artigo 29pdf

Propaganda
Processo de ensino aprendizagem
da leitura e da escrita - Um estudo de caso
Aluna: Carla Renata Lagacio - Letras
Professora Orientadora: Esp. Maria Emília Longhin
Professora Co-orientadora: Ms. Inês Regina Waitz*
Centro Universitário Anhanguera - Pirassununga
Artigo apresentado no 6º Congresso Nacional de Iniciação Científica - CONIC 2006
RESUMO
Este estudo foi realizado em uma escola municipal
De uma cidade do interior do no Estado de São Paulo,
que atende alunos de 1ª a 4ª séries. Apresenta algumas
considerações de como se dá o processo de ensino
aprendizagem da leitura e da escrita no final do 1º ciclo,
analisando o preparo do aluno que está preste a ingressar
no 2º ciclo do Ensino Fundamental, bem como, a
metodologia aplicada pela professora em sala de aula.
Com a análise de fatos e fenômenos observados foi
possível observar que a professora trabalha de modo
positivo e favorável, ou seja, possui metodologia
diferenciada tanto em relação às aulas quanto ao incentivo
da leitura e da escrita. Podemos considerar tais ações
como um diferencial para o êxito do processo, pois em
conseqüência desta atuação os alunos demonstram
empenho, aprendizagem e principalmente consciência da
importância da leitura e da escrita para a suas vidas.
Palavras - chave: Metodologia, Ensino,
Aprendizagem, Leitura, Escrita.
*Bolsista FUNADESP
INTRODUÇÃO: A LEITURA E A ESCRITA
NO CONTEXTO ESCOLAR
Desde o inicio da década de 80, o ensino de Língua
Portuguesa na escola tem sido o centro de discussão em
relação à necessidade de melhorar a qualidade da
educação do país. No ensino Fundamental, o marco da
discussão, no que se refere ao fracasso escolar, tem sido
a questão da leitura e da escrita. Sabe-se que os índices
220
• Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006
de repetência nas séries iniciais estão diretamente ligados
à dificuldade que a escola tem de ensinar a ler e a
escrever.
Em recente avaliação realizada em âmbito nacional
(Prova Brasil), pode-se verificar através dos dados
vinculados na mídia, que os alunos chegam a 8ª série
dominando saberes relativos à 4ª série. Não podemos
negar que a atual realidade do uso da leitura e da escrita
merece atenção com urgência. Medidas como analisar
e verificar as dimensões, os significados, os desafios de
ensinar, os motivos pelos quais tantos deixam de aprender
a ler e a escrever, talvez possamos encontrar elementos
e alternativas para a transformação da sociedade leitora/
escritora no Brasil, uma realidade politicamente
inaceitável e pedagogicamente, inferior de nossos ideais.
É inadmissível compreender o processo de ensino
como simples aquisição/despejo de conhecimentos, a
educação deverá estar voltada para “desenvolver
habilidades” e “aprender como se aprende”.
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional Lei nº. 9394/96 reza artigo 32 inciso I que a
escola pública tem por objetivo a “formação básica do
cidadão mediante desenvolvimento da capacidade de
aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da
leitura, da escrita e do cálculo”. Em seu artigo 13 as
incumbências do professor, e salientamos o zelo pela
aprendizagem do aluno.
Sabemos que nem todos os alunos iniciam a
escolarização em condições similares, dentre muitas
causas podemos citar as diferenças existentes entre
aqueles que tiveram possibilidades de interação com
sujeitos alfabetizados e com contextos letrados daqueles
Processo de ensino aprendizagem da leitura e da escrita - Um estudo de caso
que ao contrário são privados desse contato. Portanto
uma das funções primordiais das primeiras etapas do
ensino será conhecer e compensar essas diferenças,
permitindo que as crianças experimentem, tateiem,
indaguem, descubram a escrita, suas marcas e regras
em um ambiente rico em diversas escritas, com diferentes
portadores.
