As Santas Missões Populares Formação dos Fiéis Leigos O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia “Não te envergonhes, pois, de dar testemunho de nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro; pelo contrário, participa do meu sofrimento pelo evangelho, confiando no poder de Deus, que nos salvou e nos chamou com vocação santa, não em virtude de nossas obras, mas em virtude do seu próprio desígnio e graça. Essa graça, que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, foi manifestada agora pela aparição de nosso Salvador, o Cristo Jesus. Ele não só destruiu a morte, mas também fez brilhar a vida e a imortalidade pelo Evangelho, para o qual fui constituído pregador, apóstolo e doutor.” (2Tm 1,8-11) Apostila 1/3 Pe. Genival Antônio Pessotto Abril/2015 Celebrando o seu Jubileu de Ouro, a Igreja Diocesana de Jundiaí quer responder, com renovado entusiasmo e coração ardente (cf. Lc 24,32) ao mandato missionário de Jesus Cristo: “Ide, evangelizai! Ide fazer discípulos meus todos os que moram na minha Igreja, na porção do meu povo que se faz presente na Diocese de Jundiaí” (cf. Mt 28,19). Como Mãe amorosa e solícita, a Igreja quer anunciar a todos a alegria de sermos amados por Jesus Cristo e termos sido salvos por Ele. E, ao mesmo tempo, ela quer tornar-se uma Igreja servidora, que possibilita àqueles filhos e filhas dispersos uma experiência íntima e profunda com Cristo e para a vida em comunidade. (Introdução da 1ª Carta Pastoral à Diocese de Jundiaí – As Santa Missões Populares – Dom Vicente Costa – 11/04/2015) ORAÇÃO PELAS SANTAS MISSÕES POPULARES Nós Vos louvamos, Senhor, e agradecemos a Vossa Palavra, a graça do Batismo, e a Missão que de Vós recebemos. Ensinai-nos, nós Vos pedimos, a ser discípulos missionários do Vosso Reino, sobretudo neste período em que nossa Diocese quer ser uma “Casa da Iniciação à Vida Cristã” através das Santas Missões Populares. Impulsionada pela alegria do Evangelho e pela Santa Eucaristia, seja a nossa Missão um serviço à Paz; e, para a humanidade à procura de Jesus, Caminho, Verdade e Vida, seja um sinal de amor e de esperança. Nossa Senhora do Desterro, Perfeita Discípula Missionária do Senhor, intercedei por todos nós. Amém! O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 1 Salve Rainha Salve Rainha, Mãe de misericordiosa, vida, doçura e esperança nossa, salve! A vós bradamos, os degredados filhos de Eva. A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei! E depois deste desterro mostrai-nos Jesus,bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria. Rogai por nós Santa Mãe de Deus. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém. O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 2 1. O MUNDO DIVINO: O CÉU 1.1 Deus: A Trindade §252 A Igreja utiliza o termo "substância" (traduzido também, às vezes, por "essência" ou por "natureza") para designar o ser divino em sua unidade, o termo "pessoa" ou "hipóstase" para designar o Pai, o Filho e o Espírito Santo em sua distinção real entre si, e o termo "relação" para designar o fato de a distinção entre eles residir na referência de uns aos outros. §253A Trindade é Una. Não professamos três deuses, mas um só Deus em três pessoas: "a Trindade consubstancial".As pessoas divinas não dividem entre si a única divindade, mas cada uma delas é Deus por inteiro: "O Pai é aquilo que é o Filho, o Filho é aquilo que é o Pai, O Espírito Santo é aquilo que são o Pai e o Filho, isto é, um só Deus por natureza". "Cada uma das três pessoas é esta realidade, isto é, a substância, a essência ou a natureza divina." §254 As pessoas divinas são realmente distintas entre si. "Deus é único, mas não solitário". "Pai", "Filho", "Espírito Santo" não são simplesmente nomes que designam modalidades do ser divino, pois são realmente distintos entre si: "Aquele que é o Pai não é o Filho, e aquele que é o Filho não é o Pai, nem o Espírito Santo é aquele que é o Pai ou o Filho". São distintos entre si por suas relações de origem: "É o Pai que gera, o Filho que é gerado, o Espírito Santo que procede".A Unidade divina é Trina. §255 As pessoas divinas são relativas umas às outras. Por não dividir a unidade divina, a distinção real das pessoas entre si reside unicamente nas relações que as referem umas às outras: "Nos nomes relativos das pessoas, o Pai é referido ao Filho, o filho ao Pai, o Espírito Santo aos dois; quando se fala destas três pessoas considerando as relações, crê-se todavia, em uma só natureza ou substância'. Pois "tudo é uno [neles] lá onde não se encontra a oposição de relação. "Por causa desta unidade, o Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Filho está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo, todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho". §256 Aos Catecúmenos de Constantinopla, São Gregório Nazianzeno, denominado também "o Teólogo", confia o seguinte resumo da fé trinitária: Antes de todas as coisas, conservai-me este bom depósito, pelo qual vivo e combato, com o qual quero morrer, que me faz suportar todos os males e desprezar todos os prazeres: refiro-me à profissão de fé no Pai e no Filho e no Espírito Santo. Eu vo-la confio hoje. É por ela que daqui a pouco vou mergulhar-vos na água e vos tirar dela. Eu vo-la dou como companheira e dona de toda a vossa vida. Dou-vos uma só Divindade e Poder, que existe Una nos Três, e que contém os Três de maneira distinta. Divindade sem diferença de substância ou de natureza, sem grau superior que eleve ou grau inferior que rebaixe... A infinita conaturalidade é de três infinitos. Cada um considerado em si mesmo é Deus todo inteiro... Deus os Três considerados juntos. Nem comecei a pensar na Unidade, e a Trindade me banha em seu esplendor. Nem comecei a pensar na Trindade, e a unidade toma conta de mim. O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 3 João 14,10-11.15-17: 10Não crês que estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que vos digo, não as digo por mim mesmo, mas o Pai, que permanece em mim, realiza suas obras. 11 Crede-me: eu estou no Pai e o Pai em mim. Crede-o, ao menos, por causa dessas obras. 15Se me amais, observareis meus mandamentos, 16e rogarei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito, para que convosco permaneça para sempre, 17o Espírito da Verdade, que o mundo não pode acolher, porque não o vê nem o conhece. Vós o conheceis, porque permanece convosco. 1 Coríntios 13,13: A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam sempre com todos vós. Resumindo Tudo no céu é unido, não existe nenhuma divisão no céu. Tudo é um. Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo são três pessoas que formam um só Deus, possuindo a mesma natureza. Não são 3 deuses mas um só Deus, pois no céu tudo é unido, não existe nenhuma divisão no céu. "Por causa desta unidade, o Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Filho está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo, todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho". 1.2. O céu: Unidade Perfeita §212 No decorrer dos séculos, a fé de Israel pode desenvolver e aprofundar as riquezas contidas na revelação do nome divino. Deus é único, fora d'Ele não ha deuses. Eletranscende o mundo e a historia. Foi Ele que fez o céu e a terra; “eles hão-se passar, mas Vóspermaneceis; tal como um vestido, eles se vão gastando [...] Vós, porem, sois sempre o mesmo e os vossos anos não tem fim”(Sl 102, 27-28). N'Ele“não ha variação nem sombra de mudança” (Tg1, 17). Ele é “Aquele que é”, desde sempre e para sempre; e assim, permanecesempre fiel a Si mesmo e as suas promessas. §27 O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar:O aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à comunhão com Deus. Este convite que Deus dirige ao homem, de dialogar com ele, começa com a existência humana. Pois se o homem existe, é porque Deus o criou por amor e, por amor, não cessa de dar-lhe o ser, e o homem só vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar ao seu Criador. §45 O homem é feito para viver em comunhão com Deus, no qual encontra sua felicidade: "Quando eu estiver inteiramente em Vós, nunca mais haverá dor e provação; repleta de Vós por inteiro, minha vida será verdadeira" O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 4 §54 "Criando pelo Verbo o universo e conservando-o, Deus proporciona aos homens, nas coisas criadas, um permanente testemunho de si e, além disso, no intuito de abrir o caminho de uma salvação superior, manifestou-se a si mesmo, desde os primórdios, a nossos primeiros pais." Convidou-os a uma comunhão íntima consigo mesmo, revestindo-os de uma graça e de uma justiça resplandecentes. §1024 Essa vida perfeita com a Santíssima Trindade, essa comunhão de vida e de amor com ela, com a Virgem Maria, os anjos e todos os bem-aventurados, é denominada "o Céu". O Céu é o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade suprema e definitiva. §1025 Viver no Céu é "viver com Cristo". Os eleitos vivem "nele", mas lá conservam - ou melhor, lá encontram - sua verdadeira identidade, seu próprio nome. "Vita est enim esse cum Christo; ideoubi Christus, ibivita, ibiregnum - Vida é, de fato, estar com Cristo; aí onde está Cristo, aí está a Vida, aí está o Reino". §1026 Por sua Morte e Ressurreição, Jesus Cristo nos "abriu" o Céu. A vida dos bemaventurados consiste na posse em plenitude dos frutos da redenção operada por Cristo, que associou à sua glorificação celeste os que creram nele e que ficaram fiéis à sua vontade. O céu é a comunidade bem-aventurada de todos os que estão perfeitamente incorporados a Ele. §2794 Esta expressão bíblica não significa um lugar "o espaço”, mas uma maneira de ser; não o afastamento de Deus, mas sua majestade. Nosso Pai não está "em outro lugar", Ele está "para além de tudo" quanto possamos conceber a respeito de sua Santidade. Porque Ele é três vezes Santo, está bem próximo do coração humilde e contrito: É com razão que estas palavras "Pai Nosso que estais no céu" provêm do coração dos justos, onde Deus habita como que em seu templo. Por elas também o que reza desejará ver morar em si aquele que ele invoca. Os "céus" poderiam muito bem ser também aqueles que trazem a imagem do mundo celeste, nos quais Deus habita e passeia. Apocalipse 21,3-4: E ouvi uma grande voz, vinda do trono, que dizia: Eis que o tabernáculo de Deus está com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles. Ele enxugará de seus olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas. Quando voltarmos para o céu viveremos eternamente unidos a Deus Seremos um só com Deus no amor No céu tudo é eterno, ou seja, sem tempo e sem espaço, tudo é unido e não há nenhum tipo de separação. O Amor une tudo. Céu não é um lugar, mas, uma maneira de ser. Estado de espírito. O Espírito elevado no Amor O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 5 1.3. Unidade da Humanidade §360 Graças à Origem comum, o gênero humano forma uma unidade. Pois Deus "de um só fez toda a raça humana" (At 17,26): Maravilhosa visão que nos faz contemplar o gênero humano na unidade de sua origem em Deus...; na unidade de sua natureza, composta igualmente em todos de um corpo material e de uma alma espiritual; na unidade de seu fim imediato e de sua missão no mundo; na unidade de seu hábitat: a terra, de cujos bens todos os homens, por direito natural, podem usar para sustentar e desenvolver a vida; na unidade de seu fim sobrenatural: Deus mesmo, ao qual todos devem tender; na unidade dos meios para atingir este fim;... na unidade do seu resgate, realizado em favor de todos por Cristo. §374 O primeiro homem não só foi criado bom, mas também foi constituído em uma amizade com seu Criador e em tal harmonia consigo mesmo e com a criação que o rodeava que só serão superadas pela glória da nova criação em Cristo. §375 Interpretando de maneira autêntica o simbolismo da linguagem bíblica à luz do Novo Testamento e da Tradição, a Igreja ensina que nossos primeiros pais, Adão e Eva, foram constituídos em um estado "de santidade e de justiça original". Esta graça da santidade original era uma participação da vida divina. §376 Pela irradiação desta graça, todas as dimensões da vida do homem eram fortalecidas. Enquanto permanecesse na intimidade divina, o homem não devia nem morrer nem sofrer. A harmonia interior da pessoa humana, a harmonia entre o homem e a mulher e, finalmente, a harmonia entre o primeiro casal e toda a criação constituíam o estado denominado "justiça original". Atos dos Apóstolos 17,26-28 De um só ele fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, fixando os tempos anteriormente determinados e os limites do seu hábitat. Tudo isto para que procurassem a divindade e, mesmo se às apalpadelas, se esforçassem por encontra-la, embora não esteja longe de cada um de nós. Pois nele vivemos, nos movemos e existimos, como alguns dos vossos aliás, já disseram: Porque somos também de sua raça. Romanos 12,5 assim também nós, embora muitos, somos um só corpo em Cristo, e cada membro está ligado a todos os outros. 