pontapés!

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COORDENAÇÃO E TEXTOS
ROLANDO REBELO
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REF
P
Diferentes, únicos e incontornáveis
/ Jorge Sampaio
Trinta e cinco anos de Xutos & Pontapés significam música e letras de fundo que fazem cruzar
e entrecruzar várias gerações, unidas na mesma apreciação do seu talento, da sua vitalidade
criativa e irreverente, do seu magnetismo.
Por tudo isto, há uma década atrás tomei a iniciativa de agraciar os Xutos & Pontapés, que
em 2004 celebravam o seu vigésimo quinto aniversário, num gesto de homenagem e de
reconhecimento público pelo significativo percurso desta banda de rock portuguesa e pelo seu
papel de referência para a geração dos jovens de oitenta, mas cuja criatividade e dinamismo
sempre me surpreenderam.
Hoje, dez anos depois, revisitando de novo a sua carreira desde o fim dos anos setenta,
olhando à volta e dando-me conta do quanto a sua influência continua marcante, do quanto
8
os Xutos são apreciados, não só pelo seu exímio profissionalismo, mas também pela sua
dimensão de banda de culto a que o carácter individual dos seus membros não é alheio, quero
reiterar a minha admiração pessoal e associar-me a este gesto de homenagem dos seus fãs e
amigos, entre os quais far-me-ão o favor, espero, de me incluir!
Não posso também deixar de lembrar aqui, com gostosa saudade, um remoto fim de tarde,
creio que em 1979, em que fui à Amadora a um pavilhão desportivo para… conhecer os
Xutos! Foi assim que conheci pessoalmente o Zé Pedro, o Tim, o Kalú e o Zé Leonel… afinal
erámos então, eles e eu, iniciantes, e estávamos a encetar as nossa carreiras, eles na música, eu
na política. Desta coincidência resultou, digamos, um paralelismo de afectos que me levou a
nunca perder de vista a sua trajectória e percurso musical.
Há uns meses atrás tive o gosto de voltar a falar com o Zé Pedro, desta vez pelo telefone, para
lhe lançar o desafio de participar num concerto solidário que estou a promover em prol de
um projecto humanitário de apoio a estudantes sírios num momento tão trágico que afecta
as suas vidas. Não foi surpresa a imediata adesão dos Xutos a este projecto, antes confirmou
o que sempre soube e tive por certo, que os músicos desta banda são diferentes, únicos e
incontornáveis – Obrigado, Xutos!
Jorge Sampaio, Lisboa, 10 de Julho de 2014 X
9
Cartas aos nossos fãs
/ Tim, Zé Pedro, Kalú,
João Cabeleira e Gui
12
Zé Pedro: «São vocês que tornam
os Xutos reais e que nos fazem
aguentar 35 anos de carreira neste
Portugal que tantos amamos»
João Cabeleira: «As
pess
pessoas transmitem-nos
amor e o amor faz-nos
amo
bem,
bem faz-nos mais felizes
e preenche
-nos a alma.
pr
Por tudo isso, vos digo:
não tenham receio de vir
falar comigo»
13
Os Xutos & Pontapés
são quase toda a minha vida
Kabeca, manager
Quando os conheci tinha 12 anos
e, tirando o Kalú que era meu irmão,
nunca tinha visto personagens tão
diferentes do habitual.
Ao vivo, vi-os pela primeira vez, ainda
com o Zé Leonel, numa associação qualquer do Restelo em frente ao cinema.
Para ser sincero, nem me lembro bem do que vi;
só o Zé Leonel me impressionou pois não parava
um minuto.
Depois fiz o que qualquer fã faria, segui a carreira
deles. Quando saiu o primeiro single Sémen (tenho-o assinado por todos), fui a correr mostrá-lo aos
meus amigos. Era a banda do meu irmão, os
MAIORES DO ROCK!
Já mais velho comecei a seguir os Xutos para todo
o lado. Metia-me no carro com os meus amigos,
dividíamos o gasóleo e lá íamos nós ver os Xutos.
Perdi a conta de quantos concertos vi!
A minha vida dá uma volta quando um dia a Marta
me liga a dizer que o João Dias, que até então era
o motorista da banda, se ia embora e ela e os Xutos
tinham pensado em mim para o substituir.
«-Ah! Eu?! O quê, eu?!! Não acredito!! Mesmo?!?»
Sim. Era eu mesmo. Ia ser motorista da minha
banda de eleição. E ia ser o melhor motorista
do mundo, da melhor banda do mundo. E lá
fiquei, mais ou menos 10 anos. Muitos quilómetros, muito asfalto, muitos concertos e, mais
importante de tudo, muitas experiências trocadas e
muitos ensinamentos recebidos.
16
c
como
baterista de rock e conseguiu-o.
Acho que lá em casa só ele é que
acreditava, mas é uma pessoa que
nunca vira a cara ao trabalho.
C
Com
o João aprendi a ter paciência,
calm
calma, a desfrutar das coisas boas, sem
stresse. Pois o almoço é para se comer devagar.
