I U Q A X&UTO S PO NTAPÉS! R ES ESA ST I D O A O C K P O RT U G U B R E S D A D N A NO B DA MAIO R COORDENAÇÃO E TEXTOS ROLANDO REBELO IO ÁC REF P Diferentes, únicos e incontornáveis / Jorge Sampaio Trinta e cinco anos de Xutos & Pontapés significam música e letras de fundo que fazem cruzar e entrecruzar várias gerações, unidas na mesma apreciação do seu talento, da sua vitalidade criativa e irreverente, do seu magnetismo. Por tudo isto, há uma década atrás tomei a iniciativa de agraciar os Xutos & Pontapés, que em 2004 celebravam o seu vigésimo quinto aniversário, num gesto de homenagem e de reconhecimento público pelo significativo percurso desta banda de rock portuguesa e pelo seu papel de referência para a geração dos jovens de oitenta, mas cuja criatividade e dinamismo sempre me surpreenderam. Hoje, dez anos depois, revisitando de novo a sua carreira desde o fim dos anos setenta, olhando à volta e dando-me conta do quanto a sua influência continua marcante, do quanto 8 os Xutos são apreciados, não só pelo seu exímio profissionalismo, mas também pela sua dimensão de banda de culto a que o carácter individual dos seus membros não é alheio, quero reiterar a minha admiração pessoal e associar-me a este gesto de homenagem dos seus fãs e amigos, entre os quais far-me-ão o favor, espero, de me incluir! Não posso também deixar de lembrar aqui, com gostosa saudade, um remoto fim de tarde, creio que em 1979, em que fui à Amadora a um pavilhão desportivo para… conhecer os Xutos! Foi assim que conheci pessoalmente o Zé Pedro, o Tim, o Kalú e o Zé Leonel… afinal erámos então, eles e eu, iniciantes, e estávamos a encetar as nossa carreiras, eles na música, eu na política. Desta coincidência resultou, digamos, um paralelismo de afectos que me levou a nunca perder de vista a sua trajectória e percurso musical. Há uns meses atrás tive o gosto de voltar a falar com o Zé Pedro, desta vez pelo telefone, para lhe lançar o desafio de participar num concerto solidário que estou a promover em prol de um projecto humanitário de apoio a estudantes sírios num momento tão trágico que afecta as suas vidas. Não foi surpresa a imediata adesão dos Xutos a este projecto, antes confirmou o que sempre soube e tive por certo, que os músicos desta banda são diferentes, únicos e incontornáveis – Obrigado, Xutos! Jorge Sampaio, Lisboa, 10 de Julho de 2014 X 9 Cartas aos nossos fãs / Tim, Zé Pedro, Kalú, João Cabeleira e Gui 12 Zé Pedro: «São vocês que tornam os Xutos reais e que nos fazem aguentar 35 anos de carreira neste Portugal que tantos amamos» João Cabeleira: «As pess pessoas transmitem-nos amor e o amor faz-nos amo bem, bem faz-nos mais felizes e preenche -nos a alma. pr Por tudo isso, vos digo: não tenham receio de vir falar comigo» 13 Os Xutos & Pontapés são quase toda a minha vida Kabeca, manager Quando os conheci tinha 12 anos e, tirando o Kalú que era meu irmão, nunca tinha visto personagens tão diferentes do habitual. Ao vivo, vi-os pela primeira vez, ainda com o Zé Leonel, numa associação qualquer do Restelo em frente ao cinema. Para ser sincero, nem me lembro bem do que vi; só o Zé Leonel me impressionou pois não parava um minuto. Depois fiz o que qualquer fã faria, segui a carreira deles. Quando saiu o primeiro single Sémen (tenho-o assinado por todos), fui a correr mostrá-lo aos meus amigos. Era a banda do meu irmão, os MAIORES DO ROCK! Já mais velho comecei a seguir os Xutos para todo o lado. Metia-me no carro com os meus amigos, dividíamos o gasóleo e lá íamos nós ver os Xutos. Perdi a conta de quantos concertos vi! A minha vida dá uma volta quando um dia a Marta me liga a dizer que o João Dias, que até então era o motorista da banda, se ia embora e ela e os Xutos tinham pensado em mim para o substituir. «-Ah! Eu?! O quê, eu?!! Não acredito!! Mesmo?!?» Sim. Era eu mesmo. Ia ser motorista da minha banda de eleição. E ia ser o melhor motorista do mundo, da melhor banda do mundo. E lá fiquei, mais ou menos 10 anos. Muitos quilómetros, muito asfalto, muitos concertos e, mais importante de tudo, muitas experiências trocadas e muitos ensinamentos recebidos. 