1 Coríntios 10,17 Como há somente um pão, nós, que somos muitos, somos um só corpo, pois todos participamos de um único pão. João 17,20-23 Não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão em mim: afim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes dei a glória que me deste para que sejam um, como nós somos um: Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e para que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste como amaste a mim. O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 6 De uma antiga Homilia no grande Sábado Santo (PG43,439.451.462-463) (Séc. IV) A descida do Senhor à mansão dos mortos Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos. Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos. O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará. Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: ‘Saí!’; e aos que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-vos!’ Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa. Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até mesmo sepultado debaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado. Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida original. Vê na minha face as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, tua beleza corrompida. Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar de teus ombros o peso dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente as tuas mãos para a árvore do paraíso. Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava dirigida contra ti. Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus. Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade”. (Liturgia das Horas: Ofício das Leituras do Sábado Santo) O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 7 Resumindo Todos nós somos um, unidos no amor. O gênero humano forma uma unidade. O ser humano foi criado originariamente bom, perfeito, em total harmonia com o seu criador, consigo mesmo e com a criação, tudo em perfeita união. Fomos criados participantes da natureza divina, santos. O pecado original não destruiu essa natureza em nós apenas nos separou dela. Quer dizer que nosso espírito continua “santo”, apesar de estarmos aqui separados, sujeitos a corrupção. A palavra humanidade já nos mostra essa união “uma” + “unidade” = humanidade. Nos mostra que todos somos um. 1.3 A Criação §293. Eis uma verdade fundamental que a Escritura e a Tradição não cessam de ensinar e de celebrar: "O mundo foi criado para a glória de Deus". Deus criou todas as coisas, explica São Boaventura, "non propter gloriam augendam, sedpropter gloriam manifestandametpropter gloriam suam communicandam - não para aumentar a [sua] glória, mas para manifestar a glória e para comunicar a sua glória". Pois Deus não tem outra razão para criar a não ser seu amor e sua bondade: "Aperta manu clave amoriscreaturaeprodierunt - Aberta a mão pela chave do amor, as criaturas surgiram". E o Concílio Vaticano I explica: Este único e verdadeiro Deus, por sua bondade e por sua "virtude onipotente", não para aumentar sua felicidade nem para adquirir sua perfeição, mas para manifestar essa perfeição por meio dos bens que prodigaliza às criaturas, com vontade plenamente livre, criou simultaneamente no início do tempo ambas as criaturas do nada: a espiritual e a corporal. §294. A glória de Deus consiste em que se realize esta manifestação e esta comunicação de sua bondade em vista das quais o mundo foi criado. Fazer de nós "filhos adotivos por Jesus Cristo: conforme o beneplácito de sua vontade para louvor à glória da sua graça" (Ef 1,5-6): "Pois a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus: se já a revelação de Deus por meio da criação proporcionou a vida a todos os seres que vivem na terra, quanto mais a manifestação do Pai pelo Verbo proporciona a vida àqueles que vêem a Deus". O fim último da criação é que Deus, "Criador do universo, tornar-se-á ‘tudo em todas as coisas' (1Cor 15,28), procurando, ao mesmo tempo, a sua glória e a nossa felicidade". §296. Cremos que Deus não precisa de nada preexistente nem de nenhuma ajuda para criar. A criação também não é uma emanação necessária da substância divina. Deus cria livremente "do nada":Que haveria de extraordinário se Deus tivesse tirado o mundo de uma matéria preexistente? Um artífice humano, quando se lhe dá um material, faz dele tudo o que quiser. Ao passo que o poder de Deus se mostra precisamente quando parte do nada para fazer tudo o que quer. §299. Já que Deus cria com sabedoria, a criação é ordenada: "Tu dispuseste tudo com medida número e peso" (Sb 11,20). Feita no e por meio do Verbo eterno, "imagem do Deus invisível" (Cl 1,15), a criação está destinada, dirigida ao homem, imagem de Deus, chamado a uma relação pessoal com Ele. Nossa inteligência, que participa da luz do Intelecto divino, pode O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 8 entender o que Deus nos diz por sua criação, sem dúvida não sem grande esforço e num espírito de humildade e de respeito diante do Criador e de sua obra. Originada da bondade divina, a criação participa desta bondade: "E Deus viu que isto era bom... muito bom" (Gn 1,4.10.12.18.21.31). Pois a criação é querida por Deus como um dom dirigido ao homem, como uma herança que lhe é destinada e confiada. Repetidas vezes a Igreja teve de defender a bondade da criação, inclusive do mundo material. §300. Deus é infinitamente maior que todas as suas obras: "Sua majestade é mais alta do que os céus" (Sl 8,2), "é incalculável a sua grandeza" (S1 145,3). Mas, por ser o Criador soberano e livre, causa primeira de tudo o que existe, Ele está presente no mais íntimo das suas criaturas: "Nele vivemos, nos movemos e existimos" (At 17,28). Segundo as palavras Santo Agostinho, ele é "superior summo meo et interior intimo meo - maior do que o que há de maior em mim e íntimo do que o que há de mais íntimo em mim". §301. Com a criação, Deus não abandona sua criatura a ela mesma. Não somente lhe dá o ser e a existência, mas também a sustenta a todo instante no ser, dá-lhe o dom de agir e a conduz a seu termo. Reconhecer esta dependência completa em relação ao Criador é uma fonte de sabedoria e liberdade, alegria e confiança: Sim, tu amas tudo o que criaste, não te aborreces com nada do que fizeste; se alguma coisa tivesses odiado, não a terias feito. E como poderia subsistir alguma coisa se não a tivesses querido? Como conservaria a sua existência se não a tivesses chamado? Mas a todos perdoas, porque são teus: Senhor, amigo da vida! (Sb 11,2426) Gênesis 1,1—2,4 1No princípio, Deus criou o céu e a terra. 2Ora, a terra estava vazia e vaga, as trevas cobriam o abismo, e um vento de Deus pairava sobre as águas. 3Deus disse: "Haja luz" e houve luz. 4Deus viu que a luz era boa, e Deus separou a luz e as trevas. 5Deus chamou à luz "dia" e às trevas "noite". Houve uma tarde e uma manhã: primeiro dia. 6Deus disse: "Haja um firmamento no meio das águas e que ele separe as águas das águas", e assim se fez. 7Deus fez o firmamento, que separou as águas que estão sob o firmamento das águas que estão acima do firmamento, 8e Deus chamou ao firmamento "céu". Houve uma tarde e uma manhã: segundo dia. 9Deus disse: "Que as águas que estão sob o céu se reúnam numa só massa e que apareça o continente" e assim se fez. 10Deus chamou ao continente "terra" e à massa das águas "mares", e Deus viu que isso era bom.11Deus disse: "Que a terra verdeje de verdura: ervas que deem semente e árvores frutíferas que deem sobre a terra, segundo sua espécie, frutos contendo sua semente" e assim se fez. 12A terra produziu verdura: ervas que dão semente segundo sua espécie, árvores que dão, segundo sua espécie, frutos contendo sua semente, e Deus viu que isso era bom. 13Houve uma tarde e uma manhã: terceiro dia. 14Deus disse: "Que haja luzeiros no firmamento do céu para separar o dia e a noite; que eles sirvam de sinais, tanto para as festas quanto para os dias e os anos; 15que sejam luzeiros no firmamento do céu para iluminar a terra" e assim se fez. 16Deus fez os dois luzeiros maiores: o grande luzeiro para governar o dia e o pequeno luzeiro para governar a noite, e as estrelas. 17 Deus os colocou no firmamento do céu para iluminar a terra, 18para governarem o dia e a noite, para separarem a luz e as trevas, e Deus viu que isso era bom. 19Houve uma tarde e uma manhã: quarto dia. 20Deus disse: "Fervilhem as águas um fervilhar de seres vivos e que as aves voem acima da terra, sob o firmamento do céu" e assim se fez. 21Deus criou as grandes O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 9 serpentes do mar e todos os seres vivos que rastejam e que fervilham nas águas segundo sua espécie, e as aves aladas segundo sua espécie, e Deus viu que isso era bom. 22Deus os abençoou e disse: "Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a água dos mares, e que as aves se multipliquem sobre a terra." 23Houve uma tarde e uma manhã: quinto dia. 24Deus disse: "Que a terra produza seres vivos segundo sua espécie: animais domésticos, répteis e feras segundo sua espécie" e assim se fez. 25Deus fez as feras segundo sua espécie, os animais domésticos segundo sua espécie e todos os répteis do solo segundo sua espécie, e Deus viu que isso era bom. 26Deus disse: "Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança, e que eles dominem sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra". 27Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou.28Deus os abençoou e lhes disse: "Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a; dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que rastejam sobre a terra." 29Deus disse: "Eu vos dou todas as ervas que dão semente, que estão sobre toda a superfície da terra, e todas as árvores que dão frutos que dão semente: isso será vosso alimento. 30A todas as feras, a todas as aves do céu, a tudo o que rasteja sobre a terra e que é animado de vida, eu dou como alimento toda a verdura das plantas" e assim se fez. 31Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom. Houve uma tarde e uma manhã: sexto dia. 21Assim foram concluídos o céu e a terra, com todo o seu exército. 2Deus concluiu no sétimo dia a obra que fizera e no sétimo dia descansou, depois de toda a obra que fizera. 3Deus abençoou o sétimo dia e o santificou, pois nele descansou depois de toda a sua obra de criação. 