1. Introdução - ABEP - Associação Brasileira de Estudos

Propaganda
Práticas Sexuais e Reprodutivas de Prostitutas da “ Zona Grande” de Belo
Horizonte e a Prevenção de AIDS e outras DSTs.
Alessandra Sampaio Chacham1
Mônica Bara Maia2
Giovanni Mirelles Alvarenga3
Resumo
Neste trabalho apresentamos os resultados de uma survey feita com 171 prostitutas
que trabalhavam na chamada “zona grande” de Belo Horizonte em 1999. O objetivo
principal desta pesquisa foi examinar as práticas sexuais e reprodutivas das mulheres
entrevistadas com ênfase em questões sobre o nível de informação destas mulheres
sobre AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e suas práticas em
relação ao uso e tratamento destas e também suas atitudes em relação à AIDS.
Nossos resultados preliminares indicam que a maior parte delas é razoavelmente
informada sobre AIDS e DSTs, e sobre como prevenir essas doenças. Quase a
totalidade delas afirma usar sempre camisinha com clientes durante a penetração
vaginal e sexos oral e anal. O maior problema encontrado em relação à prevenção de
AIDS, DSTs e gravidezes indesejadas foi a falta do uso de camisinha com parceiros
fixos. Em torno de 60% das entrevistadas declararam não usar camisinha com seus
parceiros regulares em geral por considerarem a camisinha uma barreira à intimidade.
1. Introdução:
Este trabalho apresenta os resultados preliminares de uma pesquisa sobre
práticas sexuais e reprodutivas de um grupo de prostitutas que trabalhavam na
chamada “zona grande” da cidade de Belo Horizonte, durante o ano de 1999. Essa
pesquisa dá continuidade a duas pesquisas anteriores, realizadas pelo grupo Musa
(Mulher e Saúde) em 1995 e 1997, que procuravam medir o nível de conhecimento
das mulheres entrevistadas sobre AIDS e DSTs, suas práticas em relação à prevenção
e tratamento destas doenças e suas atitudes em relação à AIDS. Com estas questões,
também se procurava avaliar o impacto do trabalho desenvolvido por este grupo com
as prostitutas dessa região em relação a educação em saúde reprodutiva e prevenção
de AIDS e DSTs. Nesta pesquisa em particular também procuramos avaliar a
influência do uso de drogas (legais e ilegais) e da violência de gênero na vida destas
1
Pesquisadora, Grupo Musa – Mulher e Saúde (Belo Horizonte- MG).
Diretora, Grupo Musa – Mulher e Saúde (Belo Horizonte- MG).
3
Psicólogo, Grupo Musa – Mulher e Saúde (Belo Horizonte- MG).
2
mulheres, principalmente no sentido de que tanto o uso de drogas quanto a ameaça de
violência poderia induzir ao não uso de camisinha. Além disto, essas pesquisas
buscavam traçar um perfil sócio-econômico e demográfico das mulheres que
constituíam o público-alvo do projeto educacional desenvolvido pelo Musa.
O projeto do Musa, financiado pelo Ministério da Saúde e Organizações NãoGovernamentais internacionais, prevê basicamente o treinamento de prostitutas, ou de
mulheres que trabalhavam como prostitutas, como educadoras e agentes de saúde.
Elas são treinadas (em um processo contínuo, com encontros semanais) para educar e
informar outras mulheres que trabalham como prostitutas sobre saúde sexual e
reprodutiva e como prevenir AIDS, DSTs, gravidezes indesejadas e também sobre
prevenção de câncer cervical e uterino e nos seios. Elas são pagas para fazerem este
trabalho e frequentarem as reuniões. Elas distribuem material informativo sobre AIDS
e DSTs, assim como cartilhas e camisinhas recebidas através do Ministério da Saúde e
das Secretarias de Saúde.
A associação de prostitutas com a AIDS sempre foi controversa. Inicialmente
a maior parte dos programas de prevenção tratava prostitutas como potenciais vetores
da doença, uma ameaça à saúde dos homens e por extensão à segurança da família
(Downe,1997:1576; Campbell, 1991:1368). Este enfoque foi se deslocando, mais
recentemente, para uma visão da prostituta como vítima, exposta ao risco de infecção
pelo seus clientes, que recusam o uso da camisinha, muita vezes usando de violência
contra elas (Downe,1997, Sinha, 1999). Por outro lado, estudos indicam o sucesso de
vários programas de prevenção de AIDS e DSTs dirigidos para prostitutas,
pricipalmente de programas que fazem uso de prostitutas como peer-educators,
programas estes que elevaram a incidência do uso de camisinhas entre elas (Campbell,
1991).
No entanto, ao mesmo tempo que estes estudos indicam um aumento na
capacidade dessas mulheres de negociarem com seus clientes o uso da camisinha, eles
também mostram que elas tendem a não usar camisinha com seus namorados ou
parceiro fixos (Campbell, 1991, Caravano, 1991). Para Giffin (1999:284) isto é uma
indicação clara de que o uso da camisinha não é simplesmente uma questão de
conhecimento individual e atitudes em relação a AIDS e outras DSTs, e que está
ligado não somente à hierarquia de gênero mas também ao significado da relação.
