Mesmo com poluição, banhistas continuam frequentando

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CIDADES
São Luís, 29 e 30 de abril de 2017. Sábado e Domingo O Estado do Maranhão
Mesmo com poluição,
banhistas continuam
frequentando praias
Nem as placas que apontam a impropriedade da água para banho afastam
os banhistas do mar; o que muitos não sabem, porém, é do perigo que correm
Flora Dolores
Mesmo com todas as praias consideradas impróprias para banho, banhistas se arriscam no mar, em São Luís; há perigo de contrair doenças
JOCK DEAN
Da equipe de O Estado
A
qualidade das praias da orla de São Luís é motivo de
preocupação desde 2012,
mas isso não tem atrapalhado o banho de mar da população.
Banhistas ouvidos por O Estado dizem não ter costume de consultar a
qualidade das praias. Muitos alegam
que a capital tem poucas opções de
lazer e, por isso, não se pode abrir
mão da orla. Há também quem alegue tomar certos cuidados para evitar problemas de saúde decorrentes
do contato com a água poluída. Segundo profissionais de saúde, não
apenas a água, mas também a areia
pode causar diversas infecções.
O maior fluxo de pessoas nas
praias de São Luís é no fim de semana e nos feriados, mas, mesmo de segunda-feira a sexta-feira, principalmente turistas hospedados nos hotéis ao longo da Avenida Litorânea ou
bairros próximos frequentam a orla
da cidade. Já a população local aproveita para praticar atividades físicas
ou descansar com a família. Nem
mesmo todas as placas ao longo da
Avenida Litorânea, cartão-postal da
cidade e trecho mais badalado da orla, afasta as pessoas.
Segundo quem trabalha nos bares,
os turistas são os que mais perguntam
sobre as condições das praias. “Eles
veem as placas e perguntam se podem tomar banho. Eu sempre recomendo que não, mas ainda assim
muitos deles mergulham. Muita gente vem de cidades onde não há mar e
acaba não resistindo. Quem mora em
São Luís se preocupa menos com a
poluição. Quando chegam, pedem logo para ficar em uma mesa na areia”,
afirma Arnaldo Moreira, garçom.
Na sexta-feira, dia 28, a praia não
estava lotada, mas muita gente curtia
o tempo livre no local. Luciana Rodrigues levou as filhas e as sobrinhas à
praia. As crianças, como é comum,
brincavam nas poças d’água e de se
enterrar na areia. Para evitar que as
meninas tenham algum problema de
saúde, ela toma certos cuidados. “Além
do protetor solar, eu trago água filtrada para que elas lavem as mãos e
quando chegam em casa, elas tomam
banho e lavam os cabelos”, conta.
Mas há quem prefira evitar o mar.
O funcionário público Antônio Castro é um deles. Ele costuma ir à praia
para jogar futebol com os amigos,
mas banho de mar é algo que ele não
faz há muito tempo em São Luís. “Eu
comecei a ter micose e percebi que o
problema acontecia sempre que eu
tomava banho de mar, então, parei
de fazer isso”, afirma.
Cuidados
A infectologista Rosângela Cipriano
destacou que, como muitas praias de
São Luís estão impróprias para banho, as pessoas precisam mesmo to-
PRAIAS POLUÍDAS
Todos os pontos de praia analisados pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos
Naturais (Sema) foram considerados poluídos porque apresentaram níveis de Escherichia coli
(coliformes fecais) acima do que determina a Resolução nº 274/00, do Conselho Nacional de
Meio Ambiente (Conama), que considera águas das praias próprias para o banho quando em
80% ou mais de um conjunto de amostras, obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores,
e colhidas no mesmo local, houver, no máximo, 800 Escherichia coli por 100 mililitros de
água. Para alertar os frequentadores das praias da Região Metropolitana de São Luís, todos os
trechos interditados ou impróprios estão sinalizados com placas.
DOENÇAS COMUNS QUE PODEM OCORRER
Bicho geográfico
O que é: parasita que vive no
intestino de cães e gatos, que é
depositado no solo pelas fezes.
A larva penetra e se aloja
embaixo da pele, formando um
caminho parecido com um
mapa.
Sintomas: coceira e o desenho
feito pelo caminho do parasita.
Prevenção: se caminhar em
ambiente aberto, como areia,
use calçado ou chinelo. Evite
levar animais à praia.
Frieira
O que é: doença provocada por
um fungo que causa micose
entre os dedos, mais conhecido
como pé de atleta.