4aEssa é a história do céu e da terra, quando foram criados. Resumindo Deus cria o mundo para manifestar e comunicar a sua glória O fim último da criação é que Deus, "Criador do universo, tornar-se-á ‘tudo em todas as coisas'. Tudo voltará a ser um. Deus cria tudo a partir do nada. Deus cria tudo bom, Deus cria tudo na perfeição da unidade. A cada etapa da criação Deus via que “tudo era bom”. Em Deus vivemos, nos movemos e existimos. Tudo unido. Deus não abandona sua criatura a ela mesma, mas a conduz a plenitude, a volta a união perfeita perdoando todos os seus pecados. A criação é criada "em estado de caminhada" ("in statuviae"), isto quer dizer que estamos caminhando rumo a unidade perfeita. Feita no e por meio do Verbo eterno, "imagem do Deus invisível" (Cl 1,15), a criação está destinada, dirigida ao homem, imagem de Deus, chamado a uma relação pessoal com Ele. 1.4 A Metafísica do Ser (Um pouquinho de filosofia) Heráclito (535 a.C.) O mesmo homem não pode atravessar o mesmo rio, porque o homem de ontem não é o mesmo homem, nem o rio de ontem é o mesmo do hoje. Devir: Tudo é vir-a-ser, tudo muda, tudo se transforma. O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 10 O mundo, o homem, as coisas estão em incessante transformação. As coisas são como um rio, não há nada permanente. Parmênides (530 a.C.) Toda nossa realidade é imutável, estática, e sua essência está incorporada na individualidade divina do Ser-Absoluto, o qual permeia todo o Universo. Esse Ser é onipresente, já que qualquer descontinuidade em sua presença seria equivalente à existência de seu oposto – o Não-Ser. Esse Ser não pode ter sido criado por algo, pois isso implicaria em admitir a existência de um outro Ser. Do mesmo modo, esse Ser não pode ter sido criado do nada, pois isso implicaria a existência do “Não-Ser”. Portanto, o Ser simplesmente é. O Ser-Absoluto não pode vir-a-ser (como diz Heráclito). E não podem existir vários “Seres-Absolutos”, pois para separá-los precisaria haver algo que não fosse um Ser. Consequentemente, existe apenas a unidade eterna. “O que está fora do Ser não é Ser; o Não-Ser é nada; o Ser, portanto, é. A única realidade é o Ser. Não é possível nenhuma outra realidade, nem o vir-a-ser de Heráclito. De fato, ou uma coisa é ou não é. Se é, não pode vir-a-ser, porque já é. Se não é, não pode vir-a-ser, porque do nada não se tira nada. O que é é, e o que não é, não é. Resumindo o pensamento de Parmênides em relação ao Ser: O mundo sensível é uma ilusão. Não se confia no que se vê. O Ser é Uno, Eterno, Não-Gerado e Imutável (não muda nunca) 2. A QUEDA 2.1 O Pecado Original (Reflexão Biblico-Teológica) §389. A doutrina do pecado original é, por assim dizer, "o reverso" da Boa Notícia de que Jesus é o Salvador de todos os homens, de que todos têm necessidade da salvação e de que a salvação é oferecida a todos graças a Cristo. A Igreja, que tem o senso de Cristo, sabe perfeitamente que não se pode atentar contra a revelação do pecado original sem atentar contra o mistério de Cristo. É interessante notar que no Catecismo da Igreja Católica o primeiro parágrafo que fala do pecado original já cita a expiação realizada por Cristo na cruz como oposição, como cura para a separação de Deus. §397 O homem, tentado pelo Diabo, deixou morrer em seu coração a confiança em seu Criador e, abusando de sua liberdade, desobedeceu ao mandamento de Deus. Foi nisto que consistiu o primeiro pecado do homem.Todo pecado, daí em diante, ser uma desobediência a Deus e uma falta de confiança em sua bondade. §398 Neste pecado, o homem preferiu a si mesmo a Deus, e com isso menosprezou a Deus: optou por si mesmo contra Deus, contrariando as exigências de seu estado de criatura e O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 11 consequentemente de seu próprio bem. Constituído em um estado de santidade, o homem estava destinado a ser plenamente "divinizado" por Deus na glória.Pela sedução do Diabo, quis "ser como Deus", mas "sem Deus, e antepondo-se a Deus, e não segundo Deus". Diabo (do latim diabŏlus, por sua vez do grego antigo διάβολος, "aquele que separa") Diabo simboliza: divisão, separação. Tudo que é separado é diabólico. Ser humano quer o Ser como Deus o Sem Deus o Antepondo-se a Deus o E não segundo Deus Nisto consiste o início de todos os males. Gn3 A queda — 1A serpente era o Gn 3,1-6 – Proposta da Separação mais astuto de todos os animais dos Fruto: campos, que Iahweh Deus tinha 1. Comer do fruto: Querer tomar o lugar de Deus. Querer viver feito. Ela disse à mulher: "Então separado de Deus, que leva como consequência a morte. Surge Deus disse: Vós não podeis comer a SEPARAÇÃO. de todas as árvores do jardim?" 2A 2. O homem quer governar a própria vida sem a presença do mulher respondeu à serpente: "Nós Senhor. Pois não confia mais em Deus. (Cf. Cat. §397) podemos comer do fruto das 3. Não se trata de um único pecado, mas é a dinâmica de todo o árvores do jardim. 3Mas do fruto da pecado: a vida separada de Deus. árvore que está no meio do jardim, Serpente: Deus disse: Dele não comereis, 1. Não se trata de um diabo invejoso que tenta o homem, mas a nele não tocareis, sob pena de imagem da insensatez humana. O desejo de viver separado de morte."4A serpente disse então à Deus. mulher: "Não, não morrereis! 5Mas 2. Na origem do pecado está uma falsa visão de Deus, ao invés Deus sabe que, no dia em que dele de um Deus criador, amoroso, unido, vê-se um Deus legislador. comerdes, vossos olhos se abrirão (opressor) e vós sereis como deuses, versados 3. O homem confia em Deus só se está convencido do seu amor, no bem e no mal."6A mulher viu que caso contrário torna-se vítima da “serpente”: confia em suas a árvore era boa ao apetite e próprias intuições, nos seus vãos pensamentos. formosa à vista, e que essa árvore 4. A serpente diz que Adão e Eva serão como deuses, versados era desejável para adquirir no Bem e no mal, isso é mentira Deus é versado somente no discernimento. Tomou-lhe do fruto e Bem. comeu. Deu-o também a seu 5. A serpente propõe viver separado de Deus e a Eva (que marido, que com ela estava e ele simboliza toda a humanidade) diz que essa ideia é boa, formosa comeu. e desejável e realiza este desejo. 7Então abriram-se os olhos dos dois e Gn 3,7-9 – Surgimento da Culpa perceberam que estavam nus; entrelaçaram folhas de figueira e se 1. A nudez é símbolo da fragilidade humana. Aceitar a cingiram. 8Eles ouviram o passo de nudez é aceitar a condição de criatura, dependência do Iahweh Deus que passeava no jardim à criador. brisa do dia e o homem e sua mulher se 2. Adão e Eva sentem vergonha de Deus, ou seja, se esconderam da presença de Iahweh sentem CULPADOS. O ser humano se sente culpado, por querer viver separado de Deus e se esconde Dele. Deus, entre as árvores do jardim. O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 12 9Iahweh Deus chamou o homem: Gn 3,9-11 – Surgimento do Medo 10 "Onde estás?", disse ele. "Ouvi teu passo no jardim," respondeu o homem; 1. Onde estás?: O homem não encontra mais o seu lugar na "tive medo porque estou nu, e me criação. Deus o procura, mas não o encontra porque já não escondi."11Ele retomou: "E quem te fez está onde deveria estar, ou seja, unido a Deus. saber que estavas nu? Comeste, 2. O homem trancou-se no seu egoísmo, deixou de considerar então, da árvore que te proibi de Deus como o amigo com o qual passeava no jardim, passou a vê-lo como um inimigo, alguém que se tem MEDO. comer!" 12O homem respondeu: "A Gn 3,12-13 – Negação e Projeção mulher que puseste junto de mim me deu da árvore, e eu 1. O pecado rompe a relação de confiança entre as pessoas. Adão comi!" 13Iahweh Deus disse à acusa Eva e, indiretamente, acusa também Deus: “a mulher que tu mulher: "Que fizeste?" E a puseste...” A mulher empurra a culpa para a serpente. Ninguém mulher respondeu: "A serpente assume os próprios pecados. Surge a NEGAÇÃO E PROJEÇÃO. 2. O pecado faz com que as pessoas se tornem inimigas. me seduziu e eu comi." 14Então Iahweh Deus disse à Gn 3,14-15 – Vitória de Cristo sobre a serpente serpente: "Porque fizeste isso és maldita entre todos os 1. Deus amaldiçoa a serpente. Deus se coloca, desde o início da animais domésticos e todas as história do lado do ser humano, anuncia a derrota da serpente. feras selvagens. Caminharás 2. A mulher lhe ferirá a cabeça: é assim que se mata uma serpente sobre teu ventre e comerás esmagando sua cabeça. É sinal de vitória, a serpente será destruída. poeira todos os dias de tua 3. A serpente lhe ferirá o calcanhar: A luta do homem contra a vida.15Porei hostilidade entre ti serpente será até o fim do mundo (tempo/espaço), mas não destruirá e a mulher, entre tua linhagem a humanidade, apenas ferirás o calcanhar. e a linhagem dela. Ela te 4. Estes versículos são um primeiro clarão de salvação, ou “Protoesmagará a cabeça e tu lhe Evangelho”. É um anúncio Messiânico. A linhagem (Descendente) da mulher é Jesus Cristo, que porá fim a divisão através da expiação. ferirás o calcanhar." 16À mulher ele disse: "Multiplicarei as Gn 3,16-19 – Apego e Ira dores de tuas gravidezes, na dor darás à luz filhos. Teu desejo te impelirá ao teu 1. Deus não está amaldiçoando a humanidade está apenas marido e ele te dominará." 17Ao homem, constatando a situação da humanidade a partir da separação. Será uma vida baseada na escassez, separação, perda e morte. ele disse: "Porque escutaste a voz de tua Uma vida de sofrimentos. mulher e comeste da árvore que eu te 2. Cat. §705: Desfigurado pelo pecado e pela morte, o homem proibira, comer, maldito é o solo por continua sendo "à imagem de Deus", à imagem do Filho, mas é causa de ti! Com sofrimentos dele te "privado da Glória de Deus", privado da "semelhança". A nutrirás todos os dias de tua vida. 18Ele promessa feita a Abraão o inaugura a Economia da salvação, no produzirá para ti espinhos e cardos, e fim da qual o próprio Filho assumirá "a imagem" e a restaurará comerás a erva dos campos. 19Com o na "semelhança" com o Pai, restituindo-lhe a Glória, o Espírito suor de teu rosto comerás teu pão até "que dá a vida". O Ego voltará a ser pó. que retornes ao solo, pois dele foste 3. Eva (que simboliza toda a humanidade) após ter deixado a comunhão com Deus se APEGA ao seu marido e como tirado. Pois tu és pó e ao pó tornarás." conseqüência do apego a dominação de uns pelos outros o que produz a IRA. 20O homem chamou sua mulher "Eva", por ser a mãe Gn 3,20-21 – Acolhida de Deus 21 de todos os viventes. Iahweh Deus fez para o 1. Deus devolve a Adão e Eva a dignidade homem e sua mulher túnicas de pele, e os vestiu. perdida O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 13 O ser humano é escravizado pelo medo que tem da separação de Deus. Como não se sente amado por Deus procura a vida neste mundo. Ele comeu da árvore que é símbolo da separação, da expulsão do paraíso (céu). Eva (que simboliza a humanidade) aceita a catequese da serpente que Deus não é amor, que Deus a castiga colocando-a neste mundo para limitá-la, para que não se realize como Ele; para que não alcance a sua máxima capacidade. Quando aceitamos a separação aceitamos que Deus não existe, que Deus não é amor. Mas acontece que nós existimos enquanto Deus nos ama, e estamos unidos a Ele, e se nós aceitamos que Deus não nos ama, quem nos criou? Quem somos? Cessamos imediatamente de ser. O ser humano se sente completamente perdido. Experimentamos a um nível ontológico (ser, existencial) de experiência profunda a morte ontológica, o absurdo da nossa própria vida. O ser humano perde a dimensão profunda do ser, se sente aprisionado pelo medo da separação e morte. O sofrimento físico se converte num símbolo que anuncia a destruição da sua realidade total. Deus não se afastou do ser humano, pois se isso tivesse acontecido o ser humano teria morrido logo. É o ser humano que se sente separado, afastado de Deus, e sem sentido, que aceitou a catequese do diabo (divisor). O ser humano então procura a vida no mundo, quer ser Deus, mas sem Deus, separado de Deus. (Cat. §398) Não há problema em querer ser Deus pois de fato o somos, somos os seu filhos adotivos, somos um com Ele. O Problema é querer viver separado Dele. Como a base da vida é o amor, o ser humano procura o amor no dinheiro, no sexo, na comida, nos afetos. Procura prestigio para ser, poder para ser, procura a vida nos bens. Mas se este ser humano se encontra com Jesus Cristo se sentira unido a Ele e se libertará imediatamente de fazer injustiças, isso tira do coração do ser humano a fonte das suas injustiças. (Catequeses Iniciais do Caminho Neocatecumenal. Kiko Arguello) Quais as consequências da separação? Primeiro quando o homem se sente separado de Deus não encontra mais no lugar que lhe foi designado na criação. Deus o procura, Deus o chama: “Onde estás?”, mas ele não é localizado, porque não está mais no lugar onde deveria estar,não se sente mais unido a Deus. Quem se autoconvenceu que é preferível administrar a vida por conta própria (separado), quem julga poder proclamar a sua independência de Deus quem pretende construir seu próprio mundo, quem ser isola em seu egoísmo, este não considera Deus como seu amigo, mas encara-o como um adversário a ser temido, evitado, mantido a distância.Encara-o como um tirano que ameaça a sua independência e a sua