O professor neste período transforma-se em
modelo de escritor/leitor, para que os alunos tenham um
exemplo da interação ativa com a linguagem escrita. É
função de o professor criar um clima rico de leitura e
escrita, propiciando a interação e construção de
conhecimentos para compensar a desigualdade daqueles
que não tiveram a opção de realizar tal ato fora da escola
o que lhes possibilita a obtenção de informação, a geração
de hipóteses, a função e seus usos em contextos reais.
Para tanto é necessário desenvolver no aluno a
familiaridade com a língua escrita através da leitura de
vários gêneros textuais, numa variedade que o faça
gostarem de ler e que o leve a perceber a importância da
leitura para a sua vida, transformando-a num hábito capaz
de satisfazê-lo.
Neste processo de conscientização o professor
exerce papel importantíssimo tornando-se agente de
mediação pedagógica, mas qual o papel do professor na
formação de bons leitores e de bons escritores?
Em princípio, sabe-se que não basta ensinar os
códigos de leitura e de escrita como relacionar sons às
letras. É preciso tornar os estudantes capazes de
compreender os significados dessa aprendizagem para
utilizá-la no dia a dia de forma a entender as exigências
da própria sociedade.
Nesse sentido, objetivou-se com esse estudo: 1)
Analisar o que dizem algumas teorias sobre a metodologia
de ensino de Língua Portuguesa; 2) Verificar como se
dá o processo de Ensino/ Aprendizagem, fazendo
observações dentro da sala de aula, enfocando a prática
da leitura e da escrita; 3) Observar a metodologia e o
incentivo da professora com relação a conscientização
da importância da prática da leitura e da escrita para o
projeto de vida dos alunos; 4)Verificar se a professora
interage com o trabalho articulado de leitura e escrita na
disciplina de língua portuguesa; 5)Analisar a receptividade
dos alunos quanto à metodologia adotada pela professora.
Para a realização da pesquisa, primeiramente,
delimitamos o conceito de leitura e escrita, que são amplos
e complexos, pois envolvem uma infinidade de
possibilidades de definições e relações. Por isso
preferimos adotar alguns autores que compreendem a
leitura e a escrita como práticas social e cultural.
Compreende-se que ler é interpretar e
compreender ativa e criticamente uma mensagem por
meio de um processo dialógico:
Na concepção interacional (dialógica) da língua,
os sujeitos são vistos como atores/construtores
sociais, sujeitos ativos que dialogicamente – se
constroem e são construídos no texto (...)
(Kock, 2006, p. 10).
A leitura então se torna um instrumento útil que
nos aproxima da cultura letrada e permite continuar
aprendendo autonomamente em uma multiplicidade de
situações.
Do mesmo modo, a escrita é uma construção
cultural útil para registrar e recordar experiências,
acontecimentos, representações culturais, manifestar
sentimentos, emoções, fantasias para construir diferentes
interpretações da realidade pessoal, social, cultural,
política, científica, entre outros. A escrita, como
construção cultural, não é uma habilidade adquirida de
forma inata.
Não aprendemos a escrever lendo livros que
sirvam de modelos, nem copiando muitos textos;
ao contrario, as regras do código escrito são
aprendidas em um processo dialético
interdisciplinar e epistemológico, com
capacidade de gerar conhecimento crítico sobre
uma matéria, de desenvolver o pensamento
lógico e em geral, de favorecer os processos
de aprendizagem. (Pérez, 2001).
Desta forma, as regras do código escrito são
aprendidas em um processo dialético interdisciplinar e
epistemológico, com capacidade de gerar conhecimento
crítico sobre uma matéria desenvolvendo o pensamento
lógico e favorecendo outros processos de aprendizagem.
Portanto, a escrita, como mediação entre o escritor e o
mundo, não é apenas um meio de comunicação, mas
também uma forma de aprendizagem que funciona dentro
de um ambiente estruturado para gerar e reconstruir
conhecimentos.