Neste sentido, prostitutas vivem os mesmos dilemas que outras mulheres em
relacionamentos heterossexuais encontram quando tentam conciliar uma prática
sexual dentro dos principíos do “sexo seguro” no contexto de uma relação desigual
não somente em termos de poder quanto nos sentidos atribuídos aos relacionamento
sexual e afetivo.
Giffen (1999) observa que, quando as campanhas de prevenção da AIDS se
focalizam somente no “empoderamento” das mulheres para negociarem o uso de
camisinha com seus parceiros, elas ignoram inteiramente as diferenças de gênero nos
sentidos atribuídos à sexualidade e às relações sexuais, mais particularmente à
importância que as mulheres atribuem ao lado afetivo, ao contexto relacional da
sexualidade. Deste modo, segundo Giffen, (1999): “For prevention attempts whose
focus is limited to the ‘safe sex’ practices recommended in AIDS research, these
females values are at the best ignored and at worst considered as inconvenient barriers
to prevention of STDs since they are symbolically opposed to the significance of
condoms: while unprotected sex signifies trust and intimacy, condoms symbolize
multiple partners, lack of trust and lack of intimacy” (P.284). O impacto desta
diferença de gênero está entre algumas outras questões a serem exploradas na nossa
análise dos dados, apresentada a seguir.
2. O Universo da Pesquisa
O quadrilátero formado pelas ruas Guaicurus, Caetés, São Paulo e Rio de
Janeiro, sempre conteve a chamada “zona de baixo meretrício” em Belo Horizonte, ou
“zona grande”, desde dos tempos da fundação da cidade. Hoje, cerca de 15 pequenos
hotéis ou pensões (este número flutua devido ao frequente fechamento e abertura de
estabelecimentos) funcionam nesta região abrigando mais de mil mulheres que
atendem seus clientes durante todas as horas do dia.
Estes hotéis ou pensões
funcionam basicamente seguindo o mesmo esquema: a mulher paga uma diária fixa,
que pode ser por um turno ou dois, de oito horas cada, ou pelo dia todo, recebe seus
clientes no quarto e negocia com eles os serviços a serem prestados e a quantia a ser
paga. Por vezes o hotel fixa um preço mínimo pelo programa, que pode ser 10 ou 5
reais, mas não há como realmente controlar a aplicação desta tabela já que o cliente
paga diretamente à mulher. A mulher atende a quantos clientes quiser ou necessitar.
Após pagar a diária o restante pertence à mulher, sendo a diária o limite da
relacionamento da mulher com o hotel, apesar de ser comum a mulher ficar
endividada com hotéis, e também ser obrigada a comprar camisinhas dos hotéis.
As mulheres ficam nas portas de seus quartos, esperando seus clientes, em
diferentes estágios de nudez. Algumas ficam completamente nuas, mas em geral elas
usam calcinha e sutiã, por vezes só calcinha ou só sutiã, e às vezem usam meias, ou
lingerie provocantes. No período da pesquisa, o tema “tiazinha” era popular entre as
mulheres que trabalhavam nesta região. Os homens passam pelos quartos e quando se
decidem por alguma mulher negociam com esta na porta e, se chegarem a um acordo,
entram no quarto e fecham a porta. A maioria dos hotéis possue pia e bidê dentro dos
quartos para que as mulheres possam se limpar entre clientes, mas em alguns mais
antigos as mulheres ainda fazem uso de bacias. Em todos hotéis os quartos são muito
fechados, quase sem ventilação e com cortinas pesadas, e muitas mulheres fumam
dentro dos quartos, o que torna o ambiente ainda mais insalubre. Alergias e sinusites
são problemas comuns entre elas. Todos os hotéis possuem algum funcionário de
segurança, principalmente na porta, para verificar a identidade de todos que entram lá.
Menores de 18 anos não podem entrar nem como clientes nem como para trabalhar e
aparentemente é uma norma seguida à risca pelos gerentes dos hotéis, pois é um dos
poucos ítens que a polícia fiscaliza e pode levar ao fechamento da casa.
Obviamente a situação destes hotéis é semi-legal, na medida em que
prostituição não é ilegal no Brasil mas solicitação e proxenetismo são, mas geralmente
a polícia não interfere no funcionamento dos hotéis a menos que sejam chamados
devido a alguma ocorrência, como um cliente que se recusa a pagar ou que ataca uma
mulher. No entanto, a maior fonte se segurança para essas mulheres são suas colegas:
Se uma grita dentro de um quarto todas se dirigem ao local para verificar o que está
acontecendo. Isto não impede que ocorra assasinatos ou tentativas e também estupros.
Apesar disso, a incidência de violência contra estas mulheres parece ser bem menor
do que entre prostitutas que trabalham na rua. Algumas mulheres de fora da cidade
citaram a maior segurança destes hotéis e a ausência de perseguição policial como um
dos maiores atrativos para elas virem trabalhar em Belo Horizonte. Muitas mulheres
também observaram que é mais fácil para elas demandarem que seus clientes usem
camisinha quando trabalham nestes hotéis do que quando trabalham na rua.