O Gui ensinou-me a ver o alternativo. «Sim, isto
é bom, mas…»
Com o Tim passei horas dentro da carrinha a falar,
pois o lugar dele era ao meu lado. Horas e horas de
conversa, de trabalho, de família, de lazer, falávamos de tudo. Eu nem posso dizer o que aprendi
com o Tim, tantas foram as coisas, mas uma ficou:
quando ia ser pai pela primeira vez, estava, como
é óbvio, nervoso. E o Tim disse-me: «Vai ser tudo
diferente. Nada vai ser como dantes. Quando chegares à praia, de manhã cedo, com o teu filho, vais
dizer para ti: eu nunca tinha visto a praia assim!»
Grandes foram os momentos que passei com os
Xutos! Gravada ficou a grande emoção de vê-los
receber o Prémio Carreira da revista Blitz onde
ouvi pela primeira vez ao vivo Homem do Leme em
acústico. Até chorei! E ao telefone com a minha
mãe chorámos os dois, enquanto ouvíamos
o Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, chamar pelo nome próprio de cada um deles,
para os condecorar com a Ordem do Mérito.
Quem me ensinou a dar abraços sem constrangimento foi o Zé Pedro, para quem a demonstração
de carinho e afecto é para se mostrar e não para se
esconder.
Mas a vida também nos traz tristezas e essa
veio com a morte da Marta, a nossa manager
(e minha irmã). Não estávamos preparados para
isso e a estrutura abanou. A minha vida mudou
e a minha relação com os Xutos também. Junto
deles, passei a decidir a carreira dos meus ídolos de
sempre. Não era o lugar que tinha ambicionado,
muito menos naquela circunstância, mas foi o lugar
que a vida me reservou.
Do Kalú levo o «querer é poder», pois um dia
ouvi-o dizer aos meus pais que iria ganhar a vida
Mais uma vez com a ajuda incansável dos Xutos
e de toda a equipa, fui caminhando e participei
Kabeca, manager da
banda e irmão do baterista
Kalú, à conversa com Zé
Pedro. Ao lado: fotografia
de promoção dos anos 80.
Em baixo: A Casinha, o
quartel-general dos Xutos
em projectos que me deixam altamente orgulhoso
como, por exemplo, os 25 Anos do Circo de
Feras, o concerto no estádio do Restelo e, mais
recentemente, os 35 Anos no Meo Arena. Mas sem
nunca esquecer as centenas de concertos
por este país fora. Pois é bom não esquecer que
uma das grandes virtudes desta banda é o facto de
tocarem com a mesma paixão quer seja para 50 mil
ou 5 mil pessoas, em palcos grandiosos
ou num qualquer pequeno palco que uma câmara
municipal, com todo o afinco e empenho, nos
conseguiu arranjar.
Por vezes perguntam-me qual é o segredo que faz
com que os Xutos se mantenham no top tantos
e tantos anos e nem sei bem o que responder.
Talvez seja porque têm boas canções, têm talento,
trabalham muito, têm gozo no que fazem e muito
prazer em estar em palco. São pessoas simples,
são honestos no que fazem. Talvez seja tudo isto,
não sei! O que sei é que já vi centenas de concertos
dos Xutos e continuo a gostar de os ouvir e
ver tocar. A alegria estampada na cara daqueles
miúdos é contagiante.
Obrigado Xutos por um dia me terem deixado
entrar nesta aventura que é a VOSSA E A MINHA
VIDA! X
17
Família Xutos
/ A banda que não se vê
Caj (Carlos Vales), produtor
Cajó
C
e técnico de som
Fui apresentado ao Tim, no café
F
C
Central,
em Almada, pelo Renato
Gomes, guitarrista dos UHF, grupo
G
onde eu dava os primeiros passos
ond
como ttécnico de som.
Em 1981 (ou 1982) nasceu a agência Grupos
Rock Reunidos, da qual os Xutos faziam parte,
e tive a oportunidade de fazer com eles vários
espectáculos e conhecer melhor a sua a música.
Temas como Mãe, Ave-maria ou Morte
Lenta, mesmo com os equipamentos
rudimentares da altura, conseguiam
muitas vezes tornar-se momentos
memoráveis.
Algum tempo depois os Xutos passaram
a ser agenciados pelo Vítor Silva que
em 1986, num dos muitos concertos que
fizemos no saudoso Rock Rendez Vous, me
convida para ser o técnico de som da banda.
Ao longo destes anos, acompanhei também a
gravação de vários discos, na parte técnica e na
produção e assisti à construção de muitas canções.
Algumas vinham já de bom tamanho da casa
do Tim ou do Kalú outras nasciam mesmo ali, na
sala de ensaio, ao fim de horas e horas à volta de
uma frase musical que tivesse despertado interesse.
18
A música aparece primeiro e depois é vestida
ccom palavras.
Os ensaios eram registados no Tijolo Laranja
O
(acho que era laranja), o gravador de cassetes que
o Tim ligava e desligava muitas vezes com o pé, e
que gravava cassete atrás de cassete a música que
depois escrutinava no leitor do seu Mini verde.