Neste sentido a aquisição da leitura e escrita é
sinal de aprendizagem, pois permite a pessoa que está
inserida na sociedade interagir no meio social e cultural,
entretanto é necessário que o aluno saiba a utilidade da
língua escrita e como ela funciona.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacional
(PCNs) de Língua Portuguesa, afirma que ao final do
primeiro ciclo do Ensino Fundamental o aluno deverá
ter aprendido a escrever alfabeticamente e que realize
atividades de leitura e de escrita com maior independência
em relação ao ciclo anterior, pois esse conhecimento
construído possibilita que o ensino no segundo ciclo se
concentre mais em outras questões, do ponto de vista
tanto notacional como discursivo. Para dedicar-se a isto
o aluno deverá utilizar autonomamente estratégias de
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 •
221
Processo de ensino aprendizagem da leitura e da escrita - Um estudo de caso
leitura mesmo que com ajuda, os diferentes papéis que
precisam assumir ao produzir um texto: planejar, redigir
rascunhos, revisar e cuidar da interpretação.
Por isso, ainda no primeiro ciclo, o aluno necessita
utilizar a linguagem oral com eficácia a fim de que saiba
adequá-las a intenções e situações comunicativas,
podendo expressar seus sentimentos e opiniões, defender
seu ponto de vista, relatar acontecimentos e expor sobre
temas estudados. Ao participar de diferentes situações
de comunicação, o individuo acolhe opiniões alheias,
considerando e respeitando os diferentes modos de se
falar e pensar. Ao compreender os sentidos das
mensagens, o aluno começa a identificar os elementos
possivelmente relevantes atribuindo os significados
coerentes segundo os propósitos e intenções do autor,
isto é, ler textos de diferentes gêneros, sabendo combinar
as estratégias de decifração com estratégias de seleção,
antecipação, inferência e verificação.
Já ao produzir textos, o aluno precisa considerar o
leitor e o objeto da mensagem, identificar o gênero e o
suporte que melhor atenderão àquela intenção
comunicativa, sabendo utilizar a escrita alfabética e
preocupando-se com a forma ortográfica correta.
Cabe à escola e ao professor a tarefa de articular
tais fatores, não apenas planejando situações didáticas
de aprendizagem, mas organizando a seqüenciação dos
conteúdos que forem possíveis aos seus alunos e também
necessárias em função do projeto educativo escolar. A
escola deve promover progressivamente situações
pedagógicas que envolvam a capacidade de interpretar
diferentes textos que circulam socialmente, de assumir a
palavra e, como cidadão, produzir textos eficazes nas
mais variadas situações.
Por isso, o segundo ciclo (3ª e 4ª séries) deve
caracterizar-se por possibilitar ao aluno, de um lado, maior
autonomia na realização de atividades que envolvam os
conteúdos desenvolvidos no ciclo anterior, e de outro,
por introduzir o trabalho com novos e diferentes aspectos
relacionados aos usos e formas da língua.
Mas por que será que tantas crianças deixam de
aprender a ler e escrever? Por que é tão difícil integrarse de modo competente nestas práticas sociais?
METODOLOGIA
Em campo, foram preenchidos formulários com
um roteiro nos quais eram observados: modo de
exploração do conteúdo (aula expositiva, debate, trabalho
em grupo, aula dialogada, exercícios individuais,
exercícios em grupos, etc.); preparação da professora
para o desenvolvimento da aula e motivação do aluno;
utilização de material pedagógico; forma de abordagem
222
• Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006
da professora para atrair o alunos; receptividade dos
alunos; pontos facilitadores; pontos dificultadores.
Realizou-se ainda, uma entrevista com a
professora e dois questionários com os alunos, um geral
e outro com apenas 30% da classe. Foi feita a tabulação
dos dados e os resultados foram bastante positivos, com
relação aos métodos de ensino e incentivo da professora
como com relação à receptividade dos alunos o que
consideramos um diferencial no processo.
Desenvolvimento
O tema da primeira aula foi a elaboração de cartas.
