Processo de ensino aprendizagem da leitura e da escrita - Um estudo de caso Aluna: Carla Renata Lagacio - Letras Professora Orientadora: Esp. Maria Emília Longhin Professora Co-orientadora: Ms. Inês Regina Waitz* Centro Universitário Anhanguera - Pirassununga Artigo apresentado no 6º Congresso Nacional de Iniciação Científica - CONIC 2006 RESUMO Este estudo foi realizado em uma escola municipal De uma cidade do interior do no Estado de São Paulo, que atende alunos de 1ª a 4ª séries. Apresenta algumas considerações de como se dá o processo de ensino aprendizagem da leitura e da escrita no final do 1º ciclo, analisando o preparo do aluno que está preste a ingressar no 2º ciclo do Ensino Fundamental, bem como, a metodologia aplicada pela professora em sala de aula. Com a análise de fatos e fenômenos observados foi possível observar que a professora trabalha de modo positivo e favorável, ou seja, possui metodologia diferenciada tanto em relação às aulas quanto ao incentivo da leitura e da escrita. Podemos considerar tais ações como um diferencial para o êxito do processo, pois em conseqüência desta atuação os alunos demonstram empenho, aprendizagem e principalmente consciência da importância da leitura e da escrita para a suas vidas. Palavras - chave: Metodologia, Ensino, Aprendizagem, Leitura, Escrita. *Bolsista FUNADESP INTRODUÇÃO: A LEITURA E A ESCRITA NO CONTEXTO ESCOLAR Desde o inicio da década de 80, o ensino de Língua Portuguesa na escola tem sido o centro de discussão em relação à necessidade de melhorar a qualidade da educação do país. No ensino Fundamental, o marco da discussão, no que se refere ao fracasso escolar, tem sido a questão da leitura e da escrita. Sabe-se que os índices 220 • Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 de repetência nas séries iniciais estão diretamente ligados à dificuldade que a escola tem de ensinar a ler e a escrever. Em recente avaliação realizada em âmbito nacional (Prova Brasil), pode-se verificar através dos dados vinculados na mídia, que os alunos chegam a 8ª série dominando saberes relativos à 4ª série. Não podemos negar que a atual realidade do uso da leitura e da escrita merece atenção com urgência. Medidas como analisar e verificar as dimensões, os significados, os desafios de ensinar, os motivos pelos quais tantos deixam de aprender a ler e a escrever, talvez possamos encontrar elementos e alternativas para a transformação da sociedade leitora/ escritora no Brasil, uma realidade politicamente inaceitável e pedagogicamente, inferior de nossos ideais. É inadmissível compreender o processo de ensino como simples aquisição/despejo de conhecimentos, a educação deverá estar voltada para “desenvolver habilidades” e “aprender como se aprende”. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei nº. 9394/96 reza artigo 32 inciso I que a escola pública tem por objetivo a “formação básica do cidadão mediante desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo”. Em seu artigo 13 as incumbências do professor, e salientamos o zelo pela aprendizagem do aluno. Sabemos que nem todos os alunos iniciam a escolarização em condições similares, dentre muitas causas podemos citar as diferenças existentes entre aqueles que tiveram possibilidades de interação com sujeitos alfabetizados e com contextos letrados daqueles Processo de ensino aprendizagem da leitura e da escrita - Um estudo de caso que ao contrário são privados desse contato. Portanto uma das funções primordiais das primeiras etapas do ensino será conhecer e compensar essas diferenças, permitindo que as crianças experimentem, tateiem, indaguem, descubram a escrita, suas marcas e regras em um ambiente rico em diversas escritas, com diferentes portadores. O professor neste período transforma-se em modelo de escritor/leitor, para que os alunos tenham um exemplo da interação ativa com a linguagem escrita. É função de o professor criar um clima rico de leitura e escrita, propiciando a interação e construção de conhecimentos para compensar a desigualdade daqueles que não tiveram a opção de realizar tal ato fora da escola o que lhes possibilita a obtenção de informação, a geração de hipóteses, a função e seus usos em contextos reais. Para tanto é necessário desenvolver no aluno a familiaridade com a língua escrita através da leitura de vários gêneros textuais, numa variedade que o faça gostarem de ler e que o leve a perceber a importância da leitura para a sua vida, transformando-a num hábito capaz de satisfazê-lo. Neste processo de conscientização o professor exerce papel importantíssimo tornando-se agente de mediação pedagógica, mas qual o papel do