Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC Centro Sócio Econômico Departamento de Ciências Econômicas DAIANE DE BORTOLI SUSTENTABILIDADE DA DÍVIDA PÚBLICA: ANÁLISE DE CENÁRIOS PARA A RELAÇÃO DÍVIDA PÚBLICA/PIB. Florianópolis, 2013 DAIANE DE BORTOLI SUSTENTABILIDADE DA DÍVIDA PÚBLICA: Análise de Cenários para a Relação Dívida Pública/PIB. Monografia submetida ao curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito obrigatório para a obtenção do grau de Bacharelado. Orientador: Professor Roberto Meurer, PósDr. Florianópolis, 2013 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS A Banca Examinadora resolveu atribuir a nota 9,0 à aluna DAIANE DE BORTOLI na disciplina CNM 5420 – Monografia, pela apresentação deste trabalho. Banca Examinadora: ------------------------------------------------------Prof. Roberto Meurer - Orientador -----------------------------------------------------Prof. Jaylson Jair da Silveira -------------------------------------------------Prof. Wagner Leal Arienti Aos meus pais. Meu orgulho! Agradecimentos Aos meus pais, Zélia e Ilário, pelo apoio e incentivo, em todos os momentos e em especial durante a graduação em Ciências Econômicas. À minha irmã Daniele, sempre ao meu lado. À minha irmã Fernanda e minha sobrinha Milene, sempre me incentivando. Ao meu irmão Clodoaldo e ao meu sobrinho Renan, pelo carinho. Ao professor Pós-Dr. Roberto Meurer, meu orientador, que com sabedoria e paciência me auxiliou na elaboração deste trabalho. Ao economista Fábio Giambiagi, autor do livro “Finanças Públicas: Teoria e prática no Brasil”, que foi solícito ao retornar meu contato para esclarecimento de dúvidas. Ao professor José Ramos Pires Manso, Dr., professor da Universidade da Beira Interior – Portugal, que contribuiu com análises a este trabalho, em especial, nas previsões econômicas. Ao Cláudio Magalhães de Oliveira, Dr., ao Luiz Ângelo Darós de Luca, Me., ao professor Gueibi Peres Souza, Dr., do Laboratório de Sistemas do Conhecimento, que me auxiliaram com conhecimentos de previsão econômica. Aos professores do curso de graduação em Ciência Econômicas da Universidade Federal de Santa Catarina, fundamentais no processo de formação. Aos amigos da graduação. Ao Centro Acadêmico Livre de Economia. À Universidade Federal de Santa Catarina, pelos bons momentos que vivi aqui. Resumo O trabalho tem como intuito, analisar perspectivas de evolução da relação dívida/PIB, através da construção de cenários. Estes cenários são criados com base em métodos de previsão econômica por Suavização Exponencial, que decompõe uma série temporal suavizando os valores de dados passados, de modo a dar pesos diferenciados que decaem exponencialmente, permitindo que os valores mais recentes obtenham pesos maiores. Esta metodologia é utilizada para prever o comportamento futuro das variáveis que influenciam a dívida pública, tais como a taxa de inflação, a taxa de juros, as necessidades de financiamento do setor público, a senhoriagem, entre outros. Este estudo visa avaliar se a dívida pública federal interna é sustentável ao longo do tempo, para isso, seu comportamento deve ser constante, ou idealmente, declinante. Com os cenários, foram realizadas simulações para identificar qual o nível adequado das variáveis que compõe a dívida pública, de modo a permitir que ela apresente um comportamento sustentável, analisando as possibilidades de uma mudança nas políticas econômicas para alcançar uma relação dívida pública/PIB menor, fornecendo subsídios para decisões econômicas futuras. Os resultados dos cenários, em especial os cenários realistas, indicam que há uma tendência crescente da dívida como proporção do PIB, porém, com uma variação pequena ao longo do tempo, indicando que, com alguns esforços, é possível controlar o endividamento público, em direção à uma tendência decrescente. Pelo estudo, também foi possível identificar que o superávit primário e a taxa de juros impactam de modo direto a dívida pública e a taxa de crescimento do PIB afeta de modo menos intenso. Palavras – chave: Dívida Pública/PIB, Suavização Exponencial, Sustentabilidade da dívida. ABSTRACT The work has as objective to analyze trends in the debt / GDP, by building scenarios. These scenarios are created based on methods of economic forecasting by exponential smoothing, which decomposes a time series smoothing the data values passed in order to give different weights that decay exponentially, allowing the most recent values get higher weights. This methodology is used to predict the future behavior of the variables that influence public debt, such as the inflation rate, the interest rate, the financing needs of the public sector, seigniorage, among others. This study aims to assess whether the domestic federal public debt is sustainable over time, for this, their behavior must be constant, or ideally declining. With scenarios, simulations were performed to identify the appropriate level of the variables that make up the national debt, to enable it to produce sustainable behavior, analyzing the possibilities of a change in economic policies to achieve a public debt / GDP lower providing subsidies for future economic decisions. The results of the scenarios, especially the realistic scenarios, indicate that there is a growing trend of debt as a proportion of GDP, however, with a small variation over time, indicating that, with some effort, you can control the public debt in towards a decreasing trend. Through the study, it was also possible to identify that the primary surplus and the interest rate impact in a direct public debt and the growth rate of GDP affects less intense. Keywords: Public Debt / GDP, Exponential Smoothing, Debt Sustainability. ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Classificação da receita por categoria econômica e origem....................................... 23 Figura 2 Necessidade Líquida de Financiamento do Governo ................................................. 31 Figura 3 Histórico de Emissão dos Títulos Públicos – DPMFi Total - R$ (Milhões correntes) .................................................................................................................................................. 32 Figura 4 - Emissões de Títulos Públicos – DPMFi Total. Ano: 2012 (%) ............................... 32 Figura 5 Evolução do refinanciamento da DPMFi (%) ............................................................ 33 Figura 6 – Histórico do Estoque da DPMFi Total - Precificação dos Títulos Públicos (Bilhões correntes). ................................................................................................................................. 33 Figura 7 - Composição do estoque da DPMFi por Precificação dos Títulos Públicos (% acumulado). Ano: 2012 ............................................................................................................ 34 Figura 8 Detentores da dívida pública ao longo do tempo- % ao ano (2007-2011). ................ 35 Figura 9 - Participação no Total da Dívida Pública, por Detentor de Títulos Públicos (%) .... 35 Figura 10 Gráficos dos distintos métodos de suavização exponencial. .................................... 46 Figura 11 Previsão da relação dívida pública/PIB.................................................................... 47 Figura 12 Previsão da relação NFSP/PIB (Resultado Primário). ............................................. 48 Figura 13 Previsão da relação Senhoriagem/PIB. .................................................................... 49 Figura 14 Previsão da Taxa de juros real. ................................................................................ 50 Figura 15 Previsão da Taxa de crescimento do PIB. ................................................................ 51 Figura 16 Comparação entre a Previsão da DLSP/PIB e a Relação DLSP/PIB com as demais variáveis. ................................................................................................................................... 53 Figura 17 Cenários para a relação dívida pública/PIB considerando a Taxa de juros real. ..... 56 Figura 18 Cenários para a relação dívida pública/PIB considerando o resultado primário. .... 58 Figura 19 Cenários para a relação dívida pública/PIB considerando a taxa de crescimento do PIB. ........................................................................................................................................... 60 Figura 20 Cenários para a relação dívida pública/PIB considerando a Taxa real de juros e Superávit primário. ................................................................................................................... 62 Figura 21 Cenários para a relação dívida pública/PIB considerando a taxa real de juros e crescimento do PIB. .................................................................................................................. 63 ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 Principais títulos da Dívida Pública Mobiliária Interna ............................................ 18 Tabela 2 Classificação dos métodos exponenciais quanto a tendência e a sazonalidade. ........ 45 Tabela 3 Previsão das variáveis que compõe a Dívida Pública. ............................................... 52 Tabela 4 Cenários para a relação dívida pública/PIB considerando a taxa real de juros. ........ 55 Tabela 5 Cenários para a relação dívida pública/PIB considerando o Resultado Primário. .... 57 Tabela 6 Cenários para a relação dívida pública/PIB considerando a taxa de crescimento do PIB ............................................................................................................................................ 59 Tabela 7 Cenários para a relação dívida pública/PIB considerando a taxa de juros(%) e o resultado primário(%PIB)......................................................................................................... 61 Tabela 8 Cenários para a relação dívida pública/PIB considerando a Taxa real de juros e Crescimento do PIB. ................................................................................................................. 63 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BM&F – Bolsa de Mercadorias e Futuro LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias CETIP – Camara de Custódia e Liquidação LFT – Letra Financeira do Tesouro CG – Consumo do Governo LOA – Lei Orçamentária Anual COPOM – Comitê de Política Monetária LTN – Letra do Tesouro Nacional DI – Depósito Interfinanceiro NFG – Necessidade de Financiamento do Governo DLSP – Dívida Líquida do Setor Público DPF – Dívida Pública Federal NFSP – Necessidade de Financiamento do Setor Público DPFe – Dívida Pública Federal Externa NTN – Nota do Tesouro Nacional DPMFi – Dívida Pública Mobiliária Federal Interna PAF – Plano Anual de Financiamento PIB – Produto Interno Bruto IG – Investimento do Governo q – Taxa de Crescimento do PIB IGPM – Índice Geral De Preços – Mercado S – Senhoriagem INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada J – Juros da Dívida SELIC – Sistema Especial de Liquidação e Custódia SG – Poupança do Governo SP – Superávit Primário SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 3 1.1 OBJETIVOS 4 1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................................................ 4 1.2.2 Objetivos Específicos ................................................................................................................................. 4 2 A DINÂMICA DA DÍVIDA PÚBLICA INTERNA BRASILEIRA ..................................... 6 2.1 CONCEITOS BÁSICOS 6 2.1. 1 O Risco de Refinanciamento ........................................................................................................................ 8 2.1. 2 Resultado Nominal, Operacional e Primário. ............................................................................................... 8 2.1. 3 Poupança do Governo e Déficit Público ....................................................................................................... 9 2.2 A DINÂMICA DA DÍVIDA PÚBLICA 10 2.3 O FINANCIAMENTO DA DÍVIDA PÚBLICA 13 2.3.1 Leilões Primários formais: o mercado primário ...................................................................................... 14 2.3.2 Instrumentos de Financiamento da Dívida Pública Federal .................................................................... 16 2.3.2.1 Letras do Tesouro Nacional – LTNs ......................................................................................................... 16 2.3.2.2 Letras Financeiras do Tesouro - LFTs ....................................................................................................... 17 2.3.2.3 Notas do Tesouro Nacional, Série B – NTN Bs ......................................................................................... 17 2.3.2.4 Notas do Tesouro Nacional, Série C – NTN Cs ......................................................................................... 17 2.3.2.5 Notas do Tesouro Nacional, Série F – NTN Fs ......................................................................................... 17 2.3.3 Precificação de um título público ............................................................................................................ 18 2.3.4 O mercado secundário da dívida pública federal .................................................................................... 20 2.4 ORÇAMENTO E A DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL 22 2.5 TRAJETÓRIA DA RELAÇÃO DÍVIDA PÚBLICA/PIB APÓS 1995. 27 2.6 A TRAJETÓRIA DA DÍVIDA PÚBLICA APÓS 1990 28 2.7 COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL 30 2.8 SUSTENTABILIDADE DA DÍVIDA PÚBLICA 36 3 PREVISÕES DAS VARIÁVEIS QUE COMPÕE A DÍVIDA PÚBLICA ......................... 40 3.1 TRATAMENTO DAS SÉRIES DE DADOS 41 3.2 COMPORTAMENTO FUTURO DAS VARIÁVEIS QUE INFLUENCIAM A DÍVIDA PÚBLICA. 43 4.2.1 Previsão da relação dívida pública/PIB.................................................................................................... 47 4.2.2 Previsão da relação NFSP/PIB.................................................................................................................. 48 4.2.3 Previsão da relação senhoriagem/PIB ..................................................................................................... 49 4.2.4 Previsão da Taxa de juros real ................................................................................................................. 49 4.2.5 Previsão da Taxa de crescimento do PIB ................................................................................................. 51 4 CENÁRIOS PARA A RELAÇÃO DÍVIDA PÚBLICA/PIB ............................................. 54 5 IMPLICAÇÃO DAS POLÍTICAS ADOTADAS PARA A VIABILIZAÇÃO DOS CENÁRIOS ......................................................................................................................................... 65 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 67 7 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 70 3 1 INTRODUÇÃO A Dívida Líquida do Setor Público – DLSP, corresponde hoje a grande parte do Produto Interno Bruto. Torna-se justificável, portanto, o estudo da progressão desta dívida pública para os anos seguintes, de modo a compreender quais as implicações na política econômica, exigíveis para manter a relação dívida pública/PIB estável ou decrescente. O período de análise estabelecido é de 1995, período pós Plano Real, onde a estabilidade foi alcançada, aos dias atuais. Este estudo visa analisar as perspectivas de evolução da relação dívida/PIB, através de métodos de previsão econômica para prever o comportamento futuro das variáveis que compõe a dinâmica da dívida, tais como a taxa de inflação, a taxa de juros, as necessidades de financiamento do setor público, a senhoriagem, entre outros. O trabalho visa compreender quais os impactos das políticas econômicas atuais para os cenários futuros da relação dívida pública/PIB. Dentre as possíveis questões a serem respondidas destacam-se, a dívida pública interna brasileira é sustentável? Quais as implicações das políticas econômicas adotadas atualmente para manter estável a dívida pública? Como o comportamento atual das variáveis que compõe a dívida serão refletidos na relação dívida pública/PIB futura. Uma dívida pública é sustentável quando as variáveis que a compõe apresentam uma trajetória que a mantenha em um patamar estável ou decrescente. Para compreender essa dinâmica é preciso estudar o comportamento das variáveis que a compõe, através de previsões econômicas, e a partir destas projeções, avaliar o comportamento futuro da relação dívida pública/PIB. As medidas de ajuste da economia, adotadas atualmente pelo governo, em resposta a crise econômica mundial, visam alcançar maior eficiência no mercado interno e justificam a brusca alteração na taxa de juros, nunca antes observada no país. Este fenômeno indica que seus impactos futuros serão diferenciados. Torna-se importante, portanto, analisar como a relação dívida pública/PIB se dará no médio prazo, considerando a taxa de juros atual em comparação à taxa de juros adotada anteriormente, entre o período de 1994 e 2012, período em que a estabilidade econômica foi alcançada através do plano real. Através dos resultados obtidos com previsões econômicas, pretende-se analisar os impactos da relação dívida pública/PIB atual e futura para as políticas econômicas. Justifica-se a importância do presente trabalho pela análise da dinâmica da dívida pública, as medidas adotadas, em busca de estabilização, para as variáveis diretamente 4 relacionadas a ela, como a taxa de juros, o superávit primário, a inflação. Assim, busca-se contribuir para o debate atual desta questão que já vem sendo discutida com o passar dos anos, mas que vem adquirindo novos contornos, de acordo com as diferenciadas políticas econômicas adotadas. O trabalho tem como problema de pesquisa a verificação da sustentabilidade da dívida pública interna brasileira. Também se propõe a análise dos impactos da relação entre a dívida pública futura e as decisões de políticas econômicas. 