A professora já havia introduzido o tema aos alunos em
uma aula anterior, então, quando ela falou sobre o assunto,
os alunos já se contagiaram em saber que estariam
elaborando cartas para enviarem a uma outra escola, e
assim, trocariam correspondências com outros alunos da
quarta série. Primeiramente, a professora preocupou-se
em explicar e passar toda a informação possível sobre o
que é uma carta, como ela deve ser elaborada, quais os
passos a serem seguidos, etc. Também mencionou o email, porém não prolongou a explicação sobre a
correspondência eletrônica, tendo em vista que não
poderia fugir do tema principal da aula que era a
elaboração de uma carta, e até mesmo pelo fato de que
grande parte ou a maioria dos alunos ainda não possua
acesso a internet. Depois da explicação e do exemplo
dado na lousa, a professora distribuiu envelopes e papel
de carta aos alunos para que cada um confeccionasse a
sua carta. Entregou a cada um, uma carta enviada por
um aluno de uma outra escola, pediu para que lessem a
carta recebida, para então elaborarem a carta resposta.
Pediu ainda aos alunos, que verificassem através da
leitura, se achavam que havia algum erro de ortografia
na escrita do colega. Durante a elaboração da carta, a
professora ajudava os alunos, corrigia alguns erros
gramaticais, falava da importância de escrever
corretamente tanto o conteúdo como o endereço da carta,
exigia coerência e coesão nos diálogos das cartas, assim
como, o capricho e a carta bem feita por eles. Por fim, a
aula correu de maneira positiva, onde despertou
interesse, curiosidade e vontade nos alunos, além do qual,
leitura e escrita foram trabalhadas de forma linear e
positiva.
A segunda aula trabalhou-se a música “Canção
da América”, e o texto “Da Solidão”. A professora
demonstrou um bom planejamento da aula, usou recursos
como o rádio, cd, xerox e quadro negro. Iniciou fazendo
a explicação e breve introdução sobre o tema que seria
abordado e um sucinto comentário sobre a musica. Em
seguida, pôs a musica para tocar para os alunos,
chamando a atenção para a letra da canção para, então,
Processo de ensino aprendizagem da leitura e da escrita - Um estudo de caso
trabalhar o campo semântico, pois queria levar o aluno a
perceber a importância da música na vida das pessoas
como fonte de expressão e de conhecimento. Durante a
execução da música, os alunos demonstraram interesse
e gosto pela canção, sendo que alguns já conheciam a
letra e até queriam cantar junto, mas a professora propôs
o canto para o final da aula, para que os alunos que não
conheciam a canção, não tivessem a atenção distraída.
Em seguida, os alunos responderam algumas perguntas
e fizeram à interpretação da letra. A professora corrigiu
a lição e fez comentários e um debate com a sala a
respeito de temas transversais, abordando a amizade
como tema principal. Em seguida, trabalhou com o texto
“Da solidão”, que enfocava o mesmo assunto que estava
sendo tratado na aula. Os alunos copiaram o texto da
lousa, fizeram à leitura silenciosa e individual, e em
seguida, a professora leu em voz alta, explicando e
argumentando sobre o texto, assim como, tirava algumas
dúvidas dos alunos. A professora, após a leitura,
correlacionou os dois textos trabalhados, e apontando o
tema principal deles, pediu que cada aluno
confeccionasse um pequeno texto, escrevendo o que
achava da amizade e colocasse as suas opiniões
individuais a respeito do tema. Conforme os alunos iam
entregando o texto, a professora fazia algumas correções
e observações. Notou-se que a didática da professora
instigou o gosto dos alunos pela aula, pois eles participaram
do começo ao fim, interagindo com o grupo.
Na terceira aula, a professora trabalhou com o
tema “A Indústria no seu Município”, uma atividade
que integrou Português, Geografia e Ciências. Ao iniciar
a aula, a professora fez um comentário sobre o
crescimento da industrialização, da substituição da mão
de obra por máquinas, das vantagens e das desvantagens
da industrialização. Comentou sobre a poluição, a
utilização de recursos naturais e com esta introdução,
partiu para a leitura do texto que falava sobre a
industrialização que é à moda do Séc. XX. Após a leitura
feita pela professora, ela pediu para que a leitura fosse
feita pelos alunos, onde cada um lia um trecho ou
parágrafo e depois comentasse para a classe aquilo que
acabara de ler. Quando necessário, tanto na leitura como
no comentário, a professora auxiliava o aluno para deixálo mais solto e desinibido. Assim, o tema teve grande
repercussão e foi bem discutido pela sala. A professora
então, pediu aos alunos que cada um escrevesse uma
pergunta a respeito do tema, para que no fim, todos
pudessem responder as questões criadas. Após um tempo,
a professora recolheu as questões, colocando-as na lousa,
debatendo uma a uma e fazendo modificações em
perguntas de caráter semelhante. Com isso, os alunos
iam copiando e respondendo no caderno o questionário
completo. Nessa aula, a professora também introduziu
uma conversa sobre a visita que os alunos fariam no dia
seguinte à fábrica de refrigerantes da cidade, relacionando
a teoria com uma situação prática.
