Boletim do LABEM, v. 6, n. 11, jul./dez. de 2015 www.labem.uff.br M&M’s e Matemática: um estudo sobre probabilidades Leonardo Sodré1 Universidade Federal Fluminense – UFF Flávia Soares2 Universidade Federal Fluminense – UFF Resumo No presente artigo relatamos a aplicação de um experimento que pode contribuir para o ensino e a aprendizagem de conceitos básicos de probabilidade. A investigação ocorreu numa turma do Ensino Médio de uma escola pública na região metropolitana do Rio de Janeiro que apresentou dificuldades na resolução de problemas que envolvem este tema. O objetivo desta atividade é a fixação do conteúdo e revisão dos conceitos já estudados. Os resultados indicam que a utilização dessa proposta de ensino pode favorecer a aprendizagem e torna as aulas mais prazerosas e participativas para os alunos que tornam-se ativos no desenvolvimento de seu próprio conhecimento. Introdução Este texto é o relato de uma experiência desenvolvida em um colégio estadual localizado no município de São Gonçalo, região metropolitana do estado do Rio de Janeiro em turma do 3° ano do Ensino Médio do horário noturno3. A atividade implementada tinha como objetivo a fixação do conteúdo de probabilidades, tema do eixo de Análise de Dados, conforme Currículo Mínimo proposto pela Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro. Priorizamos uma abordagem não formal do tema, explorando a ideia de probabilidade por meio de um experimento com materiais concretos, coleta de dados e escala ordinal do impossível até o possível. Propomos também a leitura e interpretação de gráficos e tabelas de frequência absoluta, a realização de contagens de arranjos de pequenas amostras e registro em tabelas de dados, bem como sua representação por meio de árvore de possibilidades e gráfico de barras. A atividade, intitulada “M&M’s e Matemática”, é um estudo dirigido no qual, por meio da manipulação de confetes de chocolates coloridos, estimula-se aos alunos a fazer contagens, registro de dados e cálculo de probabilidades. Os resultados indicam que a utilização dessa proposta de ensino pode favorecer a aprendizagem e tornar as aulas mais prazerosas e participativas para os alunos. Utilizamos neste trabalho a definição de probabilidade segundo Laplace. Esta é conhecida como a definição clássica de probabilidade, segundo a qual um evento pode ocorrer somente por meio de um número finito de elementos, como a razão entre o número de casos favoráveis e o número de casos possíveis, sempre que todos os casos sejam igualmente prováveis. Graduado em Matemática. E-mail: [email protected] Doutora em Educação, professora da Faculdade de Educação da UFF. E-mail: [email protected] 3 A atividade foi realizada pelo primeiro autor no âmbito da Disciplina Pesquisa e Prática de Ensino IV e orientada pela segunda autora. 1 2 17 Boletim do LABEM, v. 6, n. 11, jul./dez. de 2015 www.labem.uff.br A probabilidade na educação básica Nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio, o ensino da probabilidade aparece inserido no bloco de conteúdo denominado “Análise de Dados”. O ensino do assunto é justificado pela demanda social e por sua constante utilização na sociedade atual, pela necessidade do indivíduo compreender as informações veiculadas em veículos de comunicação, tomar decisões e fazer previsões que influenciem em sua vida pessoal e em comunidade. Neste bloco, além de noções de probabilidades, destacam-se também as noções de estatística e combinatória. Os PCN estabelecem que a principal finalidade para o estudo das probabilidades é a de que o aluno compreenda que muitos dos acontecimentos do cotidiano são de natureza aleatória e que se podem identificar possíveis resultados desses acontecimentos e até estimar o grau da possibilidade a cerca do resultado de um deles. As noções de acaso e incerteza, que se manifestam intuitivamente, podem ser explorada na escola, em situações em que o aluno realiza experimentos e observa eventos (em espaços equiprováveis) (BRASIL, 1998, p. 52). Historicamente, o interesse pelo cálculo de probabilidades estava voltado para a previsão da chance de vitórias em jogos de azar e/ou de baralho. Nos dias atuais, a teoria das probabilidades possui aplicações importantes nos mais diversos ramos da atividade humana, tais como Biologia, Estatística, Economia, dentre