3.Metodologia
A pesquisa foi feita utilizando um questionário com perguntas fechadas. O
questionário foi construído a partir dos questionários utilizados em pesquisas
anteriores e da experiência dos pesquisadores com o objeto da pesquisa. Algumas
questões seguiram o modelo de questionários utilizados em pesquisas tipo DHS,
principalmente quanto à parte referente a saúde reprodutiva (PNDS-96). Apesar do
questionário ser composto por perguntas com respostas fechadas, as observações
espontâneas das entrevistadas sobre as perguntas foram anotadas pelos entrevistadores
e também serviram para substanciar a nossa análise.
A amostragem foi feita por conveniência, as mulheres sendo entrevistadas em
seu local de trabalhos, os hotéis. Somente foram entrevistadas as mulheres que
estavam disponíveis no momento e que concordavam em nos receber. Como
encorajamento, camisinhas foram oferecidas em troca de entrevistas, mas na maioria
das vezes as mulheres aceitavam serem entrevistadas antes de serem oferecidas
camisinhas. Depois das entrevistas todas recebiam camisinhas como forma de
agradecimento e como recompensa pelo tempo perdido. As entrevistas foram feitas
por entrevistadores treinados e supervisionados pelos pesquisadores principais. As
entrevistas do pré-teste foram feitas pelos pesquisadores principais e o questionário
foi modificado diversas vezes antes de se chegar à versão definitiva (os questionários
do pré-teste foram descartados).
Procuramos entrevistar cerca de 10% das mulheres que trabalhavam em cada
hotel. Anteriormente à pesquisa perguntamos a cada gerente de hotel quanto quartos e
quantas mulheres trabalhavam ali em cada turno. Calculamos o número máximo de
mulheres que trabalhariam em cada hotel e entrevistamos 10% deste número, indo em
geral um pouco além, com um total de 171 mulheres entrevistadas ao final. Oito
outras mulheres foram entrevistadas na região do Bonfim (outra região tradicional de
prostituição na cidade). Mas este número era insuficiente para uma análise estatística
e dadas às particularidades das diferentes diferentes zonas (grande e Bonfim),
consideramos melhor analisar separadamente as entrevistas feitas na zona grande.
Apesar da amostragem não ter sido estratificada por idade ou por nenhuma
outra característica, e não ter sido estritamente aleatória, o grande número de mulheres
entrevistadas (em relação a população local) e a variedade obtida deixa-nos confiantes
que esta é uma amostra representativa da população–alvo da pesquisa, não havendo
nenhuma indicação de que as mulheres entrevistadas difiram significativamente das
não-entrevistadas. Tivemos o cuidado de procurar mulheres de diferentes turnos e em
diferentes dias do mês (dada a flutuação da população local) e tivemos um índice
baixo de recusas. A alegação principal das que recusavam é que elas já tinham
respondido a muitas entrevistas antes. O consentimento informado era obtido de cada
uma delas antes de começar a pesquisa e explicações sobre quem erámos, quem nos
financiava e quais eram nossos objetivos com a pesquisa foram dadas a todas assim
como a garantia de sigilo e confidencialidade. Somente o primeiro nome que a mulher
dava era anotado e utilizado durante a entrevista.
Fizemos uma análise estatística basicamente descritiva dos dados obtidos, a
partir de frequências e correlações, usando do programa de análise estatística SPSS,
versão 9.
4. Resultados:
4.1. Características sócio-econômicas e demográficas das mulheres entrevistadas:
As mulheres entrevistadas eram em média relativamente jovens, pardas,
solteiras, com baixo nível de escolaridade, nascidas no interior, de famílias pobres,
mas não destituídas. A idade média das mulheres entrevistadas encontrada foi de 30
anos, com a mínima de 18 anos e a máxima de 54 anos. Cerca de 75% das mulheres
da amostra tinha menos de 35 anos. 61% das entrevistadas se descreveram como
pardas ou morenas, 26% se descreveram como brancas e 9% como negras. A maioria
não chegou completar o ginásio mas 30% delas tinha segundo grau incompleto ou
mais. A maior parte delas nasceu no interior, seja de Minas Gerais ou outro estado,
77% já se mudou pelo menos uma vez e quase a metade já “batalhou” (trabalhou em
prostituição) em outras cidades e/ou capitais. Enquanto que a maioria das
entrevistadas mora na região metropolitana da grande Belo Horizonte, 35% mora fora
da cidade, no interior ou mesmo outros estados e somente passam alguns dias do mês
ou as vezes alguns meses por ano na cidade, apenas para trabalhar. Destas, 66% mora
no próprio hotel onde trabalha durante sua estada em Belo Horizonte. Entre as
mulheres que residem em Belo Horizonte, 12% também mora no hotel onde trabalha.
A maioria é solteira, 11% declararam estarem casadas ou em união e somente 42%
delas tinha parceiro fixo no momento da entrevista. Os relacionamentos tinham em
média 1,5 anos, com um máximo de 10 anos. Entre os parceiros, 26% estavam
desempregados no momento da entrevista.