16 c como baterista de rock e conseguiu-o. Acho que lá em casa só ele é que acreditava, mas é uma pessoa que nunca vira a cara ao trabalho. C Com o João aprendi a ter paciência, calm calma, a desfrutar das coisas boas, sem stresse. Pois o almoço é para se comer devagar. O Gui ensinou-me a ver o alternativo. «Sim, isto é bom, mas…» Com o Tim passei horas dentro da carrinha a falar, pois o lugar dele era ao meu lado. Horas e horas de conversa, de trabalho, de família, de lazer, falávamos de tudo. Eu nem posso dizer o que aprendi com o Tim, tantas foram as coisas, mas uma ficou: quando ia ser pai pela primeira vez, estava, como é óbvio, nervoso. E o Tim disse-me: «Vai ser tudo diferente. Nada vai ser como dantes. Quando chegares à praia, de manhã cedo, com o teu filho, vais dizer para ti: eu nunca tinha visto a praia assim!» Grandes foram os momentos que passei com os Xutos! Gravada ficou a grande emoção de vê-los receber o Prémio Carreira da revista Blitz onde ouvi pela primeira vez ao vivo Homem do Leme em acústico. Até chorei! E ao telefone com a minha mãe chorámos os dois, enquanto ouvíamos o Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, chamar pelo nome próprio de cada um deles, para os condecorar com a Ordem do Mérito. Quem me ensinou a dar abraços sem constrangimento foi o Zé Pedro, para quem a demonstração de carinho e afecto é para se mostrar e não para se esconder. Mas a vida também nos traz tristezas e essa veio com a morte da Marta, a nossa manager (e minha irmã). Não estávamos preparados para isso e a estrutura abanou. A minha vida mudou e a minha relação com os Xutos também. Junto deles, passei a decidir a carreira dos meus ídolos de sempre. Não era o lugar que tinha ambicionado, muito menos naquela circunstância, mas foi o lugar que a vida me reservou. Do Kalú levo o «querer é poder», pois um dia ouvi-o dizer aos meus pais que iria ganhar a vida Mais uma vez com a ajuda incansável dos Xutos e de toda a equipa, fui caminhando e participei Kabeca, manager da banda e irmão do baterista Kalú, à conversa com Zé Pedro. Ao lado: fotografia de promoção dos anos 80. Em baixo: A Casinha, o quartel-general dos Xutos em projectos que me deixam altamente orgulhoso como, por exemplo, os 25 Anos do Circo de Feras, o concerto no estádio do Restelo e, mais recentemente, os 35 Anos no Meo Arena. Mas sem nunca esquecer as centenas de concertos por este país fora. Pois é bom não esquecer que uma das grandes virtudes desta banda é o facto de tocarem com a mesma paixão quer seja para 50 mil ou 5 mil pessoas, em palcos grandiosos ou num qualquer pequeno palco que uma câmara municipal, com todo o afinco e empenho, nos conseguiu arranjar. Por vezes perguntam-me qual é o segredo que faz com que os Xutos se mantenham no top tantos e tantos anos e nem sei bem o que responder. Talvez seja porque têm boas canções, têm talento, trabalham muito, têm gozo no que fazem e muito prazer em estar em palco. São pessoas simples, são honestos no que fazem. Talvez seja tudo isto, não sei! O que sei é que já vi centenas de concertos dos Xutos e continuo a gostar de os ouvir e ver tocar. A alegria estampada na cara daqueles miúdos é contagiante. Obrigado Xutos por um dia me terem deixado entrar nesta aventura que é a VOSSA E A MINHA VIDA! X 17 Família Xutos / A banda que não se vê Caj (Carlos Vales), produtor Cajó C e técnico de som Fui apresentado ao Tim, no café F C Central, em Almada, pelo Renato Gomes, guitarrista dos UHF, grupo G onde eu dava os primeiros passos ond como ttécnico de som. Em 1981 (ou 1982) nasceu a agência Grupos Rock Reunidos, da qual os Xutos faziam parte, e tive a oportunidade de fazer com eles vários espectáculos e conhecer melhor a sua a música. Temas como Mãe, Ave-maria ou Morte Lenta, mesmo com os equipamentos rudimentares da altura, conseguiam muitas vezes tornar-se momentos memoráveis. Algum tempo depois os Xutos passaram a ser agenciados pelo Vítor Silva que em 1986, num dos muitos concertos que fizemos no saudoso Rock Rendez Vous, me convida para ser o técnico de som da banda. Ao longo destes anos, acompanhei também a gravação de vários discos, na parte técnica e na produção e assisti à construção de muitas canções. Algumas vinham já de bom tamanho da casa do Tim ou do Kalú outras nasciam mesmo ali, na sala de ensaio, ao fim de horas e horas à volta de uma frase musical que tivesse despertado interesse. 