outras. Segundo as Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN+), espera-se que o aluno nesta fase de escolaridade (ensino médio) ultrapasse a leitura de informações e reflita mais criticamente sobre o seu significado. A proposta destaca que o indivíduo tem necessidades dessas noções para interpretar inúmeros artigos de jornais e revistas nos quais as informações são dadas sob a forma de porcentagem, de média, de gráficos, etc. O documento aponta também para o quanto as pessoas são bombardeadas por declarações de políticos, solicitadas por agência de publicidade e sondagens de opiniões. É imprescindível que tenham uma visão realista de suas chances de ganhar em jogos de azar (mega-sena e máquinas caça-níquel, por exemplo) e consigam guardar uma atitude crítica diante das receitas para dominar o acaso. Um olhar mais atento para a nossa sociedade mostra a necessidade de acrescentar a esses conteúdos aqueles que permitam ao cidadão tratar as informações que recebe cotidianamente, aprendendo a lidar com dados estatísticos, tabelas e gráficos, a raciocinar utilizando ideias relativas à probabilidade e à combinatória (BRASIL, 1998, p. 49). Os documentos oficiais sugerem a introdução das noções de probabilidade ainda nas primeiras séries do Ensino Fundamental. Segundo Lopes (2008), não é possível esperarmos que nosso aluno chegue ao ensino médio para iniciarmos conteúdos essenciais para o desenvolvimento de sua visão de mundo. É preciso que a escola proporcione a ele instrumentos de conhecimento que possibilitem uma reflexão sobre as constantes mudanças sociais e o prepare para o exercício pleno da cidadania. Porém, mesmo no ensino médio é muito comum encontrarmos alunos que nunca estudaram conceitos básicos de probabilidade e, quando tomam conhecimento, sua abordagem reduz-se à resolução repetitiva de exercícios padrões e aplicação de fórmulas. 18 Boletim do LABEM, v. 6, n. 11, jul./dez. de 2015 www.labem.uff.br Além disso, muitos professores do Ensino Médio sentem-se inseguros quando precisam abordar conteúdos de probabilidade em sala de aula. Estes tendem a reproduzir a vivência que tiveram enquanto alunos e se restringem a uma abordagem tradicional do tema. Essa deficiência no ensino é discutida por Bayer (2005): [...] a inclusão da probabilidade e da estatística nos programas de matemática do ensino fundamental e médio, embora tenha ocorrido no ano de 1997, hoje ainda observa-se um número de muito reduzido de professores que ensinam probabilidade e estatística. Vários motivos foram destacados: falta de preparo do professor, falta de tempo, falta de material didático. O que se observa é que o professor de matemática necessita, assim como foi feito com os programas de matemática, uma atualização em sua formação (p. 2). No que se referem à abordagem do conteúdo, os PCN deixam claro que: estudos relativos a noções de Estatística e de probabilidade, além dos problemas de contagem que envolvem o princípio multiplicativo, evidentemente, o que se pretende não é o desenvolvimento de um trabalho baseado na definição de termos ou de formulas envolvendo tais assuntos. (BRASIL, 1998, p. 52). Recomenda-se que o professor recorra à resolução de problemas, desafiando o estudante a refletir, elaborar hipóteses e procedimentos, observando a participação ativa dos alunos na descoberta e assimilação das ideias matemáticas. Os PCN fornecem orientação para que a probabilidade seja explorada de maneira informal por meio de investigações que levem os alunos a fazer algumas previsões a respeito do sucesso de um evento. Ao se realizarem experiências para calcular probabilidades, é interessante utilizar materiais manipulativos que permitam explorar a propriedade da “simetria” (dados, moedas), como também os que não possuem essa “simetria” (roletas com áreas desiguais para os números). No trabalho com probabilidade é fundamental que os alunos compreendam o significado de espaço amostral e sua construção pela contagem dos casos possíveis, utilizando-se do princípio multiplicativo e de representações como uma tabela de dupla entrada ou um diagrama de árvore. Desse modo, será possível indicar o sucesso de um evento utilizando-se de uma razão (BRASIL, 1998, p. 137). A maioria dos livros didáticos do ensino médio que abordam o tema probabilidade, foca