A quarta aula assistida também integrava a Língua
Portuguesa, Ciências e Geografia, pois se falava do ser
humano, natureza, meio ambiente. O tema principal era
falar da natureza, “O homem e a natureza” num texto
com linguagem clara e de fácil interpretação. Inicialmente,
a professora fez um comentário sobre a expressão
“Homem” no título do texto, explicando a forma de citar
o ser humano de forma generalizada. Em seguida, foi
realizada a leitura compartilhada entre os alunos, onde
eles sentaram em grupo para desenvolver o trabalho
juntos. Cada grupo escolhia um integrante para ler em
voz alta um trecho do texto. Após a leitura, a professora
entregou folhas aos grupos que responderiam a
interpretação do texto que constava de 10 perguntas e
entregariam apenas uma folha com o nome de todos os
integrantes à professora. Entregou também, um quadro
de cartolina para que os alunos desenhassem e colassem
recortes de revistas, folhas, enfim, usassem a criatividade
para realizarem algo relacionado ao tema para após, fazer
uma exposição na classe com os desenhos. Inicialmente,
criou-se um pequeno tumulto pelos grupos por causa de
conversas paralelas, e para decidir entre eles, quem iria
desenhar ou escrever, porém, a professora abordou o
fato de não conseguirem fazer corretamente se não
houvesse atenção e dedicação por parte de todos e que
estas conversas poderiam estar atrapalhando grupos que
não conversavam. Pediu aos alunos que todos ajudassem
na elaboração do texto e quando finalizado, partiriam para
desenvolver o trabalho de arte, todos juntos. Foi possível
perceber que a professora trata os alunos com carinho,
porém com muita autoridade e isto faz com que eles a
respeitem muito. A professora circulava pela classe
durante o período que os alunos trabalhavam na lição,
tirava dúvidas, ajudava-os quando havia dificuldades e
exigia capricho no desenho, na ortografia e coerência
nas respostas. Os grupos foram aos poucos entregando
os trabalhos e, mais uma vez, a aula terminou de forma
positiva, onde foi possível notar a satisfação dos alunos
e da professora. Na quinta aula, a professora
trabalhou com o texto: “Tive Pouca Sorte”.
Primeiramente, a professora pediu que os alunos fizessem
à leitura, onde cada um lia um parágrafo. É possível
perceber que às vezes, alguns alunos ficavam
constrangidos em realizar a leitura em voz alta, mas este
é um método de desinibição que a professora utiliza na
sala. É possível também, perceber que enquanto alguns
alunos lêem fluentemente, respeitando os sinais de
pontuação, outros, tem um pouco de dificuldade na hora
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 •
223
Processo de ensino aprendizagem da leitura e da escrita - Um estudo de caso
de ler, fazem aquele tipo de leitura corrida, sem pausas e
sem respeitar as vírgulas ou outros sinais como a
interrogação e ponto final. A professora trabalha com
estes alunos, não de forma a constrangê-los na frente
dos colegas, porém, mostra-lhes onde estão e como
devem ser respeitados os sinais de pontuação, pedindo
que o aluno releia o trecho novamente aonde ela vai dando
as coordenadas até que o aluno entenda. Após a leitura,
a professora pediu que os alunos copiassem o texto no
caderno para trabalharem um pouco a escrita, e pediu
que copiassem também, as perguntas da interpretação
de texto no caderno e que estas fossem respondidas.
