FUNDAÇÃO ARMANDO ALVARES PENTEADO FACULDADE DE ECONOMIA INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO NO SETOR BANCÁRIO BRASILEIRO ENTRE 1990 E 2010 DANIELA RIBEIRO NANNI Monografia de Conclusão do Curso apresentada à Faculdade de Economia para obtenção do título de graduação em Ciências Econômicas, sob a orientação do Prof. André Accorsi. São Paulo 2011 NANNI, Daniela Ribeiro. INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO NO SETOR BANCÁRIO BRASILEIRO ENTRE 1990 E 2010, São Paulo, FAAP, 2011, 48 p. (Monografia Apresentada ao Curso de Graduação em Ciências Econômicas da Faculdade de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado) Palavras-Chave: Investimento Direto Estrangeiro – Política Econômica, Brasil – Consolidação Bancária, Sistema Financeiro, Bancos, Brasil – Bancos Estrangeiros, IDE no Exterior. Dedico esta monografia aos meus pais Rodolfo e Margareth AGRADECIMENTOS Os meus agradecimentos ao professor André Accorsi pela orientação prestada e pelo apoio na realização desta monografia. Agradeço o apoio e suporte que recebi da minha família. Agradeço aos meus pais Rodolfo e Margareth e minha irmã Gabriela pelo amor, dedicação e incentivo, que possibilitaram a conclusão do curso e a realização deste trabalho. Aos meus familiares Bá, tio Moacyr, e ao meu cunhado Éder, pela força e colaboração durante os anos de estudo nesta faculdade. Aos Professores pelo apoio e incentivo diante das dificuldades ocorridas durante o curso. Também expresso minha gratidão pela amizade e carinho dos colegas de classe. RESUMO Esse projeto analisa o Investimento Direto Estrangeiro (IDE) no processo da consolidação bancária no Brasil a partir de 1990, época das grandes fusões e aquisições entre bancos brasileiros e internacionais, e como tal fato proporcionou o fortalecimento dos bancos para iniciarem o processo de internacionalização. O presente trabalho aborda o conceito de IDE, as políticas econômicas brasileiras do período, apresenta os fluxos mundiais e nacionais de IDE e especificamente no setor bancário, além da consolidação do setor e as perspectivas de inserção internacional dos bancos brasileiros através do IDE. Nota-se, portanto, que a partir da consolidação bancária no Brasil, quando houve entrada de IDE a partir de 1990, os bancos se tornaram mais fortes e capazes para enfrentar a concorrência internacional e iniciar desse modo o processo de internacionalização. SUMÁRIO INTRODUÇÃO.........................................................................................................................1 1. DEFINIÇOES E FLUXOS DE INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO (IDE) NO BRASIL ..............................................................................................................................3 1.1 Conceitos Fundamentais ..........................................................................................3 1.2 Evolução Recente da Economia do Brasil ...............................................................5 1.2.1 Período anterior a 1990 .................................................................................5 1.2.2 Período de 1990 a 2002 .................................................................................8 1.2.3 Período de 2003 a 2010 ...............................................................................10 1.3 Histórico de IDE no Brasil .....................................................................................12 2. IDE NO SETOR BANCÁRIO BRASILEIRO ...............................................................18 2.1 Consolidação do Setor Bancário Brasileiro ...........................................................18 3. PERSPECTIVA DE INSERÇÃO DOS BANCOS BRASILEIROS NO MERCADO EXTERNO ..............................................................................................................................28 3.1 Participação dos Bancos Estrangeiros no Brasil ...................................................29 3.2 Participação de Bancos Brasileiros no Exterior ....................................................36 CONCLUSÃO.........................................................................................................................42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................44 LISTA DE TABELAS, GRÁFICOS E QUADROS TABELAS Tabela 1 - Privatizações de 1995 a 2002 - USD milhões ........................................................14 Tabela 2 - Entrada de IDE por Atividade Econômica de 1980 a 1995 no Brasil em USD mil ...................................................................................................................................................16 Tabela 3 - Entrada de IDE por Atividade Econômica de 1996 a 2000 no Brasil em USD milhões .....................................................................................................................................17 Tabela 4 - Número de Instituições Financeiras no Brasil em 1995 .........................................19 Tabela 5 - Relação População e Agências Bancárias no Brasil de 1980 a 1995 ....................21 Tabela 6 - Principais Fusões e Aquisições feitas pelos 6 maiores Bancos Privados ...............26 Tabela 7 - Aquisições bancárias com incentivo do PROER (1995-1997) e principais aquisições no varejo por instituições estrangeiras (1997-2011) ..............................................30 Tabela 8 - Principais Informações Financeiras do EuroBank em 31/12/2010 ........................40 GRÁFICOS Gráfico 1 – Investimento Direto Estrangeiro no Brasil – USD bilhões ...................................15 Gráfico 2 - Estrutura antes das Incorporações de Ações .........................................................34 Gráfico 3 - Estrutura após as Incorporações de Ações ............................................................34 QUADROS Quadro 1 – Normas relativas ao Sistema Financeiro Nacional ...............................................20 Quadro 2 – Características das Ações das Instituições antes das Incorporações .....................35 Quadro 3 – Características das Ações das Instituições após as Incorporações.........................36 1 INTRODUÇÃO Esse projeto analisa o Investimento Direto Estrangeiro (IDE) no processo da consolidação bancária no Brasil a partir de 1990, época das grandes fusões e aquisições entre bancos brasileiros e internacionais, e como tal fato proporcionou o fortalecimento dos bancos para iniciarem o processo de internacionalização. O interesse pelo tema surgiu ao longo do curso de Ciências Econômicas devido à grande importância que o setor bancário ocupa na economia brasileira, a história de sua evolução e consolidação no país, além de toda a influência que o setor bancário exerce para o desenvolvimento de outros setores na economia. Os movimentos dos fluxos de IDE são bastante complexos e estão ligados não apenas a uma série de fatores do ambiente competitivo em que as firmas atuam, mas também às características econômicas dos países receptores e doadores. A hipótese básica do estudo é que a entrada de IDE no setor bancário brasileiro, a partir de 1990, fortaleceu os bancos do país dando a eles condições de inserção no mercado internacional. O trabalho está estruturado em 3 capítulos. O capítulo 1 explica os conceitos fundamentais do IDE, detalhando os termos que serão utilizados ao longo do trabalho, a fim de facilitar o entendimento do tema, bem como evitar confusões referentes aos conceitos. Apresenta também a recente evolução da economia do Brasil, desde 1960 até 2010. A contextualização da economia brasileira permite analisar sua relação com os movimentos de IDE. Essa apresentação foi dividida em três períodos, baseados no processo de privatizações do país. O primeiro período refere-se ao período anterior a 1990, necessário para explicar o contexto da economia do Brasil antes das desestatizações de empresas importantes do país. O segundo período analisado é de 1990 a 2002, anos em que os processos de privatizações tiveram maior importância e aconteceram em maior volume na economia do Brasil. O terceiro período, de 2003 a 2010, refere-se ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não incentivou a política de privatizações. Além disso, o capítulo ainda apresenta os fluxos de IDE que entraram no Brasil no período analisado, tomando por base as medidas macroeconômicas que foram adotadas. 