professor na formação de bons leitores e de bons escritores? Em princípio, sabe-se que não basta ensinar os códigos de leitura e de escrita como relacionar sons às letras. É preciso tornar os estudantes capazes de compreender os significados dessa aprendizagem para utilizá-la no dia a dia de forma a entender as exigências da própria sociedade. Nesse sentido, objetivou-se com esse estudo: 1) Analisar o que dizem algumas teorias sobre a metodologia de ensino de Língua Portuguesa; 2) Verificar como se dá o processo de Ensino/ Aprendizagem, fazendo observações dentro da sala de aula, enfocando a prática da leitura e da escrita; 3) Observar a metodologia e o incentivo da professora com relação a conscientização da importância da prática da leitura e da escrita para o projeto de vida dos alunos; 4)Verificar se a professora interage com o trabalho articulado de leitura e escrita na disciplina de língua portuguesa; 5)Analisar a receptividade dos alunos quanto à metodologia adotada pela professora. Para a realização da pesquisa, primeiramente, delimitamos o conceito de leitura e escrita, que são amplos e complexos, pois envolvem uma infinidade de possibilidades de definições e relações. Por isso preferimos adotar alguns autores que compreendem a leitura e a escrita como práticas social e cultural. Compreende-se que ler é interpretar e compreender ativa e criticamente uma mensagem por meio de um processo dialógico: Na concepção interacional (dialógica) da língua, os sujeitos são vistos como atores/construtores sociais, sujeitos ativos que dialogicamente – se constroem e são construídos no texto (...) (Kock, 2006, p. 10). A leitura então se torna um instrumento útil que nos aproxima da cultura letrada e permite continuar aprendendo autonomamente em uma multiplicidade de situações. Do mesmo modo, a escrita é uma construção cultural útil para registrar e recordar experiências, acontecimentos, representações culturais, manifestar sentimentos, emoções, fantasias para construir diferentes interpretações da realidade pessoal, social, cultural, política, científica, entre outros. A escrita, como construção cultural, não é uma habilidade adquirida de forma inata. Não aprendemos a escrever lendo livros que sirvam de modelos, nem copiando muitos textos; ao contrario, as regras do código escrito são aprendidas em um processo dialético interdisciplinar e epistemológico, com capacidade de gerar conhecimento crítico sobre uma matéria, de desenvolver o pensamento lógico e em geral, de favorecer os processos de aprendizagem. (Pérez, 2001). Desta forma, as regras do código escrito são aprendidas em um processo dialético interdisciplinar e epistemológico, com capacidade de gerar conhecimento crítico sobre uma matéria desenvolvendo o pensamento lógico e favorecendo outros processos de aprendizagem. Portanto, a escrita, como mediação entre o escritor e o mundo, não é apenas um meio de comunicação, mas também uma forma de aprendizagem que funciona dentro de um ambiente estruturado para gerar e reconstruir conhecimentos. Neste sentido a aquisição da leitura e escrita é sinal de aprendizagem, pois permite a pessoa que está inserida na sociedade interagir no meio social e cultural, entretanto é necessário que o aluno saiba a utilidade da língua escrita e como ela funciona. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacional (PCNs) de Língua Portuguesa, afirma que ao final do primeiro ciclo do Ensino Fundamental o aluno deverá ter aprendido a escrever alfabeticamente e que realize atividades de leitura e de escrita com maior independência em relação ao ciclo anterior, pois esse conhecimento construído possibilita que o ensino no segundo ciclo se concentre mais em outras questões, do ponto de vista tanto notacional como discursivo. Para dedicar-se a isto o aluno deverá utilizar autonomamente estratégias de Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 • 221 Processo de ensino aprendizagem da leitura e da escrita - Um estudo de caso leitura mesmo que com ajuda, os diferentes papéis que precisam assumir ao produzir um texto: planejar, redigir rascunhos, revisar e cuidar da interpretação. Por isso, ainda no primeiro ciclo, o aluno necessita utilizar a linguagem oral com eficácia a fim de que saiba adequá-las a intenções e situações comunicativas, podendo expressar seus sentimentos e opiniões, defender seu ponto de vista, relatar acontecimentos e expor sobre temas estudados. Ao participar de diferentes situações de comunicação, o individuo acolhe opiniões alheias, considerando e respeitando os diferentes modos de se falar e pensar. Ao compreender os sentidos das mensagens, o