A FORMAÇÃO DO CONCEITO DE GÊNERO DOS SUBSTANTIVOS ENTRE ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL: UM PROCESSO DE TOMADA DE CONSCIÊNCIA Fabiana Poças BIONDO Edson Carlos ROMUALDO A categoria gramatical de gênero caracteriza-se, de modo geral, pela divisão dos nomes em classes. Na língua portuguesa os nomes estão agrupados, quanto ao gênero, na dicotomia masculino/feminino, porém há uma tendência a se pensar em gênero por meio da diferença entre o sexo masculino e o sexo feminino, idéia frágil e parcial que resulta em confusão conceitual. Se, por um lado, aos profissionais profundamente envolvidos com as questões lingüísticas tais complexidades parecem óbvias, a uma outra parcela (aliás, a maior delas) de nossa sociedade elas parecem não existir, e a categoria em questão, na maioria das vezes, costuma ser pensada de maneira bastante simples, porém incoerente. Essa contradição, aliada à importância da intervenção escolar no processo de tomada de consciência que permite a compreensão adequada de um conceito, nos levou ao ponto cêntrico do presente trabalho, que fora observar, junto ao ensino, e com o apoio teórico dessa área, como o gênero gramatical é compreendido por alunos do Ensino Fundamental. Para tanto, realizamos, por meio da abordagem quantitativo-qualitativa, uma reflexão a respeito da categoria de gênero, da aprendizagem conceitual e da tomada de consciência, bem como um trabalho de caráter empírico no qual investigamos o conceito de gênero dos alunos respaldando-nos, ainda, na perspectiva da formação e modificação de conceitos aliada à Epistemologia e Psicologia Genética de Jean Piaget. Ao testar a hipótese de mudança conceitual sobre o gênero gramatical, expressa pela tomada de consciência, verificamos que não vem se efetivando uma mudança conceitual significativa durante o processo de escolarização, ou seja, interséries. Mostra-se necessário, portanto, que o ensino de língua portuguesa, e mais especificamente o ensino de gramática, promova a reflexão e a compreensão que, em tese, tornariam possível a tomada de consciência na diferenciação dos conceitos de gênero gramatical e gênero biológico, ponto investigado nesse estudo. Em oposição a essa expectativa, os resultados desta pesquisa oferecem um exemplo significativo de uma situação na qual a tomada de consciência e a conceituação que ela supõe encontram-se deformadas. Nosso corpus, a exemplo do corpus analisado por Jean Piaget nas duas obras clássicas de sua literatura, A tomada de consciência e Fazer e compreender, revela que os alunos, ao lidarem com o conceito de gênero gramatical, embora em grande parte das vezes consigam identificá-lo, não conseguem explicar como o fizeram, demonstrando que a ação não garante a conceituação, pois esta depende, essencialmente, da transformação conceitual obtida por meio da tomada de consciência. Ao passo que a tomada de consciência conceituada torna-se válida quando se pode apoiar numa coordenação das próprias ações por meio de abstração refletidora que permite chegar à consciência, o problema que lançamos para futuras reflexões consiste em compreender por que a tomada de consciência é tão tardia no processo de aprendizagem escolar, ocorrendo, em alguns casos, apenas a partir da 8ª série, e, em outros (aliás, na grande maioria deles), em momento não observado no que diz respeito ao contexto do ensino fundamental. Palavras-chave: categoria de gênero; tomada de consciência; Ensino Fundamental. Área de concentração: Estudos Linguísticos.