1.1 OBJETIVOS Considerando a temática apresentada anteriormente, o presente trabalho se desenvolve a partir da delimitação do objetivo geral e objetivos específicos. 1.2.1 Objetivo Geral Prever o comportamento futuro das variáveis que impactam a dívida pública interna brasileira, e criar cenários para a relação dívida pública/PIB no curto e médio prazo, para avaliar se a dívida pública interna é sustentável. 1.2.2 Objetivos Específicos Estudar a dívida pública interna brasileira, seus componentes e sua dinâmica, a partir de 1995 até os dias atuais. Realizar previsões para as variáveis que impactam a relação dívida/PIB no médio prazo, considerando o período entre 1995 a 2012. Criar cenários, com base nas previsões, para compreender o comportamento futuro da relação dívida pública/PIB. Analisar as implicações da relação dívida/PIB, obtida através dos cenários, nas políticas econômicas e a sustentabilidade da dívida pública. 5 Para que estes objetivos sejam alcançados, o trabalho está estruturado, inicialmente, em uma análise da dívida pública interna brasileira, assim como a apresentação da conceituação básica, composição atual da dívida e o seu histórico. Em um segundo momento, são apresentadas as previsões para as variáveis que influenciam a dívida pública e uma descrição dos dados utilizados, bem como a análise destas previsões. Em seguida, encontram-se os cenários obtidos através das variáveis previstas e as implicações para as políticas econômicas. Por fim, realiza-se uma análise dos estudos e as considerações finais a respeito dos resultados alcançados. 6 2 A DINÂMICA DA DÍVIDA PÚBLICA INTERNA BRASILEIRA Esta seção será caracterizada por utilizar pesquisa bibliográfica. A pesquisa bibliográfica é aquela em que a fonte de dados e conhecimento é amplamente encontrada, como, por exemplo, em livros, revistas, artigos científicos. A principal vantagem deste procedimento de pesquisa é, segundo Gil (2006, p.45) “o fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”. A pesquisa bibliográfica também é importante para pesquisas que buscam realizar análises históricas. No presente trabalho serão utilizadas bibliografias conceituadas na área de estudo, de modo a subsidiar os resultados apresentados. Para compreender, de modo amplo a Dívida Pública Interna, a seguir será apresentada a revisão bibliográfica a respeito deste tema. 2.1 CONCEITOS BÁSICOS Para garantir a compreensão dos temas tratados neste trabalho, é necessário o esclarecimento de conceitos básicos que caracterizam a dívida pública brasileira. Portanto, a seguir serão detalhados alguns destes principais conceitos. Ao tratar da dívida pública estamos englobando os seguintes agentes: o setor público nas três esferas do governo (administração direta), a administração indireta, as empresas estatais, os fundos públicos sem característica de intermediário financeiros, o Banco Central e o INSS. Em sentido amplo, a dívida pública abrange o setor público não financeiro mais o Banco Central. Considera-se que uma dívida refere-se a uma obrigação de uma entidade com terceiros, quando há sobreposição das despesas sobre as receitas (SILVA; MEDEIROS, 2009). No entanto, mais importante do que compreender o significado de uma dívida, é compreender o cenário em que esta dívida está inserida, para verificar a capacidade de pagamento, por parte do governo. Portanto, a sustentabilidade da dívida pública, evidente ao se analisar a relação dívida pública PIB, é uma indicação de que a política fiscal adotada pelo governo é capaz de manter a estabilidade da relação DLSP /PIB. Segundo Giambiagi (1998), por condição de estabilidade, entende-se o resultado do superávit primário como relação do PIB necessário para que a trajetória da dívida pública em relação ao PIB seja constante ou então, declinante. 7 Considerando esta definição, para acompanhar a sustentabilidade fiscal de um país utiliza-se o conceito de Dívida Líquida do Setor Público (DLSP), que se refere ao total de obrigações do setor público não financeiro, deduzindo seus ativos financeiros. A DLSP é o principal indicador de endividamento do governo e é utilizada como base para o cálculo das Necessidades de Financiamento do Setor Público (NFSP) (SILVA; MEDEIROS, 2009). As NFSP são definidas por Giambiagi (1998), como o resultado da diferença entre a despesa de juros reais líquidos do setor público e o superávit primário do mesmo, onde o fluxo de juros é em função da taxa de juros incidente sobre a dívida líquida do período anterior. A dívida pública bruta pode ser classificada quanto à origem, interna ou externa, a abrangência, de acordo com a entidade a que pertence, e quanto à natureza, contratual ou mobiliária. A natureza contratual refere-se à dívida externa, enquanto que a mobiliária, que é originada a partir da emissão de um título, caracteriza a dívida interna. A dívida pública federal é composta pela a Dívida Pública Mobiliária Federal Interna (DPMFi) e pela Dívida Pública Federal Externa (DPFe) (SILVA; MEDEIROS, 2009). A delimitação deste trabalho é a análise da DPMFi do governo federal, formada por títulos públicos, emitidos através de leilões pelo Tesouro Nacional. Os principais títulos emitidos atualmente, que serão detalhados no decorrer do trabalho, são: Letras Do Tesouro Nacional (LTN), Letras Financeiras do Tesouro (LFT), Nota do Tesouro Nacional, série B e Nota do Tesouro Nacional, série F (SILVA; MEDEIROS, 2009). A DPMFi pode ser classificada quanto 1) à forma de emissão, como “oferta pública”, quando os títulos são emitidos sob leilão e as taxas se formam através de negociação e “direta”, quando lançadas para atender a um contrato; 2) à forma de negociação, podendo ser negociáveis, com livre negociação do mercado, ou inegociáveis, quando a propriedade não pode ser transferida; 3) aos detentores, podendo estar em posse do Banco Central, sem efeito sobre a DLSP, ou em posse do público, que é relevante para o acompanhamento da sustentabilidade fiscal. Quando a posse dos títulos esta com o Banco Central o efeito é nulo sobre a DPMFi pois, contabilmente, estes títulos estão registrados no ativo do Banco Central e no passivo do Tesouro Nacional, em montante igual, resultando um cancelamento das contas no balanço do setor público. Portanto, para o controle dos custos e riscos da DPF é necessário considerar o estoque em poder do público (SILVA; MEDEIROS, 2009). Para monitorar a dívida pública, são calculados o prazo médio da dívida pública e o custo médio de financiamento da dívida. O primeiro, com o intuito de identificar o tempo médio de permanência em circulação, calcula o prazo médio de cada título e faz uma ponderação em relação aos demais, que ao final, resulta no prazo médio da dívida. Este 8 cálculo considera todos os fluxos, indiferente se for o principal ou os juros e quanto mais longo for o prazo, melhor é o indicador. No caso do custo de financiamento da dívida, a metodologia de cálculo utiliza as taxas de juros de emissão e o respectivo estoque de cada título. Calcula-se a taxa média mensal e em seguida a anual. Outro indicador calculado é o risco de financiamento, obtido pela divisão entre o estoque da dívida, o fluxo do principal e os juros dos próximos 12 meses (SILVA; MEDEIROS, 2009). 2.1. 1 O Risco de Refinanciamento O risco de refinanciamento refere-se às condições de mercado adversas, que aumentam os custos de emissão ou que causam dificuldade na obtenção recursos para honrar os pagamentos relativos à dívida pública. Estes riscos relacionam-se ao prazo de vencimento dos títulos da dívida pública, uma vez que, se há concentração de vencimento dos títulos em um período, aumenta o risco de refinanciamento. Assim, são monitorados os vencimentos da dívida no curto prazo, buscando o alongamento do prazo de vencimento dos títulos. É necessário também, o controle de vencimento dos títulos de médio e longo prazo, de modo a não acumular para o futuro os riscos de refinanciamento (RELATÓRIO ANUAL, 2012). 2.1. 2 Resultado Nominal, Operacional e Primário. O resultado nominal é definido, genericamente, por Giambiagi (2000), como a diferença entre o total das despesas e as receitas do governo, desconsiderando a inflação do período. É o balanço entre as receitas totais e as despesas totais, e corresponde à necessidade de financiamento do setor público (NFSP). Para calcular, utiliza-se o método abaixo da linha, pelo qual o resultado nominal equivale à variação total da dívida fiscal líquida no período (TESOURO NACIONAL, 2013). O resultado operacional, segundo Giambiagi (2000, p72) corresponde “ao valor nominal, expurgado da despesa de juros associado à atualização monetária do valor da dívida passada”. O resultado nominal é entendido pelo mesmo autor como as diferenças observadas entre o total de despesas e receitas do governo, sendo este o resultado fiscal, considerando a inflação do período. Assim, o conceito operacional é, em contraposição ao nominal, o valor real, ou seja, do valor nominal desconsidera-se o valor de atualização monetária da dívida. 9 Obtêm-se o valor do resultado primário através da subtração da despesa com juros reais do valor das necessidades operacionais de financiamento. O superávit operacional é obtido quando, a partir da subtração, os juros reais são maiores do que as necessidades operacionais de financiamento, ou seja, as receitas são maiores do que as despesas não financeiras. 2.1. 3 Poupança do Governo e Déficit Público Considerando a definição de Giambiagi e Além (2000), o conceito oficial de déficit corresponde às necessidades de financiamento do governo, envolvendo gastos com consumo, juros da dívida e investimento, descontados das receitas tributárias. Esta relação está representada na equação (1) ( (1) onde: é a Necessidade de Financiamento do Governo. CG é o Consumo Governamental. são os Juros da Dívida. são os Investimentos do Governo. são os Tributos. A poupança do governo é obtida através da diferença entre a soma do consumo governamental e os gastos com juros da dívida, subtraídos das receitas de tributação. Considerando a equação (1), a poupança do governo é obtida através de (2): ( (2) onde: é a Poupança do Governo. são os Investimentos Governamentais. 10 é a Necessidade de Financiamento do Governo. Estes conceitos referem-se aos resultados fiscais, não considerando as empresas estatais. Para que estas sejam consideradas, torna-se importante compreender o conceito de Necessidades de Financiamento do Setor Público (NFSP), que corresponde à variação do endividamento público não financeiro junto ao sistema financeiro e ao setor privado. Segundo Giambiagi e Além (2000, p74) o endividamento refere-se à “dívida líquida do setor público, que desconta da dívida bruta os ativos financeiros em poder do setor público”. Assim, o déficit refere-se ao setor público não financeiro, a DLSP, à soma consolidada dos valores da dívida líquida, considerando todos os entes, junto ao sistema financeiro, setor privado não financeiro e o sistema financeiro internacional e o conceito primário, a diferença entre as NFSP e as despesas de juros, nominais, que incidem sobre a dívida líquida (GIAMBIAGI; ALÉM, 2000). As necessidades de financiamento do governo central correspondem às necessidades financeiras do tesouro, acrescidas das receitas e despesas do INSS e ao déficit primário do Banco Central. Assim, descontados os juros, obtêm-se as necessidades primárias de financiamento, representadas por valor negativo, indicando superávit primário, pelo conceito, acima da linha. O método de cálculo do resultado nominal, que não considera o montante da dívida do governo, considera somente as diferenças entre as receitas totais e despesas totais, é denominado “acima da linha”. Enquanto que o método “abaixo da linha” apura o resultado fiscal através da variação total da dívida líquida (MACHADO, 2007). 2.2 A DINÂMICA DA DÍVIDA PÚBLICA O déficit e o endividamento público apresentam restrições, de modo a garantir o controle fiscal por parte dos governos, que, caso não existissem, assumiriam níveis infinitos. As restrições buscam limitar os riscos de o governo não horar os compromissos devido à grandiosidade da dívida, uma vez que as fontes de endividamentos não possuem segurança de pagamento, limitando a capacidade de novos endividamentos. Estas restrições visam controlar a dimensão da dívida pública, que, em geral, é expressa em percentagem do PIB e não em valores absolutos. Assim questiona-se: qual a relação dívida pública/PIB aceitável? Para 11 compreender a dimensão desta questão é importante entender dois aspectos: a composição e o custo da dívida pública. Em relação a estes aspectos, em países onde o mercado de títulos é bem desenvolvido, com títulos de maturação longo e taxas pré-fixadas, com uma economia historicamente estável, é permitido a existência de uma dívida elevada, uma vez que a alta da taxa de juros não afeta significativamente a dívida. Este impacto de uma mudança nos juros ocorre em países onde o prazo de maturação dos papéis é pequeno, uma vez que a da dívida de curto prazo é sensível ao aumento dos juros, aumentando os custos. Assim, é importante considerar, além do tamanho da dívida pública, as condições de prazo de vencimento e a taxa de juros média paga aos títulos públicos (GIAMBIAGI; ALÉM, 1999). De acordo com Giambiagi e Além (1999), a dívida pública, interna e externa, pode ser compreendida através da equação (3), que apresenta os elementos que a compõe, (3) onde: é a defasagem de um período da dívida pública. são os juros do período, resultantes de uma taxa que incide sobre a dívida o superávit primário a senhoriagem do período. Os juros são obtidos através de (4) (4) onde: é a taxa de juros incidente sobre a dívida pública. 12 Considerando estas equações (3) e (4), substituindo na equação (3) da dívida e dividindo pelo PIB nominal, definido em função da taxa de crescimento real e da taxa de inflação, obtêm-se a relação dívida/PIB, representada por [( )( , na equação (5). )] (5) Onde: é a taxa de juros incidente sobre a dívida pública. é a taxa de crescimento real do PIB é a taxa de inflação. é relação superávit primário/PIB. é a relação senhoriagem/PIB . A equação (5) pode ser reescrita, substituindo o superávit primário/PIB e a taxa de juros incidente sobre a dívida pública, pelas Necessidades de Financiamento do Setor Público (NFSP), no conceito Nominal como observa-se em (6): [( )( )] 𝑓 (6) onde: 𝑓 representa as NFSP/PIB, no conceito nominal. As Necessidades de Financiamento no conceito nominal correspondem à variação nominal dos saldos da dívida líquida, excluindo os ajustes patrimoniais (privatizações e reconhecimento de dívidas) e o impacto da variação cambial. Inclui os juros reais, o resultado fiscal primário e a atualização monetária da dívida, ou seja, não exclui a inflação do período (MANUAL DE ESTATÍSTICAS FISCAIS, 2012). A equação pode ser efetuada com a utilização do resultado operacional, como pela equação (7), sendo portanto, 13 ( ) 𝑓′ (7) Onde: 𝑓 refere-se às NFSP/PIB no conceito operacional. No conceito operacional as Necessidades de Financiamento do Setor Público correspondem ao resultado nominal deduzido da atualização monetária dos saldos da dívida interna, ou seja, exclui a influência da inflação. É composto pelo resultado fiscal primário e o componente real dos juros (MANUAL DE ESTATÍSTICAS FISCAIS, 2012). Com base nas equações anteriores, entende-se que a persistência de déficits geram aumentos progressivos na dívida pública, através da conta de juros de períodos subsequentes. Segundo Giambiagi e Além (1999, p 165) “a despesa de juros é uma expressão de desequilíbrios primários anteriores, que geraram a dívida inicial”, assim, a deterioração do resultado primário tem como consequência o aumento da despesa com juros. Portanto, os ajustes no resultado primário atual, tendem a reduzir os sacrifícios no resultado primário futuro. Assim, o ajuste fiscal visa uma melhoria no resultado primário, para assim, possibilitar a queda da taxa de juros, diminuindo as necessidades de financiamento do setor público e a relação dívida/PIB (GIAMBIAGI; ALÉM, 1999). 2.3 O FINANCIAMENTO DA DÍVIDA PÚBLICA A dívida pública federal é contraída para financiar as despesas do governo federal, assim como o refinanciamento desta dívida. De acordo com o Tesouro Nacional (2013) o endividamento busca “suprir de forma eficiente as necessidades de financiamento do governo federal, ao menor custo de financiamento no longo prazo e níveis prudentes de risco, contribuindo para o bom funcionamento do mercado de títulos públicos brasileiro”. O endividamento é classificado por emissão de títulos ou por assinatura de contrato. Quando o endividamento é resultante da emissão de títulos, ocorre a dívida mobiliária, quando é feito por contratos, a dívida é contratual. A dívida pública brasileira atual é totalmente paga com moeda em real, caracterizando uma dívida interna, captada por meio de 14 emissão dos títulos no mercado primário ou então, através do tesouro direto (TESOURO NACIONAL, 2013). Esta seção preocupa-se com o endividamento realizado através de emissões de títulos públicos, que são instrumentos lançados pelo governo federal através de oferta pública, os chamados leilões de títulos públicos. O mercado primário é onde o investidor compra títulos diretamente do emissor. O mercado secundário é onde o investidor compra o título de outro emissor, gerando uma negociação dos títulos emitidos inicialmente no mercado primário (TESOURO NACIONAL, 2013). Estes instrumentos serão detalhados abaixo. 