Porcos História e domesticação Os porcos são descendentes do javali selvagem europeu (sus crofa). Existem estudos ao nível da genética molecular que apoiam a teoria de que os porcos foram domesticados independentemente a partir de subespécies de javalis selvagens na Europa e na Ásia. No inicio da domesticação, os porcos eram usados para alimento. Comportamento Social No geral, os porcos são animais sociais. Uma vara típica de javalis selvagens ou de feral pigs (populações de porcos domesticados que fugiram do cativeiro e se reproduziram livremente com pouca influencia humana), é constituída por fêmeas com alto grau de proximidade, da mesma família e pelos seus filhotes, enquanto que os machos sexualmente maduros são muitas vezes solitários, vivendo por vezes em grupos onde todos os elementos são machos. As varas das fêmeas têm cerca de 2 a 6 elementos. Um grupo de porcos desenvolve uma hierarquia estável a qual é mantida a longo prazo por comportamentos de submissão frequentes pelos animais que estão numa ordem social mais baixa. Quando os porcos em condições de produção são misturados com estranhos, normalmente lutam intensamente por um período, até que a ordem de dominância se forme. Estas lutas são quase sempre ganhas pelos indivíduos maiores e, consequentemente, existe normalmente uma forte correlação entre o tamanho do animal e a sua posição social num grupo. Os javalis selvagens e os feral pigs não são territoriais, não defendendo, por exemplo, uma área específica. Vivem em espaços restritos com um alto grau de fidelidade. A disponibilidade de comida é importante na determinação do tamanho dos espaços em que vivem e os machos têm muitas vezes áreas maiores que as fêmeas. Sinais e Comunicação O sentido mais importante para a interacção social nos porcos é o olfacto. São usados sinais químicos para o reconhecimento individual e, provavelmente, existem odores (feromonas) que transportam mensagens muito específicas. A visão parece ser menos importante para a comunicação entre os porcos. Na sinalética são usadas as orelhas, cauda e postura corporal. Quando as orelhas são retidas e escondidas ao longo do pescoço indicam receio. Se a cauda está erecta e na vertical significa perigo, pelo contrário se estiver deprimida é um sinal típico de um porco submisso. Enquanto que inclinar a cabeça para o lado também é um sinal de submissão, arquear as costas pode ser uma ameaça. É errado pensar que a cauda enrolada de um porco doméstico significa felicidade. Os javalis selvagens não enrolam as suas caudas. Á primeira vista o enrolar da cauda é um efeito da domesticação, análogo à cauda enrolada de algumas raças de cães. A ideia tem alguma validade porque um porco relaxado e que não está exposto ao perigo ou a ameaças sócias, tende a enrolar a cauda, embora isto não tenha a função de transmitir nenhuma sinalética aos outros porcos. Os porcos também têm um repertório de sinais vocais com funções mais ou menos específicas. Por exemplo, o grito de aviso é emitido devido a uma estímulo assustador repentino e é parecido ao latido de um cão. Os outros porcos respondem imediatamente repetindo o grito e ficam quietos ou fogem. Também existem grunhidos de contacto, guinchos de submissão, gritos de pedido de leitões e o grunhido especial de lactação da porca. Alimentação Os porcos são animais omnívoros e facilmente adaptam os seus regimes alimentares dentro de um largo espectro às condições dominantes. A base da dieta nos javalis selvagens feral pigs é geralmente plantas e alimentos com base em plantas, como ervas, raízes, fruta, bagas, sementes, etc. Os animais também podem constituir uma parte substancial da sua dieta, comendo minhocas, sapos e roedores. Os porcos podem ainda ter comportamentos de predador. O focinho do porco está extremamente bem adaptado aos seus hábitos alimentares. Com a sua parte superior consegue levantar objectos pesados como pedras e troncos, e cavar e revolver o solo para ter acesso a raízes e sementes. O disco do focinho tem sensibilidade e uma boa enervação e o olfacto é extremamente sensível. Contudo, a procura de raízes é apenas um dos comportamentos típicos dos porcos na procura de alimentos. A pastagem é um comportamento também bastante comum, particularmente quando há abundância de plantas verdes. Sendo possível, a maioria dos porcos gasta uma grande parte do seu tempo em exploração, procurando raízes num solo específico. Porcos que estejam em pastagens são normalmente equipados com um anel no focinho (arganel) para prevenir a destruição da terra, uma vez que os anéis causam dor caso tentem vasculhar o terreno. Se não tiverem o anel irão revolver a terra intensivamente. No entanto, porcos com arganel possuem alguns sinais de frustração, sendo por isso, o revolver da terra considerado uma necessidade nos direitos dos porcos. A exploração de terrenos está proximamente ligada ao comportamento de procura de alimentos nos animais omnívoros, e os porcos não são excepção. Revolver, cheirar e mastigar são os principais comportamentos de exploração destes animais. Mesmo quando não existe nenhum tipo de estímulo externo, os porcos parecem estar fortemente motivados para levar a cabo comportamentos exploratórios. Ritmos diurnos Os porcos são animais diurnos. Quando criados em regime intensivo é comum que os períodos de actividade se centrem à volta da altura da alimentação, o que causa no geral dois picos de actividade: Um de manhã e outro à tarde, intercalados por períodos de descanso. Um comportamento típico dos porcos é chafurdarem. Como têm muito poucas glândulas sudoriparas e são quase incapazes de transpirar apostam em chafurdar na água ou lama para arrefecer o corpo quando a temperatura do ambiente aumenta. Em condições naturais, porcos adultos