mais em questões voltadas para os jogos de azar, no entanto só alguns fazem um elo entre esses jogos e a teoria da probabilidade. Poucos são os livros que falam do valor histórico deste estudo. Estes trabalham muito com exercícios que praticamente só exigem que o aluno decore uma fórmula e a aplique, ou seja, exercícios meramente mecânicos. Em geral, os conteúdos são apresentados do modo tradicional: primeiro definem-se os conceitos, depois há exemplos e em seguida apresenta-se uma bateria de exercícios. Pouco se tenta instigar o aluno à pesquisa, à experiência, ao estudo reflexivo e crítico do que está sendo aprendendo e não abre muito espaço para exercícios que permitam ao aluno respondê-los com suas próprias palavras. Os livros didáticos, em geral, possuem uma gama de exercícios úteis para o 19 Boletim do LABEM, v. 6, n. 11, jul./dez. de 2015 www.labem.uff.br aprendizado do conteúdo em estudo. Porém, falta uma ligação mais direta com a realidade do aluno. A apresentação do conteúdo limita-se para esse tema, em falar sobre os jogos de azar, no entanto, propõem exercícios que envolvem muitos tópicos que eles nem sequer comentam. Por exemplo, alguns livros não comentam sobre a relação entre a estatística e a probabilidade, mas apresentam uma bateria de exercícios, na qual o conhecimento da estatística seria fundamental para o melhor entendimento do que se está fazendo. Propõe-se um capítulo de probabilidade que inicie com um texto que contenha alguma aplicação, curiosidades, ou até fatos históricos que incentivem o aluno a aprender esta teoria. Para apresentar os conteúdos sugerimos que ao conceituar cada tópico apresentem-se exemplos diversos, e não somente aqueles que envolvem jogos de azar. Preferencialmente achamos interessante que estes exemplos relacionem a teoria com a aplicação no cotidiano, tais como Biologia, Estatística, Economia, dentre outros. Quanto aos exercícios, vemos que é importante trabalhar não somente exercícios que exijam respostas exatas, mas também exercícios que permitam ao aluno dar uma resposta discursiva e que ajudem a desenvolver não só senso lógicomatemático, mas também o senso-crítico do aluno em relação ao que se está estudando. Uma sugestão de atividades A atividade, intitulada “M&M’s e Matemática”, é um estudo dirigido com o objetivo de trabalhar alguns conceitos relacionados à análise de dados e probabilidade. Os materiais utilizados em sala na realização da tarefa foram: material impresso para acompanhamento da atividade, uma embalagem de confetes M&M’s fornecida por nós, um pratinho descartável e lápis de cor. Distribuímos embalagens lacradas de M&M’s para os alunos e solicitamos que inicialmente despejassem todo o conteúdo no prato descartável. Em seguida, eles contaram e registraram na folha de acompanhamento a quantidade de M&M’s de cada cor que a embalagem recebida continha. Neste ponto, os próprios alunos constataram que apesar das mesmas cores aparecerem em todas as embalagens dos colegas, a quantidade total de M&M’s e proporção das cores era diferenciada em relação aos colegas e, portanto conferia singularidade para seu experimento. Cada embalagem de M&M’s de 100g utilizada na atividade tinha em, em média, 100 unidades de M&M’s. As embalagens que compramos apresentaram uma quantidade em torno de 96 e 122 unidades. Para que todos os alunos trabalhassem com a mesma quantidade de M&M’s, fixamos em 100 a quantidade padrão e os alunos ficaram livres para escolher quais M&M’s em excesso eles descartariam. Por exemplo, um dos alunos, com 112 M&M’s, decidiu descartar 3 M&M’s verdes, 2 M&M’s azuis e 7 M&M’s amarelos. Sua justificativa foi a de trabalhar com “quantidades arredondadas”. Outro aluno, com 108 M&M’s, decidiu descartar seus 8 M&M’s vermelhos extinguindo essa cor da atividade. Inicialmente, ficamos receosos em eliminar uma das cores da atividade, mas percebemos que essa ação distinguiria as respostas deste aluno dos demais, criando um novo padrão de respostas diferente das que esperávamos nas questões que estavam por vir na folha de acompanhamento. Como partiu do aluno esta iniciativa, optamos por apoiá-los e acompanhar sua solução particular para o problema proposto. Um único aluno teve menos de 100 M&M’s em sua embalagem. Este, ao invés de comer os confetes para atingir a quantidade padrão como os demais, precisou receber 4 M&M’s para completar 100, pois em sua embalagem só havia 96 unidades. 