aluno começa a identificar os elementos possivelmente relevantes atribuindo os significados coerentes segundo os propósitos e intenções do autor, isto é, ler textos de diferentes gêneros, sabendo combinar as estratégias de decifração com estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação. Já ao produzir textos, o aluno precisa considerar o leitor e o objeto da mensagem, identificar o gênero e o suporte que melhor atenderão àquela intenção comunicativa, sabendo utilizar a escrita alfabética e preocupando-se com a forma ortográfica correta. Cabe à escola e ao professor a tarefa de articular tais fatores, não apenas planejando situações didáticas de aprendizagem, mas organizando a seqüenciação dos conteúdos que forem possíveis aos seus alunos e também necessárias em função do projeto educativo escolar. A escola deve promover progressivamente situações pedagógicas que envolvam a capacidade de interpretar diferentes textos que circulam socialmente, de assumir a palavra e, como cidadão, produzir textos eficazes nas mais variadas situações. Por isso, o segundo ciclo (3ª e 4ª séries) deve caracterizar-se por possibilitar ao aluno, de um lado, maior autonomia na realização de atividades que envolvam os conteúdos desenvolvidos no ciclo anterior, e de outro, por introduzir o trabalho com novos e diferentes aspectos relacionados aos usos e formas da língua. Mas por que será que tantas crianças deixam de aprender a ler e escrever? Por que é tão difícil integrarse de modo competente nestas práticas sociais? METODOLOGIA Em campo, foram preenchidos formulários com um roteiro nos quais eram observados: modo de exploração do conteúdo (aula expositiva, debate, trabalho em grupo, aula dialogada, exercícios individuais, exercícios em grupos, etc.); preparação da professora para o desenvolvimento da aula e motivação do aluno; utilização de material pedagógico; forma de abordagem 222 • Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 da professora para atrair o alunos; receptividade dos alunos; pontos facilitadores; pontos dificultadores. Realizou-se ainda, uma entrevista com a professora e dois questionários com os alunos, um geral e outro com apenas 30% da classe. Foi feita a tabulação dos dados e os resultados foram bastante positivos, com relação aos métodos de ensino e incentivo da professora como com relação à receptividade dos alunos o que consideramos um diferencial no processo. Desenvolvimento O tema da primeira aula foi a elaboração de cartas. A professora já havia introduzido o tema aos alunos em uma aula anterior, então, quando ela falou sobre o assunto, os alunos já se contagiaram em saber que estariam elaborando cartas para enviarem a uma outra escola, e assim, trocariam correspondências com outros alunos da quarta série. Primeiramente, a professora preocupou-se em explicar e passar toda a informação possível sobre o que é uma carta, como ela deve ser elaborada, quais os passos a serem seguidos, etc. Também mencionou o email, porém não prolongou a explicação sobre a correspondência eletrônica, tendo em vista que não poderia fugir do tema principal da aula que era a elaboração de uma carta, e até mesmo pelo fato de que grande parte ou a maioria dos alunos ainda não possua acesso a internet. Depois da explicação e do exemplo dado na lousa, a professora distribuiu envelopes e papel de carta aos alunos para que cada um confeccionasse a sua carta. Entregou a cada um, uma carta enviada por um aluno de uma outra escola, pediu para que lessem a carta recebida, para então elaborarem a carta resposta. Pediu ainda aos alunos, que verificassem através da leitura, se achavam que havia algum erro de ortografia na escrita do colega. Durante a elaboração da carta, a professora ajudava os alunos, corrigia alguns erros gramaticais, falava da importância de escrever corretamente tanto o conteúdo como o endereço da carta, exigia coerência e coesão nos diálogos das cartas, assim como, o capricho e a carta bem feita por eles. Por fim, a aula correu de maneira positiva, onde despertou interesse, curiosidade e vontade nos alunos, além do qual, leitura e escrita foram trabalhadas de forma linear e positiva. A segunda aula trabalhou-se a música “Canção da América”, e o texto “Da Solidão”. A professora demonstrou um bom planejamento da aula, usou recursos como o rádio, cd, xerox e quadro negro. Iniciou fazendo a explicação e breve introdução sobre o tema que seria abordado e um sucinto comentário sobre a musica. Em seguida, pôs a musica para tocar para os alunos, chamando a atenção para a letra da canção para, então, Processo de ensino aprendizagem da leitura e da escrita - Um estudo de caso trabalhar o campo semântico, pois queria levar o aluno a perceber a importância da música na vida das pessoas como fonte de expressão e de conhecimento. Durante a execução da música, os alunos demonstraram interesse e gosto pela canção, sendo que alguns já conheciam a letra e até queriam cantar junto, mas a professora propôs o canto para o final da aula, para que os alunos que não conheciam a canção, não tivessem a atenção distraída. Em seguida, os alunos responderam algumas perguntas e fizeram à interpretação da letra. A professora corrigiu a lição e fez comentários e um debate com a sala a respeito de temas transversais, abordando a amizade como tema principal. Em seguida, trabalhou com o texto “Da solidão”, que enfocava o mesmo assunto que estava sendo tratado na aula. Os alunos copiaram o texto da lousa, fizeram à leitura silenciosa e individual, e em seguida, a professora leu em voz alta, explicando e argumentando sobre o texto, assim como, tirava algumas dúvidas dos alunos. A professora, após a leitura, correlacionou os dois textos trabalhados, e apontando o tema principal deles, pediu que cada aluno confeccionasse um pequeno texto, escrevendo o que achava da amizade e colocasse as suas opiniões individuais a respeito do tema. Conforme os alunos iam entregando o texto, a professora fazia algumas correções e observações. Notou-se que a didática da professora instigou o gosto dos alunos pela aula, pois eles participaram do começo ao fim, interagindo com o grupo. Na terceira aula, a professora trabalhou com o tema “A Indústria no seu Município”, uma atividade que integrou Português, Geografia e Ciências. Ao iniciar a aula, a professora fez um comentário sobre o crescimento da industrialização, da substituição da mão de obra por máquinas, das vantagens e das desvantagens da industrialização. Comentou sobre a poluição, a utilização de recursos naturais e com esta introdução, partiu para a leitura do texto que falava sobre a industrialização que é à moda do Séc. XX. Após a leitura feita pela professora, ela pediu para que a leitura fosse feita pelos alunos, onde cada um lia um trecho ou parágrafo e depois comentasse para a classe aquilo que acabara de ler. Quando necessário, tanto na leitura como no comentário, a professora auxiliava o aluno para deixálo mais solto e desinibido. Assim, o tema teve grande repercussão e foi bem discutido pela sala. A professora então, pediu aos alunos que cada um escrevesse uma pergunta a respeito do tema, para que no fim, todos pudessem responder as questões criadas. Após um tempo, a professora recolheu as questões, colocando-as na lousa, debatendo uma a uma e fazendo modificações em perguntas de caráter semelhante. Com isso, os alunos iam copiando e respondendo no caderno o questionário completo. Nessa aula, a professora também introduziu uma conversa sobre a visita que os alunos fariam no dia seguinte à fábrica de refrigerantes da cidade, relacionando a teoria com uma situação prática. A quarta aula assistida também integrava a Língua Portuguesa, Ciências e Geografia, pois se falava do ser humano, natureza, meio ambiente. O tema principal era falar da natureza, “O homem e a natureza” num texto com linguagem clara e de fácil interpretação. Inicialmente, a professora fez um comentário sobre a expressão “Homem” no título do texto, explicando a forma de citar o ser humano de forma generalizada. Em seguida, foi realizada a leitura compartilhada entre os alunos, onde eles sentaram em grupo para desenvolver o trabalho juntos. Cada grupo escolhia um integrante para ler em voz alta um trecho do texto. Após a leitura, a professora entregou folhas aos grupos que responderiam a interpretação do texto que constava de 10 perguntas e entregariam apenas uma folha com o nome de todos os integrantes à professora. Entregou também, um quadro de cartolina para que os alunos desenhassem e colassem recortes de revistas, folhas, enfim, usassem a criatividade para realizarem algo relacionado ao tema para após, fazer uma exposição na classe com os desenhos. Inicialmente, criou-se um pequeno tumulto pelos grupos por causa de conversas paralelas, e para decidir entre eles, quem iria desenhar ou escrever, porém, a professora abordou o fato de não conseguirem fazer corretamente se não houvesse atenção e dedicação por parte de todos e que estas conversas poderiam estar atrapalhando grupos que não conversavam. Pediu aos alunos que todos ajudassem na elaboração do texto e quando finalizado, partiriam para desenvolver o trabalho de arte, todos juntos. Foi possível perceber que a professora trata os alunos com carinho, porém com