Períodos da Língua Portuguesa Ilza Maria Ribeiro, Charlotte Galves, Maria Clara Paixão de Sousa I. Dos limites temporais das mudanças lingüísticas, segundo M. Said Ali (“Gramática Histórica”, 1921) “Alterações lingüísticas não dependem do calendário, nem do ano em que o século acaba ou começa. O que devemos entender por linguagem quinhentista, seiscentista, etc., é a maneira de falar dominante em grande parte da respectiva era, ou nela principalmente. Dizeres peculiares a qualquer das épocas continuam muitas vêzes a ser usados por alguns escritores do período seguinte”. (Said Ali, 1921). “Ignora-se a data ou o momento exato do aparecimento de qualquer alteração lingüística. Neste ponto nunca será a linguagem escrita, dada a sua tendência conservadora, espelho fiel do que se passa na linguagem falada Surge a inovação, formulada acaso por um ou poucos indivíduos; se tem a dita de agradar, não tarda a generalizar-se o seu uso no falar do povo. A gente culta e de fina casta repele-a, a princípio, mas com o tempo sucumbe ao contágio. Imita o vulgo, se não escrevendo com meditação, em todo o caso no trato familiar e falando espontâneamente. Decorrem muitos anos, até que por fim a linguagem literária, não vendo razão para enjeitar o que todo o mundo diz, se decide também a aceitar a mudança. Tal é, a meu ver, a explicação não sòmente de fatos isolados, mas ainda do aparecimento de todo o português moderno” (Said Ali, 1921). II. Algumas periodizações tradicionais (cf. Mattos e Silva, 2005:25) época até séc. IX (882) até ~ 1200 (1214-1216) até 1385/1420 Leite de Vasconcelos Serafim da Silva Neto Pilar Vásquez Cuesta Lindley Cintra pré-histórico pré-histórico pré-literário pré-literário proto-histórico proto-histórico português arcaico trovadoresco galego-português português antigo português comum português pré-clássico português moderno português clássico português clássico português moderno português moderno até 1536/1550 até séc. XVIII português moderno até séc. IXI/XX III. Questões Colocadas para a Teoria da Gramática i) Quais desses períodos determinados pela tradição dos estudos históricos do português correspondem a etapas gramaticais, ou seja, a um determinado padrão de fixação paramétrica? ii) Podemos datar precisamente as fronteiras entre as diferentes gramáticas assim definidas? IV. Uma “Periodização do Português Revisitada” IV.1 Proposta para a Periodização do Português em Galves, Namiuti e Paixão de Sousa (2005) “A partir da investigação de fatos empíricos relativos à sintaxe dos clíticos pronominais, e à luz da teoria gerativa da gramática, propusemos aqui que na diacronia do português podem-se reconhecer três etapas gramaticais, a que chamamos o Português Arcaico, o Português Médio e o Português Europeu Moderno. Ao Português Médio corresponde uma gramática que emerge entre os séculos 14 e 15, e cujas características serão progressivamente reveladas pelos textos escritos até inícios do século 16. Ao Português Europeu Moderno corresponde uma gramática que emerge no século 18 em Portugal, e cujas características serão gradualmente incorporadas nos textos até inícios do século 19. ” (GNPS 2005:18) datas período Evidências Sintáticas Consideradas XII/XIII-XIV/XV Português Arcaico Alternância ênclise/próclise, com tendência para a ênclise Possibilidade de não-contiguidade clítico-verbo em afirmativas (Interpolação arcaica) Ordem básica VS (sintaxe “V2”) IV/XV - XVII Português Médio Alternância ênclise/próclise, com tendência para a próclise Possibilidade de não-contiguidade clítico-verbo em afirmativas (Interpolação média) Ordem básica VS (sintaxe “V2”) XVIII/XXI Português Europeu Moderno Ênclise categórica Obrigatoriedade da contiguidade clítico-verbo em afirmativas Ordem básica SV V. Objetivos desta Mesa – – – – Analisar os dados referentes à posição de sujeitos e colocação de clíticos à luz dos dados referentes a estratégias de focalização, em especial a emergência da construção de clivadas verdadeiras. Demonstrar que a análise conjunta desses dados mostra o surgimento de uma diferenciação clara entre textos produzidos por autores nascidos depois do final do século XVII e textos produzidos por autores nascidos no século XVIII. Discutir as questões que envolvem os limites finais do chamado Português Médio, sobretudo quanto ao estatuto gramatical da sintaxe dos textos representativos da última geração dos 1600. Propor um enriquecimento da periodização proposta em Galves, Namiuti e Paixão de Sousa (2005), pelas novas informações relativas à clivagem: Português Arcaico Português Médio Português Europeu Moderno [ ......... i n t e r p o l a ç ã o........] [..................................alternância S#Vcl ~ #SclV..............................] [......#SV = #SVcl............] [...................................ordem básica VS............................................] [......ordem básica SV.......] [......clivadas.......] Português Brasileiro [......#SV = #SclV............] [......ordem básica SV.......] [......clivadas.......]