670% 38% - Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

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ab
Domingo, 16 DE Agosto DE 2015
raquel Cunha/Folhapress
2 série especial primeira infância
CAPA
PRIMEIRA infÂnCia
O termo define o período que vai da gestação aos seis anos. É a fase em que há maior
expansãodeconexõesneuronais,basedoaprendizado,doraciocínioedacapacidadede
criarbonsrelacionamentosaolongodavida.asconexõessemultiplicamseacriançatem
vínculos afetivos fortes com adultos e recebe os estímulos certos. e podem ser lesadas
em casos de estresse prolongado como negligência ou violência. primeira infância é o
foco desta série que começou no domingo passado (9/8) e termina no próximo (23/8).
nesta edição, o caderno prioriza os cuidados com crianças de três a quatro anos.
PAI E
BEBÊ
ELAS E
AS TELAS
0 a 2 anos
3 a 4 anos
HORA DA
EScOLA
o quE sE PAssA nEssA
cAbEcInhA
>>marCos do desenvolvimento por idade
Considerando as características médias das crianças
Começa a redução da
obstinação (capacidade
de agir diferentemente
do instinto natural,
como classificar
cartões coloridos por
forma em vez de cor)
Fala cerca de
290 palavras
e frases com
diversas palavras
anos de idade
Mantém na
mente duas
regras (por
exemplo, azul
nessa caixa,
vermelho na
outra)
Muda ações
de acordo com
mudança das
regras (tira os
sapatos em casa,
mas os mantém
na escola)
Começa a
compreender que
a aparência nem
sempre é igual à
realidade (percebe
a diferença entre
uma pedra e uma
esponja com
aspecto de pedra)
>>formação de sinapses (ligações) entre neurônios, de 3 a 4 anos
Maior número
de sinapses
670%
5 a 6 anos
Área de broca
Responsável
pela expressão
verbal
Menor número
de sinapses
foi o crescimento no número
de smartphones
no Brasil entre
2010 e 2015
38%
das crianças com
menos de dois
anos nos EUA haviam usado celular em 2013 (eram
10% em 2011)
PERDIDos
nA
CriAnçA e teCnologiA
ChAPéu
se faltam CONClUsões sOBRe Os efeItOs Das telas sOBRe
CRIaNÇas PeQUeNas, sOBRam PROvas CIeNtÍfICas De QUe
BRINCaR e INteRagIR NO mUNDO Real é BOm PaRa CResCeR
bruno fávero
fábio takahashi
de são paulo
Córtex pré-frontal
Responsável por
funções cognitivas
mais refinadas,
como planejar ações
Giro angular
Responsável
por associar
percepções
sensoriais que
vão estruturar
a linguagem
Córtex auditivo
Responsável
pela audição
Córtex visual
Responsável
pela visão
>> estímulos positivos
para crianças de 3 a 4 anos
Nessa fase, é bom incentivar um certo
grau de autonomia, dando talheres de
plástico para a criança usar na hora das
refeições ou deixando que ela mesma
se vista com peças de roupa fáceis de
serem colocadas
Deixar a criança brincar sozinha, com
brinquedos ou amigos imaginários, é
um grande estímulo à criatividade, além
de desenvolver a confiança da criança
para resolver desafios físicos, motores,
emocionais ou intelectuais
Saul Cypel
neurologista infantil
adriana friedmann
educadora e antropóloga
Estabelecer regras de comportamento
aos poucos, e repeti-las sempre, deixa
a criança mais segura em situações em
que está longe dos pais e facilita sua
convivência com outras crianças ou com
adultos que não pertencem à família
Levar os filhos aos espaços infantis de
livrarias ou bibliotecas públicas e deixálos brincar com os livros, ouvir histórias ou
simplesmente se deitar num travesseiro e
observar o ambiente abre o caminho para
eles descobrirem o prazer da leitura
ana OlmOS
psicanalista e neuropsicóloga infantil
ilan Brenman
escritor de livros infantis
Crianças de até dois anos
não devem ser expostas a celulares e tablets. Dos três aos
cinco, segundo o consenso
científico existente até agora,
podem usá-los até duas horas por dia—desde que a diversão eletrônica não substitua brincadeiras ao ar livre e
interação com pais e amigos.
“O cérebro na primeira infância está em ebulição, e o
que se aprende nessa fase fica guardado por toda a vida.
A tela é experiência pobre,
sem a riqueza sensorial e a
tridimensionalidade da realidade”, defende o psicólogo
André Trindade, autor de
“Gestos de Cuidado, Gestos
de Amor” (Summus).
