ANÁLISE DA QUALIDADE DA SILAGEM PRÉ-SECADA DE AZEVÉM COM O USO DE INOCULANTE Nicolaas André Los (PIBIC/CNPq/UEPG), Adriana de Souza Martins (Orientadora), e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Ponta Grossa/Departamento de Zootecnia. Pastagem e Forragicultura, Avaliação, Produção e Conservação de Forragens Palavras-chave: Bactérias láticas, Fermentação, Leveduras. Resumo: Objetivou-se avaliar a utilização de um inoculante microbiano em silagem pré-secada de azevém (Lolium multiflorum) sob duas idades de corte, 76 e 134 dias, através de análises bromatológicas matéria seca (MS), carboidratos não fibrosos (CNF) e análises microbiológicas (bactérias ácido láticas, fungos e leveduras). O inoculante foi aplicado no material durante o processo de ensilagem na proporção de 5 litros por tonelada na matéria natural. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, em esquema fatorial 2 x 2 (duas idades de corte e adição ou não do inoculante). Os resultados analisados indicaram diminuição no teor de MS com o aumento da idade de corte (134 dias), devido ao aumento de massa que dificultou a desidratação do material. O consumo de CNF foi maior na forragem cortada com menor idade de corte com aplicação de inoculante. A utilização do inoculante reduziu o teor de carboidratos não fibrosos, indicando um consumo de substrato para o crescimento bacteriano, porém somente à idade de corte de 76 dias. Introdução O azevém (Lolium multiflorum) é uma forrageira muito utilizada na alimentação de vacas leiteiras, na forma de pastejo ou em formas conservadas, sendo uma gramínea de alto valor nutritivo. No Brasil, são poucos os trabalhos estudando a eficiência de inoculantes microbianos sobre a microbiota e sobre as características de fermentação e de deterioração aeróbia das silagens pré-secadas. Diante do exposto, estudos avaliando a qualidade microbiológica e bromatológica da silagem pré-secada de azevém são de grande importância, uma vez que esta forrageira é amplamente utilizada nos sistemas intensificados de produção de leite na região. Este trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência da aplicação de inoculante microbiano na silagem pré-secada de azevém, sob duas idades de corte (76 e134 dias). Materiais e métodos No dia 05 de junho de 2014 foi realizado o plantio do Azevém (Lolium multiflorum), cv. Barjumb, tetraplóide. Foram utilizados 37 kg de semente por hectare, com germinação estimada de 90% e pureza da semente aproximadamente de 95%. O inoculante utilizado é composto pelas bactérias Lactobacillus Plantarum e Pediococcus pentosaceus e foi diluído pela adição de 100g do produto em 80 litros de água. O experimento consistiu de quatro tratamentos: duas idades de corte e uso ou não do inoculante. As idades de corte do azevém foram: Corte aos 76 dias após o plantio (IC76), e corte aos 134 dias após o plantio (IC134). A forragem foi ensilada utilizando uma enfardadora da marca Krone modelo Round Pack de câmara fixa, que confecciona bolas de pré-secado com 1,20 m de diâmetro e peso médio de cada bola de aproximadamente 400 kg. As análises bromatológicas foram realizadas no laboratório do Centro Mesoregional de Excelência e Tecnologia do Leite (CMETL) da UEPG. Foram determinados os teores de matéria seca (MS) e fibra em detergente neutro (FDN) de acordo com a metodologia descrita por Silva e Queiroz (2002). A estimativa dos carboidratos não fibrosos (CNF) foi determinada de acordo com a equação proposta por Weiss et al., (1992): %CNF= 100-(%NDF+%CP+%EE+%MM). As análises microbiológicas foram realizadas no laboratório do CMETL, de acordo com a metodologia descrita por Valeriano et al., (2009) e Salvo et al., (2013). O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, em esquema fatorial 2 x 2, sendo dois níveis de inoculante (0 e 5 litros/tonelada MN) e duas idades de corte (76 dias e 134 dias). As análises estatísticas foram realizadas utilizando o procedimento MIXED do SAS (2002) Resultados e Discussão Não houve interação entre os tratamentos para os teores de MS e CNF (tabela 1). No tratamento IC76, o valor médio para teor de MS foi de 68,38%, enquanto o tratamento IC134 apresentou 65,50% de MS. Os valores de CNF apresentaram média de 13,55% para o tratamento IC76 e de 13,10% para o tratamento IC134. Verificou-se diferença no teor de matéria seca em função da idade de corte (P>0,05) quando se utilizou o inoculante, sendo observada redução desta variável com maior idade de corte da forrageira. Por outro lado, para a silagem sem inoculante, o teor de MS foi semelhante entre as idades de corte. O resultado esperado seria que o material cortado com maior idade de corte (IC134) demonstrasse maior valor de MS por ser um material com maior teor de fibras, porém este resultado não procedeu por adversidades no processo de ensilagem. Não houve diferença (P>0,05) no teor de CNF entre as idades de corte quando se utilizou o inoculante, porém, a forragem sem o uso de inoculante apresentou menor teor de CNF aos 134 dias de corte em comparação com o tratamento com inoculante. Tabela 1. Médias dos teores de Matéria seca (MS) e carboidratos não fibrosos (CNF), valores de P e efeito da interação do nível de inoculante (com e sem) e idade de corte (76 e 134 dias) da silagem pré-secada de azevém. Inoculante Idade Idade de Idade de 1 EPM de Aditivo Com Sem corte corte*Aditivo corte inoculante inoculante MS (%) 76 dias 66,8Aa 66,4Aa 0,96 0,49 0,06 0,04 134 dias 62,1Bb 68,9Aa CNF (%) 76 dias 12,2Ab 14,9Aa 0,46 0,57 0,83 <0,01 134 dias 14,3Aa 11,9Bb Médias seguidas de letras diferentes, maiúscula na coluna e minúscula na linha, diferem (P<0,05) pelo teste F. %CNF= 100(%NDF+%CP+%EE+%MM) (Weiss et al.,1992). Neres et al. (2014) utilizando silagem pré-secada de Tifton 85 (Cynodon spp) verificaram maior teor de carboidratos solúveis com a adição de inoculantes (23,9%), em comparação com o tratamento controle (20,2%). Não houve interação (P>0,05) entre os tratamentos quanto à concentração de bactérias, fungos e leveduras (Tabela 2). Não houve diferença (P>0,05) entre os tratamentos com relação à idade de corte e à aplicação de inoculante. Tabela 2. Valores médios de bactérias láticas e fungos e leveduras em função dos níveis de inoculante e do estádio vegetativo da silagem présecada de azevém. Inoculante Idad Idade de Idad Aditiv Com Sem 1 EPM e de corte*Aditiv e de o inoculant inoculant corte o corte e e Bactérias láticas (UFC/g MN x103) 76 5,85 1,79 7464473, 0,75 0,39 0,61 dias 2 134 106,05 8,87 dias Fungos e leveduras (UFC/g MN x103) 76 8,95 6,75 334181,5 0,56 0,28 0,70 dias 3 134 91,65 0,432 dias 1 Erro padrão da Média Algumas placas não apresentarem crescimento bacteriano, no entanto, nota-se que os tratamentos que receberam o inoculante microbiano apresentaram uma população numericamente maior de bactérias. Ainda que este seja um resultado positivo, verifica-se que os mesmos tratamentos também obtiveram maior população numérica de fungos e leveduras que os tratamentos sem inoculante, indicando falha do inoculante que, ao diminuir o pH da silagem, deveria inibir o crescimento de fungos e leveduras. Desta forma, o fato de não haver diferença significativa entre os tratamentos indica que a adição de bactérias láticas não apresentou a ação esperada no crescimento de fungos e leveduras. Conclusões A idade de corte e o uso de inoculante tem efeito sobre os teores de MS e de CNF da silagem pré-secada de azevém. O uso de inoculante causou redução do teor de CNF quando o azevém foi cortado aos 76 dias, porém, aos 134 dias, não houve efeito do inoculante para esta variável. As populações de bactérias láticas, fungos e leveduras na silagem de azevém não alteraram em função da idade de corte e do uso de inoculante. Referências CHANDLER, P. Energy prediction of feeds by forage testing explorer. Feedstuffs. v.62, n.36, p.12, 1990. NERES, M. A.; HERMES, P.R.; AMES, J.P. et al. Use of additives and prewilting in Tifton 85 bermudagrass silage production. Revista Ciência e Agrotecnologia, v.38, n.1, p. 85-93, 2014. SALVO, P.A.R. et al., 2013. 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