FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DE DOCENTES NO ENSINO SUPERIOR As transformações sociais no final do século passado e início desse século, ocorridas de forma vertiginosa no que diz respeito aos avanços tecnológicos e científicos, aliados ao processo histórico dos modelos pedagógicos na educação, trouxeram para o Ensino Superior, frente as novas diretrizes curriculares e a implementação de processos avaliativos e medidas com o propósito de avaliar o desempenho dos alunos(Sinaes), uma preocupação cada vez maior com a qualidade da docência nesse grau e modalidade de ensino. A prática educativa nas diferentes concepções se diferencia na integração ensino/aprendizagem/relações sociais. Para tanto, os modelos pedagógicos em seu processo histórico ou sejam: tradicionais, escolanovistas, tecnicistas e progressistas, norteiam os atos educacionais em qualquer grau e modalidade de ensino. Os princípios básicos necessários a um modelo pedagógico são estrutura curricular, metodologia de ensino e avaliação, procurando atender objetivos almejados. As influências sobre o trabalho docente são muitas e raramente favorecem a realização de atividades tranquilas, livres de obstáculos ou reveses contínuos. No entanto, para que ocorra esse processo do ensinar e aprender na contemporaneidade, questões novas passam a ocupar lugar comum, sobre a formação do docente universitário. A Lei de Diretrizes e Bases 9394/96, ao tratar desse quesito, em seu artigo 52, inciso III, estabelece que para os cursos de graduação, será necessário que ao menos ¨um terço do corpo docente tenha titulação de mestrado ou doutorado e ainda um terço esteja vinculado à instituição em regime de tempo integral ¨. Frente a isso, Vasconcelos (2009, p1) destaca: “a grande questão está em determinarmos até quando se pode permitir que o professor seja aquele sem qualquer formação pedagógica e que aprenda a ministrar aulas por ensaio e erro”. Temos hoje no cenário do ensino superior apenas dois tipos de docentes: os que têm formação pedagógica e são poucos, geralmente atuam nos cursos de licenciatura, e os que não têm formação pedagógica, que são a grande maioria. Portanto, a discussão sobre a formação de professores para o exercício da docência torna-se cada vez mais séria, uma vez que ele precisa dar conta da complexidade que envolve esse grau de ensino. Sobre essa ótica, Cunha (2008,p.32) evidencia que o ensino superior, na sociedade atual, “exige uma reconfiguração dos papéis atribuídos ao professor e aos alunos, numa relação mais horizontal, que inclua responsabilidade e autorias partilhadas”. Sobre esta proposição, Enricone (2006) aponta para a necessidade de mudanças no trabalho pedagógico e enfatiza que: O professor é um interprete de sua disciplina, é um mediador entre o conteúdo que ensina e o horizonte de compreensão do seu aluno, entre seu conhecimento especializado e um sujeito em formação e, ao assim proceder, demonstra reconhecer o significado do ser docente universitário.[...] Ele precisa ser um inovador na perspectiva de ruptura com modelos existentes e de procura de novos paradigmas e de adoção crítica de tecnologias inovadoras (ENRICONE, 2008, p.18 ). Nesse direcionamento há uma colocação interessante de Massetto (2010, p.84): “O trabalho docente merece séria revisão, quando nos damos conta que hoje a qualidade da formação profissional, exige muito mais que apenas uma reprodução das informações que os acadêmicos recebem em aula”. Para Vieira (2009, p.66) “faz-se necessário ressignificar a docência universitária nos diversos componentes curriculares que constituem o projeto pedagógico de cada curso superior e no projeto de desenvolvimento institucional”. Para isso, o artigo 43 da LDB 9.394/96 , de 20 de dezembro de 1996, que trata da finalidade da educação superior precisa ser considerado, conforme segue abaixo: Art. 43° - A educação superior tem por finalidade: I- estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II- formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais, para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira e para a colaboração na sua formação contínua; III- incentivar o trabalho de pesquisa e investigação cientifica, visando ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura e, desse modo, desenvolver o entendimento dos homens e do meio que vivem; IV- promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber por meio