Responsabilidade social empresarial nos meios de comunicação Autor: Rodrigo Leandro Nunes - Comunicação Social Professor Orientador: Esp. Alberto Sebastião Santana Faculdade Comunitária de Campinas - Unidade 3 RESUMO O presente artigo de cunho publicitário estabelece a importância da Responsabilidade Social Empresarial como estratégia de posicionamento de empresas, marcas e produtos. Busca analisar, como a ética empresarial pode contribuir para a sociedade e agregar valor a uma marca ou produto junto ao consumidor, que está cada vez mais exigente e consciente. Palavras-chave: responsabilidade social, ética empresarial, marketing para causas sociais. INTRODUÇÃO Em um mercado global, onde os produtos e serviços viraram commodity, o cliente tem ao seu alcance, em qualquer lugar e a qualquer momento, serviços e produtos. O novo consumidor sabe exercer sua dimensão de cidadão, interagindo com tudo o que acontece em seu meio e no mundo. Em suma o novo consumidor é consciente, envolvido, independente e informado. Como ensinam Sâmara e Morsch (2005, p. 247), “O novo consumidor exige, em conseqüência, novas atitudes e novas posturas do profissional de marketing”. Levando-se em conta estes fatores, existe uma grande necessidade de que cada produto ou serviço tenha sua contrapartida social. Neste contexto, a Responsabilidade Social Empresarial passa a ser um grande diferencial para o consumidor, direcionando assim sua compra. Esta visão de empresa socialmente responsável não é mais uma idéia abstrata ou futurista, ela já é uma realidade obrigando o empresário de visão a promover iniciativas no Terceiro Setor. Seguindo esta tendência, a divulgação destas ações através da comunicação de massa, é cada vez mais utilizada pelo meio empresarial. No entanto, é importante verificar se o empresário tem um posicionamento ético, ou simplesmente usa desta estratégia para agregar um falso valor à imagem do seu produto. RESPONSABILIDADE EMPRESARIAL SOCIAL O conceito de Responsabilidade Social Empresarial possui várias interpretações. Algumas teorias defendem que as empresas cumprem com um papel social somente quando efetuam os pagamentos de seus impostos, e trabalham de forma correta, seguindo estritamente a lei. Por outro lado, cresce a opinião de que existe uma grande demanda social, possibilitando que empresas éticas se responsabilizem por suprir esta deficiência da sociedade (governo + cidadão). Uma das visões mais corretas de Responsabilidade Social Empresarial consiste numa filosofia de gestão que não vise apenas o lucro, mas, numa organização que se preocupe com o bem estar de todos os seus stakeholders 1 . Segundo Ashley (2005, p.6), “Responsabilidade Social é toda e qualquer ação que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida na sociedade”. O conceito de Responsabilidade Social é bem elaborado também pelo Instituto Ethos de Responsabilidade Social2, que define o termo, como a forma de administrar os negócios da empresa tornandoa parceira e co-responsável pelo conjunto da sociedade. Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 • 193 Responsabilidade social empresarial nos meios de comunicação Fica claro que a Responsabilidade Social Empresarial não está exclusivamente ligada às obrigações legais da empresa, mas a tudo aquilo que promova o bem estar de todos os envolvidos na cadeia produtiva, fazendose necessário então, a inclusão deste tema nas suas estratégias de atuação. Sem uma Ética Empresarial clara e consistente é impossível ter Responsabilidade Social. Dentro deste panorama, não se pode esquecer o Terceiro Setor, que pode ser definido como toda organização criada com o intuito de prestar serviço à comunidade, sem fins lucrativos. As áreas de atuação podem ser: saúde, educação, cultura, habitação, direitos civis, desenvolvimento do ser humano e proteção ao meio ambiente, entre outros. A Responsabilidade Social Empresarial torna-se uma realidade através do Terceiro Setor. No Brasil, uma pesquisa realizada com 273 empresas, pelo centro de Estudos de Administração do Terceiro Setor da Universidade de São Paulo, mostra que 56% delas vêm atuando no campo social e que 48% apóiam a atuação de seus funcionários como voluntários em projetos desta natureza. Para mensurar este assunto seria de grande proveito a criação de uma lei, como sugere o Projeto de Lei n.