Talvez se deva a este processo tão simples,
a sobrevivência de muitos temas.
Os discos foram momentos intensos de trabalho
e descoberta, mas acho que é no palco que
os Xutos & Pontapés se sentem em casa.
Frente ao público são diferentes, arriscam
mais, e conseguem muitas vezes momentos
inesquecíveis que tenho tido a sorte e o prazer
de acompanhar.
d
A comemoração dos 25 Anos foi sem dúvida
um desses momentos.
Em todos estes anos que trabalhamos juntos,
o pior momento foi sem dúvida o dia em que
a Marta faleceu.
Ela foi sempre o elemento aglutinador de uma
«família» às vezes muito difícil de controlar
mas conseguiu sempre proteger e manter o
grupo unido.
Foi muito mais do que a manager, foi sobretudo
uma amiga em quem nos apoiámos durante
muitos anos.
Joã Escada, técnico de som
João
no
n palco
Conheci a música dos Xutos
C
& Pontapés em 1984 através de uma
gravação ao vivo que o meu irmão
gr
Migu
Miguel Escada me deu para ouvir.
O meu
e primeiro
p
espectáculo com os Xutos
foi em Terras de Bouro a 3 Agosto de 1991.
Depois de alguns espectáculos aqui e ali, fui
chamado pela banda no dia 31 Dezembro de 1993
e a partir daí fiquei como técnico da banda até
hoje. As melhores recordações estão relacionadas
com grandes momentos nos espectáculos,
principalmente naqueles onde existe uma grande
cumplicidade com o público e que são sempre
momentos com emoções muito fortes. A pior
recordação que tenho é, sem dúvida, a morte da
Marta Ferreira...
Claro que os Xutos são uma grande família,
sabemos que podemos contar todos uns com os
outros. Definir os Xutos numa frase é difícil, mas
posso dizer «Os Xutos são uma grande família
uma grande alegria fazer parte dela».
e é um
N
Nuno
Preto, chefe dos roadies
e técnico de guitarras
Foi em 1987 que ouvi pela primeira vez
Fo
andava eu na estrada com a Go
os Xutos,
X
Graal
Band, com quem trabalhava desde
Graa
al Blues
B
1982. A minha relação profissional teve o seu
início em 1989, quando fizeram uma tournée em
França. Voltei depois, em 1997 para a produção
de Dados Viciados e fui convidado para fazer parte
desta família a tempo inteiro em 2001, que é
melhor recordação que tenho. Infelizmente, pouco
tempo depois, ocorreu o «acidente» do Zé Pedro.
Mas rapidamente recuperámos e a prova disso
são as excelentes memórias que tenho da abertura
para os Rolling Stones, na inauguração do Estádio
Municipal de Coimbra em 2003, ou ainda os
25 Anos comemorados no Pavilhão Atlântico,
como no estádio do Restelo nas comemorações
dos 30 Anos, tendo pelo meio a minha mais negra
memória desde que estou com os Xutos, que foi
o falecimento da Marta…
É com muito orgulho que trabalho com
eles… Poderia acabar a minha carreira no dia que
os Xutos parassem de tocar.
Rita Rego, merchandising
R
Ri
T
Tinha
eu uns 13 ou 14 anos, quando
ia com a minha mãe à Baixa no Porto,
e llembro-me de passar na Philcolândia,
uma loja perto do Teatro Rivoli, que
um
vend
vendia
dia electrodomésticos e também
m
discos. Exposto na montra estava um LP
branco, com um grande X vermelho
na capa, que me chamou de imediato
a atenção… Era o Cerco, que ainda hoje
é, para mim, «O» disco dos Xutos.
Um dia, com o dinheiro das semanadas,
entrei e comprei-o, sem fazer a mínima
ideia do que ia ouvir… Apaixonei-me… Até hoje!
Depois conheci a banda e fui ficando, até que
se tornou num processo natural, e a 18 de Abril
de 1989 comecei a vender merchandising dos Xutos
pela primeira vez.
Ao longo destes 25 anos tive muitas histórias,
muitas mesmo. Umas «públicas» e outras
muito nossas, que nunca ninguém «de fora» vai
perceber. As viagens, «a estrada», as brincadeiras
que mais ninguém entende, as alcunhas,
as festas, os aniversários, os casamentos,
os nascimentos, os bons amigos que fiz ao
longo dos anos, tudo o que tenho aprendido.
As pessoas que conheci, outras que vou
conhecendo. As que ainda vou conhecer… Mas
também tive maus momentos
e o pior foi, sem dúvida, a morte da minha
Marta. Foi o pio
pior
Marta
or dia da minha
h vida,
vida porque
perdi uma das minhas melhores amigas, perdi
uma irmã. Tudo o que sou hoje, na «Família
Xutos», porque sim, sem dúvida que somos uma
família, devo-o à Marta.
E hoje em dia o espírito mantém-se. Uma data de
marmanjões e depois «as meninas»: a Lara e eu!
Os Xutos para mim são o Amor incondicional…
Orgulho… Família… Confiança.