2 O capítulo 2 tem como objetivo apresentar como se deu a consolidação do setor bancário no Brasil diante da abertura econômica de 1990, e da entrada de IDE no país nesse período. Esse capítulo é importante, pois baseado nessas informações é possível entender o fortalecimento dos grandes bancos, o processo de integração que ocorreu com a concorrência que chegava no Brasil e as políticas econômicas que foram estabelecidas na época. O capítulo 3 tem como propósito estimar a perspectiva futura dos bancos brasileiros se inserirem no mercado internacional, uma vez que passaram por consolidação na década de 1990, receberam grande participação de capital direto estrangeiro nesse período, vivenciando um processo de internacionalização. Atualmente mostram-se fortes e competitivos em meio a fusões e aquisições que ocorreram no setor. Desse modo, observa-se que estão surgindo oportunidades de aumentarem suas participações no mercado internacional. Assim, o capítulo 3 é subdividido em duas sessões, a primeira mostra a participação de bancos estrangeiros no Brasil, e a segunda relata o movimento de saída dos bancos brasileiros para o exterior em busca de mercado para crescimento. Por fim, apresentam-se as conclusões finais, relacionando as informações de cada capítulo, para entender toda a importância do IDE no setor bancário brasileiro, que possibilitou a consolidação dos bancos, melhoras na forma de atuação, e diante de tal cenário, a possibilidade de investirem por meio de IDE em outros países. 3 1. DEFINIÇÕES E FLUXOS DE INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO (IDE) NO BRASIL 1.1 Conceitos Fundamentais O conceito de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) foi alterado ao longo do tempo, especialmente quando se acelerou o processo de globalização da economia. Para entender o que significa investimento direto estrangeiro é preciso compreender o conceito de globalização. Como apresenta o Fundo Monetário Internacional (FMI), a globalização é um processo que, com a liberalização do comércio e com os avanços da tecnologia, provocou aumento do fluxo de idéias, pessoas, bens, serviços e capital, o que levou a integração das economias e sociedades1. Para Sanchez (1999, p.15-17) a globalização se iniciou na década de 1970 e pode ser entendida como a crescente integração do comércio e das finanças internacionais, facilitados por sistemas de telecomunicação sofisticados, o que favoreceu transferências de capital. O processo de globalização influenciou na aceleração e aumento dos fluxos de IDE entre os países. Como aponta Duce (2003, p.2), a definição para investimento direto estrangeiro do FMI e da OCDE reflete o interesse de um investidor estrangeiro em uma empresa de outro país. Esse interesse é de longo prazo e inclui a participação na administração da empresa na qual se aplicou o capital, permitindo assim transações de capital entre a matriz e as suas filiais. O investimento direto estrangeiro (IDE), numa perspectiva ampla, refere-se à transferência de capacidade produtiva e controle de ativos, na medida em que "novas plantas" são construídas (greenfield investment2), resultando em novas filiais e/ou são incorporadas por meio de fusões3 e aquisições (SARACINI & PAULA, 2006, p.4). 1 Cf. “Glossary of Selected Financial Terms: Globalization”. In: FMI. Disponível em: http://www.imf.org/external/np/exr/glossary/showTerm.asp#89 Acesso em 23/10/2010. 2 Greenfields é o termo em inglês que significa “empreendimentos que estão sendo concebidos e executados onde não existe atualmente uma organização empreendedora, ativo ou operação.” É a instalação de novas plantas. Cf. “Greenfield Project”. Disponível em: http://www.ppp.mg.gov.br/oqueeppp/ploneglossary.2007-1119.6874970178/ploneglossarydefinition.2007-12-06.9285460722 Acesso em 27/10/2010. 3 Fusão é uma estratégia na qual duas firmas concordam em integrar suas operações, porque têm recursos e capacidades que, juntas, podem criar uma vantagem competitiva mais forte. Disponível em: http://www.fgvsp.br/iberoamerican/Papers/0361_ibero_aquisicao1.pdf Acesso em 27/10/2010. 4 De acordo com Krugman & Obstfeld (2005, p.126-128), investimento direto estrangeiro é o fluxo de capitais internacionais, direcionados a uma empresa de determinado país, para que possa ampliar sua capacidade ou criar uma filial nesse país, envolvendo além da transferência de capital, participação no controle da empresa adquirida. Passa a ser uma multinacional quando detém a cota mínima de ações da outra empresa necessária para ter controle ou direito a voto nas decisões da empresa. A multinacional é um veículo para empréstimos internacionais, que ocorre na relação entre matriz e sua filial estrangeira. Entretanto, apesar de ocorrer esse fluxo de capital entre elas, o principal objetivo de uma multinacional é a ampliação do controle. Na explicação de Gonçalves et al (1998, p.132-134), os fluxos de investimentos diretos estrangeiros ocorrem porque as empresas em diferentes países buscam ganhar uma taxa de retorno maior do que conseguem obter em seu próprio país. Isso acontece porque os países diferem na dotação de fatores de produção e cada empresa tem necessidade de fatores específicos para sua produção, que podem ser encontrados em outros países. O IDE difere de investimento estrangeiro especulativo, pois este entra no país atraído pelas altas taxas de juros e retorno rápido. Esse tipo de investimento externo está presente nas Bolsas de todo o mundo, com a aquisição de ações das companhias de capital aberto. O FMI define IDE como a aquisição de pelo menos 10% de ações ordinárias4 de uma empresa pública ou privada por um investidor estrangeiro, envolvendo interesse no controle da empresa e re-investimentos quando necessário5. O FMI, como dizem Saracini & Paula (2006, p.6), recomenda para os investimentos de portfólio6 que sejam aquisições inferiores a 10% de ações ordinárias de uma empresa no exterior. Saracini & Paula (2006, p.6-7) resgatam a definição de IDE adotada pelo FMI, a partir da primeira edição do “Comparativo de Definições para o Investimento Direto Estrangeiro” da OCDE, em 1983, como um tipo de investimento que tem um interesse de longo prazo em uma empresa em outro país, com o objetivo de participar efetivamente na gestão da empresa. 4 Ações ordinárias são ações com direito a voto em uma empresa. Cf. “Glossary of Selected Financial Terms: Foreign Direct Investment (FDI).” In: FMI. Disponível em: http://www.imf.org/external/np/exr/glossary/showTerm.asp#89 Acesso em 27/10/2010. 6 Portfólio é uma carteira de títulos e valores mobiliários. Cf. “Dicionário de Finanças: portfólio”. BOVESPA. Disponível em: http://www.bovespa.com.br/Principal.asp Acesso em 27/10/2010. 