Conteudo do Querigma 1 2015 - Paróquia São Paulo Apóstolo

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As Santas Missões Populares
Formação dos Fiéis Leigos
O Conteúdo do
Querigma:
Da Criação à Parusia
“Não te envergonhes, pois, de dar testemunho de nosso Senhor,
nem de mim, seu prisioneiro; pelo contrário, participa do meu
sofrimento pelo evangelho, confiando no poder de Deus, que nos
salvou e nos chamou com vocação santa, não em virtude de
nossas obras, mas em virtude do seu próprio desígnio e graça.
Essa graça, que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos
eternos, foi manifestada agora pela aparição de nosso Salvador, o
Cristo Jesus. Ele não só destruiu a morte, mas também fez brilhar
a vida e a imortalidade pelo Evangelho, para o qual fui
constituído pregador, apóstolo e doutor.” (2Tm 1,8-11)
Apostila 1/3
Pe. Genival Antônio Pessotto
Abril/2015
Celebrando o seu Jubileu de Ouro, a Igreja Diocesana de Jundiaí
quer responder, com renovado entusiasmo e coração ardente (cf.
Lc 24,32) ao mandato missionário de Jesus Cristo: “Ide,
evangelizai! Ide fazer discípulos meus todos os que moram na
minha Igreja, na porção do meu povo que se faz presente na
Diocese de Jundiaí” (cf. Mt 28,19). Como Mãe amorosa e solícita,
a Igreja quer anunciar a todos a alegria de sermos amados por
Jesus Cristo e termos sido salvos por Ele. E, ao mesmo tempo, ela
quer tornar-se uma Igreja servidora, que possibilita àqueles filhos
e filhas dispersos uma experiência íntima e profunda com Cristo e
para a vida em comunidade.
(Introdução da 1ª Carta Pastoral à Diocese de Jundiaí –
As Santa Missões Populares – Dom Vicente Costa – 11/04/2015)
ORAÇÃO PELAS SANTAS MISSÕES POPULARES
Nós Vos louvamos, Senhor,
e agradecemos a Vossa Palavra, a graça do Batismo,
e a Missão que de Vós recebemos.
Ensinai-nos, nós Vos pedimos,
a ser discípulos missionários do Vosso Reino,
sobretudo neste período em que nossa Diocese quer ser
uma “Casa da Iniciação à Vida Cristã”
através das Santas Missões Populares.
Impulsionada pela alegria do Evangelho
e pela Santa Eucaristia,
seja a nossa Missão um serviço à Paz;
e, para a humanidade à procura de Jesus,
Caminho, Verdade e Vida,
seja um sinal de amor e de esperança.
Nossa Senhora do Desterro,
Perfeita Discípula Missionária do Senhor,
intercedei por todos nós.
Amém!
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
1
Salve Rainha
Salve Rainha, Mãe de misericordiosa,
vida, doçura e esperança nossa, salve!
A vós bradamos, os degredados filhos de Eva.
A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.
Eia, pois, advogada nossa,
esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei!
E depois deste desterro
mostrai-nos Jesus,bendito fruto do vosso ventre,
ó clemente,
ó piedosa,
ó doce sempre Virgem Maria.
Rogai por nós Santa Mãe de Deus.
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
Amém.
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
2
1. O MUNDO DIVINO: O CÉU
1.1 Deus: A Trindade
§252 A Igreja utiliza o termo "substância" (traduzido também, às vezes, por "essência" ou por
"natureza") para designar o ser divino em sua unidade, o termo "pessoa" ou "hipóstase" para
designar o Pai, o Filho e o Espírito Santo em sua distinção real entre si, e o termo "relação"
para designar o fato de a distinção entre eles residir na referência de uns aos outros.
§253A Trindade é Una. Não professamos três deuses, mas um só Deus em três pessoas: "a
Trindade consubstancial".As pessoas divinas não dividem entre si a única divindade, mas cada
uma delas é Deus por inteiro: "O Pai é aquilo que é o Filho, o Filho é aquilo que é o Pai, O
Espírito Santo é aquilo que são o Pai e o Filho, isto é, um só Deus por natureza". "Cada uma
das três pessoas é esta realidade, isto é, a substância, a essência ou a natureza divina."
§254 As pessoas divinas são realmente distintas entre si. "Deus é único, mas não solitário".
"Pai", "Filho", "Espírito Santo" não são simplesmente nomes que designam modalidades do
ser divino, pois são realmente distintos entre si: "Aquele que é o Pai não é o Filho, e aquele
que é o Filho não é o Pai, nem o Espírito Santo é aquele que é o Pai ou o Filho". São distintos
entre si por suas relações de origem: "É o Pai que gera, o Filho que é gerado, o Espírito Santo
que procede".A Unidade divina é Trina.
§255 As pessoas divinas são relativas umas às outras. Por não dividir a unidade divina, a
distinção real das pessoas entre si reside unicamente nas relações que as referem umas às
outras: "Nos nomes relativos das pessoas, o Pai é referido ao Filho, o filho ao Pai, o Espírito
Santo aos dois; quando se fala destas três pessoas considerando as relações, crê-se todavia,
em uma só natureza ou substância'. Pois "tudo é uno [neles] lá onde não se encontra a
oposição de relação. "Por causa desta unidade, o Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no
Espírito Santo; o Filho está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo,
todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho".
§256 Aos Catecúmenos de Constantinopla, São Gregório Nazianzeno, denominado também "o
Teólogo", confia o seguinte resumo da fé trinitária: Antes de todas as coisas, conservai-me
este bom depósito, pelo qual vivo e combato, com o qual quero morrer, que me faz suportar
todos os males e desprezar todos os prazeres: refiro-me à profissão de fé no Pai e no Filho e
no Espírito Santo. Eu vo-la confio hoje. É por ela que daqui a pouco vou mergulhar-vos na água
e vos tirar dela. Eu vo-la dou como companheira e dona de toda a vossa vida. Dou-vos uma só
Divindade e Poder, que existe Una nos Três, e que contém os Três de maneira distinta.
Divindade sem diferença de substância ou de natureza, sem grau superior que eleve ou grau
inferior que rebaixe... A infinita conaturalidade é de três infinitos. Cada um considerado em si
mesmo é Deus todo inteiro... Deus os Três considerados juntos. Nem comecei a pensar na
Unidade, e a Trindade me banha em seu esplendor. Nem comecei a pensar na Trindade, e a
unidade toma conta de mim.
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
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João 14,10-11.15-17: 10Não crês que estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que vos
digo, não as digo por mim mesmo, mas o Pai, que permanece em mim, realiza suas obras.
11
Crede-me: eu estou no Pai e o Pai em mim. Crede-o, ao menos, por causa dessas obras. 15Se
me amais, observareis meus mandamentos, 16e rogarei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito,
para que convosco permaneça para sempre, 17o Espírito da Verdade, que o mundo não pode
acolher, porque não o vê nem o conhece. Vós o conheceis, porque permanece convosco.
1 Coríntios 13,13: A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito
Santo estejam sempre com todos vós.
Resumindo
 Tudo no céu é unido, não existe nenhuma divisão no céu. Tudo é um.
 Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo são três pessoas que formam um só Deus,
possuindo a mesma natureza.
 Não são 3 deuses mas um só Deus, pois no céu tudo é unido, não existe nenhuma
divisão no céu.
 "Por causa desta unidade, o Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito
Santo; o Filho está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo,
todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho".
1.2. O céu: Unidade Perfeita
§212 No decorrer dos séculos, a fé de Israel pode desenvolver e aprofundar as riquezas
contidas na revelação do nome divino. Deus é único, fora d'Ele não ha deuses. Eletranscende o
mundo e a historia. Foi Ele que fez o céu e a terra; “eles hão-se passar, mas Vóspermaneceis;
tal como um vestido, eles se vão gastando [...] Vós, porem, sois sempre o mesmo e os vossos
anos não tem fim”(Sl 102, 27-28). N'Ele“não ha variação nem sombra de mudança” (Tg1, 17).
Ele é “Aquele que é”, desde sempre e para sempre; e assim, permanecesempre fiel a Si
mesmo e as suas promessas.
§27 O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus
e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de
encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar:O aspecto mais sublime da
dignidade humana está nesta vocação do homem à comunhão com Deus. Este convite que
Deus dirige ao homem, de dialogar com ele, começa com a existência humana. Pois se o
homem existe, é porque Deus o criou por amor e, por amor, não cessa de dar-lhe o ser, e o
homem só vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se
entregar ao seu Criador.
§45 O homem é feito para viver em comunhão com Deus, no qual encontra sua felicidade:
"Quando eu estiver inteiramente em Vós, nunca mais haverá dor e provação; repleta de Vós
por inteiro, minha vida será verdadeira"
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
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§54 "Criando pelo Verbo o universo e conservando-o, Deus proporciona aos homens, nas
coisas criadas, um permanente testemunho de si e, além disso, no intuito de abrir o caminho
de uma salvação superior, manifestou-se a si mesmo, desde os primórdios, a nossos primeiros
pais." Convidou-os a uma comunhão íntima consigo mesmo, revestindo-os de uma graça e de
uma justiça resplandecentes.
§1024 Essa vida perfeita com a Santíssima Trindade, essa comunhão de vida e de amor com
ela, com a Virgem Maria, os anjos e todos os bem-aventurados, é denominada "o Céu". O Céu
é o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade
suprema e definitiva.
§1025 Viver no Céu é "viver com Cristo". Os eleitos vivem "nele", mas lá conservam - ou
melhor, lá encontram - sua verdadeira identidade, seu próprio nome. "Vita est enim esse cum
Christo; ideoubi Christus, ibivita, ibiregnum - Vida é, de fato, estar com Cristo; aí onde está
Cristo, aí está a Vida, aí está o Reino".
§1026 Por sua Morte e Ressurreição, Jesus Cristo nos "abriu" o Céu. A vida dos bemaventurados consiste na posse em plenitude dos frutos da redenção operada por Cristo, que
associou à sua glorificação celeste os que creram nele e que ficaram fiéis à sua vontade. O céu
é a comunidade bem-aventurada de todos os que estão perfeitamente incorporados a Ele.
§2794 Esta expressão bíblica não significa um lugar "o espaço”, mas uma maneira de ser; não
o afastamento de Deus, mas sua majestade. Nosso Pai não está "em outro lugar", Ele está
"para além de tudo" quanto possamos conceber a respeito de sua Santidade. Porque Ele é três
vezes Santo, está bem próximo do coração humilde e contrito: É com razão que estas palavras
"Pai Nosso que estais no céu" provêm do coração dos justos, onde Deus habita como que em
seu templo. Por elas também o que reza desejará ver morar em si aquele que ele invoca. Os
"céus" poderiam muito bem ser também aqueles que trazem a imagem do mundo celeste, nos
quais Deus habita e passeia.
Apocalipse 21,3-4: E ouvi uma grande voz, vinda do trono, que dizia: Eis que o tabernáculo de
Deus está com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e Deus mesmo
estará com eles. Ele enxugará de seus olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem
haverá mais pranto, nem lamento, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.
 Quando voltarmos para o céu viveremos eternamente unidos a Deus
 Seremos um só com Deus no amor
 No céu tudo é eterno, ou seja, sem tempo e sem espaço, tudo é unido e não há nenhum
tipo de separação. O Amor une tudo.
 Céu não é um lugar, mas, uma maneira de ser. Estado de espírito. O Espírito elevado no
Amor
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
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1.3. Unidade da Humanidade
§360 Graças à Origem comum, o gênero humano forma uma unidade. Pois Deus "de um só fez
toda a raça humana" (At 17,26): Maravilhosa visão que nos faz contemplar o gênero humano
na unidade de sua origem em Deus...; na unidade de sua natureza, composta igualmente em
todos de um corpo material e de uma alma espiritual; na unidade de seu fim imediato e de sua
missão no mundo; na unidade de seu hábitat: a terra, de cujos bens todos os homens, por
direito natural, podem usar para sustentar e desenvolver a vida; na unidade de seu fim
sobrenatural: Deus mesmo, ao qual todos devem tender; na unidade dos meios para atingir
este fim;... na unidade do seu resgate, realizado em favor de todos por Cristo.
§374 O primeiro homem não só foi criado bom, mas também foi constituído em uma amizade
com seu Criador e em tal harmonia consigo mesmo e com a criação que o rodeava que só
serão superadas pela glória da nova criação em Cristo.
§375 Interpretando de maneira autêntica o simbolismo da linguagem bíblica à luz do Novo
Testamento e da Tradição, a Igreja ensina que nossos primeiros pais, Adão e Eva, foram
constituídos em um estado "de santidade e de justiça original". Esta graça da santidade
original era uma participação da vida divina.