Em relação às suas atividades profissionais, mais especificamente como
exercem a prostituição, as entrevistadas declararam ter começado a batalhar com 22
anos em média, estando a mais ou menos a 5 anos nesta ocupação. 57% das
entrevistadas já parou ao menos uma vez e entre elas 60% já pararam mais de uma
vez. A razão mais comum apresentada para parar foi “para descansar”, seguida por ter
arranjado outro emprego e por ter se casado ou entrado em união. Em média elas
trabalhavam 6 dias por semana, tanto em uma semana boa (em geral no início do mês
quando os clientes recebem seu pagamento) quanto em uma semana ruim e em média
trabalham 9 horas por dia (com exceção das que moram no hotel e tendem a trabalhar
durante todo o horário de funcionamento destes, parando só para dormir. Em um dia
fraco elas declararam atender em média 8 clientes sendo que em um dia bom elas
podem chegar até 20. A renda diária declarada por elas foi de 80 reais em um dia bom
e de 20 reais em um dia ruim. O programa mais comum é sexo oral com mais 3
posições com preço que varia de 5 a 10 reais, embora as mulheres admitam que em
um dia ruim elas aceitam até 3 reais e às vezes vales refeição como pagamento.
Normalmente as mulheres tentam gastar o menor tempo posível com cada cliente,
fazendo o possível para que o cliente chegue ao orgasmo ainda durante o sexo oral.
Outros programas podem demoram mais tempo e elas cobram mais. Entre as que
aceitam fazer sexo anal, o preço médio do programa é 40 reais. Sexo usando consolo
(pênis de borracha) também é mais caro. Muitas declararam que é comum receberem
clientes oferecendo mais dinheiro para fazer sexo sem camisinha. Segundo as
entrevistadas, o programa mais solicitado fora do rotineiro é o sexo anal, seguido por
sexo sem camisinha e por sexo anal usando o consolo no cliente. Quase 90% delas só
trabalha em um lugar e não exerce nenhuma outra atividade profissional. As que tem
outras atividades em geral vendem roupas e cosméticos para as colegas de trabalho.
4.2. Práticas sexuais e história reprodutiva
A idade média de 16 anos na primeira relação sexual entre as mulheres
entrevistadas é significativamente mais baixa do que a idade média de 19,5 anos para
as mulheres brasileiras encontrada pela PNDS-96. As mulheres da nossa amostra
começaram a ter relações sexuais em média 3,5 anos mais cedo que a média das
mulheres brasileiras. A proporção de mulheres na nossa pesquisa que teve a primeira
relação até os 14 anos (o que significa tecnicamente um estupro) também é
relativamente bem alta: 26% das entrevistadas teve sua primeira relação com 14 anos
ou menos, contra 11% entre a população em geral. Outro dado que chama atenção é
que 31% das entrevistadas declararam que não estavam interessadas em ter, ou que
não sabiam se queriam ter, sua primeira relação sexual.
Mais de 80% delas já ficou grávida ao menos uma vez e entre elas quase 80%
ficou grávida mais de uma vez. Entre as entrevistadas 70% tem filhos vivos, em média
1,9 filhos, sendo que quase 30% das que são mães não moram com os filhos. Um
número relativamente alto declarou ter tido abortos espontâneos e/ou natimortos (25
mulheres declararam ao menos um aborto espontâneo, 19 ter tido natimortos e 17
declararam ter perdido nascido vivo), fenômeno que pode indicar uma alta prevalência
de DST e outros problemas de saúde entre as entrevistadas (devido a relação entre
DST e problemas como infecções urinárias, com abortamento e complicações na
gravidez).
Entre as mulheres que já tinham ficado grávidas, quase 30% admitiram já ter
provocado um aborto, em média dois, sendo que 44% delas utilizou Citotec para
induzir o aborto. Tanto a última gravidez quanto o último aborto provocado ocorreram
em média há 5 anos. Em 86% dos casos a mulher declarou que o pai de seu filho ou
filhos era o parceiro fixo, dado que parece refletir o fato de que 62,5% admitiram que
nunca ou quase nunca usavam camisinha com seus parceiros. Outro dado interessante
é que enquanto praticamente 99% delas afirmaram usar camisinhas com clientes,
mesmo assim, 11% admitiram que ficaram grávidas de clientes e 2% não sabiam
quem era o pai. Por outro lado este dado também pode indicar uma alteração no
comportamento das mulheres, ocorrida nos cinco últimos anos, que pode ser atribuído
a influência das campanhas de prevenção de AIDS.
Outra prática que pode significar um possível problema de saúde para estas
mulheres é o costume de 43% delas esconderem a menstruação dos clientes usando
algodão inserido da vagina, o que cria um ambiente propício para diversos tipos de
infecções. Entre as mulheres entrevistadas 15% usam a pílula anticoncepcional para
não menstruar, e o restante disse que não trabalha durante este período.
Em relação ao uso de contraceptivos, 70% delas usam ou camisinha ou pílula,
sendo a camisinha o método mais usado por elas, seguida pela pílula. Uma proporção
relativamente pequena de mulheres (em comparação com a população como um todo)
está esterilizada, mas deve se levar em consideração o fato de ser um grupo
relativamente jovem. O mix de métodos já usados por elas é bem mais diverso e a
predominância do uso da camisinha é muito superior ao da população como um todo,
fato que obviamente reflete a maior experiência e treinamento do uso do preservativo.