Durante a tarefa, surgiram poucas perguntas dos alunos,
talvez porque a interpretação seria consideravelmente
fácil. Durante a correção feita na lousa, os alunos
puderam expor as suas idéias e opiniões sobre os direitos
das crianças. Como tarefa de casa, a professora pediu
aos alunos, a elaboração de um pequeno texto, falando a
respeito de que “O que é ter sorte” e o que “Não é ter
sorte”, já citando alguns exemplos do que para ela
significava ter sorte e o era considerado um azar na vida
dela. É através destes atos, onde a professora se inclui
no mundo do aluno, que ela causa interesse e desperta
no aluno a vontade de realizar as tarefas propostas. Os
alunos parecem admirar a professora e se inspiram muito
nela, dão risadas juntos e a aula dificilmente se torna
cansativa.
Na sexta aula, a professora iniciou com a chamada
e após, a correção da tarefa que havia passado para os
alunos fazerem em casa. Pediu para que eles levassem
o caderno para ela ver os textos que eles haviam feito.
Foi possível perceber que a maioria dos alunos realizou
a proposta de tarefa passada pela professora. Ela realizou
as leituras, lendo o texto da cada aluno como forma de
incentivo para que eles sempre realizem a tarefa. Elogiou
os trabalhos, falou de algumas correções a serem feitas
e deu visto no caderno. Entre os alunos, apenas dois não
haviam feito a lição, um aluno tinha faltado e não sabia
da matéria e outro aluno falou que não fez por que não
deu tempo. A Professora pediu então que eles realizassem
esta atividade em casa e trouxessem na próxima aula.
Em seguida, a professora leu um conto para os alunos,
que falava sobre o Rouxinol. Pediu a atenção dos alunos
enquanto ela contava a história da ave, pois após a leitura,
ela iria fazer perguntas. Após terminar a leitura, fez
algumas perguntas orais, mas devido ao fato de todos os
alunos quererem responder, ela optou por passar na lousa
as questões para que eles respondessem no caderno.
Assim, passou exercícios na lousa como forma de
interpretação do conto. Após a correção dos exercícios,
finalização da tarefa, a professora começou a trabalhar
um pouco de gramática com os alunos, Falando sobre os
224
• Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006
adjetivos e o grau dos adjetivos. Os alunos acompanhavam
os exercícios através do livro de sala de aula. Neste
momento da aula, foi possível perceber que os alunos se
distraem um pouco e mantém conversas paralelas. A
professora disse que eles não apreciam muito fazer
exercícios de gramática. A correção ficou para a próxima
aula e se alguém não tivesse terminado, faria em casa
para ser corrigido na próxima aula.
Ao realizar as observações de aula, foi possível
identificar alguns aspectos afetivos que influenciavam a
relação do aluno com a atividade, influenciando, de igual
maneira, a aprendizagem. Verificou-se que os alunos
expressavam com freqüência seus sentimentos em
relação à atividade proposta e com relação à atuação do
professor, demonstrando claramente os aspectos positivos
ou até negativos que permeavam a aula e, a sua
influência no processo de aprendizagem. No total foram
seis aulas assistidas, e de certa forma, um tempo muito
gratificante e proveitoso que eu como pesquisadora
passei, pois tive a sorte de estar em uma sala onde os
alunos merecem nota dez, tanto de comportamento como
de aprendizado eficaz. A professora, trabalha de maneira
exemplar, motivando seus alunos o tempo todo,
interagindo com a classe, trabalhando a leitura e a escrita
de forma articulada e sempre em destaque.
RESULTADOS: O DIFERENCIAL
O processo de Leitura e escrita desenvolvido pela
escola-campo abrange toda a unidade escolar. A classe
observada, dentro deste contexto apresenta um
diferencial, que a faz especial.