20 Boletim do LABEM, v. 6, n. 11, jul./dez. de 2015 www.labem.uff.br Figura 1 – Materiais utilizados na realização da tarefa A cada nova etapa da tarefa os alunos tiravam suas dúvidas, solicitavam esclarecimentos, ou apenas nos chamavam à mesa para conferir o andamento. Este tipo de atendimento personalizado demanda tempo e foi um dos fatores de atraso da nossa atividade. Nossa estimativa de tempo para execução da tarefa era de 50 min, contudo gastamos cerca de 1h20min. A colaboração do professor foi fundamental na execução da tarefa, tanto para o atendimento aos alunos, quanto para conter a turma em alguns momentos de dispersão. Na segunda questão foi solicitado aos alunos que criassem um gráfico de barras a partir dos dados coletados. Para isto, fornecemos uma malha quadriculada e lápis de cor. Deixamos de livre escolha a escala a ser utilizada. Vejamos alguns resultados. Figura 2 – Resolução de um aluno usando Escala 1:3 Este aluno, por exemplo, convenciou que 1 quadradinho de altura corresponde a 3 M&M’s da cor desejada. Observamos que ele ampliou o gradeado para representar seus 36 M&M’s laranjas. Outro aluno utilizou a escala 1:4 (Fig.3). O aluno expressou corretamente seus 6 M&M’s vermelhos ao dividir um quadradinho ao meio. A explicação do aluno foi: “Se 1 quadradinho vale 4 M&M’s, logo ½ quadradinho vale 2 M&M’s. Como 6 é 1 x 4 + 2, então eu uso 1 quadradinho + ½ quadradinho de altura.” 21 Boletim do LABEM, v. 6, n. 11, jul./dez. de 2015 www.labem.uff.br Figura 3 – Resolução de um aluno usando Escala 1:4 Elegemos a escala 1:5 como a mais apropriada para representar na malha proposta, visto que comporta até 50 M&M’s em uma barra. Nenhuma das embalagens apresentou uma única cor com mais do que 50 unidades, o máximo encontrado foi 46. Vejamos o exemplo do aluno que representou 5 M&M’s por quadradinho de altura. Ele utilizou uma aproximação por falta ou por excesso, conforme conveniente. Na tabela ele registrou 22 M&M’s verdes e no gráfico ele os representou por 4 quadradinhos, o equivalente a 20 M&M’s. Os 9 M&M’s vermelhos foram representados por 2 quadradinho de altura no gráfico, o que equivale a 10 M&M’s. Consideramos justa a compensação feita pelo aluno. O arredondamento não compromete de forma geral a leitura do gráfico. Veja a tabela e as compensações feitas pelo aluno. Figura 4 – Resolução de um aluno usando Escala 1:5 Outro tipo de escala utilizada pelos alunos foi a de 1:10. Não consideramos esta escala muito precisa, pois um dos alunos representou, por exemplo, 22 M&M’s verdes e 21 M&M’s laranjas da mesma forma no gráfico, comprometendo a leitura de que os M&M’s de cor verde tem mais chances de sair dos que os de cor laranja numa retirada aleatória de um M&M’s da embalagem. Figura 5 – Resolução de um aluno usando Escala 1:10 22 Boletim do LABEM, v. 6, n. 11, jul./dez. de 2015 www.labem.uff.br Dois alunos construíram seus gráficos nas escalas de 1:1 com perspectivas diferentes. O primeiro registrou 1 quadradinho de altura por M&M’s para quantidades menores ou iguais a 10. Para quantidades maiores que 1 dezena ele registrou somente 10 quadradinhos de altura no gráfico, alegando não ter mais espaço para continuar. Ou seja, tanto 10, 23 ou 36 M&M’s teriam a mesma representação gráfica. Ficou claro neste ponto que o aluno não soube escolher uma escala adequada para os dados. Posteriormente, sugerimos a ele uma redução de escala explicando que cada quadradinho poderia representar mais de 1 M&M’s por vez, que era necessário “reduzir para caber”. O aluno se comprometeu em refazer o gráfico em outra aula. Figura 6 – Resolução de um aluno usando Escala 1:1 O outro aluno que trabalhou com escala 1:1, não atentou a nossa instrução inicial de que a base de cada barra no gráfico teria a largura de 3 quadradinhos. Ele simplesmente pintou na malha a quantidade de quadradinhos correspondente ao número de M&M’s de cada cor. Figura 7 – Resolução de um aluno usando Escala 1:1 Concluídos os registros e a representação gráfica dos dados, partimos para próximas questões. Pedimos para que os alunos listassem as cores de M&M’s possíveis/impossíveis (itens 3 e 4 da atividade) de ocorrer numa retirada aleatória de um único M&M’s da