TRIAGEM FITOQUÍMICA DE VASSOURÃO-BRANCO (Piptocarpha Angustifolia DUSÉN ex. MALME) Jeferson Jose Pienta(1), Aurea Portes Ferriani (2) (1) Acadêmico do curso de Tecnologia em Bioprocessos e Biotecnologia da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba, PR), [email protected] (2) Orientadora: Profª Dra Aurea Portes Ferriani, [email protected] RESUMO: Piptocarpha angustifolia DUSÉN ex. Malme é uma espécie arbórea nativa pioneira, pertencente à Floresta Ombrófila Mista que apresenta potencial produtivo e ambiental, porém pouco se reconhece de seu perfil fitoquímico. O presente trabalho buscou realizar uma triagem fitoquímica preliminar desta espécie a fim de avaliar a presença de componentes químicos e/ou grupos de metabólitos secundários de interesse farmacológico. Foram realizados ensaios para grupos de taninos, flavonóides, antraquinonas, saponinas, glicosídeos e alcalóides, conforme protocolos específicos de Farmacognosia. Os resultados demonstraram presença de taninos, taninos condensados, glicosídeos, glicosídeos cardiotônicos e alcalóides, grupos que apresentam diversos tipos de atividades farmacológicas, dentre as quais antifúngica, cardiotônica e analgésica, respectivamente. PALAVRAS CHAVES: Metabolismo secundário, defesa vegetal, fitoquímica, Asteraceae. ABSTRACT: Piptocarpha angustifolia DUSÉN ex. Malme is a pioneer tree species native, belonging to the Forest Mixed presenting potential environmental and productive, but little is recognized for its phytochemical profile. This study attempts to make a preliminary phytochemical screening of this species to assess the presence of chemical components and / or groups of secondary metabolites of pharmacological interest. Tests were conducted for groups of tannins, flavonoids, anthraquinones, saponins, glycosides and alkaloids, as specific protocols of Pharmacognosy. The results showed presence of tannins, condensed tannins, glycosides, cardiac glycosides and alkaloids, groups that exhibit different pharmacological activities, among which anti-fungal, analgesic and cardiotonic, respectively. KEYWORDS: Secondary metabolism, plant defense, Phytochemistry, Asteraceae INTRODUÇÃO O Brasil é rico pela diversidade de suas espécies e, considerando que cada espécie possui um conjunto de milhões de indivíduos, há um número inimaginável de compostos produzidos pelo metabolismo das plantas. Diante dessa multiplicidade de compostos é necessária a realização de prospecção preliminar, a fim de elucidar a ocorrência de determinados compostos, e também estabelecer um valioso instrumento de seleção de plantas para estudo (MATOS 1997). Os metabólitos podem ser separados em dois grupos: os metabólitos primários, (glicídios, protídeos e lipídeos) e metabólitos secundários, que podem ser classificados em diversos compostos, terpênicos, alcalóides, glicosídeos entre muitos outros. Uma grande quantidade de substâncias utilizadas na indústria farmacêutica é de origem vegetal, sendo o estudo fitoquímico preliminar apenas uma das etapas do estudo químico, levando em consideração a multiplicidade de constituintes químicos de uma planta (MATOS, 1997). A família Asteraceae, segundo aspectos químicos, morfológicos e anatômicos, está num dos estágios mais avançados de evolução botânica em angiospermas (CRONQUIST, 1988). A diversidade de propriedades medicinais das plantas dessa família se deve à capacidade bioativa dos metabólitos especiais por ela produzidos, principalmente terpenos, flavonóides e poliacetilenos, cujos constituintes característicos são as lactonas sesquiterpênicas (FREIRE, et al, 1996). A ampla ocorrência de lactonas sesquiterpênicas é a característica química mais marcante da família, encontradas em todas as tribos, com exceção de Tageteae. São conhecidas mais de 2500 lactonas, a maioria isolada de Asteraceae. Várias lactonas são conhecidas por causarem dermatite, enquanto outras inibem a penetração da cercária de Schistosoma mansoni (MAZZA, et al 2000). O extrato seco etanólico de Achillea millefolium L- ASTERACEAE na concentração de 2000 ppm, apresentou inibição de 56% sobre o patógeno estudado, Colletotrichum musae demostrando a atividade antifúngica (MORAES, 2008). Piptocarpha angustifolia