Joã
Joãozinho
Ferreira, motorista e
aassistente pessoal
Eu já sabia que o meu irmão Kalú tinha
E
u
uma banda de rock e um dia, ao chegar
a ccasa começo a ouvir muito barulho
vind
vindo da garagem. Ao descer deparo com
19
S
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& D E C LARAÇÕES
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Q
O
DI Z DO S XUTO S & PO NTAPÉS
22
23
Kalú descansa nos camarins
improvisados em Vila
Pouca de Aguiar. Em baixo:
a energia dos Xutos em
palco. Págs. anteriores: Tim
sorri para a câmara em mais
uma viagem na carrinha; Zé
Pedro, junto a João Cabeleira,
maquilha-se antes de entrar
em palco
56
P
Paulo
Junqueiro, Sony Music
P
Portugal
Os Xutos marcaram, e continuam a
O
marcar, a minha vida de uma forma
ma
única e indelével. Comecei, como tantos
outros, como fã.
Lá pelo ano de 1983 andei a colar cartazes (na
chuva e com 5 graus) em Almada para os Xutos
tocarem num bar (nem me lembro do nome)
que era dos mesmos donos do Tokyo. E nem os
conhecia pessoalmente.
Em 1984 o Pita trouxe-me um monte de fitas,
de vários artistas, gravadas ao vivo no Rock
Rendez Vous, e eu, já técnico de som, tentei
tratar o som da melhor maneira que sabia. Saiu
a colectânea Ao Vivo no Rock Rendez Vous onde,
pela primeira vez, o meu nome aparece escrito
junto com o dos Xutos
Em 1985 fui morar no Brasil.
Em 1987 o acaso ou a sina (!) fez-me encontrá-los em São Paulo na saída do elevador do Hotel
Hilton. Uns dias depois foram para o Rio e
convidei-os para fazer uma jam session com uma
banda que eu estava a produzir e era fã deles
– IRA! No fim desse ano convidaram-me para,
juntamente com o Ramón Galarza, produzir o
seu disco seguinte – nem queria acreditar que ia
produzir um disco dos meus ídolos!!! Já eles
eram a maior banda de rock de Portugal
depois do Circo de Feras e do 7.º single
(Casinha). Esse disco é o 88. Através
deles conheci aquela que se iria
tornar minha mulher. No mesmo ano,
Ramón e eu produzimos o Ao Vivo no
Pavilhão do Belenenses.
Em 1989 casei e o Zé Pedro foi o nosso padrinho
de casamento.
Em 1990 fizemos o Gritos Mudos no Rio de Janeiro.
Em 1998 voltei para Portugal como A&R da EMI
e trabalhámos mais alguns anos.
Em 2007 voltei para o Brasil e, em 2012, regressei
a Portugal como director-geral da Sony Music.
Em 2013 recebi mais um presente dos Xutos
quando o Kabeca me telefonou a dizer que os
Xutos queriam mudar para a Sony – os Xutos
têm essa capacidade de decidir a que companhia
querem pertencer… coisa rara no mundo da
música… no MUNDO!
O que dizer de alguém que vive dentro de mim
há 30 anos?!
Os Xutos ensinaram-me a voltar a gostar de
Portugal, já que emigrei zangado com o meu país.
Foi com os Xutos que conheci a minha mulher,
com quem estou casado há 25 anos, e que me deu
dois filhos lindos. Tenho uma tatuagem do X dos
Xutos no ombro.
Tenho o privilégio de ter recebido dos Xutos, e
continuo a receber, muito mais do que algum dia
lhes poderei dar…
MUITO OBRIGADO XUTOS & PONTAPÉS!!
MUITO OBRIGADO TIM, ZÉ PEDRO,
KALÚ , JOÃO CABELEIRA E GUI (E
MARTA E KABECA). X
António Melão, fotógrafo
Antó
F
Falar
nos Xutos & Pontapés é muito
ffácil para mim… e foi uma honra
tterem-me escolhido para falar nos 35
an
anos desta banda mítica portuguesa…
sem dúvida a mais importante formação
Tenho o privilégio de ter recebido
dos Xutos, e continuo a receber, muito
mais do que algum dia lhes poderei dar.
Paulo Junqueiro
57
de rock dos nossos dias, com uma legião
de fãs de três gerações.
Como fotógrafo e como amigo de
todos os músicos que compõem os
Xutos, tenho assistido a concertos,
festivais e eventos vários e sinto-me
um privilegiado por ter em meu poder
arquivos com mais de 25 anos.
Já me tinham convidado para o livro
dos 20 anos, onde colaborei com
fotografias e onde figurei, como co-autor, ao lado de gente famosa como
a Rita Carmo, Álvaro Rosendo, Peter
Machado, entre muitos outros. Desta
vez pediram-me escrita… cá vai!