2.3.1 Leilões Primários formais: o mercado primário Responsável pela captação de volumes significativos de recursos para o financiamento das necessidades do governo, o mercado primário de títulos públicos brasileiro vem buscando modernização, com o objetivo de alcançar maior transparência, previsibilidade e eficiência na captação dos recursos. Estes objetivos são alcançados através de legislação, procedimentos consistentes e cumprimento de metas previamente estabelecidas (CARVALHO; MORAIS, 2009). Avanços neste sentido foram, entre outros, a consolidação no Decreto nº 3.540, de julho de 2000 das características e formas de emissão dos títulos públicos; a divulgação periódica de documentos, tais como o Plano Anual de Financiamento (PAF), o Cronograma Mensal de Leilões, a Portaria de cada leilão, a Nota Unificada da Dívida Pública e o Relatório Anual. Para garantir a credibilidade das informações prestadas, busca-se o cumprimento das metas estabelecidas no PAF e as condições definidas nos cronogramas de leilões (CARVALHO; MORAIS, 2009). A principal forma de emissão de títulos públicos no mercado interno é através de ofertas públicas, por leilões competitivos, onde podem participar as instituições cadastradas no Sistema de Liquidação e Custódia (Selic). Os leilões são conduzidos por meio de sistema eletrônico - SELIC, monitorado pelo Banco Central, onde cada participante pode submeter cinco propostas, que são ordenadas por ordem decrescentes de preços, para formar o preço de corte, onde a demanda é igual a oferta (CARVALHO; MORAIS, 2009). O Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC) foi criado em1979, visando maior transparência nas negociações dos títulos públicos federais. Este sistema registra e 15 custodia as transações de títulos públicos e depósitos interfinanceiros (CARVALHO et al, 2007). Segundo definição do Banco Central (2012), O Selic é o depositário central dos títulos emitidos pelo Tesouro Nacional e pelo Banco Central do Brasil e nessa condição processa, relativamente a esses títulos, a emissão, o resgate, o pagamento dos juros e a custódia. O sistema processa também a liquidação das operações definitivas e compromissadas registradas em seu ambiente, de entrega contra pagamento. Todos os títulos são escriturais, isto é, emitidos exclusivamente na forma eletrônico. (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2012) Por ser um sistema de liquidação real, é necessário haver disponibilidade de títulos negociados na conta de custódia do vendedor, assim como, disponibilidade de recursos na conta do comprador. A não liquidação por falta de recursos implica em rejeição dos títulos negociados. A taxa de juros SELIC é o limite para a troca de reservas, é a taxa média ajustada dos financiamentos diários apurados no SELIC. A política monetária é encaminhada com base na determinação de uma meta para a taxa SELIC, visando controle inflacionário (CARVALHO et al, 2007). As decisões dos bancos para a compra de títulos, principalmente nos leilões formais, baseiam-se em uma expectativa de elevação futura da taxa de juros básica da economia. Com base nesta expectativa, os bancos formam as taxas cobradas nas suas operações, resultando em parte do spread1 recebido pela instituição. No entanto, a autoridade monetária busca definir suas políticas visando não frustrar as expectativas, em relação à taxa de juros, das instituições financeiras, existe consenso de mercado, uma vez que as implicações geradas pela incerteza da evolução da taxa de juros podem causar riscos monetários (CARVALHO et al, 2007). O impacto dos leilões primário formais na determinação da taxa de juros se dá pela absorção dos títulos pelo mercado, através do fluxo de gerenciamento da liquidez. Atualmente, no Brasil, o Banco Central não está autorizado a emitir títulos de leilões formais, esta prerrogativa fica a cargo do Tesouro Nacional, devido a edição da Lei Complementar nº101, de 4 de maio de 2000, Lei de Responsabilidade Fiscal. Esta medida retirou da 1 Entendida pela diferença entre a taxa média de aplicação e a taxa média de captação do banco (CARVALHO et al, 2007) 16 autoridade monetária o controle deste instrumento para fins de política monetária (CARVALHO et al, 2007). Além destes leilões, processados através do sistema eletrônico, há ainda o Tesouro Direto, mecanismo de venda direta de títulos ao mercado, para pessoas físicas. Com uma parcela reduzida, se comparado ao total, o objetivo do Tesouro Direto é incentivar a poupança de longo prazo, para pessoas físicas, democratizar o acesso e fornecer informações sobre a dívida pública federal (CARVALHO; MORAIS, 2009). 2.3.2 Instrumentos de Financiamento da Dívida Pública Federal Os títulos públicos, lançados no mercado primário, através dos leilões formais, além de serem instrumentos de política monetária, por auxiliarem na definição da taxa de juros básica, são os principais instrumentos de financiamento da dívida pública. As características e os insumos que baseiam a precificação dos títulos públicos da DPMFi serão apresentadas a seguir. Os títulos podem ser prefixados ou pós-fixados, nos primeiros, a taxa de rentabilidade é pré-determinada no momento da compra e é dada pela diferença entre o preço de compra e pelo preço no momento do vencimento; nestes títulos o fluxo não é corrigido por nenhum indexador. Nos pós-fixados, o valor do título é corrigido pelo seu indexador. Assim, a rentabilidade do título depende do seu indexador e do deságio pago no momento da compra (TESOURO NACIONAL, 2013). Os principais títulos prefixados são LTN e NTN-F e os pósfixados NTN-B, NTN-C e LFTs, caracterizados abaixo: 2.3.2.1 Letras do Tesouro Nacional – LTNs Títulos de precificação simples, já que não pagam cupom de juros, o principal pago será sempre de R$ 1.000,00, e há um único fluxo de principal na data de vencimento do título. O valor nominal da LTN é um valor múltiplo de 1.000,00 reais, é um título prefixado e o valor nominal pode ser resgatado na data de vencimento. O investidor recebe o valor investido, somado à remuneração na data de vencimento do título. 17 2.3.2.2 Letras Financeiras do Tesouro - LFTs Possui estrutura semelhante às LTN, visto que não pagam cupom de juros e apresentam um único fluxo do principal na data de vencimento do título. O que difere é que as Letras Financeiras do Tesouro possuem o valor do principal atualizado pela taxa média ajustada dos financiamentos diários pela SELIC, ou seja, a taxa SELIC acumulada do período. O resgate se dá pelo valor nominal, acrescido do rendimento, desde a data base do título. Este títulos pósfixado segue a variação da taxa básica de juros. 2.3.2.3 Notas do Tesouro Nacional, Série B – NTN Bs Título pós-fixado que paga cupom de juros semestrais e apresenta um fluxo de principal na data de vencimento. O valor do principal e dos juros são atualizados, a partir da data base, pelo indexador Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA do mês anterior. O rendimento da aplicação é recebido pelo investidor ao longo do investimento, com cupons semestrais de juros, e na data de vencimento do título, o valor de investido somado à rentabilidade é recebido, juntamente com o último cupom de juros. 2.3.2.4 Notas do Tesouro Nacional, Série C – NTN Cs Título pós-fixado que paga cupom de juros semestrais e apresenta um fluxo de principal na data de vencimento. A rentabilidade está vinculada à variação do IGP-M e aos juro definidos no momento da compra. O valor do principal e dos juros são atualizados, a partir da data base, pelo indexador Índice Geral de Preços - Mercado - IGP-M do mês anterior. O rendimento deste título é recebido ao longo do período através de cupons de juros. 2.3.2.5 Notas do Tesouro Nacional, Série F – NTN Fs Títulos prefixados que pagam cupom de juros semestrais, de 10% ao ano, com um único fluxo de principal na data de vencimento. O principal pago será sempre pelo valor nominal, múltiplo de 1.000,00 reais. O investidor recebe o rendimento da aplicação ao longo do 18 período, através dos cupons de juros. Na data do vencimento, recebe o valor investido, acrescido da remuneração, juntamente com o último cupom de juros. Tabela 1 Principais títulos da Dívida Pública Mobiliária Interna Título Indexador Prazos de emissão Principal Juros Padrão de contagem de dias LTN Prefixado 6,12 e 24 meses No vencimento Não há DU/252 NTN – F Prefixado 3,5 e 10 anos No vencimento 10% a.a, pagos semestralmente DU/252 NTN-B IPCA 3, 5,10,20,30 e 40 anos No vencimento 10% a.a, pagos semestralmente DU/252 NTN-C IGP-M Não é mais emitido No vencimento 10% a.a, pagos semestralmente DU/252 LTF SELIC 3 e 5 anos No vencimento Não há DU/252 Fonte: TAVARES, R.; TAVARES, M., 2009 O padrão de contagem de dias considera os dias úteis e ano com 252 dias, excluindo os finais de semana e os feriados. Este padrão é obtido através da divisão entre os dias úteis do período em análise e 252 dias do ano, como previamente estabelecido. 2.3.3 Precificação de um título público A formação de preços dos títulos da Dívida Pública Mobiliária Interna, apesar das diferenças entre os instrumentos e fórmulas de cálculos, tem como base insumos comuns. As taxas de rendimento para os títulos públicos da dívida interna, em especial os prefixados, baseiam-se nos derivativos de taxas de juros, sendo portanto, valorados de acordo com as curvas de mercado de derivativos (TAVARES,R.; TAVARES,M., 2009). A formação da taxa de juros doméstica é baseada nos derivativos de taxas de juros, portanto, derivada de outros ativos da economia, em especial, o DI futuro, que estabelece o preço das LTNs e NTNs. A rentabilidade dos títulos tem como base o prêmio que o investidor deseja obter, sobre a curva de DI. Esta estimativa permite calcular a taxa do título e o preço 19 equivalente. Na negociação no mercado, feita com base em pontos do ativo referência, é feita através da diferença e entre a taxa de rendimento e a taxa do DI (TAVARES,R.; TAVARES,M., 2009). A curva prefixada básica do mercado financeiro doméstico, utilizada para precificação das LTNs, é formada pelo Contrato Futuro de Depósitos Interfinanceiros de 1 dia, que é calculado e divulgado diariamente pela BM&F, tendo como referência as taxas médias diárias negociadas nas operações de troca de recursos. A negociação dos contratos tem como objeto as taxas de juros efetivas do DI, que são o resultado das taxas médias diárias, calculadas pela Câmara de Custódia e Liquidação - Cetip, empresa integradora do mercado financeiro. A cotação é feita pela compra e venda de uma taxa, que, ao final do pregão são ajustadas diariamente pelo preço de ajuste do dia anterior. Assim, o DI futuro é um swap DI x taxa prefixada, ajustada diariamente (TAVARES,R.; TAVARES,M., 2009). No caso dos títulos prefixados (LTN e NTN-F) a principal referência para a formação de preços é o DI Futuro, derivativo de taxa de juros negociado na BMF&Bovespa e utilizado para balizar as taxas dos títulos públicos. Na prática, o DI Futuro é um swap de taxa de juros, que fornece aos compradores de títulos prefixados um hedge contra oscilações na taxa de juros e, consequentemente, nos preços dos títulos. A taxa dos títulos prefixados é obtida somando-se um prêmio à taxa do DI Futuro de prazo equivalente. A unidade de negociação padrão utilizada pelo mercado é justamente o prêmio (spread), sobre o DI Futuro (TESOURO NACIONAL, 2013) A NTN-B, título indexado ao IPCA, tem como remuneração a taxa de inflação acumulada no período e a taxa de juros real, tendo como unidade de negociação a taxa interna de retorno do título. A LFT título indexado à taxa Selic over tem como unidade de negociação a taxa, assim, o título é negociado com ágio ou deságio. Quando há deságio, se o investidor permanecer com o título até o vencimento, a rentabilidade é acima da taxa Selic, o inverso ocorre se o título é comprado com ágio (TESOURO NACIONAL, 2013). A emissão de títulos prefixados visa, além da obtenção de financiamento para o governo, a construção de uma curva de rendimentos eficiente. As ofertas destes instrumentos prefixados são feitas semanalmente, porém, de forma intercalada entre LTNs e NTN-Fs e ofertas com menor frequência, de modo a incentivar o mercado secundário (CARVALHO; MORAIS, 2009). Para os títulos indexados à inflação, pretende-se a construção de uma curva eficiente, com ofertas frequentes, visando estimular o mercado secundário. Com relação à LTF, que é indexada à taxa Selic, ou seja, à taxa overnight, não há incentivo à criação de uma curva de 20 rendimentos, visto que a prioridade é o desenvolvimento do mercado de LTN, NTN-F e NTNB(CARVALHO; MORAIS, 2009). Para que a construção das curvas seja eficiente é estabelecida uma padronização das datas de vencimento dos diferentes títulos, de modo a diluir, durante o ano, o fluxo do principal e dos cupons e a evitar a elevada fragmentação da dívida em títulos de baixo valor e datas irregulares. Os títulos prefixados têm como vencimento os dias primeiro dos meses de janeiro, abril, julho e outubro, os indexados à inflação no dia 15 de maio ou agosto e as LFTs no dia 7 de março, junho, setembro ou dezembro (CARVALHO; MORAIS, 2009). A construção de uma estrutura a termo de taxas de juros, que permite o melhor apreçamento dos títulos emitidos é o que baseia a construção e o aperfeiçoamento de pontos de referência (benchmarks) ao longo da estrutura de maturação de títulos. Em 2012, esta estratégia permitiu a identificação de pontos de referência considerando seus vencimentos em datas definidas (RELATÓRIO ANUAL, 2012). 2.3.4 O mercado secundário da dívida pública federal Os títulos públicos são emitidos pelo Tesouro Nacional através do mercado primário, por ofertas públicas na modalidade Leilão. A partir da emissão, estes títulos podem ser negociados entre os detentores, formando assim, o mercado secundário de títulos públicos. Para garantir a eficiência no financiamento público torna-se fundamental a existência de um mercado secundário desenvolvido de títulos públicos. É no mercado secundário que são formadas as referências de preços, com base nas negociações diárias, e isso irá determinar o custo de financiamento da dívida pública do governo (PEREIRA; PEDRAS; GRAGNANI, 2009). Os títulos são negociados com base em taxas padronizadas em dias úteis (DU/252). No entanto, no mercado brasileiro existem os contratos de derivativos, assim, a referência da taxa de juros prefixada, que atualmente tem maioria nas negociações, é constituída neste mercado, de acordo com pontos base em relação aos derivativos de juros futuros. Esta peculiaridade é positiva, de acordo com Pereira, Pedras e Gragnani (2009, p. 421) Esta peculiaridade, aliada a uma forte característica da base de investidores domésticos, o foco no curto prazo, traz uma sinergia importante para o mercado de dívida pública. Ou seja, o Tesouro Nacional vende instrumentos prefixados e o comprador destes pode fazer hedge no mercado derivativo, repassando o risco prefixado para outro agente. Essa inter- 21 relação é produtiva, pois reduz a exposição dos investidores ao risco de taxas de juros, permitindo o aumento do número de negócios. Como ponto negativo, os autores Pereira, Pedras e Gragnani (2009) destacam que pela ampla utilização de títulos prefixados associados aos derivativos, há preferência em negociação de títulos de curto prazo. As negociações das LTFs baseiam-se no ágio e deságio em relação à taxa SELIC diária. Se existe deságio, o investidor irá receber a remuneração da Selic acrescida de um prêmio, enquanto que se há ágio, o investidor receberá a taxa Selic com um desconto. As NTN-Bs tem por base as taxa reais de juros, visto que pagam a taxa de inflação e uma parcela prefixada (PEREIRA; PEDRAS; GRAGNANI, 2009). Muitas das negociações no mercado secundário são realizadas através do mercado de balcão. Este fato é importante, pois permite a união de amplo número de participantes em negociação de instrumentos de maior liquidez, contribuindo para a formação das referências de preços (PEREIRA; PEDRAS; GRAGNANI, 2009). Os prazos dos títulos negociados no mercado financeiro são, em geral, de curto prazo, relacionados ao Depósito Interbancário de um dia. A taxa deste empréstimo, a taxa overnight, é o parâmetro para a rentabilidade no Brasil. Essa cultura de indexação diária, resultado do período de inflação elevada, impacta o mercado secundário através da preferência por prazos curtos e ativos indexados, representando um obstáculo para o desenvolvimento do mercado. Aprimoramentos vêm sendo implementados, de modo a aperfeiçoar a estrutura da dívida pública (PEREIRA; PEDRAS; GRAGNANI, 2009). É importante um mercado secundário desenvolvido para que se amplie a liquidez dos títulos públicos, aumentando a demanda por esses títulos. O Tesouro Nacional (2013) destaca que um mercado secundário líquido e transparente proporciona visibilidade das taxas negociadas, contribuindo para uma negociação justa. Segundo Correa e Meurer (2008), através de um estudo realizado com diferentes cenários para a obtenção do saldo primário, concluiu-se que o esforço fiscal será menor, quanto maior for a demanda por títulos públicos. Assim, são necessários mecanismos que auxiliem na ampliação da liquidez destes títulos públicos (CORREA; MEURER, 2008). 