Dusén, ex. Malme pertence à divisão Magnoliophyta (Angiospermae), classe Magnoliopsida (Dicotiledonae), ordem Asterales, família Asteraceae, tribo Vernoniae (CRONQUIST, 1988). A família Asteraceae é formada principalmente por arbustos, ervas e trepadeiras e algumas árvores sendo constituída por cerca de 98% por plantas de pequeno porte (JOLY, 1975). O gênero Piptocarpha compreende cerca de 28 espécies da América tropical, desde o México até o norte da Argentina, (CABRERA; KLEIN, 1980). A espécie é característica da região sul do Brasil, sendo conhecida popularmente no 2 de 8 Paraná como vassourão-branco, no estado do Rio Grande do Sul como vassourão ou vassourão-cavalo e no estado de santa Catarina como vassourão, vassourão-branco e vassourão-de-cavalo (CARVALHO, 2006). Diante da inexistência de trabalhos que apresentem o potencial fitoquímico de P. angustifolia, esta pesquisa busca avaliar potenciais compostos de interesse desta espécie a partir de protocolos de identificação em Farmacognosia para os principais grupos de metabólitos secundários taninos, flavonóides, antraquinonas, saponinas, glicosídeos e alcalóides. MATERIAIS E MÉTODOS Material vegetal: Ramos de plantas matrizes adultas de P. angustifolia (registradas conforme depósito no Herbário da Embrapa Florestas sob nº. HFC 7090) foram coletadas no bairro Mossunguê, município de Curitiba, estado do Paraná, no mês de abril de 2011. O material foi lavado em água corrente e desidratado em estufa com temperatura média de 50º C durante 72 horas. Após a secagem o material foi pulverizado em moinho de facas, sendo armazenado em frascos âmbar e mantido em local seco. Para preparação dos extratos hidroalcoólicos foram pesadas 5g do material pulverizado e colocado em 50 ml de solução de etanol 70%. Para preparação do extrato aquoso foram pesados 5 g do material pulverizado e colocados com 50 ml de água destilada, em seguida os dois béqueres contendo os extratos foram levados ao aquecimento por 30minutos. Os ensaios fitoquímicos foram baseados na metodologia descrita por (MATOS, 1997, SIMÕES 2002) A detecção de taninos foi realizada utilizando-se o principio de precipitação com metais pesados visto que compostos fenólicos interagem formando complexos com íons metálicos (MELLO & SANTOS, 2002). Para determinação de flavonóides a reação utilizada foi a reação de Shinoda. Para determinação de antraquinonas utilizou-se a reação de Borntrager. Para saponinas foi observada a ocorrência de espuma após agitação. Para glicosídeos foi utilizada a reação de Keller-Kiliani e glicosídeos cardiotônicos foram determinados pela reação de Kedde. Para caracterização de alcalóides foram utilizados os reagentes gerais para alcalóides sendo observados os aspectos de turvação ou precipitação. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3 de 8 Os resultados dos ensaios fitoquímicos para taninos, flavonóides, antraquinonas, saponinas, glicosídeos e alcalóides foram descritos na TABELA 1. TABELA 1: Resultados dos ensaios fitoquímicos realizados para P. angustifolia, Curitiba, 2011. COMPOSTO AVALIADO RESULTADO (+ Presença) REAÇÃO UTILIZADA (- Ausência) Taninos + Acetato de Chumbo Taninos hidrolisáveis - Reação com FeCl3 Taninos condensados + Reação com FeCl3 Flavonóides - Shinoda Antraquinonas - Borntrager Saponinas - Ocorrência de espuma (agitação) Glicosídeos + Reação de keller-Killiani Glicosídeos cardiotônicos + Reação de Kedde Alcalóides + RGA* * Reativos de Dragendoff, Mayer, Bertrand, Wagner e Bouchard, Sonnenschein, Hager. Os ensaios realizados através da utilização do extrato hidroalcoólico apresentou resultados positivos para taninos, taninos condensados ou catéquicos (TABELA 1). Os taninos são compostos amplamente distribuídos em plantas lenhosas, relacionados aos compostos fenólicos. Esses metabólitos secundários refletem respostas a stress como infecções, lesões e radiação UV. Dentre os compostos fenólicos podem ser citados fenóis simples, ácidos fenólicos, cumarinas, flavonóides, taninos hidrolisáveis, taninos condensados, ligninas e lignanas. Taninos são polifenóis de alto peso molecular, solúveis em água, que possuem a capacidade de combinar-se com proteínas, precipitando-as (MELLO & SANTOS 2002). Diversas