18 A música aparece primeiro e depois é vestida ccom palavras. Os ensaios eram registados no Tijolo Laranja O (acho que era laranja), o gravador de cassetes que o Tim ligava e desligava muitas vezes com o pé, e que gravava cassete atrás de cassete a música que depois escrutinava no leitor do seu Mini verde. Talvez se deva a este processo tão simples, a sobrevivência de muitos temas. Os discos foram momentos intensos de trabalho e descoberta, mas acho que é no palco que os Xutos & Pontapés se sentem em casa. Frente ao público são diferentes, arriscam mais, e conseguem muitas vezes momentos inesquecíveis que tenho tido a sorte e o prazer de acompanhar. d A comemoração dos 25 Anos foi sem dúvida um desses momentos. Em todos estes anos que trabalhamos juntos, o pior momento foi sem dúvida o dia em que a Marta faleceu. Ela foi sempre o elemento aglutinador de uma «família» às vezes muito difícil de controlar mas conseguiu sempre proteger e manter o grupo unido. Foi muito mais do que a manager, foi sobretudo uma amiga em quem nos apoiámos durante muitos anos. Joã Escada, técnico de som João no n palco Conheci a música dos Xutos C & Pontapés em 1984 através de uma gravação ao vivo que o meu irmão gr Migu Miguel Escada me deu para ouvir. O meu e primeiro p espectáculo com os Xutos foi em Terras de Bouro a 3 Agosto de 1991. Depois de alguns espectáculos aqui e ali, fui chamado pela banda no dia 31 Dezembro de 1993 e a partir daí fiquei como técnico da banda até hoje. As melhores recordações estão relacionadas com grandes momentos nos espectáculos, principalmente naqueles onde existe uma grande cumplicidade com o público e que são sempre momentos com emoções muito fortes. A pior recordação que tenho é, sem dúvida, a morte da Marta Ferreira... Claro que os Xutos são uma grande família, sabemos que podemos contar todos uns com os outros. Definir os Xutos numa frase é difícil, mas posso dizer «Os Xutos são uma grande família uma grande alegria fazer parte dela». e é um N Nuno Preto, chefe dos roadies e técnico de guitarras Foi em 1987 que ouvi pela primeira vez Fo andava eu na estrada com a Go os Xutos, X Graal Band, com quem trabalhava desde Graa al Blues B 1982. A minha relação profissional teve o seu início em 1989, quando fizeram uma tournée em França. Voltei depois, em 1997 para a produção de Dados Viciados e fui convidado para fazer parte desta família a tempo inteiro em 2001, que é melhor recordação que tenho. Infelizmente, pouco tempo depois, ocorreu o «acidente» do Zé Pedro. Mas rapidamente recuperámos e a prova disso são as excelentes memórias que tenho da abertura para os Rolling Stones, na inauguração do Estádio Municipal de Coimbra em 2003, ou ainda os 25 Anos comemorados no Pavilhão Atlântico, como no estádio do Restelo nas comemorações dos 30 Anos, tendo pelo meio a minha mais negra memória desde que estou com os Xutos, que foi o falecimento da Marta… É com muito orgulho que trabalho com eles… Poderia acabar a minha carreira no dia que os Xutos parassem de tocar. Rita Rego, merchandising R Ri T Tinha eu uns 13 ou 14 anos, quando ia com a minha mãe à Baixa no Porto, e llembro-me de passar na Philcolândia, uma loja perto do Teatro Rivoli, que um vend vendia dia electrodomésticos e também m discos. Exposto na montra estava um LP branco, com um grande X vermelho na capa, que me chamou de imediato a atenção… Era o Cerco, que ainda hoje é, para mim, «O» disco dos Xutos. Um dia, com o dinheiro das semanadas, entrei e comprei-o, sem fazer a mínima ideia do que ia ouvir… Apaixonei-me… Até hoje! Depois conheci a banda e fui ficando, até que se tornou num processo natural, e a 18 de Abril de 1989 comecei a vender merchandising dos Xutos pela primeira vez. Ao longo destes 25 anos tive muitas histórias, muitas mesmo. Umas «públicas» e outras muito nossas, que nunca ninguém «de fora» vai perceber. As viagens, «a estrada», as brincadeiras que mais ninguém entende, as alcunhas, as festas, os aniversários, os casamentos, os nascimentos, os bons amigos que fiz ao longo dos anos, tudo o que tenho aprendido. As pessoas que conheci, outras que vou conhecendo. As que ainda vou conhecer… Mas também tive maus momentos e o pior foi, sem dúvida, a morte da minha Marta. Foi o pio pior Marta or dia da minha h vida, vida porque perdi uma das minhas melhores amigas, perdi uma irmã. Tudo o que sou hoje, na «Família Xutos», porque sim, sem dúvida que somos uma família, devo-o à Marta. E hoje em dia o espírito mantém-se. Uma data de marmanjões e depois «as meninas»: a Lara e eu! Os Xutos para mim são o Amor incondicional… Orgulho… Família… Confiança. Joã Joãozinho Ferreira, motorista e aassistente pessoal Eu já sabia que o meu irmão Kalú tinha E u uma banda de rock e um dia, ao chegar a ccasa começo a ouvir muito barulho vind vindo da garagem. Ao descer deparo com 19 S O T N E M I O P E D & D E C LARAÇÕES ÍS A P M U E U Q O DI Z DO S XUTO S & PO NTAPÉS 22 23 Kalú descansa nos camarins improvisados em Vila Pouca de Aguiar. Em baixo: a energia dos Xutos em palco. Págs. anteriores: Tim sorri para a câmara em mais uma viagem na carrinha; Zé Pedro, junto a João Cabeleira, maquilha-se antes de entrar em palco 56 P Paulo Junqueiro, Sony Music P Portugal Os Xutos marcaram, e continuam a O marcar, a minha vida de uma forma ma única e indelével. Comecei, como tantos outros, como fã. Lá pelo ano de 1983 andei a colar cartazes (na chuva e com 5 graus) em Almada para os Xutos tocarem num bar (nem me lembro do nome) que era dos mesmos donos do Tokyo. E nem os conhecia pessoalmente. Em 1984 o Pita trouxe-me um monte de fitas, de vários artistas, gravadas ao vivo no Rock Rendez Vous, e eu, já técnico de som, tentei tratar o som da melhor maneira que sabia. Saiu a colectânea Ao Vivo no Rock Rendez Vous onde, pela primeira vez, o meu nome aparece escrito junto com o dos Xutos Em 1985 fui morar no Brasil. Em 1987 o acaso ou a sina (!) fez-me encontrá-los em São Paulo na saída do elevador do Hotel Hilton. Uns dias depois foram para o Rio e convidei-os para fazer uma jam session com uma banda que eu estava a produzir e era fã deles – IRA! No fim desse ano convidaram-me para, juntamente com o Ramón Galarza, produzir o seu disco seguinte – nem queria acreditar que ia produzir um disco dos meus ídolos!!! Já eles eram a maior banda de rock de Portugal depois do Circo de Feras e do 7.º single (Casinha). Esse disco é o 88. Através deles conheci aquela que se iria tornar minha mulher. No mesmo ano, Ramón e eu produzimos o Ao Vivo no Pavilhão do Belenenses. Em 1989 casei e o Zé Pedro foi o nosso padrinho de casamento. Em 1990 fizemos o Gritos Mudos no Rio de Janeiro. Em 1998 voltei para Portugal como A&R da EMI e trabalhámos mais alguns anos. Em 2007 voltei para o Brasil e, em 2012, regressei a Portugal como director-geral da Sony Music. Em 2013 recebi mais um presente dos Xutos quando o Kabeca me telefonou a dizer que os Xutos queriam mudar para a Sony – os Xutos têm essa capacidade de decidir a que companhia querem pertencer… coisa rara no mundo da música… no MUNDO! O que dizer de alguém que vive dentro de mim há 30 anos?! Os Xutos ensinaram-me a voltar a gostar de Portugal, já que emigrei zangado com o meu país. Foi com os Xutos que conheci a minha mulher, com quem estou casado há 25 anos, e que me deu dois filhos lindos. Tenho uma tatuagem do X dos Xutos no ombro. Tenho o privilégio de ter recebido dos Xutos, e continuo a receber, muito mais do que algum dia lhes poderei dar… MUITO OBRIGADO XUTOS & PONTAPÉS!! MUITO OBRIGADO TIM, ZÉ PEDRO, KALÚ , JOÃO CABELEIRA E GUI (E MARTA E KABECA). X António Melão, fotógrafo Antó F Falar nos Xutos & Pontapés é muito ffácil para mim… e foi uma honra tterem-me escolhido para falar nos 35 an anos desta banda mítica portuguesa… sem dúvida a mais importante formação Tenho o privilégio de ter recebido dos Xutos, e continuo a receber, muito mais do que algum dia lhes poderei dar. Paulo Junqueiro 57 de rock dos nossos dias, com uma legião de fãs de três gerações. Como fotógrafo e como amigo de todos os músicos que compõem os Xutos, tenho assistido a concertos, festivais e eventos vários e sinto-me um privilegiado por ter em meu poder arquivos com mais de 25 anos. Já me tinham convidado para o livro dos 20 anos, onde colaborei com fotografias e onde figurei, como co-autor, ao lado de gente famosa como a Rita Carmo, Álvaro Rosendo, Peter Machado, entre muitos outros. Desta vez pediram-me escrita… cá vai! O meu primeiro contacto com a banda foi em 1987, quando saiu o LP Circo de Feras. O Contentores cativou-me de imediato. Apesar de eu ter entrado para o clube do heavy-metal, a música crua dos Xutos & Pontapés agradou-me. Depois, em 1988, saiu o 88 e tive acesso a uma cassete com temas famosos, entre os quais A Minha Casinha e um tema acústico, A Minha Aventura Homossexual com o Gen. Custer. Ao longo dos últimos 26 