22 2.4 ORÇAMENTO E A DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL O orçamento é instrumento de planejamento que representa a previsão das entradas de receitas e as aplicações de recursos em um período determinado. As receitas são as disponibilidades de recursos financeiros para o erário. As receitas orçamentárias são as que ingressam durante um exercício financeiro e são utilizadas para a viabilização da execução de políticas públicas, programas e ações do governo. As despesas referem-se aos gastos do governo para o atendimento de suas atribuições (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 2012). A compreensão do orçamento exige um sistema de classificação estruturado, de modo a garantir a obtenção das informações e a compreensão da destinação dos recursos públicos. Portanto, as receitas e despesas orçamentárias são classificadas como detalhado a seguir. Segundo a lei nº 4320/64, a lei orçamentária conterá todas as receitas, inclusive as operações de crédito. As receitas orçamentárias são classificadas de acordo com a natureza, o indicador de resultado primário e fonte/destinação de recursos (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 2012). A classificação de acordo com a natureza da receita visa identificar a origem do recurso segundo o fato que ocasionou o ingresso da receita. É o menor nível de detalhamento da receita no orçamento. Esta classificação é feita por um código numérico de 8 dígitos, dividido em níveis, tais quais, categoria econômica (1º dígito), origem (2º dígito), espécie (3º dígito), rubrica (4º dígito), alínea (5º e 6º dígitos) e subalínea (7º e 8º dígitos) (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 2012). Pela categoria econômica, as receitas podem ser receitas correntes, provenientes de tributos, contribuições; exploração do patrimônio estatal, exploração de atividades econômicas, entre outros; e receitas de capital, que são recursos financeiros oriundos da constituição de dívidas e da conversão de bens e direitos. As receitas classificadas pela categoria econômica são detalhadas na origem, que visa identificar a procedência dos recursos. pela origem, as receitas podem ser classificadas em tributárias, de contribuições, patrimoniais, agropecuárias, industriais, de serviços e transferências correntes, operações de crédito, alienação de bens, amortização de empréstimos, transferências de capital e outras receitas de capital (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 2012). 23 Figura 1 Classificação da receita por categoria econômica e origem. Fonte: Manual Técnico do Orçamento, 2013. A classificação por espécie está vinculada à origem, permitindo maior detalhamento, como por exemplo, a receita tributária é dividida em impostos, contribuições ou taxas. A rubrica detalha a espécie, a alínea detalha a rubrica e a subalínea constitui o nível mais sintético da receita (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 2012). As receitas do governo, de acordo com a classificação de indicador de resultado primário, podem ser divididas em primárias e financeiras. As receitas primárias referem-se às oriundas de tributos, contribuições sociais, das concessões, dos dividendos recebidos pela União, as decorrentes de arrecadação das unidades orçamentárias, entre outras. As receitas financeiras são aquelas que não alteram o endividamento líquido do setor público uma vez que criam uma obrigação ou extinguem um direito. As receitas financeiras são adquiridas no mercado financeiro pela emissão de títulos, operações de juros recebidos, entre outras (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 2012). A classificação por fonte/destinação de recursos permite a destinação da receita vinculada por lei, com destinação específica. O código de classificação utilizado para o controle da destinação da receita, também é usado para a despesa. Esta classificação visa atender ao disposto na Lei de Responsabilidade Fiscal, que em seu artigo 8º, parágrafo único, estabelece que os recursos legalmente vinculados a finalidade específica serão utilizados exclusivamente para atender ao objeto de sua vinculação. A classificação é por um código de 24 três dígitos, onde o 1º dígito representa o grupo de fonte e o 2º e o 3º a especificação da fonte (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 2012). As despesas públicas são classificadas de acordo com critérios, referentes a cada modalidade de classificação. Pela classificação por esfera orçamentária, identifica-se em qual dos orçamentos a despesa pertence; orçamento fiscal, da seguridade social ou de investimento das estatais. Pela classificação institucional, as dotações orçamentárias são consignadas à cada unidade orçamentária. O código de classificação, representado por 5 dígitos, demonstra o órgão e a unidade orçamentária na qual a despesa será destinada. A classificação funcional é formada por funções e subfunções, onde os gastos públicos são agregados de acordo com a área de atuação governamental. É representada por cinco dígitos, onde os dois primeiros referem-se às funções, agregando as diversas áreas de atuação do setor público, e o restante às subfunções, que são um nível de agregação menor em relação às funções (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 2012). Pela estrutura programática, as despesas são classificadas de acordo com programas voltados para a execução de objetivos estratégicos, definidos no Plano Plurianual, plano estratégico do governo. Estes recursos são destinados à efetivação de ações vinculadas aos programas (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 2012). As categorias da classificação por programas são função, subfunção, programa, subprograma, projeto e atividades. Outra classificação orçamentária da despesa é a classificação por natureza, organizada em categorias econômicas, grupos, modalidades de aplicação e elementos. As categorias econômicas podem ser despesas correntes e despesas de capital. Os grupos podem ser pessoal e encargos sociais, juros e encargos da dívida, outras despesas correntes, investimentos, Inversões financeiras e amortização da dívida. As modalidades de aplicação e os elementos permitem maior detalhamento dos gastos públicos (GIACOMONI,2005). De acordo com Sant’Ana (1996), com base na classificação apresentada anteriormente, a receita pública da Dívida Pública Mobiliária Interna, oriunda da emissão de títulos públicos, é classificada da seguinte forma: 2000.00.00 Receitas de Capital 2100.00.00 Operações de Crédito 2110.00.00 Operações de Crédito Internas 2111.00.00 Títulos de Responsabilidade do Tesouro Nacional Quanto à despesa, os gastos públicos são classificados de acordo com diferentes tipos de classificações. Na classificação institucional a dívida pública é classificada da seguinte forma: 25 Órgão: 71.000 — Encargos Financeiros da União (DPMF) Unidade: 71.101 — Recursos sob Supervisão do Ministério da Fazenda Na classificação funcional-programática, que agrupa as ações do governo em grandes áreas de atuação, classifica-se como segue: Função: 03 — Administração e Planejamento Programa: 008 — Administração Financeira Subprograma: 0033 — Dívida Interna Subprograma: 0034 — Dívida Externa Atividade: 2200 — Administração da DPMF Subtítulo: 0001 — Tesouro Nacional Quanto à natureza de despesas, que permite a obtenção de informações a respeito do efeito dos gastos na economia, a dívida pública é classificada como segue: 3 — Despesas Correntes 2 — Juros e Encargos da Dívida Interna 3 — Juros e Encargos da Dívida Externa 90 — Aplicações Diretas 23 — Juros, Deságios e Descontos da Dívida Mobiliária 4 — Despesas de Capital 7 — Amortização da Dívida Interna 8 — Amortização da Dívida Externa 90 — Aplicações Diretas 72 — Principal da Dívida Mobiliária 74 — Correção Monetária e Cambial da Dívida Mobiliária O orçamento público é uma ferramenta essencial para uma administração financeira eficiente. No que se refere à dívida pública, é possível o acompanhamento da execução orçamentária verificando seu alinhamento ao PAF da dívida pública. Esta análise permite o acompanhamento das necessidades de geração de receitas através da emissão de títulos públicos, assim como o acompanhamento do total de despesas e as receitas fiscais destinadas ao pagamento desta dívida. Assim, estes dois instrumentos servem para auxiliar no gerenciamento da dívida pública de curto e médio prazo (PASSOS; CASTRO, 2009) O orçamento público é um instrumento que impõe restrições ao nível de endividamento público, já que possui limites e regras de endividamento. Os limites foram estabelecidos pela Constituição Federal de 1988 e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Pela constituição de 1988 26 fica vedado a realização de operações de crédito que excedam as despesas de capital e pela regra de ouro, busca-se evitar o pagamento de despesas correntes com endividamento ou emissão. A Constituição, assim como a Lei de Responsabilidade Fiscal, estabelece que o montante da dívida consolidada seja apreciado e aprovado pelo Senado Federal. Em relação à Lei de Diretrizes orçamentárias, no contexto da Dívida Pública Federal, ela define quais as despesas poderão ser custeadas através de emissão de títulos públicos, como as despesas de refinanciamento, juros e encargos da dívida. Autoriza também que esta despesa seja ampliada, desde que definidos em lei anterior (PASSOS; CASTRO, 2009). Na LDO também são estabelecidas as metas do resultado fiscal para o período de exercício e para os dois períodos seguintes. A programação orçamentária e financeira da execução das despesas e o acompanhamento das metas de superávit primário são utilizados como instrumentos para que este resultado se efetive. Tem-se como objetivo o equilíbrio entre receitas e despesas durante a execução orçamentária, porém, caso esse objetivo não se concretize, devido a não arrecadação de receita prevista ou aumento das despesas, são necessários ajustes. Considerado isso, os gastos públicos são limitados através de decreto do Poder Executivo, estabelecendo normas para a execução orçamentária e financeira e o equilíbrio entre receitas e despesas, de modo a proporcionar o cumprimento da meta de resultado primário (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 2012). O resultado primário mede o comportamento fiscal (arrecadação/gasto) do Governo, representado pela diferença entre a arrecadação de impostos, taxas, contribuições e outras receitas inerentes à função arrecadadora do Estado, excluindo-se as receitas de aplicações financeiras, e as despesas orçamentárias, excluídas as despesas com amortização, juros e encargos da dívida, bem como as despesas com concessão de empréstimos. Em síntese, o cálculo do resultado primário é uma forma de avaliar se o Governo está ou não operando dentro de seus limites orçamentários, ou seja, se está ocorrendo redução ou elevação do endividamento do setor público, o que justifica a importância do seu monitoramento contínuo (MANUAL TÉCNICO DO ORÇAMENTO, 2013, p. 80). Na Lei Orçamentária Anual é especificado o valor destinado ao refinanciamento da dívida pública, que possui uma fonte específica, atrelada à natureza de despesa específica. Também é possível, através da LOA, aumentar o valor da dotação orçamentária, destinada para o pagamento da dívida pública, através de créditos adicionais, autorizados pelo poder executivo, provenientes de dotações que não foram utilizadas, de superávits financeiros ou excesso de arrecadação. A proposta orçamentária é elaborada em duas etapas. Inicialmente, é 27 estabelecidos o total de receitas e despesas, de modo a alcançar o equilíbrio orçamentário; em seguida, ao orçamento inicial são incluídos os serviços da DPMFi, apresentando os recursos que serão captados pelo Tesouro Nacional, para reequilibar o orçamento (PASSOS; CASTRO, 2009). A gestão equilibrada dos recursos públicos visa assegurar a estabilidade e o crescimento econômico. Assim, o governo realiza esforços para que o endividamento público líquido, em relação ao PIB tenha uma trajetória descendente, através da redução das taxas de juros e da gestão eficiente da dívida pública. O orçamento é um importante instrumento, para que as contas públicas estejam em equilíbrio (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 2012). 2.5 TRAJETÓRIA DA RELAÇÃO DÍVIDA PÚBLICA/PIB APÓS 1995. Após a implantação do Plano Real e a redução da inflação, a partir de 1995, houve um aumento da relação dívida pública/PIB, já que o crescimento do PIB não foi significativo e houve um aumento da taxa de juros. Somado a isso, neste período também não existia a obrigatoriedade de atingir uma meta de superávit primário, que apenas foi implementada em 1999 com o regime de metas de inflação. Estes fatores influenciaram no crescimento da relação dívida/PIB a partir de 1995 (OLIVEIRA; OREIRO, 2005). A elevação da relação dívida pública/PIB na década de 90, se deve à elevada taxa de juros, necessária para manter o regime de câmbio fixo. Após a mudança do regime cambial, as taxas de juros diminuíram, porém, ainda apresentava valores elevados. Com a mudança de governo em 2002, houve continuidade da política de juros altos, para manter a inflação controlada, o que manteve a relação dívida pública/PIB elevada. Somente a partir de 2004 foi observada uma diminuição da relação dívida pública/PIB, o que se deve à diminuição da taxa de juros, ao aumento da taxa de crescimento do PIB, à elevação do superávit primário e em especial pela desvalorização cambial (OLIVEIRA; OREIRO, 2005). Após este período, a dívida pública/PIB ainda apresentou crescimento, em especial, a DLSP/PIB. Na seção seguinte apresenta-se a trajetória da dívida pública após 1990 e as estratégias do Tesouro Nacional para diminuir o tamanho da dívida pública. 28 2.6 A TRAJETÓRIA DA DÍVIDA PÚBLICA APÓS 1990 Nos anos iniciais da década de 1990, as preocupações do governo estavam direcionadas para o combate da inflação, que chegava ao patamar de aproximadamente 1.000% ao ano em um cenário de planos de estabilização fracassados. Em 1994, a implantação do Plano Real foi bem sucedida para solucionar a situação inflacionária, permitindo aos agentes econômicos a convivência com momentos de inflação aceitáveis (PEDRAS, 2009). Porém, a despeito deste processo de estabilização, a dívida pública interna apresentou crescimento elevado. Este fato pode ser explicado, de acordo com Pedras (2009), pela rígida política monetária da época, o que elevou substancialmente as taxas de juros, além do superávit primário reduzido, entre outros. De acordo com Pedras (2009), neste período, as altas taxas de juros, indispensáveis para garantir a estabilização, aliadas à grande quantidade de emissões, resultaram em um aumento considerável do estoque da dívida pública no período. Para evitar que o mercado desconfiasse da capacidade de sustentabilidade da dívida pública, foi necessário o aumento do prazo médio de pagamento da dívida. Para reforçar este processo de alongamento, a partir de 1999, o governo passou a emitir títulos indexados aos índices de preços. Os títulos indexados à taxa Selic, em fins de 2002, eram os preferidos dos investidores e representavam aproximadamente 61% da dívida interna. Os títulos prefixados apenas representavam 2,2% do total, o restante da dívida estava em títulos cambiais. Considerando essa estrutura, foram criadas ações para desenvolvimento do mercado, como por exemplo, medidas para aumento do vencimento e liquidez dos títulos; implantação de leilões de compra antecipada de títulos prefixados, de modo a reduzir o risco de refinanciamento, entre outras. Como resultado, ao final de 2003, foram emitidos títulos prefixados de prazos longos, as chamadas Notas do Tesouro Nacional – Série F, que garantiam o alongamento da dívida prefixada. Em 2007, com as mudanças adotadas anteriormente e com os estímulos do governo para o alongamento da dívida, principalmente para os investidores estrangeiros, através da isenção do imposto de renda, foi emitido, pelo Tesouro Nacional um título prefixado com prazo de 10 anos, representando um marco na gestão da dívida pública (PEDRAS, 2009). A partir de 2008, devido à crise financeira internacional, houve uma alteração na composição da dívida pública, com uma redução dos títulos prefixados e aumento dos títulos indexados à Selic, com o intuito de reduzir a volatilidade do mercado (PEDRAS,2009). Considerando o cenário internacional, em 2009, às emissões de títulos prefixados permitiram 29 a substituição gradual dos títulos de curto prazo por outros de médio e longo prazo. As emissões das LTNs, com prazo de referência de 24 meses, representaram 73% das colocações totais de LTN. Se comparado a 2008, nota-se um avanço na estratégia de alongamento dos títulos prefixados (RELATÓRIO ANUAL, 2009). No ano de 2010, o Tesouro Nacional buscou reduzir a liquidez do sistema financeiro nacional e, portanto, resgatou grande quantidade dos títulos da Dívida Pública Mobiliária Interna. A estratégia de alongamento dos títulos prefixados continua em 2010, assim como a construção de pontos de referência ao longo da estrutura de maturação dos títulos, de modo à construção de uma estrutura a termo de taxas de juros em reais, visando melhorias no apreçamento dos títulos (RELATÓRIO ANUAL, 2010). O ano de 2011 foi marcado por uma política monetária contracionista intensa, considerando os indicadores de pressão sobre o nível de preços. Assim, de modo a subsidiar o ajuste da economia brasileira, o governo diminuiu o orçamento da União para 2011 em R$ 50,1 bilhões. Neste cenário, a política fiscal seria mais rigorosa no controle de gastos, visando a diminuição da inflação. Apesar deste cenário interno, e das incertezas do mercado externo, o Tesouro Nacional manteve a estratégia de aumento da participação dos títulos prefixados, continuou a emitir NTN-F de longo prazo e, com relação aos títulos indexados à taxa flutuante, remunerados pela taxa Selic, o Tesouro Nacional continuou com a política de redução da participação no estoque da dívida (RELATÓRIO ANUAL, 2011). Em fins do ano de 2011, a economia mundial apresentava fragilidade no crescimento e as finanças públicas de importantes economias mundiais estavam deterioradas, elevando, portanto, a curva de juros destas economias. Porém, no mercado interno, as taxa de juros estavam apresentando recuo, indicando que, apesar das incertezas no cenário mundial, mantinha-se os fluxos de recursos para o Brasil. No final deste mesmo ano, em meio a melhorias no cenário mundial, a política monetária apresentou sinais de expansão, permitindo ao COPOM (Comitê de Política Monetária) a redução da taxa de juros, passando de 12% para 11% ao ano (RELATÓRIO ANUAL, 2011). Considerando a volatilidade do cenário internacional, a estratégia de gestão da dívida pública buscava a substituição da emissão de títulos prefixados de curto prazo, para títulos de médio e longo prazo. Em relação aos títulos remunerados pela taxa SELIC, o governo continuou buscando a redução da participação na composição do total da dívida. Com relação à estrutura dos vencimentos, no ano de 2011 houve um aumento do prazo médio, passando 3,5 anos em 2010 para 3,6 anos. O alongamento dos prazos médios dos títulos emitidos permitiu a diminuição percentual de vencimentos de títulos da dívida no ano de 2011. Estes 30 resultados são devido à mudança do perfil das emissões dos títulos, valorizando os títulos de longo prazo em relação aos de curto prazo, assegurando a sustentabilidade dos compromissos para pagamento da dívida (RELATÓRIO ANUAL, 2011). Em 2012, a inflação apresentava sinais de diminuição, permitindo à política monetária a continuidade na diminuição da taxa básica de juros. Visando o cumprimento da meta de superávit primário, o governo cortou do orçamento R$ 55 bilhões, em conjunto a uma redução tributária. Ao final deste ano, findou-se a política de redução da taxa de juros, que havia chego a um patamar de 7,25% a.a. No entanto, as dificuldades para o alcance das metas ficais era evidente (RELATÓRIO ANUAL, 2012). Com relação ao desempenho da dívida no ano de 2012, foi possível a substituição das emissões de títulos prefixados de curto prazo por títulos de médio e longo prazo. As emissões das LTN de longo prazo, de 2 a 4 anos, constituíram em 90,2% das emissões de títulos em 2012. O prazo médio de vencimento aumentou em relação a 2011, passando agora a 4 anos e, em relação ao percentual da dívida a vencer nos próximos meses, houve uma diminuição no ano de 2012 (RELATÓRIO ANUAL, 2012). Este histórico demonstra os esforços do Tesouro Nacional para alongar o prazo de vencimento da dívida pública, através dos títulos prefixados, em substituição aos indexados à Selic. O desafio está em superar a cultura de indexação diária, consequente do longo período inflacionário brasileiro, além de manutenção dos superávits primários, que buscam reduzir o montante da dívida e a redução das taxas de juros de modo sustentável. Esta seção buscou demonstrar, de modo genérico, o comportamento da dívida pública nos últimos anos e os esforços para garantir uma gestão eficiente, considerando o cenário econômico. A seguir serão apresentados alguns dados importantes para a compreensão da dívida pública. 