propriedades farmacológicas são atribuídas a eles tais como: antihipertensiva, anti-reumática, antihemorrágica, antiinflamatória, cicatrizante, anti-diarréica (MORAES, 2008). Plantas que contém taninos são indicadas para tratamento de feridas, queimaduras e inflamações, devido a sua complexação com proteínas ou polissacarídeos forma uma camada protetora (complexo tanino-proteina) (MELLO & SANTOS 2002). Taninos condensados foram detectados para as infusões preparadas a partir de Elvira biflora e Apium leptophyllum (SOUZA, et al, 2008). Estas substâncias mostram, também, atividade antibacteriana, 4 de 8 antifúngica, anti-helmíntica, antiinflamatória e antipirética. Foram verificados relatos de atividade antifúngica no extrato aquoso de Arctium minus (Hill) Bernh. Asteraceae (bardana) que possui efeito antifúngico in vitro, principalmente fungistático, contra espécies de Candida orais. (LUBIAN, et al, 2010) A triagem fitoquímica dos extratos de 12 espécies da família Asteraceae de campos rupestres de Diamantina, Minas Gerais, mostrou a presença de classes importantes de metabólitos secundários. O ensaio para taninos foi positivo em todas as amostras, mesmo com a solução diluída em 10 vezes, indicando alta concentração desse metabólito secundários em Asteraceae. (GOTT et al, 2010). O potencial farmacológico de diversas espécies da família Asteraceae vem sendo estudado no Brasil e o composto secundário que é mais recorrente nesta família são as lactonas sequiterpênicas. Estes compostos secundários isolados de espécies como Arnica Montana L.,Cichorium Iintibus. L. Tanacetum parthenium (L) vem sendo investigadas segundas sua atividade antiinflamatória, dessa forma a familia Asteraceae é muito rica nestes compostos químicos e possui elevado potencial farmacológico (COSTA, 2007). CHAGAS, 2010 observou que as lactonas sequiterpênicas, não são as únicas responsáveis pela ação antiinflamatória da planta, Tithonia diversifolia (Asteraceae) e que em seu trabalho, houve a caracterização inédita de ácidos clorogênicos nesta espécie, e tais extratos obtidos de T. diversifolia, tiveram resultados acima do esperado, superando a ação de medicamentos como Indometacina e Acheflan®, afirma também que os terpenos contidos no óleo essencial de T. diversifolia possuem atividade antiinflamatória. Foi detectada presença de heterosídeos cardiotônicos (Tabela 1) este resultado é motivador para a realização de pesquisas direcionadas para estas moléculas, uma vez que estes esteróides presentes na natureza são caracterizados pela sua alta especificidade e poderosa ação que exercem no músculo cardíaco. Esses esteróides ocorrem como glicosídeos esteroidais e devido a sua ação sobre o músculo cardíaco são denominados de glicosídeos cardioativos ou cardíacos (BRUNETON, 1991). Um importante medicamento que provém de um heterosídeo cardiotônico é a digoxina.Compostos heterosídicos são utilizados para o tratamento de insuficiência cardíaca congestiva (ICC). (KUSE & BRIDI 2002). Também foi detectada a presença de alcalóides, os alcalóides possuem diversas aplicações na farmacologia, alguns alcalóides conhecido são cafeína, codeína e morfina. Os alcalóides formam um grupo heterogêneo de substâncias orgânicas que podem apresentar elevada toxicidade e atividade farmacológica notável devido e função amina (COSTA, 1994). CONCLUSÃO. 5 de 8 Os resultados demonstraram presença de taninos, glicosídeos cardiotônicos e alcalóides, grupos potenciais que apresentam diversas atividades farmacológicas, dentre as quais antifúngica, cardiotônica e analgésica, antiinflamatória, respectivamente. Sugere-se o aprofundamento das pesquisas com o intuito de estudar os compostos secundários relatados neste trabalho e apresentadas pela espécie em questão. 6 de 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. BRUNETON, J., Elementos de fito quimica y de farmacognosia. (Espanha): Acribia, 1991. 594 p. CABRERA, A. L; KLEIN, R. M. As plantas compostas. 3 Tribo Vernonieae. Flora Ilustrada Catarinense. Itajaí, Herbário Barbosa Rodrigues, p. 226-407, 1980. CARVALHO, P. E. R. Vassourão-branco. Embrapa Florestas, Colombo PR : circular técnica 115 Técnica, 2006, 6 p. 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