Durante as observações de aula, percebeu-se que
a professora trabalhava em cima de planejamento
previamente realizado, o que permitia a ela uma postura
tranqüila em aula. A forma igualitária que eram
recepcionados auxiliava na composição das aulas. O
respeito e o carinho entre as partes eram eminentes; Ela
é o máximo! (CCS, 9 anos)
Suas aulas sempre vertiam sobre o despertar do
interesse dos educandos, fazendo a ligação do tema
trabalhado com a realidade dos alunos, ou seja,
relacionava os assuntos abordados à vida real o que
gerava interação e interesse entre eles; Adoro ler. Gosto
mais ainda quando vejo que é alguma coisa aqui de
perto. (JCL, 10 anos). O que pode ser comprovado pelo
interesse dos alunos sobre a matéria que mais gostam,
Língua Portuguesa é representada em segundo lugar,
como observado na coleta de dados e retratado a seguir:
Processo de ensino aprendizagem da leitura e da escrita - Um estudo de caso
alunos como meio facilitador dessas competências.
Quando questionados sobre as dificuldades de
aprendizagem percebemos que 83,33% alegam não terem
dificuldades no processo de leitura e escrita.
Pode-se constatar tal fato em uma das aulas
observadas quando a professora falou sobre o trabalho
com cartas; os alunos de imediato se contagiaram em
saber que estariam elaborando cartas para enviar a uma
outra escola, e assim, trocariam correspondências com
outros alunos da quarta série. Primeiramente, a professora
preocupou-se em explicar e passar toda a informação
possível sobre o que é uma carta, como ela deve ser
elaborada, quais os passos a serem seguidos, entre outros.
Através deste tema, a professora optou por fazer a
citação do novo modo de correspondência, mencionando
o e-mail, porém, apenas fez um breve comentário. Não
se prolongou na explicação sobre a correspondência
eletrônica, tendo em vista o tema principal da aula, e até
mesmo pelo fato de que a maioria dos alunos ainda não
possui acesso à internet. O interesse era total. Escrever
para alguém de outra escola é super da hora! (DAS,
11 anos).
Durante a elaboração da carta, a professora os
auxiliava, com correções gramaticais, salientando a
importância de escrever corretamente, tanto o conteúdo
como o endereço da carta, exigia coerência e coesão
nos diálogos das cartas, assim como, o capricho.
Ensinar a escrever torna-se uma tarefa muito
difícil fora do convívio com textos
verdadeiros, com leitores e escritores
verdadeiros e com situações de comunicação
que os tornem necessários. (Professora)
Outro fator observado em sala de aula, foi a ação
da professora em relação ao levantamento de hipóteses
ao trabalhar a música “Canção da América”.
Questionamentos sobre a importância desse gênero
textual na vida das pessoas como fonte de expressão e
conhecimento foram elencados. Após ouvirem a música,
houve o levantamento de hipóteses através de campo
semântico na lousa, onde todos puderam opinar e verificar
suas respostas posteriormente por meio da interpretação
(oral e escrita) da letra. A professora trabalhou com o
texto “Da Solidão”, que enfocava também a amizade.
Por fim houve a produção textual (narrativa) a respeito
do tema. Percebe-se que o trabalho de leitura sempre
está integrado à produção textual, é valorizado pelos
O trabalho interdisciplinar também foi fator
observado. Com o tema “A Indústria no seu Município”
integrando as áreas de Língua Portuguesa, Geografia e
Ciências. Ao iniciar a aula, a professora fez um
comentário sobre o crescimento da industrialização do
bairro (levantamento prévio realizado pelos alunos), da
substituição da mão de obra por máquinas, das vantagens
e das desvantagens da industrialização, já que a cidade
de Leme é tipicamente agrária e com grande migração
de mão-de-obra. A leitura comentada de um texto retirado
de um jornal local foi um sucesso. Percebia-se nos alunos
grande alegria por estar falando e sendo escutado. É
legal quando a gente explica o que leu. (KFL, 10
anos). O tema foi sistematizado com a visita a uma
fábrica de refrigerantes da cidade.