º 3.116/97, elaborado por parlamentares federais que propõem normas para execução de um Balanço Social, tornando-o obrigatório para empresas com mais de 100 funcionários. O Balanço Social é um importante meio de demonstrar à sociedade que a empresa é socialmente responsável, e que se fosse lei poderíamos aumentar significativamente iniciativas como esta. Mudando a realidade do Brasil. Cancino (apud Zenone, 2006, p.25), o define como: Um instrumento de medição que permite conhecer e valorar em termos quantitativos e qualitativos os resultados da gestão social da empresa dentro de um período determinado, confrontando com as metas preestabelecidas, aplicando as ações corretivas necessárias e planejando o trabalho dos períodos seguintes. ÉTICA EMPRESARIAL Ética - do grego ethos - significa o conjunto de princípios morais que estabelece padrões de condutas, qualificando-as como benéficas ou maléficas. A empresa precisa organizar-se internamente de tal forma que exista um ambiente propício à prática da boa conduta ética de seus integrantes, bem como fazer com que os valores e convicções imprescindíveis da organização se tornem parte de um único contexto. Vale destacar que, todo código de ética de uma 194 • Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 empresa deve conter os seguintes valores: qualidade dos produtos e serviços; honradez nas práticas comerciais; respeito mútuo nas relações internas e externas da empresa; cooperação; solidariedade e proatividade. Ashley (2006, p. 65) afirma que: “O compromisso social não pode ser considerado mera carta de intenções. Toda empresa deve zelar por seus valores morais, da mesma forma que preza sua qualidade, suas marcas e seus produtos.”. MARKETING PARA CAUSAS SOCIAIS Este novo conceito de Marketing pode ser definido como uma ferramenta estratégica de mercado e de posicionamento que associa uma empresa, ou marca, a uma causa social buscando benefícios mútuos. O Marketing para Causas Sociais pode ser desenvolvido de duas formas. A primeira é criando uma aliança estratégica entre a empresa e uma organização do Terceiro Setor, ou a empresa em questão atua diretamente para o benefício de uma causa adotada. Ao aderir a este marketing, as empresas têm como objetivo proteger e fortalecer a imagem da marca e sua reputação diferenciando-se dos competidores. Como conseqüência gera-se mídia espontânea, garantindo um share (participação) maior de mercado. Outro aspecto relevante é a segurança patrimonial. Quando uma empresa investe na comunidade local acaba por resguardar sua segurança. Como disse Dominic Cadbury, Presidente da Cadbury Schwepps, (APUD PRINGLE, 2000, p. 3), “O Marketing para Causas Sociais é uma forma efetiva de melhorar a imagem corporativa, diferenciando produtos e aumentando tanto as vendas quanto a fidelidade.”. Entretanto afirma-se que Marketing Social não é filantropia, mas uma estratégia empresarial com o objetivo de criar uma imagem positiva para todos os seus stakeholders. Em contrapartida criar uma política social empresarial sem observar todos os aspectos sociais referentes à empresa pode trazer danos a sua imagem. Não adianta criar um megaprojeto, ganhar uma enorme visibilidade na mídia e na semana seguinte a empresa ser denunciada por um sindicato, por uma associação de moradores, uma instituição de pesquisas ambientais, ou os funcionários entrarem em greve. O prejuízo para a imagem da empresa será triplicado. (ZENONE, 2006, p. 73) Responsabilidade social empresarial nos meios de comunicação PERCEPÇÃO DO CONSUMIDOR BRASILEIRO SOBRE RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS Na pesquisa quantitativa3, publicado pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social e Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, temos os seguintes resultados: • Papel da empresa na sociedade: Com um percentual de 40%, a maioria das pessoas concorda que as empresas têm que ir além do que é determinado pela lei, ajudando ativamente a construir uma sociedade melhor para todos. Já 20% dos entrevistados acham que as empresas devem ter um padrão de comportamento entre gerar lucro e pagar seus impostos, e contribuir para a sociedade. Comparando as pesquisas anteriores temos um aumento de quatro pontos percentuais de 2000 para 2002, e de cinco pontos percentuais de 2002 para 2004, mostrando uma variação significativa na opinião do consumidor sobre as empresas que desenvolvem projetos na área social. • Comunicação e credibilidade: O papel da comunicação é importante