§376 Pela irradiação desta graça, todas as dimensões da vida do homem eram fortalecidas.
Enquanto permanecesse na intimidade divina, o homem não devia nem morrer nem sofrer. A
harmonia interior da pessoa humana, a harmonia entre o homem e a mulher e, finalmente, a
harmonia entre o primeiro casal e toda a criação constituíam o estado denominado "justiça
original".
Atos dos Apóstolos 17,26-28 De um só ele fez toda a raça humana para habitar sobre toda a
face da terra, fixando os tempos anteriormente determinados e os limites do seu hábitat.
Tudo isto para que procurassem a divindade e, mesmo se às apalpadelas, se esforçassem por
encontra-la, embora não esteja longe de cada um de nós. Pois nele vivemos, nos movemos e
existimos, como alguns dos vossos aliás, já disseram: Porque somos também de sua raça.
Romanos 12,5 assim também nós, embora muitos, somos um só corpo em Cristo, e cada
membro está ligado a todos os outros.
1 Coríntios 10,17 Como há somente um pão, nós, que somos muitos, somos um só corpo, pois
todos participamos de um único pão.
João 17,20-23 Não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão em
mim: afim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam
em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes dei a glória que me deste para
que sejam um, como nós somos um: Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na
unidade e para que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste como amaste a mim.
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
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De uma antiga Homilia no grande Sábado Santo (PG43,439.451.462-463)
(Séc. IV)
A descida do Senhor à mansão dos mortos
Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio
e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e
ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há
séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos. Ele vai antes de tudo à
procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão
mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e
Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos.
O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa.
Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e
cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com
teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os
mortos, e Cristo te iluminará.
Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que
nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão:
‘Saí!’; e aos que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-vos!’
Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos
mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas
mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te,
saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.
Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de
escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até mesmo sepultado
debaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre
os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos
judeus e num jardim, crucificado. Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para
restituir-te o sopro da vida original. Vê na minha face as bofetadas que levei para restaurar,
conforme à minha imagem, tua beleza corrompida. Vê em minhas costas as marcas dos
açoites que suportei por ti para retirar de teus ombros o peso dos pecados. Vê minhas mãos
fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente
as tuas mãos para a árvore do paraíso.
Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do
teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te
do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava dirigida contra ti.
Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te
coloco no paraíso mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida;
eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te
guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus. Está
preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito
nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os
tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade”.
(Liturgia das Horas: Ofício das Leituras do Sábado Santo)
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
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Resumindo
 Todos nós somos um, unidos no amor. O gênero humano forma uma unidade.
 O ser humano foi criado originariamente bom, perfeito, em total harmonia com o seu
criador, consigo mesmo e com a criação, tudo em perfeita união.
 Fomos criados participantes da natureza divina, santos. O pecado original não destruiu
essa natureza em nós apenas nos separou dela. Quer dizer que nosso espírito continua
“santo”, apesar de estarmos aqui separados, sujeitos a corrupção.
 A palavra humanidade já nos mostra essa união “uma” + “unidade” = humanidade. Nos
mostra que todos somos um.
1.3 A Criação
§293. Eis uma verdade fundamental que a Escritura e a Tradição não cessam de ensinar e de
celebrar: "O mundo foi criado para a glória de Deus". Deus criou todas as coisas, explica São
Boaventura, "non propter gloriam augendam, sedpropter gloriam manifestandametpropter
gloriam suam communicandam - não para aumentar a [sua] glória, mas para manifestar a
glória e para comunicar a sua glória". Pois Deus não tem outra razão para criar a não ser seu
amor e sua bondade: "Aperta manu clave amoriscreaturaeprodierunt - Aberta a mão pela
chave do amor, as criaturas surgiram". E o Concílio Vaticano I explica: Este único e verdadeiro
Deus, por sua bondade e por sua "virtude onipotente", não para aumentar sua felicidade nem
para adquirir sua perfeição, mas para manifestar essa perfeição por meio dos bens que
prodigaliza às criaturas, com vontade plenamente livre, criou simultaneamente no início do
tempo ambas as criaturas do nada: a espiritual e a corporal.
§294. A glória de Deus consiste em que se realize esta manifestação e esta comunicação de
sua bondade em vista das quais o mundo foi criado. Fazer de nós "filhos adotivos por Jesus
Cristo: conforme o beneplácito de sua vontade para louvor à glória da sua graça" (Ef 1,5-6):
"Pois a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus: se já a revelação
de Deus por meio da criação proporcionou a vida a todos os seres que vivem na terra, quanto
mais a manifestação do Pai pelo Verbo proporciona a vida àqueles que vêem a Deus". O fim
último da criação é que Deus, "Criador do universo, tornar-se-á ‘tudo em todas as coisas'
(1Cor 15,28), procurando, ao mesmo tempo, a sua glória e a nossa felicidade".
§296. Cremos que Deus não precisa de nada preexistente nem de nenhuma ajuda para criar. A
criação também não é uma emanação necessária da substância divina. Deus cria livremente
"do nada":Que haveria de extraordinário se Deus tivesse tirado o mundo de uma matéria
preexistente? Um artífice humano, quando se lhe dá um material, faz dele tudo o que quiser.
Ao passo que o poder de Deus se mostra precisamente quando parte do nada para fazer tudo
o que quer.
§299. Já que Deus cria com sabedoria, a criação é ordenada: "Tu dispuseste tudo com medida
número e peso" (Sb 11,20). Feita no e por meio do Verbo eterno, "imagem do Deus invisível"
(Cl 1,15), a criação está destinada, dirigida ao homem, imagem de Deus, chamado a uma
relação pessoal com Ele. Nossa inteligência, que participa da luz do Intelecto divino, pode
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entender o que Deus nos diz por sua criação, sem dúvida não sem grande esforço e num
espírito de humildade e de respeito diante do Criador e de sua obra. Originada da bondade
divina, a criação participa desta bondade: "E Deus viu que isto era bom... muito bom" (Gn
1,4.10.12.18.21.31). Pois a criação é querida por Deus como um dom dirigido ao homem,
como uma herança que lhe é destinada e confiada. Repetidas vezes a Igreja teve de defender
a bondade da criação, inclusive do mundo material.
§300. Deus é infinitamente maior que todas as suas obras: "Sua majestade é mais alta do que
os céus" (Sl 8,2), "é incalculável a sua grandeza" (S1 145,3). Mas, por ser o Criador soberano e
livre, causa primeira de tudo o que existe, Ele está presente no mais íntimo das suas criaturas:
"Nele vivemos, nos movemos e existimos" (At 17,28). Segundo as palavras Santo Agostinho,
ele é "superior summo meo et interior intimo meo - maior do que o que há de maior em mim
e íntimo do que o que há de mais íntimo em mim".
§301. Com a criação, Deus não abandona sua criatura a ela mesma. Não somente lhe dá o ser
e a existência, mas também a sustenta a todo instante no ser, dá-lhe o dom de agir e a conduz
a seu termo. Reconhecer esta dependência completa em relação ao Criador é uma fonte de
sabedoria e liberdade, alegria e confiança: Sim, tu amas tudo o que criaste, não te aborreces
com nada do que fizeste; se alguma coisa tivesses odiado, não a terias feito. E como poderia
subsistir alguma coisa se não a tivesses querido? Como conservaria a sua existência se não a
tivesses chamado? Mas a todos perdoas, porque são teus: Senhor, amigo da vida! (Sb 11,2426)
Gênesis 1,1—2,4 1No princípio, Deus criou o céu e a terra. 2Ora, a terra estava vazia e vaga, as
trevas cobriam o abismo, e um vento de Deus pairava sobre as águas. 3Deus disse: "Haja luz" e
houve luz. 4Deus viu que a luz era boa, e Deus separou a luz e as trevas. 5Deus chamou à luz
"dia" e às trevas "noite". Houve uma tarde e uma manhã: primeiro dia. 6Deus disse: "Haja um
firmamento no meio das águas e que ele separe as águas das águas", e assim se fez. 7Deus fez
o firmamento, que separou as águas que estão sob o firmamento das águas que estão acima
do firmamento, 8e Deus chamou ao firmamento "céu". Houve uma tarde e uma manhã:
segundo dia. 9Deus disse: "Que as águas que estão sob o céu se reúnam numa só massa e que
apareça o continente" e assim se fez. 10Deus chamou ao continente "terra" e à massa das
águas "mares", e Deus viu que isso era bom.11Deus disse: "Que a terra verdeje de verdura:
ervas que deem semente e árvores frutíferas que deem sobre a terra, segundo sua espécie,
frutos contendo sua semente" e assim se fez. 12A terra produziu verdura: ervas que dão
semente segundo sua espécie, árvores que dão, segundo sua espécie, frutos contendo sua
semente, e Deus viu que isso era bom. 13Houve uma tarde e uma manhã: terceiro dia. 14Deus
disse: "Que haja luzeiros no firmamento do céu para separar o dia e a noite; que eles sirvam
de sinais, tanto para as festas quanto para os dias e os anos; 15que sejam luzeiros no
firmamento do céu para iluminar a terra" e assim se fez. 16Deus fez os dois luzeiros maiores: o
grande luzeiro para governar o dia e o pequeno luzeiro para governar a noite, e as estrelas.
17
Deus os colocou no firmamento do céu para iluminar a terra, 18para governarem o dia e a
noite, para separarem a luz e as trevas, e Deus viu que isso era bom. 19Houve uma tarde e uma
manhã: quarto dia. 20Deus disse: "Fervilhem as águas um fervilhar de seres vivos e que as aves
voem acima da terra, sob o firmamento do céu" e assim se fez. 21Deus criou as grandes
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serpentes do mar e todos os seres vivos que rastejam e que fervilham nas águas segundo sua
espécie, e as aves aladas segundo sua espécie, e Deus viu que isso era bom. 22Deus os
abençoou e disse: "Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a água dos mares, e que as aves se
multipliquem sobre a terra." 23Houve uma tarde e uma manhã: quinto dia. 24Deus disse: "Que
a terra produza seres vivos segundo sua espécie: animais domésticos, répteis e feras segundo
sua espécie" e assim se fez. 25Deus fez as feras segundo sua espécie, os animais domésticos
segundo sua espécie e todos os répteis do solo segundo sua espécie, e Deus viu que isso era
bom. 26Deus disse: "Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança, e que eles
dominem sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e
todos os répteis que rastejam sobre a terra". 27Deus criou o homem à sua imagem, à imagem
de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou.28Deus os abençoou e lhes disse: "Sede
fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a; dominai sobre os peixes do mar, as
aves do céu e todos os animais que rastejam sobre a terra." 29Deus disse: "Eu vos dou todas as
ervas que dão semente, que estão sobre toda a superfície da terra, e todas as árvores que dão
frutos que dão semente: isso será vosso alimento. 30A todas as feras, a todas as aves do céu, a
tudo o que rasteja sobre a terra e que é animado de vida, eu dou como alimento toda a
verdura das plantas" e assim se fez. 31Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom. Houve
uma tarde e uma manhã: sexto dia. 21Assim foram concluídos o céu e a terra, com todo o seu
exército. 2Deus concluiu no sétimo dia a obra que fizera e no sétimo dia descansou, depois de
toda a obra que fizera. 3Deus abençoou o sétimo dia e o santificou, pois nele descansou depois
de toda a sua obra de criação. 4aEssa é a história do céu e da terra, quando foram criados.
Resumindo
 Deus cria o mundo para manifestar e comunicar a sua glória
 O fim último da criação é que Deus, "Criador do universo, tornar-se-á ‘tudo em todas as
coisas'. Tudo voltará a ser um.
 Deus cria tudo a partir do nada.
 Deus cria tudo bom, Deus cria tudo na perfeição da unidade. A cada etapa da criação
Deus via que “tudo era bom”.
 Em Deus vivemos, nos movemos e existimos. Tudo unido.
 Deus não abandona sua criatura a ela mesma, mas a conduz a plenitude, a volta a união
perfeita perdoando todos os seus pecados.
 A criação é criada "em estado de caminhada" ("in statuviae"), isto quer dizer que
estamos caminhando rumo a unidade perfeita.
 Feita no e por meio do Verbo eterno, "imagem do Deus invisível" (Cl 1,15), a criação
está destinada, dirigida ao homem, imagem de Deus, chamado a uma relação pessoal
com Ele.
1.4 A Metafísica do Ser (Um pouquinho de filosofia)
Heráclito (535 a.C.)
 O mesmo homem não pode atravessar o mesmo rio, porque o homem de ontem não é
o mesmo homem, nem o rio de ontem é o mesmo do hoje.
 Devir: Tudo é vir-a-ser, tudo muda, tudo se transforma.
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
10
 O mundo, o homem, as coisas estão em incessante transformação.