anos, reuni muita informação sobre os Xutos: set-lists, CD, vinil, fotos, até coisas que mais ninguém tem e não posso falar… Um dia destes conto ao Zé Pedro, que é como um irmão, um homem que sempre que me encontra não basta cumprimentar-me, tem de me dar um abraço, e eu a ele claro. O Kalú também é especial, amigo do peito mesmo. O Tim é mais reservado e o Cabeleira é «bicho-do-mato», mas, tal como o Gui, um grande amigo. Tenho uma relação privilegiada com a banda. Nunca me decepcionaram e eu nunca os decepcionei. Resolvi contar os concertos que já fotografei: 32… É obra! Os Xutos batem qualquer outra banda que já tenha fotografado, nacional ou estrangeira. Em relação às músicas, gosto muito das clássicas como Chuva Dissolvente, Para Ti Maria, A Minha Casinha, Contentores… Mas a que mais me marcou foi a música Para Sempre, composta para o filme Tentação… a guitarra do Cabeleira está sublime! A melhor história que tenho com os Xutos foi com o João Cabeleira, num evento na Antena 3. Perguntei-lhe se me assinava um papel… resposta do João: «Para quê?» do n e c e h n o c vou o. s d o n e e t u q u o a v d hes l À medi o t i e p s e r ro Pais s d i e P a m o ã o , J r melho 58 João Cabeleira e o seu blusão encarnado no Porto, em 1994; Kalú numa das primeiras actuações dos Xutos menos era o que me parecia naquela altura. Tornaram-se muito carismáticos e populares em 1988, primeiro nas rádios com os singles Contentores e A Minha Casinha mas também nas actuações, com lotação esgotada, no pavilhão Os Belenenses. Eu estive lá! E, se bem me lembro, o bilhete custou-me 750 escudos (3,75 euros). Depois foi o que se vê. Os rapazes continuaram, fizeram-se homens e contam já com 35 anos de estrada, multidões e canções. É-vos conhecido a minha amizade com o Zé Pedro. Li a sua biografia, conhecemos juntos, e pessoalmente, os Rolling Stones numa casa de fados, desabafamos dúvidas e alegrias, momentos na vida e nos palcos, não há volta a dar! Em Abril de 2014, tive o prazer de ter partilhado duas canções com o Zé Pedro e o Kalú, em Zurique (Suíça) e, antes do concerto, disse-lhes que me sentia «fraquinho». É claro que deu risota geral, porque eles sabem ao que eu me referia. Existe um pacto, pelo menos entre nós: conversa de estrada, morre na estrada. À medida que os vou conhecendo melhor, mais respeito lhes vou tendo. Um aabraço caros Comendadores. X L Montez, Música Luís nno Coração Por acaso tenho um autógrafo do Zé Pedro… …ea sua amizade… Long live Xutos & Pontapés. X JJoão Pedro Pais, músico Na década de 1980, um colega N meu m de escola deu-me a ouvir, pe pela primeira vez, um grupo de músic música portuguesa de nome Xutos & Pontapés. Éramos adolescentes e tínhamos toda a curiosidade de ouvir o que se fazia naquela época cantado em português, desde o Júlio Pereira, Trovante, passando pelos Taxi, Jáfumega, até ao punk-rock, representado na altura pelos Iodo e pelos Xutos, tendo estas duas bandas algumas influências dos Sex-Pistols e Ramones, pelo O que é que uma banda pode ser para lá da música que oferece? Com Começamos, claro, por nos afeiçoar a uma melodia e, às palavras e ao ritmo que comporta. Sempre tive um jeito vigilante, porque, nas coisas das canções, nunca me distraí do que podia importar. Em 1987 – ontem, portanto – já trabalhava na Rádio Comercial. A paixão pelo maravilhoso e inextinguível mundo da rádio brotou da predilecção pelo rock, pelas canções novas de estilo e por todos aqueles sons. Por esses dias os Xutos lançaram um dos grandes e seminais discos da sua obra: Circo de Feras. Pelo TNT, o velhinho mas ainda presente «Todos no Top», rodava imparável uma versão muito dançável dos «Contentores». A minha relação com o tema impeliu-me a sair dos quadros da rádio, e ser o que fui antes, ouvinte dedicado. Foram muitas as vezes em que liguei para o TNT 59 Diana Chaves, actriz D G Guardo comigo, desde criança, m músicas incontornáveis dos Xu Xutos & Pontapés, que vão semp sempre ser eternas. Homem do Leme e Chuva Dissolvente fizeram parte da minha adolescência e foram, muitas vezes, a minha banda sonora. Acredito que são das poucas bandas em Portugal que conseguem abranger três ou quatro gerações, e isso é incrível. Trinta e cinco anos de existência é um enor enorme feito. M Muitos Parabéns! X Rita Carmo, fotógrafa R É impossível falar de música por portuguesa sem dedicar