O meu primeiro contacto com a banda foi em
1987, quando saiu o LP Circo de Feras. O Contentores
cativou-me de imediato. Apesar de eu ter entrado
para o clube do heavy-metal, a música crua dos
Xutos & Pontapés agradou-me. Depois, em 1988,
saiu o 88 e tive acesso a uma cassete com temas
famosos, entre os quais A Minha Casinha e um
tema acústico, A Minha Aventura Homossexual com o
Gen. Custer. Ao longo dos últimos 26 anos, reuni
muita informação sobre os Xutos: set-lists, CD,
vinil, fotos, até coisas que mais ninguém tem e
não posso falar… Um dia destes conto ao Zé
Pedro, que é como um irmão, um homem que
sempre que me encontra não basta cumprimentar-me, tem de me dar um abraço, e eu a ele claro.
O Kalú também é especial, amigo do peito
mesmo. O Tim é mais reservado e o Cabeleira é
«bicho-do-mato», mas, tal como o Gui, um grande
amigo. Tenho uma relação privilegiada com
a banda. Nunca me decepcionaram
e eu nunca os decepcionei.
Resolvi contar os concertos que já
fotografei: 32… É obra! Os Xutos
batem qualquer outra banda que
já tenha fotografado, nacional ou
estrangeira.
Em relação às músicas, gosto muito
das clássicas como Chuva Dissolvente,
Para Ti Maria, A Minha Casinha,
Contentores… Mas a que mais me
marcou foi a música Para Sempre,
composta para o filme Tentação…
a guitarra do Cabeleira está sublime!
A melhor história que tenho com os Xutos foi
com o João Cabeleira, num evento na Antena 3.
Perguntei-lhe se me assinava um papel… resposta
do João: «Para quê?»
do
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c
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o
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vou
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ro Pais
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o
ã
o
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J
r
melho
58
João Cabeleira e o seu blusão encarnado no Porto, em
1994; Kalú numa das primeiras actuações dos Xutos
menos era o que me parecia naquela altura.
Tornaram-se muito carismáticos e populares em
1988, primeiro nas rádios com os singles Contentores
e A Minha Casinha mas também nas actuações,
com lotação esgotada, no pavilhão Os Belenenses.
Eu estive lá! E, se bem me lembro, o bilhete
custou-me 750 escudos (3,75 euros).
Depois foi o que se vê. Os rapazes continuaram,
fizeram-se homens e contam já com 35 anos
de estrada, multidões e canções.
É-vos conhecido a minha amizade com o Zé
Pedro. Li a sua biografia, conhecemos juntos,
e pessoalmente, os Rolling Stones numa casa de
fados, desabafamos dúvidas e alegrias, momentos
na vida e nos palcos, não há volta a dar!
Em Abril de 2014, tive o prazer de ter partilhado
duas canções com o Zé Pedro e o Kalú, em
Zurique (Suíça) e, antes do concerto, disse-lhes
que me sentia «fraquinho». É claro que deu risota
geral, porque eles sabem ao que eu me referia.
Existe um pacto, pelo menos entre nós: conversa
de estrada, morre na estrada.
À medida que os vou conhecendo melhor, mais
respeito lhes vou tendo.
Um aabraço caros Comendadores. X
L Montez, Música
Luís
nno Coração
Por acaso tenho um autógrafo do Zé Pedro…
…ea
sua amizade…
Long live Xutos & Pontapés. X
JJoão Pedro Pais, músico
Na década de 1980, um colega
N
meu
m de escola deu-me a ouvir,
pe
pela primeira vez, um grupo de
músic
música portuguesa de nome Xutos &
Pontapés. Éramos adolescentes e tínhamos toda a
curiosidade de ouvir o que se fazia naquela época
cantado em português, desde o Júlio Pereira,
Trovante, passando pelos Taxi, Jáfumega, até
ao punk-rock, representado na altura pelos Iodo
e pelos Xutos, tendo estas duas bandas algumas
influências dos Sex-Pistols e Ramones, pelo
O que é que uma banda pode
ser para lá da música que oferece?
Com
Começamos, claro, por nos afeiçoar
a uma melodia e, às palavras e ao ritmo que
comporta. Sempre tive um jeito vigilante, porque,
nas coisas das canções, nunca me distraí do que
podia importar. Em 1987 – ontem, portanto – já
trabalhava na Rádio Comercial. A paixão pelo
maravilhoso e inextinguível mundo da rádio
brotou da predilecção pelo rock, pelas canções
novas de estilo e por todos aqueles sons.
Por esses dias os Xutos lançaram um dos grandes
e seminais discos da sua obra: Circo de Feras.
Pelo TNT, o velhinho mas ainda presente
«Todos no Top», rodava imparável uma versão
muito dançável dos «Contentores». A minha
relação com o tema impeliu-me a sair dos quadros
da rádio, e ser o que fui antes, ouvinte dedicado.
Foram muitas as vezes em que liguei para o TNT
59
Diana Chaves, actriz
D
G
Guardo
comigo, desde criança,
m
músicas incontornáveis dos
Xu
Xutos & Pontapés, que vão
semp
sempre ser eternas. Homem do Leme e
Chuva Dissolvente fizeram parte da minha
adolescência e foram, muitas vezes, a minha
banda sonora. Acredito que são das poucas
bandas em Portugal que conseguem abranger
três ou quatro gerações, e isso é incrível.
Trinta e cinco anos de existência é um
enor
enorme feito.