 As coisas são como um rio, não há nada permanente.
Parmênides (530 a.C.)
 Toda nossa realidade é imutável, estática, e sua essência está incorporada na
individualidade divina do Ser-Absoluto, o qual permeia todo o Universo. Esse Ser é
onipresente, já que qualquer descontinuidade em sua presença seria equivalente à
existência de seu oposto – o Não-Ser.
 Esse Ser não pode ter sido criado por algo, pois isso implicaria em admitir a existência
de um outro Ser. Do mesmo modo, esse Ser não pode ter sido criado do nada, pois isso
implicaria a existência do “Não-Ser”. Portanto, o Ser simplesmente é.
 O Ser-Absoluto não pode vir-a-ser (como diz Heráclito). E não podem existir vários
“Seres-Absolutos”, pois para separá-los precisaria haver algo que não fosse um Ser.
Consequentemente, existe apenas a unidade eterna.
 “O que está fora do Ser não é Ser; o Não-Ser é nada; o Ser, portanto, é.
 A única realidade é o Ser. Não é possível nenhuma outra realidade, nem o vir-a-ser de
Heráclito. De fato, ou uma coisa é ou não é. Se é, não pode vir-a-ser, porque já é. Se
não é, não pode vir-a-ser, porque do nada não se tira nada. O que é é, e o que não é,
não é.
 Resumindo o pensamento de Parmênides em relação ao Ser:
 O mundo sensível é uma ilusão.
 Não se confia no que se vê.
 O Ser é Uno, Eterno, Não-Gerado e Imutável (não muda nunca)
2. A QUEDA
2.1 O Pecado Original (Reflexão Biblico-Teológica)
§389. A doutrina do pecado original é, por assim dizer, "o reverso" da Boa Notícia de que Jesus
é o Salvador de todos os homens, de que todos têm necessidade da salvação e de que a
salvação é oferecida a todos graças a Cristo. A Igreja, que tem o senso de Cristo, sabe
perfeitamente que não se pode atentar contra a revelação do pecado original sem atentar
contra o mistério de Cristo.

É interessante notar que no Catecismo da Igreja Católica o primeiro parágrafo que fala
do pecado original já cita a expiação realizada por Cristo na cruz como oposição, como
cura para a separação de Deus.
§397 O homem, tentado pelo Diabo, deixou morrer em seu coração a confiança em seu
Criador e, abusando de sua liberdade, desobedeceu ao mandamento de Deus. Foi nisto que
consistiu o primeiro pecado do homem.Todo pecado, daí em diante, ser uma desobediência
a Deus e uma falta de confiança em sua bondade.
§398 Neste pecado, o homem preferiu a si mesmo a Deus, e com isso menosprezou a Deus:
optou por si mesmo contra Deus, contrariando as exigências de seu estado de criatura e
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
11
consequentemente de seu próprio bem. Constituído em um estado de santidade, o homem
estava destinado a ser plenamente "divinizado" por Deus na glória.Pela sedução do Diabo,
quis "ser como Deus", mas "sem Deus, e antepondo-se a Deus, e não segundo Deus".
 Diabo (do latim diabŏlus, por sua vez do grego antigo διάβολος, "aquele que
separa")
 Diabo simboliza: divisão, separação. Tudo que é separado é diabólico.
 Ser humano quer
o Ser como Deus
o Sem Deus
o Antepondo-se a Deus
o E não segundo Deus
Nisto consiste o início de todos os males.
Gn3 A queda — 1A serpente era o
Gn 3,1-6 – Proposta da Separação
mais astuto de todos os animais dos Fruto:
campos, que Iahweh Deus tinha 1. Comer do fruto: Querer tomar o lugar de Deus. Querer viver
feito. Ela disse à mulher: "Então separado de Deus, que leva como consequência a morte. Surge
Deus disse: Vós não podeis comer a SEPARAÇÃO.
de todas as árvores do jardim?" 2A 2. O homem quer governar a própria vida sem a presença do
mulher respondeu à serpente: "Nós Senhor. Pois não confia mais em Deus. (Cf. Cat. §397)
podemos comer do fruto das 3. Não se trata de um único pecado, mas é a dinâmica de todo o
árvores do jardim. 3Mas do fruto da pecado: a vida separada de Deus.
árvore que está no meio do jardim, Serpente:
Deus disse: Dele não comereis, 1. Não se trata de um diabo invejoso que tenta o homem, mas a
nele não tocareis, sob pena de imagem da insensatez humana. O desejo de viver separado de
morte."4A serpente disse então à Deus.
mulher: "Não, não morrereis! 5Mas 2. Na origem do pecado está uma falsa visão de Deus, ao invés
Deus sabe que, no dia em que dele de um Deus criador, amoroso, unido, vê-se um Deus legislador.
comerdes, vossos olhos se abrirão (opressor)
e vós sereis como deuses, versados 3. O homem confia em Deus só se está convencido do seu amor,
no bem e no mal."6A mulher viu que caso contrário torna-se vítima da “serpente”: confia em suas
a árvore era boa ao apetite e próprias intuições, nos seus vãos pensamentos.
formosa à vista, e que essa árvore 4. A serpente diz que Adão e Eva serão como deuses, versados
era desejável para adquirir no Bem e no mal, isso é mentira Deus é versado somente no
discernimento. Tomou-lhe do fruto e Bem.
comeu. Deu-o também a seu 5. A serpente propõe viver separado de Deus e a Eva (que
marido, que com ela estava e ele simboliza toda a humanidade) diz que essa ideia é boa, formosa
comeu.
e desejável e realiza este desejo.
7Então abriram-se os olhos dos dois e
Gn 3,7-9 – Surgimento da Culpa
perceberam
que
estavam
nus;
entrelaçaram folhas de figueira e se 1. A nudez é símbolo da fragilidade humana. Aceitar a
cingiram. 8Eles ouviram o passo de nudez é aceitar a condição de criatura, dependência do
Iahweh Deus que passeava no jardim à criador.
brisa do dia e o homem e sua mulher se 2. Adão e Eva sentem vergonha de Deus, ou seja, se
esconderam da presença de Iahweh sentem CULPADOS. O ser humano se sente culpado, por
querer viver separado de Deus e se esconde Dele.
Deus, entre as árvores do jardim.
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
12
9Iahweh
Deus chamou o homem:
Gn 3,9-11 – Surgimento do Medo
10
"Onde estás?", disse ele. "Ouvi teu
passo no jardim," respondeu o homem; 1. Onde estás?: O homem não encontra mais o seu lugar na
"tive medo porque estou nu, e me criação. Deus o procura, mas não o encontra porque já não
escondi."11Ele retomou: "E quem te fez está onde deveria estar, ou seja, unido a Deus.
saber que estavas nu? Comeste, 2. O homem trancou-se no seu egoísmo, deixou de considerar
então, da árvore que te proibi de Deus como o amigo com o qual passeava no jardim, passou a
vê-lo como um inimigo, alguém que se tem MEDO.
comer!"
12O homem respondeu: "A
Gn 3,12-13 – Negação e Projeção
mulher que puseste junto de
mim me deu da árvore, e eu 1. O pecado rompe a relação de confiança entre as pessoas. Adão
comi!" 13Iahweh Deus disse à acusa Eva e, indiretamente, acusa também Deus: “a mulher que tu
mulher: "Que fizeste?" E a puseste...” A mulher empurra a culpa para a serpente. Ninguém
mulher respondeu: "A serpente assume os próprios pecados. Surge a NEGAÇÃO E PROJEÇÃO.
2. O pecado faz com que as pessoas se tornem inimigas.
me seduziu e eu comi."
14Então Iahweh Deus disse à
Gn 3,14-15 – Vitória de Cristo sobre a serpente
serpente: "Porque fizeste isso
és maldita entre todos os 1. Deus amaldiçoa a serpente. Deus se coloca, desde o início da
animais domésticos e todas as história do lado do ser humano, anuncia a derrota da serpente.
feras selvagens. Caminharás 2. A mulher lhe ferirá a cabeça: é assim que se mata uma serpente
sobre teu ventre e comerás esmagando sua cabeça. É sinal de vitória, a serpente será destruída.
poeira todos os dias de tua 3. A serpente lhe ferirá o calcanhar: A luta do homem contra a
vida.15Porei hostilidade entre ti serpente será até o fim do mundo (tempo/espaço), mas não destruirá
e a mulher, entre tua linhagem a humanidade, apenas ferirás o calcanhar.
e a linhagem dela. Ela te 4. Estes versículos são um primeiro clarão de salvação, ou “Protoesmagará a cabeça e tu lhe Evangelho”. É um anúncio Messiânico. A linhagem (Descendente) da
mulher é Jesus Cristo, que porá fim a divisão através da expiação.
ferirás o calcanhar."
16À mulher ele disse: "Multiplicarei as
Gn 3,16-19 – Apego e Ira
dores de tuas gravidezes, na dor darás à
luz filhos. Teu desejo te impelirá ao teu 1. Deus não está amaldiçoando a humanidade está apenas
marido e ele te dominará." 17Ao homem, constatando a situação da humanidade a partir da separação.
Será uma vida baseada na escassez, separação, perda e morte.
ele disse: "Porque escutaste a voz de tua
Uma vida de sofrimentos.
mulher e comeste da árvore que eu te 2. Cat. §705: Desfigurado pelo pecado e pela morte, o homem
proibira, comer, maldito é o solo por continua sendo "à imagem de Deus", à imagem do Filho, mas é
causa de ti! Com sofrimentos dele te "privado da Glória de Deus", privado da "semelhança". A
nutrirás todos os dias de tua vida. 18Ele promessa feita a Abraão o inaugura a Economia da salvação, no
produzirá para ti espinhos e cardos, e fim da qual o próprio Filho assumirá "a imagem" e a restaurará
comerás a erva dos campos. 19Com o na "semelhança" com o Pai, restituindo-lhe a Glória, o Espírito
suor de teu rosto comerás teu pão até "que dá a vida". O Ego voltará a ser pó.
que retornes ao solo, pois dele foste 3. Eva (que simboliza toda a humanidade) após ter deixado a
comunhão com Deus se APEGA ao seu marido e como
tirado. Pois tu és pó e ao pó tornarás."
conseqüência do apego a dominação de uns pelos outros o que
produz a IRA.
20O
homem chamou sua mulher "Eva", por ser a mãe
Gn 3,20-21 – Acolhida de Deus
21
de todos os viventes. Iahweh Deus fez para o
1. Deus devolve a Adão e Eva a dignidade
homem e sua mulher túnicas de pele, e os vestiu.
perdida
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
13
O ser humano é escravizado pelo medo que tem da separação de Deus. Como não se
sente amado por Deus procura a vida neste mundo. Ele comeu da árvore que é símbolo da
separação, da expulsão do paraíso (céu). Eva (que simboliza a humanidade) aceita a catequese
da serpente que Deus não é amor, que Deus a castiga colocando-a neste mundo para limitá-la,
para que não se realize como Ele; para que não alcance a sua máxima capacidade. Quando
aceitamos a separação aceitamos que Deus não existe, que Deus não é amor. Mas acontece
que nós existimos enquanto Deus nos ama, e estamos unidos a Ele, e se nós aceitamos que
Deus não nos ama, quem nos criou? Quem somos? Cessamos imediatamente de ser. O ser
humano se sente completamente perdido. Experimentamos a um nível ontológico (ser,
existencial) de experiência profunda a morte ontológica, o absurdo da nossa própria vida. O
ser humano perde a dimensão profunda do ser, se sente aprisionado pelo medo da separação
e morte.
O sofrimento físico se converte num símbolo que anuncia a destruição da sua realidade
total. Deus não se afastou do ser humano, pois se isso tivesse acontecido o ser humano teria
morrido logo. É o ser humano que se sente separado, afastado de Deus, e sem sentido, que
aceitou a catequese do diabo (divisor). O ser humano então procura a vida no mundo, quer ser
Deus, mas sem Deus, separado de Deus. (Cat. §398) Não há problema em querer ser Deus pois
de fato o somos, somos os seu filhos adotivos, somos um com Ele. O Problema é querer viver
separado Dele.
Como a base da vida é o amor, o ser humano procura o amor no dinheiro, no sexo, na
comida, nos afetos. Procura prestigio para ser, poder para ser, procura a vida nos bens. Mas se
este ser humano se encontra com Jesus Cristo se sentira unido a Ele e se libertará
imediatamente de fazer injustiças, isso tira do coração do ser humano a fonte das suas
injustiças. (Catequeses Iniciais do Caminho Neocatecumenal. Kiko Arguello)
Quais as consequências da separação?