muita autoridade e isto faz com que eles a respeitem muito. A professora circulava pela classe durante o período que os alunos trabalhavam na lição, tirava dúvidas, ajudava-os quando havia dificuldades e exigia capricho no desenho, na ortografia e coerência nas respostas. Os grupos foram aos poucos entregando os trabalhos e, mais uma vez, a aula terminou de forma positiva, onde foi possível notar a satisfação dos alunos e da professora. Na quinta aula, a professora trabalhou com o texto: “Tive Pouca Sorte”. Primeiramente, a professora pediu que os alunos fizessem à leitura, onde cada um lia um parágrafo. É possível perceber que às vezes, alguns alunos ficavam constrangidos em realizar a leitura em voz alta, mas este é um método de desinibição que a professora utiliza na sala. É possível também, perceber que enquanto alguns alunos lêem fluentemente, respeitando os sinais de pontuação, outros, tem um pouco de dificuldade na hora Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 • 223 Processo de ensino aprendizagem da leitura e da escrita - Um estudo de caso de ler, fazem aquele tipo de leitura corrida, sem pausas e sem respeitar as vírgulas ou outros sinais como a interrogação e ponto final. A professora trabalha com estes alunos, não de forma a constrangê-los na frente dos colegas, porém, mostra-lhes onde estão e como devem ser respeitados os sinais de pontuação, pedindo que o aluno releia o trecho novamente aonde ela vai dando as coordenadas até que o aluno entenda. Após a leitura, a professora pediu que os alunos copiassem o texto no caderno para trabalharem um pouco a escrita, e pediu que copiassem também, as perguntas da interpretação de texto no caderno e que estas fossem respondidas. Durante a tarefa, surgiram poucas perguntas dos alunos, talvez porque a interpretação seria consideravelmente fácil. Durante a correção feita na lousa, os alunos puderam expor as suas idéias e opiniões sobre os direitos das crianças. Como tarefa de casa, a professora pediu aos alunos, a elaboração de um pequeno texto, falando a respeito de que “O que é ter sorte” e o que “Não é ter sorte”, já citando alguns exemplos do que para ela significava ter sorte e o era considerado um azar na vida dela. É através destes atos, onde a professora se inclui no mundo do aluno, que ela causa interesse e desperta no aluno a vontade de realizar as tarefas propostas. Os alunos parecem admirar a professora e se inspiram muito nela, dão risadas juntos e a aula dificilmente se torna cansativa. Na sexta aula, a professora iniciou com a chamada e após, a correção da tarefa que havia passado para os alunos fazerem em casa. Pediu para que eles levassem o caderno para ela ver os textos que eles haviam feito. Foi possível perceber que a maioria dos alunos realizou a proposta de tarefa passada pela professora. Ela realizou as leituras, lendo o texto da cada aluno como forma de incentivo para que eles sempre realizem a tarefa. Elogiou os trabalhos, falou de algumas correções a serem feitas e deu visto no caderno. Entre os alunos, apenas dois não haviam feito a lição, um aluno tinha faltado e não sabia da matéria e outro aluno falou que não fez por que não deu tempo. A Professora pediu então que eles realizassem esta atividade em casa e trouxessem na próxima aula. Em seguida, a professora leu um conto para os alunos, que falava sobre o Rouxinol. Pediu a atenção dos alunos enquanto ela contava a história da ave, pois após a leitura, ela iria fazer perguntas. Após terminar a leitura, fez algumas perguntas orais, mas devido ao fato de todos os alunos quererem responder, ela optou por passar na lousa as questões para que eles respondessem no caderno. Assim, passou exercícios na lousa como forma de interpretação do conto. Após a correção dos exercícios, finalização da tarefa, a professora começou a trabalhar um pouco de gramática com os alunos, Falando sobre os 224 • Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 adjetivos e o grau dos adjetivos. Os alunos acompanhavam os exercícios através do livro de sala de aula. Neste momento da aula, foi possível perceber que os alunos se distraem um pouco e mantém conversas paralelas. A professora disse que eles não apreciam muito fazer exercícios de gramática. A correção ficou para a próxima aula e se alguém não tivesse terminado, faria em casa para ser corrigido na próxima aula. Ao realizar as observações de aula, foi possível identificar alguns aspectos afetivos que influenciavam a relação do aluno com a atividade, influenciando, de igual maneira, a aprendizagem. Verificou-se que os alunos expressavam com freqüência seus sentimentos em relação à