embalagem. A maioria citou como resultados possíveis as 6 cores presentes nas embalagens de M&M’s, a saber: AMARELO, VERMELHO, AZUL, VERDE, LARANJA e MARROM. Salvo alguns alunos que registram somente 5 das cores comuns: um, por não ter sido contemplado com uma das cores em sua embalagem; e outro, por ter eliminado uma das cores no início da tarefa. Para os resultados impossíveis, eles responderam as cores ROSA (15 ocorrências), PRETO (14 ocorrências), BRANCO (11 ocorrências), ROXO (6 ocorrências) e CINZA (3 ocorrências). O aluno que eliminou os M&M’s vermelhos no começo da tarefa gerou certa polêmica entre os colegas por citar o VERMELHO como cor impossível de sair, mas logo se justificou explicando que se tratava de uma solução particular da sua atividade. Outro aluno respondeu oralmente que era impossível sair qualquer cor que não estivessem na embalagem. Mas no registro ele escreveu 23 Boletim do LABEM, v. 6, n. 11, jul./dez. de 2015 www.labem.uff.br “qualquer cor”. Completamos com “exceto amarelo, vermelho, azul, laranja, verde, marrom” para dar sentido a sua resposta. Pedimos então que os alunos criassem um ranking das cores que tinham mais chance para a que tinha menos chance de sair quando retirássemos um único elemento da sua embalagem de M&M’s. Como referência os alunos puderam consultar os valores na tabela ou fazer uma leitura do gráfico de barras criado por eles. Todos ordenaram as cores corretamente. A próxima etapa da atividade, destacada por um quadro na folha de acompanhamento, visava investigar o conhecimento prévio do aluno sobre o tema probabilidade, que já o tema havia sido ensinado nas aulas de matemática pelo professor da turma, pois como dissemos inicialmente, esta atividade foi proposta para revisão e fixação do conteúdo. Dessa forma os alunos já estavam familiarizados com alguns termos como “evento”, “espaço amostral”, “experimento aleatório”. Para isto pedimos que completassem as lacunas do texto sobre probabilidades de acordo com seus conhecimentos sobre o assunto. Seguem algumas das respostas frequentes. Figura 8 – Exemplo de Resolução Um dos alunos confundiu a definição de probabilidade e registrou a relação ESPAÇO AMOSTRAL / EVENTO como válida para o cálculo de probabilidades. Figura 9 – Exemplo de Resolução com erro na definição de probabilidade 24 Boletim do LABEM, v. 6, n. 11, jul./dez. de 2015 www.labem.uff.br Em seguida, propomos aos alunos que calculassem a probabilidade de ocorrência de alguns eventos (item 6 da atividade). Na retirada de um único M&M’s da embalagem, perguntamos qual era a probabilidade de: Evento A: sair um M&M’s amarelo; Evento B: sair um M&M’s marrom ou laranja; Evento C: sair um M&M’s de chocolate. As respostas foram variadas justamente por depender diretamente do conteúdo das embalagens de cada aluno. Para o evento A, esperava-se que os alunos respondessem usando a definição de probabilidade: P(amarelo) = no de m&m's amarelos 100 Para o cálculo da probabilidade de ocorrência do evento B o aluno deveria calcular P(marrom ou laranja) = P(marrom) + P(laranja), visto que os eventos “sair um M&M’s marrom” e “sair um M&M’s laranja” são eventos mutuamente excludentes. Portanto, P(marrom ou laranja) = no de m&m's marrons+ n de m&m's laranja 100 No evento C, a probabilidade de sair um M&M’s de chocolate é 100%, por se tratar de confeitos coloridos feitos exclusivamente de chocolate. Com o intuito de ampliar gradativamente o grau de dificuldade das questões, liberamos que os alunos comessem todos os M&M’s amarelos. Isto modificava significantemente os resultados encontrados até agora, pois reduzia o número de elementos do espaço amostral. Os alunos registraram na folha de acompanhamento sua nova quantidade de M&M’s, ou seja, o novo número de elementos do espaço amostral. Além disso, nesta nova etapa trabalhamos com a retirada de dois M&M’s da embalagem: primeiro um, depois o outro. Inicialmente, construímos um quadro de possibilidades para visualizar os possíveis arranjos de corres, na retirada sucessiva de dois M&M’s, levando em conta que temos uma cor a menos no processo. Segue o registro em tabela feito por um aluno, de todas as possibilidades na retirada de dois M&M’s. Figura 10 – Exemplo de Resolução. Quadro de possibilidades. 