Primeiro quando o homem se sente separado de Deus não encontra mais no lugar que
lhe foi designado na criação. Deus o procura, Deus o chama: “Onde estás?”, mas ele não é
localizado, porque não está mais no lugar onde deveria estar,não se sente mais unido a Deus.
Quem se autoconvenceu que é preferível administrar a vida por conta própria (separado),
quem julga poder proclamar a sua independência de Deus quem pretende construir seu
próprio mundo, quem ser isola em seu egoísmo, este não considera Deus como seu amigo, mas
encara-o como um adversário a ser temido, evitado, mantido a distância.Encara-o como um
tirano que ameaça a sua independência e a sua liberdade, “Ouvi o barulho dos teus passos no
jardim e tive medo”, diz ele assustado.
A segunda consequência é o distanciamento (separação) dos seus irmãos. Adão acusa
Eva, esta põe a culpa na serpente. Os que se veem separados se incriminam mutuamente, são
responsáveis pelas próprias desgraças, agridem-se, odeiam-se. A separação torna os homens
inimigos uns dos outros.
A terceira consequência da separação é a destruição de quem se separou. Quem se
afasta de Deus julga ter finalmente descoberto o caminho que conduz à felicidade, mas, ao
invés, depois da separação, sente-se nu, como os animais ou como os escravos, despojados da
liberdade.
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
14
A última consequência é a destruição das relações harmoniosas com todo o universo
criado. Ao se deixar conduzir pelo egoísmo, o ser humano não destrói somente a si mesmo,
mas abala também a ordem da natureza, que se revolta, perde a fertilidade, produz cardos e
espinhos. (Gn 3,14-19)
Será definitiva a queda do homem? Continuará ele fazendo escolhas que o afastam,
separam de Deus, dos irmãos, de si mesmo e do universo criado? A narrativa termina com uma
mensagem de esperança: a luta entre a “serpente” e o ser humano continuará até o fim dos
tempos. Mas a descendência da mulher (=Jesus Cristo) conquistará a vitória final e esmagará a
cabeça da “serpente.” (Pe. Fernando Armellini. Celebrando a Palavra: Ano B. São Paulo, Ave
Maria, 1996. p. 289)
Na origem de cada pecado esta sempre “a serpente”(separação): uma ideia falsa de
Deus, uma imagem deformada que penetra na mente e no coração humano de maneira
enganadora, silenciosa, e leva a escolher o mal. Deus não é mais considerado o criador e
salvador que quer a felicidade do homem, mas é o antagonista, é aquele que impõe limites,
obrigações, proibições, obstáculos. Esse Deus é detestável, é melhor livrar-se dele, ou melhor,
de eliminá-lo. O ser humano confia em Deus só se está convencido do seu amor, caso contrário
torna-se vítima da “serpente”: confia em suas próprias ideias, nos seus vãos pensamentos. O
pecado rompe a relação de confiança entre as pessoas. Adão acusa Eva e, indiretamente acusa
também Deus. A mulher por sua vez coloca a culpa na serpente, e portanto também em Deus.
Os que pecam lançam uns sobre os outros a responsabilidade das próprias misérias, agridemse, odeiam-se.Deus criou os homens para se unirem, se ajudarem, o pecado ao invés, os
separa, afasta-os uns dos outros, torna-os inimigos. (Pe. Fernando Armellini. Celebrando a
Palavra: Festas. São Paulo, Ave Maria, 2000. p. 192-194)
§399 A Escritura mostra as consequências dramáticas desta primeira desobediência. Adão e
Eva perdem de imediato a graça da santidade original. Têm medo deste Deus, do qual fizeram
uma falsa imagem, a de um Deus enciumado de suas prerrogativas.
 Perder a santidade original significa sentir-se separado de Deus. Viver neste mundo
ilusório.
 Surge a culpa e o medo de Deus
 Cria-se a imagem falsa de Deus. Um Deus que pune, que se torna inimigo dos homens.
 Nessa visão errada de Deus é que a maior parte da humanidade acredita, é por isso que
as pessoas se afastam da Igreja, pois tem medo deste “deus” amedrontador, tem medo
que este “deus” a condene ao inferno.
§402 Todos os homens estão implicados no pecado de Adão. São Paulo o afirma: "Pela
desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores" (Rm 5,19). "Como por meio
de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, assim a morte passou
para todos os homens, porque todos pecaram..." (Rm 5,12). A universalidade do pecado e da
morte o Apóstolo opõe a universalidade da salvação em Cristo: "Assim como da falta de um só
resultou a condenação de todos os homens, do mesmo modo, da obra de justiça de um só (a
de Cristo), resultou para todos os homens justificação que traz a vida" (Rm 5,18).
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
15
§410 Depois da queda, o homem não foi abandonado por Deus. Ao contrário, Deus o chama e
lhe anuncia de modo misterioso a vitória sobre o mal e o soerguimento da queda. Esta
passagem do Gênesis (Gn 3,15) foi chamada de "proto-evangelho", por ser o primeiro anúncio
do Messias redentor, a do combate entre a serpente e a Mulher e a vitória final de um
descendente desta última.
 Vamos rever o texto: 14Então Iahweh Deus disse à serpente: "Porque fizeste isso és
maldita entre todos os animais domésticos e todas as feras selvagens. Caminharás
sobre teu ventre e comerás poeira todos os dias de tua vida. 15Porei hostilidade entre ti
e a mulher, entre tua linhagem e a linhagem dela. Ela te esmagará a cabeça e tu lhe
ferirás o calcanhar." Depois da queda (pecado original) Deus anuncia imediatamente
que vai unir a todos novamente através da redenção (expiação) realizada por Cristo.
Este processo chamamos de Economia da Salvação ou Plano da Salvação, o Mistério
Pascal: Encarnação, Morte e Ressurreição. (Trataremos desse assunto na apostila 2/3)
 Na liturgia a Igreja em suas orações sempre nos lembram este convite ao retorno:
Oração Eucarística III: Olhai com bondade a oferenda da vossa Igreja, reconhecei o
sacrifício que nos reconcilia convosco e concedei que, alimentando-nos com o Corpo e o
Sangue do vosso Filho, sejamos repletos do Espírito Santo e nos tornemos em Cristo um
só corpo e um só espírito.
Cordeiro de Deus: Antes de comungarmos nas missas sempre cantamos 3 vezes:
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e depois ainda o sacerdote diz: “Eis o
cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, para que nós aceitemos a expiação
dada gratuitamente por Cristo.
João 1,10-11: 10Ele estava no mundo e o mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não o
reconheceu. 11Veio para o que era seu e os seus não o receberam.
João 15,18-19: 18Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro, me odiou a mim. 19Se fôsseis do
mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo e minha escolha vos
separou do mundo, o mundo, por isso, vos odeia.
Resumindo
 O homem, tentado pelo Diabo, deixou morrer em seu coração a confiança NO AMOR
DO SEU CRIADOR e, abusando de sua liberdade, desobedeceu ao mandamento de Deus.
Foi nisto que consistiu o primeiro pecado do homem. Todo pecado, daí em diante, ser
uma desobediência a Deus e uma falta de confiança em sua bondade.
 O ser humano preferiu a si mesmo a Deus. Constituído em um estado de santidade, o
homem estava destinado a ser plenamente "divinizado" por Deus na glória. Pela
sedução do Diabo, quis "ser como Deus", mas "sem Deus, e antepondo-se a Deus, e não
segundo Deus".
 Diabo: divisão, separação. Tudo que é separado é diabólico.
 Deus não deixou o ser humano sozinho, mas imediatamente propôs um plano de
salvação. (Mistério Pascal: Encarnação, Morte e Ressurreição)
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
16
 Não pertencemos ao mundo separado, dividido, ilusório, mas pertencemos ao mundo
unido, ao Reino de Deus.
2.1 O Pecado Original e suas consequências na vida das pessoas
(Palestra proferida pela Dra. Susan Andrews no 2° Congresso de Terapia Transpessoal)
Com o pecado original surge uma forma errada de se pensar que produz todos os
sofrimentos humanos. Podemos resumir neste quadro esquemático:
Pecado Original
(separação)
culpa
medo
negação
projeção
apego(ídolos) Ódio
culpa
auto punição
doenças, sofrimentos,
problemas, etc.
2.1.1 Revendo os passos no texto do Gênesis:
1° Passo: Aceitação da catequese da serpente: a proposta da SEPARAÇÃO
1
A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos, que Iahweh Deus tinha
feito. Ela disse à mulher: "Então Deus disse: Vós não podeis comer de todas as árvores do
jardim?" 2A mulher respondeu à serpente: "Nós podemos comer do fruto das árvores do
jardim. 3Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: Dele não comereis,
nele não tocareis, sob pena de morte."4A serpente disse então à mulher: "Não, não morrereis!
5
Mas Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como
deuses, versados no bem e no mal."6A mulher viu que a árvore era boa ao apetite e formosa à
vista, e que essa árvore era desejável para adquirir discernimento. Tomou-lhe do fruto e
comeu. Deu-o também a seu marido, que com ela estava e ele comeu.
 A serpente propõe que Deus não ama o ser humano por isso proíbe de comer da árvore
do meio do jardim, pois diz que Deus não quer que o ser humano se torne “deus” como
Ele. Eva aceita essa catequese e acredita que Deus não a ama.
 Eva aceita a proposta de comer do fruto, ou seja, de querer ser “deus”, sem Deus.
Aceita querer viver separada de Deus, de ser dona do próprio nariz, a ideia lhe pareceu
“formosa” e “desejável”.
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
17
2° Passo: Surgimento da CULPA
7
Então abriram-se os olhos dos dois e perceberam que estavam nus; entrelaçaram
folhas de figueira e se cingiram.
 Adão e Eva ficam com vergonha (culpa) pelo que fizeram, por terem usurpado o seu
lugar.
 Se sentem culpados por terem aceitado a proposta da serpente de viverem separados
de Deus, de quererem ser deuses da própria vida.
 Separado de Deus o ser humano se sente vazio, perdido, perde a noção de que é filho
de Deus.
3° Passo: Surgimento do MEDO de Deus
8
Eles ouviram o passo de Iahweh Deus que passeava no jardim à brisa do dia e o homem
e sua mulher se esconderam da presença de Iahweh Deus, entre as árvores do jardim.9Iahweh
Deus chamou o homem: "Onde estás?", disse ele. 10"Ouvi teu passo no jardim," respondeu o
homem; "tive medo porque estou nu, e me escondi."11Ele retomou: "E quem te fez saber que
estavas nu? Comeste, então, da árvore que te proibi de comer!"
 Depois de querer viver separado de Deus, o ser humano passa a acreditar que Deus
tornou-se seu inimigo por isso passa a ter medo Dele.
 Tem medo de ser punido por Ele, de ser castigado por ele, de ser condenado a viver
eternamente separado Dele (Inferno).
 Não se confia mais em Deus e passa-se a vê-lo como um inimigo.
4° Passo: O ser humano NEGA e PROJETA a culpa e o medo nos outros
12
O homem respondeu: "A mulher que puseste junto de mim me deu da árvore, e eu
comi!" Iahweh Deus disse à mulher: "Que fizeste?" E a mulher respondeu: "A serpente me
seduziu e eu comi."
13
 O ser humano não querendo assumir a sua responsabilidade empurra a culpa para os
outros e indiretamente ao próprio Deus.
5° Passo: O ser humano procura preencher o vazio com APEGO às pessoas e às criaturas e
consequentemente ao Ódio
16
À mulher ele disse: "Multiplicarei as dores de tuas gravidezes, na dor darás à luz filhos.
Teu desejo (apego) te impelirá ao teu marido e ele te dominará (ódio)."
 O ser humano separado de Deus, procura satisfazer a sua vida buscando nas pessoas e
nas criaturas o que somente Deus pode preencher. (procura ídolos= substitutos para
Deus)
 Romanos 1,25 Trocaram a verdade de Deus pela falsidade, cultuando e servindo a
criatura em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém.
 O apego às pessoas e às coisas trás o domínio dos seres humanos de uns para com os
outros surgindo assim o Ódio.
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
18
6° Passo: O apego e o ódio trazem culpa novamente que conduzem a AUTO-PUNIÇÕES
(sofrimentos)
17
Ao homem, ele disse: "Porque escutaste a voz de tua mulher e comeste da árvore que
eu te proibira, comer, maldito é o solo por causa de ti! Com sofrimentos dele te nutrirás todos
os dias de tua vida. 18Ele produzirá para ti espinhos e cardos, e comerás a erva dos campos.
19
Com o suor de teu rosto comerás teu pão até que retornes ao solo, pois dele foste tirado.
Pois tu és pó e ao pó tornarás."
2.1.2 Os 3 primeiros passos: Pecado Original (separação), culpa e medo
Ha três ideias centrais para a compreensão do sistema de pensamento do ego. Esses são
os fundamentos de todo o sistema: o pecado (separação), a culpa, e o medo.