do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V- suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração; VI- estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII- promover a extensão, aberta a participação, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa cientifica e tecnológica geradas na instituição. Visando dar conta desses princípios, Libâneo (2003 p.1) aponta que o lugar mais propício para promover mudanças e inovações é o curso, com seus professores e alunos, e a forma de se conseguir isso é a gestão participativa. A pedagogia tradicional, cheia de certezas cede lugar a uma nova docência, com uma lógica diferente, na qual a construção do conhecimento se refaz a cada momento, gestados pela dúvida e a previsão do novo. Diante disso, a docência universitária se revitaliza e com ela todo o processo de reelaboração do conhecimento em seus diferentes componentes curriculares que constituem o projeto pedagógico de cada curso superior e por consequência o projeto de desenvolvimento institucional. Para ampliar essa análise, Cunha (2008, p.32) apresenta significativa contribuição: o ensino não é apenas cenário da docência ou da discência. É o encontro das múltiplas possibilidades que professores e alunos têm de fazer dele um tempo de aprendizagem, de trocas, de descobertas e da experimentação. Nesse novo paradigma, o professor adquire o papel de mediador ou de orientador do processo ensino aprendizagem de seu aluno e este exerce o papel de sujeito para que sua aprendizagem aconteça. Para que isso possa ocorrer, no entanto, alguns indicadores para a docência precisam ser perseguidos. Entre eles, a formação continuada do docente em serviço, com possibilidades para ouvir, debater, trocar experiências e expor situações vivenciadas, que estão dando certo no espaço da sala de aula. Castanho ( 2000) apresenta nessa ótica, a criatividade como objeto que precisa de atenção por parte do docente universitário e destaca que [...] sensibilidade diante do mundo, fluência e mobilidade do pensamento, originalidade pessoal, atitude para transformar as coisas, são as qualidades da pessoa criadora e consequentemente deve fazer parte do trabalho docente. É importante também lembrar, que independente dos obstáculos e das relações que envolvem o dia a dia de trabalho, o docente precisa ter conhecimentos e exercitar sua profissão. Freire (2001) apresenta uma lista de saberes necessários à prática educativa contemporânea, fundamentada numa ética pedagógica que faz algumas exigências e referem-se à rigorosidade metódica, ao respeito aos saberes do aluno, à criticidade, à pesquisa, ao risco, à aceitação do novo, à humildade, ao bom senso, ao querer bem aos discentes, entre outros. Desse modo, podemos relacionar a qualidade da educação de uma instituição de ensino superior, com a relação professor e aluno, como sujeitos do ato educativo estabelecidos socialmente. Tal equilíbrio difícil e necessário pode ter grande repercussão nos processos educativos e se constitui numa tarefa a ser construída, tendo em vista seus condicionantes e seus indicadores no que se refere a uma proposta pedagógica presente nos documentos de uma IES ou seja em seu Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), no seu Projeto Pedagógico Institucional (PPI) e no Projeto Pedagógico de cada curso (PPC). Diante do exposto, apresenta-se a necessidade de se buscar, constantemente, conhecimentos e mecanismos que possibilitem tornar o trabalho do professor menos estressante, mais criativo, interessante e eficiente. Daí a necessidade da participação em eventos de formação pedagógica e também de o docente investir no processo de formação continuada; especialização, mestrado e doutorado em sua área de formação . Referências: BRASIL, Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.9.394 Brasília(DF):Imprensa Nacional 1996 CASTANHO,M.E.deL. Pesquisa em pedagogia universitária. In: CUNHA,M.I.da. Reflexões e práticas em pedagogia universitária. Campinas(SP):Papirus,2007. __________CASTANHO,S(orgs) O que há de novo na educação superior: do projeto pedagógico à prática transformadora. Campinas (SP):Papirus 2000. CUNHA,M.I.da. O professor universitário paradigmas.Araraquara(SP):JM,2008. ENRICONE,D .Educação (RS):EDIPUCRS,2006. superior:Vivências na e transição visão de de futuro _________, Sala de aula: espaço de inovações e formação docente, In: ENRICONE, D.;GRILLO, M.(orgs.) Educação superior: vivências e visão de futuro. Porto Alegre (RS);EDIPUCRS, 2005. FREIRE, P. 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