5 5 1.2 Evolução Recente da Economia do Brasil O presente trabalho divide a evolução recente da economia do Brasil em três períodos, baseados no processo de privatizações do país, pois a entrada dos fluxos de IDE no Brasil está diretamente ligada a esse fato. O primeiro período é anterior a 1990, e procura explicar o contexto da economia brasileira antes das desestatizações de importantes empresas do país. Toma-se por base o ano de 1990 como o início do processo de privatizações, pois, segundo informações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de 2002, ocorreu nesse ano uma série de reformas econômicas do governo, dentre elas o Programa Nacional de Desestatização (PND) instituído pela Lei nº 8.031, de 12.04.1990. O PND incentivou a vendas de empresas estatais produtivas dos setores estratégicos do país, como por exemplo, as siderúrgicas, petroquímicas e de fertilizantes. Até 1994 33 empresas foram privatizadas, gerando um resultado de USD 11,9 bilhões ao caixa do governo (BNDES, 2002, p.6). Ainda de acordo com os dados fornecidos pelo BNDES (2002), de 1995 a 2002, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, o Brasil teve uma fase diferente do processo de privatizações, na qual a ênfase foi dada ao setor de serviços. Os serviços privatizados que tiveram destaque foram: financeiro, transporte, elétrico, concessão de rodovias, saneamento, portos e telecomunicações (BNDES, 2002, p.15). Desse modo, é delimitado o segundo período analisado, de 1990 a 2002, uma vez que foi durante esses anos que o processo de privatizações teve sua maior importância e intensidade na economia do Brasil. O terceiro período vai de 2003 a 2010, e refere-se ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que diferentemente dos governos anteriores não incentivou a política de privatizações. 1.2.1 Período anterior a 1990 Entender como era a economia brasileira no período anterior a 1990, isto é, antes do início das privatizações no Brasil, é importante para identificar os fatores que influenciaram o processo de privatização e a entrada de IDE no Brasil. 6 A fim de delimitar o panorama do estudo, a atenção será dada sobre um breve período anterior a 1990, iniciado na década de 1960. Baer (2004, p.244) ressalta que o governo adotou a política de ISI (Import Substitution Industrialization) na década de 1950 e o estendeu até o início de 1960. O objetivo dessa política era desenvolver a capacidade produtiva doméstica para reduzir a quantidade de produtos manufaturados importados. As tarifas de importação desses produtos, nesse período, eram superiores a 250%. A política de ISI provocou uma estagnação da economia no Brasil no início da década de 1960, pois tornou evidente a necessidade de importar certas matérias-primas, bens intermediários e de capital que não eram produzidos internamente, já que o país não tinha uma estrutura industrial adequada para abastecer o mercado interno, o que contribuiu para elevar os preços dos produtos nacionais. Além disso, para auxiliar a política de ISI, foi adotada a restrição das importações, e como havia pouca diversidade de exportações, agravou-se a situação do déficit no Balanço de Pagamentos, isto é, decréscimo das exportações e redução das importações, levando à estagnação do país (BAER, 2004, p.244245). Após a renúncia do presidente Jânio Quadros, cujo governo enfrentou o problema da alta inflação, além de restrição de crédito e congelamento dos salários, a economia não se estabilizou. No governo do presidente João Goulart a inflação atingiu mais de 100% a.a., além disso, ele condenava a entrada de capital estrangeiro, o que contribuiu ainda mais para os déficits orçamentários e para o declínio do crescimento econômico do Brasil (BAER, 2004, p.91-93). Baer (2004, p.245-246) mostra ainda que de 1964 a 1974, as políticas econômicas procuravam solucionar os desequilíbrios: o objetivo era controlar o problema do Balanço de Pagamentos. As medidas implantadas buscaram diversificar e aumentar o volume das exportações, tanto de produtos primários quanto manufaturados. Para tanto o governo ofereceu incentivos fiscais, créditos subsidiados e redução de impostos de exportação. A partir de 1964, durante o governo militar, a estratégia política buscava a estabilização econômica por meio do controle da inflação e eliminação das distorções de preços, além de reformas no mercado financeiro para aumentar o acúmulo de poupança e 7 atração de capital estrangeiro para financiar projetos de infra-estrutura e indústrias do governo (BAER, 2004, p.93). Dentre as medidas para a estabilização estavam a contenção de gastos públicos, aumentos dos tributos e das tarifas de serviços públicos, restrição de crédito e arrocho salarial. O crescimento econômico foi sustentado pelo fortalecimento dos mercados de capitais, com a criação de lei específica em 1965, que aumentou o uso do mercado de ações e dos bancos de investimentos, com os fundos especiais que foram criados para financiar vendas de pequenas e médias empresas e aquisições de bens de capital, complementando o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE). O crescimento e diversificação das exportações e a política cambial com desvalorizações da moeda para conter a inflação, também fizeram parte das medidas adotadas a fim de conquistar estabilidade econômica e crescimento (BAER, 2004, p. 93-95). Durante a década de 1960 o Brasil conseguiu diversificar suas exportações e a forte participação do Estado na economia favoreceu as empresas estatais que passaram a dominar os setores de aço, petroquímica, mineração e serviços públicos, como bancos (BAER, 2004, p. 97-98). Do período de 1974 até a década de 1980 o Brasil passou por uma recessão econômica por causa do choque do petróleo em 1973 e da crise da dívida externa. A crise do petróleo quadruplicou o preço do produto e o Brasil era um grande importador de petróleo. A fim de manter o crescimento do país, o presidente Ernesto Geisel decidiu não reduzir as importações, mesmo com a alta do preço, o que conseqüentemente aumentou de forma exagerada a dívida externa. Para pagar a dívida o Brasil recorreu a empréstimos internacionais a baixas taxas de juros, facilitados pela alta liquidez do mercado financeiro internacional devido ao excesso de petrodólares7 (BAER, 2004, p.110- 112). Os empréstimos externos favorecem o crescimento econômico do Brasil enquanto os juros estavam baixos, mas as mudanças na política monetária norte-americana promoveram o aumento dos juros agravando a situação da dívida externa brasileira (BAER, 2004, p.112-114). 7 Petrodólar “é todo dinheiro (dólares americanos) ganho através da venda de petróleo. O termo foi elaborado pelo professor de economia Ibrahim Oweiss, da Universidade de Georgetown”.Disponível em: http://forum.brasilescola.com/index.php?showtopic=29798 Acesso em 26/10/2010. 8 Para Baer (2004, p.116-121) em meio ao crescimento da economia existiram problemas na década de 1980, como o crescente aumento da inflação e as desvalorizações da moeda, que foram prejudiciais as exportações. O déficit externo brasileiro ficava cada vez mais difícil de financiar. Em meio a recessão, o Brasil ainda teve que enfrentar a moratória da dívida mexicana em 1982. Esse fato prejudicou o Brasil, pois o mercado internacional se fechou para financiamento de dívidas de países da América Latina. No final da década de 1980 foram mantidas as políticas de diversificação das exportações e voltadas para a ISI. Desse modo o Brasil conseguiu obter superávits no Balanço de Pagamentos, destinados à amortização da dívida externa (BAER, 2004, p.246). Da década de 1980 até os anos 1990 havia carência de investimentos nas áreas de infra-estrutura, como energia, telecomunicações e transporte, o que pode ter incentivado o processo de privatizações (BAER, 2004, p.243). 