Quando falamos aqui de pecado estamos nos referindo ao Pecado Original, ou seja, a
‘separação’. O pecado pelo qual nós nos sentimos mais culpados, que em última instância é a
fonte de toda a nossa culpa, é o pecado de nos sentirmos separados de Deus.
Assim o início do ego é acreditarmos que estamos separados de Deus e vivemos nesta
situação de separados. Isso faz com que constituamos um ser que é separado (ego) do nosso
Ser verdadeiro (crístico).
Nós acreditamos que constituímos um ser (com ‘s’ minúsculo) que é a nossa verdadeira
identidade e esse ser é autônomo com relação ao nosso Ser real e com relação a Deus. Esse é
o começo de todos os problemas no mundo: acreditarmos que somos indivíduos separados de
Deus e que podemos viver separados Dele. Uma vez que cometemos esse pecado, ou uma vez
que cometemos qualquer pecado, é psicologicamente inevitável nos sentirmos culpados. Em
certo sentido, a culpa pode ser definida como a experiência de termos pecado. Assim,
podemos basicamente usar pecado e culpa como sinônimos: uma vez que pecamos é
impossível não acreditarmos que somos culpados, passando a sentir o que conhecemos como
culpa.
A culpa está sempre ligada a coisas específicas do nosso passado. Mas essas
experiências conscientes de culpa são apenas como o topo de um iceberg. Se vocês pensarem
num iceberg, abaixo da superfície do mar está essa massa gigantesca que representaria o que
é a culpa. A culpa é realmente a soma total de todas as crenças, experiências e sentimentos
negativos que jamais tivemos sobre nós mesmos. Assim, a culpa pode ser qualquer forma de
ódio ou rejeição de si mesmo; sentimentos de incompetência, fracasso, vazio, ou a sensação
de que há coisas em nós que estão faltando, ou estão perdidas, ou são incompletas.
A maior parte dessa culpa é inconsciente; é por isso que a imagem de um iceberg é tão
útil. A maior parte das experiências que nos indicariam o quanto nós nos sentimos mal estão
abaixo da superfície da nossa mente consciente, o que faz com que sejam virtualmente
inacessíveis a nós. E a maior fonte de toda essa culpa é acreditarmos que pecamos contra
Deus por nos separarmos d’Ele na criação. Como resultado disso, vemos a nós mesmos
separados de todas as outras pessoas e do nosso próprio Ser. Isso traz Depressão.
Uma vez que nos sentimos culpados é impossível não acreditarmos que seremos
punidos pelas coisas terríveis que acreditamos ter feito e pelas coisas terríveis que
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
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acreditarmos ser. A culpa sempre exige punição. Uma vez que nos sentimos culpados,
acreditaremos que temos que ser punidos pelos nossos pecados. Psicologicamente não há
nenhuma forma de evitarmos esse passo. Então teremos medo. Todo medo, não importa qual
pareça ser a sua causa no mundo, vem da crença de que eu devo ser punido pelo que fiz ou
pelo que não fiz. E assim terei medo do que será essa punição.
Por acreditarmos que o objeto último do nosso pecado é Deus, contra o qual pecamos
por nos separarmos d’Ele, acreditaremos então que será o próprio Deus que virá nos punir.
Quando lemos a Bíblia e nos deparamos com todas aquelas passagens terríveis sobre a ira e a
vingança de Deus, agora sabemos onde elas tiveram origem. Isso nada tem a ver com Deus
como Ele é, já que Deus é apenas Amor. Todavia isso tem tudo a ver com as projeções da
nossa culpa sobre Ele. “Não foi Deus quem expulsou Adão e Eva do Jardim do Éden; Adão e
Eva expulsaram a si mesmos do Jardim do Éden”.
Uma vez que pecamos contra Deus, o que todos nós fazemos, temos que acreditar
também que Deus nos punirá. O que fizemos, é claro, por nos tornarmos amedrontados em
relação a Deus, foi transformar o Deus do Amor em um Deus de medo: um Deus de ódio,
punição e vingança. É justamente isso que o ego quer que façamos. Uma vez que nos sentimos
culpados, pouco importa de onde acreditamos que venha essa culpa, também acreditarmos
não apenas que somos culpados, mas que Deus nos vai atacar e matar. Assim, Deus, que é o
nosso Pai cheio de amor é nosso único Amigo, vem a ser nosso inimigo. E Ele é um inimigo e
tanto, nem sequer é preciso dizer. Acreditar que Deus é assim é atribuir-Lhe as mesmas
qualidades “egóticas” que nós temos. Como disse Voltaire: “Deus criou o homem a Sua
própria imagem e depois o homem Lhe devolveu o cumprimento”. O Deus que nós criamos é
realmente a imagem de nosso próprio ego.
Ninguém pode existir nesse mundo com esse grau de medo e terror, e com essa
intensidade de ódio e culpa contra si mesmo na sua mente consciente. Seria absolutamente
impossível para nós vivermos com essa quantidade de ansiedade e terror, isso nos devastaria.
Portanto, tem que haver algum meio de lidarmos com isso. Como não podemos ir a Deus em
busca de ajuda, já que dentro do sistema do ego nós transformamos Deus em um inimigo. O
único outro recurso disponível é o próprio ego.
Nós vamos ao ego em busca de ajuda e dizemos: “Olhe, você tem que fazer alguma
coisa, eu não posso tolerar toda essa ansiedade e todo o terror que sinto. Ajude-me!” O ego,
fiel à sua forma, nos oferece uma ajuda que não nos ajuda absolutamente, embora pareça que
sim. A ‘ajuda’ vem em duas formas básicas e é, de fato, aqui que as contribuições de Freud
podem ser verdadeiramente compreendidas e apreciadas.
2.1.3 O 4° passo: Negação e Projeção
Freud tem recebido más críticas nos dias de hoje. As pessoas gostam muito de Jung e
dos psicólogos não tradicionais, e com certa razão, mas Freud foi varrido para o pano de
fundo. Contudo, a compreensão básica do ego se baseia diretamente nos ensinamentos de
Freud. Ele era um homem brilhante. O próprio Jung nos diz, apesar de todos os problemas
que tinha com Freud, que ele estava sendo levado nas costas de Freud. E isso é verdade para
todas as pessoas que vieram depois de Freud. Freud descreve de modo muito sistemático e
muito lógico exatamente como o ego funciona.
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
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Deixe-me apenas mencionar que Freud usa a palavra ‘ego’ de um modo diferente
daquele que estamos usando. Para nós, ‘ego’ é usado basicamente com a mesma conotação
que existe no Oriente. Em outras palavras, o ego é o ser com letra minúscula. Para Freud, o
ego é apenas uma parte da psique, que consiste do id (o inconsciente), o superego (o
consciente), e o ego, que é a parte da mente que integra tudo isso. Usaremos a palavra ‘ego’
de forma que seria basicamente equivalente a psique total de Freud.
Incidentalmente, o único erro de Freud foi monumental! Ele não reconheceu que toda a
psique era uma defesa contra o nosso verdadeiro Ser, a nossa verdadeira realidade. Freud
tinha tanto medo da sua própria espiritualidade que ele teve que construir todo um sistema
de pensamento que era virtualmente impregnável à ameaça do espírito. E ele, de fato, fez
exatamente isso. Mas foi brilhante ao descrever como a pisque ou o ego trabalha. O seu erro,
mais uma vez, foi não reconhecer que a coisa toda era uma defesa contra Deus. (Luta de Jacó
com Deus) Nós todos temos para com ele um tremendo débito de gratidão. Particularmente
notáveis foram as contribuições de Freud na área dos mecanismos de defesa, ajudando-nos a
compreender como nos defendemos contra toda a culpa e medo que sentimos.
Quando vamos ao ego em busca de ajuda, abrimos um livro de Freud e achamos duas
coisas que nos vão ajudar muito. A primeira é repressão ou negação. O que fazemos com essa
culpa, esse senso de pecado, e com todo esse terror que sentimos é fazer de conta que não
existem. Nós apenas os empurramos para o fundo, fora da consciência, e esse empurrar para
baixo é conhecido como repressão ou negação.
Apenas negamos a sua existência para nós mesmos. Por exemplo, se estamos com
muita preguiça de varrer o chão, varremos a sujeira para baixo do tapete e então fazemos de
conta que não está ali; ou um avestruz que quando tem medo apenas enfia a cabeça na areia
para não ter que lidar com o que o ameaça tanto, nem sequer se defrontar com isso. Bem,
isso não funciona por razões óbvias. Se continuamente varremos a sujeira para baixo do
tapete, ele vai ficar cheio de caroços e nós eventualmente vamos tropeçar, enquanto o
avestruz pode se ferir muito continuando com a sua cabeça virada para baixo.
Mas, em algum nível, sabemos que a nossa culpa está lá. Assim, vamos ao ego mais uma
vez para lhe dizer que “negar foi ótimo, mas você vai ter que fazer alguma outra coisa. Esse
negócio vai subir e eu vou explodir. Por favor, ajude-me.” E aí o ego diz: “Eu tenho a coisa
certa para você.” Ele nos diz para procurar na página tal e tal na Interpretação dos Sonhos de
Freud e lá nós achamos o que se conhece como projeção. É muito importante
compreendermos a projeção. Se vocês não compreenderem a projeção, não compreenderão
como o ego funciona, nem em termos de como o Espírito Santo vai desfazer o que o ego tem
feito. Projeção muito simplesmente significa que você tira alguma coisa de dentro de si
mesmo e diz que realmente isso não está aí; está fora de você, dentro de outra pessoa. A
palavra em si literalmente significa jogar fora, atirar algo a partir de, ou em direção a alguma
outra coisa ou pessoa, e isso é o que todos nós fazermos na projeção. Nós tomamos a culpa
ou o pecado de dentro de nós e dizemos: Isso não está realmente em mim, está em você. Eu
não sou culpado, você é culpado. Eu não sou responsável por ser miserável e infeliz, você sim
é culpado pela minha infelicidade. Do ponto de vista do ego, não importa quem seja o ‘você’.
Para o ego, não importa em cima de quem você projeta, contanto que ache alguém para
descarregar a sua culpa. É assim que o ego nos diz para nos livrarmos da culpa.
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Vamos citar a passagem do bode expiatório para entendermos isso: 5Receberá da
comunidade dos filhos de Israel dois bodes destinados ao sacrifício pelo pecado, e um carneiro
para o holocausto. 11Aarão oferecerá o novilho do sacrifício pelo seu próprio pecado, e em
seguida fará o rito deexpiação por si mesmo e pela sua casa e imolará o novilho. 15Imolará
então o bode destinado ao sacrifício pelo pecado do povo e levará o seu sangue para detrás
do véu. Fará com esse sangue o mesmo que fez com o sangue do novilho, aspergindo-o sobre
o propiciatório e diante deste. 16Fará assim o rito de expiação pelo santuário, pelas impurezas
dos filhos de Israel, pelas suas transgressões e por todos os seus pecados. 20Feita a expiação
do santuário, da Tenda da Reunião e do altar, fará aproximar o bode ainda vivo.21Aarão porá
ambas as mãos sobre a cabeça do bode e confessará sobre ele todas as faltas dos filhos de
Israel, todas as suas transgressões e todos os seus pecados. E depois de tê-los assim posto
sobre a cabeça do bode enviá-lo-á ao deserto, conduzido por um homem preparado para isso,
22
e o bode levará sobre si todas as faltas deles para uma região desolada. (Levítico 16,5.11.1516.20-22)
Arão coloca a sua mão sobre o bode e simbolicamente transfere todos os pecados que o
povo acumulou durante todo o ano para esse pobre bode. Eles, então, levam o bode para
morrer no deserto. Esse é um relato perfeito e gráfico do que é exatamente a projeção e,
como não poderia deixar de ser, é daí que vem a expressão ‘bode expiatório’.
Assim, tomamos os nossos pecados e dizemos que eles não estão em nós, estão em
você. Com isso colocamos uma distância entre nós mesmos e nossos pecados. Ninguém quer
estar perto de seus próprios pecados, e assim nós os tiramos de dentro de nós e os colocamos
em outra pessoa e depois banimos essa pessoa de nossa vida. Há duas formas básicas de
fazermos isso. Uma é nos separarmos fisicamente dela; a outra é nos separarmos
psicologicamente. A separação psicológica é realmente a mais devastadora e também a mais
sutil.