liberdade, “Ouvi o barulho dos teus passos no jardim e tive medo”, diz ele assustado. A segunda consequência é o distanciamento (separação) dos seus irmãos. Adão acusa Eva, esta põe a culpa na serpente. Os que se veem separados se incriminam mutuamente, são responsáveis pelas próprias desgraças, agridem-se, odeiam-se. A separação torna os homens inimigos uns dos outros. A terceira consequência da separação é a destruição de quem se separou. Quem se afasta de Deus julga ter finalmente descoberto o caminho que conduz à felicidade, mas, ao invés, depois da separação, sente-se nu, como os animais ou como os escravos, despojados da liberdade. O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 14 A última consequência é a destruição das relações harmoniosas com todo o universo criado. Ao se deixar conduzir pelo egoísmo, o ser humano não destrói somente a si mesmo, mas abala também a ordem da natureza, que se revolta, perde a fertilidade, produz cardos e espinhos. (Gn 3,14-19) Será definitiva a queda do homem? Continuará ele fazendo escolhas que o afastam, separam de Deus, dos irmãos, de si mesmo e do universo criado? A narrativa termina com uma mensagem de esperança: a luta entre a “serpente” e o ser humano continuará até o fim dos tempos. Mas a descendência da mulher (=Jesus Cristo) conquistará a vitória final e esmagará a cabeça da “serpente.” (Pe. Fernando Armellini. Celebrando a Palavra: Ano B. São Paulo, Ave Maria, 1996. p. 289) Na origem de cada pecado esta sempre “a serpente”(separação): uma ideia falsa de Deus, uma imagem deformada que penetra na mente e no coração humano de maneira enganadora, silenciosa, e leva a escolher o mal. Deus não é mais considerado o criador e salvador que quer a felicidade do homem, mas é o antagonista, é aquele que impõe limites, obrigações, proibições, obstáculos. Esse Deus é detestável, é melhor livrar-se dele, ou melhor, de eliminá-lo. O ser humano confia em Deus só se está convencido do seu amor, caso contrário torna-se vítima da “serpente”: confia em suas próprias ideias, nos seus vãos pensamentos. O pecado rompe a relação de confiança entre as pessoas. Adão acusa Eva e, indiretamente acusa também Deus. A mulher por sua vez coloca a culpa na serpente, e portanto também em Deus. Os que pecam lançam uns sobre os outros a responsabilidade das próprias misérias, agridemse, odeiam-se.Deus criou os homens para se unirem, se ajudarem, o pecado ao invés, os separa, afasta-os uns dos outros, torna-os inimigos. (Pe. Fernando Armellini. Celebrando a Palavra: Festas. São Paulo, Ave Maria, 2000. p. 192-194) §399 A Escritura mostra as consequências dramáticas desta primeira desobediência. Adão e Eva perdem de imediato a graça da santidade original. Têm medo deste Deus, do qual fizeram uma falsa imagem, a de um Deus enciumado de suas prerrogativas. Perder a santidade original significa sentir-se separado de Deus. Viver neste mundo ilusório. Surge a culpa e o medo de Deus Cria-se a imagem falsa de Deus. Um Deus que pune, que se torna inimigo dos homens. Nessa visão errada de Deus é que a maior parte da humanidade acredita, é por isso que as pessoas se afastam da Igreja, pois tem medo deste “deus” amedrontador, tem medo que este “deus” a condene ao inferno. §402 Todos os homens estão implicados no pecado de Adão. São Paulo o afirma: "Pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores" (Rm 5,19). "Como por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, assim a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram..." (Rm 5,12). A universalidade do pecado e da morte o Apóstolo opõe a universalidade da salvação em Cristo: "Assim como da falta de um só resultou a condenação de todos os homens, do mesmo modo, da obra de justiça de um só (a de Cristo), resultou para todos os homens justificação que traz a vida" (Rm 5,18). O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 15 §410 Depois da queda, o homem não foi abandonado por Deus. Ao contrário, Deus o chama e lhe anuncia de modo misterioso a vitória sobre o mal e o soerguimento da queda. Esta passagem do Gênesis (Gn 3,15) foi chamada de "proto-evangelho", por ser o primeiro anúncio do Messias redentor, a do combate entre a serpente e a Mulher e a vitória final de um descendente desta última. Vamos rever o texto: 14Então Iahweh Deus disse à serpente: "Porque fizeste isso és maldita entre todos os animais domésticos e todas as feras selvagens. Caminharás sobre teu ventre e comerás poeira todos os dias de tua vida. 15Porei hostilidade entre ti e a mulher, entre tua linhagem e a linhagem dela. Ela te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar." Depois da queda (pecado original) Deus anuncia imediatamente que vai unir a todos novamente através da redenção (expiação) realizada por Cristo. Este processo chamamos de Economia da Salvação ou Plano da Salvação, o Mistério Pascal: Encarnação, Morte e Ressurreição. (Trataremos desse assunto na apostila 2/3) Na liturgia a Igreja em suas orações sempre nos lembram este convite ao retorno: Oração Eucarística III: Olhai com bondade a oferenda da vossa Igreja, reconhecei o sacrifício que nos reconcilia convosco e concedei que, alimentando-nos com o Corpo e o Sangue do vosso Filho, sejamos repletos do Espírito Santo e nos tornemos em Cristo um só corpo e um só espírito. Cordeiro de Deus: Antes de comungarmos nas missas sempre cantamos 3 vezes: Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e depois ainda o sacerdote diz: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, para que nós aceitemos a expiação dada gratuitamente por Cristo. João 1,10-11: 10Ele estava no mundo e o mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não o reconheceu. 11Veio para o que era seu e os seus não o receberam. João 15,18-19: 18Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro, me odiou a mim. 19Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo e minha escolha vos separou do mundo, o mundo, por isso, vos odeia. Resumindo O homem, tentado pelo Diabo, deixou morrer em seu coração a confiança NO AMOR DO SEU CRIADOR e, abusando de sua liberdade, desobedeceu ao mandamento de Deus. Foi nisto que consistiu o primeiro pecado do homem. Todo pecado, daí em diante, ser uma desobediência a Deus e uma falta de confiança em sua bondade. O ser humano preferiu a si mesmo a Deus. Constituído em um estado de santidade, o homem estava destinado a ser plenamente "divinizado" por Deus na glória. Pela sedução do Diabo, quis "ser como Deus", mas "sem Deus, e antepondo-se a Deus, e não segundo Deus". Diabo: divisão, separação. Tudo que é separado é diabólico. Deus não deixou o ser humano sozinho, mas imediatamente propôs um plano de salvação. (Mistério Pascal: Encarnação, Morte e Ressurreição) O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 16 Não pertencemos ao mundo separado, dividido, ilusório, mas pertencemos ao mundo unido, ao Reino de Deus. 2.1 O Pecado Original e suas consequências na vida das pessoas (Palestra proferida pela Dra. Susan Andrews no 2° Congresso de Terapia Transpessoal) Com o pecado original surge uma forma errada de se pensar que produz todos os sofrimentos humanos. Podemos resumir neste quadro esquemático: Pecado Original (separação) culpa medo negação projeção apego(ídolos) Ódio culpa auto punição doenças, sofrimentos, problemas, etc. 2.1.1 Revendo os passos no texto do Gênesis: 1° Passo: Aceitação da catequese da serpente: a proposta da SEPARAÇÃO 1 A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos, que Iahweh Deus tinha feito. Ela disse à mulher: "Então Deus disse: Vós não podeis comer de todas as árvores do jardim?" 2A mulher respondeu à serpente: "Nós podemos comer do fruto das árvores do jardim. 3Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: Dele não comereis, nele não tocareis, sob pena de morte."4A serpente disse então à mulher: "Não, não morrereis! 5 Mas Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como deuses, versados no bem e no mal."6A mulher viu que a árvore era boa ao apetite e formosa à vista, e que essa árvore era desejável para adquirir discernimento. Tomou-lhe do fruto e comeu. Deu-o também a seu marido, que com ela estava e ele comeu. A serpente propõe que Deus não ama o ser humano por isso proíbe de comer da árvore do meio do jardim, pois diz que Deus não quer que o ser humano se torne “deus” como Ele. Eva aceita essa catequese e acredita que Deus não a ama. Eva aceita a proposta de comer do fruto, ou seja, de querer ser “deus”, sem Deus. Aceita querer viver separada de Deus, de ser dona do próprio nariz, a ideia lhe pareceu “formosa” e “desejável”. O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 17 2° Passo: Surgimento da CULPA 7 Então abriram-se os olhos dos dois e perceberam que estavam nus; entrelaçaram folhas de figueira e se cingiram. Adão e Eva ficam com vergonha (culpa) pelo que fizeram, por terem usurpado o seu lugar. Se sentem culpados por terem aceitado a proposta da serpente de viverem separados de Deus, de quererem ser deuses da própria vida. Separado de Deus o ser humano se sente vazio, perdido, perde a noção de que é filho de Deus. 3° Passo: Surgimento do MEDO de Deus 8 Eles ouviram o passo de Iahweh Deus que passeava no jardim à brisa do dia e o homem e sua mulher se esconderam da presença de Iahweh Deus, entre as árvores do jardim.9Iahweh Deus chamou o homem: "Onde estás?", disse ele. 10"Ouvi teu passo no jardim," respondeu o homem; "tive medo porque estou nu, e me escondi."11Ele retomou: "E quem te fez saber que estavas nu? Comeste, então, da árvore que te proibi de comer!" Depois de querer viver separado de Deus, o ser humano passa a acreditar que Deus tornou-se seu inimigo por isso passa a ter medo Dele. Tem medo de ser punido por Ele, de ser castigado por ele, de ser condenado a viver eternamente separado Dele (Inferno). Não se confia mais em Deus e passa-se a vê-lo como um inimigo. 4° Passo: O ser humano NEGA e PROJETA a culpa e o medo nos outros 12 O homem respondeu: "A mulher que puseste junto de mim me deu da árvore, e eu comi!" Iahweh Deus disse à mulher: "Que fizeste?" E a mulher respondeu: "A serpente me seduziu e eu comi." 13 O ser humano não querendo assumir a sua responsabilidade empurra a culpa para os outros e indiretamente ao próprio Deus. 5° Passo: O ser humano procura preencher o vazio com APEGO às pessoas e às criaturas e consequentemente ao Ódio 16 À mulher ele disse: "Multiplicarei as dores de tuas gravidezes, na dor darás à luz filhos. Teu desejo (apego) te impelirá ao teu marido e ele te dominará (ódio)." O ser humano separado de Deus, procura satisfazer a sua vida buscando nas pessoas e nas criaturas o que somente Deus pode preencher. (procura ídolos= substitutos para Deus) Romanos 1,25 Trocaram a verdade de Deus pela falsidade, cultuando e servindo a criatura em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém. O apego às pessoas e às coisas trás o domínio dos seres humanos de uns para com os outros surgindo assim o Ódio. O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 18 6° Passo: O apego e o ódio trazem culpa novamente que conduzem a AUTO-PUNIÇÕES (sofrimentos) 17 Ao homem, ele disse: "Porque escutaste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te proibira, comer, maldito é o solo por causa de ti! Com sofrimentos dele te nutrirás todos os dias de tua vida. 18Ele produzirá para ti espinhos e cardos, e comerás a erva dos campos. 19 Com o suor de teu rosto comerás teu pão até que retornes ao solo, pois dele foste tirado. Pois tu és pó e ao pó tornarás." 