NÃO TROPECE NA LÍNGUA nº 227 3ª Edição por Maria Tereza de Queiroz Piacentini * CONCORDÂNCIA NOMINAL: É PROIBIDO... É PRECISO... Tivemos na semana passada uma orientação ou norma gramatical no seguinte sentido: os adjetivos bom, necessário, preciso e proibido, entre outros, em função predicativa e antepostos ao sujeito, ficam invariáveis (ou seja, no masculino singular) quando o sujeito da oração constituise de substantivo usado de forma indeterminada, de modo vago ou geral, portanto sem artigo definido. Temos abaixo alguns exemplos: 1) Água pura é bom para tudo. 2) Cerveja é gostoso no verão. 3) É necessário muita fé, antes de mais nada. 4) É necessário boa vontade para fazer tal serviço. 5) É proibido entrada de pessoas estranhas. 6) Proibido saída. 7) Proibido carroças na ponte das 7 às 19 h. 8) É proibido animais na enfermaria e no pátio. 9) É preciso qualidades de modelo para ser elegante? 10) É preciso consciência. Desde que haja a determinação (com o artigo definido ou pronome), a concordância é exigida, dizem os manuais de gramática. Eu diria que essa concordância é comum, mas não chega a ser absoluta. Vejamos o mesmo tipo de frase com o substantivo-sujeito determinado: 1) A água que bebemos é boa. 2) É gostosa essa cerveja. 3) É necessária toda a fé possível para se chegar ao céu. 4) É necessária a boa vontade de uma santa para fazer tal serviço. 5) É proibida a entrada de pessoas estranhas. 6) É proibida a saída antes do término da sessão. 7) São proibidas as carroças na ponte das 7 às 19 h. 8) São proibidos os animais sem dono na enfermaria e no pátio. 9) São precisas as seguintes qualidades para figurar na lista das 10 mais. 10) É precisa a consciência de uma criança para ser feliz. * Diretora do Instituto Euclides da Cunha e autora dos livros “Só Vírgula”, “Só Palavras Compostas” e “Língua Brasil – Crase, Pronomes & Curiosidades” - www.linguabrasil.com.br NÃO TROPECE NA LÍNGUA nº 227 3ª Edição por Maria Tereza de Queiroz Piacentini * Até o número 8 temos frases usuais, de uso corrente. Mas as construções 9 e 10 soam completamente artificiais. O que se pode concluir, então, é que no português brasileiro não se costuma flexionar o adjetivo “preciso” quando anteposto ao sujeito. Nós até flexionamos seu similar “necessário”, mas não o adjetivo “preciso”, que sempre tem uma implicação de neutralidade, como vimos na coluna Não Tropece na Língua 226. Comprove-se o fato: É preciso as seguintes qualidades para figurar na lista das 10 mais. É preciso a consciência de uma criança para ser feliz. Ou se usa o adjetivo assim no neutro, ou se faz a substituição: São necessárias as seguintes qualidades para figurar na lista das 10 mais. É necessária a consciência de uma criança para ser feliz. Nessa esteira, perguntou uma leitora se está correta a concordância nominal na seguinte frase: Para a implementação da lei será necessária modificação na estrutura administrativa do Estado. Sua dúvida é se ela deveria usar necessário, já que o substantivo modificação não está antecedido de nenhum artigo (e não está – explico – porque aí se subentende uma modificação ou alguma/ qualquer modificação). A frase está correta, sim, pois é possível usar o neutro/masculino singular nesse caso, mas não obrigatório. Portanto as duas formas são válidas. Enfim, o que rege esse tipo de concordância é a eufonia – assunto ainda para a próxima semana. * Diretora do Instituto Euclides da Cunha e autora dos livros “Só Vírgula”, “Só Palavras Compostas” e “Língua Brasil – Crase, Pronomes & Curiosidades” - www.linguabrasil.com.br