2.7 COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL De acordo com o Relatório Anual da Dívida Pública (2012), são definidas estratégias para garantir o levantamento de recursos para o atendimento da necessidade de financiamento do governo federal, na emissão de títulos públicos pelo Tesouro Nacional. Em 2012, a necessidade líquida de financiamento da dívida pública foi de foi de R$ 312,04 bilhões. A necessidade bruta de financiamento totalizou R$ 533,75 bilhões, deduzindo-se deste montante os recursos orçamentários necessários para o pagamento dívida pública federal, no total de 31 221,71 bilhões, é possível obter o resultado da necessidade líquida de financiamento do governo federal, apresentado na Figura 2 Figura 2 Necessidade Líquida de Financiamento do Governo Fonte: Tesouro Nacional. As emissões de títulos públicos, conforme sua classificação, sofreram algumas alterações nos últimos anos, devido, principalmente, ao esforço do governo de adiar o pagamento de sua dívida interna. Verifica-se, que a partir de 2008, houve uma queda significativa dos títulos prefixados de longo prazo, representadas pelos NTN-F, em função da crise econômica mundial que gerou incertezas quanto ao desempenho futuro da economia. Em contrapartida, verifica-se que nos anos de 2009 e 2010, há um aumento expressivo na emissão de Letras Financeira do Tesouro, precificadas com base na Taxa SELIC, sendo estas emissões controladas nos anos de 2011 e 2012. Uma tendência relativamente estável é observada na emissão de LTN. Estas variações são apresentadas na Figura 3, que apresenta a colocação de títulos públicos no mercado interno para captar recursos para o financiamento da dívida pública federal interna. Os dados estão em milhões correntes, acumulados anualmente. 32 Figura 3 Histórico de Emissão dos Títulos Públicos – DPMFi Total - R$ (Milhões correntes) 300.000,00 250.000,00 200.000,00 Emissões - DPMFi - LFT Emissões - DPMFi - LTN 150.000,00 Emissões - DPMFi - NTN-B Emissões - DPMFi - NTN-C 100.000,00 Emissões - DPMFi - NTN-F 50.000,00 0,00 jan/07 jan/08 jan/09 jan/10 jan/11 jan/12 Fonte: Tesouro Nacional. Elaborado pela autora. No ano de 2012, o comportamento das emissões apresentou-se conforme a Figura 4. Figura 4 - Emissões de Títulos Públicos – DPMFi Total. Ano: 2012 (%) 7% 4% Emissões - DPMFi - LFT Emissões - DPMFi - LTN 32% Emissões - DPMFi - NTN-B Emissões - DPMFi - NTN-C 57% Emissões - DPMFi - NTN-F Fonte: Tesouro Nacional. Elaborado pela autora. Este resultado indica avanços na composição e nos prazos da DPF. Isto pode ser observado na Figura 5 abaixo, que demonstra que o refinanciamento para títulos indexados a taxas flutuantes que apresentam diminuição ao longo dos anos. Os títulos prefixados e remunerados por índices de preços apresentam taxa de refinanciamento crescente. 33 Figura 5 Evolução do refinanciamento da DPMFi (%) Fonte: Tesouro Nacional Em relação à composição da dívida pela precificação dos títulos, verifica-se que houve uma significativa alteração quanto a decisão de compra. Nos anos de 2006 a 2010, a preferência estava associada às variações a Taxa de Juros, sendo expressa pela maior quantidade de títulos precificados à taxa flutuante neste período. Já no ano de 2007, verificase uma alteração para a composição da dívida por títulos prefixados, que apresentou um contínuo crescimento nos últimos sete anos, se intensificando no ano de 2010. Houve, no ano de 2012 uma significativa queda dos títulos a taxa flutuante, em função da queda da taxa de juros. Os títulos precificados com base nos índices de preço apresentam uma trajetória de contínuo crescimento. Estas oscilações são demonstradas na Figura 6, que apresenta o estoque total da DPMFi em bilhões correntes. Os dados mensais da série foram acumulados para tornar a série anual. Figura 6 – Histórico do Estoque da DPMFi Total - Precificação dos Títulos Públicos (Bilhões correntes). 9.000,00 8.000,00 7.000,00 6.000,00 Prefixados 5.000,00 Índice de Preços 4.000,00 3.000,00 Taxa Flutuante 2.000,00 1.000,00 0,00 jan/06 jan/07 jan/08 jan/09 jan/10 jan/11 jan/12 Fonte: Tesouro Nacional. Elaborado pela autora. 34 No ano de 2012, a composição da DPF, por precificação de títulos apresentou a proporção, conforme a Figura 7. Figura 7 - Composição do estoque da DPMFi por Precificação dos Títulos Públicos (% acumulado). Ano: 2012 26% 39% Prefixados Índice de Preços Taxa Flutuante 35% Fonte: Tesouro Nacional. Elaborado pela autora. Com relação ao perfil dos compradores de títulos públicos, ocorre que de acordo com os objetivos destes, há uma diferenciação na preferência pelos instrumentos da dívida pública. Os títulos indexados à Selic, em geral, são comprados pelas tesourarias dos bancos e fundos de investimento, que querem ter garantias de financiamento, com taxa de juros pactuada diariamente. Estes investidores buscam prazos mais curtos e mantem grande parte de sua carteira, devido a elevada liquidez. Os investidores de títulos indexados as índices de preços não buscam liquidez diária, mas sim, pretendem carregar o título por um tempo maior. Os participantes deste grupo, em geral, são pessoas físicas do Tesouro Direto, investidores não residentes e investidores do mercado de previdência. Para os títulos prefixados há necessidade de maior acompanhamento da conjuntura econômica, visto que há maior sensibilidade de preços e variação de taxas de juros. Estes títulos são demandados por pessoas físicas, instituições financeiras e investidores não residentes (CARVALHO; MORAIS, 2009). A Figura 8 abaixo demonstra o perfil dos compradores ao longo do tempo. 35 Figura 8 Detentores da dívida pública ao longo do tempo- % ao ano (2007-2011). 120 100 Outros Seguradoras Governo Não-residentes Previdência Fundos de Investimento Instituições Financeiras Total 80 60 40 20 0 jan/07 jan/08 jan/09 jan/10 jan/11 jan/12 Fonte: Tesouro Nacional. Elaborado pela autora. No ano de 2012, o percentual de participação dos compradores, foi conforme a Figura 9. Figura 9 - Participação no Total da Dívida Pública, por Detentor de Títulos Públicos (%) 4% 4% Instituições Financeiras 7% 30% Fundos de Investimento Previdência Não-residentes 14% Governo Seguradoras Outros 16% 25% Fonte: Tesouro Nacional. Elaborado pela autora. Com o intuito de reduzir os riscos associados aos vencimentos da dívida, permitir maior liquidez dos títulos e corrigir distorções no mercado secundário, são realizadas operações de gerenciamento de passivos. Estas operações são realizadas por meio de leilões de troca e de resgate de antecipação (CARVALHO; MORAIS, 2009). 36 No leilão de troca, há o aceite de títulos com vencimento mais próximo e o Tesouro Nacional fixa o preço dos títulos que está recomprando. Na troca de NTN-B o objetivo é o alongamento da dívida pública e o fomento da liquidez dos títulos. Para os leilões de recompra e resgate antecipado existem dois tipos, o primeiro é a LTN de curto prazo, para redução do risco de refinanciamento e NTN-B de longo prazo, para fomentar a liquidez da curva (CARVALHO; MORAIS, 2009). 2.8 SUSTENTABILIDADE DA DÍVIDA PÚBLICA A dívida pública é sustentável quando os governos, com base em sua restrição orçamentária, são capazes de satisfazer seus compromissos de dívida, pressupondo o pagamento total dos valores contratualmente estabelecidos. O não pagamento dos compromissos pode ser entendido também como a reestruturação da dívida, através de modificações dos contratos, alteração do prazo ou então a redução dos juros, ou a monetização desta dívida, através da emissão de moeda acima do planejamento para o período, visto que isso irá gerar aumento da inflação e redução real de seu valor original (COSTA, 2009). No entanto, não é possível determinar medidas objetivas que indiquem que uma dívida é sustentável, uma vez que são determinados valores subjetivos para compreender o comportamento futuro da dívida pública. Assim, os cenários de sustentabilidade objetivam apenas auxiliar na compreensão da capacidade futura de honrar com os compromissos, considerando o cenário e as variáveis atuais (COSTA, 2009). Um importante indicador da situação fiscal do governo é a analise da trajetória da relação da Dívida/PIB. O valor da dívida deverá ser compreendido na dimensão da economia, visto que os superávits dependem diretamente da capacidade de recursos que a economia é capaz de produzir. A sustentabilidade está vinculada à capacidade de geração deste superávit, que depende, em certa medida, da riqueza que será destinada para esse fim. Assim, é importante estudar se o comportamento da relação dívida/PIB apresenta uma tendência decrescente ou estável (COSTA, 2009). Para Buiter (1985 apud Correa e Meurer, 2008), o conceito de sustentabilidade fiscal está diretamente relacionado à hipótese de que a política fiscal é sustentável se mantêm a relação entre DLSP e o PIB constante. De acordo com Costa (2009), a estabilidade da relação dívida/PIB já é um indicador suficiente para compreender que a sustentabilidade da dívida está garantida. Assim, é 37 possível identificar qual o nível de superávit primário a ser obtido para manter a dívida/PIB constante pela equação (8). Assim, ( ) (8) Onde: é o Superávit Primário. é a taxa de juros. é a taxa de crescimento do PIB. é a relação dívida/PIB atual. Esta equação permite identificar o superávit, em proporção do PIB, necessário para estabilizar a relação dívida/PIB, considerando a relação dívida/PIB atual, a taxa de juros e da taxa de crescimento da economia. No entanto, caso o crescimento do PIB seja moderado, algumas alterações na equação (8) são feitas, de modo a alcançar um valor aproximado, através da equação (9) abaixo, que apesar de simples pode ser útil na determinação aproximada do superávit primário para manter constante a relação dívida/PIB: ( ) (9) Onde: é o Superávit Primário. é a taxa de juros. é a taxa de crescimento do PIB. é a relação dívida pública/PIB atual. Para Giambiagi e Além (2000), a condição de equilíbrio exigida para que a relação dívida pública/PIB seja estável, é que o superávit primário do setor público seja em função direta da própria relação dívida/PIB e da taxa de juros e inversa ao crescimento da economia. Para os autores, a meta de superávit primário necessária para manter a dívida pública/PIB 38 estável depende do crescimento econômico e do nível da taxa de juros. A necessidade de superávit primário diminui com o crescimento econômico e cresce com uma taxa de juros. Em momentos de incerteza, caso o governo falhe no alcance das metas de superávit, a percepção de que a dívida não é sustentável pode resultar em um aumento da taxa de juros. Este aumento irá incidir na dívida, tornando-a mais elevada, resultando em um ciclo de aumento, uma vez que o custo de carregamento, ou seja, o custo para manter a dívida sustentável, será maior. Portanto, a estrutura da dívida e sua composição apresentam impactos na sustentabilidade, uma vez que o aumento de volatilidade pode elevar o estoque da dívida e por consequência, os riscos de financiamento no longo prazo (COSTA, 2009). Segundo Correa e Meurer (2008), com a implantação do regime de metas de inflação, o setor público obrigou-se a gerar superávits primários. O ajuste fiscal, principal instrumento de gerenciamento da dívida interna, tem sido prejudicado pelo perfil da dívida, atrelado a títulos pós-fixados que geram incerteza quanto a capacidade futura de pagamento. Assim, além da obtenção de superávits pelo governo, há um esforço por parte do Tesouro Nacional para alterar o perfil da dívida pública, organizando o vencimento dos títulos e sua precificação, a alteração de títulos de curto prazo para médio e longo prazo, política de resgates antecipados e ampliação dos investidores, de modo a reduzir os riscos de refinanciamento da dívida e garantir sua sustentabilidade. Para os autores, o controle da relação dívida pública/PIB, considerando a restrição orçamentária do governo, define o esforço fiscal, ou seja, o saldo primário, a ser perseguido para garantir uma dívida sustentável. Para isso, deve-se considerar o nível da taxa de crescimento do PIB, taxa de inflação e da senhoriagem (CORREA; MEURER, 2008). A sustentabilidade da dívida pública em uma visão Keynesiana, não objetiva apenas manter a evolução da dívida em uma rota de solvência, para sinalizar que o país é seguro para investimentos, mas também, para essa corrente teórica, o governo deve buscar recuperar a capacidade de realizar políticas de gastos sociais, de modo a construir um contexto macroeconômico de crescimento, em busca do pleno emprego. Assim, para Oreiro, Sicsú e Paula (2004), a busca pelo pleno emprego, através do crescimento econômico é o objetivo a ser perseguido, enquanto que a política fiscal é um dos instrumentos para se alcançar este objetivo e a sustentabilidade da dívida pública é uma condição necessária para o alcance do pleno emprego. Portanto, a sustentabilidade da relação dívida/PIB e a redução de déficits não é o objetivo final do governo. Já para Pereira (2008), a questão fiscal é essencial para o país voltar a crescer, assim, o controle fiscal, com baixos níveis de endividamento e déficits controlados é fundamental para 39 qualquer país, pois, segundo ele, um Estado com déficits constantes e que se endivida é um Estado fraco. O autor destaca que a solução atual para o problema do desequilíbrio fiscal, que adota o alcance da meta de superávit primário como como índice de sustentabilidade, é inadequado para garantir a sustentabilidade fiscal. Para o autor, o quadro fiscal ainda é desequilibrado e a crise fiscal se perpetua devido a alta taxa de juros, que onera a dívida pública. O Estado tem como obrigação o pagamento destas altas taxas, porém, mesmo assim, os credores ficam apreensivos quanto à sustentabilidade da dívida de uma nação que aceita este nível de juros. O endividamento brasileiro já corresponde a grande parte do PIB, e se agrava ao considerar a taxa de juros que recai sobre ele. Para que o país alcance o desenvolvimento e a estabilidade financeira, um índice importante é que a poupança pública seja positiva. Assim, a política fiscal não deve apenas aumentar o superávit primário deve considerar também a poupança pública entendida como a diferença entre a receita corrente (T) e as despesas correntes (C), na qual estão incluídos os juros da dívida (PEREIRA, 2008). A poupança pública distingue-se o déficit público por não considerar os investimentos como parte das despesas. O resultado da poupança pública seria destinado para os investimentos públicos necessários ao desenvolvimento (PEREIRA, 2008). Segundo Pereira (2008), uma das causas fundamentais do desequilíbrio fiscal é o uso do superávit fiscal como critério de ajuste e a afirmação de que o problema está nos gastos públicos, não considerando nestes gastos os juros incidentes na dívida. Assim, o que se deve buscar é a diminuição da taxa de juros, controlando a inflação através da diminuição das despesas públicas. Assim, o autor afirma que a corrente novo-desenvolvimentista reconhece o problema fiscal e que a solução se dá através da taxa de juros de curto prazo, já que esta é a principal causa deste desequilíbrio, porém, usada como argumento para manter o controle da inflação. Enquanto a taxa de juros estiver alta, principal causa do desequilíbrio fiscal, não será possível reduzir o superávit primário. Apesar das diferentes percepções a respeito da política fiscal e da sustentabilidade da dívida pública, a política vigente considera a relação dívida pública/PIB como o principal indicador para compreender a trajetória futura da dívida e a capacidade de o governo honrar os contratos estabelecidos. Portanto, estudos são realizados de modo a analisar as perspectivas de evolução da relação dívida pública/PIB, em contextos diferenciados, para verificar se o país apresenta um quadro fiscal sustentável. A seção a seguir apresenta estudos realizados nesse sentido. 