Sobre traços contínuos e graduais do português brasileiro Maria Marta Pereira Scherre (UNB / UFES) Nossa comunicação tem como objetivo mapear e discutir resultados de pesquisas sociolingüísticas de base laboviana que envolvem três grandes fenômenos variáveis no português brasileiro: a expressão gramatical do imperativo (Scherre et alii, 1998; Sampaio, 2001; Lima, 2005; Scherre, 2007); a alternância tu ~ você (Lucca, 2005; Paredes Silva, 2003; Dias, 2007); a concordância verbal variável (Naro & Scherre, 2007; Loregian-Penkal, 2004; Cardoso, 2005; Scherre & Naro, 2007), com base em dados de fala e de escrita. No desenrolar de nossa discussão, assumimos as idéias de Bortoni-Ricardo (1998) de que um entendimento mais adequado do português brasileiro se dá com “a adoção de um modelo de três continua: o rural-urbano; o da oralidade-letramento e o de monitoração estilística”, acrescido de um quarto continuum, o geográfico, não abarcado pelo rural-urbano. Além disso, adotamos da mesma autora a noção de traços descontínuos, que recebem maior estigma dos grupos urbanos por estarem presentes nas variedades de grupos localizados na base da hierarquia social, e de traços graduais presentes em todas as variedades de todos os brasileiros. Os três fenômenos analisados vão nos permitir evidenciar que, fundamentalmente, os traços associados a grupos com menos prestígio social é que são de forma mais explícita atribuídos às variedades populares do português brasileiro e só entram de forma natural na escrita de textos muito informais ou de músicas rurais de raiz. REFERÊNCIAS BORTONI-RICARDO, S. M. A análise do português em três continua: o continuum ruralurbano, o continuum de oralidade-letramento e o continuum de monitoração estilística. In: GroΒe, S. & Zimmermann, K. <<Substandard>> e mudança no português do Brasil. Frankfurt am Main: TFM, 1998. p.101-118. DIAS, E. P. O uso do tu no português brasiliense falado. Dissertação (Mestrado em Lingüística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2007. CARDOSO, R. C. Variação na concordância verbal no indivíduo: um confronto entre o lingüístico e o estilístico. (Mestrado em Lingüística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2005. LOREGIAN-PENKAL, L. (Re)análise da referência de segunda pessoa na fala da região Sul. Tese (Doutorado em Letras) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2004. LIMA, D. P. S. O uso do imperativo na fala de Campo Grande - MS. Dissertação (Mestrado em Lingüística). Universidade de Brasília, Brasília, 2005. LUCCA, N. A variação tu/você na fala brasiliense. Dissertação (Mestrado em Lingüística). Universidade de Brasília, Brasília, 2005. NARO, A. J.; SCHERRE, M. M. P. Origens do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2007. PAREDES SILVA, V. L. O retorno do pronome tu à fala carioca. In: RONCARATI, Cláudia; ABRAÇADO, Jussara. Português brasileiro: contato lingüístico, heterogeneidade e história. Rio de Janeiro: FAPERJ/ 7Letras, 2003, p.160-169. SAMPAIO, D. A. Modo imperativo: sua manifestação/expressão no português contemporâneo. Dissertação (Mestrado em Letras). Salvador: UFBA: 2001. SCHERRE, M. M. P. Aspectos sincrônicos e diacrônicos do imperativo gramatical no português brasileiro. Alfa, São Paulo, 51 (1): 189-222, 2007 SCHERRE, M. M. P.; DIAS, J. G.; FREITAS, V. A. de L.; JESUS, E. T.; OLIVEIRA, H. R. de. Phonic Parallelism: Evidence from the Imperative in Brazilian Portuguese. In: (orgs.) PARADIS, C. et alii. Papers in Sociolinguistics. NWAVE-26 à l'Université Laval (Québec): Nota Bene, 1998, p. 63-72. SCHERRE, M. M. P.; NARO, A. J. Sobre o deslocamento do controle da concordância verbal. Revista de lingüística (PPGL/UFRJ), v.3, p.133 -159, 2007.