25 Boletim do LABEM, v. 6, n. 11, jul./dez. de 2015 www.labem.uff.br Investigamos com os alunos a probabilidade de ocorrer os seguintes eventos (item 9 da atividade): Evento D: sair um M&M’s azul e depois um M&M’s vermelho, com reposição; Evento E: saírem dois M&M’s verdes, sem reposição. O professor da turma foi enfático durante a elaboração desta atividade ao afirmar que este tópico era o ponto de maior dificuldade da turma. “Eles têm muitas dúvidas quanto à variação da quantidade de elementos do espaço amostral durante a primeira e a segunda retirada de elementos, nos eventos sem reposição” disse o professor, que trabalhou o tema probabilidade da forma tradicional com a resolução do problema de “retirada de bolas de uma urna”, que muito se assemelha à atividade que estamos propondo. No evento D, esperávamos que os alunos concluíssem que a probabilidade de sair um M&M’s azul e depois um M&M’s vermelho com reposição é P(1° azul e 2° vermelho) = P(1° azul) x P(2° vermelho) e que o espaço amostral se manteria o mesmo, visto que o primeiro M&M’s retirado foi devolvido ao pacote antes da segunda retirada. O evento E, propunha a retirada de dois M&M’s e perguntava a probabilidade de serem retirados 2 M&M’s verdes, primeiro um, depois o outro, sem reposição. Este caso requeria um pouco mais de atenção, pois na segunda retirada o espaço amostral teria um elemento a menos. O número de elementos do evento também se alteraria na segunda retirada, pois um M&M’s verde já tinha saído na primeira retirada. Vamos acompanhar o desenvolvimento de um dos alunos. Figura 11 – Exemplo de Resolução do itens 6,7 e 9 No caso desse aluno sua tabela inicial tinha 20 M&M’s amarelos que foram eliminados, reduzindo então o número de elementos do seu espaço amostral de 100 para 80. No cálculo da probabilidade de ocorrência do evento D, o aluno fez uso do princípio multiplicativo. Observe que o aluno considerou corretamente o número de elementos do espaço amostral, o qual não se altera da primeira para a segunda retirada, pois se trata de um problema com reposição de elementos. Diferentemente do evento E, no qual a redução do número de elementos do espaço e do número 26 Boletim do LABEM, v. 6, n. 11, jul./dez. de 2015 www.labem.uff.br de elemento do evento da primeira para a segunda retirada é consequência da condição de não reposição dos elementos. Considerações Finais Ao término da atividade os alunos se mostraram bem animados com a proposta de aula e assumiram ter esclarecido as dúvidas que ainda tinham sobre o tema. Na semana posterior as aplicações desta atividade, ocorreram as avaliações bimestrais da turma, bem como a avaliação diagnóstica da educação no Estado do Rio de Janeiro, o SAERJ. Pelo depoimento do professor da turma, os resultados obtidos neste bimestre foram positivos, e a turma alcançou um bom rendimento. Embora não tenha sido o único tema abordado nesta avaliação, entendemos que a vivência deste experimento tenha colaborado para o despertar para questões relacionadas à probabilidade, conteúdo hoje indispensável para a formação plena do cidadão. Referências BAYER, Arno; ECHEVESTE, Simone; ROCHA, Josy; BITTENCOURT, Hélio Radke. Probabilidade na Escola. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE ENSINO MATEMÁTICA, 3, 2005, Canoas. Anais... Canoas, ULBRA, 2005. Disponível em: <http://www.exatas.net/artigo_ciem2.pdf>. Acesso em: 23/05/2013. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Primeiro e Segundo Ciclos do Ensino Fundamental: Matemática. Secretaria de Educação Fundamental Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/matematica.pdf>. Acesso em: 18/07/2013. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: MEC, 1999. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ciencian.pdf>. Acesso em: 23/05/2013 BRASIL. Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Educação Média e Tecnológica (SEMTEC). PCN + Ensino médio: orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/Semtec, 2002. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/ar quivos/pdf/CienciasNatureza.pdf>. Acesso em: 23/05/2013. LOPES, Celi Aparecida Espasandin. O Ensino da Estatística e da Probabilidade na Educação Básica e a Formação dos Professores. Cadernos Cedes, Campinas, v. 28, p. 57-73, abr. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v28n74/v28n74a05.pdf>. Acesso em: 23/05/2013. 27