Sintomas: rachaduras entre os
dedos que provocam coceira
intensa.
Prevenção: seque bem os pés
depois de lavá-los,
principalmente entre os dedos.
Se for preciso, use secador de
cabelos.
Intoxicação alimentar
mar cuidado para não contraírem alguma doença. “Em São Luís, são feitos apenas estudos para testar a qualidade da água, mas não para testar a
situação da areia das praias. Como algumas das praias estão com os níveis
de coliformes fecais acima do permitido, os banhistas estão propícios a terem problemas gastrointestinais. Como a água entra em contato com a
areia, é possível que essa areia também esteja contaminada”, explica.
O contato com a água contaminada pode causar gastroenterite, a mais
comum entre as doenças que se pega na água imprópria para banho. A
gastroenterite pode ser causada por
bactérias, protozoários, como as amebas, ou vírus, como o rotavírus e o norovírus. Esses micro-organismos entram no corpo quando a pessoa ingere água contaminada, ainda que em
pequenas quantidades, ou alimentos
que tiveram contato com ela. De maneira geral, os sintomas são vômito e
diarreia, mas também pode haver cólicas, febre e sangue nas fezes.
Outra doença que pode ser contraída é a hepatite A. Essa doença é
causada por um vírus que chega à
água pelas fezes de pessoas infectadas. A contaminação é por via oral, ou
seja, pela boca, por meio da água ou
O que é: doença provocada por
bactérias que não alteram o
sabor dos alimentos. Em geral
é causado pela ingestão de
alimentos ou água
contaminados.
Sintomas: diarreia, vômito,
febre alta, mal estar e dor no
corpo.
Prevenção: evite alimentos de
origem desconhecida. Tome
cuidado com a higiene na hora
de preparar a comida.
Desidratação
O que é: efeito provocado pela
falta de líquidos no organismo.
Sintomas: provoca dores no
corpo e na cabeça, vômito,
tontura e queda de pressão
arterial.
Prevenção: beber bastante
líquido, de preferência, água.
Em alguns casos, procurar o
médico.
Insolação
O que é: exposição excessiva
ao sol que causa queimaduras
na pele que vão desde a
vermelhidão até a formação de
bolhas.
Sintomas: mal-estar, ardência
na pele, queimadura de
segundo grau, bolhas. Em
alguns casos, enjoo, vômito e
tontura.
Prevenção: evite exposição
prolongada ao sol, entre 10h e
16h, use filtro solar com fator
acima de 30 e beba bastante
líquidos.
Câncer de pele
O que é: doença provocada
pela exposição excessiva ao
sol.
Sintomas: manchas que coçam,
ardem, escamam ou sangram;
sinais ou pintas que mudam de
tamanho, formato e cor;
feridas que não cicatrizam em
até quatro semanas e mudança
na textura ou cor da pele.
Prevenção: evite exposição
prolongada ao sol, entre 10h e
16h e bronzeadores caseiros.
Use proteção adequada, como
bonés e filtro solar
de alimentos que tenham o vírus – ele
consegue sobreviver por cerca de quatro horas na pele, após o banho de
mar. “Nas praias de São Luís, os testes
feitos não conseguem detectar o vírus
da hepatite A. Além disso, não sei se
ele sobreviveria por muito tempo na
água salgada ao ponto de contaminar
as pessoas”, diz Rosângela Cipriano.
A médica alerta ainda que, por
causa dos seus hábitos, as crianças
estão mais sujeitas a contrair essas
doenças, pois é comum que elas ingiram a água do mar, se enterrem na
areia e cometam outras imprudências. “Além disso, elas não têm um sistema imunológico menos resistente
que o dos adultos”, informou.
Para prevenir as doenças ou diminuir os riscos de contraí-las, é necessário que cuidados básicos sejam tomados. Entre eles, observar os aspectos, conservação e transporte dos
alimentos consumidos em praias,
não frequentar praias sinalizadas como impróprias para banho, evitar levar animais para as praias, manter o
corpo e os pé secos, lavar as roupas
de banho após o uso, usar chinelos de
borracha para não manter o pé úmido, evitar coçar os olhos, caso necessário, lavar as mãos, ingerir bastante
água, evitar exposição excessiva ao sol
e tomar cuidado com os afogamentos. “Como parte das praias de São
Luís estão poluídas, o ideal seria que
as pessoas não tomassem banho de
mar nesses locais”, disse Rosângela
Cipriano, infectologista.
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