2.1.2 Os 3 primeiros passos: Pecado Original (separação), culpa e medo Ha três ideias centrais para a compreensão do sistema de pensamento do ego. Esses são os fundamentos de todo o sistema: o pecado (separação), a culpa, e o medo. Quando falamos aqui de pecado estamos nos referindo ao Pecado Original, ou seja, a ‘separação’. O pecado pelo qual nós nos sentimos mais culpados, que em última instância é a fonte de toda a nossa culpa, é o pecado de nos sentirmos separados de Deus. Assim o início do ego é acreditarmos que estamos separados de Deus e vivemos nesta situação de separados. Isso faz com que constituamos um ser que é separado (ego) do nosso Ser verdadeiro (crístico). Nós acreditamos que constituímos um ser (com ‘s’ minúsculo) que é a nossa verdadeira identidade e esse ser é autônomo com relação ao nosso Ser real e com relação a Deus. Esse é o começo de todos os problemas no mundo: acreditarmos que somos indivíduos separados de Deus e que podemos viver separados Dele. Uma vez que cometemos esse pecado, ou uma vez que cometemos qualquer pecado, é psicologicamente inevitável nos sentirmos culpados. Em certo sentido, a culpa pode ser definida como a experiência de termos pecado. Assim, podemos basicamente usar pecado e culpa como sinônimos: uma vez que pecamos é impossível não acreditarmos que somos culpados, passando a sentir o que conhecemos como culpa. A culpa está sempre ligada a coisas específicas do nosso passado. Mas essas experiências conscientes de culpa são apenas como o topo de um iceberg. Se vocês pensarem num iceberg, abaixo da superfície do mar está essa massa gigantesca que representaria o que é a culpa. A culpa é realmente a soma total de todas as crenças, experiências e sentimentos negativos que jamais tivemos sobre nós mesmos. Assim, a culpa pode ser qualquer forma de ódio ou rejeição de si mesmo; sentimentos de incompetência, fracasso, vazio, ou a sensação de que há coisas em nós que estão faltando, ou estão perdidas, ou são incompletas. A maior parte dessa culpa é inconsciente; é por isso que a imagem de um iceberg é tão útil. A maior parte das experiências que nos indicariam o quanto nós nos sentimos mal estão abaixo da superfície da nossa mente consciente, o que faz com que sejam virtualmente inacessíveis a nós. E a maior fonte de toda essa culpa é acreditarmos que pecamos contra Deus por nos separarmos d’Ele na criação. Como resultado disso, vemos a nós mesmos separados de todas as outras pessoas e do nosso próprio Ser. Isso traz Depressão. Uma vez que nos sentimos culpados é impossível não acreditarmos que seremos punidos pelas coisas terríveis que acreditamos ter feito e pelas coisas terríveis que O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 19 acreditarmos ser. A culpa sempre exige punição. Uma vez que nos sentimos culpados, acreditaremos que temos que ser punidos pelos nossos pecados. Psicologicamente não há nenhuma forma de evitarmos esse passo. Então teremos medo. Todo medo, não importa qual pareça ser a sua causa no mundo, vem da crença de que eu devo ser punido pelo que fiz ou pelo que não fiz. E assim terei medo do que será essa punição. Por acreditarmos que o objeto último do nosso pecado é Deus, contra o qual pecamos por nos separarmos d’Ele, acreditaremos então que será o próprio Deus que virá nos punir. Quando lemos a Bíblia e nos deparamos com todas aquelas passagens terríveis sobre a ira e a vingança de Deus, agora sabemos onde elas tiveram origem. Isso nada tem a ver com Deus como Ele é, já que Deus é apenas Amor. Todavia isso tem tudo a ver com as projeções da nossa culpa sobre Ele. “Não foi Deus quem expulsou Adão e Eva do Jardim do Éden; Adão e Eva expulsaram a si mesmos do Jardim do Éden”. Uma vez que pecamos contra Deus, o que todos nós fazemos, temos que acreditar também que Deus nos punirá. O que fizemos, é claro, por nos tornarmos amedrontados em relação a Deus, foi transformar o Deus do Amor em um Deus de medo: um Deus de ódio, punição e vingança. É justamente isso que o ego quer que façamos. Uma vez que nos sentimos culpados, pouco importa de onde acreditamos que venha essa culpa, também acreditarmos não apenas que somos culpados, mas que Deus nos vai atacar e matar. Assim, Deus, que é o nosso Pai cheio de amor é nosso único Amigo, vem a ser nosso inimigo. E Ele é um inimigo e tanto, nem sequer é preciso dizer. Acreditar que Deus é assim é atribuir-Lhe as mesmas qualidades “egóticas” que nós temos. Como disse Voltaire: “Deus criou o homem a Sua própria imagem e depois o homem Lhe devolveu o cumprimento”. O Deus que nós criamos é realmente a imagem de nosso próprio ego. Ninguém pode existir nesse mundo com esse grau de medo e terror, e com essa intensidade de ódio e culpa contra si mesmo na sua mente consciente. Seria absolutamente impossível para nós vivermos com essa quantidade de ansiedade e terror, isso nos devastaria. Portanto, tem que haver algum meio de lidarmos com isso. Como não podemos ir a Deus em busca de ajuda, já que dentro do sistema do ego nós transformamos Deus em um inimigo. O único outro recurso disponível é o próprio ego. Nós vamos ao ego em busca de ajuda e dizemos: “Olhe, você tem que fazer alguma coisa, eu não posso tolerar toda essa ansiedade e todo o terror que sinto. Ajude-me!” O ego, fiel à sua forma, nos oferece uma ajuda que não nos ajuda absolutamente, embora pareça que sim. A ‘ajuda’ vem em duas formas básicas e é, de fato, aqui que as contribuições de Freud podem ser verdadeiramente compreendidas e apreciadas. 2.1.3 O 4° passo: Negação e Projeção Freud tem recebido más críticas nos dias de hoje. As pessoas gostam muito de Jung e dos psicólogos não tradicionais, e com certa razão, mas Freud foi varrido para o pano de fundo. Contudo, a compreensão básica do ego se baseia diretamente nos ensinamentos de Freud. Ele era um homem brilhante. O próprio Jung nos diz, apesar de todos os problemas que tinha com Freud, que ele estava sendo levado nas costas de Freud. E isso é verdade para todas as pessoas que vieram depois de Freud. Freud descreve de modo muito sistemático e muito lógico exatamente como o ego funciona. O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 20 Deixe-me apenas mencionar que Freud usa a palavra ‘ego’ de um modo diferente daquele que estamos usando. Para nós, ‘ego’ é usado basicamente com a mesma conotação que existe no Oriente. Em outras palavras, o ego é o ser com letra minúscula. Para Freud, o ego é apenas uma parte da psique, que consiste do id (o inconsciente), o superego (o consciente), e o ego, que é a parte da mente que integra tudo isso. Usaremos a palavra ‘ego’ de forma que seria basicamente equivalente a psique total de Freud. Incidentalmente, o único erro de Freud foi monumental! Ele não reconheceu que toda a psique era uma defesa contra o nosso verdadeiro Ser, a nossa verdadeira realidade. Freud tinha tanto medo da sua própria espiritualidade que ele teve que construir todo um sistema de pensamento que era virtualmente impregnável à ameaça do espírito. E ele, de fato, fez exatamente isso. Mas foi brilhante ao descrever como a pisque ou o ego trabalha. O seu erro, mais uma vez, foi não reconhecer que a coisa toda era uma defesa contra Deus. (Luta de Jacó com Deus) Nós todos temos para com ele um tremendo débito de gratidão. Particularmente notáveis foram as contribuições de Freud na área dos mecanismos de defesa, ajudando-nos a compreender como nos defendemos contra toda a culpa e medo que sentimos. Quando vamos ao ego em busca de ajuda, abrimos um livro de Freud e achamos duas coisas que nos vão ajudar muito. A primeira é repressão ou negação. O que fazemos com essa culpa, esse senso de pecado, e com todo esse terror que sentimos é fazer de conta que não existem. Nós apenas os empurramos para o fundo, fora da consciência, e esse empurrar para baixo é conhecido como repressão ou negação. Apenas negamos a sua existência para nós mesmos. Por exemplo, se estamos com muita preguiça de varrer o chão, varremos a sujeira para baixo do tapete e então fazemos de conta que não está ali; ou um avestruz que quando tem medo apenas enfia a cabeça na areia para não ter que lidar com o que o ameaça tanto, nem sequer se defrontar com isso. Bem, isso não funciona por razões óbvias. Se continuamente varremos a sujeira para baixo do tapete, ele vai ficar cheio de caroços e nós eventualmente vamos tropeçar, enquanto o avestruz pode se ferir muito continuando com a sua cabeça virada para baixo. Mas, em algum nível, sabemos que a nossa culpa está lá. Assim, vamos ao ego mais uma vez para lhe dizer que “negar foi ótimo, mas você vai ter que fazer alguma outra coisa. Esse negócio vai subir e eu vou explodir. Por favor, ajude-me.” E aí o ego diz: “Eu tenho a coisa certa para você.” Ele nos diz para procurar na página tal e tal na Interpretação dos Sonhos de Freud e lá nós achamos o que se conhece como projeção. É muito importante compreendermos a projeção. Se vocês não compreenderem a projeção, não compreenderão como o ego funciona, nem em termos de como o Espírito Santo vai desfazer o que o ego tem feito. Projeção muito simplesmente significa que você tira alguma coisa de dentro de si mesmo e diz que realmente isso não está aí; está fora de você, dentro de outra pessoa. A palavra em si literalmente significa jogar fora, atirar algo a partir de, ou em direção a alguma outra coisa ou pessoa, e isso é o que todos nós fazermos na projeção. Nós tomamos a culpa ou o pecado de dentro de nós e dizemos: Isso não está realmente em mim, está em você. Eu não sou culpado, você é culpado. Eu não sou responsável por ser miserável e infeliz, você sim é culpado pela minha infelicidade. Do ponto de vista do ego, não importa quem seja o ‘você’. Para o ego, não importa em cima de quem você projeta, contanto que ache alguém para descarregar a sua culpa. É assim que o ego nos diz para nos livrarmos da culpa. O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 21 Vamos citar a passagem do bode expiatório para entendermos isso: 5Receberá da comunidade dos filhos de Israel dois bodes destinados ao sacrifício pelo pecado, e um carneiro para o holocausto. 11Aarão oferecerá o novilho do sacrifício pelo seu próprio pecado, e em seguida fará o rito deexpiação por si mesmo e pela sua casa e imolará o novilho. 15Imolará então o bode destinado ao sacrifício pelo pecado do povo e levará o seu sangue para detrás do véu. Fará com esse sangue o mesmo que fez com o sangue do novilho, aspergindo-o sobre o propiciatório e diante deste. 16Fará assim o rito de expiação pelo santuário, pelas impurezas dos filhos de Israel, pelas suas transgressões e por todos os seus pecados. 20Feita a expiação do santuário, da Tenda da Reunião e do altar, fará aproximar o bode ainda vivo.21Aarão porá ambas as mãos sobre a cabeça do bode e confessará sobre ele todas as faltas dos filhos de Israel, todas as suas transgressões e todos os seus pecados. E depois de tê-los assim posto sobre a cabeça do bode enviá-lo-á ao deserto, conduzido por um homem preparado para isso, 22 e o bode levará sobre si todas as faltas deles para uma região desolada. (Levítico 16,5.11.1516.20-22) Arão coloca a sua mão sobre o bode e simbolicamente transfere todos os pecados que o povo acumulou durante todo o ano para esse pobre bode. Eles, então, levam o bode para morrer no deserto. Esse é um relato perfeito e gráfico do que é exatamente a projeção e, como não poderia deixar de ser, é daí que vem a expressão ‘bode expiatório’. Assim, tomamos os nossos pecados e dizemos que eles não estão em nós, estão em você. Com isso colocamos uma distância entre nós mesmos e nossos pecados. Ninguém quer estar perto de seus próprios pecados, e assim nós os tiramos de dentro de nós e os colocamos em outra pessoa e depois banimos essa pessoa de nossa vida. Há duas formas básicas de fazermos isso. Uma é nos separarmos fisicamente dela; a outra é nos separarmos psicologicamente. A separação psicológica é realmente a mais devastadora e também a mais sutil. O modo de nos separarmos de outras pessoas, uma vez tendo colocado nossos pecados sobre elas, é atacá-las ou ficar com raiva. Qualquer expressão da nossa raiva, seja na forma de um leve toque de aborrecimento ou fúria intensa, não faz nenhuma diferença; elas são a mesma, é sempre uma tentativa de justificar a projeção da nossa culpa, não importa qual pareça ser a causa da nossa raiva. Essa necessidade de projetar a nossa culpa é a raiz da causa de toda a raiva. Você não tem que concordar com o que as outras pessoas dizem ou fazem, mas no minuto em que experimenta uma reação pessoal de raiva, julgamento ou crítica, isso vem sempre porque você viu naquela pessoa alguma coisa que negou em Si mesmo. Em outras palavras, você está projetando o seu próprio pecado e culpa naquela pessoa e os ataca lá. Mas dessa vez, você não os está atacando em si mesmo, e sim naquela outra pessoa, que você quer tão longe quanto possível. O que você realmente quer fazer é conseguir que o