para o reconhecimento das ações empresariais, frente ao consumidor. Contudo, o consumidor brasileiro encontrase dividido no que diz respeito à veracidade destas informações. Questionados se “as empresas comunicam com honestidade e veracidade o que elas fazem em matéria social e ambiental”, somente metade concorda (50%), enquanto a outra metade discorda (45%) ou não tem opinião formada (5%). • Punição efetiva e potencial de empresas socialmente irresponsáveis: Como forma de direcionar o comportamento das empresas, em termos de compromissos sociais e ambientais, 30% dos consumidores brasileiros puniu efetivamente ou pensou em punir empresas com condutas irresponsáveis no tocante ao social ou ambiental. Os resultados obtidos nesta pesquisa quantitativa, publicado em 2005, mostram que, seja pela obrigação legal ou pela conscientização social, o consumidor está cada vez mais apoiando, e prestigiando, empresas com atuação social. O consumidor também mostra-se mais ligado a estas ações sociais. Mas, ele ainda duvida da veracidade destas ações. O fato é que os investimentos em Responsabilidade Social Empresarial estão deixando de ser uma alternativa, e tornando-se uma obrigação. Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 • 195 Responsabilidade social empresarial nos meios de comunicação RESPONSABILIDADE EMPRESARIAL E PROPAGANDA SOCIAL O número de campanhas publicitárias ligadas ao tema da Responsabilidade Social está cada vez mais presente nos meios de comunicação de massa (revista, rádio, televisão, outdoor e internet), e de comunicação publicitária below the line4. Estas ações de Marketing Social não buscam vender exclusivamente produtos ou serviços, mas agregar um valor social e uma boa imagem da sua empresa/marca. Vejamos alguns casos de propaganda: • Papa-Pilhas Banco Real: O Programa Real de Reciclagem de Pilhas e Baterias é uma iniciativa voltada ao desenvolvimento sustentável. Com lançamento em dezembro de 2006, este programa busca recolher pilhas e baterias usadas para sua correta reciclagem. Inicialmente são aproximadamente 150 pontos de coleta localizados em três cidades: Campinas (SP), Porto Alegre (RS) e João Pessoa (PB). Estes coletores são encontrados em agências bancárias, faculdades e estabelecimentos comerciais. A previsão para que no final de 2007 o programa seja estendido para todo o território brasileiro. O coletor do Banco Real recebeu como titulo “Tirar as pilhas do meio ambiente é colocar energia num mundo melhor”. Logo abaixo o nome do programa “Papa-Pilhas Programa Real de Reciclagem de Pilhas e Baterias”. E aproveitando a sua estratégia de utilizar somente material impresso em papel 100% reciclado, assina sua peça com o slogan “Reciclagem muito além do papel”. Alem das informações contidas no coletor, são fornecidos folhetos explicativos sobre a campanha de reciclagem. Este coletor foi desenvolvido pelo próprio setor de marketing do Banco Real. Esta ação se destaca pela criatividade utilizada para conscientizar a população sobre a necessidade da reciclagem. Outro fator importante é a utilização de um meio que interage com seu publico-alvo. • Outdoor HSBC Caído: Painel desenvolvido especificamente para o evento da Biodiversidade e Biosegurança da ONU. Este painel recebeu o titulo “Se fosse uma árvore, você nem teria notado”. Logo abaixo como texto de apoio segue a frase “HSBC. Patrocinador do Congresso da ONU sobre Biodiversidade e Biossegurança”. Também temos o seu endereço de site “www.hsbc.com.br”, e por ultimo sua marca e o slogan “No Brasil e no mundo, HSBC”. Esta placa foi colocada nas proximidades do Aeroporto Afonso Pena, em Curitiba, onde ocorreu o evento da ONU sobre Biodiversidade e Biossegurança no início de 2006. O HSBC patrocinou este evento e utilizou de um meio de comunicação de massa para alcançar seu público-alvo. O outdoor foi desenvolvido pela Agência JWT de Curitiba. Esta ação teve um excelente resultado. Com grande criatividade conseguiu que todas as pessoas entendessem o objetivo de sua comunicação. Além disso, foi premiado com o Grand Prix de Outdoor no prêmio FIAP5 2006. • Dia Internacional de Combate ao Fumo, jornal O Dia: No dia 31 de maio de 2004, dia internacional de combate ao fumo, o Jornal O Dia veiculou um excelente anúncio de oportunidade. Criado pela agência Elipse, esta peça traz um ótimo trabalho de imagem, com dois cigarros acessos faz alusão ao World Trade Center. Esta peça