Quadro 1: Métodos contraceptivos utilizados pelas mulheres entrevistadas
Método Contraceptivo
Proporção de mulheres que Proporção de mulheres que
já utilizaram o método
utilizam o método*
Pílula anticoncepcional
74%
33%
Ligação Tubária
7,8%
13,5%
Camisinha masculina
49%
38%
DIU
8%
2%
Diafragma
5%
0.6%
Injeções
22%
4%
Tabela/abstinência/coito
18%
0
interrompido
Camisinha feminina
2,4%
0
* 8% não usa nenhum método contraceptivo atualmente.
4.3. Saúde Sexual e Reprodutiva
Entre as entrevistadas, 96% já foi pela menos uma vez a um médico
ginecologista, sendo que 92% delas teve ao menos uma consulta nos últimos 12
meses. Entre estas, 47% usaram o serviço público de saúde e 48% usaram algum
serviço particular de saúde (21% tem algum tipo de plano/seguro privado); 71%
declararam ter feito o exame papanicolau durante a última consulta.
Quando perguntadas sobre as DSTs que conheciam, 79% mencionaram
espontâneamente gonorréia, 63% a AIDS, 57% a sífilis, 44% citaram cancro mole,
37% o HPV, 16% a herpes, 7% mencionaram chato e fungos. Quanto a prevenção,
95% declararam que o uso de camisinha é a melhor forma de se evitar doenças
sexualmente transmissíveis. O mesmo número afirmou que usar camisinhas é o que
elas fazem para prevenir DSTs (25% delas mencionaram que, além de usar camisinha,
selecionam os parceiros e/ou vão ao médico como forma de prevenir DSTs). Somente
16% das entrevistadas admitiram ter tido alguma DST, o que é um número abaixo do
que seria esperado. Uma explicação possível para este baixo índice seria que a
contaminação por DST pode estar diminuíndo devido ao maior uso de camisinhas.
Outra possibilidade seria que elas omitiram ou não diagnosticaram as DSTs
corretamente. O fato de que 33% declarou ter tido algum sintoma típico de DST nos
últimos 12 meses como coceira, corrimento, dor, ardência ao urinar, é indicativo de
subdeclaração. Entre as que disseram ter tido alguma DST, metade declarou ter tido
gonorréia. Todas se trataram, sendo que duas se auto-medicaram. Somente duas não
informaram o parceiro sobre a doença. De acordo com as restantes, o parceiro também
se tratou. A maioria delas (57%) procurou médicos particulares para se tratarem.
4.4. AIDS: Conhecimento, atitudes e práticas
De acordo com nossos resultados, nesta amostra, as campanhas sobre
prevenção de AIDS, sejam na mídia ou dirigidas especificamente para prostitutas,
parecem atingir seu alvo, no sentido em que praticamente todas afirmam usar
camisinhas com seus clientes. As entrevistadas demonstram ter um razoável
conhecimento sobre a AIDS e os meios de transmissão e prevenção (ver quadro 2
abaixo), conhecimento este obtido principalmente através de campanhas feitas na
mídia. Entretanto, mais da metade (57%) receberam informação de cartilhas
distribuídas pelo governo ou NGOs, sendo que 35% recebeu informação de monitoras
e cartilhas do Musa. A maioria (81%) afirmou que mudou seu comportamento após
receber mais informação sobre a AIDS que a definem como uma doença incurável e
que leva à morte. Questões um pouco mais técnicas sobre a AIDS recebem menos
respostas corretas. Por exemplo, só 29% sabem o que significa soro-positivo, e muitas
confundem ser portador do vírus HIV com ter AIDS, ou não sabem o que significa.
No entanto, 95% delas sabem que uma pessoa pode parecer saudável e ter o vírus da
AIDS e que mulheres esterilizadas têm de se proteger da AIDS. Poucas fizeram
afirmações errôneas como, por exemplo, que contrae-se AIDS exclusivamente em
relações homossexuais, ou em tampa de vaso, ou alicate de unha. A maioria afirmou
que para prevenir AIDS tem de se usar camisinha, apesar de 30% não saber que sexo
seguro significa principalmente usar camisinhas. Formas de contaminação como
seringas, transfusão de sangue ou amamentação foram significantemente menos
lembradas, assim como outras formas de prevenção. Quase todas (95%) sabem que se
diagnostica a presença do vírus através de exames de sangue, mas praticamente um
quarto delas nunca fez um exame, em geral por medo de ter um resultado positivo. A
maioria sabe que receber um exame negativo significa que ainda se pode pegar o vírus
ou que a pessoa pode ter se contaminado e ainda não ter desenvolvido os anticorpos.