1.2.2 Período de 1990 a 2002 De acordo com Baer (2004, p.243) a partir da década de 1990, as medidas buscavam reduzir barreiras e restrições ao capital estrangeiro, isto é, o início da abertura da economia brasileira para os fluxos de mercado e capitais internacionais. Essas medidas melhoraram o ambiente para investimentos do Brasil. O presidente Sarney deixou a presidência em 1990 com o fracasso do Plano Cruzado. Ao assumir o governo, Fernando Collor de Mello apresentou medidas bem definidas de como controlar a inflação e de liberalização da economia (BAER, 2004, p. 195-196). Collor pretendia abrir a economia e atrair capital estrangeiro direto adotando medidas de redução de subsídios à exportação, redução de reservas de mercado e de tarifas além da mudança no sistema cambial, permitindo-se a flutuação do câmbio (BAER, 2004, p. 247). O presidente Collor sofreu um impeachment8 no final de 1992, assim, em outubro de 1992, assume como presidente interino Itamar Franco, que acabou sendo presidente de fato (BAER, 2004, p.209). 8 Impeachment é um termo do inglês para o processo de cassação de mandato do chefe do Poder Executivo nas esferas federal, estadual ou provincial, municipal ou condado. A acusação, normalmente feita pelo Congresso, pode ser por crime comum, crime de responsabilidade, abuso do poder, desrespeito as normas constitucionais, 9 Em 1993 o presidente Itamar Franco indica Fernando Henrique Cardoso como ministro da Fazenda, que imediatamente apontou a necessidade de cortes nos gastos públicos, maior eficiência no recolhimento de impostos, facilidade no relacionamento entre governos estaduais, impediu que os bancos produzissem moedas e trabalhou no combate à sonegação fiscal (BAER, 2004, p.209-210). Ao assumir a presidência em 1994, Fernando Henrique Cardoso negociou a dívida externa. Entretanto, foi preciso controlar a inflação e, para isso, foi implantado o Plano Real em 1994, tendo como lastro reservas acumuladas nos anos anteriores. A partir de tais mudanças, a balança comercial apresentou superávits, assim como a situação fiscal do país melhorou (BAER, 2004, p. 243-247). A valorização cambial que vinha ocorrendo até 1999 e o aumento das taxas de juros reduziram os índices de crescimento econômico, tornando o país cada vez mais dependente de investimentos estrangeiros. Assim, em 1999, o governo adotou a flexibilização cambial, sistema no qual a taxa de câmbio varia de acordo com o mercado, e que poderia trazer maior competitividade para o comércio externo do país (BAER, 2004, p.247-253). Em 2001, os fluxos de IDE foram reduzidos devido ao abalo no cenário internacional com o atentado aos Estados Unidos, em 11 de setembro. O Brasil sentiu grande impacto, pois foi nesse ano que ocorreu a crise energética e a instabilidade provocada pelo processo eleitoral de 2002, ano de transição do governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) para Luiz Inácio Lula da Silva (LULA) (GREGORY & OLIVEIRA, 2005, p.10-12). As políticas sociais e econômicas do governo FHC foram mantidas no governo de Lula, e houve até mesmo o aprofundamento das políticas econômicas, especialmente no caso dos marcos regulatórios9, e das agências de regulação, que têm como função fiscalizar o cumprimento das leis e dos contratos das parcerias público-privadas (NANNI, 2008, p.28-29). violação de direitos pétrios, isto é, irresponsabilidade ou incompetência para o exercício da função pública. Cf. “O Impeachment no Brasil.” Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/politica/2004/09/24/001.htm Acesso em 27/10/2010. 9 Marcos regulatórios são um conjunto de normas que buscam disciplinar a prestação de serviços públicos em suas parceiras com entidades privadas. In: DELGADO, E. Marco Regulatório. Revista da AGERGS, ago. 2004, n. 7, Porto Alegre, RS. Disponível em: http://www.agergs.rs.gov.br/bibliot/marco_regulatorio/mr7/marconovo7.pdf Acesso em 27/10/2010. 10 1.2.3 Período de 2003 a 2010 O período que se estende de 2003 a 2010 refere-se ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT (Partido dos Trabalhadores). Com a sua reeleição no ano de 2006, pôde dar continuidade à sua política econômica até 2010. Em 2002, foi o ano de eleição presidencial e nessa transição de governos, ocorreu uma forte desvalorização cambial, prejudicando as metas de inflação, pois o aumento dos preços dos produtos de importação foi refletido no mercado interno, o que reduziu os investimentos no país (IPEA, 2005, p.4). De acordo com informações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em publicações de 2005 e 2006 sobre a economia do Brasil, o governo optou por manter a política macroeconômica do governo anterior, que tinha como base três itens fundamentais: austeridade fiscal, câmbio flutuante e metas para a inflação. Para complementar essas medidas ainda optou por controlar os gastos públicos e buscar o superávit primário, acordados com o FMI (IPEA, 2005, p.3). No segundo semestre de 2003 até o final de 2004 a economia cresceu atingindo 4,9% a.a. - o crescimento médio dos cinco anos anteriores era de 1,8% a.a. Esse crescimento deveuse especialmente à utilização da capacidade ociosa, expansão do crédito e aumento da demanda externa (IPEA, 2006, p.5). Em 2004 houve uma forte desvalorização do real frente ao dólar, indicando que o Brasil ainda apresentava certo grau de risco para investidores estrangeiros. Na busca pela estabilidade, as políticas monetárias e fiscais conseguiram controlar a inflação anual, reduzir a dívida externa, diminuir financiamentos públicos e produzir superávits na Balança Comercial, assim como saldos no Balanço de Pagamentos. Ao mesmo tempo houve uma queda generalizada da inflação no mundo (IPEA, 2006, p.3). Dentre as políticas para o ano de 2005 estavam: melhorias no marco regulatório, redução de impostos no setor da indústria, redução de custo de mão-de-obra, solução para o déficit da Previdência Social e o superávit primário10. 10 Cf. IPEA. Brasil: o estado de uma nação, 2005 e 2006. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/default.jsp Acesso em 26/10/2010. 11 O Boletim da Conjuntura de dezembro de 200611 publicado pelo IPEA aponta que a média de crescimento do Brasil de 2002 a 2005 foi de 2,6% a.a. A baixa taxa de crescimento da economia do país deve-se a alta das taxas de juros dos últimos anos. Mesmo diante do quadro de estabilidade econômica, não houve aumento de investimentos e de produtividade econômica, o que indicava a necessidade de reformas estruturais no período, como controle de gastos públicos, reforma previdenciária e tributária, mudanças no mercado de trabalho e no marco regulatório (IPEA, 2006, p. 9). O governo apresentou melhorias na questão social com a redução da pobreza e da desigualdade e teve suas atenções voltadas para a ampliação de investimento e do acúmulo de poupança interna (IPEA, 2006, p.10). Em 2007, o Boletim da Conjuntura de setembro de 200712 publicado pelo IPEA destacou a volatilidade do mercado internacional frente à crise do mercado imobiliário norteamericano. Houve diminuição da dívida externa brasileira e acumulação de reservas, o que diminuiu o risco do país ao enfrentar uma crise externa. Assim o Brasil pode continuar num ritmo de crescimento acelerado (IPEA, 2007, p.7). O bom desempenho da economia do Brasil no início de 2007 aumentou a confiança para investimentos e aumento do consumo. (IPEA, 2007, p.9 e 31). Em 2008, com o auge da crise econômica mundial, o Brasil conseguiu manter seus índices de crescimento e estabilidade, pois estava menos vulnerável a uma crise externa do que esteve no passado. Nesse ano apresentou solidez nas contas externas, equilíbrio fiscal e redução da dívida pública, além do controle da inflação. Assim sustentou o crescimento da demanda doméstica, limitando os impactos da crise no país. (Ministério da Fazenda, 2008, p. 17) No ano de 2009 o PIB não cresceu devido à crise de 2008, cujos impactos foram refletidos nesse ano. Entretanto havia uma visão positiva na reação da economia brasileira à crise: 11 Cf. IPEA. Boletim da Conjuntura Dezembro de 2006. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/default.jsp Acesso em 26/10/2010. 12 Cf. IPEA. Boletim da Conjuntura Setembro 2007. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/default.jsp Acesso em 26/10/2010. 12 O dinamismo do consumo doméstico foi decisivo para tal. A robustez da situação macroeconômica e a combinação eficaz de estímulos monetários, creditícios e fiscais contribuíram para a redução dos impactos sobre a demanda e, assim, na atividade econômica (CNI, Economia Brasileira, dez. 2009). De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB em 2010 correspondeu a um crescimento acumulado de 7,5% a.a., confirmando a expectativa de crescimento da economia. Em comparação ao ano de 2009, o PIB cresceu 8,8%, mesmo apresentando os reflexos da crise financeira internacional, sendo que esta foi a segunda maior taxa verificada na série histórica do país (IPEA, 2010, p.5). O setor de Serviços avançou 5,6% em 2010 comparado com o ano anterior, destacando os setores de comércio; transporte, armazenagem e correio; intermediação financeira e seguros (IPEA, 2010, p.5). 1.3 Histórico de IDE no Brasil Gregory & Oliveira (2005, p.10) escrevem sobre o histórico da entrada de IDE no Brasil e destacam que o Brasil recebeu grande fluxo de IDE depois da 2ª Guerra Mundial até os anos de 1980, período em que sofreu com o aumento da dívida externa, o que inviabilizou a entrada de capital estrangeiro no país. De 1980 até o início de 1990 o volume de IDE para o Brasil estagnou em índices muito baixos. Gregory & Oliveira (2005, p.10) destacam a importância da implementação de medidas liberalizantes na economia na década de 1990, o que promoveu a abertura comercial do Brasil e a desregulamentação do mercado interno. Nesse período havia carência de investimentos em infra-estrutura, nas áreas de energia, telecomunicações e transportes. Esse foi um dos fatores que incentivou o programa de privatizações. Além disso, o governo renegociou a dívida externa, e em 1994 lançou o Plano Real para combater o crescimento inflacionário. Gregory & Oliveira (2005, p.10) afirmam que todas essas medidas tomadas pelos governos desde 1990 contribuíram para que os investimentos diretos estrangeiros voltassem a ingressar no Brasil, que caminhava para ser um bom receptor novamente. 13 O balanço de pagamentos do Brasil começou a apresentar superávits, o que favoreceu o Plano Real de 1994 no combate à inflação. Esse fato pode ser confirmado com a elevação no volume de IDE que entrou no país após o sucesso do Plano Real, passando de USD 1,4 bilhões em 1995 para USD 10,8 bilhões em 1996 (GREGORY & OLIVEIRA 2005, p.10). Como mostram Sarti & Laplane (1999, p.11), o fluxo de investimento direto estrangeiro a partir de 1994 cresceu mais, proporcionalmente, do que as demais categorias de investimento estrangeiro como portfólio, fundos de privatização, de renda fixa e imobiliária, inclusive, superando o montante de investimento em portfólio em 1996. Para esse desempenho, tiveram grande participação os processos de privatização, cujos fluxos de IDE mais recentes são destinados ao setor de serviços. Gregory & Oliveira (2005, p.11) dizem que: Em 1995, foi realizado o primeiro Censo do Capital Estrangeiro, pelo Banco Central do Brasil, que visava um diagnóstico da presença do investimento estrangeiro direto no País, a partir de questionário respondido pelas próprias empresas ao registrarem suas operações. Foi apurado que o estoque de IED na economia brasileira havia atingido o montante de USD 43 (quarenta e três) bilhões e que do total de empresas pesquisadas 21,77% detinham participação majoritariamente estrangeira. A tabela 1 refere-se ao segundo momento das privatizações, de 1995 a 2002, e destaca o setor de infra-estrutura e serviços, com receitas de USD 73,8 bilhões frente a USD 15,1 bilhões do setor industrial. No período que se estende de 1995 a 2002, segunda etapa das privatizações no Brasil, com destaque para o setor de infra-estrutura e serviços, nota-se então a maior participação de investidores estrangeiros e menor peso de empresas nacionais no total de USD 93,4 bilhões de receita líquida. 14 Tabela 1. Privatizações de 1995 a 2002 - USD milhões Receitas de Venda Dívida Transferida Total 10.852 4.265 15.117 816 706 1.522 Petróleo 4.840 - 4.840 Mineração 5.196 3.559 8.755 63.281 10.545 73.826 Financeiro 6.329 - 6.329 Elétrico 22.238 7.510 29.748 Transporte 2.321 - 2.321 421 - 421 Gás/ Saneamento 2.111 88 2.199 Telecomunicação 29.811 2.947 32.758 50 - 20 4.481 - 4.481 753 - 753 3.728 - 3.728 78.614 14.810 93.424 Setores Indústria Petroquímica Infra-estrutura e Serviços Portuário Informática Participação Minoritária Decreto 1.068 Estaduais Total Fonte: BNDES, julho/2002 Os fluxos de IDE no Brasil foram aumentando desde a década de 1980 e como diz Gregory & Oliveira (2005, p. 11), foram em média USD 500 milhões ao ano na década de 1980, entre 1990 e 1994 a média anual aumentou de USD 1,4 bilhão para USD 29 bilhões em 1999. O estudo de Gregory & Oliveira (2005, p.12), que se estende até o ano de 2005, aponta o auge de IDE para o Brasil em 2000, contabilizando USD 32,8 bilhões, devido especialmente aos processos de fusões e aquisições, em virtude do processo de privatizações iniciado em 1990. 15 Os dados do gráfico 1 foram publicados pelo Banco Central do Brasil e correspondem às informações que foram publicadas na UNCTAD no Handbook of Statistics 2007-08.13 Gráfico 1. Investimento Direto Estrangeiro no Brasil – USD bilhões 45 29 19 29 34,6 32,8 22,4 10,8 3 18,1 16,6 10,1 15 18,8 4,4 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Fonte: Banco Central do Brasil - Relatório Anual 2005, 2006, 2007 e 2008. Em 2001, o cenário internacional foi abalado com o atentado aos Estados Unidos, em 11 de Setembro, e os fluxos de IDE foram reduzidos. O Brasil sentiu grande impacto, pois nesse ano ocorreu a crise energética e a instabilidade provocada pelo processo eleitoral de 2002, ano de transição do governo de Fernando Henrique Cardoso para Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2003, o volume de investimentos estrangeiros no Brasil foi de US$ 10,1 bilhões, acompanhando a queda desde 2001. A recuperação iniciou-se em 2004 superando USD 18,1 bilhões, e seguiu com aumento ao longo dos anos de 2006 a 2008, quando atingiu USD 45 bilhões. (GREGORY & OLIVEIRA 2005, p.13-14). 13 Cf. UNCTAD. Handbook of Statistics 2007-08: International Finance. UNCTAD, 2008. Disponível em: http://www.unctad.org/en/docs/tdstat31ch7_enfr.pdf Acesso em 26/10/2010. 