seu pecado fique tão longe de si mesmo quanto possível. Uma das coisas interessantes quando alguém lê o Velho Testamento, especialmente o Levítico, é ver como os filhos de Israel eram minuciosos em suas tentativas de identificar as formas de sujeira que estavam a sua volta e como deveriam manter-se separados de todas elas. Há passagens bastante detalhadas descrevendo o que é a sujeira, seja nas qualidades das pessoas, nas formas da própria sujeira ou em certas pessoas por si mesmas. Depois, explica-se O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 22 como os filhos de Israel deveriam manter-se separados dessas formas de sujeira. Quaisquer que sejam as outras razões que podem ter estado envolvidas, um significado central desses ensinamentos era a necessidade psicológica de tirar a sua própria sujeira de dentro de você e colocá-la do lado de fora em outra pessoa, e depois separar-se daquela pessoa. Quando se tem essa compreensão é interessante entrar no Novo Testamento e ver como Jesus era contra isso. Ele abraçou todas as formas de sujeira que as pessoas tinham definido e viam como parte essencial de sua religião manterem-se separadas daquilo tudo. Ele fazia questão de abraçar os elementos sociais identificados pela lei judaica como proscritos, como se estivesse dizendo: “Você não pode projetar a sua culpa nas outras pessoas. Você tem que identificá-la em si mesmo e curá-la onde ela está.” É por isso que os evangelhos dizem coisas tais como você deve limpar o interior do seu copo e não o exterior; não se preocupe com o cisco no olho do seu irmão, preocupe-se com a trave no seu; não é o que entra no homem que faz com que ele não seja limpo, mas o que vem de seu interior. O sentido disso é exatamente que a fonte do nosso pecado não esta fora, mas dentro. Mas a projeção busca fazer com que vejamos nossos pecados fora de nós, procurando então resolver o problema do lado de fora de modo que nunca possamos perceber que o problema esta dentro da gente. Quando vamos ao ego em busca de ajuda e dizemos: “Ajude-me a me livrar da minha culpa,” o ego diz: “Está bem, o meio de você se livrar da sua culpa é em primeiro lugar negá-la, depois projetá-la para outras pessoas. É assim que você se livra da sua culpa.” O que o ego não nos diz é que projetar a culpa é um ataque e é a melhor maneira de conservarmos a culpa. O ego não é nenhum tolo: ele quer que continuemos culpados. Deixem-me explicar essa ideia brevemente porque ela é também uma das ideias centrais para compreendermos os conselhos do ego. O ego é muito atraído pela culpa, e os seus motivos são óbvios uma vez que você se lembre do que ele é. A explicação racional do ego para os seus conselhos de negação e projeção é a seguinte: o ego não é nada mais do que uma crença, a crença segundo a qual a separação de Deus é real, é definitiva, que você vai ficar sempre sozinho. O ego é o falso ser que aparentemente passou a existir quando nós nos separamos de Deus.Portanto, enquanto acreditarmos que a separação é real, o ego continua em cena. Uma vez que acreditarmos que não há nenhuma separação, então o ego está terminado. O ego e o mundo que ele fez desaparecem no nada de onde ele veio. O ego não é nada realmente. Enquanto acreditarmos que pecado original nos separou de Deus e quisermos nos manter separados, estamos dizendo que o ego é real. É a culpa que nos mantem separados de Deus. Qualquer sentimento de culpa é sempre uma declaração que diz: “Eu pequei” eu estou separado de Deus. Enquanto eu acreditar que Deus vai me punir por estar separado Dele, o ego vai existir. O ego, portanto, tem interesse em nos manter culpados. O ego não sobrevive sem culpa por isso ataca qualquer estado de inocência para permanecer sempre culpado. Se você é sem culpa, você também é sem pecado, e se você é impecável, não há ego. O ego diz: “os que não tem culpa são culpados”, porque ser sem culpa, aceitando a expiação dada por Cristo é pecar contra o mandamento do ego: “Tu serás culpado para sempre”. Se você não tem culpa, você então passa a ser culpado por não ter culpa. Essa, por exemplo, foi a razão pela qual o mundo matou Jesus. Ele nos estava ensinando que com sua morte na cruz todos nós seríamos justificados por ele, ou seja, os pecados seriam O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 23 apagados e voltaríamos a condição original na criação antes do pecado original, que o catecismo cita como o estado denominado "justiça original". (Cat. 376). Cristo apagou nossos pecados (culpa), portanto, o mundo teve que matá-lo porque ele estava blasfemando contra o ego. Assim sendo, o propósito fundamental do ego é manter-nos culpados. Mas ele não nos pode dizer isso porque, se o fizer, não vamos prestar nenhuma atenção a ele então ele nos diz que se seguirmos o que ele nos aconselha, ficaremos livres da nossa culpa. E o modo de conseguirmos isso, mais uma vez, é negar a sua presença em nós, vê-la em alguma outra pessoa e depois atacar essa pessoa. Assim ficaremos livres da nossa culpa. Mas, o que ele não nos diz é que atacar é o melhor meio de nos manter culpados. Isso é verdade porque, como declara um outro axioma psicológico, sempre que você ataca uma pessoa qualquer, seja na sua mente ou de fato, você se sentirá culpado. Não há forma alguma de ferir qualquer um, seja em pensamento ou atos, que não acarrete sentimentos de culpa. Nesse ponto, o que o ego faz, e de modo muito astuto, é estabelecer um ciclo de culpa e ataque através do qual quanto mais culpados nos sentimos, maior será a nossa necessidade de negar a culpa em nós mesmos atacando uma outra pessoa por isso. Contudo, quanto mais atacamos um outro, maior será a nossa culpa pelo que fizemos, pois em algum nível reconhecemos que atacarmos aquela pessoa falsamente. Isso só nos fará sentir culpa e manterá a coisa toda indefinidamente. É esse ciclo de culpa e ataque que faz o mundo girar, não é o amor. Se alguém lhe diz que o amor faz o mundo girar, esse alguém não sabe grande coisa sobre o ego. O amor é do mundo de Deus e é possível refletir esse amor neste mundo. Todavia, neste mundo o amor não tem lugar. O que tem lugar é culpa e ataque, e é essa a dinâmica que está tão presente em nossas vidas, seja a nível individual ou a nível coletivo. Um ciclo secundário que se estabelece é o de ataque-defesa. Uma vez que eu me sinto culpado e projeto a minha culpa em você através do ataque, eu tenho que acreditar que a minha culpa exigirá punição. Como eu ataquei você, não posso deixar de acreditar que mereço ser atacado de volta. Agora, se você de fato me ataca ou não, pouco importa realmente; vou acreditar que você vai fazê-lo, devido a minha própria culpa. Acreditando que você vai me atacar de volta, eu então acredito que preciso defender-me contra o seu ataque. E como estou tentando negar o fato de ser culpado, sentirei que o seu ataque contra mim não tem justificativa. No momento em que eu o ataco, o meu medo inconsciente é que você me ataque de volta e é melhor que eu esteja preparado para isso. Assim tenho que construir uma defesa contra o seu ataque. Isso fará com que você fique com medo, e assim nós nos tornamos parceiros nisso; quanto mais eu o ataco, mais você tem que se defender de mim retornando o meu ataque, e mais eu terei que me defender contra você e atacá-lo de volta. E nós seguimos assim para frente e para trás. Essa dinâmica, obviamente, é o que explica a insanidade da corrida de armas nucleares. Também explica a insanidade que todos nós sentimos. Quanto maior a minha necessidade de defender-me, mais eu estou reforçando o fato de ser culpado. O propósito de todas as defesas é proteger-nos ou defender-nos do nosso medo. Se eu não tivesse medo, não teria que ter uma defesa, mas o próprio fato de precisar de uma defesa me diz que devo estar amedrontado, pois se não estivesse não teria que me dar ao trabalho de me defender. O próprio fato de eu estar me defendendo reforça o fato de que devo estar amedrontado e, O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 24 devo estar amedrontado, porque sou culpado. Assim as minhas defesas estão reforçando exatamente a coisa da qual me deveriam proteger: o meu medo. Portanto, quanto mais eu me defendo, mais ensino a mim mesmo que sou um ego: pecador, culpado, e amedrontado. O ego não é realmente tolo. Ele nos convence de que temos que nos defender, mas quanto mais o fazemos, mais culpados nos sentiremos. Ele nos diz de muitas formas diferentes como temos que nos defender da nossa culpa. Mas a própria proteção que ele nos oferece reforçará essa culpa. É por isso que vivemos dando voltas e mais voltas no mesmo lugar. Devíamos entender que a minha segurança está em ser sem defesas, como Cristo fez. Se eu vou saber verdadeiramente que estou a salvo e que a minha proteção verdadeira é Deus, a melhor maneira de fazer isso é não me defender (não resistir ao mal). É por isso que lemos nos evangelhos sobre os últimos dias de Jesus e vemos que ele não se defendeu absolutamente. A partir do momento que foi preso, durante todo o tempo em que estava sendo escarnecido, açoitado, perseguido e até assassinado, ele não se defendeu. E o que ele estava dizendo era: "Eu não preciso de defesas”, eu sei quem eu sou, pois eu sou O Caminho, A Verdade e A Vida. Quando sabemos verdadeiramente quem somos e quem é o nosso Pai, nosso Pai no Céu, não temos que nos proteger pois a verdade não precisa ser defendida teremos a plena consciência que somos filhos de Deus. (É assim que se sentem os santos) Contudo, dentro do sistema do ego, sentiremos que precisamos de proteção e assim sempre nos defenderemos. Portanto, esses dois ciclos realmente agem para manter todo o sistema do ego em funcionamento. Quanto mais nos sentimos culpados, mais atacaremos. Quanto mais atacamos, mais sentimos a necessidade de defender-nos da punição esperada ou do contraataque, que é, em si mesmo, um ataque. O segundo capítulo do Gênesis termina com Adão e Eva de pé, nus, um diante do outro, sem vergonha alguma (Gênesis 2,25). A vergonha é apenas um outro nome para a culpa, e a ausência de vergonha é uma expressão da condição que existia antes da separação. Em outras palavras, não havia culpa porque não havia nenhum pecado. E no terceiro capítulo que se fala do Pecado Original, e esse começa com Adão e Eva comendo do fruto proibido. Esse ato constitui a sua desobediência para com Deus, e a perda da confiança em seu Amor, e esse é realmente o pecado. Em outras palavras, eles vêem a si mesmos como se tivessem uma vontade separada de Deus e esta pudesse escolher alguma coisa diferente do que Deus tinha criado. É ai que nasce o ego. Assim, eles comem esse fruto e a primeira coisa que fazem depois disso é olhar um para o outro e dessa vez eles sentem vergonha e se cobrem. Colocam folhas de figueira sobre os seus órgãos sexuais e isso então passa a ser uma expressão da sua culpa. Compreendem que fizeram uma coisa pecaminosa, e a nudez de seus corpos vem a ser o símbolo de seu pecado. Consequentemente, eles tem que se defender disso, que passa a expressar a sua culpa. A próxima coisa que acontece é Adão e Eva ouvirem a voz de Deus, que os está procurando e agora eles ficam com medo do que Deus vai fazer quando os pegar. Assim se escondem nas moitas para que Deus não os veja. Aí está clara a conexão entre a crença que é possível separar-se de Deus e o sentimento de culpa por ter feito isso, seguido do medo do que vai acontecer quando Deus nos pegar e nos punir. A coisa interessante é que quando Deus afinal confronta Adão, ele projeta a culpa em Eva e diz: “Não fui eu que fiz isso, foi a mulher que tu colocaste ao meu lado. Projeta a culpa em Eva e indiretamente em Deus. Então O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 25 Deus olha para Eva, que faz exatamente a mesma coisa e diz: “Não fui eu que fiz isso. Não me culpe, foi a serpente”. Assim vemos com clareza o que fazermos para nos defender do nosso medo e da nossa culpa: projetamos a culpa em um outro. Uma das formas mais importantes do ego se defender da culpa é atacando outras pessoas, e é isso o que a nossa raiva sempre parece fazer: justificar a projeção da nossa culpa sobre os outros. É extremamente importante reconhecermos como é forte o investimento do mundo, e de cada um de nós como parte do mundo, em justificar o fato de estarmos com raiva, porque todos nós precisamos ter um inimigo. Não há ninguém neste mundo que, em um nível ou outro, não revista o mundo de qualidades boas e más. E nós separamos partes do mundo e colocamos algumas pessoas na categoria do que é bom e outras na categoria do que é mau. O propósito disso é a nossa tremenda necessidade de termos alguém para projetarmos a nossa culpa. Precisamos de, pelo menos, uma pessoa ou uma ideia ou um grupo, que possamos transformar no bandido, no bode expiatório. Essa é a fonte de todo preconceito e discriminação. É a tremenda necessidade que temos, que usualmente é inconsciente, de encontrar alguém que possamos transformar no bode expiatório para podermos escapar da carga da nossa própria culpa. Foi isso o que aconteceu desde o início da história. Tem sido esse o caso em cada sistema de pensamento, ou forma de vida importante que jamais existiu no mundo. Tudo sempre se predicou com base no fato de existirem os mocinhos e os bandidos. É por isso que no cinema todos ficam contentes no final quando o mocinho ganha e o bandido perde. Nós temos o mesmo investimento em ver o bandido ser punido, pois naquele momento acreditamos ter escapado dos nossos pecados. 