A maior parte conhece alguém com AIDS e quase todas declararam que se
relacionariam ou cuidariam de alguém com AIDS, apesar de que 95% se recusariam a
ter relações sexuais com uma pessoa com AIDS. Para a maioria (54%) uma mãe
grávida sempre passa o vírus para o filho, mas em relação ao aborto estão divididas:
quase a metade acha que a mãe deve abortar porque a criança pode nascer doente e o
mesmo número acha que a mãe não deve abortar, pois a criança pode nascer saúdavel
e/ou aborto é crime/pecado.
Quadro 2: AIDS: Conhecimento, Atitudes e Práticas
Conhecimento,
Respostas dadas pelas mulheres entrevistadas:
(em porcentagens)
Atitudes e Práticas
sobre a AIDS:
AIDS é
Segundo 82,5% uma doença que não tem cura e que leva a morte
Principais fontes de
94% televisão, 74% rádio, 73% jornais, 72,5% cartazes, 68%
informações sobre a
revistas, 59% amigas/colegas, 58% posto de saúde, 57%
AIDS
cartilhas, 48% palestras, 35% cartilha do Musa, 35% monitoras
do Musa.
Onde assistiu
24% assistiu palestras promovidas por Secretarias de Saúde,
palestras
29% assistiram palestras em escolas.
Após a AIDS mudou 81% declararam que sim (17,5% falaram já se cuidavam antes)
Como mudou: 54,4% passaram a usar camisinha (o resto
seu comportamento?
declarou que já usava antes).
Como se pega AIDS? 66% citaram relação sexual s/ camisinha, 38% só relação sexual,
(resposta espontânea) 40% mencionaram sexo oral, 23% sexo anal, 44% seringa
contaminada, 22% sangue contaminado e 28% recebendo
sangue.
Como prevenir AIDS 98,2% mencionaram usar camisinha, 30% usar agulhas
(resposta espontânea) descartáveis, 23% cuidado com transfusão de sangue, 8%
escolher parceiros, 7% ter parceiro fixo, 5% nao ser promíscuo e
3,5% evitar sexo anal.
O que é sexo seguro? Para 70% significa usar camisinha
AIDS tem tratamento 70% responderam que sim
AIDS tem cura
91% responderam que não
Sabe o que é HIV?
Sabe o que é soropositivo
Como se faz para
saber se tem o vírus?
Porque nunca se
testou
Um teste HIVsignifica (mais de
uma resposta)
Quem tem HIV tem
AIDS?
Uma pessoas pode
parecer saudável e ter
o vírus?
Uma mulher
laqueada:
Conhece alguém com
AIDS
Quem
Relação social com
pessoa com AIDS
Relação sexual com
pessoas com AIDS
Cuidaria de alguém
com AIDS?
Uma mulher grávida
HIV+
Uma mulher grávida
HIV+
Porque deve fazer
aborto:
Porque não deve fazer
aborto:
41% responderam que é o vírus da AIDS, 33% que é a AIDS e
23% nao sabe ou deram outra resposta
29% responderam que é quem tem o vírus da AIDS, 25%
disseram que é uma pessoa com AIDS
95% exame de sangue (76% já fizeram exame e destas 68%
mais de uma vez)
54% das que nunca se testaram admitem que foi por medo de ter
a doença
Para 68% significa que ainda se pode pegar a AIDS, 57%
concordam que se pode estar com vírus e ele ainda nao se
manifestou, e para e que 38% não tem o vírus
59% responderam que sim
94% afirmaram que uma pessoa pode parecer saudável e ter o
vírus
Para 95% tem de usar preservativo
60% declaram conhecer alguém com AIDS
21% colega de trabalho, 15% amigo/a
86% se relacionariam socialmente com uma pessoa com
AIDS/HIV
94% não teriam relações sexuais com ma pessoa com AIDS/HIV
91% declararam que cuidariam de uma pessoas com AIDS
De acordo com 54% passa sempre o virus para o filho
Segundo 48% deve fazer um aborto
Segundo 76% é porque criança pode nascer doente
De acordo com 37% aborto é pecado e/ou crime, e para 36% é
porque a criança pode ser sadia
4.5. Práticas sexuais e prevenção de AIDS/DSTs
Como afirmaram em perguntas anteriores, praticamente todas as mulheres
entrevistadas declaram usar camisinha em todas as relações sexuais com clientes.
Somente um terço delas admitiu praticar sexo anal com clientes e 100% delas afirmou
que sempre usam camisinha. Em relação ao sexo oral algumas observaram que
detestam o gosto do lubrificante da camisinha e que irrita a boca, e algumas admitem
que não usam, tentam apenas evitar que o cliente ejacule. Nenhuma admitiu reutilizar
camisinhas. Quase todas (95%) se recusam a atender clientes que não querem usar
camisinha, outras declaram que tentam convencer o cliente durante o ato ou colocar
sem que ele perceba. A maior parte dos homens que querem sexo sem camisinha
oferece mais dinheiro, mas alguns tentam tirar durante o ato. A maioria (81%) usa
lubrificantes e entre elas a maior parte usa um lubrificante a base de água. Entretanto,
um ponto em que as campanhas de prevenção parecem estar falhando é em relação ao
hábito de usar duas camisinhas juntas. A maioria (66%) concorda em usar duas
camisinhas ou quando o cliente pede, ou quando ela desconfia do estado de saúde do
cliente, ou quando o cliente tem pênis grosso, ou para sexo anal. Elas pensam que o
uso de duas camisinhas é uma vantagem, enquanto na verdade a fricção entre as
camisinhas aumenta a possibilidade de ruptura. Outra possível forma de contaminação
é através do uso de consolos e outros acessórios. Um quarto das mulheres
entrevistadas possuem pelo menos um consolo, que em geral usam para fazer
penetração anal no cliente. Todas elas afirmaram que sempre usam uma camisinha no
consolo e que o lavam depois de cada cliente.