16 Tabela 2. Entrada de IDE por Atividade Econômica de 1980 a 1995 no Brasil em USD mil Atividade Econômica 1990 1991 1992 1993 1994 1995 242.729 246.812 322.800 322.387 308.657 301.372 9.622 10.447 10.434 10.595 14.278 14.915 98.030 100.905 105.192 116.103 123.374 127.745 936.161 821.050 793.554 821.161 1.086.609 1.091.286 25.729.244 26.156.188 25.571.318 27.305.151 28.955.050 30.913.090 63.531 62.714 62.675 65.640 67.541 71.248 Outros Serviços 9.258.390 10.090.594 11.974.958 17.213.004 25.252.334 24.689.490 Bancos 1.644.445 1.692.620 1.707.724 1.754.464 1.858.586 1.957.859 905.705 1.091.536 1.134.135 1.182.091 741.053 873.679 37.243.412 38.580.246 39.975.066 47.036.132 56.548.896 58.082.825 Agricultura Pesca Pecuária Ind. Extrativa Mineral Ind. de Transformação Serviços de Utilidade Pública Outras Atividades Total Fonte: Banco Central do Brasil. Investimentos e reinvestimentos estrangeiros no Brasil. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/rex/IED/Port/RamoDeAtividadeReceptora/Htms/DRAE80-95.asp?idpai=inved Acesso em 06/10/2010. A tabela 2 mostra a entrada de IDE no Brasil a partir de 1990 até 1995, dividida por setores da economia, analisada pelo Banco Central do Brasil. Nota-se assim o crescimento no fluxo de IDE, que passou de USD 37 bilhões em 1990 para USD 58 bilhões em 1995. Os setores de maior destaque de acordo com os dados são: pecuária e serviços. 17 Tabela 3. Entrada de IDE por Atividade Econômica de 1996 a 2000 no Brasil em USD milhões Atividade Econômica Agricultura, Pecuária e Extrativa Mineral 1996 1997 1998 1999 2000 110,58 456,03 142,42 422,52 649,44 Indústria de Transformação 1.740,02 2.036,50 2.766,41 7.002,32 5.070,18 Serviços 5.814,89 12.818,43 20.361,94 20.147,05 24.156,75 Total 7.665,49 15.310,95 23.270,78 27.571,89 29.876,37 Fonte: Banco Central do Brasil. Censo 1995 e ingressos 1996 a 2000. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/rex/ied/port/ingressos/htms/index1.asp?idpai=INVEDIR Acesso em 27/11/2010. A tabela 3, de acordo com informações do Banco Central do Brasil, segue com os dados da distribuição da entrada de IDE no Brasil por atividade econômica de 1996 a 2000. Pode-se dizer que o país tem recebido cada vez mais IDE em sua economia graças aos diversos fatores de incentivo, especialmente o bom desempenho e a estabilidade da economia. O destaque no período avaliado é no setor de serviços. Tais volumes de IDE e a evolução do cenário econômico e político no Brasil a partir de 1990 até 2010 propiciaram uma consolidação do setor bancário no país, como apresenta o capítulo 2. 18 2. IDE NO SETOR BANCÁRIO BRASILEIRO Este capítulo tem como objetivo apresentar o processo de consolidação do setor bancário no Brasil diante da abertura econômica de 1990, e da entrada de IDE no país nesse período. Com base nessas informações é possível entender o fortalecimento dos grandes bancos, o processo de integração que ocorreu diante da concorrência que chegava no Brasil e as políticas econômicas que foram estabelecidas na época. 2.1 Consolidação do Setor Bancário Brasileiro De acordo com Molina (2004, p.76) o sistema bancário brasileiro passou por grandes transformações desde o final da década de 1980, com destaque para a década de 1990, período de abertura econômica do país e no qual foi instalado o Plano Real, proporcionando a estabilidade na economia brasileira. Neste contexto, os bancos brasileiros se tornaram mais modernos e competitivos, tornando interessante o estudo do processo de competição e concentração no setor bancário no Brasil. A partir de 1990 houve acentuado crescimento de fusões e aquisições no setor bancário, no que se refere a número, tamanho e valor de negócios. Tal fato foi incentivado pela desregulamentação dos serviços financeiros, pela abertura do setor bancário, pelos avanços tecnológicos (em telecomunicação e informática), bem como pelas mudanças estratégicas das instituições financeiras que tinham como maior preocupação oferecer retorno aos acionistas. Tudo isso favoreceu o processo de consolidação do setor bancário brasileiro (PAULA & MARQUES, 2006, p. 2). Para Molina (2004, p.77), o mercado financeiro brasileiro estava aberto até 1966, o que significa que era permitida a entrada de capitais externos e que investidores estrangeiros fossem os únicos donos de um banco no país, como no caso de bancos como o Citibank, Boston, Chase e Lloyds. Na segunda metade da década de 1960 o governo criou o PAEG - Plano de Ação Econômica do Governo, um programa de reforma no sistema financeiro, que tinha bases jurídico-legais. Surgem então, o Banco Central e o Conselho Monetário Nacional (MOLINA, 2004, p.77 apud MOURA, 1998). 19 A Lei n.º 4595 de 31/12/1964 reformou o sistema bancário brasileiro. Foi contemplada nesta lei a criação do Banco Central do Brasil que começou a funcionar somente em 1965. Na verdade as prerrogativas que após a lei passaram ao domínio do BCB eram desempenhadas por diversas entidades públicas. Até 1945 cabia ao Banco do Brasil a operação enquanto banco comercial e também como banco central do brasil. Em 1945 criou-se a Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC) que era então dirigida por um Conselho presidido pelo Ministro da Fazenda. Cabia a SUMOC a formulação da política monetária (BARBACHAN & FONSECA, 2004, p.5). Tabela 4. Número de Instituições Financeiras no Brasil em 1995 Tipos Bancos Comerciais Sedes Agências no País 35 4.137 208 11.496 6 9 16 45 2 1.829 926 - 44 105 226 306 47 56 348 563 4 0 Soc. De Arrendamento Mercantil 77 127 Soc. De Credito Imobiliário 19 27 966 0 2 1 463 4.742 3.389 23.497 Bancos Múltiplos Bancos de Desenvolvimento Bancos de Investimento Caixas Econômicas Soc. Cooperativas Soc. De Cred. Finan. E Invest Soc. Corretoras de Tit. E Val. Mob. Soc. Corretoras de Câmbio Soc. Distribuidoras Soc. De Investimento Fundos de Investimento e de Aplic. Associações de Poup. Empr. Administradoras de Consórcio TOTAL Fonte: DECAD/DIVIN. Posição de 09.01.95 Disponível em: http://www.bcb.gov.br/?PROER Acesso em 10/11/2010. De acordo com Barbachan & Fonseca (2004, p.3), a Reforma Bancária de 1964 (lei n.º 4595 de 31/12/1964) proporcionou um aumento de instituições bancárias, assim como de grupos financeiros no território nacional. Essas instituições financeiras se reorganizaram a partir de 1988, quando o Conselho Monetário Nacional (CMN), através da resolução n.º 1524 20 de 21/09/1988, criou os bancos múltiplos14, permitindo que as instituições financeiras isoladas do período se reorganizassem em uma única empresa. Assim, observou-se um aumento no número de instituições financeiras no mercado nacional de 124 em 1988 para 242 em 1995. Na tabela 4 pode-se observar o número de instituições financeiras no Brasil em 1995. O número de Bancos Múltiplos é muito superior ao de Bancos Comerciais. Diante dessas reformas e mudanças, as autoridades monetárias limitaram a entrada de capital estrangeiro no sistema bancário, o que foi formalizado em lei anos depois, com a Constituição de 1988 (MOLINA, 2004, p.77, apud RODRIGUES, 1999). Quadro 1. Normas Relativas ao Sistema Financeiro Nacional Normativo Determinação Veda Decisão CMN (24.11.70) participação comerciais. estrangeira em bancos Participação limitada: bancos de investimento 50% do capital total e 33% do capital votante. Mesmo limite dos bancos de investimento para Voto CMN nº 462/1971 financeiras e DTV. Veda participação em corretoras. Voto CMN nº 285/1975 Voto CMN nº 130/1976 Mesmo limite dos bancos de investimento para sociedades de arrendamento mercantil. Suspende vedação a corretoras, mesmo limite das demais instituições não-bancárias. Fonte: BANCO CENTRAL DO BRASIL. Normas relativas ao Sistema Financeiro Nacional. Disponivel em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9613.htm Acesso em 15/02/2011. 