atividade proposta e com relação à atuação do professor, demonstrando claramente os aspectos positivos ou até negativos que permeavam a aula e, a sua influência no processo de aprendizagem. No total foram seis aulas assistidas, e de certa forma, um tempo muito gratificante e proveitoso que eu como pesquisadora passei, pois tive a sorte de estar em uma sala onde os alunos merecem nota dez, tanto de comportamento como de aprendizado eficaz. A professora, trabalha de maneira exemplar, motivando seus alunos o tempo todo, interagindo com a classe, trabalhando a leitura e a escrita de forma articulada e sempre em destaque. RESULTADOS: O DIFERENCIAL O processo de Leitura e escrita desenvolvido pela escola-campo abrange toda a unidade escolar. A classe observada, dentro deste contexto apresenta um diferencial, que a faz especial. Durante as observações de aula, percebeu-se que a professora trabalhava em cima de planejamento previamente realizado, o que permitia a ela uma postura tranqüila em aula. A forma igualitária que eram recepcionados auxiliava na composição das aulas. O respeito e o carinho entre as partes eram eminentes; Ela é o máximo! (CCS, 9 anos) Suas aulas sempre vertiam sobre o despertar do interesse dos educandos, fazendo a ligação do tema trabalhado com a realidade dos alunos, ou seja, relacionava os assuntos abordados à vida real o que gerava interação e interesse entre eles; Adoro ler. Gosto mais ainda quando vejo que é alguma coisa aqui de perto. (JCL, 10 anos). O que pode ser comprovado pelo interesse dos alunos sobre a matéria que mais gostam, Língua Portuguesa é representada em segundo lugar, como observado na coleta de dados e retratado a seguir: Processo de ensino aprendizagem da leitura e da escrita - Um estudo de caso alunos como meio facilitador dessas competências. Quando questionados sobre as dificuldades de aprendizagem percebemos que 83,33% alegam não terem dificuldades no processo de leitura e escrita. Pode-se constatar tal fato em uma das aulas observadas quando a professora falou sobre o trabalho com cartas; os alunos de imediato se contagiaram em saber que estariam elaborando cartas para enviar a uma outra escola, e assim, trocariam correspondências com outros alunos da quarta série. Primeiramente, a professora preocupou-se em explicar e passar toda a informação possível sobre o que é uma carta, como ela deve ser elaborada, quais os passos a serem seguidos, entre outros. Através deste tema, a professora optou por fazer a citação do novo modo de correspondência, mencionando o e-mail, porém, apenas fez um breve comentário. Não se prolongou na explicação sobre a correspondência eletrônica, tendo em vista o tema principal da aula, e até mesmo pelo fato de que a maioria dos alunos ainda não possui acesso à internet. O interesse era total. Escrever para alguém de outra escola é super da hora! (DAS, 11 anos). Durante a elaboração da carta, a professora os auxiliava, com correções gramaticais, salientando a importância de escrever corretamente, tanto o conteúdo como o endereço da carta, exigia coerência e coesão nos diálogos das cartas, assim como, o capricho. Ensinar a escrever torna-se uma tarefa muito difícil fora do convívio com textos verdadeiros, com leitores e escritores verdadeiros e com situações de comunicação que os tornem necessários. (Professora) Outro fator observado em sala de aula, foi a ação da professora em relação ao levantamento de hipóteses ao trabalhar a música “Canção da América”. Questionamentos sobre a importância desse gênero textual na vida das pessoas como fonte de expressão e conhecimento foram elencados. Após ouvirem a música, houve o levantamento de hipóteses através de campo semântico na lousa, onde todos puderam opinar e verificar suas respostas posteriormente por meio da interpretação (oral e escrita) da letra. A professora trabalhou com o texto “Da Solidão”, que enfocava também a amizade. Por fim houve a produção textual (narrativa) a respeito do tema. Percebe-se que o trabalho de leitura sempre está integrado à produção textual, é valorizado pelos O trabalho interdisciplinar também foi fator observado. Com o tema “A Indústria no seu Município” integrando as áreas de Língua Portuguesa, Geografia e Ciências. Ao iniciar a aula, a professora fez um comentário sobre o crescimento da industrialização do bairro (levantamento prévio realizado pelos alunos), da substituição da mão de obra por máquinas, das vantagens e das desvantagens da industrialização, já que a cidade de Leme é tipicamente agrária e com grande migração de mão-de-obra. A leitura comentada de um texto retirado de um jornal local foi um