uma genero generosa fatia aos Xutos & Pontapés. Pela importância, pela música, pelos seguidores e pela longevidade activa e criativa da banda. Vivemos todos ao som de músicas que sabemos de cor e que sussurramos quando ouvimos, quase sem querer. Também eu vivi ao som dos Xutos. Mais: trabalhei e inspirei-me na banda sonora dos Xutos & Pontapés, dentro e fora de salas de concertos. Fotografei-os, pela primeira vez, em Abril de 1992, no mítico Johnny Guitar, em Lisboa. Na verdade, foi a minha primeira entrevista para o jornal Blitz e recordo-a como se fosse hoje. Não me correu bem. Pela inexperiência e enorme nervosismo custou-me retirar imagens desta sessão. A vez seguinte, uns meses mais tarde, na mesma sala lisboeta, foi um concerto. E, aqui, tudo se inverteu: falava-se da cisão do grupo. No entanto, o concerto teve uma energia incrível naquele espaço tão pequeno. Lá bem na frente deles, fiz uso do meu último recurso de luz e captei o abraço entre o Tim e o Zé Pedro. Cheguei à redacção e a fotografia escolhida (a preto e branco, claro) era esse gesto, tão espontâneo quanto verdadeiro. E fiquei nas boas graças do então director... Depois destes dois episódios, fotografei-os mais de 50 vezes, entre sessões curtas, longas, capas do Blitz, da Blitz, ensaios, gravações de discos, concertos, festivais. À frente do palco, por detrás do palco. Aventuras com faroleiros e faróis, botes no meio do Tejo, salas de embarque do aeroporto de Lisboa, sessões cheias de glamour para a capa da Blitz. Acompanho-lhes o trabalho, o percurso, o crescimento e a popularidade. E encontro neles a simplicidade com que lidam com tudo, a franqueza e a honestidade no trabalho. A proximidade e a confiança que lhes tenho permitiu-me, certamente, ter imagens únicas e, no meu dia-a-dia dos palcos, relembro muitas vezes a querida Marta. Obrig Obrigada, Zé, Tim, Kalú, Cabeleira e Gui po por tamanha honra. M Muito obrigada! X Pedro Granger, actor P Que «estupidez»... Qu Rockalhados é o que vocês são, não é? Rocka Que ricos rockalhados me saíram na rifa então! e u q o d s i a es m h l o h n e t a .. Hoje em di sinto inveja purar.m an José He admiração 66 Casinha? Inha? «A minha casinha»?!!! Que raio de «pequenina» inhice para uma banda de rock da pesada que se preze. Uma banda que se quer que vire «o mundo ao contrário», que seja um «circo de feras» de «lei animal», «esquadrão da morte» aos «gritos mudos», pronto para encher o «perfeito vazio» das nossas vidas qual «superjacto» de som, digno de cortar «cordas e correntes», com «contentores» de «doçuras» e «sombra colorida» em «alta rotação», anda-me para aí a cantar coisas acabadas em inha?!!! Uma banda que mal começou tinha um «futuro que era brilhante» e que, neste «jogo do empurra» que é a vida, cedo se diferenciou com cada «pormenor» da sua garra e talento de muita «gente de merda» que por aí anda «sem eira nem beira», num constante «toca e foge», «gota a gota» em «morte lenta». Uma banda que, por mais que os anos passem, não arruma as «botas» e, sem «medo», tem sempre a «carta certa» na manga, coisa própria de quem arrisca e «dá um mergulho» no mar e assim quer continuar, a «voar» e «remar, remar» nesta «vida malvada», venha sol mais quente ou «chuva dissolvente», numa «teimosia» saudável de quem tem muita e «boa» música para dar. Contigo os dados, os «mil dados», são sempre «dados viciados». Atires por onde atirares o resultado é sempre bom. Então ouve lá oh banda de rockalhados! «Se me amas», a mim e aos milhares de fãs que te adoram, não demores muito tempo a dar-nos mais e mais música, porque «enquanto a noite cai» e não cai, «longa se torna a espera», por isso «diz-me», canta-me e «conta-me histórias» como só tu o sabes fazer, «porque eu sei» que não há «lugar nenhum» no mundo, «outro país», nem «n’América» sequer, onde não haja gente aos pontapés que goste de ti. Tenho a certeza que «não sou o único» que te acha o verdadeiro «homem do leme» do rock português. Gosto dos Xutos. Mas também «é tão fácil» gostar dos Xutos. Faço parte da «classe de 79», foi esse o ano em que nasci e até hoje fui gostando, 67 curtindo, assistindo, cantando, vibrando, sonhando e amando a tua música, a vossa música «à minha maneira». Acredito que haja 1001 maneiras boas e diferentes de desbundar o vosso trabalho, mas acreditem que a minha maneira é fixe para