As representações sociais e as práticas espaciais das

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As representações sociais e as práticas espaciais das
mulheres religiosas da Igreja Evangélica Reformada Nova
Holanda em Carambeí – PR
Adriana Gelinski1
Resumo
A religião é um fator condicionante nas representações sociais e na vida dos
sujeitos, e, por conseguinte, das mulheres. Essas podem ser motivadas pelas
suas crenças e experiências religiosas. Assim, a presente pesquisa procura
investigar a influência da religião, em especifico, da Igreja Evangélica
Reformada Nova Holanda, localizada na cidade de Carambeí-Pr, nas
representações sociais das jovens sobre o que é ser mulher e seu papel social.
Palavras Chave: Religião, representações sociais e gênero.
Introdução
A religião pode ser vista como um fator simbólico que atua nas
disposições sociais e na motivação dos indivíduos. É também vista como uma
forma de ideologia, que transcende a racionalidade dos seres, e uma forma
simbólica, a qual age nas condições atuantes para formação e transformação
da sociedade. Além disso, a religião é um fator condicionante das
representações sociais e na vida dos sujeitos, e, por conseguinte, das
mulheres. Essas podem ser motivadas pelas suas crenças e experiências
1
Graduanda do Curso de Geografia bacharelado – UEPG. [email protected]
Semana de Geografia, 18., 2011. Geografias não mapeadas? Ponta Grossa: DEGEO/DAGLAS, 2011. ISSN 2176-6967
religiosas a escolher por uma vida religiosa baseada no sagrado. (GIL FILHO,
2004).
Desta forma o trabalho pretende investigar a influencia da religião nas
relações sociais das mulheres. Pois, ao refletir sobre a religiosidade das
mulheres não pode-se limitar a uma investigação individual de suas crenças,
mas sim na tentativa de compreender que elas fazem parte de um universo
mental experienciado e vivido pelas mesmas e construído socialmente. Vale
lembrar que esse universo é formado e cheio de símbolos, os quais se referem
à afetividade e ao imaginário dos indivíduos. Holzer (1992, p.440) relata que: “o
espaço vivido é uma experiência continua, social e egocêntrica e se refere ao
imaginário, afetivo e mágico”. Esse universo imaginário é rico em símbolos e
esta ligado com as crenças e aspirações das mulheres que vivenciam essa
espacialidade gerada pela religião. Essas fazem desse espaço uma vivência
única e peculiar e que as leva a acreditar em uma vida baseada no sagrado.
Como investigamos as crenças, opiniões e “sensos comuns” de
mulheres religiosas, nos apropriamos da teoria das representações sociais, que
é uma analise científica das mentalidades. O precursor desta teoria foi Serge
Moscovici em 1961 com apresentação de sua tese de doutorado, La
psychanalyse, son image et son public (1961/1978). Moscovici tinha a intenção
de mostrar uma nova forma de analisar a relação entre individuo e sociedade.
A partir dessa teoria é possível refletir que a construção de conhecimentos nos
indivíduos e grupos sociais se dá a partir de contextos culturais e sociais. Ela
analisa ainda como a sociedade entende e reage a esse conhecimento
construído socialmente pelos indivíduos.
Para realizar a presente pesquisa se efetivou o recorte na Igreja
Evangélica Reformada. Essa igreja chegou no ano de 1911 ao Brasil, mais
especificamente em Carambeí, contribuindo para integrar os holandeses a
nova terra colonizada e também sendo uma forma de preservar sua cultura e
fé. Mas foi em 1933 que foi aprovada a organização da igreja, contando no
inicio com trinta e um fiéis de Carambeí. Posteriormente, se expandiu a novas
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cidades do Paraná, conquistando novos membros, agora não mais se
restringindo aos de origem holandesa. Atualmente atua em conjunto com
membros de origem holandesa e brasileiros com o objetivo de manter a
comunidade de fiéis unida. (I.E.R., 2000).
Desta forma a presente investigação tem por objetivos: a) Desvelar as
representações sociais do “que é ser mulher” e a concepção de mundo e
sociedade das mulheres praticantes da referida igreja, procurando refletir sobre
a influência da referida igreja nessas; b) Analisar de que maneira as
representações
sociais
e
as
práticas
espaciais
das
mulheres
são
condicionadas pelas suas crenças; c) Analisar e identificar o posicionamento
dos pastores sobre o “que é ser mulher” e seu papel social.
Metodologia
A pesquisa esta sendo realizado na Igreja Evangélica Reformada Nova
Holanda da Cidade de Carambeí (PR). Caracteriza-se de uma pesquisa
quantitativa em primeiro momento e posteriormente qualitativa com perguntas
abertas procurando dar voz aos sujeitos e para o levantamento e interpretação
dos dados (LEFÉVRE e LEFÉVRE, 2003 ).
O desenvolvimento da pesquisa se dará em dois momentos: fase
exploratória e fase da investigação.
A fase exploratória se dará em contatos pessoais e/ou telefônicos, da
pesquisadora com as mulheres freqüentadoras da igreja a fim de levantar
algumas informações. Nessa fase também será aplicado questionário ao grupo
de aproximadamente cem mulheres, essas sendo membras (batizadas) ou
freqüentadoras. O presente instrumento de coleta de dados tem por objetivo
levantar as primeiras hipóteses sobre o provável núcleo central das
representações das referidas mulheres sobre “o que é ser mulher”.