recebeu o título na parte superior “O cigarro mata centenas de vezes mais que o terrorismo”. Logo abaixo 196 • Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 Responsabilidade social empresarial nos meios de comunicação a logomarca do jornal e a frase “31 de maio, dia internacional do combate ao fumo”. Por se tratar de um anúncio de oportunidade, esta peça usa do incidente terrorista ocorrido nos Estados Unidos para chamar a atenção sobre um determinado assunto. essenciais para a sustentabilidade de empresas modernas. O empresário que não assumir esta postura frente à sociedade corre um sério risco de ser banido do mercado. Estar ciente dos problemas da sociedade e ajudar a resolvê-los, é colaborar com a distribuição da riqueza do país. Ao distribuir a riqueza contribuímos para uma sociedade mais eqüitativa e solidária. Uma conseqüência imediata é a potencialização de um novo perfil de consumidor mais crítico, educado e consciente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS É fato que através da conotação desta imagem, algumas pessoas pararam para refletir sobre os males que o cigarro pode causar. O Jornal O Dia fez-se presente no contexto de empresa que busca o bem-estar de seus stakeholders. CONCLUSÃO A Responsabilidade Social integra valores positivos dentro de qualquer gestão tida como contemporânea. Além de dar uma contribuição concreta para os graves problemas sociais presentes em nosso país. Como mencionado anteriormente, o novo consumidor exige que as empresas assumam posturas voltadas às ações de caráter social. Ele é consciente dos seus direitos e deveres, e não acredita que uma empresa fabrique um produto de excelente qualidade, e continue a poluir rios ou prejudique a comunidade onde esteja inserida. É importante ainda destacar que, o consumidor mostra-se desconfiado das propagandas feitas pelo empresário sobre suas ações sociais. Contudo, é valido afirmar que aqueles provedores de ações sociais comprovadamente relevantes gozarão de grande prestígio, e da aprovação do consumidor brasileiro. Tanto as ações sociais como suas veiculações são SAMARA, Beatriz Santos; MORSCH, Marco Aurélio. Comportamento do consumidor: conceitos e casos. São Paulo: Prentice Hall, 2005. p.246-251. ASHLEY, Patrícia Almeida. Ética e Responsabilidade Social nos Negócios. São Paulo: Saraiva, 2005. Visão do que é Responsabilidade Social Empresarial. Disponível em <http://www.ethos.org.br/DesktopDefault. aspx?TabID=3352&Alias=Ethos&Lang=pt-BR>. Acesso em 05 de setembro de 2006. ZENONE, Luiz Cláudio. Marketing Social. São Paulo: Thomson Learning, 2006. CAETANO, Gilberto; ASHLEY, Patrícia; GIANSANTI, Roberto. Programa do livro texto: Responsabilidade social e meio ambiente. Edição customizada. São Paulo: Saraiva, 2006. PRINGLE, Hamish; THOMPSON, Marjorie. Marketing Social. São Paulo: Markron Books, 2000. LOPES, A. Paraguassú. Ética na Propaganda. São Paulo: Atlas, 2003. p. 20-31. ________Pesquisa 2005: Responsabilidade Social das Empresas - Percepção do Consumidor Brasileiro / Textos de Fabián Echegaray, Leonardo Queiroz Athias, Helio Mattar, Aron Belinky. São Paulo: Instituto Akatu, 2005. NOTAS 1 Defini-se stakeholders como sendo as partes interessadas, ligadas à organização, tais como: acionistas, empregados, fornecedores, clientes, comunidade, governo, sociedade e concorrentes. 2 Instituto Ethos de Responsabilidade Social é uma organização não-governamental que ajuda os empresários a compreender e incorporar o conceito de Responsabilidade Social. 3 Pesquisa realizada em 2005, intitulada como “Responsabilidade Social das Empresas - Percepção do Consumidor Brasileiro 2005", com amostra de 800 entrevistas face-a-face em domicílios, em 8 capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador, Porto Alegre, Curitiba e Brasília. 4 Abaixo da linha, ou seja, tudo aquilo que não é comunicação de massa, mídia tradicional (Televisão, Rádio, Jornal, Revistas e Outdoor). Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 • 197 Responsabilidade social empresarial nos meios de comunicação 5 Festival Iberoamericano de Publicidade. Agradecimentos: Gizela S Pereira - setor de marketing - HSBC Bank Brasil S.A. Gustavo Baraldi - Relações Acadêmicas UniEthos - Educação e Capacitação para a Responsabilidade Social e o Desenvolvimento Sustentável. Nos quais me enviaram documentos referentes ao tema. 198 • Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006