14 Banco múltiplo: “Os bancos múltiplos são instituições financeiras privadas ou públicas que realizam as operações ativas, passivas e acessórias das diversas instituições financeiras, por intermédio das seguintes carteiras: comercial, de investimento e/ou de desenvolvimento, de crédito imobiliário, de arrendamento mercantil e de crédito, financiamento e investimento. A carteira de desenvolvimento somente poderá ser operada por banco público. O banco múltiplo deve ser constituído com, no mínimo, duas carteiras, sendo uma delas, obrigatoriamente, comercial ou de investimento, e ser organizado sob a forma de sociedade anônima." (Resolução CMN 2.099, de 1994).” Disponível em: http://www.bcb.gov.br/pre/composicao/bm.asp Acesso em 04/09/2010. 21 O quadro 1 apresenta algumas normas de regulamentação da entrada de capital estrangeiro no país. Com as portas fechadas para a entrada de capital estrangeiro no final dos anos 60, o sistema financeiro brasileiro se tornou mais concentrado, ao mesmo tempo em que a tecnologia se tornou presente no setor, trazendo a novidade da automação de processos de controle interno dos bancos. Em um segundo momento, na metade da década de 1980, a inovação tecnológica chega no interior das agências possibilitando o lançamento eletrônico dos registros das transações diretamente pelo funcionário do setor de atendimento (MOLINA, 2004, p.78, apud JINKINGS,1995). A introdução do processo de automação nesse período permitiu a instalação dos primeiros caixas eletrônicos. Na década de 1990 o setor de processamento de dados, assim como alguns funcionários da área, foram substituídos por computadores (MOLINA, 2004, p.78). Tabela 5. Relação População e Agências Bancárias no Brasil de 1980 a 1995 Período População (em mil hab.) No. de Agências População/Agências 1980 118.561 13.088 9.059 1981 121.213 14.379 8.430 1982 123.885 16.404 7.552 1983 126.573 16.701 7.579 1984 129.273 17.016 7.597 1985 131.978 17.757 7.432 1986 134.653 17.098 7.875 1987 137.268 16.525 8.307 1988 139.819 19.645 7.117 1989 142.307 18.357 7.752 1990 144.724 19.996 7.238 1991 147.074 17.942 8.197 1992 149.358 17.825 8.379 1993 151.572 17.442 8.690 1994 153.724 18.223 8.436 1995 154.835 18.151 8.530 Fonte: IBGE e BC. Posição em Jun/95 (Estimativa da população de acordo com a taxa de crescimento dos últimos dois anos.) Disponível em: http://www.bcb.gov.br/?PROER Acesso em 25/10/2010. 22 A tabela 5 apresenta a relação entre a população e número de agências bancárias de 1980 a 1995, ficando claro que o número de agências não aumentou com o crescimento da população, pois o avanço tecnológico permitiu que diversos serviços fossem realizados sem a necessidade da presença em agências, seja por meio de caixas eletrônicos, ou através da internet. Ao mesmo tempo em que a tecnologia era introduzida no setor bancário, modernizando sua estrutura interna, tal tecnologia, como um sistema informatizado, se tornava cada vez mais necessária para acompanhar o ritmo da desvalorização da moeda devido à inflação, que era a principal preocupação desde os anos 1980. Sistemas que fossem capazes de acompanhar a variação do preço da moeda permitiram que os bancos obtivessem lucros muito altos, os quais financiaram novos investimentos em tecnologia (MOLINA, 2004, p.78-79). Para Barbachan & Fonseca (2004, p.3) a inflação foi um dos fatores mais importantes para a acumulação de enormes ganhos no setor bancário. A crescente inflação possibilitava a geração de lucros por meio das operações no overnight, isto é, compra de títulos públicos com garantia de recompra e com prazo de um dia e por meio do float bancário, isto é, assimetria de indexação, a qual não corrigia os valores que estavam parados em conta corrente e os recolhimentos de tributos, mas aplicava esses recursos em títulos públicos. Devido ao grande ganho com a inflação, o crédito bancário era uma segunda opção para os bancos aumentarem seus ativos. Entretanto, esse cenário da economia brasileira, com altos índices de inflação, foi modificado com a introdução do Plano Real em 1994. A perda de receitas originárias da inflação não representou, no entanto, uma queda significativa na lucratividade dos bancos. Tal fato pode ser explicado pela substituição das receitas inflacionárias por receitas de serviços bancários, o que já denotou um acentuado esforço dos bancos em adaptar suas atividades ao novo cenário que se delineou (MOLINA, 2004, p.79). Em 1994, com o Plano Real, o país vivenciou uma queda brutal da inflação, que prejudicou a forma de acumulação de lucros das instituições financeiras. A ineficiência de muitas delas levou o Banco Central a intervir para diminuir a vulnerabilidade do sistema e 23 para tanto criou o PROER15 em 1995. Os exemplos mais famosos de intervenção ocorreram nos bancos: Econômico, Bamerindus e Nacional e do importante processo de privatização dos bancos estaduais implementado pelo governo federal (BARBACHAN & FONSECA, 2004, p.3). A partir da redução da inflação, o número de bancos também diminuiu, passando de 242 em 1995 para 165 em 2002. Portanto, pode-se dizer que o setor bancário passou inicialmente por um processo de consolidação nos anos de 1960 e 1970 para depois ficar mais concentrado nos anos 1980 e 1990 (BARBACHAN & FONSECA, 2004, p.4). Após o Plano Real, houve estabilização da inflação e assim uma queda das receitas dos bancos. Ao mesmo tempo, o Conselho Monetário Nacional (CMN) implantou a Resolução n.º 2099 de 17 de agosto de 1994, a qual introduziu os parâmetros do Acordo da Basiléia (1988), o que serviu para reduzir o risco sistêmico ao dar maior solidez ao sistema financeiro (BARBACHAN & FONSECA, 2004, p.6). Como resposta à crise bancária ocorrida em 1995 no México e a crise asiática de 1997, que trouxeram insegurança quanto à solidez do sistema financeiro, o governo promoveu outras mudanças para reestruturar o setor bancário baseado nas recomendações do “Primeiro Acordo de Capital do Comitê da Basiléia”. A criação do PROES16 incentivou fusões e aquisições e permitiu a entrada de instituições estrangeiras, que adquiriram os bancos que apresentavam problemas (PAULA & MARQUES 2006, p. 2). A estabilização macroeconômica, a entrada de bancos estrangeiros no Brasil e a inovação tecnológica no setor, possibilitaram que os bancos substituíssem os ganhos oriundos das altas taxas de inflação por receitas advindas de serviços prestados, colocando o cliente como foco na garantia de rentabilidade (MOLINA, 2004, p.80). 15 PROER: Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer) foi incluso pela Medida Provisória nº 1.179 e a Resolução nº 2.208, ambas de 3/11/95, que veio para ordenar a fusão e incorporação de bancos a partir de regras ditadas pelo Banco Central. Com o Proer, os investimentos e a poupança da sociedade ficam assegurados. Há uma adesão incondicional ao mecanismo de proteção aos depositantes, introduzido pelas resoluções 2.197, de 31/8/95, e 2.211, de 16/11/95, do CMN, evitando que futuros problemas localizados possam afetar todo o sistema, com reflexos na sociedade brasileira. In: http://www.bcb.gov.br/?PROER Acesso em 10/09/2010. 16 PROES: Programa de Estímulo à Reestruturação do Sistema Financeiro público Estadual, foi instituído pela MP nº 1.702-26, de 30/06 de 98. Este programa previa a privatização, extinção ou transformação em agência de fomento ou instituição não financeira dos bancos públicos estaduais. In: MOLINA, W. S. L. A Reestruturação do Sistema Bancário Brasileiro nos anos 90: menos concorrência e mais competitividade? INTELLECTUS Revista Acadêmica Digital das Faculdades Unopec - ISSN 1679-8902, Ano 02 [nº 03] ago./dez. 2004. 