40 3 PREVISÕES DAS VARIÁVEIS QUE COMPÕE A DÍVIDA PÚBLICA As técnicas quantitativas de previsão econômica envolvem a análise numérica dos dados passados, não apresentando opiniões pessoais. A partir destes dados empregam-se modelos matemáticos para projetar o comportamento futuro das variáveis em estudo. Existem diferentes médotos de previsão econômica, no entanto, para o presente trabalho foram utilizados métodos de previsão por suavização exponencial, que se utilizam de valores passados das variáveis para sua projeção futura. Assim, é possível observar como será o comportamento, nos próximos anos, das variáveis em estudo, considerando que o comportamento futuro da variável será uma projeção dos seus valores passados, não sofrendo influência de outras variáveis. A qualidade da análise de previsão está relacionada com fatores, como o número de períodos históricos em análise, identificando que quanto maior o período, mais confiável é a técnica, assim como, o tamanho do período, se é semanal, mensal ou anual. Estes fatores irão influenciar na técnica que deve ser utilizada para a previsão. Para este estudo, são utilizadas séries de dados anuais, envolvendo um período de 17 anos de dados observados, entre 1995 a 2012, tendo como horizonte de previsão 10 anos a frente. Esta seção apresenta os resultados das previsões das variáveis componentes da dívida pública interna. A metodologia empregada será a de previsão por Suavização Exponencial. Segundo Samohyl, Souza e Miranda (2008), as séries de dados possuem características que diferenciam os períodos de dados e que podem ser utilizadas nas previsões. A técnica de suavização exponencial busca identificar e isolar componentes de uma série de dados e, com base nisso, decompor a tendência e a sazonalidade, de modo a suavizar seus valores passados, para serem dados pesos diferenciados, que decaem exponencialmente para zero, permitindo com isso a valorização os dados observados mais recentemente. Para Miranda (2009), a suavização exponencial decompõe uma série temporal e suaviza seus valores passados, de modo a dar pesos diferenciados que decaem exponencialmente, em seguida, estes valores decompostos irão se recompor para criar as previsões. As séries de dados apresentam componentes de nível, crescimento e sazonalidade. O nível é o valor médio da observação no período, o crescimento é diferença de dois níveis consecutivos e a sazonalidade é um evento que se repete com uma periodicidade constante. Conforme Pellegrini e Fogliatto (2000, p 49) “os modelos de suavização exponencial são amplamente utilizados para previsão de demanda devido a sua simplicidade, facilidade de ajuste e boa precisão”. A suavização exponencial utiliza uma ponderação diferente para cada 41 valor observado na série temporal, permitindo que os valores mais recentes obtenham pesos maiores (PELLEGRINI; FOGLIATTO, 2000). A seção seguinte dedica-se à explicação das transformações dos dados utilizados neste estudo. 3.1 TRATAMENTO DAS SÉRIES DE DADOS Os dados utilizados para as previsões foram coletados na base de dados do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEADATA) e do Sistema Gerenciador de Séries Temporais, do Banco Central. A periodicidade definida para o estudo foi a anual, para um período de dados compreendido entre 1995 a 2012. Como base para a identificação dos dados a serem coletados, utilizou-se a equação (5), apresentada novamente abaixo, para a elaboração dos cenários de estudo da dívida pública futura. [( )( )] (5) Onde: é a dívida pública defasada em 1 período. é a taxa de juros nominal incidente sobre a dívida pública. é a taxa de crescimento real do PIB é a taxa de inflação. é relação superávit primário/PIB. é a relação senhoriagem/PIB . Assim, os dados coletados referem-se ao Produto Interno Bruto (PIB), em milhões. Para representar , que é a dívida pública, é utilizada a DLSP Interna, que compreende o governo federal e Banco Central, governos estaduais, governos municipais e empresas estatais (federais, estaduais e municipais). Como a variável em estudo refere-se à relação dívida líquida/PIB, os dados da DLSP interna foram divididos pelo PIB. A variável a DLSP Interna com defasagem de 1 período. representa 42 As Necessidades de Financiamento do Setor Público, no conceito primário consolidado sem desvalorização cambial, acumulada mensalmente, em valores correntes (R$ milhões) foram utilizadas para obter o superávit primário. As NFSP correspondem à variação do endividamento do setor público não financeiro. Por endividamento entende-se o conceito de DLSP e supõe-se que, se a dívida líquida cresce há um déficit público, enquanto que se ela cai, há um superávit. No caso das NFSP, se os valores obtidos forem positivos, indica que houve um déficit, uma vez que a NFSP foi maior do que as receitas. Se os valores obtidos forem negativos, indica um superávit, uma vez que, do total das receitas, não foram necessários o determinado valor para financiamento. Assim, para a obtenção do Resultado Primário, foram invertidos os sinais das NFSP. Esta variável foi dividida pelo PIB, para obter a relação superávit primário/PIB. A senhoriagem é resultado da variação real da base monetária (M0). Este valor foi dividido pelo PIB, para encontrar a relação Senhoriagem/PIB. Para representar a inflação, foi utilizado o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA) anual. A taxa de crescimento real do PIB foi obtida através da base de dados do IPEA. A taxa de juros foi obtida através do Banco Central, pela série dados da taxa Selic, acumulada no mês, anualizada. Esta série de dados era mensal, portanto, para transformá-la em dados anuais, foi realizada uma média mensal. Em seguida, o valor da taxa de juros foi deflacionado pelo IPCA. Transformações nos dados foram necessárias para que estes estivessem adequados ao uso na equação. Assim, os dados são reais e os que foram obtidos na base de dados como nominais, foram deflacionados pelo IPCA, tranformados em valores unitários. Foram obtidos dados anuais devido menor oscilação presente nestas séries de dados. Na equação, a inflação é utilizada considerando que a taxa de juros seja nominal, porém, como as variáveis utilizadas são variáveis reais, deflacionadas pelo IPCA, o valor da inflação foi definido com nulo. Assim, a equação (5) anterior passa a ser (10) ( ) (10) Onde, a inflação , terá nulo seu efeito nos dados, pelo fato de estarem sendo usados dados reais, e r refere-se à taxa de juros real. 43 3.2 COMPORTAMENTO FUTURO DAS VARIÁVEIS QUE INFLUENCIA A DÍVIDA PÚBLICA. Com o objetivo de simular a evolução dos principais fatores que influenciam a trajetória da dívida pública ao longo do tempo foram realizadas previsões, que serão base para os cenários de evolução da relação dívida pública/PIB. Os métodos de previsão adotados são por Suavização Exponencial, que podem ser classificados de acordo com os componentes de tendência e sazonalidade que a série apresenta. A escolha do método de Suavização Exponencial se deve ao fato de que este método valoriza, a partir da utilização de pesos, os acontecimentos mais recentes. Assim, considerando a conjuntura atual, que apresenta características peculiares, como por exemplo, com uma taxa real de crescimento do PIB de 0,87% (média mensal ao ano) e uma taxa de juros real de 2,54% (média da taxa de juros real mensal anualizada), tornou-se notável estudar qual o impacto desta conjuntura para os eventos futuros. Com a suavização exponencial, os pesos para estes eventos são maiores, aplicando a estes dados maior importância do que para dados passados. De acordo com Pellegrini e Fogliatto (2000), a utilização dos modelos de Suavização Exponencial são diretamente influenciados pelo comportamento da série temporal que possui quatro comportamentos característicos: média, sazonalidade, ciclo e tendência. A média refere-se ao fato de a série manter-se em torno de uma média constante, a sazonalidade é resultado de padrões cíclicos observados em diferentes períodos de tempo, o ciclo é observado em séries com comportamento ascendente ou descendente em intervalos não regulares, e a tendência também apresenta comportamento ascendente ou descendente, porém, em um período longo e que se mantêm. De acordo com Gardner (2006 apud VERÍSSIMO et al. 2012), os métodos de suavização exponencial são ferramentas empregadas para previsões de curto prazo. Os métodos incorporam o nível, a tendência e a sazonalidade da série temporal, e também, incorporam o erro de previsão, que é o componente estocástico do método (HYNDMAN et al., 2008 apud VERÍSSIMO et al. 2012). A Suavização exponencial possui três principais métodos, aplicados de acordo com as características da série de dados, sendo eles: a Suavização Exponencial Simples, o Método de Holt e o método de Holt – Winters. A suavização exponencial simples é utilizada quando a série de dados apresenta um nível médio constante, ou seja, é um método adequado para séries que não possuem sazonalidade ou tendência. Neste método, a constante de suaviação 44 varia entre um valor de 0 a 1, sendo os maiores valores para os períodos atuais (PELLEGRINI; FOGLIATTO, 2000). O método de Holt, ou também conhecido como método de alisamento exponencial duplo, uma expansão da suavização exponencial simples, é utilizado de modo mais eficiente em séries de dados que apresentam tendência linear. Este método oferece refinamentos adicionais, uma vez que incorpora uma constante de suavização que afeta a série de dados. A previsão é resultado da estimativa esperada da série de dados, mais a influência da tendência (PELLEGRINI; FOGLIATTO, 2000) (VERÍSSIMO et al. 2012). Os modelos de Holt-Winters, ou suavização exponencial tripla, são utilizados, de modo apropriado, à séries de dados que apresentam tendência linear e sazonalidade, que se repetem em intervalos regulares. Os modelos Holt-Winters podem ser divididos em sazonalidade aditiva ou sazonalidade multiplicativa. No modelo aditivo, onde a sazonalidade é somada à tendência da série, a variação sazonal é constante e a diferença entre o maior e menor valor observados são constantes no tempo. No modelo multiplicativo, onde a sazonalidade é multiplicada pela tendência, a variação sazonal aumenta ou diminui de acordo com diferentes períodos (PELLEGRINI; FOGLIATTO, 2000). Estes métodos apresentados anteriormente são considerados a base do modelo de Suavização exponencial. Porém, estes ainda tiveram algumas tranformações, como o desenvolvimento de um modelo de tendência aditiva amortecida, proposto por Gardner & McKenzie (1985), buscando corrigir a previsão em situações não lineares. E também um modelo proposto por Taylor (2003), quando propôs modelos com tendência multiplicativa amortecida (MIRANDA, 2009). Assim, os casos com tendência amortecida são utilizados quando a tendência não é linear, aplicando portanto, uma constante de amortecimento da tendência (φ). O método de Suavização exponencial possui uma classificação, proposta por Hyndman et al (2002 apud MIRANDA, 2009), que leva em conta o comportamento da tendência e a sazonalidade da série de dados. A tendência é caracterizada de cinco tipos: nenhuma, aditiva, aditiva amortecida, multiplicativa e multiplicativa amortecida. A sazonalidade classifica-se em nenhuma, aditiva e multiplicativa. Os métodos são resultado da combinação entre a tendência e a sazonalidade, como apresentado na Tabela 2 a seguir. O eixo x das tabelas indica a tendência (nenhuma, aditiva, aditiva amortecida, multiplicativa, multiplicativa amortecida) e o eixo y indica a sazonalidade (nenhuma, multiplicativa e aditiva) (SAMOHYL; SOUZA; MIRANDA, 2008). 45 Tabela 2 Classificação dos métodos exponenciais quanto a tendência e a sazonalidade. Tendência Nenhuma Aditiva Aditiva Amortecida Multiplicativa Multiplicativa Amortecida Nenhuma NN NA Sazonalidade Multiplicativa NM AM Aditiva NA AA AdN AdM AdA MN MM MA MdN MdM MdA Fonte: adaptada de (SAMOHYL; SOUZA; MIRANDA, 2008). Pela Tabela 2 identifica-se que o modelo NN representa uma série sem tendência e sem sazonalidade e, portanto, é a suavização exponencial simples (SES). No modelo em que representa uma série com tendência aditiva e sem sazonalidade AN, é o modelo de Holt. E os modelos AA e AM representam os modelos de Holt-Winters aditivo e multiplicativo. Assim, a suavização exponencial simples só apresenta o componente de nível da série de dados, o modelo de Holt apresenta o nível e o crescimento, ou seja, a tendência, e o modelo de HoltWinters apresenta o nível, o crescimento e sazonalidade (MIRANDA, 2009). A Figura 10 possui uma demonstração dos diferentes métodos. 46 Figura 10 Gráficos dos distintos métodos de suavização exponencial. Fonte: (MIRANDA, 2009). Estes diferentes modelos serão utilizados para estudar as variáveis componentes da dívida pública. A sistemática para a previsão por suavização exponencial envolve a utilização da planilha eletrônica de excel NNQ-Estat, com o objetivo de selecionar o método mais apropriado para as previsões. Para que a previsão seja válida, é necessário considerar o nível de precisão que uma técnica de previsão pode oferecer. Assim, para a definição do melhor método de previsão para as diferentes variáveis utilizou-se como parâmetro a medida de erro U de Theil. O U de Theil é uma medida de discrepância entre os valores observados e valores previstos, considerando 1 passo a frente. Espera-se que o valor obtido com o U de Theil esteja entre um valor de zero a 1, onde zero indica uma previsão perfeita, enquanto que valores maiores do que 1 apresentam ineficiência de previsão (SAMOHYL; SOUZA; MIRANDA, 2008). O valor deste erro permite decidir quanto ao método de análise da previsão, que caso seja alto, indicará a necessidade de buscar outras alternativas de previsão. 47 Os resultados são apresentados abaixo. A interpretação dos métodos de previsão, com base na Tabela 2, deve ser realizada da seguinte forma: a primeira letra equivale ao erro, não apresentado na tabela, mas refere-se a erro aditivo quando encontra-se A e M a erro multiplicativo. A segunda letra representa a tendência enquanto que a terceira representa a sazonalidade. 4.2.1 Previsão da relação dívida pública/PIB Nos estudos de previsão da relação entre DLSP Interna e PIB, foram realizados testes com todos os métodos de Suavização Exponencial, para identificar qual o melhor método a ser utilizado. Dos métodos de previsão por suavização exponencial para a dívida pública em relação ao PIB, o melhor método encontrado foi o MAdN, evidenciando que a série observada apresenta dados com erro multiplicativo, tendência aditiva amortecida e sem sazonalidade. É possível visualizar a melhor aceitação deste método, através da Figura 11. Figura 11 Previsão da relação dívida pública/PIB. Fonte: Elaborado pela autora. O melhor método foi escolhido de acordo com a medida de erro U de Theil. Para a previsão da DLSP, em relação ao PIB, o U de Theil observado foi de 0,462, indicando que a previsão escolhida é melhor do que pela utilização do método ingênuo de previsão. O método ingênuo utiliza da última observação para prever o próximo período. 48 4.2.2 Previsão da relação NFSP/PIB Para a previsão da relação NFSP consolidado, no conceito primário, acumulado, em relação ao PIB, em comparação com os demais métodos, o melhor método de suavização encontrado foi o método AAN. Este método indica que a série de dados apresenta erro aditivo, tendência aditiva e não apresenta sazonalidade. Figura 12 Previsão da relação NFSP/PIB (Resultado Primário). Fonte: Elaborado pela autora. Para a definição deste método como o método mais adequado à previsão, utilizou-se como parâmetro a medida do U de Theil. O U de Theil, que para ser aceitável varia de 0 a 1, na previsão da relação NFSP/PIB, foi de 0,86. Observa-se pela Figura 12 que a previsão para a relação NFSP/PIB é decrescente, alcançando valores negativos a partir de 2015. É importante destacar novamente que, as NFSP correspondem ao déficit nominal, neste estudo, são utilizadas as NFSP no conceito primário, que exclui os juros nominais incidentes sobre a dívida pública. Porém, considerando a equação (5) a exigência é pelo superávit primário. Portanto, como as NFSP com sinal negativo indicam que há um superávit primário e com sinal positivo, que há um déficit primário, optou-se pela inversão do sinal, de modo a utilizar o superávit primário na equação (5). Assim, a previsão foi feita com esta alteração, o que permite concluir pela Figura 12 que o superávit primário passa a ser negativo, ou seja, passa a ser déficit primário ao longo do período. A série de dados era mensal e foi acumulada anualmente para a obtenção da NFSP no conceito primário. 49 4.2.3 Previsão da relação senhoriagem/PIB O método obtido para a previsão da relação entre senhoriagem/PIB foi o método AAdN, com U de Theil de 0,647. Este método indica que o comportamento da série apresenta erro aditivo, tendência aditiva amortecida e não apresenta sazonalidade. É possível observar que a série de dados observados é oscilante e que a previsão é constante ao longo do período. Figura 13 Previsão da relação Senhoriagem/PIB. Fonte: Elaborado pela autora. Os valores históricos da senhoriagem não foram elevados, devido a isso, a ´revisão mantêm-se constante em uma valor inferior a 0,4 % do PIB, sendo pouco influente nos valores do montante da dívida pública. 4.2.4 Previsão da Taxa de juros real Dentre os modelos de Suavização Exponencial, para a previsão da taxa de juros o método mais adequado foi o AAdN, indicando que o erro é aditivo, a tendência da série é Aditiva Amortecida, enquanto que não é possível observar sazonalidade. O U de Theil para o melhor método desta previsão foi de 0,679, entre 0 e 1. 