de artemísia, obteve-se, por volta dos 45 dias após início do experimento, nas plantas crescidas a pleno sol, valores máximos de partenolídeo (Figura 3a) quando a área foliar total estava próxima do seu máximo (Figura 1b). Em seguida houve declínio nesses valores. O segundo pico de aumento no teor de partenolídeo, de menores proporções, ocorreu por volta dos 90 dias após início do experimento, coincidindo com o início do florescimento. Analisando-se os efeitos do sombreamento na porcentagem de partenolídeo (Figura 3a), verificou-se valor máximo em torno de 1,5% nas plantas crescidas sob 30% de sombreamento, enquanto nas plantas mantidas a pleno sol o teor de partenolídeo no início do desenvolvimento chegou a 1,98%, decrescendo, no entanto, com o tempo em dias. Este valor é maior do que o relatado até aqui nessa espécie (Hendricks et al.,1997; Brown et al., 1997). Além disso, nas plantas crescidas sombreadas, houve menor variação no teor de partenolídeo (Figura 3 a e b) durante o crescimento: a análise da declividade das linhas de tendência indica que enquanto o teor de partenolídeo nas plantas a pleno sol diminuiu a cada dia em 0,0129%, nas plantas submetidas a 30 e 50% de sombreamento essa redução foi de, respectivamente, 0,0054% e 0,0005%. O papel da intensidade luminosa na síntese de princípios ativos ainda não está bem definido. As poucas informações disponíveis concentram-se no efeito da luz sobre a síntese de óleos essenciais. Similarmente ao observado nas plantas de artemísia 30 dias após início do experimento, Li et al. (1996) obtiveram decréscimos no teor de óleo quando plantas de tomilho (Thymus vulgaris) cresceram sombreadas. Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Figura 3. Teor de partenolídeo, em porcentagem (a) e em miligrama por grama (b) de plantas de artemísia secas, em função do tempo e da intensidade de sombreamento. Viçosa, UFV, 2006. Concluiu-se que, independente do nível de irradiância luminosa incidente, a artemísia, mesmo após o florescimento, continuou com o crescimento em altura até o final do período monitorado. Além disso, os teores de fotoasssimilados solúveis (açúcares redutores, não-redutores e totais), assim como o teor de amido, foram menores nas submetidas ao sombreamento, que tiveram, no mesmo período, maior investimento no crescimento em altura e em área foliar total. Não foi observado efeito significativo do sombreamento sobre os teores de partenolídeos nas plantas estudadas. REFERÊNCIAS ALVARENGA AA; CASTRO EM; LIMA JUNIOR EC; MAGALHÃES M. 2003. / Croton urucurana Baill in southeastern Brazil. Revista Árvore 27: 1-7. BEGLEY MJ; HEWLETT MJ; KNIGHT DW. 1989. Revised structures for guaianolide amethylenebutyrolactones from feverfew. Phytochemistry 28: 940-943. BOHLMANN F; ZDERO C.1982. Sesquiterpene lactones and other constituents from Tanacetum parthenium. 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Produção hidropônica de alface em solução nutritiva com e sem silício. Horticultura Brasileira 24: 295-300. Produção hidropônica de alface em solução nutritiva com e sem silício José Magno Q Luz; Silése T M R Guimarães; Gaspar Henrique Korndörfer 1 UFU-Instituto de Ciências Agrárias, C. Postal 593, 38400-783 Uberlândia-MG; [email protected] RESUMO ABSTRACT Avaliou-se o efeito do silício sobre o desempenho de nove cultivares de alface cultivadas em solução nutritiva no sistema hidropônico NFT. O experimento foi conduzido em ambiente protegido, durante os meses de março a maio de 2003. O delineamento experimental foi o de blocos casualizados em esquema fatorial 9x2, com três repetições, com os fatores: nove cultivares de alface (Vera, Verônica, Elisa, Regina, Aurélia, Tainá, Lucy Brown, Uberlândia10000 e Mimosa Salad Bowl); e duas soluções nutritivas, uma contendo silício - 1,5 mmol L-1 e outra sem silício. A fonte de silício utilizada foi a sílica gel de origem japonesa, com 20% de SiO2 e 80% de H2O. As características analisadas foram: diâmetro da cabeça, massa seca e fresca de parte aérea e de raiz e, concentração de silício nas folhas e raízes. As plantas de alface que receberam silício apresentaram um menor tamanho quando comparadas às plantas cultivadas em solução sem silício, apesar de, em ambos os casos, terem alcançado tamanho comercial. As plantas tratadas com silício apresentaram menor incidência da anomalia fisiológica queima dos bordos. Dessa forma o silício pode ser uma alternativa viável para produção hidropônica de alface, principalmente quando se leva em consideração as novas tendências de mercado por produtos menores e com boa aparência. Hidroponic production of lettuce in hidroponic solution with or without silicon Palavras-chave: Lactuca sativa, sílica gel, nutrição de plantas, hidroponia. The effect of silicon was evaluated on the performance of nine lettuce cvs, cultivated in the nutritive solution in hidroponic system NFT. The experiment was conducted in protected cultivation, from March to May 2003. The randomized complete blocks design 9x2 was used, with three replications. Two factors were studied: nine lettuce cultivar (Vera, Verônica, Elisa, Regina, Aurélia, Tainá, Lucy Brown, Uberlândia-10000 and Mimosa), and presence (1,5 mmol L-1) or absence of silicon (japanese “silica gel”) in the nutritive solution with 20% of SiO2 and 80% of H2O. The head diameter, weight of dry and fresh matter of head and roots, the concentration of silicon in leaves and roots were analyzed. The lettuce plants which received silicon presented a lower weight in comparison to the ones cultivated in solution without silicon, although both reached commercial weight. The lettuce treated with silicon presented lower incidence of physiological anomalies such as tip burn. Therefore, the silicon may be a reliable alternative for hydroponics production of lettuce mainly when considering the new market tendencies for products with better appearance. Keywords: Lactuca sativa, gel silica, plant nutrition, hydroponics. (Recebido para publicação em 22 de agosto de 2005; aceito em 30 de agosto de 2006) O cultivo hidropônico de plantas no Brasil tem crescido nos últimos anos. No entanto, a sua técnica é pouco conhecida por parte dos agricultores tradicionais, o que gera apreensão e insegurança em adotar este sistema de produção. Porém, buscando atender a um mercado cada vez mais exigente em qualidade, a hidroponia se apresenta como uma técnica bastante promissora, devido as suas principais vantagens: controle no uso de nutrientes; antecipação da colheita; homogeneidade de oferta e qualidade dos produtos durante todo o ano; ausência de necessidades de rotação de culturas, permitindo ao produtor um altíssimo nível de especialização; menor incidência de pragas e doenças; menor utilização de mão-de-obra e racionalização do uso da energia. As desvantagens deste sistema são: custo inicial de implantação elevado, exige alto grau de tecnologia e acompanhamento permanente do sistema, dependência de Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 energia elétrica ou de sistema alternativo, e a fácil disseminação de patógenos através da própria solução nutritiva (Faquim & Furlani, 1999). A alface (Lactuca sativa L.), é considerada a hortaliça folhosa mais importante na alimentação do brasileiro e, juntamente com o tomate é a hortaliça preferida para as saladas por ser refrescante, de sabor agradável e de fácil preparo, o que assegura à cultura expressiva importância econômica. No Brasil são plantados seis grupos de cultivares de alface, sendo: grupo Americana com folhas que formam uma cabeça, semelhante ao repolho, com os bordos das folhas crespas (ex.: cultivares Tainá e Lucy Brown); Repolhuda-Manteiga, semelhante ao anterior, mas com os bordos das folhas lisas (ex.: cultivares Elisa e Aurélia); grupo Solta-Lisa que são alfaces que não formam uma cabeça e possuem os bordos das folhas lisas (ex.: cultivares Regina e Uberlândia-10000); Solta-Crespa que são alfaces semelhantes ao grupo anterior, mas possuem os bordos das folhas crespas (ex.: cultivares Vera e Verônica)- é o que mais cresceu o plantio no Brasil, correspondendo hoje a 70% do mercado; existem ainda o grupo Mimosa, que são alfaces com folhas bem recortadas (ex.: cultivar Salad Bowl) e o grupo Romana, sendo estes dois últimos com menor importância econômica (Filgueira, 2003). Recentemente, tem crescido o cultivo desta hortaliça em sistema hidropônico no Brasil, principalmente de cultivares do grupo Solta-Crespa. Esta técnica está sendo utilizada pelos produtores como forma da agregação de valor ao produto e viabilização do negócio (Costa & Junqueira, 2000). Segundo Bliska Jr. & Honório (1995), a hidroponia reduz em cerca de dez dias o período de colheita da alface, devido à possibilidade do perfeito controle das condições de umidade e temperatura dentro da estufa. 295 JMQ Luz et al. Ainda podem ser citadas as reduções no uso de agrotóxicos, quando comparados com o cultivo tradicional, a possibilidade de um excelente plano de escalonamento de produção e uma melhor padronização dos produtos. Um aspecto fundamental para o cultivo hidropônico é a escolha da solução nutritiva, que deve ser formulada de acordo com o requerimento nutricional da espécie que se deseja produzir, ou seja, todos os elementos essenciais para o seu crescimento em proporções adequadas. No entanto são poucas as informações sobre a melhor solução. Alternativas de novas formulações vêm sendo estudadas, inclusive com silício, que demonstra um potencial na redução de doenças e anomalias fisiológicas como, por exemplo, queima dos bordos em alface. Korndorfer et al. (2002) demonstraram que o silício é capaz de aumentar a resistência das plantas aos ataques de insetos, nematóides, bactérias e fungos na melhoria do estado nutricional, na redução da transpiração e possivelmente também em alguns aspectos da eficiência fotossintética (Korndorfer et al., 2002). Em alface, a sílica solúvel como fonte de silício, tem sido pouco estudada, entretanto inúmeros trabalhos têm demonstrado o efeito benéfico da sua utilização em diversas outras culturas (Barbosa Filho et al., 2001). Voogt & Sonneveld (2001), usando silício em solução nutritiva com e sem silício no cultivo de alface, verificaram que a presença de silício diminuiu significativamente os sintomas de toxidez de manganês, que se caracteriza por manchas escuras nas margens das folhas mais velhas da alface. No entanto, os autores verificaram que a absorção de Si na alface foi pequena, e o conteúdo de Si nas plantas que receberam o tratamento foi pouco maior em comparação as do tratamento sem Si. Em alface as doenças de maior incidência em hidroponia são míldio (Bremia lactuca), podridão de raízes por Pythium, podridão por esclerotínia (Sclerotinia sclerotiorum), septoriose (Septoria lactucae) e o vírus vira-cabeça, transmitido por tripes. Estas doenças podem ser atenuadas por uma série e medidas de caráter preventivo, tais como: utilização de sementes sadias, limpeza e desinfecção do sistema 296 hidropônico, e fertilização com solução nutritiva adequada, e nesta última medida é que o silício pode ser benéfico. Vale ressaltar que as principais cultivares plantadas, incluindo as utilizadas neste trabalho, não possuem resistência para as estas doenças, bem como para o distúrbio fisiológico queima dos bordos. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do silício sobre o desempenho de nove cultivares de alface cultivadas em solução nutritiva no sistema hidropônico NFT (Nutrient Film Technique). MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Universidade Federal de Uberlândia, Campus Umuarama, durante os meses de março a maio de 2003, em estufa tipo túnel alto, em 2 bancadas de cultivo com 8,75 m de comprimento cada uma, com nove perfis médios de polipropileno (100 mm) para cultivo hidropônico com espaçamento de 18 cm entre perfis e 25cm entre orifícios. Cada perfil foi abastecido por um reservatório plástico de 1000 litros ao qual foi conectado uma bomba de 1 CV. Os reservatórios estavam enterrados com o objetivo de evitar o aquecimento da solução nutritiva. O sistema hidropônico adotado foi o NFT. O delineamento experimental foi o de blocos casualizados em esquema fatorial 9x2, com três repetições, sendo nove cultivares de alface (Vera, Verônica, Elisa, Regina, Aurélia, Tainá, Lucy Brown, Uberlândia-10000 ou UDIA 10000 e Mimosa Salad Bowl) e duas soluções nutritivas, sendo uma contendo silício - 1,5 mmol L-1 e outra sem silício. A fonte de silício utilizada foi a sílica gel de origem japonesa com 20% de SiO2 e 80% de H2O, e a solução nutritiva foi a proposta por Furlani et al. (1999). Os blocos foram dispostos de acordo com a posição da planta no perfil hidropônico (posição superior - entrada do perfil, posição mediana e posição inferior – saída do perfil). A parcela foi composta por 11 plantas em cada canal, na posição superior (bloco I) e por 12 plantas em cada canal na posição mediana (bloco II) e inferior (bloco III). Para o desenvolvimento das mudas de alface foram utilizadas placas de es- puma fenólica com dimensões de 2,5x2,5x3,0 cm por célula, que foram enxaguadas com água corrente, com o objetivo de eliminar possíveis compostos ácidos remanescentes de sua fabricação. Metade das placas foram umedecidas com solução nutritiva, diluída em 50% e a outra metade com a mesma solução nutritiva mais 1,5 mmol L-1 de silício. As mudas foram mantidas em uma estrutura coberta com tela de 50% de sombreamento por 18 dias. Em seguida as plântulas obtidas foram transferidas para duas bancadas de desenvolvimento (berçário) que continha quinze perfis de polipropileno pequeno (50 mm) espaçadas de 10 cm entre si e com 10 cm entre orifícios. Em uma bancada ficaram as plântulas que recebiam solução nutritiva diluída em 50% com silício, e passaram a receber a solução não mais diluída, mas também com silício (sílica gel 1,5 mmol L-1 de silício), e na outra bancada ficaram as plântulas que recebiam solução nutritiva diluída em 50% sem silício, e passaram a receber a solução não mais diluída, também sem silício. A circulação da solução nutritiva nos perfis foi controlada por um temporizador “timer” programado para durante o dia (de 6 h às 18 h) permanecer ligado 15 min e desligado 15 min, e às 24 h era ligado por 15 min, com um fluxo de solução de 1,0 litro por min. As mudas permaneceram no berçário por um período de 12 dias, sendo então transferidas para duas bancadas de crescimento e submetidas à irrigação com a mesma solução nutritiva, com ou sem silício, sob o mesmo regime de circulação da solução. Foi feito sorteio para cada variedade no momento da transferência para o perfil de crescimento em relação às posições: inicial, mediana e final do perfil. A solução nutritiva foi preparada a partir da água da rede urbana (Departamento Municipal de Águas e Esgotos de Uberlândia - DMAE), a qual foi analisada pelo Instituto de Química da Universidade Federal de Uberlândia – UFU, estando de acordo com as especificações de Martinez (1997). Este recomenda que ao se usar água da rede urbana, é conveniente deixá-la em repouso por cerca de 24 horas para eliminação do cloro Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Produção hidropônica de alface em solução nutritiva com e sem silício usado em seu tratamento. Para tanto foi instalado um reservatório com capacidade de 1000 litros. Para o preparo de 1000 litros da solução nutritiva proposta por Furlani et al. (1999), foi utilizado um kit comercial para hidroponia, denominado kit básico (Tabela 1). Todos os reagentes com exceção das fontes de micronutrientes, que já vêm na forma líquida pronta para o uso, foram dissolvidos separadamente em um balde, antes de serem adicionados ao reservatório de 1000 L. Esse cuidado foi tomado para se evitar uma reação prévia entres os reagentes, que poderia ocasionar a formação de precipitados. No momento da transferência das plantas para os perfis de 100mm, foram ajustados a condutividade elétrica (CE) e o pH das duas soluções. O manejo da solução nutritiva foi realizado diariamente através da reposição da água consumida; do acompanhamento da condutividade elétrica, que foi mantida em uma faixa de 1,8 a 2,0 mS cm-1 e da correção do pH, que foi realizada diariamente com uma solução de NaOH 1mol L-1 e HCL 10%, mantendo-o entre 5,5 a 6,5. O ajuste da CE foi efetuado todas as vezes que esta baixasse de 25% em relação a CE inicial, ou seja todas as vezes que a CE diminuísse 0,25 mS cm-1 era adicionado a mesma 1 L da solução A e 1 L da solução B, e uma vez por semana se adicionava 50 ml/1000 da solução C (micronutrientes), soluções estas propostas por Furlani et al. (1999) (Tabela 2). Quando todas as plantas atingiram o tamanho comercial, foi feita a colheita das duas plantas centrais de cada parcela e avaliação das características: diâmetro da cabeça, massa fresca da parte aérea e de raiz e, teores de silício nas folhas e raízes. Em seguida as medições das massas frescas e do diâmetro da cabeça, as plantas foram submetidas a uma pré-secagem dentro da casa de vegetação por 24 horas (ponto de murcha) e a uma secagem em estufa a 65° C até atingir massa constante para avaliação das massas secas de raiz e de parte aérea, o que ocorreu após 72 horas de secagem. Após a avaliação das massas secas, essas amostras foram moídas para a reaHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Tabela 1. Quantidade de sais para o preparo de 1000 litros de solução nutritiva (Furlani et al., 1999) UFU, Uberlândia, 2004. Tabela 2. Composição de sais das soluções de ajuste para as culturas de hortaliças de folhas (Furlani et al., 1999). UFU, Uberlândia, 2004. lização da análise de silício nas folhas e raízes. Utilizou-se a metodologia de Elliot & Snyder (1991) adaptada. Foram pesados 0,100 g de cada amostra, colocados em tubos de polietileno (100mL) previamente enxaguados com NaOH 0,1 mol L-1 e água destilada, onde foram adicionados 2 mL de H2O2 50% e levemente agitados por alguns minutos em um vibrador e 3 mL de NaOH 50% seguindo o mesmo procedimento. Após essa etapa, os tubos foram colocados em banho-maria durante uma hora, agitando-os periodicamente durante os trinta primeiros min. Após este procedimento, os tubos foram individualmente cobertos com copos plásticos e, posteriormente, levados à autoclave com 138 KPa por uma hora. Completado este período, os tubos foram removidos e acrescidos de 45 mL de água destilada. As amostras foram deixadas em repouso por 12 horas e, em seguida foi separada uma alíquota de 1 mL do sobrenadante do extrato, colocado em copo plástico, de volume de 50 mL, acrescentando-se 15 ml de água destilada. Foram adicionados às amostras, rapidamente, os seguintes reagentes: 1 ml de HCl (1:1 ou 50%) + 2 ml de molibdato de amônio. A cor amarela apareceu em todas as amostras contendo silício. Depois de 5 a 10 min, foram adicionados 2 ml de ácido oxálico (50%). Ao mesmo tempo, foram preparadas curvas padrões, com concentrações diferentes de silício. A determinação do silício foi realizada em um colorímetro com comprimento de onda de 410 nm após um intervalo de 2 min. A cor amarela é pouco estável, permanecendo assim por apenas 15 min. 297 JMQ Luz et al. Tabela 3. Diâmetro de parte aérea, massa fresca de parte aérea e raiz (MFPA, MFRA), massa seca de parte aérea e raiz (MSPA, MSRA) e porcentagem de silício na raiz (Si RA) de cultivares de alface cultivadas no sistema hidropônico em solução nutritiva com e sem silício. UFU, Uberlândia, 2004. Medias seguidas por letras iguais, na coluna, não diferem entre si no nível de 5% de significância pelo teste de Tukey. Tabela 4. Diâmetro de cabeça, massa fresca de parte aérea e raiz (MFPA, MFRA), massa seca de parte aérea e raiz (MSPA, MSRA) e porcentagem de Silício na raiz (Si RA) em cultivares de alface cultivadas no sistema hidropônico, em solução nutritiva com e sem silício. UFU, Uberlândia, 2004. Medias seguidas por letras distintas, na coluna, diferem entre si, no nível de 5% de significância, pelo teste de Tukey. Os dados obtidos em todas as variáveis foram avaliados com auxílio do programa estatístico SANEST (Zonta & Machado, 1984). RESULTADOS E DISCUSSÃO As plantas de alface cultivadas em solução nutritiva com silício apresentaram menor diâmetro de parte aérea, menor massa fresca e seca de parte aérea e de raiz não diferindo, no entanto, da solução sem silício para a porcentagem de silício na raiz (Tabela 3). Provavelmente o silício interfira na absorção de algum dos nutrientes essenciais para a alface. A adição de silício para plantas de arroz cultivadas em solução nutritiva diminuiu os teores de boro e fósforo nas raízes, de boro, cálcio, ferro e manganês na casca (Silva & Bohnen, 2001). O Si acumulado nas células epidérmicas e nas paredes dos estômatos encontra-se na forma de H4SiO4 (ácido 298 monosilícico). Quando a planta começa a perder água (estresse hídrico) a forma monomérica se transforma e formas poliméricas, isto é o Si começa a formar cadeiras mais pesadas de ácido polisilícico. O Si ao se polimerizar, diminui a flexibilidade das paredes dos estômatos e a tendência é de permanecerem fechados. Com os estômatos fechados, a transpiração diminui e a perda de água também. Nestas circunstâncias, segundo Faria (2000) a fotossíntese diminui, e isto pode ter levado ao menor desenvolvimento e conseqüente menor massa das plantas de alface cultivadas na solução com silício, principalmente considerando as altas temperaturas registradas durante o experimento, pois as médias de temperatura máxima e mínima, nos meses de março, abril e maio, variaram de 36,5ºC e 23,5ºC; 35ºC e 19ºC; 36ºC e 17ºC, respectivamente, tendo sido comum a temperatura atingir os 40ºC nas horas mais quentes do dia. Com relação a variável diâmetro de parte aérea a cultivar que apresentou maior diâmetro foi a Mimosa não diferindo estatisticamente, no entanto dos demais grupos de alface de folhas soltas (Tabela 4). Já as cultivares do grupo americana (Lucy Brown e Tainá) apresentaram diâmetro de parte aérea menor. Esses resultados já eram esperados, pois o espaçamento entre perfis e entre plantas foram inferiores ao recomendado a essas cultivares. No entanto, o menor diâmetro médio não significa que estas cultivares tinham tamanho e aparência não comerciais. Vale ressaltar que, na prática, as estufas hidropônicas são confeccionadas para plantios mais adensados de maneira a se ter o maior número de plantas possíveis e conseqüente maior produção, justificando o alto investimento destas estruturas. As cultivares que apresentaram maior massa fresca e seca de parte aérea foram as do grupo americanas (Lucy Brown e Tainá) não diferindo da cultivar Aurélia que é do grupo cabeça manteiga (Tabela 4). Essa superioridade pode ser explicada pelas características agronômicas destas cultivares, ou seja, são cultivares que apresentam um grande número de folhas em relação às cultivares que não formam cabeça. Todas as cultivares tiveram um bom desempenho em relação à massa fresca de raiz não havendo nenhuma diferença estatística entre elas (Tabela 4). Já para massa seca de raiz foram observadas diferenças estatísticas sendo as cultivares Aurélia, Lucy Brown, Tainá, Vera, Verônica, UDIA 10000 e Mimosa as que apresentaram maiores valores, porém não diferindo significativamente entre si. As cultivares Tainá e Elisa apresentaram as maiores porcentagens de silício nas raízes com 0,77 e 0,75% de silício respectivamente, no entanto só diferiram estatisticamente da cultivar Aurélia (Tabela 4). Resultados semelhantes foram encontrados por Voogt & Sonneveld (2001), que trabalhando com alface no sistema NFT, verificaram que, apesar do claro efeito do acréscimo de Si na redução da toxidade de Mn, a absorção de Si na alface era pequena, e o conteúdo de Si nas plantas que receberam o tratamento era levemente maior em comHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Produção hidropônica de alface em solução nutritiva com e sem silício paração as do tratamento zero de Si. Houve interação significativa entre os fatores cultivar e dose de silício para a variável silício na parte aérea. Na solução nutritiva com silício a cultivar que apresentou maior acúmulo deste elemento na parte aérea foi a UDIA 10000 com 0,33% não diferindo estatisticamente das cultivares Mimosa e Verônica. Na solução nutriiva sem silício, a cultivar UDIA 10000 também apresentou significativamente maior acúmulo com 0,30% deste elemento em relação às todas as outras cultivares (Tabela 5). As plantas cultivadas na solução sem silício, apesar de conter esse elemento em sua composição, apresentaram valores menores. A presença de silício nestas plantas pode ser explicada pelo fato do silício ser um elemento muito abundante na natureza, estando assim presente em toda parte, inclusive na água. No entanto, não há como confirmar esta hipótese, pois não foi medida a quantidade de silício na água usada no experimento. As cultivares de alface Tainá, Lucy Brown, UDIA 10000 e Aurélia apresentaram sintomas de queima dos bordos sendo estes em maior proporção nas plantas cultivadas em solução nutritiva sem acréscimo de silício (Figura 1). Essas cultivares são suscetíveis a esse distúrbio fisiológico que está relacionado à desestruturação da parede celular, às altas temperaturas do ar, a deficiência de Ca e a altas concentrações salinas do meio (Fontes, 2003). O efeito benéfico do silício na diminuição de queima dos bordos está de certa forma, de acordo com Voogt & Sonneveld (2001), que trabalhando com alface também observaram uma diminuição dos sintomas de manchas escuras nos bordos das folhas mais velhas, no entanto, segundo os autores, foi devido à toxidez de manganês. O silício tem um importante papel na estruturação das plantas. Sua presença na parede celular pode elevar os conteúdos de hemicelulose e lignina, aumentando a rigidez da célula (Barbosa Filho et al., 2001). Além disso, o Si regula a transpiração e se a planta perde menos água, logo a possibilidade de necrose dos tecidos e conseqüente queima dos bordos, por falta de água é menor. Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Tabela 5. Interação entre as nove cultivares e as duas soluções nutritivas, com e sem silício, para a característica percentagem de silício na parte aérea em cultivares de alface em sistema hidropônico. UFU, Uberlândia, 2004. Médias seguidas pelas mesmas letras maiúsculas, na linha, e pelas mesmas letras minúsculas, na coluna, não diferem entre si no nível de 5% de significância pelo teste de Tukey. Figura 1. Representação gráfica da incidência da queima dos bordos em cultivares de alface produzida no sistema hidropônico em solução nutritiva com e sem silício. UFU, Uberlândia, 2004. Como as plantas de alface cultivadas em solução com silício apresentaram menores problemas com anomalias fisiológicas do tipo queima dos bordos, o silício pode ser uma alternativa viável para produção hidropônica de alface, principalmente quando se leva em consideração um mercado consumidor mais exigente por produtos com ótima aparência. REFERÊNCIAS BARBOSA FILHO MP; SNYDER GH; FAGERIA NK; DATNOFF L; SILVA OF. 2001. Silicato de cálcio como fonte de silício para arroz de sequeiro. Revista Brasileira de Ciência do Solo 25: 325-330. BLISKA JUNIOR A; HONÓRIO SL. 1995. Cartilha tecnológica de hidroponia. Campinas: UNICAMP. 24p. COSTA JS; JUNQUEIRA AMR. 2000. Diagnóstico do cultivo hidropônico de hortaliças na região do Distrito Federal.Horticultura Brasileira 18: 49-52. ELLIOTT CT; SNYDER GH. 1991. Autoclaveinduced digeston for colorimetric determination of silicon in rice straw. Journal Agronomic Food Chem 39: 1118-1119. FAQUIM V; FURLANI PR. 1999. 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Postal 237, 18603-970 Botucatu-SP; E-mail: [email protected]; [email protected] RESUMO ABSTRACT Os testes de vigor e o teste de germinação são componentes essenciais no controle de qualidade das empresas de produção de sementes. Com o objetivo de verificar a eficiência de diferentes testes de vigor na avaliação da qualidade de sementes de tomate (Lycopersicon esculentum Mill), cinco lotes do híbrido Saladinha foram submetidos aos seguintes testes: germinação; primeira contagem de germinação; emissão de raiz (56, 72, 80 e 96 horas após a instalação do teste de germinação); emergência de plântulas (substrato em bandejas de poliestireno); envelhecimento acelerado (1g de sementes mantidas a 41oC por 48 e 72 horas); envelhecimento acelerado com solução salina saturada (mesmo procedimento do item anterior mas usando solução de NaCl, 40%) e condutividade elétrica (50 sementes em 25 mL de água destilada) em câmara a 25oC e leituras após 2, 4, 6, 8 e 24 horas. A porcentagem de germinação e os testes de vigor da emissão de raiz primária (após 56 e 72 horas) e de condutividade elétrica apresentaram-se correlacionados com a emergência de plântulas. Porém, somente o teste de condutividade elétrica após 24 horas de embebição mostrou-se eficiente na avaliação do vigor das sementes de tomate, fornecendo informações semelhantes à emergência de plântulas. Palavras-chave: Lycopersicon esculentum Mill, controle de qualidade, condutividade elétrica, envelhecimento acelerado, olerícolas. Methodology for the evaluation of tomato seed vigor The vigor and germination tests are essential components of seed quality control for the seed industry. In this research an adequate method to estimate vigor of different tomato seed lots was studied. Five lots of tomato seeds of ‘Saladinha´ hybrid were submitted to the following tests: germination; first counting of germination; root emission (56, 72, 80, and 96 hours after sowing); seedling emergence on spedling trays; accelerated aging with water (1g of seeds maintained at 41°C during 48 and 72 hours); accelerated aging with salt (the same procedure of last item, but using 40% NaCl solution); electrical conductivity (50 seeds in 25 mL of distillated water at 25 °C and evaluations after 2, 4, 6, 8, and 24 hours of imbibition). The germination percentage and vigor tests of primary root emission (after 56 and 72 hours) and electrical conductivity were correlated with seedling emergence. However, only the electrical conductivity test after 24 hours of imbibition showed efficiency to evaluate vigor of tomato seeds taking similar information to seedling emergence. Keywords: Lycopersicon esculentum Mill, quality control, electrical conductivity, accelerated aging, vegetables. (Recebido para publicação em 28 de fevereiro de 2005; aceito em 24 de agosto de 2006) A qualidade das sementes é de grande importância na aceitação de um híbrido no mercado e a avaliação do vigor de sementes é um componente essencial do programa de controle de qualidade, adotado pela indústria sementeira. Deste modo, os testes de vigor disponíveis vêm sendo aperfeiçoados, adaptando-os às diferentes espécies, para permitir a obtenção de resultados consistentes e reproduzíveis. Alguns testes de vigor podem ser realizados conjuntamente com o teste de germinação. A primeira contagem de germinação, realizada para facilitar a condução do teste de germinação, pode ser considerada um teste de vigor, pois sabe-se que no processo de deterioração a velocidade da germinação é um dos primeiros parâmetros a ser afetado (Carvalho, 1994). Utilizando o mesmo princípio, pode-se avaliar o vigor de um lote pelo índice de velocidade de emergência ou pela precocidade da emissão da raiz primária, com grande eficiência, como foi Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 observado, por exemplo, para sementes de milho (Salgado, 1996) e de brócolis (Martins et al., 2002). Outro teste rápido de vigor, o da condutividade elétrica, avalia indiretamente a qualidade das sementes, baseado na concentração de eletrólitos lixiviados pelas sementes durante o período de embebição, fornecendo resultados no prazo máximo de 24 horas (Vieira, 1994). Para sementes de tomate, o tempo de embebição para esse teste pode variar de quatro (Sá, 1999) a seis horas (Rodo et al., 1998) e a eficiência da metodologia do teste pode depender da cultivar a ser avaliada (Rodo et al., 1998). Um dos testes mais utilizados para a avaliação do vigor é o envelhecimento acelerado (Marcos Filho, 1999a), que se baseia no aumento da deterioração das sementes expostas à alta temperatura e umidade relativa. Ensaios de aprimoramento da metodologia do envelhecimento acelerado para olerícolas têm sido implementados, testando-se diferentes temperaturas e tempos de exposição das sementes ao estresse e comparando-se os resultados à emergência de plântulas em campo e a outros testes de vigor, tendo-se obtido para tomate as recomendações de 72 horas de exposição a 41oC (Hampton & TeKrony, 1995) ou 42oC (Nascimento et al., 1993). Por outro lado, métodos alternativos para o teste de envelhecimento acelerado em espécies de sementes pequenas, como é o caso das hortaliças, vêm sendo estudados, como a substituição da água por soluções saturadas de sais (Panobianco & Marcos Filho, 1998; Rodo et al., 2000; Martins et al., 2002). Dependendo da solução utilizada, são obtidos níveis específicos de umidade relativa do ambiente, permitindo adequar a taxa de absorção de água da semente, a velocidade e a intensidade de deterioração da mesma. Assim, para sementes de olerícolas, como pimentão (Panobianco & Marcos Filho, 1998), cenoura (Rodo 301 CC Martins et al. Tabela 1. Coeficientes de correlação simples (R) entre os testes de laboratório e a emergência de plântulas em substrato para mudas, para as sementes de cinco lotes de tomate. Botucatu, UNESP, 2001. Significativo a 5%(*), 1% (**) e 0,1% (***) de probabilidade. et al., 2000) e brócolis (Martins et al., 2002), o teste de envelhecimento acelerado (41oC por 72h) com o uso de solução saturada de NaCl tem apresentado maior eficiência na detecção de diferenças de qualidade de lotes que o envelhecimento acelerado sem o uso do sal. O presente trabalho foi conduzido com o objetivo de verificar a eficiência de diferentes testes de vigor e de variações em suas metodologias na avaliação da qualidade de sementes de tomate (Lycopersicon esculentum Mill), visando a diferenciação de lotes e previsão de emergência de plântulas. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi conduzido em laboratório da UNESP em Botucatu, SP, com sementes de tomate híbrido Saladinha (Sakata, 2002). Foram avaliados cinco lotes, colhidos nos seguintes locais e anos: Lotes 1 e 2 – 1998, em Joanópolis, SP; Lote 3 – 2001, em Atibaia, SP; Lotes 4 e 5 – 1998, em Cambuí, MG. As sementes foram armazenadas em câmara com 20°C de temperatura e 33% de umidade relativa do ar até a realização do estudo em 2001. Foram conduzidos os seguintes testes para avaliar a qualidade de sementes: germinação - realizado com quatro subamostras de 50 sementes, semeadas sobre duas folhas de papel 302 mata-borrão umedecidas com 2,5 vezes o peso do papel em água, em caixas plásticas transparentes (11x11x3,5cm) em temperaturas alternadas de 20oC por 16 horas no escuro e 30oC por 8 horas na luz (Brasil, 1992). As contagens das plântulas normais foram efetuadas no quinto e no 10Ú dia (Brasil, 1992); primeira contagem de germinação - realizada conjuntamente com o teste de germinação, contabilizando-se as plântulas normais presentes no quinto dia após a semeadura; precocidade de emissão de raiz primária - realizada juntamente com o teste de germinação contabilizando-se o número de sementes que emitiram a raiz primária após 56, 72, 80 e 96 horas da semeadura (contagem diária sempre no início e final do período da temperatura mais alta do teste de germinação); emergência de plântulas - utilizando-se quatro repetições de 100 sementes por lote, semeando-se duas sementes por célula em bandejas de poliestireno, a 0,5cm de profundidade, em substrato próprio para produção de mudas de olerícolas (Plantmax), umedecido duas vezes ao dia e conduzido em túnel plástico. Aos 14 dias, foi realizada a contagem de plântulas normais emersas. A umidade relativa do ar e temperatura do ambiente durante esse período foram registradas pelo termohigrômetro; envelhecimento acelerado - conduzido com 1 g de sementes sobre tela em caixa plástica tipo gerbox contendo 40 mL de água, mantidas a 41oC (100%UR) por 48 e 72 horas (Hampton & TeKrony, 1995; Panobianco & Marcos Filho, 1998), seguindo-se da avaliação da germinação com o mesmo procedimento do teste de germinação com contagem no quinto dia; envelhecimento acelerado com solução salina saturada - utilizouse o mesmo procedimento do item anterior, porém a água foi substituída por uma solução saturada de NaCl (40%), com o uso do sobrenadante, de modo a obter um ambiente com 76% de UR do ar, adaptando-se a metodologia utilizada por Jianhua & McDonald (1996); Panobianco & Marcos Filho (1998) e Rodo et al. (2000); condutividade elétrica - foram utilizadas quatro subamostras de 50 sementes por lote, pesadas em balança com precisão de 0,001 g e colocadas para embeber em copos plásticos contendo 25 mL de água destilada à temperatura de 25oC, sendo que as leituras foram efetuadas após 2, 4, 6, 8 e 24 horas (Vieira, 1994). Além da determinação da qualidade fisiológica, determinou-se também o teor de água das sementes, antes e após o teste de envelhecimento acelerado com água e com solução salina saturada, utilizando-se duas subamostras para cada lote e adotando-se o método da estufa a 105±3°C/24 h (Brasil, 1992). A análise de variância foi realizada separadamente para cada teste, em delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições, onde a comparação entre as médias dos lotes foi efetuada pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. Os dados expressos em porcentagem foram transformados em arc sen (x/100)1/2 e quando ocorreu valor igual a zero, os dados em porcentagem foram transformados em (x+0,5)1/2. Realizou-se a determinação dos coeficientes de correlação simples entre os resultados dos testes de laboratório e da emergência de plântulas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os testes de primeira contagem, emissão de raiz primária, após 80 e 96 horas e envelhecimento acelerado com e sem sal não apresentaram correlação Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Metodologia para a avaliação do vigor de sementes de tomate com a emergência de plântulas e, por isso, não foram considerados na análise de qualidade dos lotes. Contrariamente, a porcentagem de germinação e os testes de vigor da emissão de raiz primária, após 56 e 72 horas e de condutividade elétrica foram parâmetros altamente correlacionados com a emergência de plântulas, podendo ser considerados promissores na avaliação da qualidade de sementes de tomateiro (Tabela 1). Os resultados de correlação simples entre condutividade elétrica e emergência de plântulas (Tabela 1) indicaram correlação negativa entre os testes. Isto significa que aumentos nos valores de condutividade elétrica corresponderam a queda nos níveis de emergência de plântulas (vigor da sementes) e, este fato, concorda com relatos da literatura, onde os aumentos nos índices de condutividade elétrica corresponderam à maior lixiviação de solutos e, portanto, à diminuição na qualidade fisiológica das sementes (McDonald & Wilson, 1979; Powell, 1986 e Marcos Filho et al., 1990). Na avaliação da qualidade das sementes, as médias dos lotes foram comparadas (Tabela 2), para se obter maior precisão na eficiência dos testes cuja correlação foi significativa, permitindo classificar o desempenho dos lotes em ordem decrescente de vigor dos lotes de 1 a 5. O teste de germinação não foi capaz de detectar as diferenças de vigor entre os lotes. Isso é verificado com freqüência na rotina dos laboratórios de sementes, visto que este teste é necessariamente conduzido em condições consideradas ideais para a espécie e, por isso, não detecta pequenas variações de vigor (Marcos Filho, 1999b). A emergência de plântulas em substrato em bandeja foi o teste usado como referência na comparação com os demais testes de vigor. Durante o período de condução do teste, o ambiente do túnel plástico apresentou temperaturas de 27±9oC e umidades relativas de 68±29 %. Este teste foi capaz de separar os lotes em três classes de vigor: alto (lotes 1, 2 e 3), médio (lote 4 ) e baixo (5). Os testes de emissão de raiz primária apresentaram resultados contraditóHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Tabela 2. Resultados dos testes de germinação (G) e de vigor avaliado pelo teste de emergência de plântulas em substrato para mudas em bandeja (EB), primeira contagem de germinação aos 5 dias após a semeadura (PC), emissão de raiz primária (ER) após 48, 56, 72, 80 e 96 horas, envelhecimento acelerado (EA) e envelhecimento acelerado em solução salina (EAS) por 48 e 72 horas, condutividade elétrica (CE) 2, 4, 6, 8 e 24 horas de sementes de cinco lotes de tomate. Botucatu, UNESP, 2001. Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05); As médias apresentadas são dos dados originais. Os dados expressos em porcentagem foram transformados em arc sen (x /100)1/2 ou em (x+0,5) ½, quando ocorreram valores iguais a zero.* Lotes 1 e 2 colhidos em 1998 em Joanópolis, SP; Lote 3 colhido em 2001, em Atibaia, SP e Lotes 4 e 5 colhidos em 1998, em Cambuí, MG. rios ou inconsistentes na classificação do vigor dos lotes quando comparados com os resultados do teste de referência (emergência de plântulas), ou com os demais testes de vigor, pois apresentou similaridades entre os lotes 2, 3, 4 e 5, após 56 e 72 horas de embebição. Ainda na Tabela 2, observa-se que o teste de condutividade elétrica, realizado após 2 horas de embebição, não foi tão eficiente na classificação dos lotes, quando comparado ao teste de referência adotado e ao conjunto dos demais testes, pois classificou os lotes em apenas duas categorias de vigor. Para a condutividade elétrica nos períodos de embebição de 4, 6 e 8 horas, observouse que os lotes 1 e 2 apresentaram os menores valores, podendo então serem classificados como lotes de alto vigor. O lote 3 apresentou valores intermediários de vigor e os lotes 4 e 5 podem ser considerados como de baixo vigor. Assim, os testes de condutividade elétrica nos períodos de embebição de 2, 4, 6 e 8 horas foram mais rigorosos que o de emergência de plântulas, não permitindo a dife- renciação dos lotes 4 e 5,respectivamente, de médio e baixo vigor, segundo o teste de emergência de plântulas. Dentre os testes avaliados, o de condutividade elétrica pelo período de 24 horas de embebição foi o que apresentou resultados mais próximos aos de emergência de plântulas quanto à classificação do vigor dos lotes, apresentando três categorias de vigor: alto (lote 1), médio (lote 4) e baixo (lote 5), ficando os lotes 2 e 3 numa categoria intermediária (alto-médio), estatisticamente semelhante aos lotes 1 e 4. Estes resultados mostram que para o híbrido Saladinha o tempo de embebição necessário para teste da condutividade elétrica é superior ao obtido por Sá (1999) e Rodo et al. (1998), de quatro e seis horas, respectivamente. Assim, o teste de condutividade elétrica após 24 horas de embebição é eficiente na avaliação do vigor das sementes de tomate, fornecendo informações semelhantes à emergência de plântulas em substrato. Os teores de água inicial das sementes dos lotes estavam próximos (Tabela 3), mas 303 CC Martins et al. Tabela 3. Teor de água inicial e após o teste do envelhecimento acelerado em água (EA) e em solução salina (EAS) por 48 e 72 horas em cinco lotes de sementes de tomate. Botucatu, UNESP, 2001. *Lotes 1 e 2 colhidos em 1998 em Joanópolis, SP; Lote 3 colhido em 2001, em Atibaia, SP e Lotes 4 e 5 colhidos em 1998, em Cambuí, MG. foram constatadas diferenças para essa característica e este fato pode ter influenciado os resultados do envelhecimento acelerado, atuando sobre a velocidade e a intensidade de deterioração das sementes. O teor de água das sementes, após os testes, foi diferente entre os lotes (Tabela 3), tendo sido mais discrepante para os testes sem sal. Um dos principais indicadores da uniformidade das condições de envelhecimento acelerado é o teor de água ao final do teste, quando variações entre 3 a 4 pontos percentuais entre as amostras são consideradas toleráveis (Marcos Filho, 1999a); neste estudo, as variações obtidas, muitas vezes, situaram-se acima dos limites toleráveis, o que justifica os resultados insatisfatórios e desqualifica a utilização deste teste para a avaliação do vigor na comparação dos lotes. Powell (1995), relata que pesquisas conduzidas com espécies de sementes pequenas, como as hortaliças, têm revelado resultados pouco consistentes devido à variação muito acentuada no teor de água das amostras após o envelhecimento. Também, Panobianco & Marcos Filho (1998), trabalhando com sementes de pimentão, constataram elevação acentuada no teor de água após o envelhecimento acelerado e variações de até 8,3 pontos percentuais entre as amostras. Rodo et al. (2000) e Spínola et al. (1998) verificaram para sementes de cenoura variações de até 9,2 e 7,2 pontos percentuais, respectivamente. Esse é um dos problemas que se procura sanar com a utilização de solução salina no envelhecimento acelerado. As sementes submetidas ao teste de envelhecimento acelerado modificado (em solução salina saturada de Na Cl) 304 absorveram quantidade de água menor do que aquelas submetidas ao teste normal (utilizando somente água) (Tabela 3), isto porque a solução salina controla a umidade relativa do ar, mantendo-a em torno de 76%, como indica a literatura (Jianhua & McDonald, 1996). Os resultados dos testes de envelhecimento acelerado em solução salina ou água não apresentaram correlação significativa com a emergência de plântulas (Tabela 1), nem resultados coerentes na comparação entre médias (Tabela 2), provavelmente devido a estas diferenças nos teores de água entre os lotes de sementes, observados durante os testes. AGRADECIMENTOS À Sakata Seed Sudamerica LTDA, nas pessoas de Carlos Alberto Rodrigues da Silva, Celso Netto e Evelyn Fernandes de Araújo Koch, pelo fornecimento das sementes utilizadas nesse trabalho. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Agricultura e da Reforma Agrária. 1992. Regras para análise de sementes. Brasília: SNDA/DNDV/CLAV. 365p. CARVALHO NM. 1994. O conceito de vigor em sementes. In: VIEIRA RD; CARVALHO NM. Testes de vigor em sementes. Jaboticabal: FUNEP. p. 1-30. HAMPTON JG; TEKRONY DM. 1995. Accelerated aging test. In: Handbook of vigour tests methods. Zürich: International Seed Testing Association. p. 1-10. JIANHUA Z; McDONALD MB. 1996. The saturated salt accelerated aging test for small-seeded crops. Seed Science and Technology 25: 123-131. LOEFFLER TM; TEKRONY DM; EGLI BD. 1988. The bulk conductivity test as on indicator of soybean seed quality. Journal of Seed Technology 1: 37-53. MARCOS FILHO J. 1999a. Teste de envelhecimento acelerado. 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Condutividade elétrica em sementes de tomate (Lycopersicum lycopersycum L.) Scientia Agrícola 56: 13-20. SAKATA. 2002. Sakata Seed Sudamerica LTDA. Catálogo 2002: Tomate (Lycopersicum esculentum Mill.). 2p. SALGADO JHH. 1996. Avaliação do vigor de sementes de milho (Zea mays L.) pela precocidade de emissão da raíz primária. Piracicaba: USP-ESALQ. 86p. (Tese doutorado). SPÍNOLA MCM; CALIARI MF; MARTINS L; TESSARIOLI-NETO J. 1998. Comparação entre métodos para avaliação do vigor de sementes de cenoura. Revista Brasileira de Sementes 20: 301-305. VIEIRA RD. 1994. Teste de condutividade elétrica. In: VIEIRA RD; CARVALHO NM. Testes de vigor em sementes. Jaboticabal: FUNEP. p. 103-132. Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 VIEIRA RD; DUTRA AS. 2006. Condutividade elétrica em sementes de Abóbora, híbrido Bárbara. Horticultura Brasileira 24: 305-308. Condutividade elétrica em sementes de abóbora, híbrido Bárbara Roberval Daiton Vieira1; Alek Sandro Dutra2 1 UNESP-FCAV-Depto. Produção Vegetal, 14884-900 Jaboticabal-SP; 2Bolsista do CNPq/DCR/FUNCAP, UFC-Depto. Fitotecnia, Fortaleza-CE; E-mail: [email protected]; [email protected] RESUMO ABSTRACT A condutividade elétrica na solução de embebição de sementes tem sido um procedimento usado com sucesso para avaliar o vigor de sementes. A presente pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de determinar os procedimentos adequados para o teste de condutividade elétrica em sementes de abóbora (Cucurbita moschata Duch ex. Lam). Foram utilizadas sementes do híbrido Bárbara, representadas por cinco lotes (1 a 5) na primeira etapa e por outros cinco (6 a 10) na segunda. Foram realizados os teste de germinação, primeira contagem de germinação, emergência de plântulas, índice de velocidade de emergência e de condutividade elétrica (CE). Para o teste de CE, foram estudadas variações no volume de água (50 e 75mL), na temperatura (20, 25 e 30oC) e no tempo de embebição (1, 2, 4, 8, 12, 16, 20 e 24 horas). Assim, concluiu-se que a condição mais adequada para o teste de CE é a utilização de 50 sementes em 75mL de água por oito horas, à temperatura de 25oC. Electrical conductivity of pumpkin hybrid Bárbara seeds The electrical conductivity in the soaked seed solution has been used successfully to evaluate seed vigor. This work was developed with the objective of determining the adequate procedures to evaluate the electrical conductivity test of pumpkin (Cucurbita moschata Duch ex. Lam) seeds. For pumpkin, hybrid Bárbara, five lots of seeds, in both stages, were used, all with quality patterns (germination) above the minimum demanded by commercialization. The standard germination, first countig of germination, seedling emergency, and emergency speed index electrical conductivity (EC) tests were run. For the EC test two volumes of water (50 and 75mL), three temperatures (20, 25 and 30oC) and eight period of seed soaking (1, 2, 4, 8, 12, 16, 20 and 24 hours) were used. So, it can be concluded that the EC test can be conducted using 50 seeds, 25oC, 75mL and 8h of embibition period for pumpkin seeds. Palavras-chave: Cucurbita moschata, germinação, vigor, potencial fisiológico. Keywords: Cucurbita moschata, vigor, germination, physiological potential. (Recebido para publicação em 31 de março de 2005; aceito em 29 de agosto de 2006) O teste padrão de germinação é o procedimento oficial para avaliar a capacidade das sementes produzirem plântulas normais em condições favoráveis de campo, mas nem sempre revela diferenças de qualidade e de desempenho entre lotes de sementes, que podem se manifestar no armazenamento ou mesmo no campo (Carvalho; Nakagawa, 2000). Estudos sobre o potencial fisiológico de diferentes hortaliças como beterraba, tomate, cenoura e ervilha têm evidenciado que o teste de germinação não traduz totalmente o potencial de desempenho de sementes dessas espécies (Nascimento, 1994). Por isso é necessário utilizar testes de vigor, como o teste de condutividade elétrica. Este teste, baseia-se no princípio de que, com o processo de deterioração, ocorre a lixiviação dos constituintes celulares das sementes embebidas em água, devido à perda da integridade dos sistemas celulares. Assim, baixa condutividade significa alta qualidade da semente e alta condutividade, ou seja, maior saída de lixiviados da semente, significa baixa qualidade da semente (Vieira & Krzyzanowski, 1999; Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Panobianco & Marcos Filho, 2001). A padronização dos testes de vigor é importante, pois à medida que as técnicas de manejo cultural tornam-se mais sofisticadas, aumenta a necessidade de utilizarem-se sementes de alta qualidade (McDonald, 1998). Os testes de vigor são cada vez mais relevantes para muitas espécies de hortaliças, viabilizando a prática da semeadura de precisão, a eliminação do desbaste e a obtenção da maturação uniforme (Hampton & Coolbear, 1990). O presente trabalho foi realizado com o objetivo de determinar procedimentos para realização do teste de condutividade elétrica em sementes de abóbora, visando estabelecer metodologia específica para condução do teste nessa espécie. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Análise de Sementes do Departamento de Produção Vegetal da UNESP, Campus de Jaboticabal-SP, de agosto a dezembro de 2003. Foram uti- lizadas sementes de abóbora (Cucurbita moschata Duch ex. Lam), híbrido Bárbara (fornecidas pela empresa Sakata Seed Sudamerica Ltda). As sementes foram divididas em cinco lotes (1 a 5) na primeira etapa e outros cinco (6 a 10), na segunda, todos com padrões de qualidade (germinação) acima do mínimo exigido para comercialização. Na segunda etapa foram comparados os procedimentos considerados mais eficientes para o teste, determinados na primeira etapa. Em todo o período experimental, as sementes foram mantidas em embalagens de papel multifoliado e armazenadas em câmara fria (10oC e 60% UR). Foram realizadas as seguintes análises: Determinação de teor de água (base úmida) realizado em estufa a 105±3oC/24h (BRASIL, 1992), utilizando-se duas amostras de 20 sementes por lote. Teste de germinação realizado com quatro repetições de 50 sementes, semeadas em rolos de papel toalha, tipo Germitest, umedecidos com água o equivalente a 2,5 vezes o peso do substrato seco e colocado para germi305 RD Vieira & AS Dutra Tabela 1. Qualidade inicial de dez lotes de sementes de abóbora, híbrido Bárbara1. Jaboticabal, UNESP, 2003. 1 Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, em cada etapa, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. nar a 27oC. As avaliações foram realizadas quatro e oito dias após a semeadura (ISTA, 1996). Primeira contagem de germinação conduzida juntamente com o teste padrão de germinação, calculando-se a porcentagem de plântulas normais quatro dias após a semeadura. Emergência de plântulas avaliada com quatro repetições de 50 sementes, distribuídas em caixas plásticas (28,5x18,5x10,0 cm), contendo areia de rio como substrato. As caixas foram mantidas em ambiente de laboratório sem controle da temperatura e da umidade relativa do ar. A avaliação foi feita oito dias após a semeadura, considerando o número de plântulas normais. Índice de velocidade de emergência foram feitas contagens diárias de plântulas emergidas, a partir da instalação do teste (Nakagawa, 1999). Consideraram-se como emergidas as plântulas cujos cotilédones afloraram à superfície da areia. O índice de velocidade de emergência foi calculado utilizando-se fórmula proposta por Maguire (1962). Teste de condutividade elétrica (CE) foram estudados tempo, temperatura e volume de água de embebição para a condução do teste. Avaliaram-se dois volumes (50 e 75 mL) de água, três temperaturas (20, 25 e 30oC) e oito pe306 ríodos (1, 2, 4, 8, 12, 16, 20 e 24 horas) de embebição. O teste foi conduzido pelo método de massa, com quatro subamostras de 50 sementes fisicamente puras, pesadas com precisão de duas casas decimais (0,01g) e colocadas para embeber (água deionizada) em copos de plásticos (200 mL), mantidos em câmara de germinação, tipo BOD, durante os períodos de embebição. Após o condicionamento, a CE da solução foi medida por meio de leituras em condutivimetro DIGIMED, modelo 21, e os resultados expressos em µS cm-1 g-1. A leitura foi realizada logo após a retirada do material da incubadora, de modo gradativo, agitando-se cuidadosamente cada recipiente, com o intuito de uniformizar os eletrólitos lixiviados na solução (Hampton & TeKrony, 1995; Vieira & Krzyzanowski, 1999). Os dados obtidos na primeira etapa foram analisados de acordo com o delineamento inteiramente casualizado, no esquema fatorial 5x8 (cinco lotes e oito períodos de embebição). Cada temperatura e cada volume de água para embebição das sementes foi considerado, para efeito de análise, como um experimento independente. Na segunda, usou-se fatorial 5x2 (cinco lotes e dois períodos de embebição). A comparação das médias foi realizada por intermédio do teste de Tukey, 5% de probabilidade (Banzatto & Kronka, 1992). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados do teor de água (TA) das sementes (Tabela 1) foram semelhantes para os cinco lotes componentes de cada etapa com variação de até 0,9 ponto percentual, inferior à amplitude máxima aceita (Marcos Filho, 1999). O vigor, quando avaliado pela primeira contagem (Tabela 1), revelou o lote 5 como de pior qualidade, com os demais lotes componentes da primeira etapa não diferindo entre si. Quando avaliados pelo índice de velocidade de emergência, as sementes do lote 3 mostraram-se mais vigorosas que as demais (Tabela 1). Na segunda etapa, a primeira contagem indicou o lote 9 como o de menor vigor das sementes, resultado corroborado pelo índice de velocidade de emergência (Tabela 1). Nos testes de germinação e de emergência de plântulas não houve diferença entre os lotes estudados, exceto pelo lote 9, da segunda etapa, que foi inferior aos demais (Tabela 1). Na primeira etapa do estudo, os resultados obtidos com o teste de condutividade elétrica - CE (Tabelas 2 e 3) permitiram verificar que os procedimentos utilizados indicaram pela condutividade elétrica o lote 3 como o mais vigoroso e o lote 2, como o pior. Para sementes de cebola, o teste de CE não mostrou sensibilidade na separação dos lotes de alto e baixo vigor (Lima, 1993), enquanto para a avaliação do potencial fisiológico das sementes de feijão-de-vagem e de quiabo, o teste de CE foi eficiente, (Dias et al., 1998). A redução do volume de água, quando se mantiveram constantes os outros fatores (temperatura e período de embebição), estabeleceu relação direta com o aumento do valor da lixiviação (Tabelas 2 e 3). A quantidade de lixiviados, no menor volume, foi em geral superior aos tratamentos com maior volume. Resultados semelhantes foram obtidos com sementes de melão, tendo sido observados valores maiores de lixiviados em menores volumes de água, devido à diluição ocasionada pelo aumento da quantidade de água usada para embebição das sementes (Torres, 2002). Verificou-se que a elevação da temperatura de 20oC para 25oC ou 30oC, Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Condutividade elétrica em sementes de Abóbora, híbrido Bárbara proporcionou aumento na lixiviação dos exudatos, porém manteve a classificação dos lotes e o acréscimo dos lixiviados durante os períodos de embebição (Tabelas 2 e 3). As várias combinações, quantidade de água/temperatura/período de embebição, indicaram, no geral, aumento progressivo das leituras no intervalo de uma a 24 horas (Tabelas 2 e 3). Resultados similares foram observados em sementes de melão (Torres, 2002). Após uma hora de embebição todos os tratamentos apresentaram significativa lixiviação, permitindo a distinção dos lotes quanto ao potencial fisiológico. No entanto, a classificação dos lotes foi mais consistente após o período de 8 horas de embebição, o que representa uma significativa redução no período de condicionamento das sementes em relação ao período de 24 horas, adotado pela pesquisa como padrão para testes de CE para ervilha e soja (Hampton & TeKrony, 1995; Vieira & Krzyzanowski, 1999). Resultados semelhantes foram observados com sementes de feijão-devagem e de quiabo (Dias et al., 1998) e de tomate (Rodo et al., 1998). Do ponto de vista da praticidade e de rotina de um laboratório, além de indicações da pesquisa para outras espécies, adotou-se como melhor combinação para a classificação dos lotes de sementes de abóbora, 75 mL/25oC (Tabela 3). Em virtude desta constatação, foi conduzida uma segunda etapa, com vistas à confirmação desses resultados, usando cinco outros lotes. Na segunda etapa, o lote 9 foi menos vigoroso que os demais, apresentando valores para germinação de primeira contagem e emergência de plântulas estatisticamente inferiores aos demais (Tabela 1). No índice de velocidade de emergência o lote 9 não diferiu dos lotes 8 e 10, que por sua vez, foram estatisticamente iguais aos lotes 6 e 7 (Tabela 1). Quando avaliou-se a CE, o tempo de embebição de 8 horas definiu maior número de classes de vigor que 24 horas (Tabela 4). Ao contrário dos testes de avaliação de qualidade inicial dos lotes (Tabela 1), a análise de CE foi eficiente em identificar o lote mais vigoroso, neste caso, o lote 7 (Tabela 4). O teste de CE já havia sido identificado Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Tabela 2. Condutividade elétrica (µS cm-1 g-1) de sementes de abóbora, híbrido Bárbara, em função dos períodos de embebição e dos lotes, utilizando-se 50 mL de água1. Jaboticabal, UNESP, 2003. 1 Médias seguidas pela mesma letra, na coluna para cada temperatura, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Tabela 3. Condutividade elétrica (µS cm-1 g-1) de sementes de abóbora, híbrido Bárbara, em função dos períodos de embebição e lotes, utilizando-se 75mL de água1. Jaboticabal, UNESP, 2003. 1 Médias seguidas pela mesma letra, na coluna para cada temperatura não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. 307 RD Vieira & AS Dutra Tabela 4. Condutividade elétrica de sementes de abóbora, híbrido Bárbara, em função dos períodos de embebição e dos lotes, usando-se 75 mL/25oC1. Jaboticabal, UNESP, 2003. 1 Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. como promissor para avaliação do potencial fisiológico em sementes de quiabo (Dias et al., 1998) e tomate (Sá, 1999), embora em alface o teste não tenha sido eficiente (Franzin et al., 2004). Várias combinações de volume, período e temperatura de embebição das sementes foram utilizadas. Dentre elas, a embebição das sementes em 75 mL de água, por 8 horas a 25°C nas condições deste trabalho foi a mais afetada. Os resultados obtidos neste trabalho indicam que o teste de CE tem potencial para ser utilizado como indicador do vigor de lotes de sementes de abóbora. REFERÊNCIAS BANZATTO DA; KRONKA SN. 1992. Experimentação agrícola. 2. ed. Jaboticabal: FUNEP/ UNESP. 247p. 308 BRASIL, Ministério da Agricultura. 1992. Regras para análise de sementes. Brasília: SNAD/ CLAV. 365p. CARVALHO NM; NAKAGAWA J. 2000. Sementes: ciência, tecnologia e produção. 4 ed Jaboticabal: FUNEP/UNESP. 424p. DIAS DCFS; VIEIRA AN; BHÉRING MC. 1998. Condutividade elétrica e lixiviação de potássio para avaliação do vigor de sementes de hortaliças: feijão-de-vagem e quiabo. Revista Brasileira de Sementes 20: 408-413. FRANZIN SM; MENEZES NL; GARCIA DC.; WRASSE CF. 2004. Métodos para avaliação do potencial fisiológico de sementes de alface. Revista Brasileira de Sementes 26: 63-69. HAMPTON JG; COOLBEAR P. 1990. Potential versus actual seed performance can vigour testing provide an answer? Seed Science and Technology 18: 215-228. HAMPTON JG; TEKRONY DM. 1995. Handbook of vigor test methods. Zurich: ISTA. 117p. INTERNATIONAL SEED TESTING ASSOCIATION (ISTA). 1996. International Rules for Seed Testing. Seed Science and Technology 24: 335. Supplement. LIMA D. 1993. Avaliação da viabilidade e vigor de sementes de cebola (Allium cepa L.). Pelotas: UFPel. 61p. (Dissertação). MAGUIRE JD. 1962. Speed of germination-aid selection and evaluation for seedling emergence and vigor. Crop Science, Madison 2: 176-177. MARCOS FILHO J. 1999. Teste de envelhecimento acelerado. In: KRZYZANOWSKI FC; VIEIRA RD; FRANÇA NETO JB (eds). Vigor de sementes: conceitos e testes. Londrina: ABRATES. p.1-24. MCDONALD MB. 1998. 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Teste de condutividade elétrica. In: KRZYZANOWSKI FC; VIEIRA RD; FRANÇA NETO JB (eds). Vigor de sementes: conceitos e testes. Londrina: ABRATES. cap.4. p.1-26. Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 JASMIM JM; TOLEDO RRV; CARNEIRO LA; MANSUR E. 2006. Fibra de coco e adubação foliar no crescimento e na nutrição de Cryptanthus sinuosus. Horticultura Brasileira 24: 309-314. Fibra de coco e adubação foliar no crescimento e na nutrição de Cryptanthus sinuosus Janie M Jasmim1; Regiane R V Toledo1; Leonardo A Carneiro2; Elisabeth Mansur2 1 UENF-CCTA-LFIT, Av. Alberto Lamego, 2000, 28013-602 Campos dos Goytacazes-RJ; 2UERJ-IB-Depto Biologia Celular e Genética; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Plantas de Cryptanthus sinuosus foram cultivadas em três substratos (mesocarpo de coco – MC; mesocarpo de coco lavado MCL e xaxim-X), visando comparar o efeito da fibra de coco verde, como substrato, àquele da fibra de xaxim sobre o crescimento e teores de nutrientes das plantas, sob três níveis de adubação foliar: 50, 100 e 150% de solução contendo 210 mg L-1 de N, 31 mg L-1 de P e 234 mg L-1 de K. O experimento constou de um fatorial em delineamento de blocos ao acaso, com quatro repetições e três plantas por parcela, uma planta por vaso e conduzido em casa de vegetação. O número de folhas, diâmetro da roseta, massa da matéria seca (MS) de folhas e raízes e teores de nutrientes foram avaliados. As plantas cultivadas em X apresentaram valores de MS de folhas e de raízes mais altos que aquelas em MC, mas não diferiram estatisticamente daqueles observados nas plantas em MCL. As plantas cultivadas em MC e MCL apresentaram características semelhantes indicando que a alta condutividade elétrica encontrada no substrato MC não prejudicou o acúmulo de matéria seca. As plantas cultivadas em MC e MCL apresentaram menores teores foliares de N, P, S que as cultivadas em X, porém com coloração e arquitetura foliares mais atrativas. Os diferentes níveis de adubação utilizados não tiveram efeito diferenciado sobre as características de crescimento, nem sobre os teores de nutrientes nas plantas. Coconut fiber and foliar fertilization on the growth and nutrition of Cryptanthus sinuosus Palavras- chave: bromélia, casca de coco, substrato, xaxim. Cryptanthus sinuosus plants were grown in three substrates (coconut mesocarp - MC, rinsed coconut mesocarp - MCL and tree fern fiber-X) aiming to compare the effect of green coconut fiber as substrate to tree fern fiber on the plant growth and nutrient contents, under three foliar fertilization levels (50, 100 and 150% of a solution containing 210 mg L-1 of N, 31 mg L-1 of P and 234 mg L-1 of K). The experimental design was a factorial scheme of randomized blocks with four replications and three plants per plot, one plant per pot, and was carried out in a greenhouse. The number of leaves, rosette diameter, leaf and root dry matter mass and nutrient contents were evaluated. Plants grown in X presented higher leaf and root dry matter mass values than those grown in MC, but did not differ from those observed on plants in MCL. The plants grown in MC and MCL showed similar characteristics indicating that the high electric conductivity of MC did not impair dry matter accumulation. The plants grown in MC and MCL showed lower N, P, S leaf contents than those grown in X, nevertheless they showed more attractive leaf color and architecture. The levels of fertilization did not have differential effects either on the growth characteristics or on the plant nutrient contents. Keywords: bromeliad, coconut husk, substrate, tree fern. (Recebido para publicação em 1 de abril de 2005; aceito em 30 de agosto de 2006) A floricultura abrange o cultivo e a exploração de plantas ornamentais, desde flores de corte ou secas, plantas em vaso, folhagens frescas ou desidratadas, até a produção de arbustos e árvores de grande porte. No Rio de Janeiro, as bromélias destacam-se como plantas ornamentais de grande potencial comercial. As plantas da família Bromeliaceae destacam-se por suas belas cores e formas, inflorescências, disposição das folhas, ocorrência em diversos habitats, e importância ecológica como abrigo, fonte de água e alimento para diversos animais. Nos últimos anos tem crescido a importância econômica das bromélias, com sua utilização em projetos paisagísticos, devido à sua grande beleza, resistência e praticidade no manuseio, sendo usadas na decoração de jarHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 dins e de interiores e em floriculturas por todo o Brasil. A comercialização é expressiva, para colecionadores e comerciantes, o que incentiva a coleta ilegal de espécies de maior beleza, acarretando a redução de populações naturais e aumento do número de espécies em risco de extinção (Melo, 1996). Segundo informações de representante do Instituto Estadual de Florestas (IEF), no ano de 2000 foram apreendidas mais de 3000 bromélias “clandestinas” nos morros na região de Guaratiba (Planta-Rio, 2001). Desta forma, o incentivo à profissionalização do cultivo dessas espécies e de outras plantas, constitui uma medida importante para a redução do extrativismo. O gênero Cryptanthus é tipicamente nativo, sendo encontrado sempre em habitats terrestres ou rupícolas ao lon- go da costa na região de restinga da Mata Atlântica, bem como na caatinga e restinga (Cândido, 1995). Cryptanthus sinuosus foi descrita em 1955, baseada na descrição original de C. undulatus Otto e Dietrich, nomen illegitimum, como uma espécie terrestre e endêmica do Estado do Rio de Janeiro, encontrada em afloramentos rochosos no mar, bem como na floresta de restinga (Cândido, 1995). Suas características de porte reduzido, exigência de pouca luz e produção de flores delicadas, conferem à espécie um grande potencial ornamental para interiores. Uma característica importante para a vida das bromélias é a presença de escamas ou tricomas cobrindo toda sua superfície foliar, ou formando bandas ou listras foliares, que podem absorver, por capilaridade, a umidade presente na at309 JM Jasmim et al. mosfera levando-a ao parênquima (Rauh, 1990). Os tricomas, em geral, têm forma de escama peltada e consistem de um talo e escudo. O talo é uma coluna diminuta de células que liga os tecidos da epiderme ao escudo carregando água e nutrientes minerais do meio externo para o interno. O escudo é paralelo à superfície da folha e consiste de um disco central de células vivas com um anel externo de células mortas, o qual absorve nutrientes no meio ambiente. O disco atua como um plug fechando a concavidade no qual o talo está inserido e protegendo-o contra o ressecamento. A capacidade de absorção para diferentes tipos de tricomas depende da evolução da planta, morfologia dos tricomas e sua densidade nas folhas (Leme & Marigo,1993). Na sub-família Bromelioideae, à qual pertence o gênero Cryptanthus, um pequeno disco composto por quatro células ocupa o centro do escudo que, com freqüência neste gênero, tem forma circular e margens regulares; tricomas presentes na base foliar, pelo menos em alguns casos, absorvem nutrientes acumulados em áreas adjacentes (Benzing, 2000). Para o cultivo de plantas ornamentais, preconiza-se a utilização de recipientes (sacos plásticos, bandejas de isopor, vasos plásticos, etc.) e substratos específicos. O xaxim, extraído da planta Dicksonia sellowiana, permaneceu como base para o preparo de substratos de várias espécies de plantas ornamentais no Brasil, inclusive bromélias, por muito tempo. Devido ao extrativismo desenfreado, as plantas de xaxim encontram-se em processo de extinção e, atualmente, têm sua extração e comercialização de seus derivados proibidos (Brasil, 2001), acarretando uma forte demanda por materiais que possam substituí-las na composição de substratos e demais produtos. A fibra de coco aparece como uma alternativa para a produção de substratos, sendo de fácil obtenção e baixo custo, por ser resíduo da exploração comercial da água de coco, existente em abundância. Suas potencialidades de uso na composição de substrato agrícola têm sido abordadas (Carrijo et al., 2002; Meerow, 1997) destacando-se: a 310 capacidade de retenção de água; boa drenagem; acidez; alta salinidade – decorrente, sobretudo, dos altos teores de potássio e cloro; e variação nos teores de nutrientes (Handreck, 1993; Evans et al., 1996; Konduru & Evans, 1999; Abad et al., 2002). Pesquisas sobre o cultivo de diferentes espécies de plantas ornamentais com uso da fibra, pura ou em mistura, têm mostrado seu desempenho superior a outros substratos (Meerow, 1994; Meerow, 1995; Abad et al., 1997; Mak & Yeh, 2001). Demattê & Vitti (1997) avaliando a variação das concentrações de nutrientes ao longo do tempo em diferentes substratos para o cultivo de orquídeas epífitas, recomendaram o uso de blocos de fibra de coco para substituir a fibra de xaxim. Em estudos com Bromeliaceae, D‘Andréa & Demattê (2000) e Demattê & Oshiro (2001) avaliaram substratos alternativos ao xaxim para cultivo de Aechmea fasciata e observaram que a mistura composta de 45% de casca de coco, 45% de bagaço de cana e 10% de húmus pode ser recomendada. Da mesma forma, Demattê (2001, 2002) verificou que fibra de coco, casca de pinus e húmus poderiam substituir o xaxim na composição dos substratos para cultivo de Tillandsia gardneri, sendo que as plantas em substratos contendo maior porcentagem de fibra de coco apresentaram maior número de folhas, em relação àquelas cultivadas em xaxim. Um outro aspecto a ser considerado é a escassez de literatura técnica sobre adubação de bromélias. A adubação foliar é prática comum no cultivo, embora realizada de maneira empírica quanto à formulação, freqüência e dosagem (Andrade & Demattê, 1999), havendo, portanto, necessidade de estudo a este respeito. O objetivo do presente trabalho foi comparar o efeito da fibra de coco verde (mesocarpo de coco triturado e mesocarpo de coco triturado lavado) àquele da fibra de xaxim sobre o crescimento e teores de nutrientes de Cryptanthus sinuosus L. B. Smith (Bromeliaceae) sob três níveis de adubação foliar. MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizadas mudas de bromélia de C. sinuosus L. B. Smith produzidas in vitro no Departamento de Biologia Celular e Genética, do Instituto de Biologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, no esquema fatorial (3x3), com quatro repetições, sendo utilizados três substratos (xaxim-X, mesocarpo de coco triturado - MC e mesocarpo de coco triturado lavado MCL) e três níveis de adubação foliar (Níveis 1, 2 e 3). A parcela experimental constou de três vasos, cada um contendo uma planta. A composição da solução de Hoagland ® (Hoagland & Arnon, 1950) foi adotada como base para adubação, variando-se a concentração de NPK. O nível 1 correspondeu à metade (50%) da concentração de NPK de Hoagland, o nível 2 correspondeu à concentração de NPK da formulação original (100%) (210 mg L-1 de N, 31 mg L-1 de P e 234 mg L-1 de K) e o nível 3 correspondeu a 1,5 vez a concentração (150%) de NPK. A adubação foi realizada a cada 15 dias, durante o período experimental de nove meses, pulverizando-se inicialmente 10 mL de solução nutritiva nas folhas de cada planta, sendo aumentado o volume conforme o crescimento das plantas até 15 mL. Os volumes foram predeterminados de maneira a molhar completamente as folhas sem haver escorrimento para o substrato, interrompendo-se a pulverização quando as folhas apresentavamse cobertas por uma tênue película de umidade. Não foi usado espalhante adesivo. As condições de temperatura e umidade relativa do ar foram monitoradas durante todo o período experimental. Para o preparo dos substratos de mesocarpo de coco, o material foi coletado em pontos de venda de água-decoco na cidade de Campos dos Goytacazes na região Norte Fluminense. Após o descascamento do coco, utilizou-se o mesocarpo, que foi triturado em picadeira de forragem (Nogueira/ EM-9F 3A), por três vezes. Após a moagem, o material foi seco ao sol, sobre uma tela do tipo Sombrite estendida sobre suporte de madeira. Uma parte do mesocarpo, após ser triturado, foi colocada em um saco permeável dentro de um tambor, para lavagem com água Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Fibra de coco e adubação foliar no crescimento e na nutrição de Cryptanthus sinuosus corrente por 24 horas, visando atingir condutividade elétrica próxima à observada para o xaxim e, em seguida, foi seca ao ar como descrito anteriormente. O xaxim utilizado foi adquirido comercialmente. Amostras de cada um dos substratos foram coletadas para avaliação de sua composição mineral. As mudas foram plantadas em vasos plásticos com capacidade de 0,5 L contendo os respectivos substratos, sendo uma planta por vaso. Em cada uma das três plantas da parcela foram avaliados: o número de folhas, o diâmetro da roseta e a massa da matéria seca das folhas e raízes. Além disso, foram determinados os teores de nutrientes das folhas e raízes. Após nove meses de cultivo, os substratos e as folhas das plantas foram submetidos à secagem em estufa com ventilação forçada a 70oC por 48 h e à trituração em moinho Wiley, com peneira de 20 mesh. Em seguida, o material foi submetido às digestões sulfúrica e nitroperclórica, separadamente, segundo metodologias descritas por Malavolta et al. (1997). Os extratos foram utilizados para a determinação dos teores de nutrientes (N, P, K, S, Cl e Na). O pH e a condutividade elétrica (CE) dos substratos foram determinados em água conforme a metodologia proposta por Tedesco et al. (1985). O nitrogênio foi determinado usando-se o método de Nessler (Jackson, 1965), o fósforo pela redução do complexo fosfo-molíbdico pela vitamina C (Braga & Defelipo, 1974); para o nitrato utilizou-se a metodologia descrita por Cataldo et al. (1975). O cloro foi determinado por titulometria (Malavolta et al., 1997). Os teores de potássio e de sódio foram determinados por espectrometria de absorção atômica. O enxofre foi determinado por turbidimetria. Para fins de análise estatística, os dados observados em cada uma das três plantas da parcela foram usados procedendo-se à análise de variância. As comparações de médias foram efetuadas utilizando-se o teste de Tukey ao nível de 5% de significância. RESULTADOS E DISCUSSÃO As plantas cultivadas em xaxim (X) apresentaram maior número de folhas Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Tabela 1. Diâmetro da roseta, número de folhas, massa da matéria seca (MS) das folhas e raízes, e relação MS folhas/MS raiz de plantas de Cryptanthus sinuosus, cultivadas em xaxim (X), mesocarpo de coco triturado lavado (MCL) e mesocarpo de coco triturado (MC), sob três níveis de adubação foliar (50, 100 e 150% da concentração NPK da solução de Hoagland), nove meses após o plantio. Rio de Janeiro, UERJ, 2004. *Médias seguidas da mesma letra não diferem a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. em relação àquelas cultivadas em mesocarpo de coco (MC) e mesocarpo de coco lavado (MCL). O diâmetro das plantas cultivadas em X não diferiram daqueles das plantas em MC e MCL. Todas as plantas em X apresentaram coloração verde, enquanto as plantas em MC e MCL apresentaram folhas com coloração avermelhada e roseta aberta com folhas dispostas horizontalmente, sendo mais atrativas do ponto de vista ornamental. Desta forma, o uso do MC como alternativa ao uso do X para o cultivo de Cryptanthus sinuosus seria vantajoso também pelo aspecto ornamental, além dos aspectos econômico e ambiental. Em pesquisa com Tillandsia gardneri, Demattê (2002) não observou diferenças significativas entre o número de folhas das plantas cultivadas em substratos à base de fibra de coco, em relação ao que continha xaxim. Como as espécies T. gardneri e C. sinuosus (epífita e terrestre, respectivamente), são bastante distintas, os resultados observados com ambas podem estar relacio- nados às características intrínsecas das espécies, bem como aos teores de nutrientes dos substratos de T. gardeneri aos quais adicionou-se húmus de minhoca e/ou macro e micronutrientes. Entretanto, quando Coutinho et al. (2001) estudaram o crescimento de mudas de C. sinuosus, produzidas in vitro, sob condições de campo e telado, com e sem pré-adubação com solução de Hoagland, obtiveram número de folhas, diâmetro de roseta e massa de matéria seca, das plantas sob telado, semelhantes aos observados neste trabalho, embora os substratos utilizados fossem mais ricos em nutrientes em relação ao X, MC e MCL, indicando eficiência dos tratamentos da presente pesquisa em promover o crescimento da espécie, corroborando a adequação da fibra de coco para o cultivo de C. sinuosus. As plantas cultivadas em X apresentaram valores de massa da matéria seca (MS), das folhas e raízes, mais altos que aqueles observados nas plantas em MC (Tabela 1), mas não diferiram estatisticamente daqueles observados nas plan311 JM Jasmim et al. Tabela 2. Teores de nutrientes na matéria seca das folhas e raízes de Cryptanthus sinuosus, cultivadas em xaxim (X), mesocarpo de coco triturado lavado (MCL) e mesocarpo de coco triturado (MC), sob três níveis de adubação, nove meses após o plantio. Rio de Janeiro, UERJ, 2004. *Médias seguidas da mesma letra não diferem a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. tas em MCL. Para as mesmas variáveis, as plantas cultivadas em MC e MCL não diferiram entre si, indicando que a alta condutividade elétrica encontrada no substrato MC não prejudicou o acúmulo de matéria seca das plantas. Isto poderia ser explicado pelo fato de a planta ser uma espécie de restinga e estar adaptada a ambientes com elevado teor de sais. Esses resultados, aliados aos dados de número de folhas e diâmetro da roseta, indicam que a lavagem do MC não seria necessária para o cultivo da espécie e confirmam a viabilidade de seu uso como substituto ao xaxim. Os resultados das características de crescimento (Tabela 1) e dos teores de nutrientes das plantas (Tabela 2) demonstraram que, independentemente do substrato de cultivo, não houve diferença estatística entre os três níveis de adu312 bação foliar (50, 100 e 150 % da concentração de NPK da solução de Hoagland), indicando que pode haver uma economia de nutrientes ao se utilizar metade da concentração de NPK da fórmula original. Os baixos teores de nutrientes encontrados no substrato MCL não prejudicaram as características de crescimento das plantas (Tabelas 2 e 3). Os teores de K encontrados nas folhas das plantas cultivadas em X e MC (Tabela 2) não diferiram entre si, embora o teor do nutriente no substrato X fosse muito mais baixo que no MC (Tabela 3), indicando que os teores foliares observados nas plantas podem ser oriundos da adubação e não do substrato. Da mesma forma, as plantas cultivadas em MC apresentaram teores de cloro semelhantes àqueles encontrados nas plantas cultivadas em MCL e X. Estes resultados evidenciam que o alto teor de cloro encontrado nas plantas não estava relacionado ao seu cultivo em MC. É possível, entretanto, que o cloro tenha sido proveniente, da água de irrigação utilizada, fornecida pela rede local. Assim, o teor de cloro das plantas em X poderia estar relacionado à perda de água mais lenta que ele apresenta em relação ao MC (Souza, 2002) e, logo, à maior contribuição da absorção radicular do nutriente para o teor observado nas plantas cultivadas naquele substrato. As plantas cultivadas em X apresentaram maiores teores foliares de N, P e S (Tabela 2), justificando-se os maiores valores de número de folhas, massa de Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Fibra de coco e adubação foliar no crescimento e na nutrição de Cryptanthus sinuosus Tabela 3. Teores de nutrientes, pH e condutividade elétrica (CE) dos substratos mesocarpo de coco triturado (MC), mesocarpo de coco triturado lavado (MCL) e xaxim (X), utilizados para o cultivo de Cryptanthus sinuosus. Rio de Janeiro, UERF. * Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. matéria seca das folhas e raízes (Tabela 1) encontrados nessas plantas. Como o fornecimento de nutrientes foi o mesmo para as plantas cultivadas nos outros substratos, o X deve ter oferecido alguma outra condição, como disponibilidade de água, que tenha favorecido à absorção adicional dos nutrientes nele contidos, além do fornecido na adubação foliar. Apesar de as plantas cultivadas em X terem apresentado teores foliares mais altos para alguns nutrientes (Tabela 2), os teores observados nas plantas de todos os tratamentos testados apresentaram-se abaixo dos níveis considerados suficientes por Jones Junior et al. (1991) para bromeliáceas como Aechmea fasciata e Ananas comosus. Entretanto, as espécies citadas em Jones Junior et al., (1991) são plantas de porte grande, enquanto C. sinuosus apresenta porte reduzido e ocorre em restingas, indicando possuir mecanismos que permitam sua sobrevivência sob condições de baixa disponibilidade e/ou menor absorção de nutrientes para seu crescimento. Além disso, as plantas de C. sinuosus, em todos os tratamentos apresentavam grande número de brotações, que podem ter influenciado nos baixos teores observados, uma vez que funcionariam como drenos das folhas. Altos teores de K, Na e Cl foram encontrados no substrato MC (Tabela 3), porém as plantas nele cultivadas não diferiram das cultivadas em X quanto ao teor foliar de K, nem daquelas em MCL quanto ao teor foliar de Cl (Tabela 2), indicando que os mesmos estavam relacionados a algum outro fator, além do teor presente no substrato. Abad et al. (2002) discorrem sobre possíveis efeitos prejudiciais da utilização da fibra de coco, em função de seus teores elevados de Na e Cl, no cultivo de espécies sensíveis à salinidade. Na presente Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 pesquisa, não foram detectados efeitos prejudicais dos teores desses nutrientes sobre o crescimento das plantas, possivelmente por se tratar de uma espécie oriunda de restinga. Handreck (1993) afirma que a fibra de coco apresenta alta concentração de K, Na e Cl, mas que o K não possui efeito negativo sobre o crescimento das plantas em geral, podendo ser uma característica positiva do material dispensando sua suplementação. De acordo com o mesmo autor, o Na é lixiviado facilmente pela água de irrigação. Os teores de Na, K e Cl encontrados no MCL (Tabela 3) no presente trabalho mostram que não só o Na, mas também o K, Cl e o NO 3- foram facilmente lixiviados do MC. Os altos teores de Cl no MC podem ser explicados pelo fato de 85% do cloro do fruto de coco verde ser encontrado na casca (Carsalade, 1992). As plantas cultivadas em X tiveram raízes com teores de N e S semelhantes àqueles de plantas cultivadas em MCL, e superior àqueles das plantas no MC (Tabela 2). As plantas cultivadas em X e MCL apresentaram raízes com maior massa da matéria seca (Tabela 1) e maiores teores de N (Tabela 2). Embora os teores de N nas raízes tenham sido próximos àqueles das folhas e, em valores absolutos, maiores, a distribuição relativa do elemento na planta foi a esperada, ou seja, maior nas folhas (em torno de 85%) e menor nas raízes (em torno de 15%). Com base nos resultados obtidos pode-se concluir que a fibra de coco, ou mesocarpo verde, pode ser uma alternativa ao uso do xaxim para o cultivo de Cryptanthus sinuosus, promovendo arquitetura da planta (diâmetro e disposição) e coloração mais atrativa das folhas, embora promova menor número de folhas e massa de matéria seca. Os dife- rentes níveis de adubação foliar empregados não causaram efeitos diferenciados nos resultados. AGRADECIMENTOS Ao Setor de Nutrição Mineral LFIT/ CCTA/UENF; LABMIT/UERJ; FENORTE/TECNORTE. REFERÊNCIAS ABAD M; NOGUERA P; NOGUERA V. 1997. Crecimiento de plantas ornamentales de hoja en substratos de cultivo a base de fibra de coco. DEMATTÊ, MESP; VITTI, GC. 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Postal 137, 59625-900 Mossoró-RN; 2UFV-Depto Fitotecnia, 36571-000 Viçosa-MG; [email protected] RESUMO ABSTRACT As áreas de cultivo com intensa evaporação, deficiência em drenagem e uso inadequado de fertilizantes têm aumentado os problemas com a salinidade prejudicando o rendimento das culturas. No meloeiro as elevadas concentrações de sais no solo e na água ocasionam modificações morfológicas, estruturais e metabólicas, que inibem o seu crescimento e desenvolvimento. Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar a germinação e o crescimento inicial de híbridos de meloeiro em diferentes níveis de salinidade da água de irrigação e submetidas a um estresse salino através da embebição. Os tratamentos foram instalados no delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 2x3x5 (sementes tratadas com e sem pré-embebição em solução salina de NaCl (6 g/L), três híbridos de meloeiro (Hy Mark, Honey Dew Red Flesh e Daimiel), e cinco níveis de condutividade elétrica da água de irrigação (0,45; 1,30; 2,15; 3,00 e 3,85 dS m-1), com três repetições. Foram feitas avaliações da porcentagem de germinação, velocidade de emergência, área foliar, altura e massa seca da parte aérea. O tratamento prégerminativo de sementes de meloeiro com solução salina (6 g/L) proporcionou maior massa seca da parte aérea das plântulas e um aumento significativo na porcentagem de germinação. Por outro lado, a salinidade da água de irrigação reduziu a área foliar, a massa seca da parte aérea da plântula e a altura da plântula. A cultivar Daimiel destacou-se como a mais tolerante a salinidade em razão das maiores estimativas da área foliar, massa seca da parte aérea e altura da plântula. Germination and initial growth stage of melon plant hybrids due to salinity Palavras-chave: Cucumis melo L., plântulas, produção, osmocondicionamento. Keywords: Cucumis melo L., seedlings, production, osmoconditioning. Cultivation sites with intense evaporation rates, drainage deficit and inadequate use of fertilizers have increased the problems with salinity by impairing the good development of cultures. In melon plants, the high concentration of salts in both soil and water bring about morphological, structural and metabolic changes and inhibit their growth and development. Therefore, the aim of this work was to evaluate germination and initial growth stage of melon plants hybrids in different levels of salinity of irrigation water and submitted to a saline stress through imbibition. The treatments were organized in a completely randomized design in factorial scheme 2x3x5 (seeds treated with and without preimbibition in saline solution of NaCl (6 g/L), three hybrids of melon plant Hy Mark, Honey Dew Red Flesh and Daimiel, and five levels of electrical conductivity of irrigation water (0.45; 1.30; 2.15; 3.00 and 3.85 dS m-1), with three replicates. Evaluation of germination rate, emergency speed, foliar area, height and dry mass of the aerial part were made. The pre-germinant treatment of melon plant seeds with saline solution (6 g/L) provided larger dry mass of the aerial part of seedlings and a significant increase in the percentage of germination. On the other hand, the salinity of irrigation water reduced the foliar area, the dry mass of the aerial part and the height of the seedling. Compared to the other two cultivars, Daimiel proved to be the most tolerant to salinity due to higher estimates of the foliar area, dry mass of the aerial part and the height of the seedling. (Recebido para publicação em 17 de maio de 2005; aceito em 21 de agosto de 2006) O melão é a hortaliça de maior importância nos últimos anos no nordeste brasileiro devido ao aumento das exportações, ao maior consumo no mercado interno e a ocupação de grande quantidade de mão-de-obra (Medeiros, 2001). A região nordeste, representada pelos estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia e Pernambuco, respondeu por 93,4% da produção do país em 2001 (IBGE, 2003). O Rio Grande do Norte destaca-se como o principal produtor dessa olerícola, tanto em área cultivada como em produtividade (Medeiros, 2001). A produção de melão neste estaHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 do se concentra no pólo agrícola Mossoró-Açu e na Chapada do Apodi, englobando a região semi-árida, próxima à zona litorânea, na qual predominam altos níveis de sais no solo e na água de irrigação. Nessas áreas, a intensa evaporação, a deficiência em drenagem e o próprio uso de fertilizantes, têm aumentado os problemas com a salinidade, prejudicando o rendimento das culturas (Medeiros, 2001). Espécies e cultivares apresentam tolerância variável à salinidade (Gohram, 1995), o que faz com que a necessidade e o manejo da lixiviação de sais no solo sejam específicos para cada cultura. Os efeitos dos sais sobre as plantas podem ser notados pelas dificuldades de absorção de água salina pela planta, pela interferência dos sais nos processos fisiológicos, ou mesmo por toxidez, similares àquelas de adubações excessivas (Lima, 1997). O efeito geral da salinidade é a redução da taxa de crescimento, resultando em folhas menores e em menor número (Jacoby, 1994). As raízes também são reduzidas em seu comprimento e massa (Shannon & Grieve, 1999). Chartozoulakis (1992), trabalhando com 315 RCF Queiroga et al. pepino, em condição salina acima de 5,0 dSm-1, verificou redução da germinação, no comprimento das radículas, nos pesos das massas fresca e seca das radículas, e para níveis entre 10,7 e 16,2 dS m -1 , redução da emergência de plântulas. Na cultura do meloeiro, as elevadas concentrações de sais no solo e na água ocasionam modificações morfológicas, estruturais e metabólicas e inibem o seu crescimento e desenvolvimento, reduzindo a porcentagem de massa seca nas plantas (Sivritepe et al., 2003), no tamanho dos frutos e rendimento (Mendlinger & Fossen, 1993). A salinidade, também, afeta a porcentagem de germinação e o índice de velocidade de germinação das sementes (Oliveira et al., 1998; Sivritepe et al., 2003). A necessidade de desenvolver cultivares com elevada tolerância a sais, têm aumentado fortemente, na última década, devido ao aumento da salinidade, pois, em geral, as plantas não desenvolvem tolerância a sais, a menos que elas as desenvolvam em condições salinas (Sivritepe et al., 2003; Passam & Kakouriotis, 1994). Uma tecnologia que pode ser utilizada para se produzir, economicamente, em condições de salinidade é a preparação da semente através do osmocondicionamento e a avaliação de cultivares tolerantes a condições salinas (Sivritepe et al., 2003). Considerando que há variabilidade genética suficiente no germoplasma de meloeiro, como tem sido demonstrado por Oliveira et al. (1998), é necessário avaliar a tolerância de híbridos de meloeiro para orientar os programas de melhoramento genético e a recomendação de materiais para essas regiões. O objetivo deste trabalho foi avaliar a germinação e o crescimento inicial de híbridos de melão quando submetidos a um estresse salino, através da embebição das sementes, e irrigação em diferentes níveis de salinidade. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado em casa-de-vegetação da ESAM (MossoróRN), em setembro de 2003. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com três repetições. Os tratamentos foram instalados 316 em esquema fatorial 2x5x3: sementes tratadas (com e sem pré-embebição em solução salina de NaCl a 6 g/L), três híbridos de meloeiro (Hy Mark, Honey Dew Red Flesh e Daimiel) e cinco níveis de salinidade da água (0,45; 1,30; 2,15; 3,00 e 3,85 dS m-1). O híbrido Hy Mark é do tipo Cantaloupe, o Honey Dew Red Flesh do tipo Orange Flesh, enquanto o Daimiel é do tipo Pele de Sapo. Antes da condução definitiva do experimento, realizou-se um pré-ensaio com o objetivo de determinar o tempo ideal de embebição das sementes sem afetar o poder germinativo das mesmas. Este pré-ensaio foi realizado com duas soluções, com condutividade elétrica de 5,39 e 9,73 dS m-1, submetendo as sementes por 2, 4, 6, 8 e 10 horas nas soluções de NaCl, nas concentrações citadas anteriormente, onde foram colocadas em placa de Petri contendo 50 mL das soluções, deixando-as embeber até o término do tempo estabelecido. Quando completado cada tempo, essas sementes foram retiradas da solução e imediatamente lavadas com água destilada, colocadas em papel germinativo e acondicionadas em câmara de germinação com temperatura regulada para 30º C. Realizou-se a contagem das sementes germinadas, para determinar o melhor tempo de submersão e a melhor condutividade elétrica da água de embebição. A partir da porcentagem de germinação obtida, foi escolhida a solução com 9,73 dS m-1 (6 g/L de NaCl) e o tempo de 10 horas para embeber as sementes utilizadas no experimento. No experimento foram usadas duas sementes de cada híbrido (tratadas ou não) em solução salina, em bandejas de 128 células contendo substrato comercial. Após quatro dias realizou-se o desbaste, deixando apenas uma planta para a contagem final. As bandejas foram colocadas em casa-de-vegetação e irrigadas durante 12 dias. A temperatura e umidade relativa do ambiente foram em média de 300 C e 70 %, respectivamente. A solução usada para irrigação foi obtida misturando-se duas águas de diferentes poços com os níveis de salinidade de 0,45 e 3,85 dS m-1 em diferentes proporções, determinando a condutividade elétrica de cada mistura. A partir dos dados obtidos e suas respectivas proporções foi possível obter os níveis de condutividade elétrica da água de irrigação, espaçados em 0,85 dS m-1. As características avaliadas foram porcentagem de germinação, obtida através da contagem do número de plantas germinadas por parcela e feita a transformação em porcentagem, velocidade de emergência (VE= N 1 E 1 +N 2 E 2 +...+N n E n /E 1+E 2 +...+En, onde N é o número de dias após o semeio e E é o número de plantas emergidas), altura da plântula, área foliar sendo determinada através de um integrador de área (marca LI-COR, modelo LI-3100) através da medida de todas as folhas de cada planta e pesada a massa seca da parte aérea após secagem em estufa com circulação forçada de ar a 700 C. Os dados foram submetidos à análise de variância ao nível de 1% de probabilidade. Os fatores qualitativos (híbrido e embebição), foram avaliados por meio de teste de comparação de médias, utilizando o critério de Scott-Knott com nível de significância de 5%. O fator quantitativo (nível de salinidade) foi estudado através da análise de regressão. A análises foram realizadas pelo programa SAS (Statistical Analysis System), com os procedimentos GLM, REG e NLIN. RESULTADOS E DISCUSSÃO Quando as sementes foram embebidas em solução de cloreto de sódio, a porcentagem de germinação, bem como a massa seca da parte aérea foram significativamente maiores. Ao contrário, a velocidade de emergência das sementes embebidas com solução salina, foi significativamente menor (Tabela 1). Por outro lado, as cultivares diferiram para todas as características avaliadas, evidenciando variabilidade entre os híbridos de meloeiro. Considerando-se as interações entre os fatores avaliados, no presente estudo, não foi observada interação entre embebição e salinidade para quase todas as variáveis, exceto para velocidade de emergência. Constatou-se efeito significativo da interação Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Germinação e crescimento inicial de híbridos de meloeiro em função da salinidade Tabela 1. Velocidade de emergência, porcentagem de germinação, massa seca da parte aérea de plântulas com e sem embebição em solução de NaCl e de três híbridos de meloeiro, e desdobramento da interação para área foliar. Mossoró, ESAM, 2003. Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. * (ExH) - Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha, e maiúscula na coluna, não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. entre embebição e híbridos apenas para a área foliar. Houve interação significativa entre híbridos e salinidade para a variável altura da plântula. Observou-se um efeito quadrático para as sementes tratadas com solução de NaCl, as quais apresentaram menor número de dias para a emergência das plântulas, em comparação com as não tratadas, a partir de 0,80 dS m-1 (Figura 1). O fato de ter havido interação embebição x salinidade para a velocidade de emergência deve está relacionado ao ajustamento osmótico, ou seja, a embebição das sementes fizeram com que elas se ajustassem à salinidade da água a qual foram submetidas, resultando numa maior velocidade de emergência. Talvez o ajustamento tenha apenas respondido na fase de emergência, ao contrário do que poderia ocorrer na fase final de crescimento culminando numa menor quantidade de massa seca. Dentre os híbridos, o Hy Mark e o Honey Dew Red Flesh apresentaram menor número de dias para a emergência das plântulas em relação ao Daimiel (Tabela 1). Para a porcentagem de germinação, as sementes tratadas com NaCl apresentaram maior valor do que as não tratadas (Tabela 1). Esse resultado indica que o tratamento da semente do meloeiro com solução de NaCl aumentou significativamente a porcentagem de germinação, embora tenha ocorrido pequena diferença na germinação de sementes tratadas e não tratadas. O híbrido Honey Dew Red Flesh apresentou maior porcentagem de germinação que os demais (Tabela 1), o que não corrobora com Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Figura 1. Velocidade de emergência de sementes de híbridos de meloeiro com (1) e sem (2) embebição com solução salina em função de níveis de salinidade da água de irrigação. ESAM, Mossoró, 2003. resultados de área foliar, massa seca e altura da plântula para esse híbrido. A diferença entre os três híbridos não é elevada, no entanto, a porcentagem de germinação do híbrido Daimiel é alta, evidenciando que esse material é tolerante à salinidade da água de irrigação. Em estudo realizado para comparar o efeito da salinidade sobre a germinação de sementes de híbridos de meloeiro Botía et al. (1998) verificaram efeito negativo da salinidade sobre a germinação, diferente dos resultados obtidos. Sivritepe et al. (2003), trabalhando com sementes de meloeiro, observaram que as sementes que passaram por um tratamento pré-germinativo com NaCl apresentaram melhores resultados para a emergência total e tempo médio de emergência. Para velocidade de emergência e porcentagem de germinação, os resultados sugerem que as sementes embebidas em solução de NaCl passaram por um processo de adaptação à salinidade, originado da osmorregulação, que pode ser induzida por solutos orgânicos (açúcares, ácidos orgânicos, aminoácidos livres e prolinas) e/ou íons específicos (Na, Ca e Cl), evitando também a desi317 RCF Queiroga et al. Figura 2. Altura das plântulas de meloeiro híbrido Daimiel (1), Honey Dew Red Flesh (2) e Hy Mark (3) em função de níveis de salinidade da água de irrigação. Mossoró, ESAM, 2003, dratação, o qual é a base da sua tolerância a sais, induzida por estresse osmótico. As plântulas provenientes de sementes embebidas apresentaram maior massa seca da parte aérea (Tabela 1). O híbrido Daimiel (grupo Inodorus) apresentou maior massa seca em relação aos demais. Mangal et al. (1988), trabalhando com melões dos grupos inodorus e cantaloupensis, também constataram diferenças entre cultivares para a massa seca. Para a área foliar, constatou-se que o híbrido Daimiel apresentou maior área foliar nas condições de sementes embebidas em solução salina e que não se verificaram diferenças entre os híbridos Hy Mark e Honey Dew Red Flesh (Tabela 1). A altura de plântulas não foi influenciada pela embebição da semente em solução de NaCl. No que se refere ao efeito dos níveis de salinidade da água de irrigação, observou-se que seu aumento reduziu a altura das plântulas nos três híbridos, apresentando efeito quadrático no híbrido Daimiel, que foi afetado negativamente a partir de 2,15 dS m-1 (Figura 2) em relação aos outros dois, que apre318 sentaram uma resposta linear, inversamente proporcional ao aumento nos níveis de salinidade da água de irrigação. O híbrido Hy Mark, com a menor estimativa de altura de plântula, apresentou o menor declínio, seguido do híbrido Honey Dew Red Flesh. O comportamento do híbrido Daimiel foi distinto dos demais, demonstrando mais tolerância a maiores níveis de salinidade da água de irrigação. O resultado para altura de plântula para o híbrido Daimiel está coerente com aqueles observados nas variáveis área foliar e massa seca da plântula (Tabela 1). Nukaya et al. (1980), estudando o efeito da salinidade sobre genótipos de meloeiro, verificaram efeito negativo da salinidade sobre a altura de plantas, em dois estádios da colheita. Houve uma resposta linear dos níveis de salinidade da água de irrigação, influenciando de forma negativa a área foliar, evidenciando que, o desenvolvimento das folhas é prejudicado pelo aumento da salinidade da água de irrigação (Figura 3A), concordando com os resultados de Franco et al. (1997). O índice de área foliar é uma característica que tem sido recomendada para avaliar a tolerância de genótipos ao estresse salino. Em outras culturas, seja perene ou anual, tem sido demonstrando que a salinidade reduz a área foliar, comprometendo o crescimento da plântula e, por conseqüência, a produtividade (Azevedo Neto & Tabosa, 2000; Carneiro et al., 2002). Houve uma redução significativa de 17,61% na área foliar do nível de 0,45 dS m -1 para 3,85 dS m -1 de salinidade da água de irrigação, a qual é inferior àquelas observadas em trabalhos realizados na Espanha (Franco et al., 1993; Franco et al., 1997). Vale ressaltar que os níveis utilizados nesse estudo foram inferiores àqueles dos trabalhos acima citados, além das cultivares serem diferentes, visto que cada cultivar possuem suas características intrínsecas. Franco et al. (1997) comentam que o índice de área foliar está estreitamente relacionado com a produção sob estresse salino, com correlações próximas de 1,0, entre área foliar e produção. As injúrias induzidas por sais podem ocorrer não somente devido a efeitos osmóticos e oxidativos, mas também por efeitos tóxicos e de deficiência de nutrientes (Sivritepe et al., 2003). O aumento nos níveis de salinidade pode causar o aumento na concentração de Na e levar a redução nos teores de K e Ca nas plântulas do meloeiro. O Ca altera a permeabilidade da membrana plasmática, e com a salinidade pode, afetar a entrada de outros nutrientes, o que é um dos principais fatores do estresse das plantas. Já o K, por meio da ativação enzimática, síntese de proteínas e fotossíntese, afeta a divisão e expansão celular, proporcionando plantas com menor área foliar. Houve efeito linear da massa seca da parte aérea das plântulas (Figura 3B) que apresentou variação inversamente proporcional com o aumento dos níveis de salinidade da água de irrigação, conforme havia sido verificado para a área foliar. Houve uma redução de 23,57 % da massa seca do nível de salinidade da água de irrigação de 0,45 dS m-1 para 3,85 dS m-1, sendo mais acentuada a partir de 2,15 dS m-1. Isso concorda com a literatura, isto é, o meloeiro é uma cultura moderadamente tolerante à salinidade até condutividade elétrica de 2,2 dS m-1 no extrato de saturação do solo (Mangal et al., 1988; Mendlinger e Pasternak, 1992). Feigin (1990), estuHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Germinação e crescimento inicial de híbridos de meloeiro em função da salinidade dando respostas de plantas de meloeiro Gália em condições salinas (9,0 dS m-1) e não salinas, em solução nutritiva, obteve menor quantidade de massa seca. Desta forma, o aumento nos níveis de salinidade contribuiu para a redução da área foliar e, consequentemente, redução na capacidade fotossintética das plântulas, na massa seca e síntese de carboidratos, conforme verificado por Sivritepe et al. (2003). Diante dos resultados obtidos, conclui-se que o tratamento de sementes de melão com solução salina de NaCl (6 g/ L) pode ser usado para aumentar a tolerância de sais pelas plântulas, proporcionando maior massa seca da plântula e aumento na porcentagem de germinação. O híbrido Daimiel destacou-se como o mais tolerante à salinidade, em razão dos maiores valores de área foliar e massa seca da parte aérea, quando as sementes foram embebidas em solução salina. REFERÊNCIAS AZEVEDO NETO AD; TABOSA JN. 200. Estresse salino em plântulas de milho: parte I análise do crescimento. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental 4: 159-164. BOTÍA P; CARVAJAL M; CERDÁ A; MARTÍNEZ V. 1998. 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Postal 02, 58397-000 Areia-PB; 1Bolsista CNPq; 2Programa de Pós-graduação em Agronomia; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Com o objetivo de avaliar a resposta da batata-doce cultivar Rainha Branca a doses de K2O, foi realizado um trabalho em NEOSSOLO REGOLÍTICO Psamítico típico, no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, em Areia (PB), no período de julho a novembro de 2004. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados com seis tratamentos (0; 50; 100; 150; 200 e 250 kg ha-1 de K2O), em quatro repetições. A parcela constou de 48 plantas, espaçadas de 0,80 m entre linhas x 0,30 m entre si. As doses de 194 e 174 kg ha-1 de K2O, proporcionaram as máximas produções total e comercial de raízes (14,8 e 8,4 t ha-1), respectivamente. Entretanto, a dose mais econômica para a produção de raízes comerciais foi alcançada com 163 kg ha-1 de K2O, que produziu 6,0 t ha-1 de raízes comerciais. As doses de K2O, com as quais obtiveram-se a máxima produção e retorno econômico de raízes comerciais, se correlacionam, respectivamente, com 125 e 121 mg dm-3 de K disponível no solo, obtido pelo extrator Mehlich 1. A probabilidade para ocorrência de resposta da batata-doce à adubação potássica em solos semelhantes ao do presente estudo será minimizada quando o teor de K disponível for superior a 121 mg dm-3. Para o solo em estudo, a dose de 163 kg ha-1 de K2O deve ser recomendada para a fertilização da batata-doce. Palavras-chave: Ipomoea batatas, nutrição mineral, produção de raízes. Sweet potato yield as a function of K2O levels in a sandy soil The response of sweet potato Rainha Branca cv., cultivated under different K2O levels was evaluated. The experiment was carried out in randomized blocks design with four replications in a Quartz psamment soil at Universidade Federal da Paraíba, Paraiba State, Brazil, from July to November/2004. The K2O levels applied were 0; 50; 100; 150; 200 and 250 kg ha-1). The plots consisted of 48 plants, spaced of 0.80x0.30 m. The maximum estimated values, 14.8 and 8.4 t ha-1 of total and commercial roots yield, were obtained with 194 and 174 kg ha-1 of K2O, respectively. However, the most economic level of commercial roots yield (6.0 t ha-1) was reached using 163 kg ha-1 of K2O. The K2O levels resulting in maximum roots yield and economic return, were correlated respectively with 125 and 121 mg dm-3 of available K with Mehlich 1 extractor. The probability for sweet potato response under potassic fertilization in similar soils will be minimized if the level of available K in the soil were superior to 121 mg dm-3. For utilized soil in this study, 163 kg ha-1 of K2O can be recommended for sweet potato fertilization. Keywords: Ipomoea batatas, mineral fertilization, roots production. (Recebido para publicação em 7 de junho de 2005; aceito em 29 de agosto de 2006) A batata-doce é cultivada com maior intensidade nas regiões sudeste e nordeste do Brasil, sendo que nessa última, assume alta importância social, principalmente por participar na geração de emprego e de renda para os pequenos agricultores. Além disso, faz parte da cadeia alimentar da região, por se constituir em alimento rico em carboidratos (Soares et al., 2002). No estado da Paraíba, a batata-doce é mais cultivada e difundida nas regiões próximas aos grandes centros consumidores, especialmente nas microregiões do brejo e litoral paraibano, sendo considerado o maior produtor nordestino e o quarto produtor nacional (Soares et al., 2002). Contudo, apesar deste destaque, é paradoxalmente um dos estados que possui uma das mais baixas produtividades média a nível nacional, 6,8 t ha-1, sendo a falta de um programa de nutri320 ção mineral para a cultura, um dos principais fatores responsáveis por este fato (Silva et al., 2002). A batata-doce possui sistema radicular ramificado, o que a torna eficiente na absorção de nutrientes. Contudo, sua resposta à adubação depende das condições do solo. Quando cultivada em solos com fertilidade natural de média à alta, geralmente não há resposta. No entanto, em solos pouco férteis, o uso de fertilizantes minerais e orgânicos proporciona incremento significativo na produtividade (Monteiro et al., 1997). Nesse sentido, Mendonça & Peixoto (1991), avaliando diferentes níveis de adubação para a batata-doce, obtiveram respostas significativas para a produtividade, produção por planta e peso médio de raízes comerciais. As hortaliças são exigentes em K disponível no solo, sendo esse o primei- ro macronutriente em ordem de extração, para a maioria delas. O potássio favorece a formação e translocação de carboidratos e o uso eficiente da água pela planta; equilibra a aplicação de nitrogênio e melhora a qualidade do produto e, consequentemente, o valor de mercado (Filgueira, 2003). O potássio juntamente com o fósforo é responsável pelo aumento da produtividade (Pimentel, 1985), sendo necessária a remoção de 340 kg ha-1 de K2O para que ocorra produção máxima de raízes comerciais (Potafos, 1990), já que o potássio desempenha papel importante na formação das raízes tuberosas. Em função disso quando ocorre deficiência desse nutriente, há redução da produção de raízes comerciais, e maior formação de raízes curtas e irregulares (Chaves & Pereira, 1985; Barreira, 1986; Mendonça, 1991). Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Produtividade da batata-doce em função de doses de K2O em solo arenoso O objetivo deste trabalho foi avaliar a produtividade total e comercial de raízes de batata-doce cultivada com doses crescentes de K2O, em solo representativo de áreas de cultivo, na região de Areia (PB). MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi desenvolvido entre julho e novembro de 2004, em área experimental do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, em Areia-PB, localizada na microregião do Brejo Paraibano. Pela classificação de Koppen, o clima é do tipo AS’(quente e úmido), precipitação pluviométrica média anual em torno de 1.400mm e temperatura média anual entre 23º e 24 ºC. A temperatura média em oC, a precipitação pluviométrica em mm e a umidade relativa em % do período experimental foram, respectivamente: julho= 20,3; 259; 90,7; agosto= 20,9; 71; 88; setembro= 21,3; 51; 85; outubro= 22,4; 15; 81; e novembro= 23; 14; 77. O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com seis tratamentos constituídos de seis doses de K2O (0, 50, 100, 150, 200, e 250 kg ha-1), com quatro repetições e parcelas compostas de 48 plantas úteis. O solo da área experimental foi classificado de acordo com Embrapa (1999), como NEOSSOLO REGOLITICO Psamítico típico, textura franco-arenosa, com relevo local suave ondulado e regional forte ondulado e fase floresta subperenifólia (Brasil, 1972). As análises química e física da camada de 0-20 cm, resultaram em: pH (H2O)= 6,3; P= 10,14 mg dm-3; K= 37,4 mg dm-3; Na+= 0,07 cmolc dm-3; H++Al+3= 1,32 cmolc dm-3; Al+3= 0,0 cmolc dm-3; Ca+2= 2,4 cmolc dm-3; Mg+2= 0,7 molc dm-3; SB= 3,27; CTC= 4,59 e matéria orgânica= 15,8 g dm-3; areia grossa= 672 (g kg-1); areia fina= 125 (g kg-1); silte= 126 (g kg-1); argila= 77 (g kg-1); densidade do solo= 1,28 (g cm-3), conforme Embrapa (1997). O preparo da área constou de aração, gradagem e construção de leirões com aproximadamente 30 cm de altura, com auxílio de enxada. A adubação de plantio constou da aplicação de 120 kg ha-1 de P2O5, 20 t ha-1 de esterco bovino e 50% das doses Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 de K2O. Na adubação de cobertura foram fornecidos os 50% restantes das doses de K2O e 20 kg ha-1 de N, parcelados em partes iguais aos 30 e 60 dias após o plantio. Na adubação de plantio, os adubos foram distribuídos até 15 cm de profundidade em sulco contínuo, aberto no topo dos leirões, e na adubação de cobertura, distribuídos em linha lateral aos leirões. Posteriormente, os adubos foram cobertos com fina camada de solo. Como fontes de P2O5, de N e de K2O, foram empregados, respectivamente, o superfosfato simples, sulfato de amônio e cloreto de potássio. No plantio foram utilizadas ramas da variedade Rainha Branca, espaçadas de 0,80 m entre linhas x 0,30 m entre si, retiradas de plantio jovem, em área próxima ao experimento. As ramas foram cortadas com um dia de antecedência, para facilitar o manejo e seccionadas em pedaços de, aproximadamente, 40 cm de comprimento, contendo em média oito entrenós e enterradas pela base com auxílio de pequeno gancho, na profundidade de 10 a 12 cm. Durante a condução do experimento foram realizadas irrigações, pelo sistema de aspersão convencional, nos períodos de ausência de precipitação, com turno de rega de três dias; capinas manuais com auxílio de enxada para manter a cultura livre de competição com plantas daninhas; amontoas para proteger as raízes contra a incidência de luz e manter a formação dos leirões. Não foram efetuadas aplicações de defensivos devido à ausência de pragas ou de doenças. A colheita foi realizada aos 120 dias após o plantio, anotando-se os dados de produtividade total e comercial de raízes. A produtividade comercial correspondeu ao peso das raízes de formato uniforme e lisas, com peso igual ou superior a 80 g, conforme Embrapa (1995). Ao final da colheita, efetuou-se a amostragem do solo (0-20 cm de profundidade), coletando-se dez amostras simples por parcela para determinar as concentrações de K-disponível pelo extrator Mehlich 1. Os resultados obtidos foram submetidos às análises de variância e de regressão, utilizando-se o “software” SAEG (2001), sendo selecionado para expressar o comportamento das doses de K2O sobre as características avaliadas, o modelo significativo que apresentou maior coeficiente de determinação. Nas significâncias das análises de variância e de regressão foi considerado o nível de probabilidade de até 5% pelo teste F. Também foi determinada a dose mais econômica de K2O para a produção de raízes comerciais, conforme Raij (1991). Os valores utilizados para as variáveis raízes comerciais e K2O, foram R$ 0,50/kg de raízes e R$ 2,00/kg de K2O. No entanto, a fim de atenuar os problemas de variação cambial, para o resultado que permitiu o cálculo da dose mais econômica, trabalhou-se com uma relação de troca ao invés de moeda corrente (Natale et al., 1996), procurandose assim dados mais estáveis. Portanto, a “moeda” utilizada nos cálculos, foi a própria produção de raízes comerciais, considerando-se a seguinte relação de equivalência: quilograma de K2O/kg de raízes igual a 4,0, sendo a dose mais econômica calculada baseando-se na derivada da equação de regressão entre a produção de raízes e as doses de k2O por meio da relação de dy/dx= a1+2a2 x. A dose mais econômica (x’) foi então calculada por: x’= a1 - relação de equivalência/2(-a2), onde x’ representa a dose econômica, a1 a taxa de incremento de produção e a2, o ponto de máxima produção. RESULTADOS E DISCUSSÃO As relações entre as produtividades total e comercial de raízes com as doses de potássio, foram de natureza quadrática (Figura 1). As máximas produtividades, total e comercial, estimadas de raízes de batata-doce, em função das doses de K2O foram, respectivamente, 14,8 e 8,4 t ha-1, sendo obtidas, respectivamente, com 194 e 173 kg de K2O ha-1. A produtividade de raízes comerciais, embora inferior a média nacional, definida em 10 t ha-1 por Soares et al. (2002), foi superior ao rendimento médio de raízes comerciais para a batatadoce no estado da Paraíba, estabelecida em 6,8 t ha-1 por Silva et al. (2002). A redução das produtividades verificadas em doses de K2O acima 321 CH Brito et al. Figura 1. Produtividades total (y1) e comercial (y2) de raízes de batata-doce em função do uso de doses de K2O no solo. UFPB, Areia, 2004. Figura 2. Relação entre o teor de K-disponível no solo (Mehlich-1) antes do plantio e as doses de K aplicadas. Os valores entre parênteses indicam doses de K o teor de K disponível no solo que correspondem a máxima eficiência técnica (MET) para a produção de raízes comerciais e a máxima eficiência econômica (MEE). UFPB, Areia, 2004 daquelas responsáveis pelos máximos valores, possivelmente foi decorrente da elevação da salinidade do solo proporcionada pelas maiores concentrações do adubo potássico nas raízes (Raij, 1991), com elevação da pressão osmótica da solução do solo. Isso porque a adubação excessiva com potássio, pode levar ao aumento da concentração salina do solo e à redução na absorção de outros cátions, principalmente Ca e Mg, promovendo redução na produtividade da cultura (Pereira & Fontes, 2005). 322 A fórmula obtida para a dose econômica de raízes comerciais foi: 0,0693 – 4,0 Dose de K2O = —————— 2(0,0002) onde 4,0 é a relação de equivalência. Dessa forma, a dose mais econômica de K2O foi de 163 kg ha-1. O ganho previsto devido apenas à aplicação do K2O, calculado pelo aumento de produção de raízes comerciais, foi de 6,0 t ha-1, que deduzido da quantidade de raízes (0,55 t ha-1) necessária para aquisição de 163 kg ha-1 de K2O, resultou em superávit de 5,45 t ha-1 de raízes comercias. A dose mais econômica representou 93% da máxima eficiência técnica (M.E.T), a qual representa a dose de fertilizante em que a resposta da produção atinge o máximo (Natale et al., 1996), e indica a viabilidade do emprego do potássio no cultivo da batata-doce. As doses de K2O responsáveis pela máxima produção de raízes comerciais e pelo máximo retorno econômico se correlacionaram, respectivamente, com 125 e 121 mg dm-3 de K disponível (Figura 2). A produção de raízes comerciais e os teores de K disponível no solo após a colheita foram influenciados significativamente pelas doses de K2O. Contudo, a probabilidade de ocorrência de resposta da batata-doce à adubação potássica, cultivada em solos semelhantes ao do presente estudo, será minimizada quando o teor de K disponível for superior a 121 mg dm-3. O baixo teor inicial de potássio no solo (EMATER, 1979; Potafos, 1990), possivelmente tenha sido forte aliado para a resposta da batata-doce a esse nutriente. Isso porque os efeitos da adubação potássica sobre as culturas é especialmente acentuada em solos arenosos e de baixa fertilidade (Raij, 1991). Em solos com essa característica, a necessidade de fertilizante potássico é, freqüentemente, maior do que a necessidade de K da cultura. Por outro lado, naqueles solos com teor elevado de K disponível, a aplicação desse fertilizante, resulta apenas em pequeno aumento de produção (Mengel, 1982). Em solos arenosos do Litoral e Agreste paraibano, Soares et al. (2002), relatam efeitos significativos do emprego do potássio sobre o aumento de produção na batatadoce. Nas espécies produtoras de raízes tuberosas, doses adequadas de potássio favorecem a formação e translocação de carboidratos e melhora a absorção de nitrogênio e a produção de raízes comerciais (Filgueira, 2003). Portanto, é provável que durante o crescimento e desenvolvimento da batata-doce, as doses de K 2O responsáveis pelas máximas produções, juntamente com os nutrientes adicionados ao solo, supriram de Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Produtividade da batata-doce em função de doses de K2O em solo arenoso forma equilibrada as necessidades nutricionais da espécie. Segundo Mengel (1982), altas produções são obtidas quando as exigências de potássio da planta são totalmente atendidas. Nas condições regionais de AreiaPB, para o estabelecimento da batatadoce em Neossolo Regolítico Psamítico Típico, textura franco-arenosa, com características químicas semelhantes ao solo onde este trabalho foi conduzido, deve ser recomendada a aplicação de 163 kg ha-1 de K2O. Esta dose extrapola a recomendação média de 90 a 120 kg ha-1 de K2O, para essa hortaliça, em solos com baixo a médio teor deste elemento, conforme Filgueira (2003). Possivelmente, isso esteja relacionado com o fato de o solo empregado ser de textura arenosa. Nesses solos, é necessário que se forneça maiores quantidades de fertilizantes potássicos para atender as necessidades das culturas (Mengel, 1982). REFERÊNCIAS BARREIRA P. 1986. Batata-doce: uma das doze mais importantes culturas do mundo. São Paulo: Ícone. 91p. BRASIL. 1972. Ministério da Agricultura. Levantamento Exploratório- Reconhecimento de Solos do Estado da Paraíba. Rio de Janeiro: MA/ SUDENE. p. 669-670 (Boletim técnico, 15). Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 CHAVES LHG; PEREIRA HHG. 1985. Nutrição e adubação de tubérculos. Campinas: Cargill. p. 46-67. EMATER-Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Paraíba. 1979. Sugestões de adubação para o estado da Paraíba: 1a aproximação. João Pessoa.105p. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Hortaliças.. 1995 Cultivo da batata-doce (Ipomoea batatas (L.) Lam). 3. ed. Brasília: Ministério da Agricultura e do Abastecimento e Reforma Agrária. 8p. (EMBRAPA-CNPH. Instruções técnicas, 7). EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. 1999. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Rio de Janeiro: Embrapa Solos. 412p. EMBRAPA. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação do Solo. 1997. Manual de métodos de análise de solo. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura. 212p. FILGUEIRA FAR. 2003. 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Taro ‘Chinês’ em cultivo solteiro e consorciado com cenoura ‘Brasília’ e alface ‘Quatro Estações’ Néstor A Heredia Zárate1; Maria do Carmo Vieira1; Artur Renan Giuliani2; Marcelo Helmich2; Everton Geraldo Chiquito3; Ana Helaise Amadori4 UFMS-DCA, C. Postal 533, 79804-970 Dourados-MS;1Bolsista CNPq. 2Bolsista Iniciação Científica Convênio FUNDECT/ CNPq.3Bolsista Iniciação Científica Convênio UFMS/CNPq. 4Aluno voluntário; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Estudou-se a produtividade e a renda bruta do taro (Colocasia esculenta) ‘Chinês’, da cenoura (Daucus carota) ‘Brasília’ e da alface (Lactuca sativa) ‘Quatro estações’ em cultivo solteiro e dos consórcios taro-cenoura e taro-alface, nas condições ambientais de Dourados-MS. Os cinco tratamentos foram arranjados, no campo, no delineamento experimental em blocos casualizados, com cinco repetições. Para cada espécie avaliaram-se diferentes componentes das plantas. O consórcio foi avaliado utilizando-se a expressão da razão de área equivalente (RAE) e sua validação foi pela determinação da renda bruta. As maiores produções de alface foram de 1,57; 2,09 e 6,59 t ha-1 para massas de “cabeças” comerciais, não-comerciais e pendoadas, respectivamente, obtidas com o cultivo solteiro. As cenouras cultivadas solteiras foram 6,5 cm mais altas e produziram 6,83 t ha-1 a mais de massa fresca de raízes comerciais, em relação às consorciadas com o taro ‘Chinês’. As maiores produções de folhas, rizomas-mãe e rizomas-filho comerciais do taro ‘Chinês’ foram obtidas no consórcio taro-alface e a de rizomas-filho nãocomerciais foram no taro solteiro. As menores produções foram do consórcio taro-cenoura. As RAEs para os consórcios taro-cenoura e taro-alface foram de 1,06 e 1,83, respectivamente. Pela renda bruta, constatou-se que para os produtores de cenoura e de alface, os consórcios com o taro ‘Chinês’ poderiam ter induzido incrementos monetários por hectare de R$ 6.122,50 ou de R$ 20.045,00, respectivamente. Para o produtor de taro, somente o consórcio com a alface foi positivo, com aumento de R$ 7.313,50 ha-1. ‘Chinês’ taro in monocrop system and intercropped with ‘Brasília’ carrot and ‘Quatro estações” lettuce Palavras-chave: Colocasia esculenta, Lactuca sativa, Daucus carota, produtividade, renda bruta. Yield and gross income of ‘Chinês’ taro (Colocasia esculenta), of ‘Brasília’ carrot (Daucus carota) and of ‘Quatro estações’ lettuce (Lactuca sativa) were evaluated in monocrop system and taro-carrot and taro-lettuce intercrops, in environmental conditions of Dourados, Mato Grosso do Sul State, Brazil. The five treatments were arranged in field, in a randomized block design with five replications. For each specie different compounds of plants were evaluated. Intercropping was evaluated by land equivalent ratio (LER) and the validation was by gross income determination. The highest yields of lettuce were 1.57; 2.09 and 6.59 t ha-1 for masses of commercial, non-commercial and tasseled “heads”, respectively, which were obtained through monocrop system. Carrots cultivated in monocrop system were 6.5 cm higher and produced 6.83 t ha-1 more fresh mass of commercial roots in comparison to intercropping with ‘Chinês’ taro. The highest yields of leaves, commercial corms and cormels of ‘Chinês’ taro were obtained with taro-lettuce intercropping, and of non-commercial cormels were obtained with taro in the monocrop system. The smallest yields were obtained from taro-carrot intercropping. LER for taro-carrot and taro-lettuce intercroppings were 1.06 and 1.83, respectively. For the gross income, it was established that for carrot and lettuce producers, the intercropping system with ‘Chinês’ taro induced monetary increments per hectare of R$ 6,122.50 or of R$ 20,045.00, respectively. For taro producer, only the intercropping with lettuce was positive, with increase of R$ 7,313.50 ha-1. Keywords: Colocasia esculenta, Lactuca sativa, Daucus carota, yield, gross income. (Recebido para publicação em 12 de agosto de 2005; aceito em 29 de agosto de 2006) D entro das muitas possibilidades dos sistemas de cultivo múltiplo, o caso particular dos consórcios tem recebido especial atenção, principalmente por causa da riqueza de suas interações ecológicas e do arranjo e manejo das culturas no campo. Contrastam com os sistemas agrícolas modernizados, assentados sobre a exploração de monoculturas e uso intensivo de capital e produtos originários do setor industrial, como por exemplo, fertilizantes sintéticos e pesticidas (Santos, 1998). Por isso, a consorciação de culturas é descrita como um sistema intermediário entre o 324 monocultivo e as condições naturais de vegetação, onde diversas espécies coexistem em tempo e espaço, formando um sistema equilibrado ecologicamente (Silva, 1983). O taro (Colocasia esculenta (L.) Schott), por suas características nutricionais, apresenta possibilidades de uso humano sob diferentes formas de preparo, podendo substituir, total ou parcialmente, a batatinha, a mandioca, o milho, o trigo e outras espécies amídicas (Abramo, 1990). Também pode ser utilizado na alimentação animal, especialmente para frangos de corte (Heredia Zárate et al., 1999/2001). A cultura de taro é de ocorrência comum nos trópicos úmidos e sua importância reside no seu valor alimentar e forma de consumo, ao natural ou processado, e na capacidade de as plantas produzirem em condições consideradas impróprias para a agricultura tradicional, como pantanais e áreas alagadiças. Essa habilidade para produzir tanto em locais secos como alagados faz dessa espécie a cultura de subsistência ideal para áreas onde não se usa tecnologia avançada (Heredia Zárate, 1995; Heredia Zárate et al., 1997). Contudo, a Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Taro ‘Chinês’ em cultivo solteiro e consorciado com cenoura ‘Brasília’ e alface ‘Quatro Estações’ produtividade é grandemente variável, por causa das diferenças nas práticas de plantio e por desconhecimento das características genotípicas das diferentes espécies e cultivares (Heredia Zárate & Yamaguti, 1994). Dentre os clones de taro estudados em Dourados, para comercialização ao natural, tanto em condições de solo sempre úmido como de época seca do pantanal sulmatogrossense, sempre sobressaíram os clones Japonês, Macaquinho e Chinês, na sua ordem, por apresentarem altas percentagens de rizomas-filho, com massas superiores a 25 g e com formatos regulares, ovóides e arredondados. A alface (Lactuca sativa L.) é uma hortaliça popular no mundo inteiro, com elevado teor de vitamina A nas folhas verdes, alcançando até 4.000 UI/100g. É cultivada tradicionalmente no território brasileiro (Filgueira, 2000), onde os volumes de produção e de consumo são grandes (Barbosa et al., 1999). O Estado de São Paulo é o maior produtor, com aproximadamente 7.300 ha, ocupando no Brasil o sétimo lugar em área cultivada de hortaliças (Trani et al., 1997). No Mato Grosso do Sul, em 1996, a área cultivada com alface foi de 203 ha e no município de Dourados, foi a hortaliça folhosa de maior área, de 65 ha (Diagnóstico, 1998). A planta tem ciclo curto (60 a 80 dias) e sistema radicular pouco profundo (Filgueira, 2000). A cenoura (Daucus carota L.) é uma das hortaliças mais consumidas no Brasil, e das mais comercializadas pela CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), perdendo apenas para tomate, batata e cebola. Em 2003, a produção de cenoura no Brasil foi de aproximadamente 758 mil toneladas em área de cerca de 27 mil hectares (Fao, 2003). A preferência do mercado brasileiro, quanto à coloração, é por raiz de cor laranja pronunciada, cilíndrica, com 15 a 22 cm de comprimento e 3 a 4 cm de diâmetro, com pequena diferenciação entre as cores do xilema e do floema, e, sem defeitos de formação como rachaduras, bifurcações e ombro verde ou roxo (Lana & Vieira, 2000). A cultivar Brasília é a mais utilizada na maioria das regiões produtoras por apresentar notável adaptação a temperatura e pluviosidade elevadas, tal como ocorre com a Kuronan e a Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Carandaí AG-106. O ciclo, da semeadura direta até a colheita, varia de 85 a 120 dias (Araújo, 2000; Filgueira, 2000). Oliveira et al. (2004), estudando o desempenho do taro em plantio direto e no consórcio com crotalária (Crotalaria juncea), sob manejo orgânico, observaram que o cultivo consorciado com a leguminosa promoveu maior altura nas plantas de taro e reduziu a queima de folhas pelos raios solares. Além disso, nenhum dos tratamentos influenciou a produtividade do taro, que foi considerada satisfatória, indicando o potencial do manejo orgânico adotado. Tolentino Júnior et al. (2002), estudando a produção da mandioquinha-salsa ‘Amarela de Carandaí’ consorciada com alface ‘Grand Rapids’ e beterraba ‘Tal Top Early Wonder’, observaram que as plantas das três espécies tiveram produtividade superior em monocultivo. Entretanto, ao considerar a produção total de raízes e a de raízes comerciais, a RAE para o consórcio mandioquinhabeterraba foi de 1,07 e 0,87 e para mandioquinha-alface foi 1,3 e 1,1, respectivamente. Bezerra Neto et al. (2003), estudando o desempenho de quatro cultivares de alface lisa, em cultivo solteiro e consorciado com cenoura, em dois sistemas de cultivo em faixas, observaram que a produtividade média da alface nos sistemas consorciados, embora inferior à do sistema solteiro, representou uma fonte adicional de renda. O consórcio cenoura ‘Brasília’ x alface ‘Verdinha’, em faixas com quatro fileiras, foi o que apresentou maior viabilidade agro-econômica, com índice de uso da terra em torno de 19% e taxa de retorno ao redor de 3,0. Face a importância de se avaliar o desempenho dos cultivos consorciados regionalmente, este trabalho teve como objetivos avaliar a produtividade e a renda bruta do taro, da cenoura e da alface em cultivo solteiro e dos consórcios taro-cenoura e taro-alface, nas condições ambientais de Dourados-MS. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi desenvolvido na horta da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, em Dourados-MS, entre 28-8-2004 e 2-4-2005, em LATOSSOLO VERMELHO distroférrico (Embrapa, 1999), de textura argilosa, com as seguintes características químicas: 5,5 de pH em CaCl2; 34,0g dm-3 de M.O; 36,0 mg dm-3 de P; 6,6; 56,0 e 22,6 mmolc dm-3 de K, Ca e Mg, respectivamente. O município de Dourados situa-se em latitude de 22º13’16"S, longitude de 54º17’01"W e altitude de 430 m. O clima da região, segundo a classificação de Köppen é Mesotérmico Úmido; do tipo Cwa, com temperaturas e precipitações médias anuais variando de 20 a 24oC e 1250 a 1500 mm, respectivamente. O experimento consistiu no estudo dos monocultivos do taro ‘Chinês’, da alface ‘Quatro Estações’ e da cenoura ‘Brasília’, além dos consórcios taro-alface e taro-cenoura. Os cinco tratamentos foram arranjados, no campo, no delineamento experimental em blocos casualizados, com cinco repetições. As parcelas tiveram área total de 3,0 m2 (1,5 m de largura x 2,0 m de comprimento) e área útil de 1,6 m2 (1,0 m de largura x 1,6 m de comprimento). As parcelas da cenoura e da alface, em cultivo solteiro e consorciado, foram formadas por um canteiro contendo quatro linhas (0,25 m), com vinte plantas por linha (0,10 m entre plantas) para cenoura e dez (0,20 m entre plantas) para alface. As parcelas do taro, tanto no cultivo solteiro quanto no consorciado, foram formadas por um canteiro contendo duas linhas (0,50 m), com dez plantas por linha (0,20 m entre plantas). Para o plantio do taro, foram abertos sulcos de 0,05 m de largura x 0,05 m de profundidade, onde foram colocadas as mudas no fundo do sulco, em posição horizontal, e cobertas com o solo extraído na abertura dos sulcos. As mudas foram formadas por rizomas-filho-RF das classes 1 a 5, com massa fresca média de: C1= 24,6 g; C2= 13,8 g; C3= 10,7 g; C4= 7,8 g e C5= 5,0 g, correspondentes a cada repetição. A propagação da cenoura e da alface foi por sementes, no sistema de semeadura direta. As irrigações foram feitas por aspersão com o intuito de manter o solo “sempre úmido” (após observações subjetivas), o que induziu a turnos de rega a cada dois dias. O controle das plantas 325 NA Heredia Zárate et al. Tabela 1. Altura das plantas, diâmetro e produção de “cabeças” de alface ‘Quatro Estações’, em cultivo solteiro e consorciado com taro ‘Chinês’. Dourados, UFMS, 2004-2005. Médias seguidas pelas mesmas letras, nas colunas, não diferem pelo teste F, a 5% de probabilidade. infestantes foi feito com auxílio de enxadas nas entrelinhas e com arranquio manual dentro das linhas. A colheita da alface foi feita aos 74 dias após a semeadura, cortando as plantas rente ao solo, quando avaliaram-se a altura das plantas, a massa fresca e o número de “cabeças” de tamanhos comercial e não-comercial, além das plantas pendoadas. A colheita da cenoura foi feita aos 102 dias após a semeadura, utilizando-se como índices de colheita a perda de brilho das folhas e o encostamento no solo das folhas externas das plantas. Avaliaram-se a altura das plantas e as produções de massa fresca da parte aérea e das raízes. A colheita do taro foi realizada aos 221 dias após o plantio, quando mais de 50% da parte aérea das plantas apresentavam-se amareladas e secas, sintomas típicos de senescência. As características avaliadas foram massas frescas da parte aérea (limbos + pecíolos), dos rizomas-mãeRM e dos rizomas-filho-RF comerciais (massa superior a 25,0g) e RF não-comerciais. Os dados avaliados da cenoura e da alface, solteiras e consorciadas com o taro, foram submetidos à análise de variância e testados pelo teste F, até 5% de probabilidades. Os dados do taro foram submetidos à análise de variância e quando detectou-se significância pelo teste F, entre os tratamentos solteiro e os consórcios com cenoura e alface, foi aplicado o teste de Tukey. O consórcio foi avaliado utilizando a expressão da razão de área equivalente (RAE) proposto por Caetano et al. (1999), a saber: RAE= Tc . Ts-1 + Ac . As-1, onde, respectivamente, Tc e Ac= produções do taro e do número de “cabeças” de alface comerciais ou da massa de raízes de cenoura em consorciação e Ts e As= pro326 Tabela 2. Altura de plantas, produtividade de massa fresca de folhas e de raízes da cenoura ‘Brasília’, em cultivo solteiro e consorciado com taro ‘Chinês’. Dourados, UFMS, 2004-2005. Médias seguidas pelas mesmas letras, nas colunas, não diferem pelo teste F, a 5% de probabilidade. duções do taro e do número de “cabeças” de alface comerciais ou da massa de raízes de cenoura em cultivo solteiro. A validação do consórcio foi realizada pela determinação da renda bruta. Para isso, foram pesquisados os preços pagos aos produtores pela “cabeça” de alface comercial (R$ 0,35 a unidade), a cenoura (R$ 0,85 kg-1) e o taro (R$ 1,20 kg-1). Posteriormente, efetuaram-se as conversões por hectare para a renda bruta, por cultivo e total, para o produtor. RESULTADOS E DISCUSSÃO Pelas características avaliadas na alface, constatou-se que houve diferença significativa entre tratamentos, exceto para altura das plantas e número de “cabeças” pendoadas (Tabela 1). O fato de os maiores valores terem sido obtidos com o cultivo solteiro é coerente com as citações de Silva (1983) de que as plantas de uma comunidade vegetal, seja ela homogênea ou heterogênea, estão sujeitas a diversos tipos de interações. Isto ocorre principalmente em um sistema de culturas múltiplas, formado por espécies diferentes, onde encontram-se raízes que exploram o solo a diferentes profundidades. Por isso, na maioria dos casos, a interação é notada pela redução da produtividade das culturas. As variações produtivas dentro da população de plantas da alface ‘Quatro Estações’, independentes do tratamento, onde encontraram-se menores valores para massa e número de plantas com “cabeças” comercializáveis, valores intermediários para plantas com “cabeças” não-comercializáveis e altos valores para plantas com “cabeças” pendoadas, foram indicativos de que trabalhou-se com uma população heterogênea e que a maioria das linhagens puras que a compunham (Destro & Montalvan, 1999) não se adaptaram às condições ambientes da época em que se desenvolveu o experimento. Além disso, confirmam que, práticas como a escolha da cultivar para as condições prevalecentes na área e a forma de condução da cultura, dentre outras, podem alterar a produtividade (Heredia Zárate, 1990). Na cenoura ‘Brasília’, o cultivo solteiro induziu aumento significativo de 6,5 cm de altura das plantas e 6,83 t ha-1 de massa fresca de raízes comerciais, em relação às plantas cultivadas consorciadas com o taro ‘Chinês’ (Tabela 2). Estes resultados são coerentes com os de Bustamante (1988), Câmara et al. (1985) e Vieira (1995), na mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza) ‘Amarela de Carandaí’, espécie da mesma família da cenoura, os quais observaram correlação positiva entre a produção da parte aérea e da Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Taro ‘Chinês’ em cultivo solteiro e consorciado com cenoura ‘Brasília’ e alface ‘Quatro Estações’ parte subterrânea, ou seja, as plantas de mandioquinha-salsa mais altas, que foram mais exuberantes e possuíam maior área foliar, produziram maior quantidade de raízes comerciais. No taro ‘Chinês’, todas as características avaliadas foram influenciadas significativamente pelos tratamentos (Tabela 3). As maiores produções de folhas, rizomas-mãe e rizomas-filho comerciais foram obtidos nas plantas do consórcio taro-alface; enquanto a de rizomas-filho não-comerciais, nas plantas do taro solteiro. As menores produções foram das plantas do consórcio taro-cenoura. Esses resultados são coerentes com as citações de Bezerra Neto et al. (2003), de que os arranjos espaciais são importantes fatores de manejo que podem ser manipulados para melhorar o uso de recursos e a eficiência da prática do consórcio em hortaliças. Isso porque os sistemas ecológicos são capazes de auto-regulação e essa capacidade baseia-se no equilíbrio das relações de interferência (Larcher, 2000), especialmente em um sistema de culturas múltiplas, geralmente formado por espécies diferentes, onde encontram-se raízes que exploram o solo a diferentes profundidades (Silva, 1983), ou, onde as folhas podem responder diferencialmente à competição por luz (Harder, 2004). Os aumentos de 2,93 t ha-1 de folhas, de 0,40 t ha-1 de rizomas-mãe e de 2,79 t ha-1 de rizomas-filho do taro sob consórcio com alface, em relação ao taro solteiro (Tabela 3), mostram relação com a citação de Whatley & Whatley (1982) ao relatarem que a interação em cultivos associados pode promover au- Tabela 3. Produtividade do taro ‘Chinês’ em cultivo solteiro e consorciado com cenoura ‘Brasília’ e alface ‘Quatro Estações’. Dourados, UFMS, 2004-2005. Médias seguidas pelas mesmas letras, nas colunas, não diferem pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. mentos na produtividade, apesar de ser pouco comum. Provavelmente, a causa seja a excreção de hormônios estimuladores de crescimento; no entanto, esse estímulo foi citado apenas para alguns cultivares de arroz intercultivadas. Os aumentos produtivos do taro em consórcio com alface, em relação ao taro em consórcio com cenoura (Tabela 3), podem ser explicados por Vandermeer (1992), quando relata que o mecanismo de facilitação pode operar quando “uma espécie proporciona algum tipo de benefício para a outra”, alterando o “ambiente da outra espécie positivamente, mas não necessariamente de maneira recíproca”. Este fato é corroborado com as menores alturas e diâmetros das plantas, assim como com as produções de massa e número de “cabeças”, exceto no número de “cabeças” pendoadas (Tabela 1). A RAE para o consórcio taro-cenoura (Tabela 4), considerando as produtividades de massa fresca das culturas, foi de 1,06 (RAE= Tc/Ts+Cc/Cs= 9,94/ 15,66+5,20/12,03= 1,06) e a do consór- cio taro-alface, considerando a produtividade de massa fresca do taro e o número de “cabeças” comerciais da alface, foi de 1,83 (RAE= Tc/Ts+Ac/As= 18,45/15,66+11,33/17,33= 1,06). Como esses índices foram maiores que 1,0, concluiu-se que os consórcios foram efetivos. Ao relacionar a renda bruta (Tabela 4), observou-se que para os produtores de cenoura e de alface, os consórcios com o taro ‘Chinês’ poderiam ter induzido incrementos monetários de R$ 6.122,50 ha-1 ou de R$ 20.045,00 ha-1, respectivamente. Para o produtor de taro, somente o consórcio com a alface foi positivo, com aumento de R$ 7.313.50 ha-1. Os valores obtidos para a RAE e para a renda bruta confirmam que a maior produtividade por unidade de área é uma das razões mais importantes para se cultivar duas ou mais culturas no sistema de consorciação, porque permite melhor aproveitamento da terra e de outros recursos disponíveis, resultando em maior rendimento econômico (Silva, 1983; Sullivan, 1998). Considerando a renda bruta, para os Tabela 4. Renda bruta do taro ‘Chinês’, em cultivo solteiro e consorciado com cenoura ‘Brasília’ e alface ‘Quatro Estações’. Dourados, UFMS, 2004-2005. 1 Razão de área equivalente (CAETANO et al., 1999); 2Preço pago ao produtor: R$ 0,85 kg-1 de cenoura, R$ 0,35 por “cabeça” de alface e R$ 1,20 kg-1 de rizomas-filho de taro. Fonte: Vendedores de hortaliças no varejo de Dourados-MS, em 7-5-2005. Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 327 NA Heredia Zárate et al. produtores de cenoura e de alface os consórcios promoveram incrementos monetários em relação ao cultivo solteiro dessas duas hortaliças; enquanto para o produtor de taro, somente o consórcio com alface foi viável economicamente. AGRADECIMENTOS Ao CNPq, pelas bolsas concedidas e à FUNDECT-MS, pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS ABRAMO MA. 1990. Taioba, cará e inhame: o grande potencial inexplorado. São Paulo: Ícone. 80p. ARAUJO C. 2000. Produção e perda pós-colheita da cenoura ‘Brasília’, considerando doses de fósforo e de cama-de-frango de corte semidecomposta. Dourados: UFMS. 62p. (Dissertação). 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Teores e acúmulo de nutrientes durante o ciclo da mandioquinha-salsa em função da aplicação de nitrogênio, fósforo e potássio Adriano Portz1; Carla Andréia da Cunha Martins2; Eduardo Lima2; Everaldo Zonta2 1 UFF-Depto TAA, Av. dos Trabalhadores, 420 Vila Sta. Cecília, 27255-125 Volta Redonda-RJ; 2UFRRJ-IA-Depto Solos, BR 465, km 7, 23890-000 Seropédica-RJ; E-mail: [email protected]; [email protected] RESUMO ABSTRACT Apesar da cultura da mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza Bancroft) ser cultivada há bastante tempo no País, informações referentes aos seus aspectos nutricionais e seu desenvolvimento no campo são ainda incipientes. O estudo dos teores de nutrientes e seu comportamento ao longo do ciclo ontogenético é importante para se estabelecer uma correta recomendação de fertilizantes, níveis críticos e conseqüentemente uma maior produção de raízes comerciais. Com o objetivo de avaliar os teores e o acúmulo de macro e micronutrientes na cultura durante seu desenvolvimento, foi realizado um experimento de campo com três níveis de N, P e K, na região de Nova Friburgo-RJ, utilizando um delineamento experimental de blocos ao acaso com quatro repetições. Foram realizadas quatro amostragens ao longo do ciclo da cultura e coletadas três partes da planta (folhas, propágulo e raízes), observando-se ao longo do tempo o comportamento dos teores e o acúmulo dos nutrientes nessas partes. Não foi observada correlação dos teores de nutrientes nas partes da planta, nas épocas de amostragem, com a produção de raízes comerciais. Maior acúmulo de nutrientes foi observado entre os 150 e 210 DAT nas folhas, aos 210 DAT nos propágulos e aos 300 DAT nas raízes. Os teores foram influenciados pelos tratamentos aplicados no plantio do experimento, mas não foi observada resposta no aumento de produção de raízes comerciais. Levels and accumulation of nutrients in the cycle of peruvian carrot with application of nitrogen, phosphorus and potassium Palavras-chave: Arracacia xanthorrhiza Bancroft, nutrição mineral, adubação NPK. The arracacha (Arracacia xanthorrhiza Bancroft) culture, in spite of already being cultivated for a long time in Brazil, has still low information on its nutritional aspect, and the field development. The study of the nutrient distribution inside the plant and their behavior along the vegetative cycle is important to establish a correct fertilizer recommendation, and to provide nutritional information, besides to obtain best commercial root production. The macro and micro nutrient levels and accumulation in the crop were evaluated through a field experiment accomplished with three levels of N, P, and K, in Nova Friburgo, Rio de Janeiro State, using a random blocks experimental design with four repetitions. Four sample periods were observed along the crop cycle, where three sections of the plant (leaves, corm, and roots) were collected; also, changes in nutrient levels of the plant sections were monitored along the time periods. Correlation of the nutrient levels was not observed in the plant parts, in the sampling times, with the commercial roots production. Larger accumulations of the nutrients were observed between the 150 and 210 DAT in the leaves, 210 DAT in the corm and 300 DAT in the roots. The levels were influenced by the applied treatments, but an answer was not observed in the increase of commercial roots production. Keywords: Arracacia xanthorrhiza, mineral nutrition, NPK fertilization. (Recebido para publicação em 12 de julho de 2005; aceito em 31 de agosto de 2006) A área cultivada com mandioquinhasalsa vem aumentando em várias regiões do País, contribuindo para uma maior oferta desta raiz, que ainda é pouco conhecida, apesar de ser rica em nutrientes e de fácil digestibilidade. Segundo Pereira (1995), a mandioquinha-salsa é um alimento essencialmente energético, excelente fonte de cálcio, fósforo e ferro e, entre as vitaminas presentes, ressalta-se a vitamina A, que pode atingir 6800 U.I. Além das raízes, a parte aérea da mandioquinha também pode ser utilizada na alimentação humana e animal, como ocorre nos países Andinos, as folhas mais novas são usadas na forma de saladas e sopas. O propágulo (coroa + rebentos) possui maiores quantidades de Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 nutrientes se comparados às raízes de reserva e, segundo Câmara (1984), também tem um melhor balanço de aminoácidos, indicando que esta parte da planta também pode ser utilizada na alimentação, apesar do maior teor de celulose quando comparada às raízes. A pesquisa sobre a nutrição da cultura ainda é incipiente e há dificuldades para recomendação de adubação para a planta nos diferentes locais de cultivo e condições de manejo. A aplicação de nitrogênio e fósforo não apresenta uniformidade de resposta com a produção de raízes comerciais, mas respostas distintas em vários ambientes. Segundo Mesquita et al. (1996), não houve resposta na produção de raízes comerciais à adubação nitrogenada, mas houve res- posta quadrática para a aplicação de fósforo. Silva et al. (1966) observaram que doses maiores de 50 kg.ha-1 de nitrogênio contribuíram para o decréscimo, enquanto o fósforo proporcionou um aumento linear na produção de raízes comerciais. Del Valle Junior et al. (1995) recomendam a aplicação de até 135 kg.ha-1 de N para se obter uma boa produção sem, contudo, terem observado resposta com a aplicação de diferentes níveis de P, K e Mg. Segundo Zárate et al. (2001), o aumento na dose de fósforo aplicado ao solo proporcionou um melhor balanço nutricional nas plantas, contribuindo para uma menor perda de peso das raízes após a colheita. A deficiência de cálcio e magnésio na cultura altera sobremaneira o desenvolvimento 329 A Portz et al. Figura 1. Comportamento do acúmulo de massa seca total da planta (MSTO), massa seca de folhas (MSF), massa seca do propágulo (MSPR) e massa seca das raízes (MSR) durante o ciclo da mandioquinha-salsa. Seropédica, UFRRJ, 2001. da planta e os teores dos demais nutrientes (Câmara, 1990). A adubação orgânica é importante na cultura, pois melhora não só aspectos químicos, mas também a estrutura do solo, o que é fundamental para culturas que possuem a parte comercial subterrânea, como é o caso da mandioquinha-salsa. O estudo dos teores de nutrientes na planta, assim como em suas partes, é de grande importância para uma melhor recomendação do manejo da adubação na cultura, tanto para áreas produtoras como em novas áreas de cultivo, evitando o desperdício de fertilizantes ou deficiências nutricionais ao longo do seu ciclo, contribuindo para um melhor manejo e ciclagem de nutrientes. Com o objetivo de estudar o comportamento dos teores de nutrientes e o acúmulo de nutrientes na planta durante o ciclo da cultura, procurando obter informações sobre a exigência nutricional em seus estágios fenológicos, desenvolveu-se o presente trabalho. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado em 1999 na Fazenda Santo Antônio de Estrela, Rio Grande de Cima, terceiro distrito de Nova Friburgo-RJ, com altitude média de 1000 m, precipitação pluviométrica 330 média de 1200 mm anuais e temperatura média anual de 18,9 oC. O solo classificado como NITOSSOLO VERMELHO distrófico (EMBRAPA, 1999), com 12% de declividade, e a camada de 0-20 cm de profundidade, antes do início da instalação do experimento, apresentava as seguintes características químicas: pH em água (1:2,5)= 6,0; Al+3= 0,3 cmolc.kg-1; H+Al= 18,3 cmolc.kg-1; Mg +2 = 0,9 cmol c .kg -1 ; Ca +2 = 1,8 cmolc.kg-1; Na+= 0,08 cmolc.kg-1; P= 11 mg.kg-3; K= 148 mg.kg-3; C= 13 g.kg-1; Fe= 162 mg.dm-3; Cu= 0,8 mg.dm-3 ; Zn= 66 mg.dm-3 e Mn= 11,5 mg.dm-3. Foi realizada calagem conforme recomendação do Manual de Adubação do Estado do Rio de Janeiro (De-Polli & Almeida, 1988), com 700 kg.ha-1 de calcário com 85 % PRNT e 12,1 % CaO, aplicando-se metade do corretivo antes da aração e metade antes da gradagem. As mudas de mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza Bancroft.), cultivar Amarela de Carandaí, que normalmente são cultivadas na região, foram provenientes do próprio local. Os rebentos para a formação das mudas foram selecionados de touceiras de plantas adultas que já haviam terminado os ciclos vegetativos, de onde foram destacados e cortados em bisel, padronizando-se assim o tamanho das mudas. Estas foram plantadas em canteiros de pré- enraizamento, onde permaneceram até os 60 dias, quando foram transplantados no local definitivo. No préenraizamento a umidade do solo foi mantida em aproximadamente ¾ da capacidade de campo, e não foi aplicado nenhum agrotóxico ou fertilizante neste período. No transplantio das mudas foram aplicadas no solo as doses de 0, 60 e 120 kg.ha-1 de nitrogênio; 0, 150 e 300 kg.ha-1 de P2O5; e 0, 80 e 160 kg.ha-1 de K 2 O, usando como fontes uréia, superfosfato simples e cloreto de potássio, respectivamente. Também se aplicou no solo 15 kg.ha-1 de bórax (10% de B), 5 kg.ha-1 de sulfato de zinco (23% de Zn) e 5 t.ha-1 de esterco bovino curtido. Os fertilizantes minerais e o orgânico foram distribuídos nas leiras e incorporados manualmente no solo na profundidade de 0-10 cm. A adubação nitrogenada foi parcelada, sendo metade aplicada no transplantio das mudas e outra metade, em cobertura 60 dias após o transplantio. Utilizou-se, durante todo o ciclo, um sistema de irrigação por aspersão, com o objetivo de manter a umidade do solo próxima à capacidade de campo. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso com quatro repetições e 27 tratamentos (fatorial 3x3x3) com parcelas de 2,8x4,0 m e 40 plantas por parcela, com espaçamento de 0,7x0,4 m. Foram descartadas as linhas externas de plantas, permanecendo 18 plantas na área útil de cada parcela. Efetuaram-se quatro capinas manuais e adicionou-se palha de capim como cobertura morta para auxiliar no controle de plantas invasoras e a manutenção da umidade. Foram realizadas quatro coletas de material vegetal durante o ciclo, aos 90, 150, 210 e 300 dias após o transplantio (DAT), sendo coletadas quatro plantas por parcela e separando-se em folhas (limbo + pecíolos), propágulo (coroa e rebentos) e raízes, nas quais foram avaliados os teores de nutrientes na massa seca. O material foi fragmentado e seco em estufa de circulação forçada de ar a 55-65 oC por no mínimo 72 horas. Em seqüência, o material foi finamente moído em moinho de facas com peneira de 2 mm, para posterior análise química. Para o propágulo aos 90 dias após Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Teores e acúmulo de nutrientes durante o ciclo da mandioquinha-salsa em função da aplicação de nitrogênio, fósforo e potássio o transplante não foi realizada análise dos teores devido à pequena quantidade de material para as determinações. As determinações dos teores de macronutrientes e micronutrientes das plantas foram realizadas conforme a metodologia descrita em Tedesco et al. (1995). Os dados foram submetidos à análise de variância e, quando se identificou significância pelo teste F, as médias foram comparadas pelo teste Duncan a 5% de probabilidade, trabalhando-se com o auxílio do programa estatístico Saeg. RESULTADOS E DISCUSSÃO A produtividade média de raízes comerciais foi de aproximadamente 12 t.ha-1, e não se verificou aumento significativo de produção com o aumento das doses de nutrientes. Portz et al. (2003), verificaram que a produção de raízes comerciais aos 300 DAT, não foi influenciada pelas doses crescentes de fósforo e potássio aplicados no plantio e apresentou correlação negativa com as doses de nitrogênio, ou seja, a maior dose promoveu um decréscimo da produção de raízes comerciais. Efeitos negativos da fertilização com nitrogênio na produção de raízes comerciais também foram observadas por Silva et al. (1966). No comportamento do acúmulo de massa seca na planta e suas partes (Figura 1) observa-se a tendência de rápido crescimento em massa seca do propágulo e raízes após os 150 DAT e a tendência quadrática do acúmulo de massa da parte aérea até o final do ciclo, indicando que o início da senescência da planta situa-se em torno dos seis meses de ciclo, fato este também observado por Câmara (1984); Câmara et al. (1985) e Vieira (1995). Não houveram correlações significativas entre as massas frescas e secas das partes da planta e a produção de raízes comerciais, exceto aos 300 DAT, quando se observaram correlações significativas (P ≤ 0,01) entre a massa seca do propágulo e massa fresca das folhas com a produção de raízes comerciais; 0,46 e 0,45, respectivamente (Portz, 2001). Bustamante (1988) encontrou correlações positivas entre a produção da parte subterrânea e a parte aérea, indicando que a planta não beneficiou a Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Tabela 1. Correlação entre os acúmulos de nutrientes (g planta-1) nas raízes e a produção de raízes comerciais, em kg ha-1, aos 300 DAT. Seropédica, UFRRJ, 2001. *Significativo pelo teste T, ao nível de 5% de probabilidade; **Significativo pelo teste T, ao nível de 1% de probabilidade. Tabela 2. Acúmulos médios de macronutrientes (g.planta-1) e micronutrientes (mg.planta-1) nas folhas, no propágulo e nas raízes, durante o ciclo da mandioquinha-salsa. Seropédica, UFRRJ, 2001. *Médias seguidas de mesma letra, nas linhas, não diferem significativamente pelo teste Duncan a 5%. porção foliar em detrimento da produção de raízes. Câmara et al. (1985) e Vieira (1995) observaram correlação positiva entre a produção da parte sub331 A Portz et al. Tabela 3. Teores médios de macronutrientes (g.100g-1) e micronutrientes (mg.100g-1) nas folhas, no propágulo e nas raízes, durante o ciclo da mandioquinha-salsa. Seropédica, UFRRJ, 2001. *Médias seguidas de mesma letra, nas linhas, não diferem significativamente pelo teste Duncan a 5%. terrânea e da parte aérea, ou seja, as plantas de mandioquinha-salsa mais altas, que foram as mais exuberantes e possuíam a maior área foliar, produziram maior quantidade de raízes comerciais. Não foram encontradas correlações significativas entre os teores de nutrientes (N, P, K, Ca, Mg, S, Fe, Zn, Cu e Mn) das partes da planta, nas épocas de amostragens, com a produção de raízes comerciais aos 300 DAT. No entanto, observaram-se correlações significativas entre o acúmulo de N, P, K, Ca, Mg e S nas raízes e a produção de raízes 332 comerciais nos 300 DAT (Tabela 1). Os acúmulos médios de macro e micronutrientes nas folhas, propágulos e raízes, durante o ciclo das plantas, são apresentados na tabela 2. Verificou-se, aos 300 DAT, que as raízes, propágulos e folhas tiveram os maiores acúmulos de nutrientes, respectivamente nesta ordem. Mesquita Filho e Souza (1996) verificaram, aos 11 meses, maiores acúmulos de P, K, Cu e Zn no propágulo, apesar dos teores se apresentarem maiores nas folhas, propágulo e raízes, respectivamente. Como a raiz é o órgão preferencial de reserva na planta e, portanto, o de maior massa seca aos 300 DAT, observaram-se maiores acúmulos de nutrientes neste órgão, quando comparado às outras épocas. Segundo Câmara (1984), a planta é estruturada de modo a ter suas reservas na parte subterrânea menos sujeitas a variações climáticas e ao ataque de insetos, garantindo energia para sua fase reprodutiva, considerando o longo período desde sua instalação até a produção de sementes, que é de 24 meses. Observou-se que no acúmulo de nutrientes nas folhas (Tabela 2) as maiores médias estão entre os 150 e 210 DAT, período de maior exuberância da parte aérea da planta, e que depois decaem drasticamente pela senescência e perda das folhas no final do ciclo vegetativo. Nos propágulos verificaram-se os maiores acúmulos aos 210 DAT, exceto para o nitrogênio que foi aos 300 DAT (Tabela 2) o que pode estar relacionado de alguma forma com o mecanismo de translocação de reservas para as raízes no final do ciclo da planta. Nas raízes observaram-se maiores acúmulos de nutrientes aos 210 e 300 DAT (Tabela 2), indicando nitidamente ser um órgão preferencial de reserva da planta, quando esta se aproxima do final do ciclo vegetativo. Lima et al. (1985), verificaram que as maiores quantidades acumuladas de N, P, K e Zn estavam presentes nos propágulos; enquanto Ca, Mg, Cu e Mn, nas raízes e Fe nas folhas. No entanto, os acúmulos podem ser influenciados pelos tratamentos aplicados ao solo no plantio, a época de coleta, a cultivar cultivada e condições de manejo da cultura. Os teores de nutrientes na planta geralmente estão relacionados com os acúmulos, apesar de neste trabalho não terem se correlacionado com a produção de raízes comerciais. Houve uma tendência de queda dos teores nas folhas ao longo do tempo (Tabela 3), exceto para o teor de ferro que apresentou um crescimento. A grande queda de massa das folhas no final do ciclo e a translocação de assimilados para os drenos da planta (propágulos e raízes) possivelmente influenciaram na queda dos teores de nutrientes neste órgão. Também se observa queda dos teores no Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Teores e acúmulo de nutrientes durante o ciclo da mandioquinha-salsa em função da aplicação de nitrogênio, fósforo e potássio propágulo com o tempo (Tabela 3), mas neste caso, pode estar relacionada ao efeito de diluição devido ao grande acúmulo de massa neste órgão no final do ciclo. O mesmo pode ser verificado para os teores nas raízes (Tabela 3). Câmara (1984), avaliando níveis de cálcio, magnésio potássio e fósforo, dos quatro aos 11 meses de ciclo da planta, observou que não houve grande variação dos teores de nutrientes no tempo. A mandioquinha-salsa, considerada rústica por não responder a adubação e ser resistente, possui um mecanismo fisiológico complexo e ainda pouco estudado. Responde de forma diferenciada as condições de manejo, podendo acumular quantidades consideráveis de nutrientes (Ortiz & Acin, 1997; Ortiz et al., 1998) quando disponibilizados no solo, apesar do acúmulo nem sempre refletir em maiores produtividades. Deve-se considerar ainda a adaptabilidade dos clones cultivados nos locais de cultivo e os tratos culturais aplicados na planta ao longo do ciclo. Apesar dos resultados não mostrarem respostas conclusivas, pode-se dizer que a planta possui uma grande demanda de nutrientes a partir dos 150 DAT, período de maior desenvolvimento das folhas e início de grande acúmulo no propágulo e raízes, o que pode influenciar a produção de raízes comerciais no final do ciclo da planta. AGRADECIMENTOS Agradecemos aos colegas de graduação do curso de Agronomia pela ajuda nos trabalhos de campo e no laborató- Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 rio, ao Departamento de Solos da UFRRJ pelas dependências e equipamentos utilizados e a FAPERJ pelo apoio financeiro e bolsa de estudos. REFERÊNCIAS BUSTAMANTE PG. 1988. Melhoramento de batata-baroa (Arracacia xanthorrhiza Bancroft). I. Biologia floral: obtenção e caracterização de novos clones, correlações genéticas. Viçosa: UFV. 94p. (Tese mestrado). CÂMARA FLA. 1984. Estudo de tecnologias objetivando precocidade de produção de batata-baroa (Arracacia xanthorrhiza Bancroft). Viçosa: UFV. 50p. (Tese mestrado). CÂMARA FLA. 1990. Sintomatologia de carências de macronutrientes e boro em mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza Bancroft). Piracicaba: USP-ESALQ. 66p. (Tese doutorado). CÂMARA FLA; MAFFIA LM; CASALI VWD. 1985. Curva de crescimento e utilização da mandioquinha-salsa na alimentação. 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Crescimento do meloeiro irrigado com águas de diferentes salinidades1 Francisco de Q Porto Filho1; José Francismar de Medeiros1; Hans R Gheyi2; José de A de Matos1; Edivan R de Souza1; Eduardo R de Sousa Neto1 1 UFERSA-Depto Ciências Ambientais, Mossoró-RN; 2UFCG-CCT-DEAg, Campina Grande-PB; [email protected] RESUMO ABSTRACT Dois experimentos consecutivos foram realizados na mesma área, em Mossoró-RN, com o objetivo de estudar características de crescimento da cultura do melão submetida a diferentes níveis de salinidade da água de irrigação. Utilizou-se um delineamento experimental em blocos casualizados com quatro repetições, cujos tratamentos foram quatro níveis de salinidade da água (T1=0,6 dS m-1; T2=1,9 dS m-1; T3= 3,2 dS m-1 e T4= 4,5 dS m-1). Os níveis de salinidade da água de irrigação afetaram negativamente o índice de área foliar, fitomassa seca da parte aérea, área foliar específica e razão de área foliar da parte aérea, inibindo o crescimento. A taxa de crescimento absoluto da parte aérea foi afetada pelo nível de salinidade da água de irrigação, enquanto para a taxa de crescimento relativo e a taxa de assimilação líquida da parte aérea não foi observado efeito dos sais ao longo do ciclo do meloeiro. Growth of melon plants irrigated with waters of different salinities Palavras-chave: Cucumis melo L, qualidade da água, taxa de assimilação. Two successive trials were carried out in a field at Mossoró, RN, Brazil, with the objective of studying growth characteristics of melon crop under different irrigation levels of water salinity. The experimental design was a completely randomized blocks with four replications, with four water salinity levels as treatments (T1=0.6 dS m-1; T2=1.9 dS m-1; t3= 3.2 dS m-1 and T4= 4.5 dS m-1). Growth was inhibited by the negative effect of water salinity levels on leaf area index, shoot dry mass, specific leaf area, and shoot leaf area ratio. The influence of irrigation of the water salinity level along melon cycle was observed for shoot absolute growth rate, but not for relative growth rate and net assimilation rate of shoot. Keywords: Cucumis melo L, water quality, assimilation rate. (Recebido para publicação em 28 de julho de 2005; aceito em 1 de setembro de 2006) O Brasil produz 349.498 t ano-1 de melão, dos quais 330.720 t ano-1 são produzidos na Região Nordeste. O Estado do Rio Grande do Norte é o maior produtor, respondendo por 55% do melão brasileiro (IBGE, 2003). Na região do Pólo Agrícola Mossoró/Açu, neste Estado, a maior demanda por água para irrigação tem condicionado à utilização de águas com salinidade mais elevada. Segundo Medeiros (1992), Martins (1993), Oliveira & Maia (1998), embora a maioria das fontes de água apresente boa qualidade, existem águas de qualidade inferior nessa região que podem ser utilizadas na irrigação. A salinização pode causar efeitos negativos nas plantas que diferem entre espécies e cultivares. A tolerância das culturas aos sais é afetada por vários fatores, incluindo-se aí o estágio de desenvolvimento, a duração da exposição, as condições ambientais, as propriedades do solo, o tipo e a intensidade do manejo (Maas, 1990). O meloeiro apre- senta grande variação no nível de tolerância à salinidade, variando tanto entre cultivares quanto com as condições ambientais e de manejo (Pizarro, 1990; Francois & Maas, 1993). Nerson & Paris (1984), estudando quatro cultivares de melão, observaram que a seleção para a tolerância à salinidade pode ser realizada a partir do início do desenvolvimento vegetativo da cultura, pois a redução na área foliar e na matéria seca das plantas jovens se equipara às reduções na produção promovidas pela salinidade. Nesta cultura, quando se aumenta a concentração salina da água de irrigação, diminui uma série de características da planta, como altura, peso fresco de folhas, ramos e raízes, peso seco, comprimento e diâmetro de entrenós e área foliar (Anastasio et al., 1987; Porto filho et al., 2001). Segundo Awad & Castro (1983), a velocidade de crescimento, a disposição, a área foliar e o número de folhas são responsáveis pela maior ou menor co- bertura da superfície do solo e, conseqüentemente, pela eficiência na interceptação da energia luminosa e no seu aproveitamento. Informações sobre a fisiologia da planta são fundamentais para o desenvolvimento de modelos de simulação e para a compreensão das interações entre planta e ambiente. Alguns índices fisiológicos, como o índice de área foliar (IAF) e taxa de crescimento da cultura (TCC), dentre outros, podem ser comparados na tentativa de explicar as diferenças na produção econômica de diferentes cultivares ou de uma mesma cultivar submetida a diferentes tratamentos (Machado et al., 1982). Na folha ocorrem as trocas gasosas executadas pelos vegetais, efetuando-se a fotossíntese e a transpiração, o que torna a área foliar uma característica muito utilizada em análise de crescimento (vigor) de plantas. O IAF, a TCC e o fator de cobertura são os meios mais acessíveis e precisos para avaliar o crescimento e contribuem em processos fi- 1 Parte da tese de doutorado do 1º autor, apresentada na Universidade Federal de Campina Grande. Trabalho financiado pelo Programa Avança Brasil, convênio Embrapa/UFERSA e pelo Projeto Melhoria do Rendimento e da Qualidade de Frutos Produzidos no Estado do RN, convênio FINEP/Fundação Guimarães Duque/UFERSA. 334 Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Crescimento do meloeiro irrigado com águas de diferentes salinidades siológicos e no comportamento vegetal (Benincasa, 1988). Este trabalho teve como objetivo estudar características de crescimento da cultura do melão submetida a diferentes níveis de salinidade da água de irrigação. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi composta de uma seqüência de dois experimentos, conduzidos em 2001 e 2002, com o meloeiro (Cucumis melo L.), var. inodorus, cv. AF646, que apresenta frutos com casca de coloração amarela, no município de Mossoró-RN, num Latossolo Vermelho Eutrófico argissólico, textura média (Embrapa, 1999). Nos experimentos aplicaram-se águas de irrigação, com quatro níveis de salinidade (S1= 0,6, S2= 1,9, S3= 3,2 e S4= 4,5 dS m-1). Na Tabela 1 está a composição química das quatro águas utilizadas. Os quatro tratamentos foram dispostos em blocos inteiramente casualizados, com quatro repetições, em 16 parcelas de 36 m2 (6,00x6,00 m). Cada parcela foi composta por três fileiras de planta no espaçamento entre fileiras de 2,00 m, e na fileira, de forma alternada, espaçamento de 0,38 e 0,12 m tendo uma planta por cova, resultando numa população de plantio de 20.000 plantas ha-1. O experimento II foi uma repetição do I, utilizando-se, exatamente o mesmo local, tratamentos e delineamento experimental. A área experimental foi irrigada por gotejamento, através de quatro sistemas de irrigação independentes. As lâminas de irrigação foram determinadas a partir de estimativas da evapotranspiração da cultura utilizando-se metodologia do Kc dual proposto pela FAO (Allen et al., 1998) e ajustadas com base no monitoramento da umidade do solo com o uso de tensiômetros em duas repetições do tratamento T1, adotando-se uma fração de lixiviação de 0,10. O Kc basal adotado para as fases inicial, intermediária e final correspondeu a 0,15, 1,00 e 0,70, respectivamente. Os tensiômetros foram instalados nas profundidades de 0,15; 0,30 e 0,45 m numa distância média de 0,09 m da planta e Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 num raio médio de 0,22 m do gotejador, na região central da parcela experimental. Diariamente, o potencial mátrico da água do solo (Ym), na profundidade de 0,15 m, servia para indicar se no momento antes da irrigação a lâmina e a freqüência de irrigação adotada atendiam ao valor considerado crítico para o melão (-30 kPa). Tanto os instrumentos a 0,15 m como nas demais profundidades, serviram para quantificar a água armazenada no solo e, ao se calcular a lâmina de irrigação pela ETc, sabia-se se o solo era capaz de comportála, indicando se estava de acordo com a necessidade hídrica da planta. No experimento I, as lâminas de irrigação aplicadas nos períodos de 0 a 30, 31 a 50 e 51 a 70 dias após semeadura (DAS) foram, respectivamente, de 108, 136 e 101 mm. No período entre um experimento e outro (264 dias), a precipitação pluviométrica foi de 1.228,00 mm e foram aplicados 381 mm de irrigação complementar em cultura intercalar de milho, usando-se a água S3. No experimento II, as lâminas de irrigação aplicadas nos períodos de 0 a 30, 31 a 50 e 51 a 68 DAS foram, respectivamente, de 95, 132 e 85 mm. Os valores médios de temperatura média (Tmed), máxima (Tmax) e mínima (Tmin), umidade relativa (UR), velocidade do vento a 10 m (V), insolação (I) e ETo para os experimentos I e II foram de 28,9, 35,0 e 24,2 °C, 65,5%, 5,5 m s-1, 9,1 h e 6,6 mm d-1 e de 28,4, 35,1 e 23,2 °C, 62,8%, 6,0 m s-1, 10,4 h e 7,1 mm d-1, respectivamente. Em ambos os experimentos, as adubações foram realizadas de acordo com a análise de solo da área experimental, atendendo-se às exigências nutricionais da cultura, conforme Vivancos (1996) e distribuídas ao longo do ciclo, em conformidade com as curvas de absorção apresentadas por Lima (2001). A cultura foi mantida sempre no limpo, através de capinas manuais com uso de enxada. O controle das principais pragas e doenças comuns na região foi preventivo, através do uso de defensivos agrícolas. O crescimento da cultura foi avaliado através da coleta de uma planta por parcela, aos 14, 21, 29, 36, 49 e 65 DAS no experimento I, e aos 16, 23, 30, 37, 44, 51, 58 e 64 DAS no experimento II, a partir de plantas localizadas nas duas fileiras externas de cada parcela. As características avaliadas foram: número de folhas (NF), área do limbo foliar (AF), fitomassa seca da parte aérea (FSPA), subdividida em fitomassas secas de ramos (FSR), folhas (FSF) e frutos (FSFr). A área foliar foi determinada através de um integrador de área, marca LI-COR, modelo LI-3100, enquanto a fitomassa foi obtida por secagem em estufa de circulação de ar forçada a 65 °C e posterior pesagem em balança com precisão 0,01 g. A partir de FSPA, FSF e da AF obtidas nos diversos tempos de coletas e da área de ocupação do solo por cada planta (A), nos experimentos I e II, foram calculadas a área foliar específica (AFE), razão de área foliar da parte aérea (RAFPA), índice de área foliar (IAF), taxa de crescimento absoluto da parte aérea (TCAPA), taxa de crescimento relativo da parte aérea (TCRPA) e taxa de assimilação líquida da parte aérea (TALPA). Os índices AFE, RAFPA e IAF foram determinados a partir de valores absolutos de cada coleta nos experimentos I e II, de FSPA, FSF, AF e A, através das equações AFE= AF/FSF (cm2 g-1); RAFPA= AF/FSPA (cm2 g-1) e IAF= AF/ A (m2 m -2), propostas por Benincasa (1988). Com os dados das características AF, FSPA, AFE, RAFPA e IAF, procedeuse à análise de variância, com ajuste de equações de regressão. A TCAPA foi determinada derivando-se a equação ajustada para FSPA em relação ao tempo (t). A TCRPA e a TALPA foram estimadas através da relação entre a equação de TCAPA e as equações de melhor ajuste que fornecem, respectivamente, os valores instantâneos de FSPA e AF, conforme Radford (1967), Richards (1969), Negreiros (1995) e Rocha (2001), por meio das equações TCAPA= d(FSPA)/dt (g planta-1 dia-1), TCRPA= TCAPA/FSPA (g g-1 dia-1) e TALPA= TCAPA/AF (g m-2 dia-1). As características de crescimento das plantas foram analisadas por experimento, utilizando-se parcela subdividida para os tratamentos repetidos no tempo (DAS) (Lima, 1996) e procedeuse à análise de regressão, a fim de se 335 FQ Porto Filho et al. (°), (*) e (**) Parâmetros da equação significativos, respectivamente, a 0,10; 0,05 e 0,01 de probabilidade, pelo teste t. y1, y2, y3 e y4 denotam os valores das variáveis nos tratamentos T1, T2, T3 e T4, respectivamente Figura 1. Índice de área foliar (IAF), fitomassa seca da parte aérea (FSPA), razão de área foliar da parte aérea (RAFPA) e área foliar específica (AFE) do melão irrigado submetido a diferentes níveis de salinidade nos Experimentos (Exp.) I e II. Mossoró-RN, 2001 e 2002. estabelecer relações entre as características de crescimento e a idade da planta para cada tratamento, com o emprego de polinômios ortogonais (Gomes, 1987). RESULTADOS E DISCUSSÃO No experimento I, pela análise de variância de índice de área foliar (IAF), fitomassa seca da parte aérea (FSPA), 336 área foliar específica (AFE) e razão de área foliar da parte aérea (RAFPA), os efeitos de tratamento foram significativos a 0,05 de probabilidade para IAF e não significativos para as outras três características; no fator tempo (DAS), a significância foi a 0,01 de probabilidade, em todas as características. O aumento da salinidade da água de irrigação diminuiu linearmente as caracterís- ticas avaliadas, como expressam as equações: IAF (m2 m-2)= -0,094** CEa + 1,116 (R2= 0,87); FSPA (g planta-1)=4,041* CEa + 74,386 (R2= 0,93); AFE (cm2 g-1)= -8,705* CEa + 243,25 (R2= 1,00); RAFPA (cm2 g-1)= -3,495* CEa + 131,06 (R2= 0,86). Na Tabela 2 encontram-se os valores médios de índice de área foliar (IAF), fitomassa seca da parte aérea (FSPA), área foliar específiHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Crescimento do meloeiro irrigado com águas de diferentes salinidades *y1, y2, y3 e y4 denotam os valores das variáveis nos tratamentos T1, T2, T3 e T4, respectivamente Figura 2. Taxa de crescimento absoluto da parte aérea (TCAPA), taxa de crescimento relativo da parte aérea (TCRPA) e taxa de assimilação líquida da parte aérea (TALPA) do melão irrigado submetido a diferentes níveis de salinidade nos Experimentos (Exp.) I e II. Mossoró-RN, 2001 e 2002. ca (AFE) e razão de área foliar da parte aérea (RAFPA) nos experimentos I e II. No desdobramento de DAS dentro de cada nível de salinidade (tratamento) para o IAF, a resposta foi cúbica para os três tratamentos menos salinos e linear para o tratamento mais salino (Figura 1); as equações indicaram valores de IAF máximo aos 54, 54 e 56 DAS e maior taxa de crescimento aos 36, 35 e 37 DAS, respectivamente, nos tratamentos T1, T2 e T3. Em T4, na última coleta (65 DAS), obteve-se o maior IAF, o que indica retardamento no crescimento devido, provavelmente, ao estresse salino. Este índice continuou crescendo no final do ciclo devido ao estresse hídrico imposto pela diminuição da lâmina de Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 irrigação no final do ciclo para a maturação dos frutos ter sido igual ao determinado para T1, afetando menos T4, que se encontrava com IAF menor. Resultados semelhantes a estes foram encontrados por Oliveira (1995) para o meloeiro híbrido Valenciano Amarelo (Gold-Mine), cujo IAF foi maior aos 51 e 70 DAS, respectivamente, para condições sem e com estresse hídrico. Costa (1999), utilizando este mesmo híbrido, evidenciou que o estresse salino no período crítico da cultura até os 36 DAS afeta significativamente o restante do ciclo. Para FSPA, de forma semelhante ao IAF, a resposta foi cúbica aos tratamentos T 1, T 2 e T 3 e quadrática com concavidade para cima, de grande abertura em T4 (Figura 1). Pelas equações, verificam-se valores de FSPA máximo aos 59, 60 e 59 DAS, respectivamente, nos tratamentos T1, T2 e T3, e maior taxa de crescimento em todos a 40 DAS. A defasagem entre as épocas para se atingir os valores máximos e de maior taxa de crescimento da FSPA, em relação ao IAF, indica a estreita relação existente entre a área foliar e a atividade fotossiteticamente ativa que tem, como resposta, o acúmulo de matéria seca (Benincasa, 1988). A AFE teve ao longo do ciclo resposta cúbica em T1 e linear decrescente em T2, T3 e T4 (Figura 1). Em T1, a AFE estimada através da equação cúbica 337 FQ Porto Filho et al. Tabela 1. Composição química das águas com quatro níveis de salinidade (S) utilizadas no trabalho. Mossoró-RN, 2001 e 2002. 1 água de poço do aqüífero Arenito Açu, prof. de 1000 m; 2 água obtida pela mistura de S1 com S3; 3água de poço do aqüífero Calcário Jandaíra, prof. de 80 m; 4preparada pela adição de NaCl a água S3, ajustada (Figura 1), apresentou valores de 306, 260, 231, 225, 230 e 185 cm2 g-1, respectivamente, para 15, 21, 29, 36, 49 e 65 DAS, sendo as determinações aos 36 e 49 DAS os pontos de mínimo e máximo, respectivamente, e maior taxa de crescimento aos 42 DAS. Embora se tenha verificado pequena elevação na AFE aos 49 DAS, houve uma tendência de diminuição desta característica com a idade das plantas, conforme verificado também por Rocha (2001) para o feijão de corda consorciado com o milho. Embora essas oscilações em AFE, resultantes da taxa de crescimento individual das folhas, possam ocorrer, elas são bastante complexas e difíceis de serem explicadas (Benincasa, 1988). Portanto, ressalta-se que a equação linear decrescente: AFE= -2,004** DAS + 310,06 (R2= 0,74), com maior significância de F (p<0,01) e ligeira diminuição do coeficiente de determinação (R2) pode representar o comportamento da AFE para T1, de forma idêntica ao ocorrido em T2, T3 e T4. Para RAFPA, obteve-se efeito linear decrescente com o tempo nos quatro tratamentos. Esta característica, por relacionar a área foliar (AF) com toda FSPA acumulada, reflete a matéria seca produzida pelas folhas através da fotossíntese e distribuída para os outros constituintes da parte aérea; também, tende a apresentar menores oscilações de valores ao longo do tempo do que a AFE, que é determinada utilizando-se apenas a fitomassa seca da folha (FSF). A diminuição da RAFPA com o tempo parece ser ontogênica, indicando que, gradativamente, uma quantidade menor de assimilados é destinada às folhas (Negreiros, 1995 e Nóbrega et al., 2001). Quando se determinou a TCAPA, mediante a derivada das equações ajus338 tadas para a FSPA, verificaram-se equações de comportamento quadrático nos três primeiros níveis salinos (T1, T2 e T3) e linear no maior nível (T4). Isto significa que na planta irrigada ao longo do ciclo, com níveis salinos até 3,2 dS m-1, a TCAPA cresceu até atingir um ponto máximo a 40 DAS (floração/ frutificação), diminuindo ao final do ciclo. Quando se analisa o tratamento mais salino, percebe-se que a planta teve crescimento retardado, ou seja, continuou crescendo até o final do ciclo, com um coeficiente angular da equação linear de 0,141, o que pode ser constatado na Figura 2. Ao se analisar a TCRPA (Figura 2), que representa todo o crescimento resultante da produção de material suficiente para atender às necessidades metabólicas do material já existente e, ainda, para armazenar e/ou construir novo material estrutural (Benincasa, 1988), verificou-se ter havido decréscimo dessa taxa ao longo do ciclo, com equações de comportamento quadrático para os quatro tratamentos. No entanto, o crescimento foi maior, inicialmente, nos três primeiros tratamentos, quando comparado com o nível mais salino, que variou pouco durante o ciclo da cultura. Oliveira (1995) verificou o mesmo comportamento de elevação e queda nas TCAPA para um híbrido de melão Valenciano Amarelo (Gold-Mine) cultivado sob condições sem e com estresse hídrico, com valores máximos aproximados aos, respectivamente, 40 e 36 DAS e, também, decréscimo na TCRPA ao longo do ciclo do melão, obtendo maiores valores iniciais e menores reduções no tratamento sem estresse. Por fim, ao se observar a TALPA, constatou-se que os tratamentos propiciaram maior ganho assimilatório no início, decrescendo posteriormente, diferente do tratamento mais salino, que não variou durante o ciclo da cultura. De modo geral, a taxa de crescimento das plantas foi afetada pela salinidade. Para os tratamentos com salinidade inferior a T4 (T1 a T3), a TCAPA cresceu até a frutificação, diminuindo ao final do ciclo; a TCRPA e a TALPA foram elevadas no início e depois decresceram. Ao ser analisado o efeito do tratamento mais salino (T4), observa-se que, na TCAPA, este agiu de forma a retardar o crescimento, propiciando valores quase constantes de TCRPA e TALPA. Na análise de variância do experimento II, os efeitos do fator tratamento foram não significativos (p>0,05) para IAF, FSPA e RAFPA, e significativos a 0,01 de probabilidade para AFE; o fator DAS foi altamente significativo (p<0,01) em todas as características avaliadas, enquanto na interação de tratamentos versus DAS apenas a AFE foi altamente significativa. O aumento da salinidade da água, exceto para FSPA, reduziu linearmente todas as características avaliadas, segundo as equações: IAF (m2 m-2)= -0,0650* CEa + 1,7637 (R2= 0,69); FSPA (g planta-1)= -5,7792ns CEa + 139,95 (R2= 0,73); AFE (cm2 g-1)= -6,9546** CEa + 242,21 (R2= 0,96) e RAFPA (cm 2 g -1)= -2,2023* CEa + 112,38 (R2= 0,79). Para o desdobramento de DAS dentro de cada nível de salinidade, o IAF teve resposta cúbica nos três tratamentos mais salinos e linear para o menos salino (Figura 1), verificando-se, portanto, pelas equações, valores máximos aos 54, 59 e 55 DAS e maior taxa de crescimento aos 33, 37 e 36 DAS, respectivamente, nos tratamentos T2, T3 e T4. Em T1 o efeito linear aconteceu, provavelmente, por uma retomada natural de crescimento da cultura que, após diminuir de 2,52 m2 m-2 para 2,45 m2 m-2 da Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Crescimento do meloeiro irrigado com águas de diferentes salinidades antipenultima coleta (51 DAS) para a penúltima (58 DAS), voltou a aumentar para 3,11 m2 m-2 na última coleta (64 DAS). Em T3, embora tenha ocorrido o mesmo comportamento verificado para T1, devido ao aumento da última coleta ter sido proporcionalmente inferir ao de T1, a equação de melhor ajuste foi a cúbica. Em T4 verifica-se que, em todas as coletas, os valores de IAF são inferiores aos dos demais tratamentos e sempre crescentes até a penúltima coleta, com leve queda no final, indicando o mesmo retardamento do crescimento ocorrido no experimento I (Figura 1). Enfatiza-se o fato de que, para acelerar e uniformizar o processo de maturação e incrementar o teor de açúcar dos frutos, um dia antes de cada colheita, se provoca estresse hídrico pela diminuição da lâmina de irrigação aplicada. A não utilização de defensivos agrícolas e de irrigação, antecedendo o início da colheita, diminui o crescimento da planta, antecipando o seu ciclo natural, que poderia se estender por mais dias, criando novas folhas e produzindo mais frutos, embora fossem de qualidade inferior. Do exposto, certifica-se de que o declínio natural esperado para IAF no final do ciclo e, ao ser modificado por fatores, como o teor de umidade do solo, a infestação por pragas e doenças e o grau de precocidade das plantas, possa inexistir ou aparecer de forma tão sutil, que nos dois experimentos os quatro tratamentos estudados apresentaram ajuste ao modelo linear, com significância a 0,01 de probabilidade, não sendo os escolhidos por serem de menor grau que o cúbico, que apresenta significância na maioria dos tratamentos estudados, além de representar melhor esta característica ao longo dos DAS. A verificação de ataque menos intenso da mosca-branca (Bemísia argentifólia), minador (Liriomyza sp) e pulgão (Aphis gossypii) no experimento II que no I, pode ter contribuído para maior IAF no experimento II (Tabela 2), ao longo do ciclo, em todos os tratamentos estudados. Verificou-se, também, que a salinidade média do solo durante o ciclo da cultura foi maior no experimento I que no II (Tabela 3), contribuindo para que no segundo experimento o IAF fosse maior. Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Tabela 2. Valores médios de índice de área foliar (IAF), fitomassa seca da parte aérea (FSPA), área foliar específica (AFE) e razão de área foliar da parte aérea (RAFPA) durante o ciclo do meloeiro, irrigado com diferentes níveis de salinidade da água, nos experimentos I e II. Mossoró-RN, 2001 e 2002. Tabela 3. Valores médios da condutividade elétrica do extrato de saturação do solo, em dS m-1, na camada de 0 a 0,45 m, determinados nos tempos 0, 30, 50 e 70 dias após a semeadura (DAS) dos experimentos I e II, para os tratamentos T1 a T4. Mossoró-RN, 2001 e 2002. Na FSPA a resposta foi quadrática nos quatro tratamentos estudados, sendo que nos três primeiros as equações foram semelhantes e superiores à do tratamento T4 (Figura 1). Este comportamento quadrático diferente do que ocorreu nos três primeiros tratamentos do experimento I (cúbico), deve ter sido idêntico ao verificado no IAF, em virtude do maior ataque da mosca minadora no experimento I, reduzindo a fitomassa das folhas, com reflexo na translocação de assimilados para os frutos neste experimento, mesmo que no final do ciclo. Para AFE ao longo do ciclo a resposta foi quadrática para os tratamentos T1 e T2 e cúbica para T3 e T4 (Figura 1). As equações cúbicas ajustadas para T3 e T4 neste experimento, assemelharam-se à encontrada no experimento I para o tratamento T1, com oscilações ao longo do ciclo e menores valores no final. Os valores de AFE, no ponto de máximo e no final (65 DAS) do experi- mento II, foram de 233,59 e 200,23 e de 226,11 e 166,90 cm2 g-1, respectivamente, para T3 e T4, indicando superioridade de T3, neste experimento, a T1 no experimento I. As equações quadráticas com concavidades para baixo, ajustadas para T1 e T2, apresentaram pontos de máximo, respectivamente, a 38 e 37 DAS, diminuindo seus valores até o final do ciclo da cultura. Em todo o período estudado, a AFE em T1, de forma idêntica ao que aconteceu com o IAF, foi sempre superior à de T4. De modo geral, embora os modelos ajustados por tratamentos, para cada um dos experimentos, tenham sido diferentes, os valores de AFE foram menores no final do ciclo da cultura e em todas as coletas de cada tratamento os valores do experimento II tenderam a ser superiores aos do experimento I. Na RAFPA, o efeito foi cúbico para T1 e T2 e linear para T3 e T4, diferindo um pouco do encontrado para o experimento I, que apresentou efeito linear 339 FQ Porto Filho et al. para todos os tratamentos, porém se deve ressaltar que as equações cúbicas ajustadas para T1 e T2, no experimento II, são decrescentes, de pequena amplitude (oscilação), apresentando pontos de máximo e mínimo, respectivamente de 168,6 e 31,2 e de 166,6 e 38,7 cm2 g-1 a 22 e 64 e a 23 e 69 DAS, muito próximos dos valores determinados para T3 e T4, através de suas equações lineares decrescentes, neste mesmo período do ciclo da cultura (Figura 1). O comportamento da TCAPA com os DAS para todos os tratamentos foi linear, indicando crescimento uniforme, com coeficientes angulares das equações de 0,32; 0,35; 0,31 e 0,21 para, respectivamente, T1, T2, T3 e T4 (Figura 2). O tratamento T4 (CEa= 4,5 dS m-1), embora tendo apresentado coeficiente angular inferior aos dos demais, ainda suplantou o encontrado no experimento I, igual a 0,14. No experimento II, a TCRPA tendeu a cair ao longo do ciclo nos quatro tratamentos, de forma similar ao experimento I (Figura 2). Aguiar Netto et al. (2000) estudando a batata sob condições de estresse hídrico, e Urchei et al. (2000) e Rocha (2001) estudando o feijão, respectivamente sob condições de irrigação e sequeiro, verificaram, para estas culturas, a mesma tendência de queda da taxa de crescimento relativo. Apesar de Radford (1967) argumentar ser este índice fisiológico mais apropriado para se comparar efeitos de diferentes manejos agronômicos, por ser relativo e não depender de pressuposições matemáticas, verificou-se pouca diferença na TCRPA entre tratamentos no experimento II, no início do período analisado, com os tratamentos T1, T3 e T4 assumindo valores muito próximos entre si e superiores a T2 e, a partir de 30 DAS verificou-se valores muito próximos para todos os tratamentos. No tratamento menos salino (T1) a TALPA foi quase constante ao longo do ciclo da cultura; enquanto nos tratamentos mais salinos, foi mais elevada no início, apresentando valores superiores aos tratamentos menos salinos, que depois decresceram e se equipararam aos 30 DAS, permanecendo praticamente constantes e iguais ao longo do ciclo, voltando a se elevar levemente apenas 340 no final, com T2 suplantando os demais tratamentos. Este índice reflete a fotossíntese líquida (Benincasa, 1988) e tende a decrescer no final do ciclo das espécies vegetais, em razão da senescência foliar como verificaram Oliveira (1995), Gomes et al. (2000) e Nóbrega et al. (2001); entretanto, o aparecimento de drenos fortes, no final do ciclo, tende a aumentar a TALPA, conforme explica Negreiros (1995) e verificado por Aguiar Netto et al. (2000). Observa-se para os dois experimentos, uma tendência de menor TCAPA em T4, que nos outros tratamentos menos salinos; uma tendência de queda da TCRPA em todos os tratamentos e, ainda que, embora a TALPA tenha apresentado tendência geral de queda, os tratamentos T4 e T1 apresentaram valores quase constantes nos experimentos I e II, respectivamente. Pode-se concluir que os níveis de salinidade da água de irrigação afetaram negativamente o índice de área foliar (IAF), a fitomassa seca da parte aérea (FSPA), a área foliar específica (AFE) e a razão de área foliar da parte aérea (RAFPA), inibindo o crescimento, com maior intensidade no IAF e menor na RAFPA. A taxa de crescimento absoluto da parte aérea (TCAPA) foi afetada pelo nível de salinidade da água de irrigação, enquanto a taxa de crescimento relativo da parte aérea (TCRPA) e a taxa de assimilação líquida da parte aérea (TALPA) não apresentaram nitidamente efeito dos sais ao longo do ciclo do meloeiro. REFERÊNCIAS AGUIAR NETTO AO; RODRIGUES JD; PINHO SZ. 2000. Análise de crescimento na cultura da batata submetida a diferentes lâminas de irrigação. Pesquisa Agropecuária Brasileira 35: 901-907. ALLEN RG; PEREIRA LS; RAES D; SMITH M. 1998. Crop evapotranspiration: guidelines for computing crop water requirements. Rome: FAO. 300p. (FAO: Irrigation and Drainage Paper, 56). 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Postal 218, 70359-970 Brasília-DF; 2Embrapa Sede-PqEB s/nº, 70770-901 Brasília-DF; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT O estudo teve por objetivo estabelecer critério para o manejo de irrigação por gotejamento durante o estádio de frutificação do tomateiro para processamento, nas condições de cerrado do Brasil Central. Avaliaram-se seis regimes de irrigação, com turnos de rega entre 0,25 e 8 dias. A concentração de frutos maduros na colheita aumentou, enquanto a produção de biomassa e o número de frutos por planta foram reduzidos linearmente com os turnos de rega ao quais as plantas foram submetidas. A produtividade e a massa média de frutos comercializáveis apresentaram resposta quadrática aos tratamentos, tendo sido maximizados para um turno de rega de 0,8 dia. O estande final de plantas, a eficiência de uso de água pelas plantas, o teor de sólidos solúveis totais e a firmeza de fruto não foram afetados pelos tratamentos. A incidência de frutos podres apresentou correlação linear negativa com o turno de rega, enquanto que a acidez titulável apresentou correlação positiva. Para o manejo de irrigação baseado no status da água no solo, a tensão matricial crítica associada ao turno de rega que maximizou a produtividade, avaliada a 20 cm de profundidade, antes de cada irrigação, foi de 10 kPa. Response of drip-irrigated processing tomatoes to water regimes during crop fructification stage Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, uso da água, estresse hídrico, freqüência de irrigação. Keywords: Lycopersicon esculentum, water stress, irrigation scheduling, irrigation interval. The response of drip-irrigated processing tomatoes to irrigation frequencies, from 0.25 to 8 days, during fructification stage, was evaluated aiming to establish an irrigation criterion for the “Cerrado” conditions of Central Brazil. The rate of fully-red tomato fruits at harvest increased linearly as irrigation interval increased, while biomass production and number of fruit per plant were linearly reduced. Both marketable fruit yield and average fruits mass showed quadratic responses to treatments, reaching a maximum at irrigation interval of 0.8 day. Plant final stand, plant water use efficiency, total soluble solids content, and fruit firmness were not affected by irrigation interval. Rotten fruit rate featured negative linear correlation with irrigation interval, while the correlation for acidity was positive. For irrigation scheduling purposes based on soil water status, the critical matric tension, related to the irrigation interval that maximized yield, was 10 kPa, evaluated at 20 cm depth. (Recebido para publicação em 09 de agosto de 2005; aceito em 24 de agosto de 2006) O sistema de irrigação por gotejamento vem se tornando uma opção economicamente viável para a irrigação do tomateiro para processamento no Brasil. Isso se deve às vantagens que o sistema oferece, como maior produtividade, melhor qualidade de fruto, economia de água e menor incidência de doenças da parte aérea. Comparativamente à aspersão, o gotejamento possibilita ganhos de até 30% de rendimento e de redução no uso de água, além de reduzir pela metade o uso de fungicidas (Colla et al., 1999; Prieto et al., 1999). Dentre os estádios de desenvolvimento do tomateiro, o de frutificação é o mais sensível à deficiência de água no solo, onde irrigações inadequadas comprometem marcadamente o rendimento e a qualidade de fruto (Marouelli et al., 1991; Prieto, 1997). Segundo Marouelli et al. (2003), a produtividade de frutos 342 em tomateiro irrigado por gotejamento não foi afetada por tensões de água do solo entre 15 e 70 kPa durante o estádio vegetativo, mas aumentou linearmente com a redução da tensão durante o estádio de frutificação. Tal estudo sugere que maior rendimento poderia ser alcançado para tensões inferiores a 15 kPa, ou seja, realizando as irrigações em regime de alta freqüência durante o estádio de frutificação. Além de envolver custos extras com a aquisição de tensiômetros ou outros tipos de sensores, a adoção de critérios para fins de manejo de irrigação com base no controle da tensão de água no solo envolve a realização de irrigações com intervalos variáveis, o que é inconveniente para a maioria dos agricultores, principalmente para condições que requerem irrigações muito freqüentes. Para tais condições, é mais oportuno adotar turnos de rega fixos, visto que as práticas culturais e demais tarefas existentes na propriedade podem ser previamente planejadas. No entanto, recomendações para o manejo de água com base em turno de rega devem ser determinadas para condições específicas de clima e solo (Prieto et al., 1999). O objetivo do estudo foi avaliar a resposta do tomateiro para processamento industrial a diferentes regimes de irrigação por gotejamento, nas condições da região de Cerrado do Planalto Central do Brasil, visando estabelecer a freqüência adequada de rega durante o estádio de frutificação, assim como a tensão crítica de água no solo associada a essa freqüência. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi conduzido no campo experimental da Embrapa Hortaliças, DF, latitude 15o56’S, longitude 48o08’W Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Irrigação por gotejamento do tomateiro industrial durante o estádio de frutificação, na região de Cerrado e altitude de 997 m. O clima, segundo classificação de Köppen, é do tipo Cwa, tropical de altitude – mesotérmico, com chuvas no verão e seca no inverno. O solo é do tipo Latossolo Vermelho distrófico, fase cerrado e textura argilosa, com retenção de água (%vol.), na camada de 0 a 40 cm e intervalo de tensão (Ψm) de 5 a 1500 kPa, expressa por: Os tratamentos, aplicados exclusivamente durante o estádio de frutificação, consistiram de seis turnos de rega: 0,25 (quatro irrigações por dia); 0,5 (duas irrigações por dia); 1; 2; 4; e 8 dias. O estádio de frutificação correspondeu ao período entre o início de frutificação (50% de plantas com pelo menos um fruto) e o início da maturação de frutos (5% de frutos maduros), ou seja, entre o 31o e o 88o dia após o transplante das mudas. O transplante das mudas, do híbrido Heinz 9992, foi realizado na segunda semana de maio de 2001, no espaçamento de 30x120 cm, em solo previamente irrigado. As parcelas experimentais, posicionadas dentro de uma área de plantio contínuo, foram de 28,8 m2 (4 fileiras de 6,0 m), tendo sido colhidas as plantas em 5m de cada uma das duas linhas centrais. A adubação foi com 200 kg de N, 300 kg de K2O, 600 kg de P2O5, 160 kg de Ca, 40 kg de Mg, 5 kg de Zn e 2 kg de B por hectare. Das quantidades totais, 15% do nitrogênio e do potássio, 60% do cálcio e 100% dos demais nutrientes foram aplicados em pré-plantio, sendo as quantidades restantes fornecidas semanalmente via fertirrigação, seguindo esquema de parcelamento apresentado em Marouelli & Silva (2002). Foram utilizadas as seguintes fontes de nutrientes: uréia, nitrato de potássio, de cálcio e duplo potássio, cloreto de potássio e de cálcio, super fosfato simples, sulfato magnésio e de zinco, cal hidratada e bórax. As irrigações foram realizadas instalando-se uma linha lateral de gotejadores, espaçados de 30cm e com vazão de 1,2 L h-1, por linha de plantas. Para minimizar a formação de zona de saturação junto ao colo da planta, as laHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 terais foram posicionadas de 5 a 10 cm em relação à linha de plantio. O manejo de água durante os estádios de pegamento de mudas, vegetativo e de maturação foi conforme Marouelli & Silva (2002), sendo igual para todos os tratamentos. A lâmina de água aplicada nos tratamentos com turno de rega de 0,25, 0,5 e 1 dia foi computada a partir da evaporação do tanque Classe A e coeficientes de cultura reportados por Marouelli & Silva (2002). As lâminas de evaporação de água foram obtidas em uma estação meteorológica a cerca de 500 m da área experimental. Nos demais tratamentos, as lâminas foram determinadas com base no esgotamento de água no solo (Keller & Bliesner, 1990), considerando 40% de área molhada e profundidade efetiva de raízes de 40cm. O teor de água no solo foi determinado pela equação de retenção de água ajustada, a partir das leituras de tensiômetros, nos tratamentos de 2 e 4 dias, e por gravimetria no de 8 dias. Tensiômetros foram instalados (tratamentos de 0,25 a 4 dias) e amostras de solo coletadas (tratamento de 8 dias) em cada parcela a cerca de 10cm da planta e do gotejador (LowengartAycicege et al., 1999) e a 20 cm de profundidade, em plantas distanciadas a 10 cm do gotejador. As condições climáticas médias durante o estádio de frutificação do tomateiro foram: temperatura do ar de 22,5 oC; umidade relativa do ar de 55,6%; insolação de 9,1 horas; radiação global de 18,8 MJ m-2 dia-1; velocidade do vento de 1,1 m s-1; evaporação do tanque classe A de 6,6 mm dia -1 (evapotranspiração de referência de 5,3 mm dia-1). A ocorrência de chuvas foi de 71 mm antes do início dos tratamentos, de 4 mm durante o estádio de frutificação e de 113 mm após o término dos tratamentos. A colheita dos frutos, em cada tratamento, foi realizada manualmente em uma única operação. Avaliaram-se as variáveis: lâmina de água aplicada, estande final; biomassa; concentração de frutos maduros; produtividade de frutos; eficiência do uso de água, em quilogramas de frutos comercializáveis por metro cúbico de água aplicada via irri- gação (volume líquido); massa média de fruto; número de frutos por planta; frutos podres; acidez titulável; sólidos solúveis totais; e firmeza. A biomassa foi determinada secando-se a parte aérea das plantas a 60oC, excluindo-se todos os frutos. Para a taxa de concentração de frutos maduros, produtividade, massa média de fruto e número de frutos por planta consideraram-se apenas os maduros, sem danos, independente de tamanho. A acidez titulável, o teor de sólidos solúveis totais e a firmeza de fruto foram determinados segundo Moretti et al. (1998) e Calbo & Nery (1995), em amostras de quinze frutos. O delineamento experimental foi blocos ao acaso, com quatro repetições. Os dados foram submetidos à análise de variância e as variáveis, afetadas pelos tratamentos, analisadas com regressão linear pelo método de polinômios ortogonais. Para tal, usou-se transformação logarítmica dos turnos de rega. RESULTADOS E DISCUSSÃO Uso de água pelas plantas A lâmina total líquida de água aplicada via irrigação (Li, mm) ao longo do ciclo fenológico do tomateiro foi reduzida quanto maior o turno de rega (TR, dia) durante o estádio de frutificação, tendo sido a resposta ajustada pela seguinte equação: Li= 347,7 - 5,660xTR 0,466xTR2 (R2= 0,99). Das lâminas totais aplicadas, 155 mm foram fornecidos antes e após o estádio de frutificação. A lâmina de irrigação no tratamento com maior turno de rega (273 mm) foi 21% menor que aquela aplicada no tratamento irrigado mais freqüentemente. A ocorrência de chuvas durante o estádio de frutificação totalizou 4 mm, portanto, não tendo nenhum efeito significativo sobre a resposta do tomateiro aos tratamentos. Segundo Allen et al. (1998), o menor uso de água pelas plantas nos tratamentos irrigados menos freqüentemente deve-se a dois fatores principais: a) menor perda de água por evaporação em razão da superfície do solo permanecer seca por maiores períodos; b) menor transpiração pelas plantas em razão da maior dificuldade 343 WA Marouelli & WLC Silva Figura 1. Funções de resposta para concentração de maturação de frutos (Cm), produção de biomassa (Bi), número de frutos por planta (Nf) e massa média de fruto (Mf) conforme o turno de rega durante o estádio de frutificação do tomateiro. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2001. de extração de água pelas raízes acarretada pelo aumento da tensão de retenção de água pelo solo. A média das tensões máximas de água do solo (Ts, kPa), avaliadas a 20 cm de profundidade durante o estádio de frutificação, teve resposta positiva ao turno de rega adotado (Ts= 3,3+8,594xTR+0,513xTR2; R2= 0,99). Pela equação ajustada, as tensões nos tratamentos de 0,25; 0,5; 1; 2; 4 e 8 dias foram, respectivamente, 5, 8, 12, 23, 46 e 105 kPa. Verifica-se, portanto, que as plantas, durante o estádio de frutificação, foram submetidas a uma faixa de tensão muito mais ampla que aquela avaliada por Marouelli et al. (2003). Desenvolvimento de plantas As colheitas dos frutos foram realizadas entre 121 e 122 dias após o transplante das mudas. A concentração de maturação de frutos aumentou linear344 mente quanto maior o turno de rega adotado (Figura 1). Conforme observado por Prieto et al. (1999), isto significa que plantas submetidas a maiores restrições de água durante o estádio de frutificação tiveram redução no ciclo de desenvolvimento. O estande final de plantas (média de 2,8 plantas por m2) não foi afetado significativamente (p>0,05) pelos tratamentos, indicando que os regimes de irrigação aos quais as plantas foram submetidas não proporcionaram condições diferenciadas para acarretar maior ou menor morte de plantas decorrente a estresse hídrico ou doenças. Resultados semelhantes foram relatados por Marouelli et al. (1991, 2003) para plantas de tomateiro submetidas a tensões de água no solo entre 15 e 460 kPa durante o estádio de frutificação. A produção de biomassa, avaliada pela massa seca da parte aérea fora os frutos, foi reduzida linearmente com o aumento do intervalo entre irrigação a que as plantas foram submetidas (Figura 1). Plantas submetidas a condições de máximo déficit hídrico (turno de rega de 8 dias) tiveram 13% de redução na biomassa comparativamente ao tratamento com turno de rega de 0,25 dia. Colla et al. (1999), por outro lado, não observaram variações no crescimento de plantas quando se reduziu a lâmina de água em até 20% durante todo ciclo do tomateiro. Tais divergências devem-se, principalmente, ao fato de que no presente estudo as plantas foram submetidas a um maior déficit de água, com redução de 38% da lâmina aplicada durante o estádio de frutificação. Produção de frutos O número de frutos comercializáveis por planta, que é um dos principais componentes de produção de tomateiro, foi reduzido linearmente com o aumento do intervalo entre irrigações (Figura 1). Esta redução pode ser explicada pelo menor crescimento das plantas, maior queda de flores e abortamento de frutos em plantas submetidas a condições de maior déficit de água durante o final da fase de florescimento e início de frutificação (Marouelli et al., 1991; Prieto, 1997). Maior massa média de frutos comercializáveis foi obtida para um turno de rega de 0,8 dia (Figura 1). Aparentemente, este resultado diverge do obtido por Marouelli et al. (2003), que não verificaram diferenças significativas para tensões de água no solo entre 15 e 70 kPa. Tais diferenças podem ser explicadas pelo fato de que no presente estudo as plantas foram submetidas a uma maior amplitude de tensões (5 a 105 kPa). Redução da massa de fruto, mesmo em plantas submetidas a condições moderadas de deficiência de água no solo durante o estádio de frutificação, foi constatada por Colla et al. (1999) em concordância com o presente estudo. Já condições de alta umidade no solo no tratamento irrigado quatro vezes por dia podem ter prejudicado a aeração na rizosfera e favorecido a lixiviação de nutrientes, principalmente de nitrogênio, tendo contribuído, assim, para reduzir o tamanho dos frutos. Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Irrigação por gotejamento do tomateiro industrial durante o estádio de frutificação, na região de Cerrado A produtividade de frutos comercializáveis apresentou resposta quadrática com os tratamentos (Figura 2), tendo sido maximizada para um turno de rega de 0,8 dia. Com base nos componentes de produção avaliados, verifica-se que as diferenças de produtividade observadas foram devidas tanto ao número de frutos por planta quanto à massa dos frutos, haja vista que o estande de plantas não foi influenciado pelos diferentes regimes de irrigação. Pela equação de regressão ajustada para tensão de água solo em função de turno de rega, obtém-se que a tensão crítica associada ao turno de rega de 0,8 dia, que maximizou a produtividade de frutos, foi de 10 kPa. Esse resultado vem complementar o trabalho realizado por Marouelli et al. (2003), que indicava que a realização de irrigações visando manter a tensão máxima de água no solo abaixo de 15 kPa poderia ser capaz de acarretar incrementos de produtividade de frutos em tomateiro irrigado por gotejamento. A eficiência de uso de água pelas plantas (média de 39,4 kg m-3) não foi afetada pelos diferentes regimes de irrigação a que as plantas foram submetidas durante o estádio de frutificação, similarmente ao observado por Marouelli et al. (2003). Isto indica que sob condições onde a água é fator limitante, deve-se manejar a irrigação visando maximizar a produtividade de frutos e reduzir a área plantada, de forma a tornar mínimo o custo de produção por unidade de água utilizada. Valores máximos de eficiência do uso de água reportados na literatura, para tomateiro irrigado por gotejamento, variam de 31,0 a 42,6 kg.m-3 (Phene et al., 1992; Lowengart-Aycicege et al., 1999). Qualidade de fruto A incidência de frutos com podridão apical (média de 0,2%), o teor de sólidos solúveis totais (média de 5,1%) e a firmeza de fruto (média de 0,329 kgf cm-2) não foram afetados significativamente (p>0,05) pelos tratamentos. A diminuta ocorrência de podridão apical deveu-se ao adequado suprimento de cálcio à cultura, parte fornecida via fertirrigação a partir da floração do tomateiro, e ao fato das plantas não terem sido submetidas a condições extremas de déficit de água no solo (Hochmuth, 1997), ou seja, a tensão Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Figura 2. Funções de resposta para produtividade comercializável de frutos (Pc), taxa de frutos podre (Fp) e ácido cítrico (%) conforme o turno de rega durante o estádio de frutificação do tomateiro. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2001. média de água no solo não ultrapassou 105 kPa. Efeito não significativo sobre o teor de sólidos solúveis em tomateiro submetido a diferentes regimes de irrigação durante o estádio de frutificação também foi observado por Marouelli et al. (1991) e Colla et al. (1999). Segundo Lowengart-Aycicege et al. (1999), o regime hídrico adotado durante o estádio de frutificação tem pequeno efeito sobre teor de sólidos solúveis de frutos, mas é decisivo durante o estádio de maturação do tomateiro. A incidência de frutos podres apresentou resposta linear negativa com o turno de rega adotado (Figura 2). O maior apodrecimento de frutos nos tratamentos irrigados em regime de alta freqüência deve-se, basicamente, ao maior tempo de contado de frutos com a superfície molhada do solo e ao maior crescimento vegetativo da parte aérea, criando um ambiente mais úmido dentro do dossel de plantas (Rotem & Palti, 1969). Sob tais condições, várias doenças fúngicas e bacterianas, como a rizoctoniose e podridão-mole, podem ter ocorrido principalmente nos frutos em contato direto com o solo e naqueles com ferimentos causados por insetos (Lopes et al., 2000). Similarmente ao observado por Colla et al. (1999), verificou-se resposta linear positiva da acidez titulável com o turno de rega (Figura 2). Assim, plantas submetidas a restrições hídricas produziram frutos mais ácidos que aquelas irrigadas em regime de mais alta freqüência durante o estádio de frutificação. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Rain Bird do Brasil Ltda., pela doação de parte do sistema de irrigação, e à Unilever BestFoods do Brasil Ltda., pelo fornecimento das mudas de tomateiro. 345 WA Marouelli & WLC Silva REFERÊNCIAS ALLEN RG; PEREIRA LS; RAES D; SMITH M. 1998. Crop evapotranspiration: guidelines for computing crop water requirements. Roma: FAO. 328p. (Irrigation and Drainage Papers, 56). CALBO AG; NERY AA. 1995. 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Este trabalho objetivou avaliar o crescimento, teor e acúmulo de nutrientes e alumínio na parte aérea de arnica em resposta à calagem e adubação. O experimento foi conduzido em casa de vegetação, em amostra de Cambissolo álico, em esquema fatorial 2x3+1, sendo dois níveis de calagem (sem e com), três tipos de adubação (mineral, orgânica e mista). Para controle foi utilizado um tratamento adicional, constituído de solo proveniente da região endêmica da arnica, para simular suas condições naturais de desenvolvimento. Foram utilizadas quatro repetições e uma planta por vaso. Tomaram-se as alturas inicial e final, obtendo-se o crescimento relativo (CR) e determinaram-se as massas secas de parte aérea (MSPA) e de raiz (MSR). Foram determinados o teor e o acúmulo de nutrientes e alumínio na MSPA. De modo geral, a arnica apresentou maiores valores MSPA, MSR e CR com adubos minerais e menores com orgânico. Para MSPA, a calagem foi essencial somente nos tratamentos que receberam adubo orgânico. A arnica é uma planta tolerante ao Al, exigente em Zn e Mn e não exigente em macronutrientes. Effects of liming and fertilization on growth and nutrition of arnica Palavras-chave: nutrição mineral, planta medicinal, cultivo, Lychnophora pinaster. Keywords: Mineral nutrition, medicinal plant, cropping, Lychnophora pinaster. Arnica is a plant widely used in folk medicine, which is in danger of extinction. This work aimed to evaluate growth, nutrients and aluminum contents and quantity in aboveground dry matter under liming and fertilization. The experiment was carried out in greenhouse, with allic Cambisol samples in 2x3+1 factorial scheme, using two liming levels (with and without) and three fertilization types (mineral, organic and mixed). Control was an additional treatment, using soil from arnica endemic land, to simulate its natural conditions of development. Four replications were used and one plant for each pot. Relative growth (RG) was obtained from initial and final heights. Aboveground dry matter (ADM) and the root dry matter (RDM) were determined. The contents and accumulation of nutrients and aluminum were determined in ADM. Generally, arnica showed higher ADM, RDM and RG with mineral fertilization and lower ADM, RDM and RG with organic fertilization. For ADM, liming was essential only in treatments with organic fertilizer. Arnica is not Al-tolerant, it is Zn- and Mn-exigent, but is not macronutrientsexigent plant. (Recebido para publicação em 19 de setembro de 2005; aceito em 27 de julho de 2006) A o longo do tempo, a farmacopéia popular consagrou diversas plantas como medicamentos naturais. No entanto, apesar da alta demanda, ainda é relativamente pequeno o conhecimento acumulado sobre o cultivo das espécies medicinais nativas do Brasil. Isso tem acarretado grande devastação dos recursos da flora nacional que, além dos danos ambientais, gera dificuldades no controle de qualidade dos fitofármacos. Considerado endêmico dos campos rupestres do Cerrado brasileiro, o gênero Lychnophora apresenta dezenas de espécies, todas com microendemismo bastante pronunciado (Semir, 1991). Devido ao seu amplo uso na medicina popular, a Lychnophora ericoides, junto das demais espécies do gênero, vêm sofrendo grande pressão de extrativismo, sendo consideradas espé- cies vulneráveis à extinção (Sociedade Botânica do Brasil, 1992). Essa situação sugere que as espécies encontradas nos campos rupestres são merecedoras de grande prioridade de conservação, visto que essas plantas compõem flora especializada, de distribuição geográfica muito restrita (Oliveira-Filho; & Fluminhan-Filho, 1999). Nesse sentido, Silva (1994) afirma que, se formas de sobrevivência para Lychnophora pinaster não forem asseguradas, podese chegar à sua extinção. Pelo fato do interesse no cultivo comercial de plantas medicinais ser recente, informações sobre o crescimento e nutrição dessas espécies ainda são escassas e dispersas, sobretudo para as originadas do Cerrado. Os poucos trabalhos científicos encontrados sobre arnica fazem referência a estudos florísticos (Carvalho, 1992), fenológicos (Silva, 1994), fitoquímicos (Pinheiro, 2002), de micropropagação (Souza, 2003), conservação de germoplasma (Paron et al., 2005) e produção de óleo essencial (Oliveira Júnior et al., 2005). O cultivo em nível comercial da arnica pode ser capaz de fornecer material vegetal de qualidade para a indústria farmacêutica, auxiliando, inclusive, na solução do problema de extrativismo que essa espécie sofre (Souza, 2003). Dessa forma, estudos a respeito do crescimento de arnica em condições de cultivo ganham destaque, pois podem, inclusive, auxiliar no estabelecimento de coleções de conservação de germoplasma, conforme sugerido por Paron et al. (2005). O presente trabalho teve como objetivo avaliar o crescimento, o teor e 1 Parte da dissertação do primeiro autor, apresentada ao Curso de Pós-graduação em Solos e Nutrição de Plantas da Universidade Federal de Lavras, para obtenção do título de Mestre. Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 347 AC Oliveira Júnior et al. acúmulo de nutrientes e alumínio na parte aérea de mudas de arnica (Lychnophora pinaster) em resposta às aplicações de calcário e de adubos mineral e orgânico. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em casa de vegetação do Departamento de Ciência do Solo da Universidade Federal de Lavras (UFLA), em amostra de Cambissolo álico, coletada na profundidade de 0-20 cm, em vasos de 3 dm3. Após destorroamento, a amostra foi seca ao ar e peneirada em malha de 4 mm. Foram tomadas subamostras para caracterizações físicas e químicas (Tabela 1), conforme Embrapa (1997) e do P-remanescente de acordo com Alvarez V. et al. (2000). Os tratamentos foram constituídos pelo uso ou não de calagem, três tipos de adubação (mineral, orgânica e mista – 50% de cada) e um tratamento adicional como controle, simulando as condições naturais de crescimento da arnica. Os tratamentos foram arranjados em esquema fatorial 2x3+1, no delineamento experimental inteiramente casualizado, com quatro repetições. Utilizou-se calcário dolomítico calcinado, micropulverizado, com 35% de CaO, 14% de MgO e PRNT= 100%, para elevar a saturação de bases do solo para 50%, equivalente a uma dosagem de 1,3 t ha-1. A adubação mineral, baseada em Novais et al. (1991), constituiu-se de (mg dm-3 de solo) N= 150; P= 200; K= 150; S-SO4= 40; B= 0,5; Cu= 0,8 e Zn= 3,00. As doses de N e K foram parceladas em três vezes (plantio, 30 e 60 dias). Como adubo orgânico foi utilizado o esterco de curral curtido, seco a 65°C, moído e passado em peneira de 1 mm2. A dose foi baseada em CFSEMG (1999), adotando-se 32 t ha-1, dose essa equivalente a dez por cento do volume de solo, nos vasos dos tratamentos essencialmente orgânicos. A análise química do esterco de curral (Tabela 2) foi realizada conforme Tedesco et al. (1995). Os tratamentos com adubação mista receberam metade das doses dos tratamentos individuais (50% mineral e 50% orgânica). Após a aplicação dos tratamentos o solo foi in348 cubado por 40 dias, com umidade de 50% do volume total de poros (VTP), quando foram amostrados para novas análises químicas (Tabela 1). O tratamento controle foi composto de amostras da camada de 0-20 cm de profundidade de um Neossolo Litólico, coletado em Lavras-MG, na Serra da Bocaina (área endêmica da arnica), com o intuito de simular as condições naturais da arnica. Esse material também foi peneirado, incubado pelo mesmo período, porém sem aplicação de qualquer tratamento de melhoria da fertilidade. Sua composição física e química está apresentada na Tabela 1. Os tratamentos que receberam somente adubação mineral e aquele pertencente ao grupo controle tiveram vasos preenchidos com 2,6 L de solo. Os demais vasos foram preenchidos com 2,86 L (2,6 L de solo + 10% de esterco) para adubação orgânica e 2,73 L (2,6 L+5%) para adubação mista. As mudas de arnica foram produzidas no Laboratório de Biotecnologia da UFLA, utilizando segmentos nodais, obtidos por meio de germinação de embriões in vitro, com indução de multiplicação em meio de cultura. Depois de permanecerem na câmara de crescimento, foram aclimatadas durante 30 dias em casa de vegetação, em potes plásticos preenchidos com material do Neossolo Litólico, como descrito em Souza (2003). Após a aclimatação uma única muda foi transplantada, com torrão, para os vasos contendo os tratamentos, onde foram cultivadas por 150 dias. A umidade no solo foi mantida em 50% do VTP, por meio de irrigações periódicas com água deionizada. Durante o período de experimento, foram tomadas medidas das alturas inicial e final das plantas de cada parcela, para estimar o seu crescimento relativo (CR); através da equação: CR(%)= 100x[(altura final–altura inicial)/altura inicial]. Na colheita, as plantas foram cortadas rente ao solo. Descartou-se a parte lignificada do caule e o restante foi seco em estufa de circulação de ar forçada a 65-70°C e pesadas para obtenção da matéria seca da parte aérea (MSPA). Em seguida, a MSPA foi moída em moinho do tipo Willey e analisada quanto aos teores de nutrientes e Al, sendo este último determinado através do método de colorimetria do aluminon (Malavolta et al., 1997). As raízes foram retiradas através de destorroamento e peneiramento do solo seco, determinando-se a massa seca de raízes (MSR). As variáveis de crescimento (MSPA, MSR e CR) foram submetidas à análise de variância e os tratamentos comparados pelo teste de Scott-Knott (p<0,05). Adicionalmente, foram aplicadas análises de correlações lineares entre as variáveis de crescimento e os parâmetros de fertilidade dos solos e elementos (nutrientes e alumínio) no tecido vegetal. A significância dos valores de correlação foi comparada pelo teste de tstudent (1 e 5%). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os tratamentos influenciaram significativamente as variáveis de crescimento das plantas de arnica. As produções de MSPA, MSR e CR foram influenciadas pela interação entre calagem e adubação (Tabela 3). Provavelmente, o efeito da adubação na MSPA, independente da presença de calcário, tenha sido devido à pronta disponibilidade de nutrientes, fornecidos via adubos minerais. Para os tratamentos com adubação orgânica, a aplicação de calcário promoveu maior produção de MSPA, possivelmente, devido à elevação do pH (Tabela 1) e conseqüente aumento na atividade microbiológica e mineralização do esterco. Pode ter sido disponibilizado mais enxofre, uma vez que houve correlação (r= 0,78*) entre o teor deste nutriente no solo com a MSPA. O teor de S-SO4 no solo sob adubação orgânica com calagem foi cerca de 16% maior que no solo sem calagem e mais próximo do controle (Tabela 1). De modo geral, a calagem não afetou a MSR, ou seja, não houve diferenças entre os tratamentos em relação à aplicação de calcário, à exceção do tratamento mineral que teve MSR menor. Esses resultados demonstram que o crescimento radicular da arnica não é influenciado por acidez e alta saturação por Al (m%) do solo. De maneira geral, estas propriedades do solo afetam negativamente o crescimento das raízes da grande maioria das plantas de interesse Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Efeitos de calagem e adubação no crescimento e nutrição de arnica Tabela 1. Composição química e física do Neossolo Litólico (Controle) e do Cambissolo álico na sua condição natural (CN) e após aplicação dos tratamentos. Lavras, UFLA, 2004. econômico. Esse fato pode ser evidenciado pela correlação positiva encontrada entre MSR e o índice m% (r= 0,70*) e H+Al (r= 0,69*). Houve correlação inversa entre MSR e os teores de Mg disponíveis no solo (r= -0,77*). O Ca é um elemento com função chave na proteção das raízes contra os efeitos negativos do pH baixo (Marschner, 1995) e uma inibição da absorção de Ca, devido a maior disponibilidade de Mg (Mengel & Kirkby, 2001), pode ter sido a causa desse fato, corroborado pela correlação encontrada entre MSR e Ca:Mg (r= 0,85*). Considerando as produções de MSPA e MSR (Tabela 3), o tratamento com adubação orgânica promoveu o menor crescimento da arnica, tanto na presença quanto na ausência da calagem. A análise mostrou que o esterco de curral utilizado apresentava baixo teor de P (Tabela 2). Assim, a dose do adubo orgânico usada nesse tratamento (Tabela 2) forneceu quantidade Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Tabela 2. Teores totais e quantidades aplicadas de nutrientes presentes no esterco de curral usado para adubação orgânica. Lavras, UFLA, 2004. *Valores entre parênteses representam a quantidade de nutrientes, em mg dm-3, aplicada nos tratamentos com adubação puramente orgânica. insuficiente deste nutriente, limitando o crescimento da arnica, sugerido pelos valores de correlação encontrados entre o P disponível e MSPA (r= 0,69*) e MSR (r=0,69*). Portanto, para a dose de esterco utilizada, a complementação com nutrientes na forma mineral foi essencial para um crescimento adequado das plantas. Corrêa Júnior (1994) afirma que, em muitos casos, a complementação da adubação orgânica, via adubos minerais, é fundamental quando se visa à produção adequada de plantas medicinais. No presente trabalho, o tratamento de adubação mista comprova esse fato, embora a dose mineral ainda tenha sido insuficiente (Tabela 3). Analisando a produção de MSPA e MSR (Tabela 3) e a composição química do solo controle (Tabela 1), pode-se inferir que a arnica é uma espécie adaptada a altos teores e saturações por Al. Assim, nas condições deste estudo, a 349 AC Oliveira Júnior et al. Tabela 3. Produção de matérias secas de parte aérea e raiz e crescimento relativo das plantas de arnica em função da calagem e adubação e no controle. Lavras, UFLA, 2004. Médias seguidas de letras iguais, minúsculas nas colunas e maiúsculas nas linhas, não diferem entre si (Scott-Knott, 5%). calagem mostrou ser desnecessária para o crescimento da arnica. Esses resultados estão de acordo com o exposto em Goodland & Ferri (1979), sobre o crescimento das plantas nativas do Cerrado. Esses autores afirmaram que a tolerância dessas plantas às condições adversas está intimamente relacionada à alta saturação por Al (m%), ou seja, a tolerância aumenta com os valores de m% dos solos. Contudo, para explora- ção comercial da arnica, ou qualquer outra atividade que objetive maior crescimento dessa espécie, estudos mais detalhados de nutrição mineral são necessários. Para o crescimento relativo (CR), os tratamentos com adubação mineral resultaram em incrementos maiores (Tabela 3), provavelmente, porque a pronta disponibilidade de nutrientes foi suficiente para alavancar o crescimento das plantas. Sugere-se que a diferença observada entre os tratamentos orgânicos, com e sem calagem, provavelmente se deveu a uma maior disponibilidade de S-SO4 no tratamento que recebeu calcário (Tabela 1). O acúmulo de determinado nutriente pela planta é função do seu teor no tecido e, principalmente, da produção de massa seca. Assim, observa-se que o acúmulo dos elementos (Tabela 4) seguiu a tendência observada para a massa seca (Tabela 3). Portanto, decresceu na ordem de adubação mineral, mista e orgânica. Nesse último tratamento, destaca-se o baixo acúmulo de P e S, reflexo dos baixos crescimento (Tabela 3) e teores na planta (Tabela 4). De maneira geral, os teores dos nutrientes na parte aérea da arnica (Tabela 4) não sofreram variações acentuadas com a aplicação dos tratamentos. Não se encontrou na literatura um referencial nutricional para a arnica. Dessa forma, para efeito de comparação, adotou-se como referência os valores médios citados por Marschner (1995). De maneira geral, os nutrientes N, P e K mantiveram-se abaixo, enquanto que o Ca, Mg, S, Cu e Fe situaram-se dentro dos limites citados. Somente os teores de Zn e Mn apresentaram-se acima dos limites, sobretudo no controle, indicando maior exigência da arnica nestes micronutrientes. Os teores de Al também não sofreram variações acentuadas em função dos tratamentos, à exceção da adubação orgânica sem calagem. Neste tratamento, à Tabela 4. Teores e acúmulos de nutrientes e alumínio na massa seca da parte aérea das plantas de arnica, aos 150 dias de cultivo, em função da calagem e adubação e no controle. Lavras, UFLA, 2004. *Valores entre parênteses correspondem aos acúmulos de elementos, em mg planta-1 350 Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Efeitos de calagem e adubação no crescimento e nutrição de arnica semelhança do controle, o menor teor de Al na parte aérea se deve, provavelmente, a indisponibilização através de sua complexação com a matéria orgânica (Andrade et al., 2002). Todavia, embora tenham sido detectadas algumas variações nos teores dos nutrientes em função dos tratamentos, não foi observado, durante o período de experimento, nenhum sintoma típico de deficiência ou toxidez, inclusive para o Al. Pela classificação de Goodland & Ferri (1979), a arnica se enquadraria no grupo das plantas tolerantes e não acumuladoras de Al, uma vez que os teores deste elemento situaram-se entre 20 e 200 mg kg-1 de Al (base massa seca). Os mecanismos que lhe conferem tal tolerância, segundo Mengel & Kirkby (2001), são de ordem genética e estão em consonância com Goodland & Ferri (1979) a respeito da adaptação das plantas às condições de solos de Cerrado. Os campos rupestres, pelas suas condições intrínsecas, são considerados como áreas de preservação permanente (artigo segundo do Código Florestal Lei 4771/65, alterada pela Lei 7803/89). Assim, os teores dos nutrientes e alumínio do tratamento controle não devem ser considerados como um referencial nutricional para comparação com plantas obtidas em condições de cultivo. Para essas condições, o presente trabalho indica como referencial nutricional os teores obtidos no tratamento mineral sem calagem, pois este apresentou maior crescimento e, nos tratamentos minerais a calagem mostrou-se prática desnecessária. O crescimento (MSPA, MSR e CR) da arnica foi maior com aplicação de Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 fertilizante menor com adubo orgânico. Para MSPA e CR, a calagem foi essencial somente nos tratamentos que receberam adubo orgânico. A arnica não é planta exigente em macronutrientes, mas é em Zn e Mn. Embora não acumuladora, é tolerante ao Al do solo. REFERÊNCIAS ALVAREZ VVH; NOVAIS RF; DIAS LE; OLIVEIRA JA. 2000. Determinação e uso do fósforo remanescente. Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo 25: 27-32. ANDRADE AT; FERNANDES LA; FAQUIN V. 2002. Organic residue, limestone, gypsum, and phosphorus adsorption by lowland soils. Scientia Agricola 59: 349-355. CARVALHO DA. 1992. 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Porto Alegre: UFRGS. 174p. 351 ANDRIOLO JL; GODOI RS; COGO CM; BORTOLOTTO OC; LUZ GL; MADALOZ JC. 2006. Growth and development of lettuce plants at high NH4+:NO3ratios in the nutrient solution. Horticultura Brasileira, 24: 352-355. Growth and development of lettuce plants at high NH4+:NO3- ratios in the nutrient solution Jerônimo L Andriolo; Rodrigo dos S Godoi1; Clarissa M Cogo; Orcial C Bortolotto; Gean L da Luz; José Carlos Madaloz2 UFSM-CCR-Depto. Fitotecnia, 97105-900 Santa Maria-RS; E-mail: [email protected] ABSTRACT RESUMO Lettuce plants, cv. Vera, were grown at five NH4+:NO3- ratios in the nutrient solution in a 0.15 m deep sand growing bed. A standard nutrient solution was used, with the composition of, in mmol L-1, 11.0 NO3-; 1.5 H2PO4-; 6.5 SO4— —; 7.5 Ca++; 10.0 K+ and 1.5 Mg++, and, in mg L-1, 0.42 Mn; 0.26 Zn; 0.05 Cu; 0.50 B; 0.04 Mo, and 4.82 chelate Fe. Ammonium nitrate was used to supply NH 4 + concentrations of 2.5; 5; 7.5 and 10 mmol L-1, reaching NH4+:NO3ratios of 0:11 (T1); 2.5:13.5 (T2); 5:16 (T3); 7.5:18.5 (T4) and 10:21 mmol L-1 (T5) as treatments. A completely randomized experimental design was used, with four replications and 20 plants per plot. Four plants of each plot were harvested at 25 days after planting, to determine shoot and root dry mass, shoot fresh weight and number of leaves per plant. Number of leaves, shoot fresh and shoot and root dry mass decreased 25.5%; 52.5% and 68.5% from T1 to T5, respectively, following polynomial models. Root dry mass was 1.7 g/plant for T1 and T2, and 0.82 g/plant for T3, T4 and T5, decreasing in a proportion of 51.8%. For lettuce crop production in hydroponical facilities, the NH4+ threshold limit of about 9-12% of the total N should be retained. Crescimento e desenvolvimento da alface sob altas proporções NH4+:NO3- na solução nutritiva Keywords: Lactuca sativa, fertigation, hydroponics, ammonium. Plantas de alface, cv. Vera, foram cultivadas com cinco concentrações de NH4+ na solução nutritiva, em uma camada de areia de 0,15 m de profundidade. Foi empregada uma solução nutritiva padrão, com a composição de, em mmol L-1, 11,0 de NO3-; 1,5 de H2PO4-; 6,5 de SO4— —; 7,5 de Ca++; 10,0 de K+ e 1,5 de Mg++ e, em mg L-1, 0,42 de Mn; 0,26 de Zn; 0,05 de Cu; 0,50 de B; 0,04 de Mo, e 4,82 de Fe quelatizado. Nitrato de amônio foi empregado para adicionar concentrações de NH4+ de 2,5; 5; 7,5 e 10 mmol L 1 atingindo proporções NH4+:NO3- de 0:11 (T1); 2,5:13,5 (T2); 5:16 (T3); 7,5:18,5 (T4) e 10:21 mmol L-1 (T5) como tratamentos. O delineamento experimental inteiramente casualizado foi empregado, com quatro repetições e 20 plantas por parcela. Quatro plantas foram coletadas aos 25 dias após o plantio, para determinar a massa fresca e seca da parte aérea e o número de folhas por planta. O número de folhas, a massa fresca da parte aérea e a massa seca da parte aérea e das raízes decresceram 25,5%; 52,5% e 68,5% de T1 para T5, respectivamente, seguindo modelos polinomiais. A massa seca de raízes foi de 1,7 g/planta em T1 e T2 e de 0,82 g/planta em T3, T4 e T5, decrescendo na proporção de 51,8%. Concluiu-se que o limite de concentração de NH4+ entre 9-12% do N total deve ser observado na produção hidropônica de alface. Palavras-chave: Lactuca sativa, fertirrigação, hidroponia, amônio. (Recebido para publicação em 20 de outubro de 2005; aceito em 30 de agosto de 2006) N itrogen is one of the most important mineral nutrients determining plant growth and crop yield. Its effects are associated with leaf area growth and photosynthetic rate (Pinheiro Henriques & Marcellis, 2000; Pons & Westbeek, 2004). Linear relationships have been demonstrated between canopy nitrogen content, in g m-2, and leaf area index (LAI) in early developmental stages of several species (Yin et al., 2003). Carbon, nitrogen and water uptakes rates are the key processes determining fresh yield of vegetables (Schenk, 1996; Yeo, 1999; Shanon & Grieve, 1999). In hidroponically horticultural production, 1 nutrient solutions at high N concentration and low electrical conductivity were used as a tool to maximize leaf growth and crop yield. Plants can absorb NH4+ only in a limited proportion of the nitrogen, because of its toxicity (Salsac et al., 1987). Nevertheless, in hydroponical production of horticultural crops, a fraction of the total N is supplied as NH4+ to better control the pH of the nutrient solution. For the lettuce crop, a proportion between about 9% and 12% of the total N has been reported in the literature (Faquin & Furlani, 1999). The tolerance of plants to NH4+ varies with species, environmental factors and plant stage development (Castro, 1999; Kotsiras et al., 2002). One of the most criticizable characteristics of vegetable soilless culture is the drainage in the environment of large amounts of used nutrient solutions. Recycling and reusing of such solutions is a current trend in searching for sustainable agricultural production systems. However, this practice might increase the NO3 concentration in the nutrient solution, leading to its accumulation in leaves. Replacing NO3+ by NH4+ could be a mean to minimize such risk, Acadêmicos do Curso de Agronomia da UFSM, bolsistas de iniciação científica do Programa PIBIC-CNPq e da FAPERGS, respectivamente. 352 Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Growth and development of lettuce plants at high NH4+:NO3- ratios in the nutrient solution provided toxic levels were not reached. Data describing the effect of N concentration and NH4+:NO3 ratios on hidroponically grown lettuce crops are scarce in the literature. Effects of electrical conductivity of the nutrient solution on plant growth and yield have been previously demonstrated (Ayers et al., 1951; Andriolo et al., 2005), but results were from experiments in which the concentration of all nutrients was modified in a similar way. In such condition, results represent salinity effects and could not be attributed to any nutrient in particular. The goal of this work was to determine effects of increasing NH4+:NO3 ratios in the nutrient solution on growth, development and yield of hydroponically grown lettuce plants. MATERIAL AND METHODS The experiment was carried out inside a 150 m2 polyethylene tunnel at UFSM, between February 25 and March 22, 2005. Sand of 0.0015-0.003 m particle size was used to make up a 0.15 m depth growing bed over fibber cement tiles, 3.05 m length and 1.10 m width, placed over concrete blocks in a slope of 3%. The tile gullies were previously filled with 0.015-0.025 m particle size gravel and covered with a 1,5 x 10-3 m polyethylene screen. The nutrient solution was pumped from a 500 L polyethylene reservoir to the upper side of the tile and drained down, flowing back to the same reservoir. Before planting, the growing bed was covered by a white polyethylene sheet (For more details about the experimental set-up, see Andriolo et al., 2004). At February 25, 2005, six-leaved lettuce plantlets, cv. Vera, were transferred to the growing bed through cuttings made on the polyethylene sheet, in a plant density of 25 plants m-2. Water and nutrients were supplied by means of a standard nutrient solution with the following composition, in mmol L-1 (modified from Castellane & Araújo, 1995): 11.0 NO3-; 1.5 H2PO4-; 6.5 SO4— —; 7.5 Ca++; 10.0 K+ and 1.5 Mg++, and, in mg L-1, 0.42 Mn; 0.26 Zn; 0.05 Cu; 0.50 B; 0.04 Mo, and 4.82 chelate Fe. Ammonium nitrate was used to supply Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Figure 1. Number of leaves (A), shoot fresh (B) and dry mass (C) of lettuce plants grown hydroponically at NH4+ concentrations of 0; 2.5; 5; 7.5 and 10 mmol L-1, reaching NH4+:NO3ratios of 0:11; 2.5:13.5; 5:16; 7.5:18.5 and 10:21 mmol L-1. Santa Maria, UFSM, 2005. NH4+ concentrations of 2.5; 5; 7.5 and 10 mmol L-1, reaching NH4+:NO3- ratios of 0:11 (T1); 2.5:13.5 (T2); 5:16 (T3); 7.5:18.5 (T4) and 10:21 mmol L-1 (T5) as treatments. Values of pH and electrical conductivity (EC) were maintained between 5.1 and 5.9 and 1.7 and 2.8 dS m 1, respectively, by adding KOH, water or aliquots of new nutrient solution when necessary. The nutrient 353 JL Andriolo et al. Figure 2. Relationship between shoot fresh and dry mass accumulation of lettuce plants grown hydroponically at NH4+ concentrations of 0; 2.5; 5; 7.5 and 10 mmol L-1, reaching NH4+:NO3ratios of 0:11; 2.5:13.5; 5:16; 7.5:18.5 and 10:21 mmol L-1. Santa Maria, UFSM, 2005. solution was not replaced till the end of the experiment. The nutrient solution was delivered four times a day, at 8 h AM, 11 h AM, 14 h PM and 17 h PM, by means of a pump controlled by a timer. At each fertigation, a volume of 130 L of nutrient solution was delivered in each growing bed. The lateral sides of the tunnel were opened during the day. A randomised experimental design was used, with four replications with 20 plants. Plants were harvested at 25 days after planting (DAP), when the first signs of senescence were identified on fully expanded older leaves. The number of leaves longer than 0.01 m was counted. Shoot fresh weight was determined and roots were carefully removed out from the sand and washed in water. Dry mass of leaves, stem and roots were determined after drying at 60ºC until constant dry weight was reached. The effect of treatments was tested by analysis of variance (ANOVA) and statistical models were fitted by regression analysis for variables differing by the F test (P= 0.05). RESULTS AND DISCUSSION Average number of leaves per plant was 24.5 and 23.2 in T1 and T2, without 354 significant difference, and decreased to 18.2 in T5, following a polynomial model (Figure 1A). Fresh mass of shoot organs decreased significantly by a proportion of 32.6% from T1 to T2 and by 53.2% from T2 to T5. The decrease from T4 to T5 was of about 4.4% and was not significant. Data from this variable pooled together follow a polynomial model (Figure 1B). Similar trend was observed for shoot dry mass, with 18.2% decrease from T1 to T2 and 42.2% thereafter (Figure 1C). Root dry mass did not differ among treatments and the average was 1.2 g/plant. One of the questions arising from the present experiment is the nature of the negative effect of high NH 4 + concentrations on lettuce plant growth and development. These two plant physiological processes could be affected either by salinity or by ion toxicity. In a previous paper (Andriolo et al., 2005), it has been demonstrated that only fresh weight was reduced by salinity of the nutrient solution in a concentration range between about 1.0 and 5.0 dS m -1. This reduction was related to restrictions in plant water flux by effect of salinity. Other physiological processes seem to be involved in NH4+ toxicity, as number of leaves and shoot fresh weight, and shoot and root dry weights were affected. In fact, a linear relationship was found between shoot and fresh weight, indicating that plant water content was affected by NH4+ in a similar way in the five treatments (Figure 2). This implies restrictions in both dry mass synthesis and water uptake by roots. In the literature, effects of NH4+ toxicity have been attributed to reduction/inhibition of cation absorption, especially K +, as a consequence of ion imbalance (Salsac, 1989; Kotsiras et al., 2002). Nevertheless, reduction in dry mass became less pronounced at higher NH4+ concentrations of T4 and T5 (Figure 1C) and was not recorded in shoot fresh mass (Figure 1B). A saturation-type response was fitted by regressions, suggesting a threshold limit above its adaptative processes might take place and plants might survive at high NH 4 + concentrations in the root media. The reduction in number of leaves by increasing ratios of NH 4+ in the nutrient solution implies that plant development was affected by limitations on growth. Growth affecting development has not been considered in models of horticultural crops (Streck et al., 2002, 2003). In such models, temperature is the key variable used to estimate the phyllochron index, but this formalization could only be valid under non-limiting growing conditions. These conditions were often not realistic in horticultural soilless crops, due to extreme fluctuations in environmental variables affecting shoot and root growth of plants. Presented data suggest that other approaches should be considered in developmental models for theses crops, like that proposed by the Hardwick’s (1987) isometry hypothesis. Its theoretical basis states that growth and development of a plant follows a proportion between accumulation of metabolic surface area, represented by leaves, and biomass, disregarding fluctuations in the environment. Although growth of roots was reduced at higher NH4+ concentrations in the nutrient solution (Figure 1C), this observation might not be attributed to a direct effect of NH4+ toxicity. Growth of roots has been considered as Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Growth and development of lettuce plants at high NH4+:NO3- ratios in the nutrient solution dependent of the carbon/nitrogen balance between shoot and root compartments (Thornley, 1998). Current hypothesis underlying such models have considered that roots grow to search for water and nutrients, especially nitrogen. In this way, the negative effect of NH4+ recorded in root growth might also be explained by the higher nitrogen availability in the nutrient solution. This hypothesis derives from the higher values of shoot:root ratio in plants grown at higher NH4+ concentrations (Figure 3). This implies that growth of roots was lower than that of shoot organs, but NH 4+ toxicity affecting growth of roots more severely than that of shoot seems improbable. Total nitrogen in the nutrient solution currently more used to grow the lettuce crop in NFT in Southern Brazil was of about 16.9 mmol L-1 as NO3- (Castellane & Araújo, 1995). This concentration is near to that of 16 mmol L-1 in T2. Thus, the 32.6% reduction in fresh mass in plants from T1 to T2 can be attributed to the 16.6% NH 4 + in the nutrient solution. It might be concluded that for commercial purposes of lettuce crop production in hydroponical facilities, the NH4+ threshold limit of about 9-12% of the total N reported in the literature should be retained. REFERENCES ANDRIOLO JL; WITTER M; ROSS T; GODOI RS. 2003. Crescimento e desenvolvimento do tomateiro cultivado em substrato com reutilização da solução nutritiva drenada. Horticultura Brasileira 21: 489-493. 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Doses de potássio na produção e qualidade de sementes de alface. Horticultura Brasileira 24: 356-359. Doses de potássio na produção e qualidade de sementes de alface Cristiaini Kano1; Antonio Ismael Inácio Cardoso1; Andréa R O Higuti1; Roberto L Villas Bôas2 1 UNESP-Depto. Produção Vegetal, C. Postal 237, 18603-970 Botucatu-SP; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Devido à falta de informações relacionadas à adubação em hortaliças cojo objetivo é a produção de sementes, em culturas em que ocorre um aumento no ciclo, nota-se a necessidade de se estudar a influência de doses de nutrientes que proporcionem aumento de produtividade e obtenção de sementes de melhor qualidade. Este trabalho teve o objetivo de avaliar o efeito de diferentes doses de adubo potássico na produção e qualidade de sementes de alface cultivar ‘Verônica’. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com cinco tratamentos (0,0; 1,0; 1,5; 2,0 e 2,5 g planta-1 de K2O) e seis repetições. Os dados foram submetidos à análise de variância e regressão. Pelos resultados obtidos pode-se concluir que as doses de K2O avaliadas resultaram em aumento linear na produção (massa e número) de sementes, mas não afetaram a qualidade fisiológica (germinação e vigor) das mesmas. Palavras-chave: Lactuca sativa L., adubação potássica, K2O, germinação, vigor. Potassium rates in the lettuce seed production and quality There exist a lack of information about the fertilization of vegetables where occurr an increase of the vegetative cycle, when the seeds production is the final purpose. The influence of potassium rates was evaluated in lettuce cultivar Verônica for yield and quality of seeds. The experiment was conducted in randomized complete blocks, with five treatments (0,0; 1,0; 1,5; 2,0 e 2,5g plant-1 of K2O) and six replications. The data were submitted to the variance analysis and to the regression analysis. The K2O rates resulted in a linear increase in the seed yield (mass and number) but did not affect the seed quality. Keywords: Lactuca sativa L., potassium fertilization, K 2O, germination, vigor. (Recebido para publicação em 11 de novembro de 2005; aceito em 15 de agosto de 2006) U ma planta bem nutrida está em condições de produzir um maior número de sementes viáveis, o que evidencia a influência da nutrição na produção de sementes. No início da fase reprodutiva, a exigência nutricional para a maioria das espécies torna-se mais intensa, sendo mais crítica por ocasião da formação das sementes, quando considerável quantidade de nutrientes, como o potássio e o nitrogênio, é para elas translocada. A boa formação do embrião e do órgão de reserva, assim como sua composição química, depende da disponibilidade de nutrientes para a planta, consequentemente, irá influenciar o metabolismo e o vigor da semente (Carvalho & Nakagawa, 2000). É grande a importância do fornecimento adequado de nutrientes na produção de sementes, especialmente do potássio, que ao lado do nitrogênio, é um dos elementos mais extraídos pelas plantas. Em quantidades adequadas o potássio desempenha várias funções na planta: o controle da turgidez do tecido, a ativação de muitas enzimas envolvidas na respiração e fotossíntese, a abertura e fechamento de estômatos, o transporte de carboidratos, a transpiração, a 356 resistência à geada, seca, salinidade e à doença, a resistência ao acamamento e a manutenção da qualidade dos produtos (Malavolta, 1980; Marschner, 1995; Davis et al., 1997). Sua deficiência ocasiona redução no crescimento e na formação da “cabeça” de alface. Embora existam estudos sobre nutrição mineral e recomendações de adubação para o cultivo comercial de alface, raramente se encontram trabalhos que abordem os efeitos dos nutrientes na produção de sementes e, principalmente, na qualidade fisiológica das mesmas. Isso se torna importante, pois, quando se busca a produção de sementes de alface, ocorre um aumento no ciclo da planta. No entanto, a escassez de informações relacionadas às exigências nutricionais, pode impedir a obtenção de aumento de produtividade e de qualidade das sementes. Harrington (1960), ao avaliar a germinação de sementes de alface, cenoura e de pimenta oriundas de plantas cultivadas sob severa deficiência de nutrientes, verificou que a deficiência de potássio ocasionou diminuição na produção de sementes e na porcentagem de sementes normais. No entanto, Delouche (1980) ressalta que a resposta típica de plantas cultivadas em solo de baixa fertilidade é a redução na quantidade de sementes produzidas e não a sua qualidade. Kano et al. (2004) testando o efeito de diferentes doses de fósforo (0; 200; 400; 600 e 800 kg ha-1 de P2O5) na produção de sementes de alface obtiveram aumento na produção com o aumento das doses, ajustando a resposta ao modelo linear. Contudo os mesmos autores verificaram que essas doses de fósforo não influenciaram a qualidade das sementes de alface (Kano et al., 2005), resultado semelhante ao obtido por Soffer & Smith (1974). Quanto ao nitrogênio, Carvalho (1978), ao avaliar o efeito da adubação nitrogenada sobre a produção e qualidade de sementes de alface, verificou que esta não afetou a qualidade e a produção de sementes. Devido à escassez de informações relacionadas às exigências nutricionais da cultura da alface para produção de sementes, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de doses de adubo potássico na produção e qualidade de sementes de alface. Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Doses de potássio na produção e qualidade de sementes de alface MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi desenvolvido na Fazenda Experimental São Manuel, localizada no município de São Manuel – SP, pertencente à Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Botucatu/SP, localizada à latitude sul de 22 o 44’50’’, longitude oeste de 48º34’00’’ e altitude de 750 m. As plantas foram conduzidas em estufas de 20m de comprimento, 7 m de largura e 3,8m de altura, na parte mais alta e, um pé direito de 2,5 m. O solo utilizado no experimento foi LATOSSOLO VERMELHO Distrófico Típico (Embrapa, 1999) com os seguintes resultados obtidos na análise química: pH(CaCl2)=4,0; Presina=2 mg dm-3; matéria orgânica=2 g dm-3; V%=11; e os valores de H+Al; K; Ca; Mg; SB e CTC expressos em mmolc dm-3 respectivamente de: 25; 1,2; 2,0; 1,0; 3,0 e 28. A análise granulamétrica desse solo indicou 761, 199 e 40 g kg-1 de areia, argila e silte, respectivamente. A calagem foi realizada 30 dias antes do transplante das mudas, utilizando-se calcário de alta reatividade, de modo a elevar a saturação de bases a 80% e faixa de pH próxima de 6,0, conforme a recomendação sugerida por Raij et al. (1996). A adubação de plantio com nitrogênio e matéria orgânica também foi feita de acordo com a análise química do solo e conforme proposta de Raij et al. (1996), para a produção de “cabeça”. Foram fornecidos 0,26 g planta-1 de N na forma de sulfato de amônio e 500 g planta-1 de Biomixâ como fonte de matéria orgânica. Quanto ao fósforo, utilizou-se uma dose 50% superior (3,9 g planta-1 de P2O5) à recomendada devido ao aumento que ocorre no ciclo da alface. Este nutriente foi fornecido apenas no plantio, utilizando-se o superfosfato triplo como fonte. A análise química do Biomixâ indicou valor de pH de 7,7 e os valores de MO; N; P2O5; K2O; Ca; Mg e de S, expressos em %, respectivamente de: 53; 1,30; 0,90; 0,47; 6,80; 0,25 e 0,34. A relação C/N foi de 23/1 e a umidade do composto de 60%. Na adubação de cobertura foram fornecidos o nitrogênio e o potássio. A Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 adubação de cobertura com nitrogênio foi feita com nitrato de cálcio (0,19 g planta-1 de N por aplicação) e realizada inicialmente aos 10, 18 e aos 24 dias após o transplante (DAT), conforme recomendação de Raij et al. (1996) para a produção de “cabeça”. Após as plantas atingirem o ponto comercial (33DAT), continuou-se à aplicação semanal dessa mesma dose até a colheita das sementes (121 DAT), fornecendo um total de 3,5 g planta-1 de N durante todo o ciclo da planta, parcelado em 18 vezes. Quanto ao potássio, aplicou-se no plantio 1 g planta -1 de K 2 O (fonte: cloreto de potássio), exceto para o tratamento T1 – sem potássio, o que eqüivale a recomendação de Raij et al. (1996), 150 kg ha-1, para o cultivo de alface para produção de “cabeça” com uma população de 150 mil plantas ha-1. Já em cobertura, o potássio (fonte: cloreto de potássio) foi fornecido em duas épocas (no ponto comercial para colheita da “cabeça”, 33 DAT, e no início do florescimento, 84 DAT) da seguinte forma: T1 - sem potássio (K2O) no ponto comercial para colheita da “cabeça” (C) e início do florescimento (F); T2 – 1 g planta-1 no C e sem fornecimento no F; T3 - 1 g planta-1 no C e 0,5 g planta-1 no F; T4 - 1 g planta-1 no C e 1 g planta-1 no F; e T5 - 1 g planta-1 no C e 1,5 g planta-1 no F. O delineamento experimental utilizado foi blocos casualizados com cinco tratamentos (doses de K2O) e seis repetições, com a unidade experimental composta por quatro plantas, as quais foram todas utilizadas para a obtenção das sementes. Os tratamentos foram obtidos somando-se a quantidade de K2O utilizado no plantio e em cobertura, resultando nas seguintes doses (tratamentos): 0,0; 1,0; 1,5; 2,0 e 2,5 g planta-1 de K2O. O potássio em cobertura foi utilizado visando suprir as necessidades da cultura para semente, cujo ciclo é muito superior àquele para a produção de “cabeça”, considerando-se duas etapas, uma vegetativa e outra reprodutiva. Utilizou-se a cultivar de alface crespa ‘Verônica’ e a semeadura foi realizada no dia 17/02/04, em bandejas de poliestireno expandido de 128 células, contendo substrato comercial para hortaliças. Foram colocadas duas ou três sementes por célula, com posterior desbaste para uma planta por célula. As mudas foram transplantadas em 24/03/04 para vasos de plástico com capacidade para 13 litros, sendo cultivada uma planta por vaso e totalizando seis linhas de vasos no sentido longitudinal da estufa, espaçadas de 1,0m e os vasos espaçados de 0,5m entre plantas (centro a centro dos vasos). As plantas foram tutoradas de modo a evitar o tombamento das mesmas na fase reprodutiva e a irrigação foi realizada através de gotejadores instalados individualmente nos vasos. A colheita das sementes foi realizada manualmente na maturidade fisiológica, na fase de pêlos (papos) brancos sobre as inflorescências, conforme Reghin et al. (2000), com início aos 121 DAT e final aos 141 DAT. Assim que coletadas, as sementes foram avaliadas quanto à produção (massa e número de sementes por planta), massa de mil sementes e qualidade fisiológica (germinação e vigor) e mantidas em câmara seca (20ºC e 40% UR) para melhor conservação. O teste padrão de germinação foi realizado conforme as Regras para Análise de Sementes (Brasil, 1992), com utilização de caixa gerbox em germinador a 20ºC. Para a primeira contagem foram consideradas as plântulas normais contabilizadas e retiradas aos quatro dias. A contagem final foi realizada aos sete dias, sendo consideradas germinadas as plântulas com o aparecimento das folhas cotiledonares. As avaliações foram diárias até o 7º dia após a semeadura, para se obter, conforme Maguire (1962), o índice de velocidade de germinação das plântulas (IVG), que é um indicativo do vigor das sementes. A qualidade das sementes também foi avaliada pela porcentagem de plântulas emergidas em bandejas de poliestireno expandido contendo substrato comercial, conforme metodologia adotada por Lima (2003), adaptada de Vieira & Carvalho (1994). A escolha deste substrato ao invés do solo teve como finalidade simular o que ocorre na produção comercial de mudas de alface. Dessa forma, procurouse colocar as sementes em um teste que apresentasse as mesmas condições utilizadas comercialmente pelos produtores. Foram semeadas 50 sementes por repetição (4x50) para cada parcela e as bandejas foram mantidas em casa-de-vegetação 357 C Kano et al. Figura 1. Produção de sementes de alface por planta em função de doses de K2O. São Manuel, FCA/UNESP, 2004. Figura 2. Número de sementes de alface por planta em função de doses de K2O. São Manuel, FCA/UNESP, 2004. durante as avaliações. As plântulas foram consideradas emergidas quando as folhas cotiledonares estavam totalmente abertas. As avaliações foram diárias, até o 10º dia após a semeadura, para se obter o índice de velocidade de emergência das plântulas (IVE), conforme Maguire (1962). Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância e em caso de efeito significativo, de acordo com o teste F para tratamentos, foi realizada a análise de regressão para verificar o efei358 to de doses de potássio nas características avaliadas. RESULTADOS E DISCUSSÃO A produção de sementes, tanto em massa como em número, foi influenciada significativamente pelas doses de potássio. Os valores se ajustaram ao modelo linear, sendo que a cada aumento de 1,0 g planta-1 de K2O fornecido, aumentou-se 3,85 g ou aproximadamen- te 3.845 sementes a mais por planta (Figuras 1 e 2). Com apenas 2 g de K2O fornecido por planta, dobrou-se a produção de sementes em relação à testemunha (sem adição de potássio). Considerando-se o ajuste dos resultados ao modelo linear, doses mais elevadas de K2O podem proporcionar incremento na produção e no número de sementes. Kano et al. (2004) também relataram aumento linear na produção de sementes de alface ‘Verônica’ com aumento na dose de P2O5 (0 a 800 kg ha-1), utilizando o mesmo solo deste experimento. Ressalta-se que no início da fase reprodutiva, a exigência nutricional para a maioria das espécies torna-se mais intensa, sendo mais crítica por ocasião da formação das sementes, quando considerável quantidade de nutrientes, como o fósforo, o nitrogênio e o potássio é para elas translocada (Carvalho & Nakagawa, 2000). Deste modo, a adubação com K2O nesta etapa mostrou ser tecnicamente vantajosa. Constatou-se que a produção de sementes obtida neste trabalho foi superior a relatada por Viggiano (1990) para a cultivar Regina (3,86 g planta-1), por Kano et al. (2004) para a cultivar Verônica (5,0 g planta-1) e superior que a maior produção obtida nos tratamentos avaliados por Izzeldin et al. (1980) que foi de (10,5 g planta-1). Os valores também foram próximos da máxima produção obtida por Reghin et al. (2000), em experimento conduzido com a cultivar Verônica, que foi cerca de 18 g planta-1 e também da produção média obtida por Carvalho (1978) para a cultivar crespa Gorga (20 g planta-1). Quanto à qualidade das sementes, não houve efeito significativo de doses de potássio para todas as características avaliadas: massa de mil sementes, índice de velocidade de emergência, total de plântulas emergidas no 10º dia após a semeadura em bandeja, primeira contagem do teste de germinação, germinação e índice de velocidade de germinação (Tabela 1). Para massa de mil sementes obtevese uma média de 1,06 g (Tabela 1), valor superior ao relatado por Viggiano (1990), que obteve média de 0,83 g, e semelhante ao máximo valor obtido por Reghin et al. (2000), que foi de 1,0 g para a cultivar Verônica, bem como ao valor médio Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Doses de potássio na produção e qualidade de sementes de alface obtido por Carvalho (1978) que foi de 1,09 g. O resultado obtido também esteve acima do intervalo citado por George (1999), que varia de 0,6 a 1,0 g, dependendo da cultivar de alface. A germinação foi praticamente máxima em todos tratamentos (mínimo de 99%) (Tabela 1), caracterizando a excelente qualidade das sementes obtidas. Na primeira contagem, os resultados obtidos (> 88%) já indicavam o elevado vigor das sementes. Já para a emergência de plântulas aos 10 dias após a semeadura, entretanto, observou-se valores inferiores, cerca de 69% (Tabela 1). Deve-se considerar que este teste foi realizado em condições de temperaturas elevadas (média de 33ºC) que podem ter induzido as sementes a uma dormência secundária. Segundo Viggiano (1990), sementes de alface podem ficar dormentes quando semeadas em substrato com temperaturas superiores à 30ºC. Esta possível indução de dormência também pode explicar os maiores valores de coeficiente de variação para as características avaliadas em substrato. Kano et al. (2005) verificaram que doses crescentes de P2O5 também não afetaram a qualidade das sementes de alface da mesma cultivar avaliada no presente estudo. Soffer & Smith (1974) também verificaram que o aumento no fornecimento de nutrientes no solo aumentou a produção de sementes de alface, mas não proporcionou correspondente aumento no vigor das mesmas. De forma semelhante, em outras espécies a adubação potássica também não afetou a qualidade das sementes logo após a colheita, como pode ser observado em trabalhos de Rossetto et al. (1997) com canola, e de Costa et al. (1983) e Vieira et al. (1987) com soja. Percebe-se que a planta de alface, como várias outras espécies, sob condições de estresse nutricional (baixas quantidades de potássio), reduz sua produção de sementes sem afetar a qualidade das mesmas, provavelmente visando à perpetuação da espécie com a produção de sementes de alta qualidade. Porém, a adubação com potássio após a formação da cabeça é altamente favorável para se obter elevados aumentos de produtividade. Conclui-se que houve aumento linear na produção (massa e número) de seHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Tabela 1. Média dos resultados dos atributos de qualidade (germinação e vigor) das sementes de alface em cada tratamento. São Manuel, FCA/UNESP, 2004. IVE= índice de velocidade de emergência; DAS= dias após a semeadura; IVG= índice de velocidade de germinação; ns= não significativo pelo teste F da análise de variância. mentes com o aumento das doses de K2O, enquanto a qualidade das sementes não foi afetada mesmo na ausência de adubação com K2O. AGRADECIMENTOS A CAPES pela concessão da bolsa de doutorado à primeira autora e à FAPESP pelo auxílio financeiro (Processo 03/09637-0). REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. 1992. Regras para análise de sementes. Brasília: SNDA/DNDV/CLAV. 365p. CARVALHO JL. 1978. 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Carlos Cavalcanti 4748, 84030-900 Ponta Grossa-PR; E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected] RESUMO ABSTRACT Folhas de rúcula produzidas em campo aberto e sob cultivo protegido com agrotêxtil foram minimamente processadas, embaladas inteiras ou picadas em bandejas de poliestireno expandido e cobertas com filme de PVC de 14 micras. O delineamento adotado foi o inteiramente casualizado em esquema fatorial 2x2x2 (ambiente de cultivo, forma de preparo e refrigeração a 00C e 100C), com quatro repetições por tratamento, totalizando 32 bandejas. Os tratamentos foram armazenados a 0ºC e 10ºC por 10 dias, quando foram avaliadas as variáveis perda de massa (%); pH; sólidos solúveis; acidez titulável; cor e aparência. A conservação a 0ºC promoveu uma diminuição da perda de peso da rúcula minimamente processada. A utilização de folhas inteiras ou minimamente processadas foi significativa para sólidos solúveis sendo os maiores valores encontrados para as folhas inteiras. Para folhas picadas observou-se valores de acidez significativamente maiores para as produzidas sob ambiente natural. Independente da forma de preparo, a rúcula produzida em ambiente natural apresentou menor valor de pH. A cor e aparência da rúcula não foram influenciadas pelos tratamentos. Conservation of minimally processed rocket produced under open field conditions and non woven polypropylene Leaves of rocket salad produced under open field and non woven polypropylene were minimally processed and packed entire or pricked in polyestyrene trays covered with PVC film of 14 micras. The treatments were stored at 00C and 100C per 10 days, when the variables weight loss (%); pH; soluble solids; titratable acidity; colour and appearance were evaluated. The conservation under 0 0 C promoted a reduction of weight loss on rocket salad minimally processed. Using entire or minimally processed leaves were significant for soluble solids the biggest values being found for entire leaves. For pricked leaves bigger values of acidity were observed for the produced ones under natural environment. Independent of the preparation form rocket salad produced under natural environment presented minor value of pH. The color and appearance of rocket salad were not influenced by the treatments. Palavras-chave: Eruca sativa L., polipropileno, vida de prateleira. Keywords: Eruca sativa; nonwoven of polypropylene; shelf life. (Recebido para publicação em 2 de dezembro de 2005; aceito em 31 de agosto de 2006) P rodutos minimamente processados são aqueles submetidos a operações de limpeza, lavagem, seleção, descascamento, corte, embalagem e armazenamento, mas que apresentam qualidade semelhante ao produto fresco (Chitarra, 2000). Na produção de hortaliças minimamente processadas, normalmente empregam-se as cultivares que melhor se adaptam ao processamento, sendo esta preferência atribuída a fatores relacionados a características de matéria prima que favoreçam o frescor do produto final e fatores econômicos (Ferrari et al., 2001). A qualidade dos vegetais minimamente processados é dada pela combinação de atributos que determinam seu valor alimentício. Uma maior ênfase é dada para a aparência e a forma. O produto deve ser consistente, ter aparência fresca, ser de cor aceitável, razoavelmente livre de defeitos e livre de inócuos (Shewfelt et al., 1987). 360 A rúcula é uma hortaliça folhosa originária da região Mediterrânea, muito popular nas regiões de colonização italiana no Brasil. Rica em potássio, enxofre, ferro e vitaminas A e C, é apreciada pelo sabor picante e cheiro agradável e acentuado (Trani & Passos, 1998). O aumento do consumo desta hortaliça tem sido observado em sua forma minimamente processada, ou seja, com as folhas já lavadas, higienizadas e prontas para o consumo (Sigrist, 2002). Segundo Cantwell (2001), a rúcula deve ser armazenada a 0ºC, umidade relativa 95-100% por 7 a 10 dias, tendo uma baixa produção de etileno (<0,1mL. Kg-1.h-1). Quando conservada a 20ºC, é alta sua susceptibilidade ao dano provocado pela presença de etileno. O cultivo da planta pode ser realizado em ambiente natural e sob cultivo protegido. O cultivo protegido pode ser feito com o polipropileno, conhecido como agrotêxtil, que é usado como uma manta flutuante sobre as plantas com boas respostas para o cultivo de folhosas (Reghin et al., 2001; 2002). Entretanto, pouco ainda se conhece sobre o efeito do cultivo protegido no comportamento pós-colheita destes produtos. O objetivo do presente trabalho foi avaliar o comportamento pós-colheita de rúcula minimamente processada, produzidas em ambiente natural e sob cultivo protegido com agrotêxtil, embaladas em bandejas de isopor recobertas com PVC e armazenadas a 0ºC e a 10ºC, por 10 dias. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR), sendo a rúcula coletada na área de olericultura da Fazenda-Escola, pertencente à Universidade, produzidas sob cultivo protegido, com as plantas cobertas com agrotêxtil como uma manta fluHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Conservação de rúcula minimamente processada produzida em campo aberto e cultivo protegido com agrotêxtil tuante e em ambiente natural. A colheita foi realizada procedendo o corte das plantas rente ao sistema radicular. As plantas dos dois ambientes de cultivos foram levadas para o laboratório para os procedimentos de pós-colheita. Primeiramente, foram pré-refrigeradas, com seus pecíolos imersos em água e armazenada durante 12 horas a 10±2ºC até seu processamento. Decorrido este período, as folhas foram selecionadas e padronizadas pelo tamanho, aparência e integridade e lavadas em água corrente. A metade do material foi separado e folhas inteiras foram sanitizadas com solução contendo 150 mg.L-1 de cloro ativo a 5ºC durante 10 minutos. O enxágüe foi feito com solução a 3 mg.L-1 de cloro ativo a 5ºC por 10 minutos. As folhas foram centrifugadas por 5 minutos em centrífuga manual e embaladas em bandejas de isopor recobertas com PVC de 14 micras. A outra metade foi picada na espessura de 1-3 mm com facas de aço inoxidável e enxaguadas para retirada do suco celular proveniente do corte. O produto foi então sanitizado, centrifugado e embalado da mesma forma das folhas inteiras. Os tratamentos foram armazenados a 0ºC no freezer e a 10ºC no refrigerador por 10 dias. Os seguintes parâmetros físico-químicos foram avaliados: perda de massa (%), determinado pela diferença de massa pesada em balança digital entre a data inicial e final; pH, determinado através de leitura direta em potenciômetro do material processado em água destilada em processadora de uso doméstico. Os sólidos solúveis foram determinados pela leitura direta do material processado em refratômetro manual com correção a 20ºC. A acidez titulável foi determinada titulando-se a amostra até pH 8.1, com resultado expresso em g.ml-1 de ácido málico (Carvalho et al., 1990) e a cor e aparência do produto foram avaliados visualmente aos 10 dias. O delineamento adotado foi o inteiramente casualizado em esquema fatorial 2x2x2 (ambiente de cultivo, forma de preparo e refrigeração a 00C e 100C), com quatro repetições por tratamento, totalizando 32 bandejas. Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey no nível de 5% de probabilidade. Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Tabela 1. Perda de massa e pH de rúcula minimamente processada, produzida sob agrotêxtil e em ambiente natural, inteira e picada, conservada a 0ºC e 10ºC. Ponta Grossa, UEPG, 2003. *Médias seguidas da mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey. Tabela 2. Sólidos solúveis (ºBrix) e acidez titulável (ácido málico) de rúcula minimamente processada, produzida sob agrotêxtil e em ambiente natural, inteira e picada, conservada a 0 ºC e 10 ºC. Ponta Grossa, UEPG, 2003. *Médias seguidas da mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey. RESULTADOS E DISCUSSÃO Folhas de rúcula armazenadas a 0ºC, apresentaram menor perda de massa, tanto em folhas picadas como nas inteiras, quando comparadas às conservadas a 10ºC (Tabela 1). A temperatura tem efeito significativo na perda de qualidade, apresentando importante influência no metabolismo do vegetal (Behrsing, 1998). O autor também observou que a vida útil de alface aumentou entre 48% e 154% quando a temperatura de armazenamento foi reduzida de 10º C para 4,5ºC. Em cenoura picada foi observado que a perda de peso está correlacionada com a perda de qualidade do produto e é dependente da forma de preparo (Tatsumi et al., 1991). Entretanto, a utilização de rúculas inteiras foi significativa para as produzidas em ambiente natural e armazenadas a 0ºC, comparadas com as produzidas sob agrotêxtil. Não foi observada diferença significativa quando as folhas foram picadas. O produto proveniente de ambiente natural quando picadas, apresentou menores valores de pH quando compara- das as produzidas sob agrotêxtil (Tabela 1). O modo de preparo foi estatisticamente significativo para pH em quase todos os tratamentos, sendo observados os maiores valores para as folhas picadas. Sigrist (2002), observou que aumentos de pH tem sido verificados para diversos produtos inteiros ou que foram minimamente processados e Barry-Ryan & O’Beirne (1998), atribuem o aumento deste fator ao aumento da carga microbiana observada em produtos minimamente processados, o que está de acordo com Bittencourt et al., (2000), que observaram elevação do pH de couves armazenadas a 5ºC por 5 dias. A forma de preparo foi significativa para sólidos solúveis totais, sendo os menores valores encontrados para as folhas picadas (Tabela 2), o que está de acordo com os resultados encontrados por Roura et al., (2000), em acelgas minimamente processadas, atribuindose este decréscimo ao aumento da atividade respiratória. Para folhas picadas, conservadas tanto a 0oC como a 100C, observou-se valores de acidez total titulável significativamente maiores para as produzidas em ambiente natural, quando compara361 AF Gonzales et al. das ‘as produzidas sob agrotêxtil (Tabela 2). O aumento da respiração em função da área danificada pelo corte, com conseqüente consumo de ácido orgânico e decréscimo na acidez total titulável podem ser as causas de menores valores para as diferenças entre folhas picadas e inteiras, já que as últimas sofreram apenas os danos mecânicos de separação das folhas (Sigrist, 2002). Observou-se também que a microbiota de folhas de rúcula minimamente processadas aumentou a partir do 3º dia a 5ºC, podendo dessa forma ser responsável pelo aumento do pH e diminuição da acidez total titulável (Sigrist, 2002). A cor e aparência do produto minimamente processado não foram influenciadas pelos tratamentos (dados não demonstrados), sugerindo a possibilidade de extensão do tempo de armazenamento. Dessa forma, os resultados observados permitiram concluir que a conservação a 0ºC promove uma diminuição da perda de peso da rúcula minimamente processada. A forma de preparo em folhas inteiras aumenta o teor de sólidos solúveis totais. Os valores de acidez total titulável são maiores para as folhas picadas produzidas em ambiente natural. Os menores valores de pH foram encontrados em rúcula oriunda de am- 362 biente natural, independente da forma de preparo. A cor e aparência da rúcula minimamente processada não são influenciadas pelos tratamentos. REFERÊNCIAS BARRY-RYAN C; O’BEIRNE D. 1998. Quality and shelf life of fresh cut carrot slices as affected by slicing method. Journal of Food Science 63: 851-856. BEHRSING JP. 1998. Effect of temperature and size reduction on respiratory activity and shelf life of vegetable. Acta Horticulturae 464: 500506. BITTENCOURT MT; VANETTI MCD; PUSCHMANN R; PASSOS FJV. 2000. Atividade microbiana em couve minimamente processada. 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Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 ALVES JCS; PEIXOTO JR; VIEIRA JV; BOITEUX LS. 2006. Herdabilidade e correlações genotípicas entre caracteres de folhagem e sistema radicular em famílias de cenoura, cultivar Brasília. Horticultura Brasileira 24: 363-367. Herdabilidade e correlações genotípicas entre caracteres de folhagem e sistema radicular em famílias de cenoura, cultivar Brasília José Carlos da S Alves1; José Ricardo Peixoto1; Jairo V Vieira2; Leonardo S Boiteux2 1 UnB, 70910-900 Brasília-DF; 2Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT O presente trabalho foi implementado com o objetivo de estimar parâmetros genéticos para os seguintes caracteres de importância para o melhoramento genético da cenoura: número de folhas por planta (NFP), comprimento da maior folha na planta (CF), comprimento da raiz (CR), peso da raiz (PR), diâmetro da raiz (DR) e diâmetro do xilema (DX). Este experimento foi conduzido em condições de campo durante o verão de 1999/2000, sendo utilizadas 69 famílias de meios-irmãos derivadas da cultivar Brasília. As progênies foram cultivadas em delineamento de blocos ao acaso com duas repetições e parcelas de 2 m2, com quatro linhas de 20 plantas cada. Os valores observados para coeficiente de variação genética oscilaram de 4,8 a 10,9. Os valores calculados de herdabilidade no sentido amplo (ha2) foram medianamente altos para todos os caracteres, com uma variação observada entre 29,9% (para DR) e 77,6% (para CF). Foram também obtidas estimativas de valores de correlações fenotípicas, genotípicas e ambientais entre os caracteres avaliados, com destaque para a magnitude do valor da correlação genotípica entre PR e DR, de 0,85. Correlação genotípica negativa foi observada entre CR e DX indicando a possibilidade de desenvolver, a partir de populações derivadas de ‘Brasília’, novas cultivares com arquitetura de raiz mais adequada para a produção de mini-cenouras (“baby-carrots”). Valores de correlações ambientais negativos e altos foram observados entre PR e DX e entre DR e DX. Este conjunto de informações representa uma importante base de dados genéticos com implicações diretas na otimização do processo de seleção dentro de populações de cenoura derivadas da cultivar Brasília. Heritability and genotypic correlation among leaf and root traits in carrot, cultivar Brasilia progenies The present work was conducted aiming to estimate genetic parameters associated with traits of importance to carrot breeding, including: number of leaves per plant (NL), length of the longest leaf in the plant (LL), root length (RL), root weight (RW), root diameter (RD), and xylem diameter (XD). This experiment was carried out during the rainy summer season (1999/2000) using 69 half-sib families derived from cultivar Brasília. Progenies were evaluated using a complete randomized block design with two replications and 2 m2 plots, with four 20-plant rows. The broadsense heritability (ha2) values ranged from 29.9% (for RD) to 77.6% (for LL). Genotypic, phenotypic, and environmental correlations displayed a large variation in magnitude with the highest genotypic correlation (0.85) being observed between the traits RW and RD. Negative genotypic correlation was observed between RL and XD, which indicates that the development of new cultivars suitable for processing as baby-carrots is feasible using populations derived from cultivar Brasilia. High negative environmental correlation values were obtained between the traits RW and XD, as well as between RD and XD. This information would be of extreme importance aiming to optimize the selection process when using segregating populations derived from the tropical-adapted cultivar Brasilia. Palavras-chave: Daucus carota, herdabilidade, parâmetros genético, correlações, cultivo de verão. Keywords: Daucus carota, genetic parameters, heritability, genetic correlation, summer cropping (Recebido para publicação em 23 de fevereiro de 2006; aceito em 29 de agosto de 2006) A s cultivares modernas de cenoura (Daucus carota L.) foram desenvolvidas a partir de populações complexas, fenotipicamente heterogêneas e de base genética ampla, tendo sido submetidas a diversos ciclos de seleção, em diferentes regiões da Europa, antes de alcançar o atual estádio de domesticação (Vieira, 1988). Estas seleções foram muito provavelmente focadas em caracteres de planta e de raiz, sendo feitas via seleção massal (antes do florescimento) à semelhança dos processos de seleção conduzidos com cebola (Buso, 1978). O método de seleção massal tem se mostrado como uma das estratégias mais eficientes para o me- Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 lhoramento genético da cenoura, permitindo o desenvolvimento de inúmeras cultivares com adaptação a diferentes condições agroedafoclimáticas e combinando diversos atributos de interesse para o cultivo, comercialização, processamento e consumo desta hortaliça (Vieira et al., 1983; Casali et al., 1984; Rubatzky et al., 1999). Dentro do contexto relativo ao processo de seleção, o conhecimento dos componentes de variância é de fundamental importância uma vez que propicia as condições para estimar a herdabilidade, predizer o ganho genético e avaliar as potencialidades de uma população e a eficiência relativa dos di- ferentes métodos de melhoramento, auxiliando, desta forma, a identificar a estratégia de seleção mais adequada (Hallauer & Miranda Filho, 1981). Outro conjunto de informações extremamente útil é aquele obtido através dos cálculos de correlações. Segundo Ferreira et al. (2003), a correlação fenotípica fornece uma estimativa da influência conjunta de causas genéticas e ambientais na expressão de uma dada característica. Por sua vez, os valores de correlação genotípica (que corresponde à porção genética da correlação fenotípica) têm sido empregados para orientar programas de melhoramento genético, uma vez que eles refletem a 363 JCS Alves et al. fração da expressão fenotípica que é de natureza herdável. Segundo Casali et al. (1984), a determinação de parâmetros genéticos-estatísticos de várias características de interesse da cenoura poderiam ter contribuído para avanços ainda maiores no melhoramento de populações desta hortaliça permitindo o aumento da eficiência do processo de seleção. No entanto, estas informações ainda estão em grande parte ausentes para populações provenientes de germoplasma de cenoura adaptado para cultivo em regiões tropicais e subtropicais (Vieira, 1988). Freqüentemente os programas de melhoramento genético de cenoura necessitam avaliar características de planta tais como formato, tamanho, uniformidade e rugosidade da raiz, que são importantes no aspecto comercial da cultura. Os caracteres comprimento, diâmetro e peso de raiz, número de folhas, comprimento de folhas e diâmetro de xilema estão intimamente relacionados com a produtividade e qualidade das raízes. Todas essas características são de crucial importância no desenvolvimento de novas populações de cenoura com melhor aptidão para o processamento e maior aceitação no mercado in natura brasileiro (Vieira et al., 2001). Diversos estudos envolvendo diferentes populações de cenoura, avaliadas em diferentes condições edafoclimáticas, têm sido implementados visando estimar os valores de herdabilidade (Korla et al., 1980; Brar & Sukhija, 1980; Timin, 1991; Nunes 1991; Vieira, 2001), bem como os valores das correlações genotípicas, fenotípicas e ambientais (McCollum, 1971; Bhagchandani & Choudhury, 1980; Nunes, 1991; Vieira et al., 2001; Singh, 2002; Bhathia et al., 2002) para a maioria da características citadas anteriormente. Embora estes estudos tenham fornecido importantes informações, as estimativas de herdabilidade e correlação estão tipicamente associadas a uma população específica, sob condições ambientais especiais. Desta forma, objetivo do presente trabalho foi estimar parâmetros genéticos relacionados a alguns dos principais caracteres de planta (parte aérea e raiz) relevantes para o melhoramento da ce364 noura, utilizando-se progênies derivadas da cultivar Brasília, avaliadas durante o período de verão no Distrito Federal. Esta região pode ser considerada como representativa das condições edafoclimáticas predominantes no Brasil Central. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi implementado no Centro Nacional de Pesquisas de Hortaliças, em terreno tipo Latossolo vermelho amarelo (LVA) distrófico (Embrapa, 1999). Foram utilizadas 69 progênies de meios-irmãos obtidas de uma população derivada da cultivar Brasília, que foram cultivadas em campo durante o verão de 1999/2000. Estas progênies foram dispostas no delineamento de blocos casualizados com duas repetições e parcelas de 2m2, compostas por quatro linhas de 20 plantas cada. O sistema de cultivo utilizado foi semeadura nos canteiros com posterior desbaste, 30 dias após o semeio. Os canteiros foram estabelecidos (preparo de solo, correção de acidez de solo e adubação) de acordo com as recomendações hˆ 2 = σˆ 2 g /como σˆ 2 f técnicas da cultura. Empregou-se adubação química, 200 g da fórmula 414-8 por m2 na ocasião do plantio. Em cobertura, utilizaram-se 40 g de sulfato de amônio por m2, logo após o desbaste. Os tratos culturais foram os comumente recomendados para esta hortaliça, ressaltando-se que nenhuma pulverização para controle de pragas ou doenças foi executada durante o ciclo de cultivo. Na colheita (95 dias após o semeio), retirou-se uma amostra de 13 plantas competitivas de cada parcela, sendo que cada uma dessas plantas foi avaliada para os seguintes caracteres: (1) número de folhas por planta, correspondente ao número de folhas com no mínimo 5 cm de comprimento em cada planta; (2) comprimento da maior folha da planta, tomado do ponto de inserção na raiz até a extremidade do último folíolo; (3) comprimento da raiz, medido desde a inserção das folhas até a ponta da raiz; (4) peso da raiz, quantificado em balança de precisão de 1 g; (5) diâmetro da raiz, medido com paquímetro na metade do comprimento da raiz e; (6) diâ- metro do xilema, medido com paquímetro na metade do comprimento da raiz. Em seguida, os dados individuais obtidos foram transformados para média da parcela e submetidos à análise de variância e covariância, utilizando-se o aplicativo computacional Genes-UFV (Cruz, 1997). Foram estimados os seguintes parâmetros: Variância fenotípica entre médias de σˆ 2 f = (QMP / r ) , progênies: onde: σ̂ 2 f = variância fenotípica, r= repetições e QMP= quadrado médio das progênies; Variância genotípica entre médias de progênies: σˆ 2 g = (QMP / QMR ) / r , σ̂ 2 g = onde: variância genotípica, QMP= quadrado médio das progênies, QMR= quadrado médio do resíduo e r= repetições; Variância genética aditiva: σˆ 2 g = 1 4.σˆ a2 , 2 onde σˆ a = variância genética aditiva e σ̂ 2 g = variância genotípica; Variância ambiental média: σˆ e2 = (QMR / r ) , onde: σ̂ 2 e = variância ambiental, QMR= quadrado médio do resíduo e r= repetições; Herdabilidade no sentido amplo (baseada na média das parcelas) ⇒ onde: 2 hˆa = herdabilidade no sentido amplo, σ̂ 2 f , σ̂ 2 g = variância genotípica e = variância fenotípica; Coeficiente de variação genética: CVˆg = onde: ( σˆ 2 g ) / mˆ x100 , CVˆg = coeficiente de variação genética, = variância genotípica e corresponde a média geral do caráter. Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Herdabilidade e correlações genotípicas entre caracteres de folhagem e sistema radicular em famílias de cenoura, cultivar Brasília Tabela 1. Estimativas das variâncias fenotípicas (Vf), genotípicas (Vg), genética aditiva (Va), ambientais (Ve), herdabilidade no sentido amplo (ha2), coeficiente de variação genético (CVg) e razão entre coeficiente de variação genético e ambiental (CVg/CVe), para os caracteres de planta. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2000. 1 NFP= número de folhas médio por planta em cada parcela; CF= comprimento médio da maior folha; PR= peso médio da raiz por parcela; CR= comprimento médio da raiz por parcela; DR= diâmetro médio de raiz por parcela; DX= diâmetro médio do xilema da raiz por parcela. Correlações fenotípicas:, onde: correlação fenotípica, PMPxy= produto médio das progênies/tratamentos, QMPx= quadrado médio do caráter x das progênies/tratamentos e QMPTy-= quadrado médio progênies/tratamentos total; Correlações ambientais: , onde: correlação ambiental, PMPxy= produto médio do resíduo, QMRx= quadrado médio do resíduo do caráter X e QMRy= quadrado médio do resíduo do caráter Y; Correlações genotípicas: , onde: correlação genotípica, estimador da covariância genética dos caracteres X e Y e e = estimadores da variância genéticas dos caracteres X e Y, respectivamente. RESULTADOS E DISCUSSÃO Houve diferenças significativas entre as 69 famílias de meios-irmãos avaliadas, a 1% de probabilidade, pelo teste F, para os caracteres número médio de folhas por planta (NFP), comprimento médio da maior folha (CF), peso médio da raiz (PR), comprimento médio da raiz (CR), diâmetro médio de raiz (DR) e diâmetro médio do xilema da raiz (DX), evidenciando que existe variabilidade entre as famílias. Os valores de herdabilidade no sentido amplo (ha2) foram medianamente altos para todos os caracteres, exceto para DR, que foi de 29,9% (Tabela 1). Valores de herdabilidade relativamente elevados para essas características em cenoura já haviam sido reportados anteriormente. Korla et al. (1980) relataram valores de herdabilidade da ordem Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 de 64,3% e 90%, respectivamente para PR e CF, similares aos verificados no presente estudo. Por sua vez, Brar & Sukhija (1980) detectaram valores altos de herdabilidade no sentido amplo para CF (98%), PR (85%), DR (76%) e CR (76%). Em estudos conduzidos no Brasil, Vieira et al. (2001) constataram valores de herdabilidade para CR que variaram de 12% a 44% em progênies derivadas da cultivar Alvorada. As diferenças de valores de herdabilidade encontrados no presente estudo com aqueles reportados por Vieira et al. (2001), Brar & Sukhija (1980) e Timin (1991) podem ser atribuídas à utilização de populações com diferentes bases genéticas. Quanto à relação CVg/Cve (Tabela 1) foram encontrados valores menores que a unidade para quase todos os caracteres estudados, evidenciando que a adoção exclusiva de métodos simples de melhoramento, como seleção massal, não reverterá em ganhos consideráveis, sendo recomendável o emprego de unidades de seleção estruturadas como, por exemplo, famílias. Segundo Vencovsky (1987), existe uma situação muito favorável para a obtenção de ganhos na seleção quando a relação CVg/CVe tende a um (1,0) ou maior que 1,0, na medida em que, nesses casos, a variação genética supera a variação ambiental. Por este princípio, a seleção quando é praticada no primeiro ano maximiza o ganho genético, que vai paulatinamente diminuindo a partir dos anos subseqüentes. O maior valor da relação CVg/ CVe (1,31) foi observado para CF indi- cando que seleção para este caráter apresenta as condições mais favoráveis em termos de ganhos genéticos imediatos. Os valores dos coeficientes de variação genética (CVg) para os caracteres estudados variaram de 4,87 a 10,96; enquanto os valores dos coeficientes de variação ambiental (CVe) variaram de 5,31 a 13,53. Entretanto, os valores dos coeficientes de variação ambiental foram baixos para maioria dos caracteres (Tabela 1), o que denota um bom controle ambiental, eficiência no desenho experimental e baixa variabilidade genética na população em estudo, exceto para a característica CF. O baixo valor de herdabilidade (ha2) observado para o caráter DR (Tabela 1) pode ser decorrente do estreitamento genético após sucessivos ciclos de seleção visando o aumento de produtividade (peso de raiz= PR). O caráter DR apresenta alto valor de correlação genotípica com PR (r= 0,84), o que pode ter conduzido a redução considerável da variabilidade genética para estes atributos. É interessante comparar os resultados obtidos neste trabalho com os resultados obtidos com progênies da cultivar Brasília, avaliadas em Minas Gerais. No estudo realizado em Minas Gerais, as estimativas de herdabilidade para DR, CR e DX foram da ordem de 53,7%, 61,6% e 31,8%, respectivamente (Nunes, 1991). Vale ressaltar que o valor mais elevado de herdabilidade (CF= 77,6%) pode ser explicado, em parte, pela ausência de inclusão deste atributo como um dos objetivos básicos nos programas de melhoramento genético de cenoura conduzidos no Brasil. 365 JCS Alves et al. Tabela 2. Matriz de correlações fenotípicas (rF), genotípicas (rG) e ambientais (rA) entre caracteres de planta de cenoura de 69 famílias de meios-irmãos provenientes da cultivar Brasília. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2000. *Significativo ao nível de 1% de probabilidade pelo teste t; 1NFP= número de folhas médio por planta em cada parcela; CF= comprimento médio da maior folha; PR= peso médio da raiz por parcela; CR= comprimento médio da raiz por parcela; DR= diâmetro médio de raiz por parcela; DX= diâmetro médio do xilema da raiz por parcela. Foram calculadas ainda as correlações fenotípica, genotípica e ambiental para os seis caracteres avaliados (Tabela 2). A mencionada magnitude do valor de correlação genotípica positiva entre PR e DR (0,84) foi muito próxima ao valor encontrado por McCollum (1971) para este par de caracteres (r= 0,87). Vieira et al. (2001) também encontraram valor similar (r= 0,90) em progênies da cultivar Alvorada. Singh (2002), avaliando valores de correlação em caracteres de raiz de cenoura, verificou a ocorrência de coeficientes de correlação genotípica alta e positiva entre comprimento e peso de raiz. Estes resultados são de certa maneira esperados uma vez que peso de raiz é uma característica dependente, dentre outros atributos, da largura e comprimento da raiz. A estimativa do valor de correlação genotípica negativa observado entre NFP e DX (r= -0,25), poderia ser decorrente da existência de pleiotropia ou de alelos ligados em fase de repulsão. É interessante também notar que a magnitude no valor da correlação genotípica para NFP e DX parece ser uma característica peculiar do germoplasma tropical brasileiro de cenoura uma vez que valores relativamente próximos (r= 0,15 e r= -0,28) foram também encon366 trados em trabalhos independentes conduzidos por Nunes (1991) e por Vieira et al. (2001), respectivamente. Vale ressaltar que a existência de correlação genotípica negativa entre os pares de caracteres (CR x DX) indicam a possibilidade de desenvolvimento de populações com qualidade de raiz adequada para processamento mínimo visando a produção das chamadas mini-cenouras (“baby-carrots”) a partir de populações derivadas da cultivar Brasília. Para alcançar boa qualidade e rendimento na produção de mini-cenouras, busca-se combinar menor diâmetro de xilema e maior comprimento de raiz. Os valores de correlação genotípicas (Tabela 2) envolvendo (NFP x CF), (NFP x PR), (NFP x CR) e (NFP x DR) são similares àqueles encontrados por Vieira et al. (2001) para esses mesmos pares de caracteres na cultivar Alvorada. Adicionalmente, os valores relativos a correlação genotípica entre NFP e PR (Tabela 2) são similares aos encontrados por Bhathia et al. (2002). Já a estimativa de correlação genotípica entre DR e PR (Tabela 2) foi similar ao resultado encontrado por McCollum (1971), da ordem de 0,87. Bhagchandani & Choudhury (1980) constataram alta correlação genotípica positiva entre DR e DX (r= 0,97), diferentemente do resultado obtido neste trabalho, r= 0,30 (Tabela 2). Esse fato pode ser decorrente do diferente grau de melhoramento das populações utilizadas em cada tipo de estudo. Adicionalmente, vale destacar os sinais negativos de algumas correlações ambientais entre pares de caracteres indicam que o ambiente afeta um caráter em detrimento do outro (Tabela 2). Além disso, verificam-se combinações de pares de caracteres em que os sinais das correlações genotípicas e ambientais são diferentes, indicando que as causas de variação genética e ambiental presumivelmente influenciaram os caracteres por meio de diferentes mecanismos fisiológicos (Falconer, 1981). Os valores de herdabilidade e correlações estabelecidos em outras populações, sob outras circunstâncias de cultivo, podem ser semelhantes se a estrutura genética da população e/ou as condições de ambiente não apresentarem grandes variações (Vieira, 1988). Desta forma, o acúmulo de conhecimento sobre os parâmetros genéticos associados a estas características em populações da cultivar Brasília pode permitir o estabelecimento estratégias de melhoramento mais efetivas visando desenvolver cultivares superiores para macro-regiões cujas condições ambientais sejam relativamente uniformes, tais como o Planalto Central do Brasil. REFERÊNCIAS BHAGCHANDANI PM; CHOUDHURY B. 1980. 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Economia, Brasília-DF; 4Estudante Faculdade da Terra de Brasília e Bolsista CNPq; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT A cidade de Santo Antônio do Descoberto está localizada a 46 km de Brasília e grande parte da sua população vive abaixo da linha de pobreza. Neste trabalho, o perfil e o padrão de consumo de hortaliças na cidade foi avaliado. Setenta e três consumidores freqüentadores do Mercado Municipal e 30 de uma região periférica (Bairro do Queiroz) foram entrevistados para a coleta de informações sobre hortaliças adquiridas no dia, número de indivíduos na família e renda familiar. No Mercado Municipal, 92% das famílias adquiriam hortaliças semanalmente e consumiam os produtos geralmente em no máximo três dias. Trinta e cinco por cento das famílias tinham renda que as situava abaixo da linha de pobreza. Alface, tomate e batata eram os produtos mais comumente consumidos. Por outro lado, na região periférica, 86% das famílias entrevistadas estavam abaixo da linha de pobreza e apenas 44% delas adquiriam hortaliças semanalmente. Alface e cebola eram os produtos mais consumidos e nenhuma família comprava tomate, provavelmente devido ao preço elevado deste produto. O tipo e freqüência de hortaliças adquiridos são influenciados pela renda familiar, com as famílias mais pobres consumindo menos. Profile of vegetable consumers of Santo Antônio do Descoberto town, Goiás State, Brazil Palavras-chave: mercado, renda, socioeconomia. Keywords: market, income, socioeconomics. Santo Antônio do Descoberto is located 46 km away from Brasília and the great majority of its population lives under the poverty line. In this work, vegetable consumption and consumers profile of Santo Antônio do Descoberto town were evaluated. Seventy consumers in the Municipal Market and 30 in a peripheral region (‘Bairro do Queiroz’) were interviewed. Information about vegetables bought in that day, number of people in the family and family income were obtained. The results showed that 92% of the families interviewed at the Municipal Market bought vegetables weekly and consumed them in nearly three days; 35% of the families were under the poverty line. Lettuce, tomato and potato were the most consumed vegetables. On the other hand, in the peripheral region, only 44% of the families bought vegetables weekly; 86% of the families were under the poverty line. Lettuce and onion were the main vegetables consumed in the region. None of the families consumed tomato, probably due to its high cost. The type and frequency of vegetable consumption was influenced by the families’ income, where poor families consumed less vegetables. (Recebido para publicação em 13 de março de 2006; aceito em 24 de agosto de 2006) O município de Santo Antônio do Descoberto está localizado a 46 km de Brasília. Em 2000, a população total da cidade era de 51.897 habitantes, sendo que 48.398 destes se localizavam na área urbana. A população da cidade era composta predominantemente de jovens; 26% tinham menos de nove anos e 68% menos de 29 (Governo do Distrito Federal, 2002). O grau de instrução da população do município é baixo. Segundo levantamento do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás, em 2004 haviam 32.653 eleitores e 71,86% destes tinham no máximo o primeiro grau incompleto (TREGO, 2004). Atualmente, Santo Antônio é considerada uma “cidade dormitório” e calcula-se que diariamente cerca de 10.000 pessoas se dirigem ao Distrito Federal para prestação de serviço. A população da cidade é pobre. Na área central existe água tratada nas residências. Na periferia, que vem se expandido rapidamente nos últimos anos, as residências são atendidas por poços artesianos (Ministério do Meio Ambiente, s.d.). Não existem estudos sobre as condições de alimentação da população na cidade, mas sabe-se que este item responde por parte considerável dos rendimentos das famílias pobres. O IBGE (2004) constatou que para famílias com renda até R$ 400,00, a alimentação consumiu 32,68% da renda. No entanto, os padrões alimentares das famílias carentes não são iguais; preferências do consumidor, composição familiar e renda influenciam estes padrões. Por exemplo, famílias mais pobres tendem a ter um menor consumo de hortaliças (Homem de Melo et al., 1988; Roux et al., 2000; Vilela & Henz, 2000). Tendo em vista as condições sócioeconômicas precárias de Santo Antônio do Descoberto, o objetivo deste trabalho foi fazer um estudo do mercado consumidor de hortaliças do município. Para isso foram entrevistados consumidores que freqüentavam o Mercado Municipal, o qual comercializa cerca de 70% das hortaliças da cidade, e consumidores que viviam no Bairro do Queiroz, localizado na periferia de Santo Antônio. Este local era uma antiga fazenda que foi loteada. O bairro não conta com ruas asfaltadas. As residências possuem água fornecida pela SANEAGO ou água bruta prove- 1 Projeto financiado pelo CNPq. Edital MCT/MESA/CNPq/CT Agronegócio 001/2003. 368 Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Perfil dos consumidores de hortaliças da cidade de Santo Antônio do Descoberto-GO niente de cisterna. Algumas residências possuem fossas para o escoamento do esgoto sanitário. A segurança do local é precária. Segundo os moradores, após às 19 h é perigoso sair de casa devido à violência urbana. O Mercado Municipal está situado à cerca de 7 km do bairro. Tabela 1. Renda per capita e distribuição da população de crianças (menores de 15 anos) e de adultos (maiores de 15 anos) de acordo com a renda per capita de famílias entrevistadas no Mercado Municipal e no Bairro do Queiroz. Santo Antônio do Descoberto-GO, Embrapa Hortaliças, 2004. MATERIAIS E MÉTODOS Consumidores do Mercado Municipal de Santo Antônio do Descoberto Nos dias 27/06/2004 e 11/07/2004 foram entrevistados, respectivamente, 40 e 33 consumidores escolhidos aleatoriamente na saída do mercado. Foram obtidas informações sobre os tipos e quantidades de hortaliças adquiridas no dia, freqüência de compra, número de indivíduos na família, bem como a renda familiar total (Castelo Branco, 2005). Em 27/06/2004, os entrevistados responderam qual era a faixa de renda da família (0 a R$ 260,00; R$ 261,00 a R$ 520,00; R$ 520,00 a R$ 780,00 ou mais de R$ 780,00). A exceção foram 12 indivíduos que indicaram a renda familiar exata. Ocorre porém que a renda por faixas não permitia a determinação da renda per capita familiar. Verificou-se que a faixa de renda era importante para se determinar as famílias que se encontravam abaixo da linha de pobreza (0,5 salário mínimo per capita) ou na indigência (renda mensal per capita de 0,25 salário mínimo) (IPEA/IBGE, 2004). Por isso, o questionário empregado no dia 11/ 07 sofreu uma alteração: neste dia perguntou-se diretamente aos entrevistados o valor exato da renda auferida pela família. Neste dia também foram obtidas informações sobre o número de crianças menores de 15 anos presentes nas famílias, a fim de verificar qual população, adultos ou crianças, era mais afetada pela pobreza. Todos os dados obtidos foram tabulados e quando apropriado, empregou-se estatística descritiva na análise. Consumidores do Bairro do Queiroz A fim de avaliar o consumo de hortaliças pela população deste bairro, foi escolhido ao acaso um quarteirão do local, o qual era composto por 39 residências. Para a obtenção de dados sobre tipos e quantidades de hortaliças adquiridas, freqüência de compra de Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 1 Salário mínimo= R$ 260,00; 2Mercado= Mercado Municipal onde n=49 famílias 3Queiroz= Bairro do Queiroz onde n= 28 famílias; 4Número total crianças= 51; 5Número total adultos= 126 Figura 1. Freqüência de compra de hortaliças de famílias entrevistadas no Mercado Municipal e no Bairro do Queiroz. Santo Antônio do Descoberto-GO, Embrapa Hortaliças, 2004. hortaliças e local, número de membros da família e renda, todas as 39 residências foram visitadas, mas em apenas 30 delas foram encontrados moradores, os quais responderam o questionário. O questionário empregado nesta avaliação foi aplicado no dia 06/07/2004. Os dados foram tabulados e a estatística descritiva foi empregada na análise. RESULTADOS E DISCUSSÃO As 73 famílias entrevistadas no Mercado Municipal eram pouco numerosas; 82% da amostra tinha até cinco membros. Com relação a renda familiar, 34,7% das famílias estavam abaixo da linha de pobreza (0,5 salário mínimo per capita) e 18,4 abaixo da linha de indigência (renda per capita inferior a 0,25 salários mínimos) (Tabela 1). No Bairro do Queiroz, as famílias eram mais numerosas; 48% tinham no máximo cinco membros e 21% tinham entre sete e onze membros. A realidade econômica das famílias era pior. Famílias com renda abaixo da linha de pobreza representaram 86% da amostra, e destas, 54% estavam abaixo da linha de indigência, número este quase 200% superior ao observado no Mercado Municipal (Tabela 1). Entre as 15 famílias do Bairro do Queiroz com renda abaixo da linha de indigência, nove complementavam a renda familiar com recursos provenientes de programas de transferência de renda do Governo Federal ou Estadual (Bolsa Escola ou Renda Cidadã) e duas viviam exclusivamente de um destes programas. Os valores recebidos variavam de R$ 15,00 a R$ 65,00. Os programas de transferência de renda têm como objetivo reduzir a pobreza momentânea da população e reduzir a pobreza futura, se aliado à condições que melhorem o capital humano, como acesso a educação e saúde pública. Teoricamente estes programas são dirigidos a famílias carentes (Bourguignon et al., 369 M Castelo Branco et al. Figura 2. Hortaliças adquiridas por famílias entrevistadas no Mercado Municipal e no Bairro do Queiroz. Santo Antônio do Descoberto-GO, Embrapa Hortaliças, 2004. 2003). Por exemplo, para ser elegível para o Programa Bolsa Família, em 2004 as famílias deveriam estar em situação de extrema pobreza, com renda mensal per capita até R$ 50,00 ou deveriam ser famílias pobres e extremamente pobres com crianças e jovens entre 0 e 16 incompletos com renda mensal até de R$ 100,00 per capita (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, s.d.). No entanto, no Bairro do Queiroz foi observado que duas famílias com renda per capita superior a 0,75 salário mínimo (R$ 195,00 na época) eram beneficiadas por um destes programas. Isto indicava que famílias não incluídas no critério governamental eram atendidas. Os fatores que determinaram este problema não foram identificados. Outro fator que demonstrou a pobreza das famílias do Bairro do Queiroz foi a avaliação do emprego das famílias. Da população economicamente ativa da amostra, 25% estavam desempregados e 41% tinham emprego informal. No município eles eram pedreiros, faxineiros, lavadeiras, carroceiros, catadores de lata e papelão, ajudantes de obra, trabalhadores diaristas em fazendas. Um tomava conta de veículos em Brasília e o outro era ajudante de caminhão no Distrito Federal. Desse modo, constatou-se que grande parte dos empregos informais era encontrada na própria cidade, talvez pela impossibilidade desta população arcar com os custos do transporte para o DF. Uma grande reivindicação da população local é a implantação do pólo industrial para a criação de empregos no município (Mi370 nistério do Meio Ambiente, s.d.). Os trabalhadores com emprego formal representaram 19,6% da amostra. Do total de 10 trabalhadores, apenas três trabalhavam no município, e os demais no DF, ou seja, estes indivíduos usavam a cidade apenas como dormitório. Tanto no Mercado Municipal como no Bairro do Queiroz, foi observado que as crianças eram mais afetadas pela pobreza do que os adultos (Tabela 1). O problema era mais acentuado no Bairro do Queiroz, onde 85% das crianças viviam em famílias com nível de renda per capita abaixo da linha de indigência. Tais níveis de pobreza permitem inferir que os níveis de desnutrição devem ser maiores nas crianças do Bairro quando comparado ao nível de desnutrição das crianças das famílias entrevistadas no Mercado Municipal. Isto porque os níveis de desnutrição diminuem significativamente com as melhorias dos padrões de vida (Wagstaff & Watanabe, 2000). Esta inferência será constatada a seguir, quando mostrarmos o consumo de alimentos, e mais especificamente de hortaliças, pelas famílias dos dois locais. No que se refere a aquisição de hortaliças, a maior parte das famílias que freqüentavam o Mercado Municipal comprava estes produtos pelo menos uma vez por semana (Figura 1). Alface e tomate, seguidos de batata, cenoura e coentro, eram as hortaliças mais consumidas (Figura 2). O padrão de consumo de hortaliças desta população não difere de padrão de consumo do país. A alface é a folhosa mais consumida no Brasil. Na cidade de São Paulo, cada habitante consome quase 2 kg por ano e 40% dos gastos com hortaliças são empregados na aquisição de alface (Ceasa Campinas, s.d.). Olerícolas como brócolis, feijão-vagem, espinafre, agrião, mostarda, abobrinha, pepino, chuchu, quiabo e jiló foram adquiridas por menos de seis famílias. No período de levantamento de dados desta pesquisa o clima era desfavorável para a produção de quiabo e jiló. Com isto, a disponibilidade no mercado era restrita, provavelmente devido ao preço elevado destes produtos. Informações obtidas junto a donos de “sacolões” da cidade mostraram que na época de inverno, a oferta destes produtos diminui e com isso os preços se elevam. No verão, o consumo aumenta, acompanhando a redução dos preços (Castelo Branco, 2005). O gasto médio com hortaliças das famílias entrevistadas no Mercado Municipal foi de R$ 5,97 no dia 11/06 e de R$ 6,09 no dia 11/07. A percentagem da renda familiar gasta com hortaliças neste dia variou de 0,12% a 3,85%, com média de 1,11%. Isto significa que, considerando-se quatro semanas em um mês, uma família poderia gastar em média 4,44% da sua renda com hortaliças. Algumas famílias relataram que as hortaliças adquiridas no Mercado Municipal não eram suficientes para o consumo diário. Geralmente as famílias consumiam o volume adquirido em dois ou três dias e nos outros dias não consumiam estes alimentos, ainda que o desejassem. Este resultado não é novo, como descrito por Lima et al. (1989) em Minas Gerais. Os autores observaram que famílias com renda de até dois salários mínimos tinham um consumo insuficiente de hortaliças e poderiam incluir mais destes alimentos em suas refeições, se tivessem renda disponível para tal. A limitação do consumo de hortaliças expõe crianças e adultos a uma série de doenças, inclusive a cegueira. Roncada et al. (1981), por exemplo, observaram em algumas comunidades do estado de São Paulo um consumo per capita de 10 a 83 g diária de hortaliças e consideraram este consumo insignificante [em Cuba, o programa de horta urbana do Estado planeja que a populaHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Perfil dos consumidores de hortaliças da cidade de Santo Antônio do Descoberto-GO ção do país atinja um consumo de mais de 200 g per capita diário de hortaliças (Companión et al., 2001).] Devido ao baixo consumo de hortaliças, (Roncada et al 1981) verificaram deficiência de caroteno e vitamina A na população, sendo as maiores deficiências observadas em crianças com idade inferior a 10 anos. Isto fazia com que estas estivessem mais expostas à cegueira. Algumas poucas famílias entrevistadas no Mercado Municipal adquiriam hortaliças mais de uma vez por semana em “sacolões” ou em pequenos mercados espalhados pela cidade (Figura 1). Nestes casos, os consumidores buscavam sempre os menores preços. Uma família, com um membro trabalhando em um mercado do Distrito Federal, adquiria hortaliças também no local de trabalho. Famílias que adquiriam hortaliças duas vezes por mês ou tinham consumo irregular representaram menos de 10% da amostra (Figura 1). A família de consumo irregular o fazia porque tinha no quintal uma pequena horta com alface, chuchu e cebolinha. No Bairro do Queiroz, o consumo de hortaliças pelas famílias era bastante inferior; apenas 34% das famílias consumiam estes produtos semanalmente (Figura 1). Entre as famílias que consumiam hortaliças toda semana, uma o fazia porque a mulher recolhia alface, batata e cebola descartados pelos atacadistas aos domingos no Mercado Municipal. Uma outra família tinha uma horta em casa com pimenta, alface, quiabo, chuchu e couve e adquiria semanalmente no Mercado Municipal os produtos que não plantava. No entanto, o gasto com água para irrigação das hortaliças gerava problemas. A conta devida a companhia estadual de água se tornava mais elevada quando as hortaliças eram irrigadas. Sem irrigação, a conta era em média de R$ 11,00; com esta prática, o valor chegava a até R$ 31,00 por mês, ou seja, um aumento de quase 200%. A alternativa para a redução da conta de água era o emprego da água usada para a lavagem da roupa. No município é comum o uso de sabão de fabricação caseira, em diferentes pontos da cidade. Como se desconhece a composição destes produtos, não se sabe o nível de resíduos que estes poderiam deixar nas hortaliças consumidas pela família. Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Algumas famílias do Bairro do Queiroz adquiriam hortaliças mais de uma vez por semana (Figura 1). Neste caso, isto era geralmente feito porque a ausência de geladeira impedia a conservação dos produtos. Outras famílias adquiriam hortaliças apenas uma vez por mês (Figura 1). Uma família tinha esse nível de consumo porque a mulher ia a CEASA/DF recolher restos de cenoura, beterraba e berinjela e nestas ocasiões chegava a obter até 5 kg destas hortaliças. As folhosas não eram recolhidas devido à rápida deterioração das mesmas. Famílias que compravam esporadicamente hortaliças ou que nunca adquiriam estes produtos representaram 30% da amostra (Figura 1). Nestes casos, a família destinava a renda para a aquisição de produtos básicos como arroz, feijão, macarrão, óleo e farinha. Seis famílias relataram que, devido ao trabalho informal, em muitas ocasiões não dispunham de nenhuma renda, o que fazia com que não pudessem nem adquirir os produtos básicos para o consumo do dia. Estas famílias eram bastante numerosas, chefiadas por mulheres e freqüentemente com adolescentes de 13 a 15 anos que, no momento da entrevista, se encontravam grávidas do primeiro, segundo ou terceiro filho. Isto significava que esta parcela da população vivia em estado de fome crônica, que ocorre quando a alimentação habitual não proporciona energia suficiente para a manutenção do organismo (Monteiro, 2003). Alface era a hortaliça mais consumida pela população do Bairro do Queiroz, a exemplo do observado com os consumidores do Mercado Municipal. Em seguida vinham cebola, batata, coentro e cebolinha. Nenhuma das famílias adquiria tomate, ao contrário dos consumidores do Mercado Municipal, onde esta hortaliça era a segunda mais consumida (Figura 2). A disponibilidade de renda da população e o custo deste produto podem explicar este resultado, fenômeno este já observado por Brumfield et al. (1993). Os resultados do consumo de hortaliças das famílias do Mercado Municipal e das famílias do Bairro do Queiroz confirmam que a disponibilidade de renda e os preços das hortaliças são fatores determinantes tanto da quantidade como da qualidade adquirida de cada alimento (Roncada,1975; Castro et al., 2005). Isto também foi confirmado por Lima et al. (1989) que analisaram a cesta básica da população de Ponte Nova (MG). Os autores encontraram, por exemplo, que famílias na faixa de renda de até dois salários mínimos consumiam 7 g e 3 g per capita diária de tomate e cenoura, respectivamente. Este valor subia para 25 g e 8 g per capita por dia para tomate e cenoura para famílias com renda superior a 20 salários mínimos. Outras duas observações realizadas no trabalho de campo confirmam a importância da disponibilidade de renda para o consumo de hortaliças. A primeira foi proporcionada por comerciantes do Mercado Municipal que indicaram que o consumo da população era maior nas duas primeiras semanas do mês, já que com os salários recebidos, a disponibilidade de renda era maior. A indisponibilidade de renda para consumo da quantidade de alimentos necessários para a sobrevivência já foi constatada pelo IBGE (2004), que verificou que 85% das famílias brasileiras tinham alguma dificuldade para chegar ao fim do mês com a renda disponível e 47% considerou insuficiente a quantidade de alimento consumida habitualmente. A segunda observação sobre a importância da disponibilidade de renda para o consumo de hortaliças foi proporcionada pela quantidade de alface vendida no Mercado Municipal. Em avaliações realizadas com os comerciantes do local, foi estimado que eram vendidas semanalmente 5.000 cabeças de alface. Considerando que o Mercado Municipal comercializava 70% das hortaliças do município, e, considerando que a população da cidade girava ao redor de 70.000 habitantes, têm-se que em média era consumida 0,07 cabeça de alface/habitante/semana. Em Curitiba, por exemplo, foi estimado que o consumo médio de alface deveria ser de 0,03 cabeças/ pessoa/dia (Silva & Schwonka, 2001). Em resumo, os resultados deste trabalho confirmaram a existência de famílias extremamente carentes no município de Santo Antônio do Descoberto, ou seja, famílias onde as necessidades elementares de alimentação não eram satisfeitas. No que se refere ao consu371 M Castelo Branco et al. mo de hortaliças foi constatado que o consumo destes produtos foi afetado pela renda, com famílias mais pobres consumindo menos destes produtos. A ausência de consumo freqüente de hortaliças deve afetar o estado de saúde da população de Santo Antônio do Descoberto já que as hortaliças são fontes de micro-nutrientes, fundamentais para a manutenção de condições adequadas de vida (Lock et al., 2005). Neste sentido, políticas públicas visando propiciar o acesso direto ou indireto a estes produtos podem contribuir para a melhoria do estado de saúde das famílias carentes. REFERÊNCIAS BOURGUIGNON F; FERREIRA FHG; LEITE PG. 2003. Conditional Cash Transfers, Schooling, and Child Labor: Micro-simulating Brazil’s Bolsa Escola Program. World Bank Economic Review 17: 229-54. BRUMFIELD RG; ADELAJA AO; LININGER K. 1993. Consumer tastes, preferences, and behavior in purchasing fresh tomatoes. Journal American Society Horticultural Science 118: 433-438. CASTELO BRANCO M. 2005. O projeto horta urbana de Santo Antônio do Descoberto: geração de emprego, renda e potenciais impactos ambientais. Brasília: UnB. 134p. (relatório Pós-Deoutorado). 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Biologia/ Microbiologia; 3Depto. Agronomia/Fitossanidade; *Bolsista PIBIC/CNPq; **Bolsista Produtividade CNPq; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Bactérias epifíticas e endofíticas (96 isolados) e fungos endofíticos (69 isolados) foram obtidos de plantas de melão sadias e testados no controle da mancha-aquosa, em condições de casa de vegetação, pelo tratamento de sementes pré-inoculadas com Acidovorax avenae subsp. citrulli ou pelo tratamento de sementes sadias visando a proteção da planta a posterior inoculação com o patógeno. As sementes de melão foram microbiolizadas por imersão nas suspensões (A570= 0,7), semeadas e avaliadas quanto ao período de incubação (PI), incidência (INC), severidade da doença (SEV) e redução da severidade da doença (RSD). Apenas a microbiolização de sementes artificialmente infectadas, utilizando os endofíticos ENM5 (não identificado), ENM9 (Bacillus cereus), ENM13 (Bacillus sp.), ENM16 (Bacillus cereus), ENM32 (Bacillus subtilis) e ENM43 (Bacillus sp.), revelou potencial para o controle da mancha-aquosa. Esses isolados, após o teste de compatibilidade in vitro, foram reavaliados isoladamente e em misturas dois a dois quanto ao PI, INC, SEV e RSD, além do índice de doença (IDO) e área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD). Todos os tratamentos diferiram significativamente (P= 0,05) da testemunha, com RSD de até 93,6%, destacando-se os isolados ENM13 e ENM9 com PI de 7,5 e 7,25 dias, SEV de 0,22 e 0,22, IDO de 2,59 e 2,59, e AACPD de 0,22 e 0,39, respectivamente. Ensaios foram realizados in vitro para a determinação dos possíveis mecanismos de ação envolvidos no controle biológico. Os isolados ENM13 e ENM9 solubilizaram fosfato, ENM5 apresentou antibiose contra A. avenae subsp. citrulli, ENM43 produziu HCN enquanto ENM16 e ENM32 não apresentaram nenhum dos mecanismos testados. Biocontrol of bacterial blotch of melon by seed treatment with epiphytic and endophytic bacteria Palavras-chave: Cucumis melo, Acidovorax avenae subsp. citrulli, semente, Bacillus spp., controle. Keywords: Cucumis melo, Acidovorax avenae subsp. citrulli, seed, Bacillus spp., control Epiphytic and endophytic bacteria (96 strains) and endophytic fungi (69 strains) were isolated from symptomless melon plants and tested for control of fruit blotch under greenhouse conditions, by treating seeds previously inoculated with Acidovorax avenae subsp. citrulli or treating healthy seeds in order to protect the plant challenged later with the pathogen. Melon seeds were microbiolized by immersion in suspensions (A570= 0,7), sown and evaluated for incubation period (PI), incidence (INC), disease severity (SEV) and disease severity reduction (RSD). Only microbiolization of artificially infected seed using the endophytic ENM5 (not identified), ENM9 (Bacillus cereus), ENM13 (Bacillus sp.), ENM16 (Bacillus cereus), ENM32 (Bacillus subtilis) and ENM43 (Bacillus sp.), showed potencial for disease control. After in vitro compatibility tests, these strains were reevaluated separately and in pairs, in relation to PI, INC, SEV, RSD, disease index (IDO) and area under disease progress curve (AACPD). All treatments differed significantly (P= 0.05) from the control reaching 93.6% of RSD, with emphasis for ENM13 and ENM9 with 7.5 and 7.25 days of PI, 0.22 and 0.22 of SEV, 2.59 and 2.59 of IDO, and 0.22 and 0.39 of AACPD, respectively. In vitro tests to determine the putative mechanisms of action involved in biocontrol were performed. ENM13 and ENM9 solubilized phosphate, ENM5 presented antibiose against A. avenae subsp. citrulli, and ENM43 produced HCN while ENM16 and ENM32 did not show any of the tested mechanisms. (Recebido para publicação em 27 de julho de 2005; aceito em 11 de agosto de 2006) A mancha-aquosa causada por Acidovorax avenae subsp. citrulli é a principal doença bacteriana que ocorre nos campos de melão do Nordeste, e responsável por grandes perdas de produção e depreciação dos frutos, principalmente no Rio Grande do Norte e Ceará (Sales Júnior & Menezes, 2001). Desde que Assis et al. (1999) relataram a ocorrência dessa doença no Rio Grande do Norte em 1997, têm sido assinaHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 ladas perdas entre 40 a 50%, atingindo até 100% em períodos chuvosos (Sales Júnior & Menezes, 2001). Posteriormente, essa doença também foi relatada no Ceará (Santos & Viana, 2000), Pernambuco (Mariano & Silveira, 2004) e Bahia (Mariano et al., 2004a). Os sintomas da mancha-aquosa podem se manifestar em qualquer fase de desenvolvimento da planta. Nas folhas cotiledonares e verdadeiras as lesões são inicialmente aquosas e em seguida passam a necróticas. Nos frutos as lesões permanecem aquosas por longo período e correspondem internamente a uma lesão de cor marrom claro a marrom escuro na polpa, chegando até as sementes. As medidas eficientes para controle da doença são escassas, e após introduzida em uma área é de difícil erradicação (Sales Júnior & Menezes, 2001). Assim, alternativas para o seu 373 A Oliveira et al. controle devem ser avaliadas e, dentre elas, cita-se o controle biológico através de bactérias biocontroladoras (Medeiros et al., 2002, 2003; Santos, 2004; Fessehaie & Walcott, 2005). Como a bactéria causadora da mancha-aquosa do melão é disseminada por meio de sementes infectadas (O’Brien & Martin, 1999), o tratamento das sementes com microrganismos promotores do crescimento de plantas que seja eficiente para inibir o patógeno ou proteger a plântula emergente constitui em alternativa de controle economicamente desejável para o manejo da doença, podendo ser integrado com outras técnicas para melhorar a eficiência. Os microrganismos agentes de biocontrole de doenças de plantas podem atuar através de diferentes mecanismos, como produção de ácido cianídrico, bacteriocinas e antibióticos, competição por espaço, Fe+3 e outros nutrientes, parasitismo, indução de resistência e proteção cruzada (Mariano et al., 2004b). O presente trabalho teve como objetivos isolar e selecionar microrganismos para o controle biológico da mancha-aquosa do melão em condições de casa de vegetação, e determinar possíveis mecanismos relacionados ao antagonismo. MATERIAL E MÉTODOS Isolamento de microrganismos Para o isolamento de microrganismos epifíticos e endofíticos foram utilizados raízes, caules, folhas, flores, frutos e/ou sementes de plantas de melão sadias, oriundas de cultivos comerciais em Mossoró (RN), Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) e área experimental em Recife (PE). Para isolamento de bactérias epifíticas e endofíticas foram utilizados métodos descritos por Gomes et al. (2005) e Oliveira et al. (2004). Nos dois métodos, as placas foram mantidas por 48 horas à temperatura ambiente de 27±2ºC. Foram selecionadas colônias com características distintas umas das outras, com base nas observações macroscópicas, como coloração e características de crescimento em meio de cultura Tryptic Soy Agar – TSA (40 g de TSA; 10 g ágar; 1000 mL de água destilada). Estas colônias foram purificadas e preservadas em meio ágar nutritivo (3,0 g de extrato de carne; 5,0 374 g de peptona; 18 g de ágar; 1000 mL de água destilada). No isolamento dos fungos endofíticos, empregou-se o método descrito por Oliveira et al. (2004), sendo as placas incubadas à temperatura ambiente (27±2oC) por sete dias. Após esse período, as colônias fúngicas desenvolvidas em torno dos fragmentos foram separadas de acordo com as características das culturas em meio batatadextrose-ágar (20 g de dextrose; 20 g de ágar; caldo de 200 g de batata cozida em água, e 1000 mL de água destilada). As colônias foram purificadas e preservadas no mesmo meio de cultura. Seleção de microrganismos para sementes pré-inoculadas Sementes comerciais de melão híbrido AF682 foram lavadas em água corrente por 10 minutos, submetidas a secagem por 48 h, inoculadas por infiltração a vácuo com o inóculo de Acidovorax avenae subsp. citrulli (Aac1) na concentração de 3,4x107 UFC/mL e armazenadas em sacos de papel após secas. Após sete dias, foram imersas em suspensões (A570= 0,7) de bactérias epifíticas (34 isolados) e endofíticas (62 isolados) ou fungos endofíticos (59 isolados), por 10 minutos. As testemunhas relativas e absolutas foram inoculadas com o patógeno e com água destilada esterilizada (ADE), respectivamente. Decorridas 16 h procedeu-se a semeadura em bandejas de poliestireno com 120 células contendo substrato comercial Plantmax®. Após a emergência, as plântulas foram submetidas à câmara úmida por 48 h. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com 98 tratamentos (34 isolados de bactérias epifíticas, 62 isolados de bactérias endofíticas, uma testemunha absoluta e uma testemunha relativa) ou 61 tratamentos (59 isolados de fungos endofíticos, uma testemunha absoluta e uma testemunha relativa), respectivamente para os experimentos com as bactérias e fungos, e oito repetições, sendo a unidade experimental constituída por uma plântula. As plântulas foram avaliadas diariamente, até o quinto dia da retirada da câmara úmida, determinando-se os seguintes componentes da doença: a) período de incubação (PI), calculado pelo número de dias entre a emergência das plântulas e o surgimento dos sintomas da doença. Plântulas sem sintomas da doença tiveram o PI ajustado para 8 dias, correspondendo ao período de avaliação total acrescido de um dia, conforme proposto por Iamsupasit et al. (1993); b) incidência (INC), calculada pela porcentagem de plântulas com sintomas da doença em relação ao total de plântulas avaliadas; c) severidade da doença (SEV) aos sete dias após germinação das sementes, estimada com o auxílio de escala descritiva, com notas variando de 0 a 5 (Silveira et al., 2003); e d) redução da severidade da doença (RSD), calculada através da fórmula RSD= (SEV Testemunha - SEV Tratamento) x 100/SEV Testemunha. Seleção de microrganismos para plantas pós-inoculadas Sementes comerciais de melão (híbrido AF682) foram imersas nas suspensões dos isolados de bactérias epifíticas e endofíticas ou de fungos endofíticos (A570= 0,7) durante 10 minutos, sendo postas para secar em papel de filtro por 16 horas. As sementes da testemunha foram tratadas com ADE. Em seguida, efetuou-se o plantio em copos de 500 mL contendo a mistura solo esterilizado/substrato Plantmax® (1:1 v/v). Após 20 dias as plantas foram submetidas à câmara úmida por 24 horas e então pulverizadas com uma suspensão de Aac1 com concentração de 3,4 x 107 UFC/ mL, sendo novamente mantidas em câmara úmida por 24 horas. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com 97 tratamentos (34 isolados de bactérias epifíticas, 62 isolados de bactérias endofíticas e uma testemunha relativa) ou 60 tratamentos (59 isolados de fungos endofíticos e uma testemunha relativa), respectivamente para os experimentos utilizando bactérias e fungos, e quatro repetições, sendo a unidade experimental constituída por duas folhas de uma planta. As plantas foram avaliadas diariamente, até cinco dias após a retirada da câmara úmida, determinando-se os componentes da doença PI, INC, SEV e RSD. Para a determinação da SEV em plantas, foi utilizada a escala descritiva de notas adaptada por Silveira et al. (2003). Efeito de misturas de isolados bacterianos pelo tratamento de sementes infectadas Na avaliação da compatibilidade entre os isolados bacterianos selecionados foi empregado o método de antibiose bactéria x bactéria (Mariano et al., 2005), com as suspensões bacterianas ajustadas para concentração A570= 0,7. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com 30 tratamentos (seis isolados testados entre si) e quatro repetições, sendo cada Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Biocontrole da mancha-aquosa do melão pelo tratamento de sementes com bactérias epifíticas e endofíticas repetição constituída por duas placas de Petri contendo quatro discos cada. As suspensões dos isolados bacterianos foram preparadas separadamente e em misturas dois a dois, em volumes iguais, e foram aplicadas às sementes conforme método descrito anteriormente para o tratamento de sementes pré-inoculadas com A. avenae subsp. citrulli. Além do PI, INC, SEV e RSD, foi determinado o índice de doença (IDO) no sétimo dia após a emergência das plântulas, calculado de acordo com McKinney (1923) pela fórmula IDO= Ó (grau de escala x freqüência) x 100/ nº total de unidades x grau máximo da escala, utilizando-se os dados de severidade da doença, e a área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD), calculada pela fórmula= AACPD= [Σ (yi+yi+1)/2. dti ]/n, onde yi e yi+1 são os valores de SEV observados em duas avaliações consecutivas e dti, o intervalo entre duas avaliações (Shaner & Finney, 1977). O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com 22 tratamentos (seis bactérias endofíticas isoladamente, 15 combinações de isolados bacterianos e uma testemunha relativa) e cinco repetições, sendo cada repetição constituída por duas plântulas. Os dados obtidos em todos os experimentos foram submetidos à análise de variância e, as médias comparadas pelo teste de Scott-Knott ou Duncan (P= 0,05). Determinação do mecanismo de ação dos isolados bacterianos Os isolados bacterianos previamente selecionados como eficientes no controle da mancha-aquosa foram avaliados quanto a antibiose, produção de ácido cianídrico (HCN) e solubilização de fosfato, de acordo com os métodos descritos por Cattelan (1999) e Mariano et al. (2005). Como padrões positivos para produção de HCN e solubilização de fosfato foram utilizados respectivamente os isolados de Burkholderia cepacia GN1201 e Pseudomonas chlororaphis GN1212. O delineamento experimental para cada teste foi inteiramente casualizado, com sete tratamentos (seis bactérias endofíticas e um padrão positivo) e quatro repetições, sendo cada repetição constituída por uma placa de Petri. RESULTADOS E DISCUSSÃO De plantas sadias de melão de diversas localidades foram obtidos 37 isolados de bactérias epifíticas (9 de raízes, Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 10 de caule, 15 de folhas, 1 de flor e 2 de frutos), dos quais três perderam a viabilidade durante o processo de purificação; 62 isolados de bactérias endofíticas (19 de raízes, 22 de caules, 13 de folhas, 5 de flores e 3 de sementes) e 59 isolados de fungos filamentosos endofíticos (19 de raízes, 14 de caules, 17 de folhas, 5 de flores, 2 de frutos e 2 sementes). De acordo com McInroy & Kloepper (1995), isolados bacterianos provenientes da própria comunidade endofítica e epifítica da planta, podem ser potenciais agentes de controle biológico. Dos 96 isolados bacterianos avaliados para o controle da mancha-aquosa através do tratamento de sementes préinoculadas com A. avenae subsp. citrulli foram selecionados, respectivamente quanto, ao período de incubação, incidência e severidade, os endofíticos ENM5 (4,0; 75,0%; 1,6), ENM9 (4,2; 62,5%; 1,9), ENM13 (7,0; 37,5%; 0,63), ENM16 (4,2; 62,5%; 1,9), ENM32 (4,7; 62,5%; 1,6) e ENM43 (4,25; 62,5%; 1,9), que diferiram significativamente da testemunha relativa (3,0; 87,5%, 2,75) pelo teste de Scott-Knott (P= 0,05) (dados não exibidos em tabela). Os isolados ENM5, ENM9 e ENM16 foram obtidos de raízes, o isolado ENM32 de fragmentos de caule e o ENM43, de folhas de melão. Dos isolados avaliados, apenas 5% apresentaram potencial para o controle da mancha-aquosa, sendo todos endofíticos. Esse percentual pode ser considerado elevado, uma vez que na maioria das pesquisas realizadas com bactérias promotoras de crescimento de plantas menos de 1% dos isolados são eficientes (Chen et al., 1996). Bactérias endofíticas utilizadas no biocontrole de doenças de plantas apresentam como principais vantagens, em relação às epifíticas, possuírem nicho ecológico similar ao do patógeno e serem protegidas das diversas influências abióticas (Halmann et al., 1997). Os isolados ENM5 (não identificado), ENM9 (Bacillus cereus ), ENM13 (Bacillus sp.), ENM16 (Bacillus cereus ), ENM32 (Bacillus subtilis), e ENM43 (Bacillus sp.), apresentaram compatibilidade in vitro e, tanto isoladamente quanto em misturas, mostraram-se eficientes no controle da mancha-aquosa do melão, diferindo significativamente (P= 0,05) da testemunha em relação as variáveis severidade, índice de doença e área abaixo da curva de progresso da doença (Tabela1). Esses isolados apresentaram redução da severidade da doença de até 93,6% (Figura 1). Não foi observado efeito aditivo ou sinergístico significativo para as misturas de isolados no controle da mancha-aquosa. Os resultados indicam que a aplicação de apenas um isolado para bacterização de sementes de melão é mais prática e econômica, destacando-se com maiores níveis de controle os isolados ENM13 e ENM9, os quais apresentaram respectivamente, período de incubação de 7,5 e 7,25 dias, severidade de 0,22 e 0,22, índice de doença de 2,59 e 2,59, e área abaixo da curva de progresso da doença de 0,22 e 0,39 (Tabela 1). Resultados promissores com utilização de Bacillus para controle da mancha-aquosa foram relatados recentemente na literatura. Medeiros et al. (2002) obtiveram controle eficiente da mancha-aquosa em casa de vegetação com emprego do Bacillus sp. RAB9 no tratamento de sementes infectadas. Também Santos (2004) conseguiu o controle através do tratamento de sementes infectadas com líquidos fermentados com ou sem presença das células de B. subtilis R14, B. megaterium pv. cerealis RAB7, B. pumilis C116, Bacillus sp. MEN2, tendo caracterizado que o mecanismo de ação desses isolados deveu-se a antibiose e à presença de compostos ativos parcialmente caracterizados como lipopeptídeos. Espécies de Bacillus têm sido amplamente testadas no controle biológico, uma vez que produzem endósporos, o que facilita a formulação dos produtos para aplicação comercial. Para o controle de diferentes doenças, produtos como Companion, EcoGuard, HiStick N/T, Kodiak, Rhizo-Plus, Serenade, Subtilex e YieldShield, a base de Bacillus, são registrados para uso agrícola nos Estados Unidos (Mariano et al., 2004b). O principal modo de disseminação de A. avenae subsp. citrulli é através das sementes contaminadas (Hopkins et al., 1996), provável causa da introdução da mancha-aquosa no Rio Grande do Norte (Assis et al., 1999), podendo essa transmissão variar de 10 até 91% (O‘Brien & Martin, 1999; Oliveira et al., 2001). Como os isolados endofíticos selecionados no presente trabalho se mostraram eficientes, estes poderão ser indicados para o tratamento de sementes infectadas com A. avenae subsp. citrulli individualmente ou em combinação com outros métodos de controle. 375 A Oliveira et al. Tabela 1. Controle da mancha-aquosa do melão com bactérias endofíticas, isoladamente ou em misturas, através do tratamento de sementes pré-inoculadas com Acidovorax avenae subsp. citrulli, em casa de vegetação. 1 ENM= isolados de bactérias endofíticas de melão. ENM5 – não identificado; ENM9 – Bacillus cereus; ENM13 – Bacillus sp.; ENM16 – B. cereus; ENM32 – Bacillus subtilis. ENM34 – Bacillus sp.; 2Médias de 5 repetições, com duas plântulas cada. Médias de severidade, índice de doença e área abaixo da curva de progresso da doença transformadas segundo √(x+1,0). Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si pelo teste Duncan (P= 0,05). Nos ensaios realizados in vitro quanto a determinação dos mecanismos de ação envolvidos no biocontrole da mancha-aquosa, verificou-se que os isolados ENM13 e ENM9 solubilizaram fosfato, ENM5 exerceu antibiose contra A. avenae subsp. citrulli e ENM43 produziu HCN. Nenhum dos mecanismos estudados está relacionado ao controle exercido pelos isolados ENM16 e ENM32. Esses mecanismos de ação já foram relatados anteriormente associados ao controle de doenças por Bacillus spp. e outras bactérias. Segundo Melo (1998), o biocontrole exercido por B. megatherium var. phosphaticum inclui aumento da solubilização de fosfato orgânico via ação da fosfatase ou solubilização de fosfatos inorgânicos com ácidos orgânicos e subseqüente incremento na absorção desse elemento pela planta, o que a torna mais 376 resistente ao patógeno. Isolados de Bacillus subtilis (R14), B. pumilis (C116), B. megaterium pv. cerealis (RAB7) e B. cereus apresentaram atividade antibiótica in vitro a Xanthomonas campestris pv. campestris (Luna et al., 2002). Défago et al. (1990) apresentaram evidências de que o HCN é benéfico no controle microbiológico, sendo esse composto relacionado à supressão da podridão preta das raízes do fumo pela bactéria Pseudomonas fluorescens. Na prática, provavelmente, poucos microrganismos exercem um único mecanismo antagônico, bem como os mecanismos não são mutuamente exclusivos, uma vez que sua importância relativa pode ser variável com as condições ambientais, estádio de desenvolvimento do agente biocontrolador e do fitopatógeno (Andrews, 1992). No presente estudo, apesar da maioria dos iso- lados testados terem apresentado individualmente mecanismos de ação diferentes, quando avaliados em combinações não se observou efeito aditivo ou sinergístico para o controle da manchaaquosa (Tabela 1). Com relação ao controle da manchaaquosa do melão pela proteção da planta com bactérias epifíticas e endofíticas, dos 96 isolados testados inicialmente foram selecionados por diferirem significativamente (P= 0,05) da testemunha pelo teste de Scott-Knott, respectivamente quanto à incidência e severidade os endofíticos ENM2 (66,7%; 2,0), ENM8 (66,7%; 2,0), ENM24 (66,7%; 1,0) e ENM30 (66,7%; 2,0) (100,0%; 3,0) (dados não exibidos em tabela). Contudo, esses isolados não se mostraram eficientes no controle da mancha-aquosa após o experimento ter sido repetido mais duas vezes. Segundo Fravel (1999), fatores como a falta de repetibilidade de resultados obtidos durante o tempo e condução dos experimentos tem sido um dos maiores obstáculos no controle biológico de doenças de plantas. Weller (1988) cita como fatores responsáveis pelo desempenho inconsistente de um biocontrolador a perda da competitividade ecológica devido à alteração de alguma característica da bactéria, a variação na colonização pelo antagonista, e a interferência de fatores bióticos e abióticos. Em trabalhos realizado por Medeiros et al. (2003), plantas de melão foram protegidas contra A. avenae subsp. citrulli quando pulverizadas aos sete dias de idade com o isolados de Bacillus spp. Fessehaie & Walcott (2005) estudaram a proteção de flores de melancia para evitar-se a infecção das sementes pela bactéria e verificaram uma redução no percentual de sementes infectadas da ordem de 13,8% quando do tratamento prévio com A. avenae subsp. avenae (AAA99-2) antes da inoculação com A. avenae subsp. citrulli. Dos 59 isolados de fungos filamentosos endofíticos avaliados nenhum foi eficiente no controle da mancha-aquosa, quer seja no tratamento de sementes infectadas ou pulverização sobre as plantas (dados não apresentados). Existem diferentes relatos da utilização de espécies de fungos filamentosos, a exemplo dos gêneros Trichoderma, Pythium e Fusarium, porém para o controle de doenças fúngicas, algumas das quais na filosfera de plantas (Mariano et al., 2000). Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Biocontrole da mancha-aquosa do melão pelo tratamento de sementes com bactérias epifíticas e endofíticas Os resultados apresentados demonstram que os seis antagonistas selecionados têm potencial como agentes de biocontrole da mancha-aquosa em melão. Também, o tratamento de sementes é de grande potencial por ser método prático e simples no controle dessa doença importante para os produtores devido às perdas que causa. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao CNPq pela concessão de auxílio financeiro (Proc. 473024/2003-9) e bolsas de iniciação científica. REFERÊNCIAS ANDREWS JH. 1992. Biological control in the phyllosphere. Annual Review of Phytopathology 30: 603-635. ASSIS SMP; MARIANO RLR; SILVA-HANLIN DMW; DUARTE V. 1999. Mancha-aquosa do melão causada por Acidovorax avenae subsp. citrulli, no Estado do Rio Grande do Norte. Fitopatologia Brasileira 24: 191. CATTELAN AJ. 1999. Métodos qualitativos para determinação de características bioquímicas e fisiológicas associadas com bactérias promotoras de crescimento vegetal. Londrina: Embrapa Soja. 36p. CHEN Y; MEI R; LIU L; KLOEPPER JW. 1996. The use of yeld increasing baceria (YIB) as plant growth-promoting rhizobacteria in chinese agriculture. In: UTKHEDE RS; GUPTA VK (Eds). Management of soil born disease. Ludhiana: Kalyani Publishers. p. 165-184. DÉFAGO G; BERLING IH; BURGER U; HAAS D; KAHR G; KEEL C; VOISARD C; WIRTHNER PH; WUTHRICH B. 1990. 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BR 465, km 7, 23890-000 Seropédica-RJ; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Cinco caracteres morfoagronômicos, avaliados em sete linhagens de abóbora (Cucurbita moschata), foram submetidos à estimação de parâmetros genéticos e à análise de correlações simples e canônicas. As características foram avaliadas em um experimento em blocos ao acaso, com três repetições e parcelas de seis plantas. Os caracteres peso médio de fruto e comprimento longitudinal externo apresentaram herdabilidade superiores a 80% e índice de variação superior à unidade, demonstrando que a aplicação de métodos simples de melhoramento como, por exemplo, a seleção massal, poderão resultar em bons ganhos de seleção. Com relação às correlações simples, para a maioria dos pares de características (80%) as correlações genotípicas foram maiores que as fenotípicas e de ambiente. As correlações simples e canônicas demonstraram que o aumento no peso médio de frutos foi acompanhado de aumento na espessura da polpa e nos comprimentos longitudinal e transversal. Por outro lado, aumento no número médio de frutos apresentou correlação significativa com redução no comprimento longitudinal e na espessura de polpa e com incremento do comprimento transversal. Na população em estudo, genótipos de interesse comercial, contendo fruto de menor tamanho e polpa espessa, poderão ser obtidos com o emprego da técnica do índice de seleção, por sobrepujar o sentido das correlações. Palavras-chave: Cucurbita moschata, parâmetros genéticos, correlações canônicas, ganhos genéticos, seleção, melhoramento. Biometric analysis of squash lines Five morphological and agronomic characteristics were evaluated in seven squash lines. The experiment was carried out in completely randomized blocks, with three replications, and six-plant plots. Genetic parameters, as well as simple and canonic correlations were estimated. Heritability for average fruit weight and external longitudinal length were higher than 80%, with a variation index higher than one. Thus, application of simple breeding methods, such as mass selection, will result in good selection gains. Concerning simple correlations, most of the characteristic pairs (80%) had genotypic correlations higher than phenotypic and environmental correlations. Simple and canonical correlations revealed that fruit average weight increased together with increments in pulp thickness and longitudinal and transversal fruit length. On the other hand, plants with more fruits produced smaller fruits (longitudinal length), with thinner pulp, but with higher transversal length. In this population, promising commercial genotypes, producing small fruits with thick pulps, can be obtained using selection indexes. Keywords: Cucurbita moschata, genetic parameters, canonic correlations, genetic gains, selection, breeding. (Recebido para publicação em 24 de fevereiro de 2005; aceito em 31 de setembro de 2006) A nálises biométricas, sobretudo as estimativas de parâmetros genéticos, são de grande importância nos trabalhos de melhoramento. Informações sobre a variância genotípica, herdabilidade e índice de variação são determinantes na escolha do método de melhoramento mais adequado à cultura e permitem fazer inferências sobre a predição de ganhos com a seleção (Cruz & Regazzi, 2001). Não obstante, o conhecimento das correlações entre características também assume importância relevante, sobretudo quando se deseja obter ganhos indiretos ou mesmo simultâneos em diferentes características. Uma das vantagens desse procedimento, além do ganho em si, é a economia de tempo e de mão-de-obra (Falconer, 1987). A eficiência da seleção de um caráter pode ser aumentada quando se detém este conhecimento, especialmente quando o caráter principal for de difícil seleção a possuir baixa herdabilidade (Cruz & Regazzi, 2001). A utilização de análise biométrica via correlações canônicas permite obter gan378 hos ainda maiores que a seleção simultânea, uma vez que não se limita à análise de apenas duas características, mas permite a seleção de grupos de características. É possível, por exemplo, confrontar caracteres agronômicos e fisiológicos ou, ainda, agronômicos e caracteres de qualidade de fruto, possuindo assim, uma ampla aplicação no melhoramento de plantas. Embora à análise biométrica via correlações canônicas seja uma técnica de grande potencial de uso para o melhorista, sua aplicação tem sido rara, vez que nos últimos anos, poucos trabalhos foram desenvolvidos utilizando-se correlações canônicas. Vidigal et al. (1997), por exemplo, trabalhando com mandioca e utilizando as técnicas de correlação simples e canônicas definiram o ideotipo da cultura para a região noroeste do Paraná, com fins industriais. Por sua vez, Amaral Júnior et al. (1997), avaliaram diversas características qualitativas e quantitativas em cinco cultivares de tomate e seus híbridos e, pelo estudo de correlações simples, observa- ram elevada correlação genética entre teor de carotenóides totais, vitamina C e betacaroteno. Já a análise das correlações canônicas revelou que frutos de maior peso médio tinham maior teor de sólidos solúveis, vitamina C e betacaroteno. Outrossim, Carvalho et al. (1998) avaliaram a relação existente entre componentes primários e secundários de produção em pimentão através da análise de correlações canônicas e observaram que a associação mais expressiva ocorreu entre caracteres primários de produção (peso médio e número total de frutos) e caracteres de qualidade do fruto (comprimento, largura, relação comprimento/largura e espessura da polpa). Mais recentemente, Viana et al. (2003), por meio de análises de correlações simples e canônicas, determinaram a relação entre caracteres agronômicos e de qualidade de frutos de maracujá em duas populações. Diferentes trabalhos de pesquisa vêm sendo desenvolvidos com Cucurbitáceas. Porém, para a espécie Cucurbita Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Análise biométrica de linhagens de abóbora Tabela 1. Estimativas das variâncias fenotípica ( ), genotípica ( ) e ambiental ( ), da ) e experimental ( )e herdabilidade ( ), dos coeficientes de variação genotípico ( do índice de variação ( ) para características morfoagronômicas de linhagens de abóbora. Campos dos Goytacazes, UENF, 2005. 1/ NMF-número médio de frutos por planta; PMF-peso médio de frutos; CLE-comprimento longitudinal externo; CTE-comprimento transversal externo; ESP-espessura de polpa. moschata, os trabalhos de melhoramento ainda são muito incipientes. Embora seja uma hortaliça de expressão no mercado nacional, ocupando o sétimo lugar em volume de produção (Pereira, 1999), cultivares tradicionais, mantidas pelos próprios produtores, ainda são as mais utilizadas para cultivo, vez que são poucas as cultivares desenvolvidas e adaptadas para as regiões produtoras. Pesquisas indicam que o mercado interno prefere frutos menores e com polpa espessa, de onde surge a necessidade de buscar materiais que atendam estas exigências do consumidor. No final da década de 80, teve início o programa de melhoramento de abóbora na Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio de Janeiro (PESAGRO-RIO), estação Experimental de Itaguaí. Com o prosseguimento do programa, buscou-se, no presente trabalho, estimar os parâmetros genéticos e quantificar o grau de associação entre componentes primários e caracteres do fruto em linhagens de abóbora, visando gerar informações que permitam selecionar materiais superiores, em parceria com a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF). MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizadas sete linhagens de abóbora provenientes de cruzamentos entre a cultivar Caravela e um cultigene denominado “São João da Barra”. Para a avaliação das características, procedeu-se à implementação de um experimento de campo na unidade de apoio a pesquisa (UAP) da UENF, no ano agrícola de 1999. O delineamento experimental utilizado foi blocos ao acaso, com três repetições e parcelas de seis plantas, dispostas no espaçamento de 3m x 3m. O experimento foi conduzido utilizando-se os tratos culturais normalHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 mente aplicados à cultura. Foram avaliadas as características número médio de frutos por planta (NMF), peso médio de frutos (PMF), comprimento longitudinal externo (CLE), comprimento transversal externo (CTE) e espessura de polpa (ESP). Foram estimados os seguintes parâmetros genéticos (Cruz & Regazzi, 2001): variâncias fenotípica, genotípica e ambiental; herdabilidade; coeficientes de variação genotípica e experimental e índice de variação. As associações entre os pares de características foram obtidas pelas correlações fenotípica, genotípica e ambiental. Para tanto, as covariâncias entre as características X e Y foram calculadas baseando-se no modelo de análise de variância aleatório, tipo II (Vencovsky & Barriga, 1992; Cruz & Regazzi, 2001). Correlações canônicas foram utilizadas para estimar a máxima correlação entre combinações lineares de caracteres distribuídos em dois grupos: (1) componentes primários – NMF e PMF e; (2) caracteres do fruto - CLE, CTE e ESP. Estimaram-se ainda os coeficientes de ponderação dos caracteres em cada combinação linear. Uma correlação canônica é aquela que maximiza a relação entre as combinações lineares X1 e Y1, sendo X1 = a1x1 + a2x2 + ... + apxp; e Y1 = b1y1 + b2y2 + ... + bqyq, (Cruz & Regazzi, 2001), sendo estimadas a partir das matrizes: R11= p x q, matriz de correlação entre as características do grupo I; R22= p x q, matriz de correlação entre as características do grupo II; e R12= p x q, matriz de correlação entre as características do grupo I e II. As análises estatísticas foram realizadas com o auxílio do programa computacional Genes (Cruz, 2001). RESULTADOS E DISCUSSÃO Quando os valores da herdabilidade (h2) são superiores a 80% e o índice de variação é superior a unidade, podem ser obtidos ganhos de seleção satisfatórios (Falconer, 1987). Tal situação foi observada para peso médio de fruto e comprimento longitudinal externo (Tabela 1), indicando que genótipos superiores para estes caracteres podem ser obtidos pelo emprego de métodos simples de seleção como, por exemplo, a seleção massal. Todavia, mesmo considerando que na pratica as h2 não são baixas para as demais características, não se exclui a possibilidade de utilização de seleção recorrente genotípica, para obtenção de ganhos superiores, apesar de ser uma estratégia pouco ou ainda não utilizada em abóbora. Para a maioria dos pares de características (80%), as correlações genotípicas foram maiores que as fenotípicas e ambientais (Tabela 2), indicando maior influência do componente genético em relação aos demais. Além disso, para 40% das associações, houve diferença de sinal entre as correlações genotípicas e ambientais, o que pode indicar que as causas de variação genética e ambiental influenciaram as características por meio de mecanismos fisiológicos distintos (Falconer, 1987). Na análise de correlação, a presença de colinearidade, decorrente de elevadas estimativas de correlações fenotípicas ou genotípicas entre as características estudadas, produz efeitos diversos nos procedimentos canônicos, tornando os resultados pouco precisos (Carvalho, 1995). Assim, no presente estudo, optou-se por usar apenas os caracteres com ausência de colinearidade. As correlações positivas elevadas, tanto genotípica quanto fenotípica, entre peso médio de frutos e comprimento longitudinal externo (0,89 e 0,87, respectivamente) e entre peso médio e espessura de polpa (0,87 e 0,82, respectivamente) indicam que genótipos com frutos maiores e de polpa mais espessa poderiam ser selecionados através do peso médio dos frutos, o que facilitaria o processo de seleção, uma vez que o caráter peso médio de frutos é de mais fácil avaliação que os demais. Ao contrário, incrementos na característica número médio de frutos, poderiam representar reduções no peso médio dos frutos, no comprimento longitudinal e também na espessura de polpa, em função das cor379 FV Bezerra Neto et al. relações genotípicas negativas de elevada magnitude entre estes pares de características, e aumento no comprimento transversal dos frutos (Tabela 2). Em relação às correlações canônicas (Tabela 3), os grupos estudados (grupo 1número médio de frutos por planta e peso médio de frutos; grupo 2- comprimento longitudinal externo, comprimento transversal externo e espessura de polpa) não são independentes, pois apresentaram correlações diferentes de zero pelo teste quiquadrado, a 1% de probabilidade (r= 1,30** e 1,00**, para primeira e segunda correlações canônicas, respectivamente). Em relação ao primeiro par canônico, é possível concluir que indivíduos com maior número médio de frutos tendem a produzir frutos com menor comprimento longitudinal, menor espessura de polpa e maior comprimento transversal. Portanto, a análise fundamentada nas correlações canônicas (Tabela 3) ratificou o resultado já encontrado nos estudos da correlação simples (Tabela 2). Em relação ao segundo par canônico, verificou-se que maior peso médio de frutos determinou aumento na espessura da polpa e nos comprimentos longitudinal e transversal dos frutos, o que novamente fortalece os resultados já encontrados no estudo das correlações simples (Tabela 2). Cumpre elucidar que, a despeito das associações simples indicarem a perspectiva de seleção de genótipos não muito interessantes para o mercado consumidor, com base nas correlações genotípicas positivas entre PMF e ESP, a acurada análise das correlações canônicas possibilita uma reflexão mais aprofundada a respeito da perspectiva de sucesso na seleção de genótipos superiores na população em estudo. Isto posto, por uma análise inicial, com fulcro no primeiro par canônico, percebe-se a possibilidade de selecionar frutos de tamanho mediano contendo espessura de polpa menor, face à magnitude das associações entre PMF e ESP de valores respectivos 0,53 e -0,12. Todavia, o valor negativo expresso por ESP é próximo de zero, o que, por conseguinte, não invalida a hipótese de seleção de genótipos com fruto de tamanho mediano e com polpa de espessura adequada à preferência do consumidor. Neste aspecto, a experiência do melhorista associada ao uso de procedimentos de análise genético-estatísticas adequadas, como o emprego da estratégia dos índices de seleção, torna possível a seleção de genótipos com menor tamanho de fruto e, concomitantemente, com maior espessura de polpa. O procedimento analítico dos 380 Tabela 2. Estimativas das correlações fenotípica (rf), genotípica (rg) e ambiental (ra) entre características morfoagronômicas de linhagens de abóbora. Campos dos Goytacazes, UENF, 2005. * Significativo a 5% de probabilidade pelo teste t. NMF-número médio de frutos por planta; PMF-peso médio de frutos; CLE-comprimento longitudinal 1/ Tabela 3. Estimativas das correlações e pares canônicos entre componentes primários (grupo 1) e caracteres do fruto (grupo 2) em linhagens de abóbora. Campos dos Goytacazes, UENF, 2005. * Significativo a 1% de probabilidade pelo teste qui-quadrado. NMF-número médio de frutos por planta; PMF-peso médio de frutos; CLE-comprimento longitudinal externo; CTE-comprimento transversal externo; ESP-espessura de polpa. 1/ índices de seleção, pela robustez analítica e por sobrepujar o sentido das correlações será, a partir da próxima etapa seletiva do programa, de absoluta relevância na fidedigna seleção dos genótipos de interesse ao mercado consumidor. REFERÊNCIAS AMARAL JÚNIOR AT; CASALI VWD; CRUZ CD; FINGER FL. 1997. Correlações simples e canônicas entre caracteres morfológicos, agronômicos e de qualidade em frutos de tomateiro. Horticultura Brasileira 15: 49-52. CARVALHO CGP; OLIVEIRA VR; CASALI VWD; CRUZ CD. 1998. 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VIANA AP; PEREIRA TNS; PEREIRA MG; SOUZA MM; MALDONADO JFM; AMARAL JÚNIOR AT. 2003. Simple and canonic correlation between agronomical and fruit quality traits in yellow passion fruit (Passiflora edulis f. flavicarpa) populations. Crop Breeding and Applied Biotechnology 3: 133-140. VIDIGAL MCG; VIDIGAL FILHO PS; AMARAL JÚNIOR AT; BRACCINI A de LE. 1997. Análise de parâmetros genéticos e correlações simples e canônicas entre características morfoagronômicas e da qualidade das raízes em cultivares de mandioca (Manihot esculenta Crantz) adaptadas ao noroeste paranaense. Revista Brasileira de Mandioca.15: 41-48. Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 CHIUMARELLI M, FERREIRA MD. 2006. Qualidade pós-colheita de tomates ‘Débora’ com utilização de diferentes coberturas comestíveis e temperaturas de armazenamento. Horticultura Brasileira 24: 381-385. Qualidade pós-colheita de tomates ‘Débora’ com utilização de diferentes coberturas comestíveis e temperaturas de armazenamento Marcela Chiumarelli1; Marcos David Ferreira² 1 UNICAMP-FEA, Campinas-SP, Bolsista Iniciação Científica SAE/UNICAMP; ²UNICAMP-FEAGRI, Campinas-SP,Pesquisador Colaborador; E-mail: [email protected]; [email protected] RESUMO Este estudo visou avaliar o efeito de diferentes coberturas comestíveis sobre a qualidade pós-colheita do tomate de mesa cv. Débora. Foram utilizadas as seguintes coberturas: cera de carnaúba Fruit Wax H2 (18%), emulsão de resinas Fruit Wax M-AC (18%) e cera de carnaúba Megh Wax ECF-124 (18%); tomates sem cera serviram de controle. Foram utilizados 40 frutos por tratamento em delineamento inteiramente casualizado. Após a limpeza e aplicação das ceras, os frutos foram armazenados a 12,5°C e 25°C e 90% de umidade relativa. Análises para perda de massa fresca (%), coloração e qualidade foram realizadas durante quinze dias. No final do período de armazenagem, os frutos foram avaliados quanto à firmeza, pH, concentração de sólidos solúveis, vitamina C e acidez. Foi realizada também análise sensorial para frutos armazenados nas duas diferentes temperaturas. O tratamento com Megh Wax ECF-124 proporcionou menor perda de massa e frutos mais firmes em ambas as temperaturas. Tomates tratados com Fruit Wax M-AC e Megh Wax ECF124 apresentaram maior porcentagem de frutos apropriados ao consumo. Não houve diferença significativa entre os tratamentos quanto à coloração e análises químicas, exceto para os frutos cobertos com Fruit Wax M-AC, que apresentaram menor teor de vitamina C em ambas as temperaturas e maior pH a 25°C. As ceras Fruit Wax M-AC e Megh Wax ECF-124 não interferiram no sabor e no odor dos frutos. A aplicação de cera contribui para uma diminuição na perda de massa e decréscimo no número de frutos descartados devido a danos físicos e podridões, sendo que Megh Wax ECF-124 é mais eficiente na manutenção da qualidade de tomates de mesa. Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, cera, transpiração, conservação. Quality of ‘Debora’ tomato using different edible coatings and storage temperatures This study aimed at evaluating the effect of edible coatings on tomato cv. Debora post-harvest quality. The following waxing emulsions were used: wax of carnauba Fruit Wax H2 (18%), emulsion of resins Fruit Wax M-AC (18%) and wax of carnauba Megh Wax ECF-124 (18%); tomatoes without wax were used as reference. A totally randomized experiment was installed using 40 fruits for each treatment. After cleaning and application of the waxes, the fruits were stored at 12,5°C and 25°C and 90% RH. Analyses for weight loss (%), color and quality were carried out during fifteen days. After storage, fruits were evaluated for firmness, pH, soluble concentration of solids, vitamin C, total acidity and a sensorial analysis. Tomatoes treated with Megh Wax ECF-124 presented minor weight losses and firmer fruits in both temperatures. Fruits treated with Fruit Wax MAC and Megh Wax ECF-124 showed the highest percentage of fruits edible for consumption. There was no significant difference between treatments for color and chemical analyses, except for fruits covered with Fruit Wax M-AC, that showed low level of vitamin C on both temperatures and higher pH level at 25°C. Fruit Wax M-AC and Megh Wax ECF-124 did not affect flavor and odor on fruits. Wax application contributed to reduce weight loss and the number of fruits discarted due to physical damage and diseases. Megh Wax ECF-124 was the most efficient wax for keeping fruit quality. Keywords: Lycopersicon esculentum, wax, transpiration, conservation. (Recebido para publicação em 10 de dezembro de 2004; aceito em 11 de agosto de 2006) A busca por dietas balanceadas, ricas em alimentos vegetais, acarreta aumento no consumo de frutas, legumes e verduras, criando a necessidade de estudos que disponibilizem os mesmos, em quantidade e com qualidade adequadas (Marcos, 2001). O Brasil é o nono produtor mundial de tomate. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2004), foram produzidas 3.595.730 toneladas do fruto em 2002. Segundo o Agrianual (2001), foram comercializadas na CEAGESP 189.405 toneladas deste produto com um preço médio de R$ 0,85/kg. Aproximadamente Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 21% desta produção sofre danos que impossibilitam sua comercialização (Marcos, 2001). Tal índice é conseqüência de técnicas inadequadas em todas as etapas do processo, desde o campo até o consumidor final. Porém, as perdas são mais significativas na pós-colheita, causadas por injúrias mecânicas, armazenamento impróprio, manuseio e transportes inadequados e longos períodos de exposição no varejo (CEAGESP, 2002). Após a colheita, o tomate apresenta-se como um fruto altamente perecível. O fruto maduro possui uma vida média de prateleira de uma semana, com perdas variando entre 25% a 50%, en- quanto o fruto parcialmente maduro apresenta uma vida útil de até duas semanas, com 20% a 40% de perdas póscolheita (Barret Reina, 1990). O tomate apresenta elevado conteúdo de água, estando sujeito às variações de temperatura e umidade relativa do ambiente onde se encontra. A perda de água ocasiona perda de massa e altera a aparência do fruto (Marcos, 2001). A utilização de películas comestíveis para revestir produtos hortifrutícolas mostrase eficaz na redução de perda de água (Kays et al., 1991; Carvalho Filho, 2000) e manutenção da qualidade fruto (Oliveira, 1996; Mota, 1999; Ojeda, 2001; 381 M Chiumarelli & MD Ferreira Feygenberg et al., 2005; Porat et al., 2005). A cerosidade de um fruto perdida durante o processo de beneficiamento, lavagem e polimento tem sido reconstituída pelo uso de cera, aplicada por imersão ou pulverização, reduzindo a perda de água e conferindo aspecto atrativo após a secagem e polimento (São José & Souza, 1992; Gontard & Guilbert, 1996; Wills et al., 2004). Neste contexto, este estudo visou avaliar a manutenção da qualidade em tomates destinados ao consumo ‘in natura’ revestidos com diferentes películas comestíveis e armazenados em diferentes temperaturas. MATERIAL E MÉTODOS Tomates destinados ao consumo ‘in natura’, cv. Débora, foram colhidos em plantação comercial no município de Itapira, Estado de São Paulo, e transportados em caixas plásticas ao laboratório de Tecnologia Pós-Colheita da Faculdade de Engenharia – UNICAMP em Campinas, SP. Os frutos foram selecionados no estádio “salada” (CEAGESP, 2000), e lavados com água para eliminação de resíduos provenientes do campo e secos com toalhas de papel. Em cada tratamento foram utilizados 40 frutos de tomate. Para mensuração dos diâmetros, utilizou-se paquímetro digital (Mitutoyo, modelo CD-6’’BS) na parte mediana/central dos frutos. A aplicação de cera foi feita com o auxílio de um pincel e os tratamentos utilizados foram: controle (imersão em água); emulsão de resinas Fruit Wax M-AC (18% de ativos, composta por emulsão de polietileno, resina fumárica, preservante e água) produzida por Adhetech Química Ind. e Com. Ltda; cera de carnaúba Fruit Wax H2 (18% de ativos, composta por emulsão de cera de carnaúba, preservante e água) produzida por Adhetech Química Ind. e Com. Ltda; e cera de carnaúba Megh Wax ECF-124 (18% de ativos, composta por emulsão de cera de carnaúba, tensoativo aniônico, preservante e água), produzida por Megh Indústria e Comércio Ltda. Os tomates foram colocados em bandejas plásticas e armazenados em câmaras a temperaturas de 12,5°C e 25°C a 382 90% de umidade relativa por 15 dias. A temperatura e a umidade foram monitoradas por termohigrógrafo. Os frutos foram pesados periodicamente a cada três dias para calcular a porcentagem de perda de massa fresca. Os tomates foram armazenados durante quinze dias, avaliando-se a extensão da vida de prateleira através do critério dos padrões de comercialização de acordo com as “Normas e Padrões de Classificação do Tomate da CEAGESP” (2000). No final do período de armazenamento, baseando-se nesta Norma, os frutos foram avaliados com uma escala de notas (1-5): 1- apropriado para consumo; 2dano físico externo; 3- dano físico e podridão associados; 4- podridão; 5excessiva perda de água (frutos murchos com perda de brilho e elasticidade). Os resultados foram expressos em porcentagem de frutos. A coloração dos frutos foi avaliada periodicamente através do critério presente nas Normas e Padrões de Classificação do Tomate da CEAGESP (2000). Assim, cada nível de coloração recebeu a seguinte classificação: (1) verde; (2) salada; (3) colorido; (4) vermelho; (5) molho. ∆ Para avaliar a firmeza foram utilizados dez tomates de cada tratamento. Os frutos foram colocados inteiros com o ponto mediano sobre o maior diâmetro no centro da célula de carga Alfa Instrumentos (sensibilidade: 2mV/V; capacidade: 240 Kgf), utilizando a máquina universal de ensaios CML – Canners (modelo D-180 4C, capacidade: 450 Kgf). A freqüência das leituras foi de 25 Hz e a taxa de deformação, constante, de 0,6 mm/s. Adotou-se um coeficiente de Poisson n de 0,49 e calculou-se o módulo de elasticidade pela equação presente em Mohsenin (1986), considerando o fruto esférico, isto é, R1= R1’. onde: E= módulo de Elasticidade, em MPa; F= força de ruptura, em N; ν = coeficiente de Poisson de 0,49; =deformação= t*0,6 [mm]; dp= diâmetro da ferramenta, em mm; dt é o diâmetro do fruto. Para as análises químicas de pH, concentração de sólidos solúveis e acidez titulável foram utilizados os métodos descritos por Carvalho et al. (1990). Para a análise de vitamina C, a determinação foi feita através de titulação com 2,6-Diclorofenol-Indofenol (Benassi & Antunes, 1988). Para a análise sensorial, foram utilizados os testes de diferença do controle e de aceitabilidade descritos por Ferreira (2000). Para análise estatística foi utilizada análise de variância em esquema fatorial em delineamento inteiramente casualizado. Os dados coletados foram submetidos a analise de comparação de média pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância estatística (Bussab & Morettin, 1987). RESULTADOS E DISCUSSÃO Observou-se um aumento na perda de massa fresca (%) em todos os tratamentos (Tabela 1). A 12,5°C, os frutos tratados com Megh Wax ECF 124 apresentaram menor porcentagem de perda de massa fresca (52,2% menor que a perda dos frutos sem cera). Cantwell & Kasmire (2002) corroboram com esta informação relatando que a aplicação de ceras comestíveis reduz perda de água e melhora a aparência em tomates. A aplicação de cera de carnaúba também demonstrou ser uma barreira eficiente à perda de água em manga (Baldwin et al., 1999; Hoa et al., 2002) e abacate (Feygenberg et al., 2005). Fruit Wax MAC promoveu perda 30,2% menor que o controle e Fruit Wax H2 apresentou uma diferença muito pequena em relação aos tomates sem cera. A 25°C, os frutos tratados com Megh Wax ECF 124 apresentaram perda de massa fresca 57,2% menor que a perda dos frutos sem cera. Os tratamentos com Fruit Wax M-AC e Fruit Wax H2 apresentaram diferenças mínimas entre si, promovendo uma perda de massa fresca 19,6% menor que a perda do controle. A diferença encontrada entre as duas ceras de carnaúba utilizadas, Fruit Wax H2 e Megh Wax ECF-124, pode estar relacionada a outros componentes da emulsão, como por exemplo, os tensoativos. Em relação à qualidade dos tomates (Figura 1), a 12,5°C, a cera Fruit Wax Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Qualidade pós-colheita de tomates ‘Débora’ com utilização de diferentes coberturas comestíveis e temperaturas de armazenamento M-AC e Megh Wax ECF-124 proporcionaram maior porcentagem de frutos apropriados ao consumo (80% e 77,6%, respectivamente). Todavia, quando os tomates são resfriados, torna-se difícil a retirada da cera Fruit Wax M-AC da superfície do fruto. Os tratamentos Fruit Wax H2 e controle apresentaram maior índice de podridão em frutos com danos físicos. Apenas Megh Wax ECF 124 não apresentou frutos descartados por excessiva perda de massa. Para a temperatura de 25°C, a cera Megh Wax ECF 124 proporcionou maior porcentagem de frutos apropriados ao consumo (65%). O tratamento com Fruit Wax H2 promoveu maior porcentagem de podridão (27,5%). Nenhum tratamento apresentou frutos com excessiva perda de água. Notou-se que utilização da cera Megh Wax ECF-124 a 25°C proporcionou uma porcentagem de frutos apropriados ao consumo superior à porcentagem de tomates no mesmo estado quando não encerados e refrigerados. Aliada a refrigeração, a utilização de ceras promoveu um índice de tomates apropriados ao consumo ainda maior, reduzindo assim as perdas pós-colheita. Os frutos armazenados a 12,5°C demoraram a atingir os estádios mais avançados de maturidade do que a 25°C. Após 15 dias, os frutos armazenados a 12,5°C atingiram a cor vermelha (notas 4,0 a 4,15) enquanto os frutos a 25°C atingiram o ponto de “molho” (todos Tabela 1. Perda de massa fresca em frutos de tomate cv. Débora durante armazenamento por 15 dias, submetidos a diferentes coberturas. Campinas, Unicamp, 2003. Médias seguidas pelas mesmas letras, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância. Tabela 2. Módulo de elasticidade de tomates tratados com cera após armazenamento por 15 dias na temperatura de 12,5oC e 25oC. Campinas, Unicamp, 2003. Médias seguidas pelas mesmas letras, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância. tratamentos com nota= 5,0). Jacomino et al. (2003) relataram que a aplicação de ceras interferiu tanto na coloração da casca quanto da polpa da goiaba. Isso não foi observado em tomates a 12,5°C, sendo que não houve diferença ao nível de 5% de significância estatística em termos de coloração e não houve fruto que atingisse o estádio “molho”. Para a temperatura de 25°C, os frutos tratados com Fruit Wax M-AC e Megh Wax ECF 124 promoveram uma redução na taxa de maturação até o 8º dia. Após este período, as taxas de Figura 1. Porcentagem de frutos descartados em função do tipo de injúria após armazenamento por 15 dias, sendo: 1- apropriado ao consumo; 2- dano físico externo; 3- dano físico e podridão associados; 4- podridão; e 5- excessiva perda de água (ressecados). Campinas, Unicamp, 2003. Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 383 M Chiumarelli & MD Ferreira Tabela 3. Acidez total, pH, sólidos solúveis e vitamina C em tomates tratados com diferentes ceras e armazenados a temperatura de 12,5oC e 25oC por 15 dias. Campinas, Unicamp, 2003. Médias seguidas pelas mesmas letras, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância. maturação de tais tratamentos igualaram-se a taxa do controle. Os frutos tratados com Fruit Wax H2 não mostraram diferença significativa quanto à coloração em relação ao controle, apresentando inclusive aspecto externo semelhante aos frutos sem cera. Quanto à firmeza (Tabela 2), a 12,5°C, observou-se que os frutos tratados com Megh Wax ECF 124 e Fruit Wax H2 não promoveram diferenças significativas em relação ao controle ao nível de 5% de significância estatística. Fruit Wax M-AC promoveu frutos 10,7% mais firmes (0,2328 MPa) que os sem cera (0,2103 MPa). Porém, a 25°C, verificou-se que os frutos tratados com Megh Wax ECF 124 obtiveram um módulo de elasticidade maior que os dos demais tratamentos (0,1652 MPa), sendo 43,2% mais firmes que os frutos sem cera (0,1154 MPa). As ceras Fruit Wax M-AC e Fruit Wax H2 não promoveram diferenças significativas em relação ao controle. Observou-se que a cera, portanto, influencia a resistência da película do tomate, mantendo a textura do fruto, fato que foi observado por Vieites et al. (1997) em tomates cobertos com goma de batata e cera Sta-Fresh e por Hoa et al. (2002) em mangas. Não houve diferença significativa (5%) entre os tratamentos mantidos a 12,5oC para concentração de sólidos solúveis, pH e acidez titulável (Tabela 3). Os valores encontrados para pH, sólidos solúveis, acidez titulável e vitamina C são semelhantes aos citados por Chitarra & Chitarra (1990) e Marcos (2001), exceto o pH maior e o baixo teor 384 de vitamina C apresentado pelo tratamento com Fruit Wax M-AC, comportamento semelhante foi observado por Vieites et. al. (1997) em seu experimento. A 25°C, nenhum tratamento se diferenciou a 5% de significância estatística em relação à concentração de sólidos solúveis totais e acidez titulável total. A cera Fruit Wax M-AC promoveu frutos com maior pH e menos vitamina C que os dos frutos sem cera. Notou-se que a emulsão de resinas (Fruit Wax MAC) provoca alguma reação no fruto, talvez devido à permeabilidade da cobertura, resultando em baixos teores de vitamina C, comportamento este não observado nos frutos cobertos com cera de carnaúba. Na análise sensorial, o tratamento com Megh Wax ECF 124 obteve boa aceitabilidade, ressaltando a preferência dos julgadores quanto à textura dos frutos em ambas as temperaturas. Este tratamento não apresentou diferenças de aroma e sabor em relação ao controle. Porém, na avaliação visual houve diferenciação, pois a cera confere brilho ao fruto. A cera Fruit Wax M-AC também obteve boa aceitação, principalmente quanto ao odor, não apresentando diferenças de aroma e sabor dos frutos sem cera. Contudo, na avaliação visual, os frutos com este tratamento foram os que apresentaram maior grau de diferença, pois a superfície do tomate fica opaca. Os frutos tratados com Fruit Wax H2 foram os que apresentaram menor aceitabilidade, apesar de não mostrarem diferenças visuais e de sabor e aroma em relação ao controle. Verificou-se que os tomates encerados não se diferenciam dos sem cera em termos de sabor e aroma, agradando o paladar dos degustadores. Baseando-se nos dados apresentados, observa-se que a aplicação de cera contribui para uma diminuição na perda de massa fresca e decréscimo no número de frutos descartados devido a danos físicos e podridões, sendo uma alternativa de baixo custo, eficiente e ao alcance de pequenos produtores. Frutos cobertos com Megh Wax ECF-124 demonstram uma menor perda de massa nas duas temperaturas (12,5°C e 25°C), bem como um maior número de frutos apropriados para consumo após armazenamento. Fruit Wax M-AC é mais eficiente à temperatura de 12,5°C, porém torna o fruto opaco e é difícil de ser retirada. Quanto às mudanças no estádio de maturação durante armazenamento observou-se uma aparente redução nestas alterações em frutos tratados com cera em relação a frutos não tratados. Considerando o fato de que há muitas interrupções na cadeia do frio durante o processo de manuseio e comercialização, e também como os resultados desta pesquisa, pode-se concluir que a utilização de ceras pode ser uma opção a ser aplicada para a manutenção da qualidade de tomates. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à FAPESP e ao SAE/UNICAMP pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS AGRIANUAL: Anuário da Agricultura Brasileira. 2001. Tomate. FNP-Consultoria & Comércio. São Paulo. p.506-516. BALDWIN EA; BURNS JK; KAZOKAS JK; BRECHT JK; HAGENMAIER; BENDER RJ; PESIS E. 1999. Effect of two edible coatings with different permeability characteristics on mango (Mangifera indica L.) ripening during storage. 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Onde se lê a palavra “fungos”, leia-se “função”. 386 Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Comunicação Marilene Leão Alves Bovi (1948 – 2006): uma vida de dedicação à pesquisa com palmito Marilene Leão Alves Bovi foi pesquisadora científica nível VI, do Instituto Agronômico em Campinas, atuando no Centro de Horticultura, em Campinas, SP. Estava entre as vítimas do acidente aéreo recém ocorrido no país Formou-se em engenharia agronômica pela ESALQ/USP, em 1972, sendo PhD em Agronomia, com ênfase em Melhoramento Genético de Plantas, pela Florida University, Gainesville (USA), concluído em 1982. Atuava na área de melhoramento genético e fitotecnia de palmeiras produtoras de palmito. Há 35 anos trabalhando no IAC, Marilene Bovi é referência nacional e internacional em sua área de atuação. Profunda conhecedora de palmito e com a visão de futuro e a perspicácia que caracterizam os grandes cientistas, foi pioneira no Brasil na pesquisa visando o cultivo da pupunha e a exploração racional do açaí e do palmito juçara. Com sua liderança, estabeleceu um amplo programa de estudos com palmeiras produtoras de palmito, com destaque para as linhas de melhoramento genético, fisiologia do crescimento e da produção, sistemas de cultivo, manejo sustentado e tecnologia de sementes, envolvendo grande números de colaboradores em Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 todo o país. Os resultados de seus trabalhos contribuíram significativamente para o desenvolvimento sustentável das matas nativas, contribuindo para a sua preservação. Ao mesmo tempo, introduziu o plantio comercial de pupunha, transformando essa cultura em atividade competitiva no agronegócio da horticultura. Recebeu seis prêmios em sua prolífica carreira científica, destacando-se o “Prêmio Frederico de Menezes Veiga”, outorgado pela Embrapa em 2001, em reconhecimento à sua contribuição expressiva para a pesquisa com palmito. Publicou 75 artigos em periódicos especializados e 159 trabalhos em anais de eventos. Possui 4 livros publicados, 18 capítulos de livros, além de outros 27 itens de produção técnica. Participou de 30 eventos no Brasil e exterior. Orientou quatro dissertações de mestrado, uma tese de doutorado e co-orientou duas teses de doutorado Também orientou um trabalho de conclusão de curso na área de agronomia. Entre 1998 e 2002 coordenou seis projetos de pesquisa, dois deles com financiamento externo. Atualmente, participava de sete projetos de pesquisa, coordenando seis deles. Em suas atividades profissionais interagiu com 146 colaboradores em coautorias de trabalhos científicos. Foi uma grande incentivadora da criação do Curso Pós-Graduação em Agricultura Tropical e Subtropical, do IAC, onde tinha participação atuante no conselho do curso e, principalmente como orientadora, formando diversos profissionais. Por sua competência, foi escolhida pela CAPES para representar a PG-IAC naquele órgão. Era assessora científica de agências de fomento, destacando-se FAPESP e CNPq, colaborava como revisora ad hoc dos mais importantes periódicos nacionais e como consultora em diversos programas brasileiros de pesquisa de pupunha. Participou de inúmeras bancas examinadoras de mestrado e doutorado em diversas instituições de pesquisa e ensino do país. Marilene Bovi foi uma cientista de reconhecida competência em sua área de atuação e sempre teve uma participação destacada no âmbito da ABH, participando ativamente dos CBO´s e, atualmente, era uma das editoras científicas da Revista Horticultura Brasileira. Marilene era séria e de personalidade forte, sempre exigente consigo mesma e com seus orientados e colaboradores, mas sensível o suficiente para respeitar os limites de cada um. Aberta e acessível com aqueles que queriam de fato pesquisar e aprender fazendo. Incentivava seus alunos e estagiários a estudar e adorava estar no campo junto aos seus experimentos. Era defensora da pesquisa regional, tanto que coordenava projetos com pupunha em diversos Pólos Regionais de Pesquisa localizados no litoral e no planalto do estado de São Paulo, onde considerava ser a cultura viável. Apesar de cientista renomada, destacava-se pela discrição, simplicidade e pelo zelo familiar. Ela residia em Campinas (SP) e era casada há 32 anos com o também pesquisador do IAC, Odair Alves Bovi, com quem teve dois filhos. (Arlete Marchi Tavares de Melo, Pesquisadora Científica, IACAPTA, Centro de Horticultura, Campinas, SP, e-mail: [email protected]) 387 normas NORMAS PARA SUBMISSÃO DE TRABALHOS O periódico Horticultura Brasileira é a revista oficial da Associação Brasileira de Horticultura. Horticultura Brasileira destina-se à publicação de artigos técnico-científicos que envolvam hortaliças, plantas medicinais, condimentares e ornamentais e que contribuam significativamente para o desenvolvimento destes setores. O periódico Horticultura Brasileira é publicado a cada três meses e aceita artigos escritos em português, inglês ou espanhol. Para publicar em Horticultura Brasileira é necessário que o primeiro autor do trabalho seja membro da Associação Brasileira de Horticultura e esteja em dia com o pagamento da anuidade. Os trabalhos enviados para Horticultura Brasileira devem ser originais, ainda não relatados ou submetidos à publicação em outro periódico ou veículo de divulgação. Está também implícito que os aspectos éticos e o atendimento à legislação vigente do copyright tenham sido observados durante o desenvolvimento do trabalho. Após a submissão à Horticultura Brasileira e até o final de sua tramitação, é vedada a submissão do trabalho, em todo ou em parte, a qualquer outro periódico ou veículo de divulgação. Caso o trabalho seja aceito para publicação, Horticultura Brasileira adquire o direito exclusivo de copyright para todas as línguas e países. Não é permitida a reprodução parcial ou total dos trabalhos publicados sem autorização por escrito da Comissão Editorial. O periódico Horticultura Brasileira é composto das seguintes seções: 1. Artigo convidado: tópico de interesse atual, a convite da Comissão Editorial; 2. Carta ao Editor: assunto de interesse geral. Será publicada a critério da Comissão Editorial; 3. Pesquisa: artigo relatando informações consistentes e robustas, provenientes de resultados de pesquisa obtidos por meio de aplicação rigorosa de metodologia científica, cuja reproducibilidade é claramente demonstrada; 4. Comunicação Científica: comunicação ou nota científica relatando informações resultantes de observações de campo ou provenientes de experimentos pouco complexos, realizados com aplicação rigorosa de metodologia científica, cuja reproducibilidade é claramente demonstrada; 5. Página do Horticultor: trabalho original referente a resultados de utilização imediata pelo setor produtivo como, por exemplo, ensaios originais com agrotóxicos, fertilizantes ou cultivares, realizados com aplicação rigorosa de metodologia científica, cuja reproducibilidade é claramente demonstrada; 6. Nova Cultivar: relato de novas cultivares e germoplasma, contendo descrição e disponibilidade, com dados comparativos. Submissão dos trabalhos O texto deve ser composto em programa Word 6.0 ou versão superior, em espaço dois, fonte Arial, tamanho doze. Páginas e linhas devem ser numeradas. Adicione ao final do 388 GUIDELINES FOR THE PREPARATION AND SUBMISSION OF PAPERS Horticultura Brasileira is the official journal of the Brazilian Association for Horticultural Science. Horticultura Brasileira publishes papers on vegetable crops, medicinal and condimental herbs, and ornamental plants. Papers that give a significant contribution to the scientific and technological development of horticultural crops are highly appreciated. Horticultura Brasileira is published quarterly and accepts papers in English, Portuguese, and Spanish. For the paper to be eligible for publication, first author must be member of the Brazilian Association for Horticultural Science. Horticultura Brasileira publishes original papers, which have not been submitted to publication elsewhere. It is implicit that ethical aspects and fully compliance with the copyright laws were observed during the development of the work. From submission up to the end of the reviewing process, partial or total submission elsewhere is forbidden. With the acceptance for publication, publishers acquire full and exclusive copyright for all languages and countries. Unless special permission has been granted by the publishers, no photographic reproductions, microform, and other reproduction of a similar nature may be made of the journal, of individual contributions contained therein or of extracts therefrom. Horticultura Brasileira has the following sections: 1. Invited paper: papers dealing with topics that arouse interest, invited by the Editorial Board; 2. Letter to the Editor: deals with a subject of general interest. The Editorial Board makes a preliminary evaluation and can accept or reject it, as well as submit it to the reviewing process; 3. Research: paper describing a complete and consistent original study, which must have been carried out under strict scientific methods. The reproducibility of studies should be clearly established; 4. Scientific Communication: communication or scientific note, reporting field observations or results of less complex studies, which must have been carried out under strict scientific methods. The reproducibility of studies should be clearly established; 5. Grower’s page: original communication or short note describing information readily usable by farmers, as for example, results from studies regarding the evaluation of pesticides, fertilizers, or cultivars. Such studies must have been carried out under strict scientific methods and their reproducibility should be clearly established; 6. New Cultivar: communications or scientific notes reporting recent releases of cultivars and germplasm. It must include information on origin, description, seed availability, and comparative data. Manuscript submission Prepare your text in Word® 6.0 or superior, in double space, font Arial 12 points, with pages and lines numbered. Add Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 texto todos os demais componentes (figuras, tabelas e gráficos) do trabalho. Formate o arquivo para página A4, margens superior e inferior de 2 cm, margens esquerda e direita de 3 cm. Imprima e envie três cópias. Inclua também um disquete ou CD contendo o arquivo do trabalho. Imagens de baixa resolução não serão aceitas. Os trabalhos deverão ter no máximo 20 laudas. Se forem necessárias orientações quaisquer que não estejam relacionadas aqui, por favor contate a Comissão Editorial ou consulte os últimos números de Horticultura Brasileira. Os trabalhos submetidos entrarão em tramitação somente se: 1. Estiverem acompanhados da anuência de todos os autores, que devem assinar a carta de encaminhamento ou a primeira página do trabalho. Caso um ou mais autores não possa(m) assinar, a razão deve ser mencionada na carta de encaminhamento. Neste caso, o autor correspondente deverá se responsabilizar pela anuência do(s) faltante(s). Mensagens eletrônicas da anuência ou cópias gráficas destas serão aceitas, desde que indubitavelmente enviadas da conta eletrônica de quem concedeu a anuência; 2. Forem considerados aptos para tramitação pelo Editor Associado. Neste caso, o autor de correspondência receberá uma mensagem eletrônica e será solicitado o recolhimento da taxa de tramitação, no valor de R$ 50,00. Trabalhos rejeitados não serão devolvidos. A estrutura dos artigos obedecerá ao seguinte roteiro: 1. Título: não mais do que quinze palavras. Utilize nomes científicos somente quando não existirem nomes comuns correspondentes no idioma em que o trabalho foi escrito; 2. Nome dos autores: nome completo dos autores, abreviando-se somente os sobrenomes intermediários. Use números sobrescritos para relacionar autores a endereços (consulte o padrão nos artigos publicados nos últimos números de Horticultura Brasileira); 3. Endereço dos autores: nome completo da Instituição e Departamento, quando for o caso, com endereço para correspondência. Inclua o endereço eletrônico. Utilize números sobrescritos para relacionar os endereços aos autores (consulte o padrão nos artigos publicados nos últimos números de Horticultura Brasileira); 4. Resumo em português ou espanhol com palavras-chave ao final: o resumo deve ter no máximo 1400 caracteres (excluídos os espaços). As palavras-chave, no máximo seis, devem ser sempre iniciadas com o(s) nome(s) científico(s) da(s) espécie(s) em questão. Não é necessário repetir termos que já estejam no título; 5. Abstract, em inglês, acompanhado de título e keywords: abstract, título em inglês e keywords devem ser versões perfeitas de seus similares em português ou espanhol. Assim como o resumo, o abstract deve ser limitado a 1400 caracteres (excluídos os espaços); 6. Introdução; 7. Material e Métodos; 8. Resultados e Discussão; 9. Agradecimentos, quando for o caso; 10. Referências: Sugere-se não mais do que 30 referênHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 images, figures, tables, and charts to the end of your text and compile all files (text, figures, tables, and charts) in one. Format the file for A4 page, 2-cm superior and inferior margins, 3-cm left and right margins. Print and submit in triplicate. Send along a 3.5-inch diskette or CD-ROM containing a copy of the file. Low-resolution images are not adequate for publication. The file must not exceed 20 pages. If further information is needed, please contact the Editorial Board or refer to the recently released issues. A paper will be eligible for the reviewing process if: 1. Accompanied by a signed agreement-on-publishing from all authors. A signature on the first page of the original paper or on the submission letter is accepted. In case one or more authors can not sign it, please state the reason(s) in the submission letter. In this case, the corresponding author assumes the responsibility. Electronic messages or their hardcopies with the agreement-on-publishing are accepted when sent from an electronic account unequivocally managed by the agreeing author; 2. The Associate Editor considered it adequate for peer reviewing. In this case, the corresponding author will receive an e-mail alert, along with instructions on how to pay the processing fee (BRL $ 50,00). Rejected papers will not be returned to the author(s). Papers published in Horticultura Brasileira have the following format: 1. Title: limited to 15 words. Avoid using scientific names, unless there is no common name in the idiom used in the paper; 2. Name(s) of author(s): Author(s) name(s) in full. Abbreviate only middle family names. Use superscript numbers to relate authors to addresses. Please refer the most recent issues of Horticultura Brasileira for format; 3. Address(es): Full name of the Institution and Department, if applicable, with post address and the author(s) e-mail address(es). Use superscript numbers to relate addresses to authors. Please refer the most recent issues of Horticultura Brasileira for format; 4. Abstract and keywords: abstract limited to 1,400 characters (excluding spaces). Select up to six keywords, starting with the scientific names of the organism(s) the study deals with. It is not necessary to repeat words that are already in the title; 5. Abstract, title and keywords in Portuguese: abstract, title and keywords in Portuguese should be adequate versions of their similar in English. Horticultura Brasileira will provide Portuguese versions for non-Portuguese speaking authors; 6. Introduction; 7. Material and Methods; 8. Results and Discussion; 9. Acknowledgements, when applicable; 10. References: authors are asked to not exceed 30 bibliographic references. Make sure that at least half of the references were published recently (up to 10 years). Exceptional cases can be considered, regarding that authors 389 cias bibliográficas, a maioria com publicação recente (inferior a 10 anos). Casos excepcionais serão considerados, desde que devidamente justificados na carta de submissão do trabalho. Todas as referências deverão ter sido citadas no texto. Evite a citação de resumos de congresso; 11. Figuras e Tabelas: o limite para cada categoria (figuras, tabelas e gráficos) é 3, com limite geral de 5. Verifique se figuras, tabelas e gráficos não estão redundantes. Este roteiro deverá ser utilizado para a seção Pesquisa. Para as demais seções veja padrão de apresentação nos artigos publicados nos últimos números de Horticultura Brasileira. Para maior detalhamento consulte os números mais recentes de Horticultura Brasileira, disponíveis também nos sítios eletrônicos www.scielo.br/hb e www.abhorticultura.com.br/Revista. As citações de artigos no texto deverão ser feitas conforme os exemplos: Resende & Costa (2005) ou (Resende & Costa, 2005). Quando houver mais de dois autores, utilize a expressão latina et alli, de forma abreviada, em itálico, como segue: Melo Filho et al. (2005) ou (Melo Filho et al., 2005). Quando houver mais de um artigo do(s) mesmo(s) autor(es), no mesmo ano, indicar por uma letra minúscula, logo após a data de publicação do trabalho, como segue: 2005a, 2005b. Quando houver mais de um artigo do(s) mesmo(s) autor(es), em anos diferentes, separar os anos por vírgula, como segue: (Inoue-Nagata et al., 2003, 2004) ou “...segundo Inoue-Nagata et al. (2003, 2004)...”. Quando vários trabalhos forem citados em série, utilize ordem cronológica de publicação. Na seção “Referências”, organize os trabalhos em ordem alfabética pelo sobrenome do primeiro autor. Quando houver mais de um trabalho citado cujos autores sejam exatamente os mesmos, utilize ordem cronológica de publicação. Utilize para a seção “Referências” o padrão internacional, conforme os exemplos: a) Periódico MADEIRA NR; TEIXEIRA JB; ARIMURA CT; JUNQUEIRA CS. 2005. Influência da concentração de BAP e AG3 no desenvolvimento in vitro de mandioquinha-salsa. Horticultura Brasileira 23: 982-985. b) Livro FILGUEIRA FAR. 2000. Novo manual de olericultura. Viçosa: UFV. 402p. c) Capítulo de livro FONTES EG; MELO, PE de. 1999. Avaliação de riscos na introdução no ambiente de plantas transgênicas. In: TORRES AC; CALDAS LS; BUSO JA (eds). Cultura de tecidos e transformação genética de plantas. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica/Embrapa Hortaliças. p. 815-843. d) Tese SILVA C. 1992. Herança da resistência à murcha de Phytophthora em pimentão na fase juvenil. Piracicaba: USP – ESALQ. 72p (Tese mestrado). e) Trabalhos completos apresentados em congressos (quando não incluídos em periódicos): Anais HIROCE R; CARVALHO AM; BATAGLIA OC; FURLANI PR; FURLANI AMC; SANTOS RR; GALLO JR. 1977. Composição mineral de frutos tropicais na colheita. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 4. Anais... Salvador: SBF. p. 357-364. 390 mention their reasons at the submission letter. Avoid citing conference abstracts; 11. Figures and Tables: the limit for tables, figures, and charts is 3 for each, with a total limit of 5. Exceptional cases can be considered, regarding that authors mention their reasons at the submission letter. Please, make sure that tables, figures, and charts are not redundant; This structure will be used for the Research section. For other sections, please refer to the most recent issues of Horticultura Brasileira, available also at www.scielo.br/hb e www.abhorticultura.com.br/Revista. Bibliographic references within the text should have the following format: Resende & Costa (2005) or (Resende & Costa, 2005). When there are more than two authors, use the Latin expression et alli in its reduced form, in italics, as follows: Melo Filho et al. (2005) or (Melo Filho et al., 2005). References to studies done by the same author in the same year should be noted in the text and in the list of References by the letters a, b, etc., as for example: 1997a, 1997b. In citations involving more than one paper from the same author(s) published in different years, separate years with commas: (Inoue-Nagata et al., 2003, 2004) or “...accordingly to Inoue-Nagata et al. (2003, 2004)...”. When citing papers in tandem in the text, sort them chronologically. In “References”, order citations alphabetically, according to first author’s family name, without numbering. When there is more than one paper from exactly the same authors, list them in chronological order. References should appear accordingly to the international format, as follows: a) Journal GARCIA-GARRIDO JM; OCAMPO JA. 2002. Regulation of the plant defense response in arbuscular mycorrhizal symbiosis. Journal of Experimental Botany 53: 1377-1386. b) Book BREWSTER JL. 1994. Onions and other vegetable alliums. Wallingford: CAB International. 236p. c) Chapter ATKINSON D. 2000. Root characteristics: why and what to measure? In: SMIT AL; BENGOUGH AG; ENGELS C; van NORDWIJK M; PELLERIN S; van de GEIJN SC (eds). Root methods: a handbook. Berlin: Springer-Verlag. p. 1-32. d) Thesis DORLAND E. 2004. Ecological restoration of heaths and matgrass swards: bottlenecks and solutions. Utrecht: Utrecht University. 86p (Ph.D. thesis). e) Full papers presented in conferences (when not included in referred journals) Proceedings HIROCE R; CARVALHO AM; BATAGLIA OC; FURLANI PR; FURLANI AMC; SANTOS RR; GALLO JR. 1977. Composição mineral de frutos tropicais na colheita. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 4. Anais... Salvador: SBF. p. 357-364. Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 CD-ROM AQUINO LA; PUIATTI M; PEREIRA PRG; PEREIRA FHF. 2004. Espaçamento e doses de N na produtividade e qualidade do repolho. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 44. Resumos... Campo Grande: SOB (CDROM). f) Trabalhos apresentados em meio eletrônico: Periódico KELLY R. 1996. Electronic publishing at APS: its not just online journalism. APS News Online. Disponível em http:/ /www.hps.org/hpsnews/19065.html. Acessado em 25 de novembro de 1998. Trabalhos completos apresentados em congresso SILVA RW; OLIVEIRA R. 1996. Os limites pedagógicos do paradigma de qualidade total na educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4. Anais eletrônicos... Recife: UFPe. Disponível em: http:// www.propesq.ufpe.br/anais/educ/ce04.htm. Acessado em 21 de janeiro de 1997. Sítios eletrônicos USDA - United States Department of Agriculture. 2004, 15 de novembro. World asparagus situation & outlook. Disponível em http://www.fas.usda.gov/ Em caso de dúvidas, entre em contato com a Comissão Editorial ou consulte os números mais recentes de Horticultura Brasileira. Processo de tramitação Os artigos serão submetidos à Comissão Editorial, que fará uma avaliação preliminar (escopo do trabalho, atendimento às normas de publicação, qualidade técnica e qualidade do texto). A decisão da Comissão Editorial (adequado para tramitação, ou não adequado) será comunicada ao autor de correspondência por via eletrônica. Caso sejam necessárias modificações, o(s) autor(es) poderão submeter uma nova versão para avaliação. Caso a tramitação seja aprovada, a Comissão Editorial encaminhará o trabalho a dois assessores ad hoc especialistas naquela área de pesquisa. Tão logo haja dois pareceres, o trabalho é enviado a um Editor Científico, também especialista, que emitirá seu parecer: (1) recomendado para publicação, (2) necessidade de alterações ou (3) não recomendado para publicação. Caso o trabalho seja recomendado ou não recomendado para publicação, será encaminhado ao Editor Associado. Caso sejam necessárias modificações, os autores produzirão uma nova versão que deverá ser enviada à Comissão Editorial. Esta, por sua vez, remeterá a nova versão ao Editor Científico para avaliação. O Editor Científico poderá recomendar ou não a nova versão. Em ambos os casos, o trabalho é remetido para o Editor Associado, que emitirá o parecer final. Cabe ao Editor Associado a responsabilidade pelo aceite ou rejeição do trabalho. Nenhuma alteração é incorporada ao trabalho sem a aprovação do(s) autor(es). Após o aceite em definitivo do trabalho, o autor de correspondência receberá uma cópia eletrônica da prova tipográfica, que deverá ser devolvida à Comissão Editorial em 48 horas. Nesta fase não serão aceitas modificações de conteúdo ou estilo. Alterações, adições, deleções e edições imHortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 CD-ROM AQUINO LA; PUIATTI M; PEREIRA PRG; PEREIRA FHF. 2004. Espaçamento e doses de N na produtividade e qualidade do repolho. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 44. Resumos... Campo Grande: SOB (CDROM). f) Papers published in electronic media Journal KELLY R. 1996. Electronic publishing at APS: its not just online journalism. APS News Online. Available at http:// www.hps.org/hpsnews/19065.html. Accessed in November 25, 1998. Full papers presented in conferences SILVA RW; OLIVEIRA R. 1996. Os limites pedagógicos do paradigma de qualidade total na educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4. Anais eletrônicos... Recife: UFPe. Available at http:// www.propesq.ufpe.br/anais/educ/ce04.htm. Accessed in January 21, 1997. Electronic Sites USDA - United States Department of Agriculture. 2004, November 15. World asparagus situation & outlook. Available at http://www.fas.usda.gov/ For further orientation, please contact the Editorial Board or refer to the most recent issues of Horticultura Brasileira. The reviewing process Manuscripts are submitted to the Editorial Board for a preliminary evaluation (scope, adherence to the publication guidelines, technical quality, and command of language). The Editorial Board decision (adequate for reviewing, not adequate) will be e-mailed to the correspondence author. If modifications are needed, the author may submit a new version. If the manuscript is adequate for reviewing, the Editorial Board forwards it to two ad hoc reviewers of the specific research area. As soon as they evaluate the manuscript, it is sent to a related Scientific Editor. The Scientific Editor analyzes the manuscript and forwards it back to the Editorial Board, (1) recommending it for publication, (2) suggesting modifications or (3) do not recommending for publication. If recommended for publication or not, the manuscript is reviewed by the Associate Editor, who holds the responsibility for the final decision. If modifications are suggested, the manuscript is returned to the author(s), who, based on the suggestions, produces a new version. Following, the Scientific Editor checks the new version and recommend it or not for publication. In both cases, it is sent to the Associate Editor, for the final decision. No modifications are incorporated to the manuscript without the approval of the author(s). Once the paper is accepted, an electronic copy of the galley proof is sent to the correspondence author who should make any necessary corrections and send it back within 48 hours. Extensive text corrections, whose format and content have already been approved for publication, will not be accepted. Alterations, additions, deletions and editing imply that a new examination of the manuscript will be made by the Editorial Board. Authors are held responsible for any errors and 391 plicarão em novo exame do trabalho pela Comissão Editorial. Erros e omissões presentes no texto da prova tipográfica corrigido e devolvido à Comissão Editorial são de inteira responsabilidade do(s) autor(es). Horticultura Brasileira não adota a política de distribuição de separatas. Os originais devem ser enviados para: Horticultura Brasileira Caixa Postal 190 70.359-970 Brasília – DF Tel.: (0xx61) 3385-9088/9049/9051 Fax: (0xx61) 3556-5744 E-mail: [email protected] Assuntos relacionados a mudanças de endereço, filiação à Associação Brasileira de Horticultura (ABH), pagamento de anuidade, devem ser encaminhados à Diretoria da ABH, no seguinte endereço: Associação Brasileira de Horticultura IAC - Centro de Horticultura Caixa Postal 28 13.001-970 Campinas – SP Tel./Fax: (0xx19) 3241 5188 ramal 374 E-mail: [email protected] 392 omissions present in the text of the corrected galley proof that has been returned to the Editorial Board. No offprint is supplied. Manuscripts should be addressed to: Horticultura Brasileira Caixa Postal 190 70359-970 Brasília – DF Brazil Tel.: 00 55 (61) 3385-9049/9051/9088 Fax: 00 55 (61) 3556-5744 E-mail: [email protected] Change in address, membership in the Brazilian Association for Horticultural Science (ABH) and payment of fees related to the ABH should be addressed to: Associação Brasileira de Horticultura IAC - Centro de Horticultura Caixa Postal 28 13.001-970 Campinas – SP Brazil Tel./Fax: 00 55 (19) 3241-5188 extension 374 E-mail: [email protected] Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 Hortaliças não-convencionais Muitas plantas denominadas “matos”, “daninhas”, “invasoras” ou “inços” são espécies com importância ecológica e significativo potencial econômico como alimentícias. Entre essas plantas, aquelas classificadas como hortaliças são as mais negligenciadas. Nos países tropicais e subtropicais, detentores da maior biodiversidade, a falta de pesquisa a longo prazo, divulgação, valorização e valoração das espécies nativas é um contra-senso à tão citada e defendida riqueza biológica. O uso e a valorização das hortaliças não-convencionais (HNC) são ainda menores quando comparados às frutas não-convencionais, que têm o apelo da cor, doçura e suculência. Ainda assim, algumas espécies de HNC fazem parte da culinária regional. Entre estas destacam-se, na região Norte do Brasil, o jambu (Acmella oleracea (L.) R.K.Jansen Asteraceae), componente essencial do tacacá, prato típico da culinária amazônica, e a chicóriade-caboclo (Eryngium foetidum L. - Apiaceae), já cultivada e comercializada como um condimento essencial em alguns pratos. No Sul do Brasil há várias espécies deste gênero merecedoras de pesquisas (e.g., E. nudicaule Lam., E. horridum Malme e E. pandanifolium Cham. & Schlecht.). A primeira é similar à espécie cultivada. Das duas últimas podem ser consumidas as bases caulinares e os tenros escapos das inflorescências jovens cozidos, gratinados ou em picles. Merece menção também o orapro-nóbis ou carne-de-pobre (Pereskia aculeata Mill.Cactaceae; capa, imagem superior esquerda), mais usado na culinária mineira. Mesmo com o Festival do Ora-Pro-Nóbis realizado em Minas Gerais e muitos trabalhos publicados, ainda é grande o potencial inexplorado desta espécie pela indústria alimentícia. O ora-pro-nóbis pertence a um dos dois gêneros das cactáceas que apresenta folhas verdadeiras. Muitas espécies desta família, além de produtoras de frutos comestíveis, podem ter seus cladódios usados como verdura, com diferentes modos e opções de preparo. O uso das Cactaceae é comum no México, como o nopal (Nopalea cochenillifera (L.) Lyons), espécie também cultivada no Brasil como ornamental e forrageira e que pode ser consumida como verdura e sucos verdes. Entre as hortaliças subutilizadas, destacam-se as taiobas, taiás, mangarás e mangaritos (Xanthosoma spp. - Araceae). Deste gênero nativo salienta-se a taioba (X. sagittifolium (L.) Schott; capa, imagem inferior direita) que, além das folhas, produz grande quantidade de tubérculos amiláceos, saborosos quando consumidos cozidos, fritos, ensopados ou transformados em pães e bolos. Entre as Dioscoreaceae nativas algumas também podem ter seus tubérculos consumidos, e.g., a caratinga (Dioscorea dodecaneura Vell.). No Sul do país há uma hortaliça tuberosa, de uso local consagrado e com alto valor de mercado: Tropaeolum pentaphyllum Lam. – Tropaeolaceae. (Capa, imagens no canto inferior esquerdo). Esta espécie possui diversos nomes populares: cinco-chagas, sapatinho-do-diabo, sapatinhode-iaiá, chagas-miúdas, falsocrem, crem-trepador, crem-domato e capuchinha, entre outros. Hortic. bras., v. 24, n. 3, jul.-set. 2006 No entanto, os mais difundidos no comércio são batata-crem ou crem. Os tubérculos, que chegam a atingir mais de 500 g, apresentam casca suberosa e fissurada e região interna branca, com odor forte e sabor pungente. Ralados e conservados em vinagre são usados como condimento em diferentes pratos a base de carnes e sopas. As folhas e flores cruas em saladas ou refogadas são muito saborosas e atrativas, mas com uso pouco conhecido. O mesmo ocorrendo com os frutos picantes que podem ser consumidos em conservas. No entanto, apesar do uso tradicional como medicinal e condimentar e do potencial para cultivo em maior escala e domesticação, pouco se conhece sobre sua biologia e aspectos fitotécnicos. Outra hortaliça diferenciada é um parente silvestre do mamoeiro, com uso regional consagrado e grande potencial econômico. É a espécie Vasconcella quercifolia A. St.-Hil – Caricaceae (Capa, imagem superior direita), mais conhecida pelo sinônimo Carica quercifolia (A. St.-Hil.) Hieron. É chamada de jaracatiá, coco-depobre, pau-de-coco, mamute, mamãozinho-do-mato e mamãobrabo. No Rio Grande do Sul é elaborado e comercializado um doce sob o nome de doce-dejaracatiá, doce-do-pau ou pau-ralado, denominações advindas do fato de que é elaborado com a medula ralada dos ramos e tronco. Como a espécie apresenta crescimento rápido e ramificação, a matéria-prima para a confecção do doce é obtida dos ramos mais grossos podados, não precisando eliminar as árvores. Os frutos verdes ainda são umas das melhores fontes de papaína, uma enzima proteolítica usada na indústria alimentícia e farmacológica. As espécies salientadas permitem vislumbrar a enorme disponibilidade alimentar a ser pesquisada e explorada. No entanto o padrão alimentar está cada vez mais globalizado. Nos alimentamos com nada mais que 10 a 20 espécies por dia, considerando todas as refeições. A média anual não ultrapassa 100 espécies e, em geral, 52% das espécies utilizadas na alimentação mundial têm origem na Eurásia. Esta especialização alimentar e a baixa sazonalidade podem restringir a diversidade de nutrientes ingeridos, especialmente oligoelementos e substâncias antioxidantes. Neste aspecto, as hortaliças (folhosas, tuberosas, floríferas), especialmente as HNC, contribuem sobremaneira com micronutrientes vitais para o correto funcionamento do organismo humano, bem como com altos teores de fibra alimentar, itens presentes em baixíssimo teor em alguns alimentos industrializados de amplo consumo. A riqueza de HNC do Brasil é imensa. Neste artigo foram feitas apenas algumas considerações gerais sobre umas poucas espécies, com o intuito tão somente de chamar a atenção para a biodiversidade brasileira, sem a mínima pretensão de listar as espécies-chave. Cabe frisar mais uma vez a necessidade de pesquisas sobre caracterização e conservação de recursos genéticos, melhoramento, sistemas de cultivo e processamento agroindustrial das espécies de HNC, especialmente as nativas. O fomento a linhas de pesquisas duradouras voltadas para o estudo das HNC é urgente, para se conhecer melhor, produzir e conservar esta fitodiversidade. Do contrário, daqui a dezenas de anos nossas espécies, aquelas não extintas ou com reduzida variabilidade genética pela destruição dos hábitats, ainda estarão precedidas das palavras “potenciais” ou “promissoras”. Valdely F. Kinupp; Ingrid B.I. de Barros - Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Faculdade de Agronomia, PPG Fitotecnia, Depto. de Horticultura e Silvicultura, Av. Bento Gonçalves, 7.712, Agronomia, 91.540-000 Porto Alegre-RS; [email protected]; [email protected]) 393