No entanto, a questão mais problemática em relação ao uso da camisinha está
no relacionamento com o parceiro fixo. A maioria (70%) não usa camisinha
regularmente
com um parceiro fixo. Algumas vezes isto ocorre porque o
companheiro não gosta (32% afirmaram que já foram pressionadas por parceiros para
não usarem camisinha, na maioria das vezes usando apelos emocionais), mas
praticamente a mesma proporção de mulheres declarou que era por opção. Pelas
observações feitas pelas mulheres durante as entrevistas, fica claro que camisinha é
vista por elas como uma barreira à intimidade. Elas não querem usar a camisinha
porque amam os parceiros e confiam nestes. Com um cliente isso não é um problema;
a camisinha, nesse sentido, ajuda a manter uma distância desejável. Com o parceiro
isto não ocorre, pois nesta situação elas buscam intimidade e segurança emocional. O
uso da camisinha violaria a confiança que elas sentem na relação. E como a
bibliografia citada anteriormente discute, provavelmente é assim que a maioria das
mulheres em uma união se sente. No caso de prostitutas, o estresse de praticar um ato
fisicamente tão íntimo diversas vezes ao dia, enquanto tentam manter sua distância
emocional, parece levar a uma demanda ainda maior por parte delas por intimidade e
proximidade em todos os sentidos com seus parceiros. Como uma das mulheres na
batalha observou: “depois de passar o dia inteiro aqui, dando para mais de dez
homens, eu quero mais é sentir o calorzinho do meu bem.” Por outro lado, se
negociar o uso de camisinha é difícil para a maioria das mulheres, no caso de
prostitutas elas podem ter menos poder ainda para demandar o uso da camisinha pelos
seus parceiros.
Na análise dos dados desta pesquisa não foi possível achar correlações entre o
uso de camisinha com o parceiro e qualquer característica demográfica, como idade
ou local de origem ou residência. Em relação às características sócio-econômicas,
somente educação mostrou estar levemente correlacionada com o uso de camisinhas:
quanto mais bem educada a mulher maior a chance dela usar camisinha com o
parceiro. Mesmo o tempo de permanência com o parceiro não está relacionado com o
uso da camisinha: a maioria parece abandonar o uso da camisinha ainda nos primeiros
meses da relação. O outro único fator que encontramos que estava significativamente
correlacionado com o uso de camisinha foi a mulher ter recebido informação sobre
AIDS através de uma cartilha de alguma ONG. O acesso a cartilhas parece ter
influenciado positivamente o uso de camisinhas com parceiros (apesar de não ser uma
correlação altamente significativa). No entanto, esta correlação pode estar sendo
influenciada pelo fato de que mulheres de fora de Belo Horizonte parecem ter tido
mais acesso a cartilhas de outras ONGs do que mulheres que sempre batalharam na
cidade, e elas tendem a ter um rodízio maior de parceiros.
Quadro 3: Práticas sexuais e prevenção de AIDS/DSTs:
Respostas dadas pelas mulheres entrevistadas:
Práticas sexuais e o
(em porcentagens)
uso da camisinha:
Como avalia o seu
59% consideram que tem risco grande porque segundo 50% a
risco de pegar AIDS
camisinha pode estourar e para 40% a profissão é de alto risco
Usa preservativo
99,4% usa sempre com cliente
durante sexo vaginal
Usa preservativo sexo 100% das que fazem sexo anal com clientes usam camisinha
anal
Usa preservativo
98% das que fazem sexo oral com clientes usam camisinha
durante sexo oral
Usa lubrificante
85% usam lubrificantes (61% usam KY gel)
Reutiliza camisinha
100% afirmaram que não
Consolo
22,5% tem consolo no quarto, (70% tem apenas um)
Usa camisinha no
100% das que usam declararam usar camisinha no consolo
consolo
lava consolo
100% das que tem consolo lavam após usar com um cliente
colegas de trabalho
56% acham que colegas usam
cliente insiste não
96% não atendem cliente que recusa usar preservativo
usar
como cliente
61% oferecem para pagar mais caro
pressiona para não
usar condom
usam dois
66% sim, 50% quando cliente pede/ela desconfia, 29% quando
preservativos
cliente tem pênis grosso.