50 Figura 14 Previsão da Taxa de juros real. Fonte: Elaborado pela autora. Como a Suavização Exponencial baseia-se apenas na série de dados da própria variável, dando maior importância para os dados recentes, é esperado que para a taxa de juros a previsão seja decrescente. Na Figura 14, é visível, através dos dados observados e dos dados previstos, este comportamento. Apesar de a taxa de juros em um nível baixo ser importante para o financiamento da dívida pública, uma vez que diminui o montante a ser pago, se esta taxa apresentar um valor próximo a zero, ou então, um valor negativo, como observado no gráfico acima, existe o risco de refinanciamento. Este risco não é oriundo do aumento dos custos de emissão, mas sim, é resultado de uma dificuldade em captar recursos para honrar os compromissos do pagamento da dívida pública. O principal instrumento de financiamento da dívida pública, como mostrado anteriormente, é através da emissão de títulos públicos. Os agentes econômicos tem preferência por estes títulos, em contrapartida à retenção de moeda, devido à taxa de juros paga por eles. Uma taxa de juros alta atrairia investidores, permitindo ao governo a possibilidade de obtenção de recursos. No entanto, à medida que a taxa de juros diminui, os agentes passam a demandar mais moeda em relação à títulos, uma vez que com uma taxa de juros tão baixa, os agentes irão preferir a liquidez a conservar um investimento que rende uma taxa de juros neste nível, inclusive negativa. Na Figura 14, observa-se a existência do fenômeno da armadilha da liquidez, onde a taxa de juros baixou a um certo nível que os agente irão sempre preferir a liquidez, em contrapartida à 51 aplicação em títulos, gerando um risco para a sustentabilidade da dívida. Assim, sempre haverá um custo de juros para a manutenção da dívida pública, já que para reter recursos de terceiros há necessidade de se pagar um prêmio de juros. No entanto, espera-se que esta taxa de juros mantenha-se em um nível de equilíbrio, que não onere a dívida pública, de modo que esta não possa ser sustentável, da mesma forma que não seja tão baixa que não atraia investidores. 4.2.5 Previsão da Taxa de crescimento do PIB A taxa de crescimento do PIB teve como melhor método de previsão o MAN, com U de Theil de 0,617. O método MAN indica que o erro é multiplicativo, a tendência da série é aditiva e não há sazonalidade. A taxa de crescimento do PIB na previsão apresenta crescimento, apesar da última observação de dados ser inferior 1% do PIB. Isso indica que, mesmo com o resultado de baixo crescimento do último ano, ainda assim há possibilidade de uma taxa real crescente, pela série de dados observada. Mai detalhes podem ser encontrados na Figura 15. Figura 15 Previsão da Taxa de crescimento do PIB. Fonte: Elaborado pela autora. A sazonalidade não foi observada nas previsões anteriores devido a característica das séries de dados anuais, que em geral, não apresentam sazonalidade. Em séries mensais a escolha do melhor método considera a sazonalidade. 52 A Tabela 3 abaixo apresenta os valores obtidos com as previsões, de acordo com os métodos mais adequados, considerando a série de dados para as variáveis que representam a evolução da dívida pública ao longo do tempo. As previsões são a partir de 2013. Estas previsões foram utilizadas para a elaboração dos cenários, apresentados na seção seguinte. Tabela 3 Previsão das variáveis que compõe a Dívida Pública. Relação Variação DLSP/PIB Relação Período (%) DLSP/PIB Aplicada na (%) equação (5) 2011 49,69% -0,14% 2,73% 4,85% 0,27% 49,71% 2012 49,28% 0,14% 0,87% 2,54% 0,21% 50,16% 0,45% 2013 51,57% 0,35% 3,99% 2,41% 0,09% 48,09% -2,07% 2014 51,90% 0,35% 4,09% 1,67% 0,03% 50,00% 1,91% 2015 52,18% 0,35% 4,19% 0,97% -0,04% 49,98% -0,02% 2016 52,42% 0,35% 4,29% 0,29% -0,10% 49,93% -0,05% 2017 52,62% 0,35% 4,39% -0,37% -0,17% 49,84% -0,08% 2018 52,80% 0,35% 4,49% -1,00% -0,23% 49,74% -0,11% 2019 52,95% 0,35% 4,59% -1,60% -0,30% 49,62% -0,12% 2020 53,08% 0,36% 4,69% -2,19% -0,36% 49,48% -0,14% 2021 53,19% 0,36% 4,79% -2,75% -0,43% 49,33% -0,15% 2022 53,29% 0,36% 4,89% -3,29% -0,49% 49,18% -0,15% Fonte: Previsão por Suavização Exponencial com dados IPEA e Banco Central. Elaborado pela autora. DLSP Real (% PIB) Taxa de Senhoriagem crescimento (% PIB) do PIB NFSP Taxa real de Primário(%PIB) juros (resultado primário) Pela Tabela 3 é possível verificar que a previsão das variáveis de inflação, da taxa real de juros e das necessidades de financiamento do setor público apresentam valores decrescentes ao longo dos próximos anos. As variáveis de crescimento real do PIB, da DLSP real/PIB E da senhoriagem/PIB são crescentes ao longo do ano. Considerando a previsão por Suavização Exponencial, a DLSP/PIB é crescente, comparativamente ao total atual, alcançando um valor acima de 53% do PIB. No entanto, é importante considerar o valor obtido com a relação dívida líquida/PIB e todas as variáveis que a influenciam, que apresenta um valor decrescente, como é possível observar na Figura 16. 53 Figura 16 Comparação entre a Previsão da DLSP/PIB e a Relação DLSP/PIB com as demais variáveis. 54% 53% 52% 51% 50% 49% 48% 2022 2021 2020 2019 2018 2017 2016 2015 2014 2013 47% PREVISÃO DLSP Real (% PIB) - Por suavização exponenecial RELAÇÃO DLSP/PIB (%) - Aplicada na equação Fonte: Elaborado pela autora. Pela Suavização Exponencial, a previsão considera apenas valores passados desta variável, visto que é um método de previsão univariado. A série de dados da DLSP apresenta valores crescentes ao longo dos anos, passando de aproximadamente 23% do PIB em 1995, para 45,5% em 2005 e atualmente, apresentando um percentual de 49,2 do PIB. Como a série de dados tem tendência crescente, este comportamento passado iria se refletir na previsão, apresentando uma tendência crescente. Na relação com as demais variáveis, com dados aplicados na equação (5), a DLSP/PIB é decrescente, tendo uma variação negativa anual, nas previsões de longo prazo, como é possível verificar na última coluna da Tabela 3. Comparando ambas as séries, a previsão por suavização exponencial apresenta valores superiores ao da relação DLSP/PIB que leva em consideração as demais variáveis que afetam a dívida. Este é um indicador importante, uma vez que o valor decrescente obtido com a interação entre todas as variáveis indica que a dívida pública é sustentável. É importante destacar que a diferença resultante no primeiro ano de aplicação na equação (5) é devido ao fato de a defasagem de 1 período, exigida na equação, considera um valor observado no primeiro ano, enquanto que as demais variáveis são previstas. Esta ocorrência também será evidente em todo os cenários propostos. Na seção seguinte, são apresentados os cenários para a relação Dívida Líquida/PIB, simulando valores diferenciados aos da previsão, para as variáveis que afetam a dívida pública. Os valores das previsões também serão parâmetro para a determinação de algumas variáveis dos cenários otimistas, de modo a buscar alternativas diferenciadas para as políticas econômicas a serem implementadas. 54 4 CENÁRIOS PARA A RELAÇÃO DÍVIDA PÚBLICA/PIB A dinâmica da relação dívida pública/PIB ao longo do tempo é um indicador importante da sustentabilidade da política fiscal do país. Assim, as previsões apresentadas anteriormente irão embasar as simulações a respeito da trajetória deste indicador ao longo do tempo. As previsões anteriores permitem compreender o histórico das variáveis que compõe a dívida pública e, com isso, projetar o comportamento futuro destas variáveis, que em conjunto, irão demonstrar as possibilidades para manter a dívida pública estável. Nesta seção serão apresentados alguns cenários para a relação dívida pública/PIB, no período de 2013 a 2022, e na seção seguinte, algumas implicações destes cenários para a política econômica. Os cenários permitem uma visão de eventos futuros, de modo a embasar as decisões atuais. Estes cenários são relevantes para dar subsídios ao estabelecimento de estratégias para a estabilização ou redução do endividamento público. A definição dos cenários foi modelada com base na equação (5) proposta por Giambiagi e Além (2008) apresentada anteriormente na descrição das transformações dos dados. Considerando o comportamento de algumas das variáveis que compõe a divida, foram criados cenários otimistas, pessimistas e realistas. Na Tabela 4 abaixo, encontram-se os cenários para o comportamento futuro da relação dívida pública/PIB, mantendo a variável da taxa real de juros constante por todo o período futuro. No cenário pessimista, a taxa real de juros real foi mantida a 12,87 % ao ano, como ocorreu no ano de 2003. Assim, se a taxa real de juros alcançasse atualmente este patamar, a relação dívida líquida PIB, apresentaria em 2022 um valor aproximado de 57%. Em um cenário realista, com uma taxa de juros real de 2,54%, como observado em 2012, a relação dívida pública PIB alcançaria um valor em percentual do PIB de 52,1%. Em um cenário otimista, onde a taxa de juros real apresenta um valor próximo a zero, 0,29%, como obtido através da previsão para o ano de 2015, o montante da dívida pública em relação ao PIB seria de 51%. O valor obtido para a taxa de juros no cenário otimista considerou as previsões, pois dentre os valores observados na série de dados, o valor obtido no cenário realista, de 2,54% em 2012, é o melhor valor observado nos últimos anos. Assim, para buscar uma alternativa mais atraente do que esta já existente, foi utilizado um valor previsto, neste caso, o do ano de 2015, no valor de 0,29%. Retoma-se a questão da existência de uma taxa de juros próxima a zero, vale destacar que este nível apenas é um cenário otimista para a diminuição do montante total da dívida, no entanto, em condições normais, vale considerar se esta taxa de juros seria atraente aos investidores. 55 Tabela 4 Cenários para a relação dívida pública/PIB considerando a taxa real de juros. Cenários - Taxa de Juros Real 2013 Pessimista Taxa real de juros 12,87 (2003) 53,0% Realista Taxa real de juros 2,54 (2012) 48,2% Otimista Taxa real de juros 0,29 (2015) 47,1% 2014 55,5% 50,4% 49,3% 2015 55,9% 50,8% 49,6% 2016 56,2% 51,1% 49,9% 2017 56,5% 51,3% 50,2% 2018 56,7% 51,5% 50,4% 2019 56,9% 51,7% 50,6% 2020 57,1% 51,9% 50,7% 2021 57,2% 52,0% 50,9% 2022 57,4% 52,1% Fonte: Elaborado pela autora. Período 51,0% Analisando a Tabela 4, observa-se que a relação DLSP interna/PIB, para todos os cenários, apresenta tendência crescente. Destaca-se que no curto prazo a DLSP tem uma queda, porém, apresenta crescimento posterior. O que indica que, além da taxa de juros, é preciso adotar políticas complementares, de modo a manter esta relação constante, ou idealmente, declinante. A Figura 17 representa os cenários obtidos para a relação dívida/PIB, através da análise do comportamento da Taxa real de juros. 56 Figura 17 Cenários para a relação dívida pública/PIB considerando a Taxa de juros real. 58% 56% 54% 52% 50% 48% 46% 2022 2021 2020 2019 2018 2017 2016 2015 2014 2013 44% Taxa de Juros Pessimista tx juros real 12,87 (2003) Taxa de Juros Realista tx juros real 2,54 (2012) Taxa de Juros Otimista tx juros real 0,29 (2015) Fonte: Elaborado pela autora. Com base na Figura 17 é importante observar que, mesmo com uma taxa de juros mais baixa, a relação Dívida pública/PIB é crescente. Assim, apenas uma diminuição da taxa de juros não indica que a dívida pública é sustentável, pois a influência das demais variáveis faz com que a relação DLSP/PIB se mantenha crescente. Uma menor taxa de juros diminui o montante total da DLSP/PIB, o que também é relevante, porém, ainda indica que são necessárias políticas complementares para manter esta relação constante ou decrescente. Para isso, também é necessário entender a influência do resultado primário. O principal instrumento de política fiscal utilizado atualmente, com o objetivo de controlar os gastos públicos e assim evitar que a dívida pública alcance patamares insustentáveis é o superávit primário. Portanto, considerando o resultado primário, foram realizados cenários para a relação futura da dívida pública/PIB, podendo ser observado na Tabela 5. Em um cenário pessimista, considerando que ocorra déficit primário no montante de 0,89% do PIB, como ocorreu no ano de 1998, o montante da dívida pública, em relação ao PIB, no ano de 2022, será de 49,6%. Em um cenário realista, com superávit primário de 0,21%, como observado no ano de 2012, há uma diminuição da relação DLSP/PIB se comparado à previsão inicial. Em um cenário otimista, a relação DLSP/PIB chega a um patamar de 45,2%, considerando um superávit primário constante de 3,5%, como ocorreu no ano de 2001. Em todos os cenários há tendência decrescente da relação dívida/PIB, mesmo este decréscimo sendo menor quando observado déficit primário. Porém, apesar da 57 diminuição expressiva da relação dívida pública/PIB nos cenários realista e otimista, é importante considerar as implicações da adoção de um superávit primário neste nível. Tabela 5 Cenários para a relação dívida pública/PIB considerando o Resultado Primário. Cenários - Resultado Primário Pessimista Realista Período Otimista 2013 Déficit Primário 0,89(1998) 49,1% Superávit Primário 0,21 (2012) 48,0% Superávit Primário 3,5 (2001) 44,7% 2014 50,9% 49,8% 46,5% 2015 50,8% 49,7% 46,4% 2016 50,7% 49,6% 46,3% 2017 50,6% 49,5% 46,2% 2018 50,4% 49,3% 46,0% 2019 50,2% 49,1% 45,8% 2020 50,0% 48,9% 49,8% 48,7% 49,6% 48,5% Fonte: Elaborado pela autora. 2021 2022 45,6% 45,4% 45,2% A Figura 18, a seguir, tem como objetivo demonstrar o comportamento dos cenários, otimista, realista e pessimista, considerando o resultado primário ao longo do tempo. Nota-se que há um decréscimo para todos os cenários, inclusive o realista, indicando que os esforços para garantir a meta de Superávit primário são justificadas para a diminuição da relação DLSP/PIB. 58 Figura 18 Cenários para a relação dívida pública/PIB considerando o resultado primário. 58% 56% 54% 52% 50% 48% 46% 2022 2021 2020 2019 2018 2017 2016 2015 2014 2013 44% Resultado Primário Pessimista Déficit Primário -0,89(1998) Resultado Primário Realista Superávit Primário 0,21 (2012) Resultado Primário Otimista Superávit Primário 3,5 (2001) Fonte: Elaborado pela autora. Pela Figura 18 é possível observar que o resultado primário influencia a diminuição da relação dívida pública/PIB, apresentando uma queda substancial no montante. O impacto desta variável é evidente e direto na relação dívida pública/PIB. Como se observa no cenário otimista, um superávit primário alto, impacta diretamente a diminuição da dívida pública. Como a indicação da sustentabilidade fiscal de um país analisa a relação entre a dívida pública e o PIB, é importante também, considerar as variações na taxa de crescimento real do PIB. Assim, foram realizados cenários através do estabelecimento de valores constantes para esta variável. É possível observar na Tabela 6 a seguir, que um cenário onde a Taxa de crescimento do PIB é de 0,87, como observado no ano de 2012, mantendo as outras variáveis de acordo com a previsão, a relação dívida pública/PIB apresenta crescimento no primeiro ano, porém, é decrescente ao longo dos demais anos, alcançando em 2022, 51,1%. Para um cenário pessimista o valor obtido é de aproximadamente 52% em 2022, com crescimento negativo, como observado no ano de 2009, de -0,33%. Em um cenário otimista, com crescimento do PIB de 4,69% ao ano, como obtido na previsão para o ano de 2020, a relação dívida/PIB apresenta o mesmo comportamento que no cenário realista: crescimento no início e, decréscimo chegando a 49,3% em 2022. A escolha desta taxa de crescimento do PIB, com base na previsão para o ano de 2020, se deve ao fato de buscar uma alternativa atraente para incentivar as políticas econômicas a buscarem um crescimento do PIB neste nível. 59 Tabela 6 Cenários para a relação dívida pública/PIB considerando a taxa de crescimento do PIB Cenários – Taxa de Crescimento Real do PIB Período Pessimista Realista Otimista Crescimento -0,33 (2009) Crescimento 0,87 (2012) Crescimento 4,69 (2020) 2013 50,2% 49,6% 47,8% 2014 52,2% 51,6% 49,7% 2015 52,3% 51,6% 49,7% 2016 52,3% 51,6% 49,7% 2017 52,2% 51,6% 49,7% 2018 52,1% 51,5% 49,6% 2019 52,1% 51,4% 49,6% 2020 52,0% 51,4% 51,9% 51,2% 51,7% 51,1% Fonte: Elaborado pela autora. 2021 2022 49,5% 49,4% 49,3% A Figura 19 demonstra os cenários apresentados anteriormente. Fica evidente que, apesar da grande amplitude de diferenciação da taxa de crescimento do PIB, uma de -0,33%, no cenário pessimista e outra de aproximadamente 5%, no cenário otimista, no total da relação dívida pública/PIB a amplitude não é amplamente evidente. Isto indica que as outras variáveis que afetam o comportamento da relação dívida pública/PIB tem impacto mais consistente no resultado final. 