O modo de nos separarmos de outras pessoas, uma vez tendo colocado nossos pecados
sobre elas, é atacá-las ou ficar com raiva. Qualquer expressão da nossa raiva, seja na forma de
um leve toque de aborrecimento ou fúria intensa, não faz nenhuma diferença; elas são a
mesma, é sempre uma tentativa de justificar a projeção da nossa culpa, não importa qual
pareça ser a causa da nossa raiva. Essa necessidade de projetar a nossa culpa é a raiz da causa
de toda a raiva. Você não tem que concordar com o que as outras pessoas dizem ou fazem,
mas no minuto em que experimenta uma reação pessoal de raiva, julgamento ou crítica, isso
vem sempre porque você viu naquela pessoa alguma coisa que negou em Si mesmo. Em
outras palavras, você está projetando o seu próprio pecado e culpa naquela pessoa e os ataca
lá. Mas dessa vez, você não os está atacando em si mesmo, e sim naquela outra pessoa, que
você quer tão longe quanto possível. O que você realmente quer fazer é conseguir que o seu
pecado fique tão longe de si mesmo quanto possível.
Uma das coisas interessantes quando alguém lê o Velho Testamento, especialmente o
Levítico, é ver como os filhos de Israel eram minuciosos em suas tentativas de identificar as
formas de sujeira que estavam a sua volta e como deveriam manter-se separados de todas
elas. Há passagens bastante detalhadas descrevendo o que é a sujeira, seja nas qualidades das
pessoas, nas formas da própria sujeira ou em certas pessoas por si mesmas. Depois, explica-se
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
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como os filhos de Israel deveriam manter-se separados dessas formas de sujeira. Quaisquer
que sejam as outras razões que podem ter estado envolvidas, um significado central desses
ensinamentos era a necessidade psicológica de tirar a sua própria sujeira de dentro de você e
colocá-la do lado de fora em outra pessoa, e depois separar-se daquela pessoa.
Quando se tem essa compreensão é interessante entrar no Novo Testamento e ver
como Jesus era contra isso. Ele abraçou todas as formas de sujeira que as pessoas tinham
definido e viam como parte essencial de sua religião manterem-se separadas daquilo tudo. Ele
fazia questão de abraçar os elementos sociais identificados pela lei judaica como proscritos,
como se estivesse dizendo: “Você não pode projetar a sua culpa nas outras pessoas. Você tem
que identificá-la em si mesmo e curá-la onde ela está.” É por isso que os evangelhos dizem
coisas tais como você deve limpar o interior do seu copo e não o exterior; não se preocupe
com o cisco no olho do seu irmão, preocupe-se com a trave no seu; não é o que entra no
homem que faz com que ele não seja limpo, mas o que vem de seu interior. O sentido disso é
exatamente que a fonte do nosso pecado não esta fora, mas dentro. Mas a projeção busca
fazer com que vejamos nossos pecados fora de nós, procurando então resolver o problema do
lado de fora de modo que nunca possamos perceber que o problema esta dentro da gente.
Quando vamos ao ego em busca de ajuda e dizemos: “Ajude-me a me livrar da minha
culpa,” o ego diz: “Está bem, o meio de você se livrar da sua culpa é em primeiro lugar negá-la,
depois projetá-la para outras pessoas. É assim que você se livra da sua culpa.” O que o ego
não nos diz é que projetar a culpa é um ataque e é a melhor maneira de conservarmos a
culpa. O ego não é nenhum tolo: ele quer que continuemos culpados. Deixem-me explicar
essa ideia brevemente porque ela é também uma das ideias centrais para compreendermos
os conselhos do ego.
O ego é muito atraído pela culpa, e os seus motivos são óbvios uma vez que você se
lembre do que ele é. A explicação racional do ego para os seus conselhos de negação e
projeção é a seguinte: o ego não é nada mais do que uma crença, a crença segundo a qual a
separação de Deus é real, é definitiva, que você vai ficar sempre sozinho. O ego é o falso ser
que aparentemente passou a existir quando nós nos separamos de Deus.Portanto, enquanto
acreditarmos que a separação é real, o ego continua em cena. Uma vez que acreditarmos que
não há nenhuma separação, então o ego está terminado. O ego e o mundo que ele fez
desaparecem no nada de onde ele veio. O ego não é nada realmente. Enquanto acreditarmos
que pecado original nos separou de Deus e quisermos nos manter separados, estamos
dizendo que o ego é real. É a culpa que nos mantem separados de Deus. Qualquer sentimento
de culpa é sempre uma declaração que diz: “Eu pequei” eu estou separado de Deus. Enquanto
eu acreditar que Deus vai me punir por estar separado Dele, o ego vai existir. O ego, portanto,
tem interesse em nos manter culpados.
O ego não sobrevive sem culpa por isso ataca qualquer estado de inocência para
permanecer sempre culpado. Se você é sem culpa, você também é sem pecado, e se você é
impecável, não há ego. O ego diz: “os que não tem culpa são culpados”, porque ser sem culpa,
aceitando a expiação dada por Cristo é pecar contra o mandamento do ego: “Tu serás culpado
para sempre”. Se você não tem culpa, você então passa a ser culpado por não ter culpa. Essa,
por exemplo, foi a razão pela qual o mundo matou Jesus. Ele nos estava ensinando que com
sua morte na cruz todos nós seríamos justificados por ele, ou seja, os pecados seriam
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
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apagados e voltaríamos a condição original na criação antes do pecado original, que o
catecismo cita como o estado denominado "justiça original". (Cat. 376). Cristo apagou nossos
pecados (culpa), portanto, o mundo teve que matá-lo porque ele estava blasfemando contra o
ego.
Assim sendo, o propósito fundamental do ego é manter-nos culpados. Mas ele não nos
pode dizer isso porque, se o fizer, não vamos prestar nenhuma atenção a ele então ele nos diz
que se seguirmos o que ele nos aconselha, ficaremos livres da nossa culpa. E o modo de
conseguirmos isso, mais uma vez, é negar a sua presença em nós, vê-la em alguma outra
pessoa e depois atacar essa pessoa. Assim ficaremos livres da nossa culpa. Mas, o que ele não
nos diz é que atacar é o melhor meio de nos manter culpados. Isso é verdade porque, como
declara um outro axioma psicológico, sempre que você ataca uma pessoa qualquer, seja na
sua mente ou de fato, você se sentirá culpado. Não há forma alguma de ferir qualquer um,
seja em pensamento ou atos, que não acarrete sentimentos de culpa.
Nesse ponto, o que o ego faz, e de modo muito astuto, é estabelecer um ciclo de culpa e
ataque através do qual quanto mais culpados nos sentimos, maior será a nossa necessidade
de negar a culpa em nós mesmos atacando uma outra pessoa por isso. Contudo, quanto mais
atacamos um outro, maior será a nossa culpa pelo que fizemos, pois em algum nível
reconhecemos que atacarmos aquela pessoa falsamente. Isso só nos fará sentir culpa e
manterá a coisa toda indefinidamente. É esse ciclo de culpa e ataque que faz o mundo girar,
não é o amor. Se alguém lhe diz que o amor faz o mundo girar, esse alguém não sabe grande
coisa sobre o ego. O amor é do mundo de Deus e é possível refletir esse amor neste mundo.
Todavia, neste mundo o amor não tem lugar. O que tem lugar é culpa e ataque, e é essa a
dinâmica que está tão presente em nossas vidas, seja a nível individual ou a nível coletivo.
Um ciclo secundário que se estabelece é o de ataque-defesa. Uma vez que eu me sinto
culpado e projeto a minha culpa em você através do ataque, eu tenho que acreditar que a
minha culpa exigirá punição. Como eu ataquei você, não posso deixar de acreditar que mereço
ser atacado de volta. Agora, se você de fato me ataca ou não, pouco importa realmente; vou
acreditar que você vai fazê-lo, devido a minha própria culpa. Acreditando que você vai me
atacar de volta, eu então acredito que preciso defender-me contra o seu ataque. E como
estou tentando negar o fato de ser culpado, sentirei que o seu ataque contra mim não tem
justificativa. No momento em que eu o ataco, o meu medo inconsciente é que você me
ataque de volta e é melhor que eu esteja preparado para isso. Assim tenho que construir uma
defesa contra o seu ataque. Isso fará com que você fique com medo, e assim nós nos
tornamos parceiros nisso; quanto mais eu o ataco, mais você tem que se defender de mim
retornando o meu ataque, e mais eu terei que me defender contra você e atacá-lo de volta. E
nós seguimos assim para frente e para trás.
Essa dinâmica, obviamente, é o que explica a insanidade da corrida de armas nucleares.
Também explica a insanidade que todos nós sentimos. Quanto maior a minha necessidade de
defender-me, mais eu estou reforçando o fato de ser culpado. O propósito de todas as defesas
é proteger-nos ou defender-nos do nosso medo. Se eu não tivesse medo, não teria que ter
uma defesa, mas o próprio fato de precisar de uma defesa me diz que devo estar
amedrontado, pois se não estivesse não teria que me dar ao trabalho de me defender. O
próprio fato de eu estar me defendendo reforça o fato de que devo estar amedrontado e,
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devo estar amedrontado, porque sou culpado. Assim as minhas defesas estão reforçando
exatamente a coisa da qual me deveriam proteger: o meu medo. Portanto, quanto mais eu me
defendo, mais ensino a mim mesmo que sou um ego: pecador, culpado, e amedrontado.
O ego não é realmente tolo. Ele nos convence de que temos que nos defender, mas
quanto mais o fazemos, mais culpados nos sentiremos. Ele nos diz de muitas formas
diferentes como temos que nos defender da nossa culpa. Mas a própria proteção que ele nos
oferece reforçará essa culpa. É por isso que vivemos dando voltas e mais voltas no mesmo
lugar. Devíamos entender que a minha segurança está em ser sem defesas, como Cristo fez. Se
eu vou saber verdadeiramente que estou a salvo e que a minha proteção verdadeira é Deus, a
melhor maneira de fazer isso é não me defender (não resistir ao mal). É por isso que lemos
nos evangelhos sobre os últimos dias de Jesus e vemos que ele não se defendeu
absolutamente. A partir do momento que foi preso, durante todo o tempo em que estava
sendo escarnecido, açoitado, perseguido e até assassinado, ele não se defendeu. E o que ele
estava dizendo era: "Eu não preciso de defesas”, eu sei quem eu sou, pois eu sou O Caminho,
A Verdade e A Vida. Quando sabemos verdadeiramente quem somos e quem é o nosso Pai,
nosso Pai no Céu, não temos que nos proteger pois a verdade não precisa ser defendida
teremos a plena consciência que somos filhos de Deus. (É assim que se sentem os santos)
Contudo, dentro do sistema do ego, sentiremos que precisamos de proteção e assim sempre
nos defenderemos. Portanto, esses dois ciclos realmente agem para manter todo o sistema do
ego em funcionamento. Quanto mais nos sentimos culpados, mais atacaremos. Quanto mais
atacamos, mais sentimos a necessidade de defender-nos da punição esperada ou do contraataque, que é, em si mesmo, um ataque.
O segundo capítulo do Gênesis termina com Adão e Eva de pé, nus, um diante do outro,
sem vergonha alguma (Gênesis 2,25). A vergonha é apenas um outro nome para a culpa, e a
ausência de vergonha é uma expressão da condição que existia antes da separação. Em outras
palavras, não havia culpa porque não havia nenhum pecado. E no terceiro capítulo que se fala
do Pecado Original, e esse começa com Adão e Eva comendo do fruto proibido. Esse ato
constitui a sua desobediência para com Deus, e a perda da confiança em seu Amor, e esse é
realmente o pecado. Em outras palavras, eles vêem a si mesmos como se tivessem uma
vontade separada de Deus e esta pudesse escolher alguma coisa diferente do que Deus tinha
criado. É ai que nasce o ego. Assim, eles comem esse fruto e a primeira coisa que fazem
depois disso é olhar um para o outro e dessa vez eles sentem vergonha e se cobrem. Colocam
folhas de figueira sobre os seus órgãos sexuais e isso então passa a ser uma expressão da sua
culpa. Compreendem que fizeram uma coisa pecaminosa, e a nudez de seus corpos vem a ser
o símbolo de seu pecado. Consequentemente, eles tem que se defender disso, que passa a
expressar a sua culpa.
A próxima coisa que acontece é Adão e Eva ouvirem a voz de Deus, que os está
procurando e agora eles ficam com medo do que Deus vai fazer quando os pegar. Assim se
escondem nas moitas para que Deus não os veja. Aí está clara a conexão entre a crença que é
possível separar-se de Deus e o sentimento de culpa por ter feito isso, seguido do medo do
que vai acontecer quando Deus nos pegar e nos punir. A coisa interessante é que quando
Deus afinal confronta Adão, ele projeta a culpa em Eva e diz: “Não fui eu que fiz isso, foi a
mulher que tu colocaste ao meu lado. Projeta a culpa em Eva e indiretamente em Deus. Então
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Deus olha para Eva, que faz exatamente a mesma coisa e diz: “Não fui eu que fiz isso. Não me
culpe, foi a serpente”. Assim vemos com clareza o que fazermos para nos defender do nosso
medo e da nossa culpa: projetamos a culpa em um outro.