Tente dizer isso para Laura, 4. Ela adora ver vídeos no
tablet que ganhou dos avós,
à revelia dos pais, Fernanda
Pegler, 35, e Daniel Pinto, 32.
Após meses de uso, a mãe
notou que a filha passou a
roer as unhas, embora não
saiba se os fatos têm relação.
Para evitar que a menina
passe tempo demais com os
olhos na tela, a mãe controla
o uso e proíbe que o equipamento seja levado à escola.
“Não vamos criá-la viciada, mas também não queremos que fique alienada”, afirma Daniel, o pai.
Sobram preocupações entre pais, médicos e educadores, enquanto faltam pesquisas conclusivas sobre o tema.
E aumenta o acesso à tecnologia em todas as idades.
Nos EUA, estudo nacional
conduzido pela ONG Common Sense Media em 2013
mostrou que 72% das crianças de até 8 anos já haviam
usado dispositivos móveis —
em 2011, eram 38%.
No Brasil, uma pesquisa do
Ibope e da Fundação Maria
Cecília Souto Vidigal de 2013
mostrou que “deixar assistir
a programas na TV” foi a segunda ação mais citada por
mães brasileiras (55%) ao serem questionadas sobre atos
de estímulo ao desenvolvimento do filho de até um ano.
Essa ideia de que a tecnologia traz ganhos de desenvolvimento à criança pequena é contrariada por evidências apontadas pela Academia Americana de Pediatria.
atraso na linguagem
Após extensa revisão científica sobre o tema, a entidade não só não achou vantagens no uso dos eletrônicos
por menores de dois anos como detectou riscos: um estudo analisado encontrou seis
vezes mais chances de atrasos na linguagem entre crianças que começam a ver TV antes de um ano e assistem mais
de duas horas por dia.
A partir dessas pesquisas,
o órgão decidiu recomendar
que crianças menores de dois
anos não tenham qualquer
exposição aos eletrônicos.
A Sociedade Brasileira de
Pediatria segue a entidade
americana nesse assunto.
Já entre crianças acima dos
dois anos, aquelas que viram
programas educativos tiveram notas melhores ao chegar ao ensino médio, apontou
outro estudo considerado pela academia americana.
Devido a evidências como
essa, a entidade brasileira recomenda que crianças acima
dos dois anos possam ficar
até duas horas diárias com
TV, celular ou tablet.
A lógica por trás da restrição é que, mesmo que haja
ganho com tecnologia, a
criança aprende mais brincando no mundo real e se relacionando com pessoas.
Para as famílias, sobra a
contradição entre as recomendações médicas e a onipresença da tecnologia.
Um problema nessa discussão é que as pesquisas
pouco captaram até aqui so-
bre o efeito, na criança, de tablets e celulares, mais interativos que desenhos na TV.
O estudo que norteou a recomendação da Academia
Americana de Pediatria, por
exemplo, analisou principalmente TV, DVDs e vídeos.
Em meio a esse cenário, a
posição médica é pela cautela. “Os estudos estão sendo
feitos em tempo real. Por que
expor as crianças se não sabemos o que isso gera?”, afirma Christian Muller, representante da Sociedade Brasileira de Pediatria.
“A exposição precoce e
exagerada aos dispositivos
pode aumentar ansiedade, irritabilidade e agressividade
da criança, além de gerar problema físico como obesidade
e dor muscular”, completa.
Calmante eletrÔniCo
Também não funciona usar
os aparelhos como “calmante” para as crianças quando
estão agitadas, diz o pediatra. “Elas conseguirão desenvolver seus mecanismos de
autorregulação?”, questionam pesquisadores da Universidade de Boston (EUA),
em artigo de 2014.
As telas também têm defensores entre especialistas
em ensino. Responsável pelo
projeto iPad na Sala de Aula,
que capacita professores para o uso do equipamento nas
escolas, a pedagoga Adriana
Gandim diz que celulares e
tablets “são ótimos para contar histórias, porque crianças
gostam de algo movimentado, com sons e vídeos”.
Cabe aos pais, ressalta, fazer a curadoria do que deve
ser visto pela criança.
O australiano Daniel Donahoo, dono da consultoria de
aplicativos educacionais Better Apps, diz que haverá mais
ganhos se os pais estiverem
ao lado dos filhos. “Veja TV
com eles e fale sobre aquele
tema. Use o dispositivo para
ler e brincar com eles.”
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