Já a fase de investigação se constituirá na realização de entrevistas
qualitativas com as freqüentadoras da igreja e com os pastores, a fim de
aprofundar e melhor refletir sobre as hipóteses levantadas na fase anterior. As
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entrevistas serão estruturadas a partir de questões aberta, a fim de dar voz aos
sujeitos e com o intuito de compreender suas crenças. As respectivas
entrevistas serão gravadas ou filmadas, isso dependerá da disposição e
escolha das entrevistadas a partir das quais serão transcritas.
Desta forma, as técnicas de coletas de dados englobam: questionários,
entrevistas, gravações e vivências no referido campo de estudo. Vale lembrar
que a autora deste trabalho é freqüentadora há mais de três anos da referida
igreja, que a possibilita a ter um acesso privilegiado tanto das questões do
trabalho, quanto das relações sociais com os membros e membras da igreja.
Até o presente momento realizou-se o contato e conversas com as integrantes
da igreja e com os pastores e aplicação de quinze questionários exploratórios.
Análise dos resultados
A análise dos dados é parcial e o que foi feito ate aqui é uma espécie de
testagem que possibilita aprofundar as hipóteses de pesquisa.
Dos
questionários
já
analisados,
observamos
a
presença
de
representações que diferem de um extremo de mulher “independente” a outro
de uma mulher “tradicional/idônea”. Além disso, observamos representações
que englobam ambas visões, aparentemente conflitantes e incompatíveis, mas
que
nas
representações
dessas
mulheres
aparecem
coerentemente
articuladas.
Das palavras evocadas até o presente momento, as seguintes conotam
a uma atitude de uma visão de uma mulher mais tradicional: “auxiliadora”,
“fidelidade”, “mãe”, “esposa fiel”, “ajudadora”, “companheira”, “atenção”,
“carinho”, “proteção”, “exemplo de mãe” e “educação”. Por outro lado, as
seguintes
evocações
conotam
a
uma
mulher
independente/moderna:
“independente”, “guerreira”, “decidida”, “liberdade”, “poder de decisão”,
“trabalhadora” e “beleza”. Por fim, temos evocações que se referem a outras
varias características do papel da mulher: “fé”, “amorosa” e “força emocional”.
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Porém, algumas representações das mulheres aparecem conflitantes
englobando ambas as visões salientadas anteriormente. Como exemplo temos
a representação de uma mulher, que é esposa de um pastor da referida igreja.
Foi possível ver em suas respostas que sua representação engloba tanto
aspectos tradicionais quanto modernos/independentes. Desta forma ela
justifica suas evocações sobre o que é “ser mulher’:
O papel da mulher hoje, na sociedade é diferente de alguns anos atrás. O
papel hoje meio que inverteu-se, a mulher mata um leão por dia se for
preciso, nas suas diversas tarefas como mãe trabalhando fora muitas vezes,
cuidando da educação dos filhos, do seu lar, do seu marido sendo auxiliadora
e idônia. (Mulher x)
Por fim, os dados iniciais revelam que as representações sociais das
mulheres podem ser conflitantes, rígidas e consensuais ao mesmo tempo. Isto
advém do próprio modo de funcionamento e sua natureza. Desta forma Abric
(2003) disserta que “as representações sociais são ao mesmo tempo estáveis
e móveis, rígidas e flexíveis” (p. 77) e ainda, “são consensuais, mas também
marcadas por fortes diferenças interindividuais” (p. 78).
Considerações Finais
Qual a influência da religião, em especifico, da Igreja Evangélica
Reformada Nova Holanda, nas representações sociais das mulheres sobre o
que é ser mulher e seu papel social? As mulheres freqüentadoras da referida
Igreja, possuem representações distintas e variáveis do “o que é ser mulher”.
Algumas das mulheres apresentam em suas representações, ao mesmo
tempo, tanto atitudes, conhecimentos e imagens relativos a um papel social
feminino tradicional quanto scripts que remetem a um papel da mulher mais
crítico e moderno na sociedade.
Assim percebemos em algumas mulheres que nasceram e foram
educadas desde criança na Igreja, representações mais conservadoras do seu
papel na sociedade. Porém, nessas mesmas representações observamos
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outros elementos integrados a ela, remetendo a um papel crítico e liberal. Por
outro lado, mulheres que começaram a freqüentar a referida Igreja em algum
momento de suas vidas, ou que vieram e foram criadas em outras religiões
apresentam representações ancoradas em paradigmas progressistas do papel
feminino.
Os próximos passos da pesquisa abrangem a continuação da aplicação
dos questionários para um grupo de cerca de 100 mulheres. Após a análise
dos achados de pesquisa propiciados pelos questionários, com novas
hipóteses para o problema de pesquisa, efetuaremos entrevistas semiestruturadas qualitativas mais a fundo com um grupo de mulheres. Além disso,
entrevistaremos os pastores e também investigaremos trechos da bíblia que
dissertam sobre o papel feminino, tentando observar as mensagens e a força
de persuasão dessas passagens.
Referências
GIL FILHO, S. F. Por uma Geografia do Sagrado. In: MENDONÇA, F.; KOZEL,
S. (orgs.). Elementos de epistemologia da geografia contemporânea. Curitiba:
Editora UFPR, 2004.
HOLZER, Werther. A Geografia Humanista: sua trajetória de 1950 a 1990.
Dissertação (Mestrado em geografia). Departamento de Pós-graduação em
Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1992.
MOSCOVICI, S. A representação Social da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar,
1978.
I.E.R. – Igreja Evangélica Reformada Nova Holanda. História do protestantismo
no Brasil. Arquivo oficia da Igreja Evangélica Reformada Nova Holanda. Xerox.
2000.
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