M
Muitos Parabéns! X
Rita Carmo, fotógrafa
R
É impossível falar de música
por
portuguesa
sem dedicar uma
genero
generosa fatia aos Xutos & Pontapés. Pela
importância, pela música, pelos seguidores e pela
longevidade activa e criativa da banda. Vivemos
todos ao som de músicas que sabemos de cor e
que sussurramos quando ouvimos, quase sem
querer. Também eu vivi ao som dos Xutos.
Mais: trabalhei e inspirei-me na banda sonora
dos Xutos & Pontapés, dentro e fora de
salas de concertos.
Fotografei-os, pela primeira vez, em
Abril de 1992, no mítico Johnny Guitar,
em Lisboa. Na verdade, foi a minha
primeira entrevista para o jornal Blitz
e recordo-a como se fosse hoje. Não me
correu bem. Pela inexperiência e enorme
nervosismo custou-me retirar imagens desta
sessão. A vez seguinte, uns meses mais tarde,
na mesma sala lisboeta, foi um concerto. E,
aqui, tudo se inverteu: falava-se da cisão do
grupo. No entanto, o concerto teve uma energia
incrível naquele espaço tão pequeno. Lá bem na
frente deles, fiz uso do meu último recurso de
luz e captei o abraço entre o Tim e o Zé Pedro.
Cheguei à redacção e a fotografia escolhida
(a preto e branco, claro) era esse gesto, tão
espontâneo quanto verdadeiro. E fiquei nas boas
graças do então director...
Depois destes dois episódios, fotografei-os mais
de 50 vezes, entre sessões curtas, longas, capas
do Blitz, da Blitz, ensaios, gravações de discos,
concertos, festivais. À frente do palco, por detrás
do palco. Aventuras com faroleiros e faróis,
botes no meio do Tejo, salas de embarque do
aeroporto de Lisboa, sessões cheias de glamour
para a capa da Blitz. Acompanho-lhes o trabalho,
o percurso, o crescimento e a popularidade.
E encontro neles a simplicidade com que lidam
com tudo, a franqueza e a honestidade no
trabalho. A proximidade e a confiança que lhes
tenho permitiu-me, certamente, ter imagens
únicas e, no meu dia-a-dia dos palcos, relembro
muitas vezes a querida Marta.
Obrig
Obrigada, Zé, Tim, Kalú, Cabeleira e Gui
po
por tamanha honra.
M
Muito obrigada! X
Pedro Granger, actor
P
Que «estupidez»...
Qu
Rockalhados é o que vocês são, não é?
Rocka
Que ricos rockalhados me saíram na rifa então!
e
u
q
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es m
h
l
o
h
n
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a
..
Hoje em di sinto inveja purar.m an José
He
admiração
66
Casinha? Inha? «A minha casinha»?!!!
Que raio de «pequenina» inhice para uma banda
de rock da pesada que se preze.
Uma banda que se quer que vire «o mundo
ao contrário», que seja um «circo de feras» de
«lei animal», «esquadrão da morte» aos «gritos
mudos», pronto para encher o «perfeito vazio»
das nossas vidas qual «superjacto» de som, digno
de cortar «cordas e correntes», com «contentores»
de «doçuras» e «sombra colorida» em «alta
rotação», anda-me para aí a cantar coisas
acabadas em inha?!!!
Uma banda que mal começou tinha um
«futuro que era brilhante» e que, neste «jogo
do empurra» que é a vida, cedo se diferenciou
com cada «pormenor» da sua garra e talento de
muita «gente de merda» que por aí anda «sem
eira nem beira», num constante «toca e foge»,
«gota a gota» em «morte lenta».
Uma banda que, por mais que os anos passem,
não arruma as «botas» e, sem «medo», tem
sempre a «carta certa» na manga, coisa própria
de quem arrisca e «dá um mergulho» no mar e
assim quer continuar, a «voar» e «remar, remar»
nesta «vida malvada», venha sol mais quente ou
«chuva dissolvente», numa «teimosia» saudável
de quem tem muita e «boa» música para dar.
Contigo os dados, os «mil dados», são sempre
«dados viciados».
Atires por onde atirares o resultado é sempre
bom.
Então ouve lá oh banda de rockalhados!
«Se me amas», a mim e aos milhares de fãs que
te adoram, não demores muito tempo a dar-nos mais e mais música, porque «enquanto a
noite cai» e não cai, «longa se torna a espera»,
por isso «diz-me», canta-me e «conta-me
histórias» como só tu o sabes fazer, «porque eu
sei» que não há «lugar nenhum» no mundo,
«outro país», nem «n’América» sequer, onde
não haja gente aos pontapés que goste de ti.
Tenho a certeza que «não sou o único» que te
acha o verdadeiro «homem do leme» do rock
português.
Gosto dos Xutos. Mas também «é tão fácil»
gostar dos Xutos.
Faço parte da «classe de 79», foi esse o
ano em que nasci e até hoje fui gostando,
67
curtindo, assistindo, cantando, vibrando,
sonhando e amando a tua música, a vossa música
«à minha maneira».