Uma das formas mais importantes do ego se defender da culpa é atacando outras
pessoas, e é isso o que a nossa raiva sempre parece fazer: justificar a projeção da nossa culpa
sobre os outros. É extremamente importante reconhecermos como é forte o investimento do
mundo, e de cada um de nós como parte do mundo, em justificar o fato de estarmos com
raiva, porque todos nós precisamos ter um inimigo. Não há ninguém neste mundo que, em
um nível ou outro, não revista o mundo de qualidades boas e más. E nós separamos partes do
mundo e colocamos algumas pessoas na categoria do que é bom e outras na categoria do que
é mau. O propósito disso é a nossa tremenda necessidade de termos alguém para projetarmos
a nossa culpa. Precisamos de, pelo menos, uma pessoa ou uma ideia ou um grupo, que
possamos transformar no bandido, no bode expiatório. Essa é a fonte de todo preconceito e
discriminação. É a tremenda necessidade que temos, que usualmente é inconsciente, de
encontrar alguém que possamos transformar no bode expiatório para podermos escapar da
carga da nossa própria culpa. Foi isso o que aconteceu desde o início da história. Tem sido
esse o caso em cada sistema de pensamento, ou forma de vida importante que jamais existiu
no mundo. Tudo sempre se predicou com base no fato de existirem os mocinhos e os
bandidos. É por isso que no cinema todos ficam contentes no final quando o mocinho ganha e
o bandido perde. Nós temos o mesmo investimento em ver o bandido ser punido, pois
naquele momento acreditamos ter escapado dos nossos pecados.
2.1.4 O 5° passo: Apegos (ídolos = substitutos para Deus) e o Ódio
O que eu tenho descrito até agora sobre a raiva é realmente uma forma que a projeção
pode tomar. E a mais óbvia forma de ataque são os relacionamentos de “amor” (na verdade
Apego) e Ódio.
Os relacionamentos de Ódio são aqueles onde encontramos alguém e fazemos dele o
objeto do nosso ódio de modo a que possamos escapar do verdadeiro objeto do nosso ódio,
que somos nós mesmos.
Os relacionamentos de Apego (relacionamento afetivo) são os mais poderosos e os mais
insidiosos porque são os mais sutis.
A razão pela qual o Apego é tão difícil de ser reconhecido e é tão difícil de combater é
que ele aparenta ser algo que não é. É difícil esconder de você mesmo o fato de estar com
raiva de outra pessoa. Você só pode conseguir isso por pouco tempo. O Apego é algo
totalmente diferente. Ele sempre parecerá ser o que não é. De fato é o mais tentador e o mais
enganador fenômeno deste mundo. Basicamente segue os mesmos princípios que o Ódio,
mas faz isso de forma diferente. O princípio básico é que tentamos nos livrar da nossa culpa
vendo-a em uma outra pessoa. Portanto, é apenas um fino véu disfarçado que encobre o ódio.
O ódio, mais uma vez, é apenas uma tentativa de odiar outra pessoa de modo a não termos
que odiar a nós mesmos. O que eu gostaria de fazer agora é mostrar a vocês basicamente
como isso funciona de três formas diferentes - como, com a finalidade de nos salvar da culpa
através do ‘amor’, o ego está realmente reforçando a sua culpa através do ódio.
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Vamos, em primeiro lugar, descrever o que é o apego e depois falaremos sobre como
ele funciona. Eu disse no inicio que acreditarmos que haja alguma coisa faltando em nós, que
exista uma certa carência, é o princípio da escassez e, com efeito, essa é a base de toda a
dinâmica do apego.
O que o princípio de escassez nos diz é que há de fato algo faltando dentro de nós. Há
algo que não foi preenchido, não há plenitude. Devido a essa carência, nós temos certas
necessidades. E essa é uma parte importante de toda a experiência da culpa. Assim, mais uma
vez, nós nos voltamos para o ego e dizemos: “Ajude-me! Essa sensação de não ser nada, ou
esse vazio, ou esse sentimento de que há algo faltando é absolutamente intolerável; você tem
que fazer alguma coisa.” O ego diz: “Está bem, aqui está o que você vai fazer”. E, em primeiro
lugar, ele nos dá um tapa na cara por dizer: “Você está totalmente certo; você é apenas uma
criatura miserável e não há nada que possa ser feito para mudar o fato de que está lhe
faltando algo que é de importância vital para você”.É claro que o ego não nos diz que o que
está faltando é Deus, porque se nos dissesse isso, escolheríamos Deus e ele deixaria de existir.
O ego nos diz que algo inerentemente nos falta e não há nada que se possa fazer para
remediar isso. Mas, depois nos diz que há algo que podemos fazer sobre a dor dessa falta.
Embora continue sendo verdadeiro que nada vai mudar essa falta inerente em nosso ser,
podemos olhar para fora de nós mesmos buscando alguém ou alguma coisa (ídolos) que
possa compensar o que está faltando dentro de nós.
Basicamente, o apego declara que eu tenho certas necessidades que Deus não pode
satisfazer porque, repetindo, inconscientemente eu fiz de Deus um inimigo e, portanto, não
posso buscar auxílio no Deus verdadeiro dentro do sistema egótico. Mas quando encontro
você, uma pessoa especial com certas qualidades ou atributos especiais, eu decido que você
vai satisfazer as minhas necessidades especiais. Daí vem a expressão “relacionamentos
especiais”. As minhas necessidades especiais serão supridas por certas qualidades especiais
em você, e isso faz de você uma pessoa especial para mim (apego). E quando você suprir as
minhas necessidades especiais da forma que eu as estabeleci, então eu amarei você. Assim,
quando você tiver certas necessidades especiais que eu possa satisfazer para você, você me
amará. Do ponto de vista do ego, isso é um casamento feito no Céu.
Portanto, o que esse mundo chama de amor é realmente apego (idolatria), uma
distorção grosseira do amor tal qual o Espírito Santo o veria. Uma outra palavra que descreve
esse mesmo tipo de dinâmica é ‘dependência’. Eu passo a depender de você para satisfazer as
minhas necessidades e farei com que você dependa de mim para satisfazer as suas. Enquanto
nos dois fizermos isso, tudo estará ótimo. O apego é basicamente isso. A sua intenção é
compensar a falta que percebemos em nós mesmos usando uma outra pessoa para preencher
esse vazio. Fazemos isso da forma mais clara e mais destrutiva com as pessoas. Contudo,
podemos também fazer com substâncias (álcool, cigarro, drogas, chocolate, etc), ou com
coisas (Time de futebol, cantores, artistas, pornografia, etc.). Uma pessoa, por exemplo, que é
alcoólatra está tentando preencher o vazio em si mesma através de um relacionamento
especial com a garrafa. Pessoas que comem demais estão fazendo a mesma coisa. Pessoas
que tem mania de comprar roupas demais, ganhar um monte de dinheiro, adquirir um monte
de coisas, ou ter status no mundo é tudo a mesma coisa. Na realidade, uma tentativa de
compensação por nos sentirmos mal em nós mesmos através de algo externo que fará com
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que nos sintamos melhor. Quando buscamos fora de nós mesmos, estamos sempre
buscando um ídolo, que se define como um substituto para Deus. Realmente, só Deus pode
satisfazer essa necessidade. Nesse caso, o especialismo faz o seguinte: ele serve ao propósito
do ego parecendo proteger-nos da nossa culpa, mas durante todo o tempo ele a reforça. Faz
isso de três formas básicas que vou explicar sumariamente agora.
A primeira é a seguinte: se eu tenho essa necessidade especial e você vem e a satisfaz
para mim, o que eu fiz realmente foi fazer de você um símbolo da minha culpa. (Estou falando
nesse momento só a partir do ponto de vista do ego; não nos vamos ocupar do Espírito Santo
agora que propõe um relacionamento de amor verdadeiro) O que fiz foi associar você com a
minha culpa, porque o único propósito que eu dei ao meu relacionamento e ao meu amor por
você é que ele sirva para satisfazer as minhas necessidades. Portanto, enquanto num nível
consciente eu fiz de você um símbolo de amor, num nível inconsciente o que eu fiz realmente
foi transformar você num símbolo da minha culpa. Se eu não tivesse essa culpa, eu não teria
essa necessidade de você. O próprio fato de eu ter essa necessidade de você me lembra,
inconscientemente, que eu sou na realidade culpado. Assim, essa é a primeira forma na qual o
amor especial reforça exatamente a culpa da qual o seu amor está tentando defendê-lo.
Quanto mais importante você passa a ser na minha vida, mais você me lembrará de que o
propósito real ao qual você está servindo é me proteger da minha culpa, o que reforça o
fato de que eu sou culpado.
Uma imagem desse processo que pode ajudar é imaginar a nossa mente como um pote
de vidro no qual esteja toda a nossa culpa. O que queremos mais do que tudo nesse mundo é
manter essa culpa dentro do pote; nós não queremos saber dela. Quando buscamos um
parceiro especial, estamos buscando alguém que seja a tampa desse pote. Nós queremos que
essa tampa feche o pote hermeticamente. Enquanto ele estiver bem fechado, a minha culpa
não pode emergir para a consciência e, portanto, eu não saberei dela, ela fica dentro do meu
inconsciente. O próprio fato de eu precisar de você para ser a tampa do meu pote me lembra
que há uma coisa terrível no pote que eu não quero deixar escapar. Mais uma vez, o próprio
fato de eu precisar de você está me lembrando, inconscientemente, que eu tenho toda essa
culpa.
A segunda forma através da qual o apego reforça a culpa é a “síndrome da mãe judia”.
O que acontece quando essa pessoa que veio para satisfazer todas as minhas necessidades
começa a mudar e não satisfaz mais essas necessidades da mesma maneira? Seres humanos
infelizmente têm essas qualidades: mudar e crescer; eles não são sempre os mesmos, assim
como gostaríamos que fossem. O que isso significa, então, quando a pessoa começa a mudar
(talvez não precisando mais de mim como precisava no início) é que a tampa do pote começa
a soltar-se. As minhas necessidades especiais não mais serão satisfeitas da forma que eu
queria. À medida que essa tampa começa a se abrir, a minha culpa de repente me ameaça
vindo para a superfície e escapando. A culpa escapando do pote significa que eu passo a estar
consciente de que realmente acredito que sou terrível. E farei qualquer coisa nesse mundo
para evitar essa experiência.
Num certo ponto no Êxodo, Deus diz a Moisés: “Ninguém pode contemplar a minha face
e viver”. Nós podemos declarar a mesma coisa sobre a culpa: ninguém pode olhar a face da
culpa e viver. A experiência de confrontar o que realmente acreditamos sobre nós mesmos,
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
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como somos terríveis, é tão avassaladora que fazemos qualquer coisa no mundo contanto que
não tenhamos que lidar com ela. Assim, quando essa tampa começa a afrouxar e a minha
culpa começa a borbulhar subindo para a superfície, eu entro em pânico porque de repente
sou confrontado por todos esses sentimentos devastadores que tenho sobre mim mesmo. A
minha meta é então muito simples: conseguir fechar hermeticamente de novo essa tampa tão
rápido quanto possível. Isso significa que eu quero que você volte a ser o que era antes. Não
existe nenhuma forma mais poderosa para conseguir que alguém faça o que você quer do
que fazer com que essa pessoa se sinta culpada. Se você quer que qualquer coisa seja feita
por uma outra pessoa, você fará com que ela se sinta bem culpada e ela fará o que você quer.
Ninguém gosta de se sentir culpado.
A manipulação através da culpa é a marca registrada da mãe judia. O que eu vou fazer é
tentar tornar você culpado e direi qualquer coisa assim: “O que aconteceu com você? Você
costumava ser uma pessoa tão decente, boa, amorosa, preocupada com os outros, sensível,
gentil, compreensiva. Agora, olhe para você! Como você mudou! Agora você não dá a mínima.
Você é egoísta, só pensa em si mesmo, insensível,” e assim por diante. O que eu estou
realmente tentando fazer é tornar você tão culpado que você acabe voltando a ser como era
antes. Todo mundo sabe disso, certo?