2.1.4 O 5° passo: Apegos (ídolos = substitutos para Deus) e o Ódio O que eu tenho descrito até agora sobre a raiva é realmente uma forma que a projeção pode tomar. E a mais óbvia forma de ataque são os relacionamentos de “amor” (na verdade Apego) e Ódio. Os relacionamentos de Ódio são aqueles onde encontramos alguém e fazemos dele o objeto do nosso ódio de modo a que possamos escapar do verdadeiro objeto do nosso ódio, que somos nós mesmos. Os relacionamentos de Apego (relacionamento afetivo) são os mais poderosos e os mais insidiosos porque são os mais sutis. A razão pela qual o Apego é tão difícil de ser reconhecido e é tão difícil de combater é que ele aparenta ser algo que não é. É difícil esconder de você mesmo o fato de estar com raiva de outra pessoa. Você só pode conseguir isso por pouco tempo. O Apego é algo totalmente diferente. Ele sempre parecerá ser o que não é. De fato é o mais tentador e o mais enganador fenômeno deste mundo. Basicamente segue os mesmos princípios que o Ódio, mas faz isso de forma diferente. O princípio básico é que tentamos nos livrar da nossa culpa vendo-a em uma outra pessoa. Portanto, é apenas um fino véu disfarçado que encobre o ódio. O ódio, mais uma vez, é apenas uma tentativa de odiar outra pessoa de modo a não termos que odiar a nós mesmos. O que eu gostaria de fazer agora é mostrar a vocês basicamente como isso funciona de três formas diferentes - como, com a finalidade de nos salvar da culpa através do ‘amor’, o ego está realmente reforçando a sua culpa através do ódio. O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 26 Vamos, em primeiro lugar, descrever o que é o apego e depois falaremos sobre como ele funciona. Eu disse no inicio que acreditarmos que haja alguma coisa faltando em nós, que exista uma certa carência, é o princípio da escassez e, com efeito, essa é a base de toda a dinâmica do apego. O que o princípio de escassez nos diz é que há de fato algo faltando dentro de nós. Há algo que não foi preenchido, não há plenitude. Devido a essa carência, nós temos certas necessidades. E essa é uma parte importante de toda a experiência da culpa. Assim, mais uma vez, nós nos voltamos para o ego e dizemos: “Ajude-me! Essa sensação de não ser nada, ou esse vazio, ou esse sentimento de que há algo faltando é absolutamente intolerável; você tem que fazer alguma coisa.” O ego diz: “Está bem, aqui está o que você vai fazer”. E, em primeiro lugar, ele nos dá um tapa na cara por dizer: “Você está totalmente certo; você é apenas uma criatura miserável e não há nada que possa ser feito para mudar o fato de que está lhe faltando algo que é de importância vital para você”.É claro que o ego não nos diz que o que está faltando é Deus, porque se nos dissesse isso, escolheríamos Deus e ele deixaria de existir. O ego nos diz que algo inerentemente nos falta e não há nada que se possa fazer para remediar isso. Mas, depois nos diz que há algo que podemos fazer sobre a dor dessa falta. Embora continue sendo verdadeiro que nada vai mudar essa falta inerente em nosso ser, podemos olhar para fora de nós mesmos buscando alguém ou alguma coisa (ídolos) que possa compensar o que está faltando dentro de nós. Basicamente, o apego declara que eu tenho certas necessidades que Deus não pode satisfazer porque, repetindo, inconscientemente eu fiz de Deus um inimigo e, portanto, não posso buscar auxílio no Deus verdadeiro dentro do sistema egótico. Mas quando encontro você, uma pessoa especial com certas qualidades ou atributos especiais, eu decido que você vai satisfazer as minhas necessidades especiais. Daí vem a expressão “relacionamentos especiais”. As minhas necessidades especiais serão supridas por certas qualidades especiais em você, e isso faz de você uma pessoa especial para mim (apego). E quando você suprir as minhas necessidades especiais da forma que eu as estabeleci, então eu amarei você. Assim, quando você tiver certas necessidades especiais que eu possa satisfazer para você, você me amará. Do ponto de vista do ego, isso é um casamento feito no Céu. Portanto, o que esse mundo chama de amor é realmente apego (idolatria), uma distorção grosseira do amor tal qual o Espírito Santo o veria. Uma outra palavra que descreve esse mesmo tipo de dinâmica é ‘dependência’. Eu passo a depender de você para satisfazer as minhas necessidades e farei com que você dependa de mim para satisfazer as suas. Enquanto nos dois fizermos isso, tudo estará ótimo. O apego é basicamente isso. A sua intenção é compensar a falta que percebemos em nós mesmos usando uma outra pessoa para preencher esse vazio. Fazemos isso da forma mais clara e mais destrutiva com as pessoas. Contudo, podemos também fazer com substâncias (álcool, cigarro, drogas, chocolate, etc), ou com coisas (Time de futebol, cantores, artistas, pornografia, etc.). Uma pessoa, por exemplo, que é alcoólatra está tentando preencher o vazio em si mesma através de um relacionamento especial com a garrafa. Pessoas que comem demais estão fazendo a mesma coisa. Pessoas que tem mania de comprar roupas demais, ganhar um monte de dinheiro, adquirir um monte de coisas, ou ter status no mundo é tudo a mesma coisa. Na realidade, uma tentativa de compensação por nos sentirmos mal em nós mesmos através de algo externo que fará com O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 27 que nos sintamos melhor. Quando buscamos fora de nós mesmos, estamos sempre buscando um ídolo, que se define como um substituto para Deus. Realmente, só Deus pode satisfazer essa necessidade. Nesse caso, o especialismo faz o seguinte: ele serve ao propósito do ego parecendo proteger-nos da nossa culpa, mas durante todo o tempo ele a reforça. Faz isso de três formas básicas que vou explicar sumariamente agora. A primeira é a seguinte: se eu tenho essa necessidade especial e você vem e a satisfaz para mim, o que eu fiz realmente foi fazer de você um símbolo da minha culpa. (Estou falando nesse momento só a partir do ponto de vista do ego; não nos vamos ocupar do Espírito Santo agora que propõe um relacionamento de amor verdadeiro) O que fiz foi associar você com a minha culpa, porque o único propósito que eu dei ao meu relacionamento e ao meu amor por você é que ele sirva para satisfazer as minhas necessidades. Portanto, enquanto num nível consciente eu fiz de você um símbolo de amor, num nível inconsciente o que eu fiz realmente foi transformar você num símbolo da minha culpa. Se eu não tivesse essa culpa, eu não teria essa necessidade de você. O próprio fato de eu ter essa necessidade de você me lembra, inconscientemente, que eu sou na realidade culpado. Assim, essa é a primeira forma na qual o amor especial reforça exatamente a culpa da qual o seu amor está tentando defendê-lo. Quanto mais importante você passa a ser na minha vida, mais você me lembrará de que o propósito real ao qual você está servindo é me proteger da minha culpa, o que reforça o fato de que eu sou culpado. Uma imagem desse processo que pode ajudar é imaginar a nossa mente como um pote de vidro no qual esteja toda a nossa culpa. O que queremos mais do que tudo nesse mundo é manter essa culpa dentro do pote; nós não queremos saber dela. Quando buscamos um parceiro especial, estamos buscando alguém que seja a tampa desse pote. Nós queremos que essa tampa feche o pote hermeticamente. Enquanto ele estiver bem fechado, a minha culpa não pode emergir para a consciência e, portanto, eu não saberei dela, ela fica dentro do meu inconsciente. O próprio fato de eu precisar de você para ser a tampa do meu pote me lembra que há uma coisa terrível no pote que eu não quero deixar escapar. Mais uma vez, o próprio fato de eu precisar de você está me lembrando, inconscientemente, que eu tenho toda essa culpa. A segunda forma através da qual o apego reforça a culpa é a “síndrome da mãe judia”. O que acontece quando essa pessoa que veio para satisfazer todas as minhas necessidades começa a mudar e não satisfaz mais essas necessidades da mesma maneira? Seres humanos infelizmente têm essas qualidades: mudar e crescer; eles não são sempre os mesmos, assim como gostaríamos que fossem. O que isso significa, então, quando a pessoa começa a mudar (talvez não precisando mais de mim como precisava no início) é que a tampa do pote começa a soltar-se. As minhas necessidades especiais não mais serão satisfeitas da forma que eu queria. À medida que essa tampa começa a se abrir, a minha culpa de repente me ameaça vindo para a superfície e escapando. A culpa escapando do pote significa que eu passo a estar consciente de que realmente acredito que sou terrível. E farei qualquer coisa nesse mundo para evitar essa experiência. Num certo ponto no Êxodo, Deus diz a Moisés: “Ninguém pode contemplar a minha face e viver”. Nós podemos declarar a mesma coisa sobre a culpa: ninguém pode olhar a face da culpa e viver. A experiência de confrontar o que realmente acreditamos sobre nós mesmos, O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 28 como somos terríveis, é tão avassaladora que fazemos qualquer coisa no mundo contanto que não tenhamos que lidar com ela. Assim, quando essa tampa começa a afrouxar e a minha culpa começa a borbulhar subindo para a superfície, eu entro em pânico porque de repente sou confrontado por todos esses sentimentos devastadores que tenho sobre mim mesmo. A minha meta é então muito simples: conseguir fechar hermeticamente de novo essa tampa tão rápido quanto possível. Isso significa que eu quero que você volte a ser o que era antes. Não existe nenhuma forma mais poderosa para conseguir que alguém faça o que você quer do que fazer com que essa pessoa se sinta culpada. Se você quer que qualquer coisa seja feita por uma outra pessoa, você fará com que ela se sinta bem culpada e ela fará o que você quer. Ninguém gosta de se sentir culpado. A manipulação através da culpa é a marca registrada da mãe judia. O que eu vou fazer é tentar tornar você culpado e direi qualquer coisa assim: “O que aconteceu com você? Você costumava ser uma pessoa tão decente, boa, amorosa, preocupada com os outros, sensível, gentil, compreensiva. Agora, olhe para você! Como você mudou! Agora você não dá a mínima. Você é egoísta, só pensa em si mesmo, insensível,” e assim por diante. O que eu estou realmente tentando fazer é tornar você tão culpado que você acabe voltando a ser como era antes. Todo mundo sabe disso, certo? Agora, se você está jogando o mesmo jogo de culpa que eu, você fará o que eu quero, a tampa volta a se fechar, e eu amarei você como amava antes. Se você não faz, e não joga mais esse jogo, eu vou ficar com muita raiva de você e o meu amor vai rapidamente virar ódio (que é o que era o tempo todo). Você sempre odeia a pessoa da qual depende pelas razões que eu dei no primeiro exemplo, porque a pessoa da qual você depende está sempre lembrando a você a sua culpa, que você odeia. E portanto, por associação, você também odeia a pessoa que pretende amar. Esse segundo exemplo mostra que