sucesso. Percebia-se nos alunos grande alegria por estar falando e sendo escutado. É legal quando a gente explica o que leu. (KFL, 10 anos). O tema foi sistematizado com a visita a uma fábrica de refrigerantes da cidade. Ações pedagógicas que demonstram o valor do aprendizado alimentam a vontade de aprender, pois não sei um dia eles podem vir a trabalhar ou mesmo, a ser os proprietários de uma indústria. (Professora) Estes exemplos nos dão ciência de que a leitura de forma compartilhada entre os alunos, faz com estes observem e respeitem os diferentes modos de falas, às diferenças culturais e, além disso, possibilita a aquisição da norma culta de leitura e escrita, e incentiva o gosto pela leitura como observamos no gráfico abaixo sobre o que os alunos gostam em Língua Portuguesa: Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 • 225 Processo de ensino aprendizagem da leitura e da escrita - Um estudo de caso CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao analisar as interações em sala de aula entre professores e alunos, buscando identificar os aspectos presentes que influenciam o processo de aprendizagem, tais como o planejamento prévio das ações a serem realizadas, foram observados o respeito e o carinho entre as partes envolvidas além do domínio técnico. Especificamente na aquisição de competências de linguagem escrita e da prática da leitura, é possível afirmar que a metodologia diferenciada, que possibilita o aluno decifrar, criar estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação com mais o incentivo e direcionamento nas atividades contextualizadas estabelecem grande cumplicidade no processo de aprendizagem, pois este processo é dialético. A proximidade entre professora e alunos proporciona inúmeras formas de interação, permitindo diálogos freqüentes. É incontestável que ler e escrever requer mediação e orientação sistemática do professor como também a análise seqüencial do desenvolvimento das habilidades de cada leitor/produtor. Aos alunos a aquisição de habilidades de leitura e escrita qualitativa e quantitativa se estabelece pela correlação entre saberes adquiridos na escola e comprovados fora dela, ou seja, é fundamental que estes saberes extrapolem os muros escolares, que os educandos saibam agir conscientemente valorizando e verificando a necessidade de se de saber ler e escrever corretamente. Nota-se mais uma vez que a metodologia diferenciada faz com que o aluno participe com afinco e interaja melhor com o grupo. Tudo isso viabilizado pelo incentivo da professora, pela maneira como explora o conteúdo, tudo realizado de jeito simples e eficaz, mostrando ao aluno que a aula de Língua Portuguesa pode se tornar prazerosa quando é feita com amor e dedicação e quando o aluno se identifica com o que está aprendendo, não tornando a matéria um bicho-de-setecabeças. A aula que mais gosto é a de Língua Portuguesa, é demais! (JCLM 10 anos) e ainda: Quando a professora tem domínio sobre o tema e quando os alunos interagem de forma positiva com a metodologia da professora, a aula transcorre de maneira proveitosa e trás benefícios a todos, ou seja, eu me empenho em preparar sempre muito bem as aulas, dedico-me ao aprendizado dos alunos e faço com amor. (Professora) Enfim, aprender a ler e escrever numa sociedade letrada significa apropriar-se de valiosos instrumentos de 226 • Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 informação, poder que permite a participação na coletividade e o exercício pleno da cidadania. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRANDÃO, Carlos da Fonseca. LDB passo a passo: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96), comentada e interpretada, artigo por artigo. 2º ed. Atual. São Paulo: Editora Avercamp, 2005. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental. Brasilia: MEC/SEF, 1998. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. GERALDI, João Wanderley (org.). O texto na sala de aula. 3ª ed. São Paulo: Ática, 2003. KOCK, Ingedore ; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo : Contexto, 2006. NEVES, Iara C. B. et alli.(Orgs.) Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. Porto Alegre: Ed da Universidade/UFRGS, 1998. PAULINO, Graça et al. Tipos de texto, modos de leitura. Belo Horizonte: Formato, 2001. PÉREZ, Francisco Carvajal; GARCIA, Joaquim Ramos. Ensinar ou aprender a ler e a escrever? Aspectos teóricos do processo de construção significativa, funcional e compartilhada do código escrito. Porto Alegre: Artmed, 2001. ZILBERMAN, Regina. A Literatura infantil na escola. 11ª ed. Revista atualizada e ampliada. São Paulo: Editora Global, 2003.