Agora, se você está jogando o mesmo jogo de culpa que eu, você fará o que eu quero, a
tampa volta a se fechar, e eu amarei você como amava antes. Se você não faz, e não joga mais
esse jogo, eu vou ficar com muita raiva de você e o meu amor vai rapidamente virar ódio (que
é o que era o tempo todo). Você sempre odeia a pessoa da qual depende pelas razões que
eu dei no primeiro exemplo, porque a pessoa da qual você depende está sempre lembrando
a você a sua culpa, que você odeia. E portanto, por associação, você também odeia a pessoa
que pretende amar. Esse segundo exemplo mostra que isso é o que realmente é. Quando
você não mais satisfizer as minhas necessidades assim como eu quero que sejam satisfeitas,
começarei a odiar você. E eu te odiarei porque não consigo lidar com a minha culpa. É o que
se chama o fim da lua-de-mel. Nos dias de hoje, isso parece acontecer cada vez mais depressa.
Quando as necessidades especiais não são mais satisfeitas da forma que costumavam
ser, o amor vira ódio. O que acontece quando a outra pessoa diz que não vai mais ser a tampa
do seu pote é bastante óbvio. Nesse caso, eu acho outra pessoa. Assim, você apenas passa a
mesma dinâmica de uma pessoa para outra. Você pode fazer isso muitas vezes, repetindo
sempre, até que faça alguma coisa com o seu problema real, que é a sua própria culpa.
Quando você realmente deixar que essa culpa se vá, estará pronto para entrar em um
relacionamento diferente. Isso será amor tal como o Espírito Santo o vê. Mas até que faça
isso, e a sua única meta é manter a sua própria culpa escondida, você apenas procura uma
outra tampa para o pote. E o mundo sempre coopera muito bem para acharmos pessoas que
satisfaçam essa necessidade para nós.
A terceira forma na qual o especialismo é um disfarce para o ódio, e para a culpa ao
invés do amor, se mantém tanto para os relacionamentos especiais de ódio quanto para os de
apego. Sempre que usamos as pessoas como um veículo para satisfazer as nossas
necessidades, não estamos realmente vendo quem elas são; não estamos vendo o Cristo
nelas. Ao invés disso, só estamos interessados em manipulá-las de forma que venham a
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satisfazer as nossas próprias necessidades. Não estamos realmente vendo-as como a luz que
brilha nelas; estamos vendo-as na forma particular de escuridão que corresponderá a nossa
forma particular de escuridão. E sempre que usarmos ou manipulamos qualquer um para
preencher as nossas necessidades, estamos realmente atacando-o porque estamos atacando
a sua verdadeira identidade como filho de Deus, vendo-o como um ego, o que reforça o ego
em nós mesmos. O ataque é sempre ódio, assim não podemos deixar de sentir culpa por ter
agido assim.
Essas três formas nos mostram exatamente como o ego vai reforçar a culpa, mesmo se
nos diz que está fazendo outra coisa. Portanto o relacionamento especial de apego e ódio é o
lar da culpa.
Mais uma vez, o que faz o apego ser tal devastação e uma defesa tão eficaz do ponto de
vista do ego é que ele parece ser o que não é. Quando o apego acontece pela primeira vez
parece ser uma coisa tão maravilhosa, santa, e amorosa. Todavia, como pode mudar
rapidamente, se não formos capazes de ir além do que parece existir para confrontarmos com
o problema básico que é a nossa culpa.
2.1.5. Diferença entre Relacionamentos de Apego e Ódio e Relacionamentos Santos
Imaginemos um quadro, uma moldura com um retrato dentro, que simboliza o nosso
relacionamento. O retrato do ego é o apego e retrata a culpa, o sofrimento e, em última
instância, a morte. Esse não é o retrato que o ego quer que vejamos, porque, repetindo, se
realmente soubéssemos o que ele pretende, não prestaríamos nenhuma atenção a ele. Assim
o ego coloca o seu retrato numa moldura muito bonita e cheia de enfeites que cintila com
diamantes e rubis e todos os tipos de gemas sofisticadas. Nós somos seduzidos pela moldura,
ou pelos bons sentimentos aparentes que o especialismo vai nos dar e não reconhecemos a
dádiva real da culpa e da morte. Só quando nos aproximamos da moldura e realmente
olhamos para ela podemos ver que os diamantes são realmente lágrimas e os rubis gotas de
sangue. O ego, de fato, é apenas isso. Por outro lado, o retrato do Espírito Santo é muito
diferente. A moldura do Espírito Santo tem muita folga e ela dá espaço para que possamos ver
a dádiva real que é o Amor Incondicional de Deus.
Há uma outra qualidade que é muito importante e sempre uma indicação indubitável
para percebermos se estamos envolvidos em um relacionamento especial (apego) ou em um
relacionamento santo. Sempre podemos notar isso pela nossa atitude para com as outras
pessoas. Se estamos envolvidos em um relacionamento especial, esse relacionamento será
exclusivo. Não haverá espaço nele para ninguém mais. A razão para isso é óbvia, uma vez que
tenhamos reconhecido como o ego está realmente funcionando. Se eu fiz de você o meu
salvador, e se você está me salvando da minha culpa, então isso significa que o seu amor por
mim e a atenção que você me dá vão me salvar dessa culpa que eu estou tentando manter
escondida. Mas se você começa a se interessar por qualquer coisa que não seja eu - seja uma
outra pessoa ou outra atividade - você não está me dando cem por cento da sua atenção.
Qualquer que seja a medida do deslocamento do seu interesse ou da sua atenção para
outra coisa ou outra pessoa, nessa medida haverá menos para mim. Isso significa que, se eu
não recebo cem por cento, essa tampa do meu pote vai começar a soltar-se. E essa é a fonte
O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015
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de todo ciúme. As pessoas ficam com ciúme por sentirem que as suas necessidades especiais
não serão satisfeitas da forma como deveriam.
Portanto, se você ama alguma outra pessoa além de mim, isso significa que eu vou
receber menos amor. Para o ego, o amor é quantitativo. Há apenas uma certa quantidade
disponível. Logo, se eu amo essa pessoa não posso amar aquela com a mesma intensidade.
Para o Espírito Santo, o amor é qualitativo e abraça todas as pessoas. (Assim vivia São
Francisco de Assis, assim viviam Ir. Dulce, Ir. Tereza de Calcutá, Papa João Paulo II e agora o
nosso querido Papa Francisco) Isso não significa que amamos todas as pessoas da mesma
forma, isso não é possível neste mundo. Mas, de fato, significa que a fonte do amor é a
mesma; o amor em si é o mesmo, contudo os meios de expressão serão diferentes.
Eu vou ‘amar’ os meus pais ‘mais’ do que amo os pais de qualquer pessoa, não em
qualidade, mas em quantidade. O amor será basicamente o mesmo, todavia, como é óbvio
será expresso de um modo diferente. Isso não significa que, porque eu amo meus pais vou
amar os seus menos, ou que meus pais sejam melhores do que os seus. Tudo o que isso quer
dizer é que essas são as pessoas que eu escolhi, pois no meu relacionamento com elas
aprenderei o perdão que vai permitir que eu me lembre do Amor de Deus. Isso não significa
que você deva sentir-se culpado por ter um relacionamento mais profundo com certas
pessoas do que com outras. Há exemplos muito claros disso nos evangelhos, onde Jesus era
mais íntimo de certos discípulos do que de outros, e era mais íntimo de seus discípulos do que
dos seus outros seguidores. Não quer dizer que ele amasse menos a nenhuma daquelas
pessoas, mas que a expressão do amor era mais íntima e profunda com uns do que com
outros.
Um relacionamento santo significa que, por amar uma pessoa, você não está
excluindo uma outra; isso não acontece às custas de ninguém. O amor nesse mundo não é
assim. O amor especial será sempre as custas de alguém. É sempre um amor de comparações,
onde certas pessoas são comparadas com outras; algumas não são boas o suficiente e
algumas são aceitáveis. Do ponto de vista do relacionamento santo, você apenas reconhece
que certas pessoas foram ‘dadas’ a você e foram escolhidas por você de modo que você possa
aprender e ensinar certas lições, mas isso não faz com que aquela pessoa seja melhor ou pior
do que ninguém mais. Repetindo, é assim que você pode sempre distinguir um
relacionamento especial de um relacionamento santo: pela medida na qual ele exclui as
outras pessoas.
2.1.6 Causa e Efeito
O que estabelece que algo é uma causa é que conduz a efeitos. E o que estabelece algo
como um efeito é ter vindo de uma causa. Assim, o que estabelece algo como uma causa é
que ela tem efeitos. Do mesmo modo, o que estabelece algo como um efeito é que ele tem
uma causa. Esse é um princípio fundamental desse mundo e também do Céu. Deus é a
Primeira Causa e o Efeito é Seu Filho Jesus Cristo. Deus é a Causa que estabeleceu Seu Filho
como o Efeito. E como um Efeito de Deus, nós estabelecemos Deus como o Criador ou o Pai.
Deus é eterno (causa) então produz a eternidade (efeito). Deus é uno (causa) então todos
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seremos um no céu (efeito). Deus é bom (causa) então nós sermos bons no céu (efeito) e
assim por diante.
O princípio também funciona neste mundo, de tal modo que toda ação tem uma
reação. O que isso também significa é que se algo não é uma causa não pode existir nesse
mundo. Tudo nesse mundo tem que ter um efeito, de outro modo não existiria. Toda ação
tem que ter uma reação: esse é um princípio fundamental da física. Se algo existe, terá um
efeito em alguma outra coisa. Portanto, tudo o que existe nesse mundo será uma causa e terá
um efeito, e é esse efeito que estabelece a causa. Certo?
Vamos recordar a estória bíblica do pecado original. Quando Deus pegou Adão e Eva e
os puniu, Ele expressou a punição dentro de um contexto causal. Ele disse: “Porque vocês
fizeram isso, é isso que vai acontecer. Porque vocês pecaram, o efeito do seu pecado será uma
vida de sofrimento.” Na verdade Deus não puniu Adão e Eva ele simplesmente constatou
(causa e efeito) como vocês querem viver separados de mim (causa) terão por efeito os
sofrimentos da separação (efeito). O pecado original, portanto, é a causa de todo o sofrimento
desse mundo, o pecado da separação, que deu origem ao ego, dá lugar ao seu efeito: uma
vida de sofrimento, dor e morte.
Tudo o que conhecemos nesse mundo é o efeito do Pecado Original. O pecado,
portanto, é a causa, do qual a dor, o sofrimento e a morte são o efeito. São Paulo fez uma
frase brilhante quando disse: “O salário do pecado é a morte.” Ele estava dizendo exatamente
a mesma coisa. O pecado é a causa, e a morte é o efeito. Não há nenhuma testemunha mais
poderosa da realidade do mundo separado do que a morte.
Lembremos da oração com que nós começamos esta apostila a Salve Rainha: ...A vós
bradamos, os degredados filhos de Eva. A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de
lágrimas. ...E depois deste desterro.... Esta oração deixa clara e explícita a situação do ser
humano neste mundo afastado de Deus efeito do Pecado Original.
Agora, se o maior efeito do pecado nesse mundo é a morte, ao demonstrar que a morte
foi destruída por Jesus Cristo, acabaremos com o efeito e simultaneamente com a causa pois
não existe causa sem efeito e foi isto que Cristo fez ao Ressuscitar. Ele acabou com o efeito do
Pecado Original que é a morte e por consequência ele acabou também com a causa que é o
Pecado Original nos reconciliando com o Pai. Vencendo a morte, Cristo nos livrou de todos os
pecados.
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Resumindo
O pecado Original fez com que o ser humano se separasse de
Pecado Original
Deus, isto gerou CULPA e MEDO da punição divina. O ser humano não
(separação)
querendo assumir esse pecado o NEGA e o PROJETA nas pessoas e
coisas deste mundo através de um ciclo secundário de ataque/defesa.
culpa
Não podendo recorrer a Deus para ajuda-lo, pois o ser humano
vê Deus como um inimigo, procura neste mundo um substituto para
medo
Deus APEGOS (ídolos) e ÓDIO. Não importa se o relacionamento é de
apego ou ódio ou com quem se tem este relacionamento isso vai gerar negação projeção
mais culpa, mantendo assim um sistema fechado de culpa: Inicia na
culpa e culmina na culpa conforme o quadro ao lado.
Acreditando que toda culpa merece punição o ser humano se apego(ídolos) Ódio
pune de todas as formas possíveis e imaginárias que são os nossos
culpa
problemas, as nossas doenças, o nosso sofrimento.
Cristo veio ao mundo exatamente para acabar com este ciclo de
auto punição
culpa, por isso ele se declara como sendo “O Cordeiro de Deus que veio
tirar o pecado do mundo”. Destruindo o pecado original Cristo estará doenças, sofrimentos,
destruindo também todo o sistema de culpa. Isso Ele faz através da
problemas, etc.
Encarnação (assumindo a humanidade), Morte (expiando os nossos
pecados) e Ressurreição (nos conduzindo de volta ao Pai) este será o
assunto a Apostila 2/3.
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