60 Figura 19 Cenários para a relação dívida pública/PIB considerando a taxa de crescimento do PIB. 58% 56% 54% 52% 50% 48% 46% 2022 2021 2020 2019 2018 2017 2016 2015 2014 2013 44% Taxa de Crescimento do PIB Pessimista Cresc -0,33 (2009) Taxa de Crescimento do PIB Realista Cresc 0,87 (2012) Taxa de Crescimento do PIB Otimista Cresc 4,69 (2020) Fonte: Elaborado pela autora. Pela Figura 19 é possível observar uma tendência decrescente da relação dívida pública/PIB, para todos os cenários. O grande aumento da taxa de crescimento do PIB no cenário otimista possibilitou a diminuição de cerca de 2% em relação aos cenários realista e pessimista. Os cenários anteriores apresentam simulações das ocorrências futuras da dívida pública/PIB levando em conta apenas uma das diversas variáveis que afetam esta relação. A seguir, serão apresentados cenários analisando o impacto na relação dívida pública/PIB quando duas variáveis são mantidas constantes. Os cenários apresentados na Tabela 7 consideram constante o valor da taxa real de juros e do superávit primário. Para o cenário pessimista, a taxa real de juros é mantida em 12,87% e o resultado primário em superávit de 0,28%, como observado no ano de 2003. O resultado, para o ano de 2022, é a dívida pública em relação ao PIB de 56,6%. No cenário realista, considerando os dados observados no ano de 2012, com juros reais de 2,54% e superávit primário de 0,21% do PIB, a DLSP/PIB assume um total de 51,4% em 2022. Em uma visão otimista, com taxa de juros real de 1,67% (previsão para 2014) e Superávit primário de 1,67% (1999), a DLSP/PIB alcança um valor de 49,5% em 2022. No cenário otimista buscou-se a interação entre duas possíveis alternativas para os juros e superávit, de modo a indicar quais 61 seriam os resultados, caso as políticas econômicas fossem direcionadas a alcançar este cenário. Assim, justifica-se a escolha da taxa de juros prevista para 2014, como sendo um ideal a ser perseguido. Tabela 7 Cenários para a relação dívida pública/PIB considerando a taxa de juros(%) e o resultado primário(%PIB). Cenários - Taxa de Juros e Superávit Primário 2013 Pessimista Taxa real de juros 12,87 (2003) Superávit Primário 0,28 (2003) 52,9% Realista Taxa real de juros 2,54 (2012) Superávit Primário 0,21 (2012) 48,0% Otimista Taxa real de juros 1,67% (2014) Superávit Primário 1,6 % (1999) 46,1% 2014 55,3% 50,2% 48,3% 2015 55,6% 50,5% 48,6% 2016 55,8% 50,7% 48,8% 2017 56,0% 50,9% 49,0% 2018 56,2% 51,1% 49,2% 2019 56,3% 51,2% 49,3% 2020 56,4% 51,3% 49,4% 2021 56,5% 51,4% 49,5% 2022 56,6% 51,4% Fonte: Elaborado pela autora. Período 49,5% A demonstração destes cenários encontra-se na Figura 20 a seguir. O cenário otimista apresenta uma situação ideal, onde o montante da DLSP/PIB é inferior ao observado atualmente (aproximadamente 50%), tanto no curto como no longo prazo e apresenta comportamento com pequenas variações, apesar de crescente. Considerando o valor atual da relação da dívida líquida em relação ao PIB de aproximadamente 50%, e com base nos cenários realista e otimista, apresentados na Tabela 7, é possível afirmar que nestas condições a DLSP é sustentável. 62 Figura 20 Cenários para a relação dívida pública/PIB considerando a Taxa real de juros e Superávit primário. 58% 56% 54% 52% 50% 48% 46% 2022 2021 2020 2019 2018 2017 2016 2015 2014 2013 44% Taxa de Juros e Superávit Primário Pessimista Taxa de juros real 12,87 (2003) Superávit Primário 0,28 (2003) Taxa de Juros e Superávit Primário Realista Taxa de juros real 2,54 (2012) Superávit Primário 0,21 (2012) Taxa de Juros e Superávit Primário Otimista Taxa de juros real 1,67% (2014) Superávit Primário 1,6 % (1999) Fonte: Elaborado pela autora. Simulações alternativas, considerando a taxa real de juros e crescimento do PIB, também foram criadas, de modo a analisar o impacto destas variáveis. Assim, caso a taxa real de juros e o crescimento do PIB apresentassem um valor, como o ocorrido no ano de 2009, de 5,51% e -0,33% respectivamente, a dívida pública séria insustentável, alcançando valores altos a partir de 2014, chegando a quase 57% do PIB em 2022. Em um cenário realista, com taxa de juros de 2,54% e crescimento de 0,89%, como observado em 2012, a dívida pública/PIB alcança um valor acima de 54%. No cenário otimista, a relação dívida líquida/PIB é crescente, alcançando um valor acima de 52%. A taxa de juros para este cenário é 1,67% e o crescimento do PIB de 4,09%, como previsto para o ano de 2014. Os resultados podem ser observados na Tabela 8. 63 Tabela 8 Cenários para a relação dívida pública/PIB considerando a Taxa real de juros e Crescimento do PIB. Cenários - Taxa de Juros e Crescimento do PIB 2013 Pessimista Taxa real de juros 5,51% (2009) Crescimento do PIB 0,33% (2009) 51,7% Realista Taxa real de juros 2,54 (2012) Crescimento do PIB 0,89 (2012) 49,7% Otimista Taxa real de juros 1,67% (2014) Crescimento do PIB 4,09 %(2014) 47,7% 2014 54,2% 52,1% 50,0% 2015 54,6% 52,4% 50,4% 2016 55,0% 52,8% 50,7% 2017 55,3% 53,1% 51,0% 2018 55,6% 53,4% 51,3% 2019 55,8% 53,6% 51,5% 2020 56,1% 53,8% 51,7% 2021 56,3% 54,0% 51,9% 2022 56,4% 54,2% Fonte: Elaborado pela autora. Período 52,1% Na Figura 21 fica evidente que o comportamento ao longo do tempo, em todos os cenários, é similar. O montante da dívida é que varia em cada cenário, porém todos apresentam crescimento, no longo prazo. Figura 21 Cenários para a relação dívida pública/PIB considerando a taxa real de juros e crescimento do PIB. 58% 56% 54% 52% 50% 48% 46% 44% 2022 2021 2020 2019 2018 2017 2016 2015 2014 2013 2012 42% Taxa de Juros e Crescimento do PIB Pessimista Taxa de juros real 5,51% (2009) Crescimento do PIB -0,33% (2009) Taxa de Juros e Crescimento do PIB Realista Taxa de juros real 2,54 (2012) Crescimento do PIB 0,89 (2012) Taxa de Juros e Crescimento do PIB Otimista Taxa de juros real 1,67% (2014) Crescimento do PIB 4,09 %(2014) Fonte: Elaborado pela autora. 64 Embora é possível verificar, de acordo com alguns dos cenários realistas, que a relação dívida pública/PIB apresenta uma tendência crescente, pelos resultados anteriores nota-se que a trajetória futura da dívida pública em relação ao PIB pode alcançar um valor inferior ao observado atualmente e, inclusive, apresentar uma tendência decrescente. Todas as variáveis em estudo impactam de modo significativo na dinâmica, porém, o resultado primário é a variável que determina de modo significativo o resultado futuro da dívida pública. Os cenários apresentados são abstrações do comportamento destas variáveis em situações normais. Dessa forma, pretende-se apenas compreender quais teriam sido os efeitos sobre relação dívida pública/PIB caso políticas anteriores tivessem sido mantidas e caso políticas diferenciadas fossem adotadas, visando alcançar os resultados das previsões, considerando algumas das principais variáveis macroeconômicas que influenciam nesta relação. É importante ressaltar que os fatores exógenos que influenciam estas variáveis podem apresentar mudanças, não consideradas no estudo, que alterariam os resultados. As implicações da adoção de alguns dos principais cenários, escolhidos com base na capacidade de manter a dívida pública em ritmo constante ou decrescente, serão analisadas na seção seguinte. 65 5 IMPLICAÇÃO DAS POLÍTICAS ADOTADAS PARA A VIABILIZAÇÃO DOS CENÁRIOS Embora a definição de cenários que demonstrem possibilidades ótimas de estruturação da dívida pública interna federal, é necessário considerar os efeitos da adoção das medidas necessárias para o alcance deste cenário. Torna-se fundamental verificar a viabilidade de adotar as políticas necessárias para o alcance dos cenários de divida, já que envolve implicações para outras políticas, como a política monetária. Os cenários são instrumentos para indicar quais medidas pode ser adotadas para a políticas econômicas, em especial as políticas monetária e fiscal, de modo a alcançar o resultado previsto. As previsões permitiram a identificação do comportamento futuro a ser considerado na definição das políticas econômicas. No entanto, não é possível afirmar a ocorrência exata dos cenários, pois a conjuntura econômica é dinâmica e sofre influência de fatores exógenos, que não são internalizados nos cenários propostos. Com o cenário otimista da taxa real de juros, de 0,29% ao ano, certamente ocorreriam alterações na dinâmica da dívida pública. A política fiscal tem como fonte de financiamento a emissão de títulos públicos no mercado e a arrecadação de impostos. Com uma taxa de juros menor incidindo sobre os novos títulos emitidos para financiamentos da dívida, os custos para mantê-la serão inferiores. Há que se considerar que, uma taxa de juros próximo a zero, não é atraente para os investidores, gerando um problema de financiamento, já que os agentes econômicos não estariam dispostos a correr o risco de compra de um título público, sabendo que o retorno não seria compatível com os riscos. Uma taxa de juros inferior ao patamar em que se encontra atualmente somente seria possível com uma diminuição dos juros dos demais investimentos, com riscos similares, como por exemplo, a poupança. A taxa de juros é o principal instrumento de política monetária para o controle da inflação. Uma taxa de juros mais baixa, neste nível, apenas seria possível se fosse aceitável um nível maior de inflação. Uma taxa de juros menor é um estímulo ao investimento, indicando portanto, que há possibilidade de maior crescimento do PIB, o que implicaria em um aumento da inflação. Para sustentar a dívida de aproximadamente 49% do PIB é necessário um superávit primário da ordem de 0,21% do PIB, supondo que as demais variáveis apresentem uma evolução de acordo com as previsões por Suavização Exponencial. Com um superávit primário de 3,5% ao ano, como observado no cenário otimista, a dívida pública em relação ao PIB estaria em uma trajetória descendente, o que seria ideal no conceito de sustentabilidade 66 fiscal. A política fiscal tem como base o atingimento das metas de superávit primário para estabilizar a relação dívida/PIB, no entanto, um esforço fiscal deste nível teria como implicações o aumento das receitas tributárias ou a diminuição de gastos públicos. Este estudo permite compreender a importância do ajuste fiscal, uma vez que a postergação deste ajuste implica na persistência de déficits, que aumentam a dívida pública assim como o montante de juros a ser pago por esta dívida. Não se supõe aqui que o ajustamento é simples e de curto prazo, mas sim, evidenciam-se as dificuldades para se alcançar um nível ótimo de endividamento, uma vez que as consequências deste ajuste podem levar a prejuízos em outras esferas ou políticas econômicas. É importante compreender o carácter financeiro deste ajustamento fiscal, já que uma taxa de juros alta incidente no financiamento da dívida pública, tornará cíclico o aumento da dívida, exigindo sempre superávits primários maiores para manter a dívida pública em patamares constantes. 67 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo deste trabalho, buscou-se compreender o comportamento da relação dívida pública/PIB ao longo dos próximos 10 anos, de modo a avaliar se dívida pública interna é sustentável. Para tanto, foram criados cenários, adotando diferentes perspectivas para as variáveis que influenciam a evolução da dívida pública interna. O objetivo pretendido neste estudo, com base nas simulações, foi analisar as possibilidades de uma mudança nas políticas econômicas para alcançar uma relação dívida pública/PIB menor, fornecendo subsídios de resultados futuros. Uma dívida pública interna elevada é um dos principais entraves para o desenvolvimento brasileiro, por reduzir os investimentos públicos, além de outras implicações. Por isso, a gestão da dívida pública brasileira tem sido alvo de estudos, de modo a encontrar alternativas para sua redução ou para manter a dívida pública em um patamar sustentável. O alto custo para o financiamento da dívida, visto que a taxa de juros que incide sobre ela foi historicamente elevada, cria cenários fiscais de difíceis ajustes. Se considerarmos os valores obtidos com as previsões, aplicados na equação (5), podemos afirmar que a dívida pública federal interna é sustentável, decrescente ao longo dos anos, o que pode ser observar na Tabela 9, com as previsões das variáveis que compõe a Dívida Pública, na coluna da Relação DLSP/PIB. Este é um ponto positivo a ser considerado, porém, para identificar qual a condição econômica para diminuir consideravelmente esta relação, estão apresentados os cenários. Diante dos cenários, em especial aos cenários realistas, foi notada uma tendência levemente crescente da dívida como proporção do PIB. Porém, o crescimento observado pelos cenários não apresenta uma variação ampla, indicando que, com alguns esforços, é possível controlar o endividamento público, em direção a uma tendência decrescente. É importante considerar que, esta tendência crescente pode ser fruto da previsão por Suavização Exponencial. Esta técnica de previsão considera valores passados da série de dados para prever o futuro, assim, como a dívida pública federal, ao longo dos anos apresentou crescimento, o comportamento futuro irá levar em consideração esta condição passada. No cenário realista para o resultado primário, há um decréscimo da relação dívida/PIB, indicando que, mantendo a conjuntura atual e o esforço no alcance da meta fiscal, é possível afirmar que a dívida corresponde ao conceito de sustentabilidade fiscal. Para o cenário otimista, de superávit primário de 3,5% do PIB, a dívida alcançaria um patamar ideal de decréscimo consistente. Assim, o superávit primário é fundamental na determinação do 68 montante da dívida pública e esforços neste sentido devem ser mantidas, mesmo considerando as implicações de um superávit primário elevado, já que exige do governo um esforço para a diminuição dos gastos ou o aumento das receitas com tributos. Pelo cenário da taxa de crescimento do PIB, ficou evidente que os resultados de crescimento atual não são suficientes para diminuir a relação divida pública/PIB. O cenário otimista indica que é necessário um crescimento maior e efetivo, na ordem de 4%, para impactar a diminuição da dívida pública. Mesmo no cenário do crescimento do PIB e da taxa real de juros, o montante da dívida ainda apresentou valores elevados, evidenciando que as demais variáveis devem ser consideradas ao tratar a dívida pública. O cenário que apresentou resultados considerando a taxa real de juros e o superávit primário, indica que, mantendo uma taxa real de juros baixa, não é necessário um superávit primário elevado para manter constante a relação dívida pública/PIB. No entanto, se a taxa de juros for elevada e o superávit for baixo, como foi observado no cenário pessimista, o montante da dívida pública em relação ao PIB seria insustentável, alcançando valores próximos a 60% do PIB. Considerando o exposto, as estratégias de ajuste fiscal sugerem o desenvolvimento de políticas que permitam a manutenção da taxa de juros em um nível igual ou inferior ao que se encontra atualmente. Isto resulta em menores custos de financiamento, além de possibilitar o crescimento econômico, através do incentivo ao investimento. Como atualmente a meta de superávit primário é um instrumento de controle da relação dívida pública/PIB, com juros menores, este esforço fiscal de superávit poderia ser diminuído gradativamente. No entanto, vale o questionamento se essa taxa de juros atual se sustentaria por um longo período, já que, pelo sistema de metas de inflação, ela é o principal instrumento de política monetária para combate à inflação. Também questiona-se a capacidade de atração de investidores, tendo como remuneração uma taxa de juros tão baixa, visto que neste nível, o público irá preferir reter moeda, ou aplicar em investimento produtivo, pois os juros referem-se ao preço pago pelos títulos em compensação à um menor grau de liquidez. Porém, a questão da taxa de juros também envolve outras considerações. Anteriormente, a dívida pública brasileira apresentava fragilidade de solvência, devido ao ambiente de instabilidade interna em que o país se encontrava. Esta conjuntura exigia um nível de juros mais alto, afinal, o risco de investimento era maior, e esta alta taxa de juros justificava a atração de investimentos. Porém, atualmente, a conjuntura nacional e internacional permite a manutenção de taxas reais de juros mais baixa, visto que as taxas externas estão decaindo e a 69 economia brasileira está em um ambiente de inflação controlada, se comparado a períodos anteriores, de hiperinflação. Em contrapartida, até 2010, montante da dívida pública em títulos públicos indexados a taxa SELIC era superior aos demais títulos, isso fazia com que a taxa de juros tivesse um impacto maior no montante total da dívida, aliado ao fato de os títulos serem de curto prazo, aumentando ainda mais os riscos de manter a dívida sustentável. Atualmente, o esforço para a diminuição de títulos indexados à SELIC foi efetivo, visto que, a partir de 2011 os títulos prefixados tem sido superior aos indexados à SELIC e em 2012, os ligados a índices de preços também aumentaram sua participação, superando os indexados à SELIC. Portanto, hoje, os títulos indexados à SELIC correspondem a 26% do montante total, sendo superado pelos demais, implicando que a taxa de juros já não é mais o um risco fundamental no direcionamento futuro da dívida, em especial, pela manutenção da substituição destes títulos vinculados à SELIC aos demais. É importante considerar também a validade das previsões por Suavização Exponencial para compreender o comportamento futuro e assim, definir políticas econômicas adequadas para solucionar problemas através de melhorias atuais. Com base nas previsões e nos cenários, o que se pode considerar é que esforços ainda são necessários para alcançar um patamar de dívida pública aceitável, que permita no futuro uma diminuição do esforço fiscal de superávit primário. O custo para alcançar um nível aceitável da dívida é muito alto e envolve prioridade dos governos, estabilidade econômica e crescimento acelerado do PIB. O alcance de uma dívida pública menor resultaria em redução do resultado primário e consequentemente, da carga tributária, incremento no investimento da administração pública, aumento da poupança pública, queda do gasto público federal, já que os esforços para pagamento da dívida seriam menores, entre outros benefícios. 70 7 REFERÊNCIAS BANCO CENTRAL DO BRASIL. Manual de Estatísticas fiscais. 2012. Disponível em < http://www.bcb.gov.br/ftp/infecon/Estatisticasfiscais.pdf> Acesso em: 14 jun 2013. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Sistema gerenciador de séries temporais. Contido em < https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarseries/localizarSeries.do?method=prepararTelaLoca lizarSeries> Acesso em: 14 jun 2013. BANCO CENTRAL DO BRASIL; Sistema Especial de Liquidação e de Custódia – Selic. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?spbselic>. Acesso em: 03 Dez. 2012 CARVALHO, Fernando J. Cardim. Economia monetária e financeira: teoria e política. Rio de Janeiro: Campus, 2007. 385p. 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