Acredito que haja 1001 maneiras boas e diferentes
de desbundar o vosso trabalho, mas acreditem
que a minha maneira é fixe para caraças.
OBRIGADO XUTOS!
Post-scriptum - A minha casinha é efectivamente
uma das músicas que mais gosto de vos ouvir
tocar, mas tinha de arranjar uma maneira qualquer
para começar a escrever esta carta... X
Herman José, humorista
H
A
Aconteceu
-me com os Xutos o
mesmo que com as favas. Um
m
68
e outro estavam nos antípodas dos meus gostos.
Uns porque recuperavam um som longe dos
Herbie Hancock, Chick Corea, Wolfgang Dauner,
Michael Franks, Miles Davis e Brecker Brothers
que iluminaram a minha juventude, outras
porque me reportavam para a brutalidade de uma
leguminosa desalmada servida atabalhoadamente
com chouriço e coentros. Entretanto, crescemos
todos, os Xutos, eu, e a minha cultura culinária.
Quase na mesma altura – algures no final dos
anos 1980 – descobri em Paris, num jantar
de perdizes, a importância das favas quando
descascadas, cozidas ao vapor e passadas por
manteiga clarificada. E, bem perto de um palco
onde os Xutos actuavam ao vivo, fui tocado
pela consistência da sua música, pelo seu
profissionalismo obsessivo e, sobretudo, pela
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Medina
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R
linda que
coerência da sua arte.
Hoje em dia, tenho-lhes mais
do que admiração – sinto inveja
pura. Há meses compartilhamos
o mesmo palco em Genebra,
e só me apeteceu saltar para o
palco e roubar a viola-baixo das
mãos do Tim. Os meus músicos
agarraram-me, acalmaram-me e levaram-me a comer um
apfelstrudel para que esquecesse
a pulsão.
Estamos – os Xutos e eu
– numa espécie de máximo
denominador comum entre juventude e
experiência. Este é o momento do nosso carpe
diem. Nos dias de maior inquietação com o futuro,
pensemos que ainda nos faltam uns anos valentes
para a nossa fase Rolling Stones / Woody Allen /
Cocotte de légumes croquants d’Alain Ducasse que me
garantem ser igualmente estimulante. Voltamos
a falar nas comemorações dos 40 anos,
mas dessa vez, irei munido da minha
Ri
Rickenbacker. X
Roberta Medina, Rock in Rio
R
Cheguei a Portugal pela primeira
C
vez em Maio de 2003 e tinha como
missã
missão produzir o Rock in Rio Lisboa.
Não conhecia nada da cultura local nem conhecia
absolutamente ninguém no país.
À medida que fui fazendo amigos, comecei
a frequentar festas de aniversário onde
invariavelmente havia determinados momentos
onde as pessoas iam ao delírio com algumas
músicas que o DJ tocava – no Brasil também
temos as nossas, são músicas que marcaram
a nossa história e que a cada acorde nos trazem
as lembranças e as alegrias de tempos felizes.
Cada vez que isso acontecia, servia para me
lembrar que eu «não era dali». E um «gringo»
que mora fora precisa ser! Para não ficar
completamente perdido e sem raízes.
Bom, a decisão estava tomada: «tinha de,
rapidamente, aprender as letras daquelas
canções», e algumas festas depois eu estava pronta
para participar daquele «momento de delírio
colectivo». A primeira vez que consegui vibrar
e sorrir, dançar e cantar junto com todos e com
toda a força a música A Minha Casinha, dos Xutos,
ficou como um marco histórico em mim.
De repente eu já era dali, de repente começa
um caminho sem volta que me levou a escolher
Portugal como minha casa, até casar com um
português e ter uma filha «alfa-carioca».
Um ano depois de ter chegado a Portugal pela
primeira vez, os Xutos & Pontapés subiam ao
Palco Mundo do Rock in Rio Lisboa. Pelo
menos uma música eu sabia cantar. O que eu não
esperava era ser completamente arrebatada pelo
poder e carisma da banda, pela energia linda que
troca com o público, pelas pessoas fantásticas que
são aqueles cinco artistas em palco.
Agradeço pelos amigos que se tornaram, pelo
carinho e o apoio incondicional que vocês sempre
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R
A
M
RE
R E MAR
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119
1955
1963
2 de Fevereiro - Nasce José Leonel dos Santos Pinto
Perfeito (Zé Leonel) na Póvoa de Santa Iria.
Regresso de Zé Pedro e família a Lisboa.
1956
13 de Setembro - Nasce José Pedro Amaro dos Santos
Reis (Zé Pedro) em Lisboa. É o terceiro filho, o primeiro
rapaz de sete irmãos.
1957
30 de Agosto - Nasce Carlos Nascimento (Gui).
1958
1965
Tim muda-se com a família para Almada.
Zé Pedro passa os Verões com a família na Praia do
Alemão, Portimão.
1967
Tim entra para o orfeão do colégio. Também começa a
entrar em pequenas peças teatrais.
29 de Julho - Nasce Carlos Eduardo Cardoso Ferreira
(Kalú), no Porto, o quinto filho de 13 irmãos.
