345 MAPEAMENTO GEOAMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DO MOINHO Juliano Batista Romualdo, [email protected] Graduando em Geografia pela Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ, Bolsista PIBIC/UFSJ Thiago Henrique Antônio Silva, [email protected] Aluno de Ensino Médio, Bolsista PIBIC/JUNIOR/FAPEMIG Silvia Elena Ventorini, [email protected], Profa. Dra. do Departamento de Geociências da Universidade Federal de São João del-Rei – UFSJ Introdução A partir da década de 1960 o Brasil passou por processo rápido de crescimento urbano e em muitos municípios este fato ocorreu sem um planejamento adequado. Vertentes e áreas de várzeas foram ocupadas pelo homem sob parâmetros funcionais e tecnicistas que desconsideram a geomorfologia fluvial e seus processos naturais. Em muitas cidades brasileiras é comum encontrar paisagens fluviais altamente modificadas, apresentando impactos como poluição das águas, assoreamentos dos leitos dos rios, retilinização e canalização de canais, devastação das áreas de preservação, ocupação de planícies de inundação, impermeabilização desordenada de vertentes etc. (PORATH, 2004). A significativa expansão urbana nas últimas décadas e os ineficientes planejamento e gestão do espaço urbano resultaram em ocupação de áreas indevidas (ALMEIDA, VENTORINI, 2014) e “esta situação se agrava quando o próprio sítio é naturalmente frágil [...]”(MARANDOLA JR. et al., 2013, p. 37). O município de São João del-Rei insere-se neste contexto. O município está localizado na mesorregião dos Campos das Vertentes, na porção centro - sul do estado de Minas Gerais entre as coordenadas geográficas 21°0’S a 21°30’S e 44°0’O a 44°35’O e com extensão territorial de 1.464.327m2. Seu surgimento teve inicio nas encostas da Serra do Lenheiro e em 1713 foi elevado à vila, direcionando a organização política e Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo administrativa e orientando a formação urbana em área próxima as margens do Córrego do Lenheiro (MALDOS, 2000). Desde o surgimento do município, áreas de bacias hidrográficas que fazem parte da Bacia do Rio das Mortes foram utilizadas para ocupação urbana e rural sem medidas adequadas de planejamento e gestão para a amenização de impactos e/ou preservação dos recursos naturais (PÔSSA, VENTORINI, 2014). Os estudos de Pôssa et. al. (2012) e Almeida e Ventorini (2014) mostram que as bacias hidrográficas localizadas no município não são consideradas no planejamento e gestão do uso da terra, seja este rural ou urbano. Indicam ainda que não há o cumprimento da determinação da Lei 9.433\97 de 08 de janeiro de 1997 que estabelece princípios básicos para a gestão dos recursos hídricos no país como: adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamento; o reconhecimento de que a água é um bem econômico; a necessidade de serem contemplados os usos múltiplos existentes e potenciais do recurso e a implementação de um modelo de gestão descentralizada e participativa. Para os autores, apesar de a legislação brasileira legitimar a bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão, os gestores do município de São João delRei enfrentam dificuldades para a adoção irrestrita desse princípio, principalmente por não haver um mapeamento digital como apoio ao diagnostico e prognostico dos impactos nas bacias. A ausência dessa base instigou o inicio de um estudo1 com objetivo principal de conhecer e mapear a situação Geoambiental de bacias hidrográficas, bem como mapear e analisar áreas inaptas e aptas ao uso urbano localizadas no município de São João del-Rei. Neste artigo relatamos os resultados parciais do mapeamento Geoambiental da Bacia do Córrego do Moinho. Sua importância consiste nas interações de input e ouput dos fluxos de matérias e energias, nas quais sociedade e natureza se integram (ZACHARIAS, 2007). Além disso, a importância de sua escolha consiste na localização de um aterro sanitário controlado em área de seus afluentes que tem contribuído significativamente para sua degradação. 1 O estudo foi iniciado em 2011 e é coordenado pela Profa Dra Silvia Elena Ventorini do Departamento de Geociências da Universidade Federal de São João del-Rei. A pesquisa é recebe o apoio financeiro, desde 2013, da Pro-Reitoria de Extensão, por meio do Programa denominado Mapeamento de São João del-Rei –MG e da Fapemig por meio de uma bolsa de iniciação Científica. O estudo originou o Grupo de estudo de Cartografia Digital da UFSJ, que faz parte do Grupo de Pesquisa CNPq Geotecnologias e Cartografia aplicadas à Geografia (GEOCART), cujo líder é a Profa Dra Maria Isabel Castreghini de Freitas do Departamento de Planejamento Territorial e Geoprocessamento do Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE), da Universidade Estadual Paulista –Unesp- Campus de Rio Claro. Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 346 Procedimentos metodológicos Tendo como pressuposto a importância do estudo integrado de aspectos físicos e sociais de bacias hidrográficas adota-se como fundamentação teórica e metodológica a Teoria Geral dos Sistemas (TGS) que teve seu iniciou em 1929 com a pesquisa de R. Defay envolvendo a Termodinâmica. Na Geografia sua aplicação começou com base nas publicações de Straller nos anos de 1950 e 1952. No entanto, nas pesquisas geográficas, “as proposições mais explícitas sobre o uso da teoria de sistema em Geografia Física começaram a se avolumar na década de 1960, servido como ponto de partida o artigo de Chorley” (CHRISTOFOLETTI, 1990, p. 21). O uso da Teoria dos Sistemas em pesquisas geográficas possibilitou sistematizar e integrar aspectos físicos relacionando-os com suas conexões e processos trazendo à luz as discussões sobre a importância de não estudar o meio físico como produto final (TROPPMAIR, 2004, 2006). Primeiramente definiu-se a projeção, o sistema de coordenadas e o datum do projeto e registrou-se a carta topográfica. Em seguida foi delimitado a área da Bacia do Córrego do Moinho e vetorização as curvas de nível e a drenagem, seguida de edição vetorial para correção da fisiografia da rede de drenagem, tendo como referência a imagem RapidEye de 2013. A partir dos dados da rede de drenagem do limite de área da bacia foi elaborada a Carta de Drenagem. A partir do shapefile das feições de drenagem foram gerados buffers (áreas) de 50 metros ao entorno das nascentes e em de 30 metros em cada margem de rios. As dimensões dos buffers tem como base a lei 12.651 de 25 de maio de 2012 que determina uma zona de preservação de 30 metros para rios de até 10 metros de largura e um raio de 50 metros para as nascentes. Os buffers sobrepostos ao Mapa de Uso e Cobertura da Terra e imagem RapidEye possibilita a análise da situação das áreas de preservação permanente. O Mapa de Uso foi elaborado por meio da vetorização das tipologias de uso e cobertura adotando técnicas de fotointerpretação A veracidade das informações mapeadas foi verificada por meio de trabalho de campo. Resultados Parciais A analise dos buffers sobrepostos na imagem RapidEye de 2013 revelou o não cumprimento da legislação que determina uma área de proteção da mata ciliar de 30m de cada lado de rios com larguras até 10m e de raio de 50m de mata ciliar no entrono de nascentes. Em vários trechos do curso do rio, assim como em várias nascentes observou-se a retirada da cobertura vegetal para a criação de gado ou para o plantio. Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 347 O mapa de uso da terra mostra amplas áreas de plantações agrícolas com predominância da silvicultura e algumas áreas com solo exposto. O resultado do mapa hipsométrico mostra que a amplitude na área da bacia é 417 metros (altitude varia de 700 a 1117m). A análise indica ainda que o aterro sanitário localiza-se em uma área elevada do relevo, (entre 1102 a 1080, aproximadamente) e em altitude acima de uma nascente e, consequentemente, um afluente, fato que colabora para que o chorume contamine as águas do rio. Os dados coletados em campo mostram quantidade significativa de resíduos sólidos depositados inadequadamente, além de presenças de animais de grande e pequeno porte, como cavalos, cachorros, urubus etc. Observou-se ainda que, chorume ocasiona poluição das nascentes e córregos que formam a Bacia do Córrego do Moinho. As figuras 2 e 3 ilustram fatores observados no local. Figura 2: Vala aberta para deposição de resíduos com afloramento de lençol freático Situação observada no dia16 de julho de 2015. Fonte: Acervo dos autores A pesquisa será aprofundada com a elaboração de outros mapas como de declividade, geológico e solo. Além disso, será utilizada a analise multicritério para geração de um modelo de síntese dos impactos ambientais. Considerações Finais A pesquisa mostra a necessidade de realizar medidas mitigadoras para amenizar os impactos na Bacia do Córrego do Moinho, principalmente em relação ao deposito indevido de resíduos sólidos, a poluição das águas e ao desmatamento de áreas ao entorno de nascente e rios. O mapeamento e os dados coletados em campo indicam o não cumprimento da Lei 9.433\97 de 8 de janeiro de 1997 no que se refere à adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão ambiental. A geração de uma base de dados cartográfica em meio digital da bacia e o uso da analise multicritério permitirá realizar um diagnóstico ambiental e indicar os tipos de usos e os graus de preservação e degradação. O estudo poderá, ainda, auxiliar Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 348 gestores e planejadores municipais, assim como pesquisadores a propor medidas mitigadoras para a amenização dos impactos na bacia. Referencias Bibliográficas ALMEIDA, Gustavo Pyra; VENTORINI, Silvia Elena. Mapeamento participativo de áreas de risco a movimento de massa no bairro Senhor dos Montes – São João Del - Rei, MG. Caderno de Geografia, v.24, número especial (1), 2014. BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9433.htm. Acesso em: 27 de março 2016 BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm. Acesso em: 15 de março 2016. CHRISTOFOLETTI, Antônio. A aplicação da abordagem em sistema na geografia física. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 2, n. 52, p.21-35, jun. 1990. MALDOS, R. A formação urbana da cidade de São João del-Rei. 2000. MARANDOLA JUNIOR, Eduardo et al. Crescimento urbano e áreas de risco no litoral norte de São Paulo. Revista Brasileira de Estudo de População, Campinas, v. 30, n. 1, p.35-56, 1 jun. 2013. Semestral. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbepop/v30n1/v30n1a03.pdf>. Acesso em: 30 de março de 2016 PORATH, S. L. A paisagem de rios urbanos: a presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau. 2004. 150f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina. PÔSSA, E. M; et al. Base de dados cartográficos e o diagnóstico ambiental: a bacia do córrego do Júlio - São João del-Rei - MG. 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