isso é o que realmente é. Quando você não mais satisfizer as minhas necessidades assim como eu quero que sejam satisfeitas, começarei a odiar você. E eu te odiarei porque não consigo lidar com a minha culpa. É o que se chama o fim da lua-de-mel. Nos dias de hoje, isso parece acontecer cada vez mais depressa. Quando as necessidades especiais não são mais satisfeitas da forma que costumavam ser, o amor vira ódio. O que acontece quando a outra pessoa diz que não vai mais ser a tampa do seu pote é bastante óbvio. Nesse caso, eu acho outra pessoa. Assim, você apenas passa a mesma dinâmica de uma pessoa para outra. Você pode fazer isso muitas vezes, repetindo sempre, até que faça alguma coisa com o seu problema real, que é a sua própria culpa. Quando você realmente deixar que essa culpa se vá, estará pronto para entrar em um relacionamento diferente. Isso será amor tal como o Espírito Santo o vê. Mas até que faça isso, e a sua única meta é manter a sua própria culpa escondida, você apenas procura uma outra tampa para o pote. E o mundo sempre coopera muito bem para acharmos pessoas que satisfaçam essa necessidade para nós. A terceira forma na qual o especialismo é um disfarce para o ódio, e para a culpa ao invés do amor, se mantém tanto para os relacionamentos especiais de ódio quanto para os de apego. Sempre que usamos as pessoas como um veículo para satisfazer as nossas necessidades, não estamos realmente vendo quem elas são; não estamos vendo o Cristo nelas. Ao invés disso, só estamos interessados em manipulá-las de forma que venham a O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 29 satisfazer as nossas próprias necessidades. Não estamos realmente vendo-as como a luz que brilha nelas; estamos vendo-as na forma particular de escuridão que corresponderá a nossa forma particular de escuridão. E sempre que usarmos ou manipulamos qualquer um para preencher as nossas necessidades, estamos realmente atacando-o porque estamos atacando a sua verdadeira identidade como filho de Deus, vendo-o como um ego, o que reforça o ego em nós mesmos. O ataque é sempre ódio, assim não podemos deixar de sentir culpa por ter agido assim. Essas três formas nos mostram exatamente como o ego vai reforçar a culpa, mesmo se nos diz que está fazendo outra coisa. Portanto o relacionamento especial de apego e ódio é o lar da culpa. Mais uma vez, o que faz o apego ser tal devastação e uma defesa tão eficaz do ponto de vista do ego é que ele parece ser o que não é. Quando o apego acontece pela primeira vez parece ser uma coisa tão maravilhosa, santa, e amorosa. Todavia, como pode mudar rapidamente, se não formos capazes de ir além do que parece existir para confrontarmos com o problema básico que é a nossa culpa. 2.1.5. Diferença entre Relacionamentos de Apego e Ódio e Relacionamentos Santos Imaginemos um quadro, uma moldura com um retrato dentro, que simboliza o nosso relacionamento. O retrato do ego é o apego e retrata a culpa, o sofrimento e, em última instância, a morte. Esse não é o retrato que o ego quer que vejamos, porque, repetindo, se realmente soubéssemos o que ele pretende, não prestaríamos nenhuma atenção a ele. Assim o ego coloca o seu retrato numa moldura muito bonita e cheia de enfeites que cintila com diamantes e rubis e todos os tipos de gemas sofisticadas. Nós somos seduzidos pela moldura, ou pelos bons sentimentos aparentes que o especialismo vai nos dar e não reconhecemos a dádiva real da culpa e da morte. Só quando nos aproximamos da moldura e realmente olhamos para ela podemos ver que os diamantes são realmente lágrimas e os rubis gotas de sangue. O ego, de fato, é apenas isso. Por outro lado, o retrato do Espírito Santo é muito diferente. A moldura do Espírito Santo tem muita folga e ela dá espaço para que possamos ver a dádiva real que é o Amor Incondicional de Deus. Há uma outra qualidade que é muito importante e sempre uma indicação indubitável para percebermos se estamos envolvidos em um relacionamento especial (apego) ou em um relacionamento santo. Sempre podemos notar isso pela nossa atitude para com as outras pessoas. Se estamos envolvidos em um relacionamento especial, esse relacionamento será exclusivo. Não haverá espaço nele para ninguém mais. A razão para isso é óbvia, uma vez que tenhamos reconhecido como o ego está realmente funcionando. Se eu fiz de você o meu salvador, e se você está me salvando da minha culpa, então isso significa que o seu amor por mim e a atenção que você me dá vão me salvar dessa culpa que eu estou tentando manter escondida. Mas se você começa a se interessar por qualquer coisa que não seja eu - seja uma outra pessoa ou outra atividade - você não está me dando cem por cento da sua atenção. Qualquer que seja a medida do deslocamento do seu interesse ou da sua atenção para outra coisa ou outra pessoa, nessa medida haverá menos para mim. Isso significa que, se eu não recebo cem por cento, essa tampa do meu pote vai começar a soltar-se. E essa é a fonte O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 30 de todo ciúme. As pessoas ficam com ciúme por sentirem que as suas necessidades especiais não serão satisfeitas da forma como deveriam. Portanto, se você ama alguma outra pessoa além de mim, isso significa que eu vou receber menos amor. Para o ego, o amor é quantitativo. Há apenas uma certa quantidade disponível. Logo, se eu amo essa pessoa não posso amar aquela com a mesma intensidade. Para o Espírito Santo, o amor é qualitativo e abraça todas as pessoas. (Assim vivia São Francisco de Assis, assim viviam Ir. Dulce, Ir. Tereza de Calcutá, Papa João Paulo II e agora o nosso querido Papa Francisco) Isso não significa que amamos todas as pessoas da mesma forma, isso não é possível neste mundo. Mas, de fato, significa que a fonte do amor é a mesma; o amor em si é o mesmo, contudo os meios de expressão serão diferentes. Eu vou ‘amar’ os meus pais ‘mais’ do que amo os pais de qualquer pessoa, não em qualidade, mas em quantidade. O amor será basicamente o mesmo, todavia, como é óbvio será expresso de um modo diferente. Isso não significa que, porque eu amo meus pais vou amar os seus menos, ou que meus pais sejam melhores do que os seus. Tudo o que isso quer dizer é que essas são as pessoas que eu escolhi, pois no meu relacionamento com elas aprenderei o perdão que vai permitir que eu me lembre do Amor de Deus. Isso não significa que você deva sentir-se culpado por ter um relacionamento mais profundo com certas pessoas do que com outras. Há exemplos muito claros disso nos evangelhos, onde Jesus era mais íntimo de certos discípulos do que de outros, e era mais íntimo de seus discípulos do que dos seus outros seguidores. Não quer dizer que ele amasse menos a nenhuma daquelas pessoas, mas que a expressão do amor era mais íntima e profunda com uns do que com outros. Um relacionamento santo significa que, por amar uma pessoa, você não está excluindo uma outra; isso não acontece às custas de ninguém. O amor nesse mundo não é assim. O amor especial será sempre as custas de alguém. É sempre um amor de comparações, onde certas pessoas são comparadas com outras; algumas não são boas o suficiente e algumas são aceitáveis. Do ponto de vista do relacionamento santo, você apenas reconhece que certas pessoas foram ‘dadas’ a você e foram escolhidas por você de modo que você possa aprender e ensinar certas lições, mas isso não faz com que aquela pessoa seja melhor ou pior do que ninguém mais. Repetindo, é assim que você pode sempre distinguir um relacionamento especial de um relacionamento santo: pela medida na qual ele exclui as outras pessoas. 2.1.6 Causa e Efeito O que estabelece que algo é uma causa é que conduz a efeitos. E o que estabelece algo como um efeito é ter vindo de uma causa. Assim, o que estabelece algo como uma causa é que ela tem efeitos. Do mesmo modo, o que estabelece algo como um efeito é que ele tem uma causa. Esse é um princípio fundamental desse mundo e também do Céu. Deus é a Primeira Causa e o Efeito é Seu Filho Jesus Cristo. Deus é a Causa que estabeleceu Seu Filho como o Efeito. E como um Efeito de Deus, nós estabelecemos Deus como o Criador ou o Pai. Deus é eterno (causa) então produz a eternidade (efeito). Deus é uno (causa) então todos O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 31 seremos um no céu (efeito). Deus é bom (causa) então nós sermos bons no céu (efeito) e assim por diante. O princípio também funciona neste mundo, de tal modo que toda ação tem uma reação. O que isso também significa é que se algo não é uma causa não pode existir nesse mundo. Tudo nesse mundo tem que ter um efeito, de outro modo não existiria. Toda ação tem que ter uma reação: esse é um princípio fundamental da física. Se algo existe, terá um efeito em alguma outra coisa. Portanto, tudo o que existe nesse mundo será uma causa e terá um efeito, e é esse efeito que estabelece a causa. Certo? Vamos recordar a estória bíblica do pecado original. Quando Deus pegou Adão e Eva e os puniu, Ele expressou a punição dentro de um contexto causal. Ele disse: “Porque vocês fizeram isso, é isso que vai acontecer. Porque vocês pecaram, o efeito do seu pecado será uma vida de sofrimento.” Na verdade Deus não puniu Adão e Eva ele simplesmente constatou (causa e efeito) como vocês querem viver separados de mim (causa) terão por efeito os sofrimentos da separação (efeito). O pecado original, portanto, é a causa de todo o sofrimento desse mundo, o pecado da separação, que deu origem ao ego, dá lugar ao seu efeito: uma vida de sofrimento, dor e morte. Tudo o que conhecemos nesse mundo é o efeito do Pecado Original. O pecado, portanto, é a causa, do qual a dor, o sofrimento e a morte são o efeito. São Paulo fez uma frase brilhante quando disse: “O salário do pecado é a morte.” Ele estava dizendo exatamente a mesma coisa. O pecado é a causa, e a morte é o efeito. Não há nenhuma testemunha mais poderosa da realidade do mundo separado do que a morte. Lembremos da oração com que nós começamos esta apostila a Salve Rainha: ...A vós bradamos, os degredados filhos de Eva. A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. ...E depois deste desterro.... Esta oração deixa clara e explícita a situação do ser humano neste mundo afastado de Deus efeito do Pecado Original. Agora, se o maior efeito do pecado nesse mundo é a morte, ao demonstrar que a morte foi destruída por Jesus Cristo, acabaremos com o efeito e simultaneamente com a causa pois não existe causa sem efeito e foi isto que Cristo fez ao Ressuscitar. Ele acabou com o efeito do Pecado Original que é a morte e por consequência ele acabou também com a causa que é o Pecado Original nos reconciliando com o Pai. Vencendo a morte, Cristo nos livrou de todos os pecados. O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 32 Resumindo O pecado Original fez com que o ser humano se separasse de Pecado Original Deus, isto gerou CULPA e MEDO da punição divina. O ser humano não (separação) querendo assumir esse pecado o NEGA e o PROJETA nas pessoas e coisas deste mundo através de um ciclo secundário de ataque/defesa. culpa Não podendo recorrer a Deus para ajuda-lo, pois o ser humano vê Deus como um inimigo, procura neste mundo um substituto para medo Deus APEGOS (ídolos) e ÓDIO. Não importa se o relacionamento é de apego ou ódio ou com quem se tem este relacionamento isso vai gerar negação projeção mais culpa, mantendo assim um sistema fechado de culpa: Inicia na culpa e culmina na culpa conforme o quadro ao lado. Acreditando que toda culpa merece punição o ser humano se apego(ídolos) Ódio pune de todas as formas possíveis e imaginárias que são os nossos culpa problemas, as nossas doenças, o nosso sofrimento. Cristo veio ao mundo exatamente para acabar com este ciclo de auto punição culpa, por isso ele se declara como sendo “O Cordeiro de Deus que veio tirar o pecado do mundo”. Destruindo o pecado original Cristo estará doenças, sofrimentos, destruindo também todo o sistema de culpa. Isso Ele faz através da problemas, etc. Encarnação (assumindo a humanidade), Morte (expiando os nossos pecados) e Ressurreição (nos conduzindo de volta ao Pai) este será o assunto a Apostila 2/3. O Conteúdo do Querigma: Da Criação à Parusia - Apostila 1/3 – Pe. Genival – Abril/2015 33