«Foi quando percebi que havia uma outra maneira de estar
no outro lado da cortina.»
Tim
1960
1968
Nasce António Manuel Lopes dos Santos (Tim), em
Ferreira do Alentejo.
O pai de Zé Pedro é transferido para a Guiné. Zé Pedro fica
em Lisboa mas nas férias voa num avião militar para se
reencontrar com a família.
1962
14 de Agosto - Nasce João Manuel Pereira Cabeleira.
Kalú senta-se pela primeira vez numa bateria, no
casamento dos seus tios, no Casino Estoril.
Devido à carreira militar do pai (oficial do exército), Zé
Pedro muda-se com a família para Timor. A viagem é feita
por barco com escala em Goa, Índia, Singapura, Hong-Kong e Macau antes de chegar a Díli, Timor.
Tim recebe dos pais o seu primeiro instrumento musical,
uma harmónica.
Gui frequenta os cursos musicais patrocinados pela
Fundação Calouste Gulbenkian, onde toma contacto com
diversos instrumentos musicais, tais como o metalofone
e a flauta. Gui frequentará esse curso até aos 8 anos
de idade.
Gui e o irmão frequentam o Colégio Marista, até ao ano de
1972.
1969
1971
Mudança de Kalú do Porto para Lisboa, pelo facto de o pai
ter adquirido uma fábrica de cortiça no Montijo.
Tim, aos 11 anos, com a sua primeira
guitarra; Kalú (último à direita) descobre
a bateria no casamento de um tio, no
Casino Estoril; imagem de Gui na infância;
a primeira formação dos Xutos & Pontapés,
em 1980: Tim, Zé Pedro, Kalú e Zé Leonel
120
Na companhia do pai, Zé Pedro vai à primeira edição do
Cascais Jazz, onde assiste ao concerto de Miles Davis,
Keith Jarret, Ornette Coleman e Charles Haden.
1973
Tim recebe a seu primeira guitarra trazida de Espanha
pelos pais. Adquire as primeiras noções de guitarra com
os escuteiros, dos quais faz parte.
«Aos 13 anos percebi logo que queria ser músico.»
Tim
1974
Kalú compra a sua primeira bateria, uma Tama Singstar, a
João Pereira Coutinho, por cinco contos (25 euros). Para
a pagar arranja trabalho, primeiro a embalar fruta e em
seguida a descascar alhos.
«Eu era bem comportado. Só me meti em sarilhos uma
vez e foi por andar à “pêra”! Mas uma das memórias mais
engraçadas foi no 25 de Abril quando íamos à escola para
não ter aulas. Era uma alegria. E depois havia as miúdas.
Nessa altura ia-se aproveitando para desbravar caminho.»
Tim
1975
Hélder Batista, pai do Tim, constrói-lhe uma guitarra.
Começa a tocar em festas na Zambujeira e na Moita.
João Cabeleira começa a debitar os primeiros acordes na
guitarra acústica da irmã.
Em Espanha, o ditador Franco executa os últimos cinco
opositores ao regime. Uma onda de revolta invade a
capital portuguesa, que culmina no assalto à embaixada
de Espanha. Zé Pedro é um dos intervenientes, embora
tenha um papel de espectador.
1976
Zé Pedro compra a sua primeira guitarra, uma Kawai,
a um estrangeiro que precisava de dinheiro, e também
uma bicicleta, tudo por quatro mil escudos (cerca de 20
euros). Começa a escrever crítica musical no suplemento
«Mosca», do Diário de Lisboa. O editor era Luís Sttau
Monteiro e, entre outros colaboradores, encontrava-se
José Cardoso Pires.
1977
Zé Pedro ingressa na Escola Superior de Meios de
Comunicação, no curso de Jornalismo.
Durante o Verão, Kalú e Zé Pedro, embora não se
conhecendo na altura, vão ao festival Mont de Marsan, no
sul de França. Do cartaz fazem parte os Clash, os Damned,
Lou Reed, entre outros. Os dois vêm a fervilhar de ideias…
Tim recebe o seu primeiro baixo.
Zé Pedro e Zé Leonel conhecem-se em Setembro.
«O meu pai quis fazer-me uma guitarra, porque gosta
muito de tábuas, de madeiras e de guitarras… e tem
jeito! Então pedi-lhe que me fizesse um baixo, mas ele
foi à Custódio Cardoso Pereira e os gajos meteram-lhe na cabeça de que os baixos não se podiam ligar às
estereofonias de casa porque lixavam aquilo tudo. Então
ele fez uma guitarra… azul!»
Tim
«Já conhecia o Zé Leonel, que andava com uma das
minhas irmãs. A seguir começam os Faíscas, influenciados
pela onda punk e pelos Sex Pistols. Nessa altura, o Pedro
Ayres estava sempre a picar-me para eu formar uma
banda e foi aí que pusemos um anúncio na «Música &
Som» a pedir um baterista e apareceu o Kalú. (...) Era eu,
o Kalú, o Zé Leonel e um amigo de uma namorada que ele
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