Usa camisinha com
31% sempre usa, 19% às vezes, 27% só no início, 30% nunca
campanheiro
usa
porque não usa
41,5 % porque ama/confia
parceiro pressiona
32% já teve parceiro que pressionou (68,5% usando de
para nao usar
argumentos emocionais)
camisinha
Ainda em relação ao uso da camisinha, 60% das entrevistadas tiveram pelo
menos uma camisinha estourada nos últimos 12 meses. A marca De Luxe (uma das
mais populares) é que mais estoura, segundo 71% das entrevistadas. Ao final da
entrevistas, as mulheres foram solicitadas a colocarem camisinha em um modelo,
sendo observadas pelos entrevistadores. O fato de que 75% não conferiu a validade, e
que 25% não colocou a camisinha de modo correto é muito preocupante, mostrando a
necessidade de uma educação continuada.
Quadro 4: Resultados de um teste sobre o uso correto da camisinha
Teste de colocação de camisinha Frequência de ações corretas:
Conferiu validade?
22% sim
Como abriu o pacote?
76,4% mao/unha
Colocou de modo correto?
75% sim
Deixou espaço na ponta?
92% sim
Marcas de camisinha
36% De Luxe
33% Playboy (nenhuma das duas é aprovada pelo
encontradas no quarto:
Ministério da Saúde).
4.6. Violência e Uso de Drogas
Um número alto de entrevistadas respondeu que já foi vítima de violência,
sendo clientes e parceiros os principais responsáveis pela agressões. Apesar de que
violência física ou emocional ser a agressão mais comum, a proporção das mulheres
que foram estupradas ou sofreram tentativas de estupro é bem alta, um quarto de todas
as entrevistadas. Infelizmente não temos dados da população geral para comparar,
mas os números mostram que estas mulheres estão muito expostas a diversas formas
de violência. A proporção das que admitem ter algum vício é também muito alta,
71%, apesar de que 47% citaram cigarros como seu vício. O abuso de álcool e drogas
ilegais é mais preocupante aqui por que tanto fragiliza o organismo e as torna mais
expostas às DSTs, assim como as torna mais suscetíveis a ter sexo sem camisinha,
seja por necessidade de dinheiro ou descuido.
Quadro 5: Uso de Drogas
Drogas utilizadas
Porcentagem de entrevistadas que usam ou já fizeram uso:
Cigarros
47% fumam cigarros
Álcool
9% bebem sempre/frequentemente
Maconha
13% usam/já usaram
Crack
5,3% usam/já usaram
Cocaína
14% usam/já usaram
Anfetaminas
2,4% usam/já usaram
Outra droga
4,2% usam/já usaram
5. Observações Finais
Neste trabalho apresentamos os resultados de uma survey feita com 171
prostitutas que trabalhavam na chamada “zona grande” de Belo Horizonte em 1999. O
objetivo principal desta pesquisa foi examinar as práticas sexuais e reprodutivas das
mulheres entrevistadas com ênfase em questões sobre o nível de informação destas
mulheres sobre AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e suas
práticas em relação ao uso e tratamento destas e também suas atitudes em relação à
AIDS.
Nossos resultados preliminares indicam que a maior parte delas é
razoavelmente informada sobre AIDS e DSTs, e sobre como prevenir essas doenças.
Quase a totalidade delas afirma usar sempre camisinha com clientes durante a
penetração vaginal e sexos oral e anal. O maior problema encontrado em relação à
prevenção de AIDS, DSTs e gravidezes indesejadas foi a falta do uso de camisinha
com parceiros fixos. Cerca de 70% das entrevistadas declararam não usar camisinha
regularmente com seus parceiros regulares em geral por considerarem a camisinha
uma barreira à intimidade.
Enquanto que estes resultados reforçam a importância das campanhas de
prevenção e do trabalho desenvolvido por ONGs, por outro lado apontam algumas
inadequações desses trabalhos dirigidos às mulheres, que são voltados quase que
exclusivamente para o incentivo do uso da camisinha. Respostas para como melhor
lidar estas questões certamente não são simples, pois estas involvem o próprio modo
como a identidade e a sexualidade feminina são construídas. Mas infelizmente, dada a
preemência dos problemas criados pela pandemia da AIDS, é indiscutível que temos
urgência na busca de novas abordagens para estas questões.
Referências
Campbell, C. A. “Prostitution, AIDS and Preventive Health Behavior”. Social
Science
and Medicine, Volume 32, No. 12, pp.1367-1378, 1991.
Carovano, K. “More than Mother and Whores: Redefining the AIDS Prevention
Needs of
Women”. International Journal of Health Services, Volume 21, Number 1,
Pages
131-142, 1991.
Downe. P. J. “Constructing a complex of contagion: the perceptions of AIDS among
Working prostitutes in Costa Rica.” Social Science and Medicine, Volume 44,
No.
10, pp. 1575-1583, 1997.
Giffin, K. “Beyond Empowerment: Heterosexualties and the Prevention of AIDS.”
Social Science and Medicine, Volume 46, No. 2, pp. 151-156, 1998.
Giffin, K. “Gender Sexuality and the prevention of sexually transmissible diseases: a
Brazilian study of clinical practice.” Social Science and Medicine, Volume 46,
No.2,
pp. 151-156, 1998.
Sinha, M. M. “Sex, Structural Change, and AIDS: Case Studies of Indian
Prostitutes.”
Women’s Studies Quarterly, 1999, 1 & 2.
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