CONCEPÇÕES RECORRENTES PARA SE EXPLICAR A VIOLÊNCIA ❏ Cristalização e biologização da “personalidade violenta” ❏ Biopsicossocial: fatores igualmente determinantes? ❏ Teoria da Carência Cultural Trechos da reportagem “Anjos Malvados” Site da revista Superinteressante – Julho 2009 “De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria (APA, da sigla em inglês), nenhum menor de 18 anos pode ser chamado de psicopata, uma vez que sua personalidade ainda não está totalmente formada”. “Nesse casos, o que pode existir é o transtorno de conduta um padrão repetitivo e persistente de comportamento que viola regras sociais importantes em sua idade, ou os direitos básicos alheios (veja quadro da página 34). E esse transtorno revela um forte risco de caminhar, no futuro, para o transtorno da personalidade antissocial - ou a psicopatia”. “Um certo grau de malvadeza é relativamente normal na infância e faz parte do desenvolvimento”. “3 fatores de risco para a psicopatia: a predisposição genética, um ambiente hostil e possíveis lesões cerebrais no decorrer do desenvolvimento”. “Como a psicopatia em adultos não tem cura, médicos e pesquisadores da área trabalham para tentar diagnosticar o problema cada vez mais precocemente. O psicólogo canadense Robert Hare costuma fazer diagnósticos em crianças a partir dos 9 anos de idade”. “O transtorno de conduta é caracterizado pela repetição - e não por atos isolados - e, em geral, vem acompanhado de hiperatividade e déficits graves de atenção”. “O tratamento in-di-ca-do a essas crianças e adolescentes, em geral, é a psicoterapia acompanhada, dependendo do caso, de medicamentos tranquilizantes para reduzir a agressividade e a impulsividade, ou ainda estimulantes”. “Ao contrário do que acontece com os adultos, existe uma chance de uma criança com transtorno de conduta mudar seu padrão de comportamento e não se tornar um psicopata. É claro que, quando se trata de adolescentes, a dificuldade de reabilitação aumenta” "Os psicopatas em geral são indivíduos frios, calculistas, inescrupulosos, dissimulados, mentirosos, sedutores e que visam apenas o próprio benefício. Eles são incapazes de estabelecer vínculos afetivos ou de se colocar no lugar do outro. São desprovidos de culpa ou remorso e, muitas vezes, revelam-se agressivos e violentos. Em maior ou menor nível de gravidade e com formas diferentes de manifestarem os seus atos transgressores, os psicopatas são verdadeiros 'predadores sociais', em cujas veias e artérias corre um sangue gélido." (SILVA, 2010, p. 40-41). SILVA, A. B. B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. A FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE NA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL ❏ Desenvolvida a partir da atividade humana, direcionada ao cumprimento das necessidades. ❏ Condicionada fundamentalmente por condições materiais objetivas e pela apropriação do que já foi produzido históricamente pela humanidade: “Os homens se realizam por intermédio da história que constroem, desenvolvendo-se a partir de condições biológicas e sociais. Essas condições representam as bases a partir das quais, ao longo de uma histórica evolução, desenvolve-se, por meio da atividade, o psiquismo humano” (MARTINS, p.84). ❏ A personalidade não é algo dado a priori, mas sim constituída ao longo da atividade social do indivíduo, em uma relação constante entre interno e externo. ❏ Assim, o desenvolvimento da personalidade é “resultado da atividade subjetiva condicionada por condições objetivas” (MARTINS, p.85). ❏ Processo de individualização: apropriação das objetivações humanas ❏ Personalidade representa a objetivação da individualidade (MARTINS, p.86). ❏ Mudança contínua no processo de individualização leva ao processo de estruturação da personalidade ❏ Caráter dialético da individualização humana: “O indivíduo constitui-se em unidade com a sociedade e sua existência como tal reside exatamente em sua autodiferenciação para com aquela, o que lhe confere, inclusive, papel de sujeito no processo de construção dessa sociedade (MARTINS, p.85). ❏ Reflexo criador: assim como os indivíduos são determinados pela sociedade, estes a determinam. ❏ O caráter dialético entre indivíduo e sociedade e a natureza consciente da atividade humana justificam a possibilidade de transformação social: “Essa condição de sujeitos de suas atividades interna e externa fazem dos seres humanos entes ativos e conscientes não somente do real, mas da própria transformação social” (BARROCO, p.11). Assim, a personalidade “é resultante do desenvolvimento em sua totalidade – compreendendo as dimensões biológica, social e psíquica situadas historicamente - da relação entre suas dimensões interna - externa, entre os planos objetivo - subjetivo, entre os conteúdos herdado, adquirido e aprendido. Em outras palavras, aprendemos a ser violentos ou a não usarmos da violência como recurso para sermos e estarmos no mundo, na escola” (BARROCO, p.11). CERCEAMENTO DA PERSONALIDADE ❏ Desenvolvimento da personalidade determinado pela forma como a sociedade se estrutura e como são dadas as relações sociais ❏ Quando há limitações nas possibilidades de apropriação do gênero humano por parte do indivíduo, sua personalidade não se desenvolve de forma universal e livre: “Quanto menores forem essas possibilidades mais gerais e uniformes serão seus resultados, pois o que deveria ser continuidade e coerência internas se convertem em continuidade e coerência para com as influências externas” (MARTINS, p. 86) ❏ Não confundir com “carência cultural”, afinal há violência também em classes mais favorecidas. ❏ Logo, a apropriação das objetivações históricas não é suficiente para tornar o indivíduo mais livre. Esta apropriação dependerá “de um complexo e dinâmico conjunto de relações presentes na atividade apropriadora” (DUARTE, 2013) PAPEL DA EDUCAÇÃO ❏ Para o que serve a escola? ❏ “Instituições escolares são criadas para atender aos interesses específicos de um dado momento histórico e estão vinculadas à manutenção do modelo societário” (BARROCO, p.13) ❏ Para além disso, a escola deve ser entendida como “um espaço fundamental de humanização, de transformação da consciência (por aquilo que nela é ensinado) daqueles que por ela passam ou nela atuam - os professores e alunos -, a fim de que possam compreender a sociedade de forma mais ampla” (BARROCO, p.13). ❏ Não se trata da transformação direta e da redenção dos problemas sociais; caráter mediador. “A apropriação das condições objetivas de vida possibilita aos homens pensarem a realidade e tornarem-se sujeitos no processo de transformação. Subsidiados pelo exposto, consideramos que, além das transformações no modo de gerir e participar das produções humanas, é por meio da instrumentalização teórico-metodológica de professores, psicólogos e outros profissionais que se torna possível enfrentar a violência na escola. Se não se nasce violento, mas se aprende a usar de recursos violentos, é preciso que a psicologia contribua para a identificação e a construção de outros orientados por propósitos coletivos” (BARROCO, p.15).