Ações pedagógicas que demonstram o valor
do aprendizado alimentam a vontade de
aprender, pois não sei um dia eles podem vir
a trabalhar ou mesmo, a ser os proprietários
de uma indústria. (Professora)
Estes exemplos nos dão ciência de que a leitura
de forma compartilhada entre os alunos, faz com estes
observem e respeitem os diferentes modos de falas, às
diferenças culturais e, além disso, possibilita a aquisição
da norma culta de leitura e escrita, e incentiva o gosto
pela leitura como observamos no gráfico abaixo sobre o
que os alunos gostam em Língua Portuguesa:
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 •
225
Processo de ensino aprendizagem da leitura e da escrita - Um estudo de caso
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisar as interações em sala de aula entre
professores e alunos, buscando identificar os aspectos
presentes que influenciam o processo de aprendizagem,
tais como o planejamento prévio das ações a serem
realizadas, foram observados o respeito e o carinho entre
as partes envolvidas além do domínio técnico.
Especificamente na aquisição de competências de
linguagem escrita e da prática da leitura, é possível
afirmar que a metodologia diferenciada, que possibilita o
aluno decifrar, criar estratégias de seleção, antecipação,
inferência e verificação com mais o incentivo e
direcionamento nas atividades contextualizadas
estabelecem grande cumplicidade no processo de
aprendizagem, pois este processo é dialético. A
proximidade entre professora e alunos proporciona
inúmeras formas de interação, permitindo diálogos
freqüentes.
É incontestável que ler e escrever requer mediação
e orientação sistemática do professor como também a
análise seqüencial do desenvolvimento das habilidades
de cada leitor/produtor.
Aos alunos a aquisição de habilidades de leitura e
escrita qualitativa e quantitativa se estabelece pela
correlação entre saberes adquiridos na escola e
comprovados fora dela, ou seja, é fundamental que estes
saberes extrapolem os muros escolares, que os
educandos saibam agir conscientemente valorizando e
verificando a necessidade de se de saber ler e escrever
corretamente.
Nota-se mais uma vez que a metodologia
diferenciada faz com que o aluno participe com afinco e
interaja melhor com o grupo. Tudo isso viabilizado pelo
incentivo da professora, pela maneira como explora o
conteúdo, tudo realizado de jeito simples e eficaz,
mostrando ao aluno que a aula de Língua Portuguesa
pode se tornar prazerosa quando é feita com amor e
dedicação e quando o aluno se identifica com o que está
aprendendo, não tornando a matéria um bicho-de-setecabeças. A aula que mais gosto é a de Língua
Portuguesa, é demais! (JCLM 10 anos) e ainda:
Quando a professora tem domínio sobre o
tema e quando os alunos interagem de forma
positiva com a metodologia da professora,
a aula transcorre de maneira proveitosa e
trás benefícios a todos, ou seja, eu me
empenho em preparar sempre muito bem as
aulas, dedico-me ao aprendizado dos alunos
e faço com amor. (Professora)
Enfim, aprender a ler e escrever numa sociedade
letrada significa apropriar-se de valiosos instrumentos de
226
• Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006
informação, poder que permite a participação na
coletividade e o exercício pleno da cidadania.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANDÃO, Carlos da Fonseca. LDB passo a passo: Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96),
comentada e interpretada, artigo por artigo. 2º ed. Atual.
São Paulo: Editora Avercamp, 2005.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: primeiro e
segundo ciclos do Ensino Fundamental. Brasilia: MEC/SEF,
1998.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e
quarto ciclos do Ensino Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
GERALDI, João Wanderley (org.). O texto na sala de aula. 3ª
ed. São Paulo: Ática, 2003.
KOCK, Ingedore ; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os
sentidos do texto. São Paulo : Contexto, 2006.
NEVES, Iara C. B. et alli.(Orgs.) Ler e escrever: compromisso
de todas as áreas. Porto Alegre: Ed da Universidade/UFRGS,
1998.
PAULINO, Graça et al. Tipos de texto, modos de leitura. Belo
Horizonte: Formato, 2001.
PÉREZ, Francisco Carvajal; GARCIA, Joaquim Ramos. Ensinar
ou aprender a ler e a escrever? Aspectos teóricos do processo
de construção significativa, funcional e compartilhada do
código escrito. Porto Alegre: Artmed, 2001.
ZILBERMAN, Regina. A Literatura infantil na escola. 11ª ed.
Revista atualizada e ampliada. São Paulo: Editora Global, 2003.
Download