caraças. OBRIGADO XUTOS! Post-scriptum - A minha casinha é efectivamente uma das músicas que mais gosto de vos ouvir tocar, mas tinha de arranjar uma maneira qualquer para começar a escrever esta carta... X Herman José, humorista H A Aconteceu -me com os Xutos o mesmo que com as favas. Um m 68 e outro estavam nos antípodas dos meus gostos. Uns porque recuperavam um som longe dos Herbie Hancock, Chick Corea, Wolfgang Dauner, Michael Franks, Miles Davis e Brecker Brothers que iluminaram a minha juventude, outras porque me reportavam para a brutalidade de uma leguminosa desalmada servida atabalhoadamente com chouriço e coentros. Entretanto, crescemos todos, os Xutos, eu, e a minha cultura culinária. Quase na mesma altura – algures no final dos anos 1980 – descobri em Paris, num jantar de perdizes, a importância das favas quando descascadas, cozidas ao vapor e passadas por manteiga clarificada. E, bem perto de um palco onde os Xutos actuavam ao vivo, fui tocado pela consistência da sua música, pelo seu profissionalismo obsessivo e, sobretudo, pela , não o c l a p o a am r i b ada u t s a b s e e r l r e a o e ment Quand a t e l p m ia o g c r e r n e e s a a l v e a, p m s espera i r a c e oder p u ico. e l s b ú o p l e o p m o c Medina m a a t c r o e b r o t R linda que coerência da sua arte. Hoje em dia, tenho-lhes mais do que admiração – sinto inveja pura. Há meses compartilhamos o mesmo palco em Genebra, e só me apeteceu saltar para o palco e roubar a viola-baixo das mãos do Tim. Os meus músicos agarraram-me, acalmaram-me e levaram-me a comer um apfelstrudel para que esquecesse a pulsão. Estamos – os Xutos e eu – numa espécie de máximo denominador comum entre juventude e experiência. Este é o momento do nosso carpe diem. Nos dias de maior inquietação com o futuro, pensemos que ainda nos faltam uns anos valentes para a nossa fase Rolling Stones / Woody Allen / Cocotte de légumes croquants d’Alain Ducasse que me garantem ser igualmente estimulante. Voltamos a falar nas comemorações dos 40 anos, mas dessa vez, irei munido da minha Ri Rickenbacker. X Roberta Medina, Rock in Rio R Cheguei a Portugal pela primeira C vez em Maio de 2003 e tinha como missã missão produzir o Rock in Rio Lisboa. Não conhecia nada da cultura local nem conhecia absolutamente ninguém no país. À medida que fui fazendo amigos, comecei a frequentar festas de aniversário onde invariavelmente havia determinados momentos onde as pessoas iam ao delírio com algumas músicas que o DJ tocava – no Brasil também temos as nossas, são músicas que marcaram a nossa história e que a cada acorde nos trazem as lembranças e as alegrias de tempos felizes. Cada vez que isso acontecia, servia para me lembrar que eu «não era dali». E um «gringo» que mora fora precisa ser! Para não ficar completamente perdido e sem raízes. Bom, a decisão estava tomada: «tinha de, rapidamente, aprender as letras daquelas canções», e algumas festas depois eu estava pronta para participar daquele «momento de delírio colectivo». A primeira vez que consegui vibrar e sorrir, dançar e cantar junto com todos e com toda a força a música A Minha Casinha, dos Xutos, ficou como um marco histórico em mim. De repente eu já era dali, de repente começa um caminho sem volta que me levou a escolher Portugal como minha casa, até casar com um português e ter uma filha «alfa-carioca». Um ano depois de ter chegado a Portugal pela primeira vez, os Xutos & Pontapés subiam ao Palco Mundo do Rock in Rio Lisboa. Pelo menos uma música eu sabia cantar. O que eu não esperava era ser completamente arrebatada pelo poder e carisma da banda, pela energia linda que troca com o público, pelas pessoas fantásticas que são aqueles cinco artistas em palco. Agradeço pelos amigos que se tornaram, pelo carinho e o apoio incondicional que vocês sempre 69 R A M RE R E MAR M U ITAS C O N Q U ISTAS E M U ITO S AN O S D E V IDA 118 119 1955 1963 2 de Fevereiro - Nasce José Leonel dos Santos Pinto Perfeito (Zé Leonel) na Póvoa de Santa Iria. Regresso de Zé Pedro e família a Lisboa. 1956 13 de Setembro - Nasce José Pedro Amaro dos Santos Reis (Zé Pedro) em Lisboa. É o terceiro filho, o primeiro rapaz de sete irmãos. 1957 30 de Agosto - Nasce Carlos Nascimento (Gui). 1958 1965 Tim muda-se com a família para Almada. Zé Pedro passa os Verões com a família na Praia do Alemão, Portimão. 