podem ser vistos em tal actividade quando a temperatura excede os 20ºC. Quando livres, os porcos domésticos movem-se entre áreas de forragem específicas e têm algumas zonas de descanso. Todo o grupo fica no mesmo abrigo. Nos currais os porcos geralmente escavam o chão e levam palha, se esta existir, para os abrigos antes de se deitarem para a noite. Comportamento Sexual Os porcos domésticos ficam sexualmente maduros aos 7 meses. O cio pode ocorrer a qualquer altura do ano. Quando não estão grávidas, algumas porcas entram em cio com 21 dias de intervalo, tendo cada período de cio 3 dias e possuem uma receptividade máxima durante 12 horas. A corte e o a acasalamento contêm sinais de ambas as partes: a fêmea urina e guincha enquanto o porco lhe faz a corte e este, emite um grunhido especial “chantde-coeur”, urina e produz espuma na boca. Além disso, o macho empurra a fêmea com a tromba e coloca a cabeça, repetitivamente, nas suas costas. Quando a fêmea está receptiva assume uma postura específica que alicia à cópula. A cópula dura 5 a 10 minutos. Construção do ninho e Parto A gravidez dura 115 dias. As porcas em liberdade deixam o grupo e procuram um local adequado. Quando o encontra, a porca começa a construir o ninho, recolhendo materiais como relva, fetos e galhos de distâncias superiores a 50 m do ninho. Parece que a construção de ninhos tem um efeito primário no comportamento maternal consequente. O parto dá-se algumas horas após a construção do ninho estar finalizada. Ao contrário de outros ungulados a porca não lambe os leitões recém-nascidos e raramente se levanta para os cheirar. Os cerca de 10 leitões libertam-se sozinhos das membranas fetais e rasgam o cordão umbilical com o intuito de chegarem aos tetos. O parto das porcas ao ar livre dura 4 a 6 horas enquanto que em unidades de produção pode durar várias horas. Aleitamento Em porcos ao ar livre, a porca permanece com os leitões no local do parto por um período superior a 2 semanas. Todo o aleitamento ocorre nesse local e cada leitão mama de uma ou, por vezes, duas tetas, fixando-se aí a partir desse momento. Nas primeiras semanas depois do parto as porcas amamentam uma vez por hora. A fêmea dedica-se à amamentação durante as primeiras semanas e assinala o seu inicio pela emissão de um grunhido de lactação, com um tom de voz distinto. Este grunhido é repetido durante cerca de um minuto em intervalos de 2 segundos. Depois de passado um minuto, o número de grunhidos aumenta para 2 por segundo, o que faz com que os leitões parem de massajar as tetas e comecem a mamar lentamente. O leite começa a ser mamado 20 a 25 segundos após o pico do número de grunhidos. O leite é ejectado num período de apenas 20 segundos após o qual os leitões voltam a massajar as tetas por 10 a 15 minutos. Este comportamento parece ser uma forma de estimular a produção de leite num futuro próximo. Desenvolvimento Os leitões têm um comportamento precoce, pois movimentam-se coordenadamente em menos de uma hora após o nascimento. Depois de passados 10 dias, geralmente não regressam ao seu ninho. No entanto, com porcos que não são familiares haverá uma actividade social elevada, com poucas situações de agressão. A maior parte da interacção consiste em contactos com o nariz. Quando os leitões têm 8 semanas de vida a interacção estabiliza a um nível baixo. Ao período entre as 2 e 8 semanas de vida é dado o nome de fase de integração social. Sob condições naturais, os leitões começam a ingerir alguns alimentos sólidos imediatamente após nascerem, mas apenas quando têm cerca de 5 semanas é que começam a ingerir quantidades substanciais. A idade média do desmame é às 17 semanas. É um processo gradual em que a frequência com que mamam decresce linearmente. Problemas Existem sempre riscos consideráveis quando se força animais a viverem em condições nas quais o seu comportamento natural está fortemente limitado: Restrições no espaço – As porcas são confinadas a áreas bastante pequenas. Os porcos de engorda vivem em currais tão cheios que não existe espaço para que todos se deitem de lado ao mesmo tempo. As porcas grávidas são cada vez mais frequentemente mantidas em grupos; Falta de estimulação – Currais que não permitem construir ninhos, procurar palha (não permitindo a exploração). Restrição de alimentos ás porcas grávidas (passam a maior parte do tempo da gravidez com fome). Cirurgia e mutilação – Os caninos e os terceiros incisivos são cortados ou limados (para evitar ferir os irmãos e as tetas da mãe) o que causa dor e pode desencadear uma infecção se não for realizado da maneira absolutamente correcta. Os leitões machos são castrados durante o período de lactação ( na prevenção do comportamento de morder) também sem anestesia. Desmame – é realizado quando os leitões têm menos de 4 semanas o que é uma fase muito curta pois a mãe é afastada instantaneamente dos leitões. Os leitões são transferidos para currais de desmame bastante cheios. Ao desmame está associada a mistura de ninhadas. Estes acontecimentos são potencialmente stressantes para os leitões e podem aumentar a susceptibilidade a doenças (diarreias, etc.) e distúrbios no comportamento. Mistura de porcos desconhecidos – Conduz a lutas intensas. Os leitões devem ser misturados quando necessário preferencialmente ás 2 ou 3 semanas de vida, com as respectivas mães presentes, num ambiente com vários estímulos (esconderijos, palha, etc.). Comportamento anormal – Porcas grávidas desenvolvem estereótipos como morder barras ou mascar. Em porcos jovens é comum realizarem movimentos de procura com a tromba à volta da barriga de outro macho, assim como morder a cauda e as orelhas. Não são considerados comportamentos agressivos, mas sim causados por uma forte motivação para a exploração.