1967 Tim entra para o orfeão do colégio. Também começa a entrar em pequenas peças teatrais. 29 de Julho - Nasce Carlos Eduardo Cardoso Ferreira (Kalú), no Porto, o quinto filho de 13 irmãos. «Foi quando percebi que havia uma outra maneira de estar no outro lado da cortina.» Tim 1960 1968 Nasce António Manuel Lopes dos Santos (Tim), em Ferreira do Alentejo. O pai de Zé Pedro é transferido para a Guiné. Zé Pedro fica em Lisboa mas nas férias voa num avião militar para se reencontrar com a família. 1962 14 de Agosto - Nasce João Manuel Pereira Cabeleira. Kalú senta-se pela primeira vez numa bateria, no casamento dos seus tios, no Casino Estoril. Devido à carreira militar do pai (oficial do exército), Zé Pedro muda-se com a família para Timor. A viagem é feita por barco com escala em Goa, Índia, Singapura, Hong-Kong e Macau antes de chegar a Díli, Timor. Tim recebe dos pais o seu primeiro instrumento musical, uma harmónica. Gui frequenta os cursos musicais patrocinados pela Fundação Calouste Gulbenkian, onde toma contacto com diversos instrumentos musicais, tais como o metalofone e a flauta. Gui frequentará esse curso até aos 8 anos de idade. Gui e o irmão frequentam o Colégio Marista, até ao ano de 1972. 1969 1971 Mudança de Kalú do Porto para Lisboa, pelo facto de o pai ter adquirido uma fábrica de cortiça no Montijo. Tim, aos 11 anos, com a sua primeira guitarra; Kalú (último à direita) descobre a bateria no casamento de um tio, no Casino Estoril; imagem de Gui na infância; a primeira formação dos Xutos & Pontapés, em 1980: Tim, Zé Pedro, Kalú e Zé Leonel 120 Na companhia do pai, Zé Pedro vai à primeira edição do Cascais Jazz, onde assiste ao concerto de Miles Davis, Keith Jarret, Ornette Coleman e Charles Haden. 1973 Tim recebe a seu primeira guitarra trazida de Espanha pelos pais. Adquire as primeiras noções de guitarra com os escuteiros, dos quais faz parte. «Aos 13 anos percebi logo que queria ser músico.» Tim 1974 Kalú compra a sua primeira bateria, uma Tama Singstar, a João Pereira Coutinho, por cinco contos (25 euros). Para a pagar arranja trabalho, primeiro a embalar fruta e em seguida a descascar alhos. «Eu era bem comportado. Só me meti em sarilhos uma vez e foi por andar à “pêra”! Mas uma das memórias mais engraçadas foi no 25 de Abril quando íamos à escola para não ter aulas. Era uma alegria. E depois havia as miúdas. Nessa altura ia-se aproveitando para desbravar caminho.» Tim 1975 Hélder Batista, pai do Tim, constrói-lhe uma guitarra. Começa a tocar em festas na Zambujeira e na Moita. João Cabeleira começa a debitar os primeiros acordes na guitarra acústica da irmã. Em Espanha, o ditador Franco executa os últimos cinco opositores ao regime. Uma onda de revolta invade a capital portuguesa, que culmina no assalto à embaixada de Espanha. Zé Pedro é um dos intervenientes, embora tenha um papel de espectador. 1976 Zé Pedro compra a sua primeira guitarra, uma Kawai, a um estrangeiro que precisava de dinheiro, e também uma bicicleta, tudo por quatro mil escudos (cerca de 20 euros). Começa a escrever crítica musical no suplemento «Mosca», do Diário de Lisboa. O editor era Luís Sttau Monteiro e, entre outros colaboradores, encontrava-se José Cardoso Pires. 1977 Zé Pedro ingressa na Escola Superior de Meios de Comunicação, no curso de Jornalismo. Durante o Verão, Kalú e Zé Pedro, embora não se conhecendo na altura, vão ao festival Mont de Marsan, no sul de França. Do cartaz fazem parte os Clash, os Damned, Lou Reed, entre outros. Os dois vêm a fervilhar de ideias… Tim recebe o seu primeiro baixo. Zé Pedro e Zé Leonel conhecem-se em Setembro. «O meu pai quis fazer-me uma guitarra, porque gosta muito de tábuas, de madeiras e de guitarras… e tem jeito! Então pedi-lhe que me fizesse um baixo, mas ele foi à Custódio Cardoso Pereira e os gajos meteram-lhe na cabeça de que os baixos não se podiam ligar às estereofonias de casa porque lixavam aquilo tudo. Então ele fez uma guitarra… azul!» Tim «Já conhecia o Zé Leonel, que andava com uma das minhas irmãs. A seguir começam os Faíscas, influenciados pela onda punk e pelos Sex Pistols. Nessa altura, o Pedro Ayres estava sempre a picar-me para eu formar uma banda e foi aí que pusemos um anúncio na «Música & Som» a pedir um baterista e apareceu o Kalú. (...) Era eu, o Kalú, o Zé Leonel e um amigo de uma namorada que ele 121