24 Entretanto, nem todos os bancos conseguiram manter as mesmas margens de lucro, pois isso dependia de os bancos possuírem um grande número de clientes diversificados. Ocorreu então a quebra de alguns bancos privados menores, assim como bancos oficiais. Para enfrentar o problema o governo criou, além do PROER e PROES, o PROEF17. Tais programas prepararam os bancos para um processo de privatização e a entrada de capital estrangeiro (MOLINA, 2004, p.80). Apesar do cenário econômico se apresentar favorável ao ingresso de bancos estrangeiros, o setor bancário foi um dos últimos setores a serem abertos, devido à restrição imposta pela Constituição Federal de 1988, que limitava a participação de bancos estrangeiros no país e criava fortes barreiras à sua entrada (MOLINA, 2004, p.82). Para abrir a economia brasileira para os capitais estrangeiros, as autoridades do governo encontraram uma brecha na lei da Constituição de 1988, que previa apenas três casos nos quais o capital externo poderia entrar no setor bancário: interesse nacional, caso de reciprocidade e acordos internacionais. Assim, argumentaram enfatizando a necessidade de capitalização, atualização tecnológica e aumento da competitividade do sistema financeiro nacional, itens de interesse nacional. A expectativa era um aumento da competitividade com a presença de novos concorrentes, fazendo com que as instituições buscassem mais e melhores serviços para oferecer ao público e maior eficiência na administração (MOLINA, 2004, p.83). Como diz Molina (2004, p.84), a abertura do mercado nacional para entrada de capital externo e de bancos estrangeiros promoveu uma onda de fusões, incorporações e aquisições no setor, como nunca antes visto no Brasil. Tais processos incluíram não somente compra de bancos nacionais por estrangeiros, mas também entre os bancos nacionais, destacando dois processos distintos, mas complementares: aumento de competição e com isso a concentração dos bancos. Para Molina (2004, p.85 apud ARAÚJO, CARTONI & JUSTO, 2001): À luz da teoria econômica, um aumento de competitividade em determinado setor geralmente se dá em decorrência de um aumento no nível de concorrência registrado neste setor. Porém, o que ocorreu no setor bancário brasileiro foge à regra: por um lado, o setor passou por um processo de modernização tecnológica e racionalização administrativa que o tornou de fato mais competitivo, num novo ambiente em que os lucros provenientes de altas taxas de inflação foram substituídos por receitas provenientes de serviços. Isso levou a uma valorização da figura do cliente, 17 PROEF: Programa de Reestruturação dos Bancos Federais, visava a reestruturação do Banco do Brasil, da CEF,do Banco da Amazônia e do Banco do Nordeste. In: MOLINA, W. S. L. A Reestruturação do Sistema Bancário Brasileiro nos anos 90: menos concorrência e mais competitividade? INTELLECTUS - Revista Acadêmica Digital das Faculdades Unopec - ISSN 1679-8902, Ano 02 [nº 03] ago./dez. 2004. 25 paralelamente à implementação de práticas gerenciais que buscavam a eficiência na geração de resultados, a promoção da qualidade, etc (MOLINA, 2004, p.85). A concentração se deu na medida em que os bancos nacionais de varejo adotaram como estratégia a aquisição de concorrentes para sobreviver à entrada de bancos estrangeiros, posicionar-se melhor no mercado e obter ganhos de escala. São exemplos desse processo o Unibanco que adquiriu o Nacional, a compra do BANERJ (Banco do Estado do Rio de Janeiro) e do BEMGE (Banco do Estado de Minas Gerais) pelo Itaú, do BCN (Banco de Crédito Nacional) pelo Bradesco, além de bancos vendidos para grandes instituições estrangeiras (MOLINA, 2004, p.85). Uma das especificidades no caso brasileiro foi a vigorosa reação dos bancos privados nacionais à entrada dos bancos estrangeiros, participando inicialmente de forma ativa da onda de F&A, realizando importantes incorporações, e, posteriormente a partir de uma certa retração dos bancos estrangeiros, passando mesmo a comandar esse processo (PAULA & MARQUES, 2006, p.3). A onda de fusões e aquisições bancárias a partir de 1990 resultou num importante movimento de consolidação bancária no Brasil, na qual houve uma redução significativa do número de bancos, diminuição do número de funcionários do setor financeiro, aumento na participação de receitas bancárias provindas de outros produtos e queda na margem de juros devido à maior competição e assim proporcionando a maior concentração no mercado bancário. A consolidação bancária no Brasil foi uma resposta às estruturas bancárias frágeis (PAULA & MARQUES, 2006, p. 2-3). A tabela 6 mostra as principais fusões e aquisições realizadas pelos 6 maiores bancos privados no Brasil a partir de 1995: Bradesco, Unibanco, Itaú, Santander, ABN Amro e HSBC. 26 Tabela 6. Principais Fusões e Aquisições feitas pelos 6 maiores Bancos Privados Instituição BRADESCO Instituição Compradora Data Instituição Instituição Compradora Data BCN Jun/1998 Bco Nacional Dez/1995 Bco Crédito Real MG Dez/1997 Dibens Jun/1998 Pontual (p/BCN) Dez/1999 Credibanco Jun/2000 Boavista Dez/1999 Bandeirantes Dez/2000 Baneb Dez/2000 BNL Jun/2004 Mercantil de SP Mar/2002 Bco Geral do Comércio Dez/1997 Bilbao Vizcaya Jun/2003 Noroeste Dez/1997 Banerj Dez/1996 Bozano, Simonsen Jun/1998 UNIBANCO Santander Bemge Dez/1998 Meridional Set/2000 Banestado Dez/2000 Banespa Mar/2001 BEG Mar/2002 ABN Amro Dez/2008 BBA Credtanstalt Set/2002 Bco Real Jun/1999 Sudameris Dez/2003 Bamerindus Jun/1998 Lloyds Bank Mar/2004 ITAÚ ABN Amro BankBoston Set/2006 Unibanco Dez/2008 HSBC Fonte: PAULA, L. F. & MARQUES, M. B. Tendências Recentes da Consolidação Bancária no Mundo e no Brasil. 2006. Disponível em: http://www.sep.org.br/artigo/9_congresso_old/ixcongresso103.pdf Acesso em 15/02/2011. Como aponta Molina (2004, p.86-90), a sobrevivência dos bancos nacionais diante de tantas mudanças na economia brasileira e a forte entrada de investimento estrangeiro no setor exigiu reformas na forma dos bancos atuarem no país. Dentre elas merecem destaque: Segmentação dos clientes, a qual proporciona melhor qualidade no atendimento, além de fidelizar os clientes já existentes. Facilita a conquista de novos clientes; 27 Investimento em tecnologia, para agilizar as operações contábeis, a formação de grandes bancos de dados com informações dos clientes, usados para a avaliação de riscos quanto à concessão de créditos e segmentação; Redimensionamento das agências devido à tecnologia, uma vez que passaram a atender um número menor de pessoas presencialmente; Foco na venda de produtos financeiros como cartões de crédito, seguros, planos de previdência, títulos de capitalização e consórcios; Terceirização de serviços; Fusões e aquisições, que permitem a redução de setores em duplicidade como recursos humanos, marketing, contabilidade, e fechamento de agências sobrepostas. Tais mudanças passaram a exigir do bancário outras habilidades pessoais como: facilidade de comunicação, bom desenvolvimento de trabalho em equipe, bom relacionamento interpessoal e maior qualificação (alto nível de escolaridade), condição essencial para futuras promoções ou mesmo para a contratação pelo banco (MOLINA, 2004, p.90). Assim, com tantas mudanças que ocorreram para que fosse possível a consolidação do setor e o seu fortalecimento, implicando em maiores investimentos em tecnologia e exigindo maior capacidade de seus funcionários, os bancos se tornaram competitivos e capazes para iniciar uma atuação no mercado internacional. 28 3. PERSPECTIVA DE INSERÇÃO DOS BANCOS BRASILEIROS NO MERCADO EXTERNO O objetivo deste capítulo é analisar a inserção internacional do sistema bancário brasileiro, mediante o investimento direto estrangeiro de bancos de outros países no sistema financeiro nacional e de bancos brasileiros no exterior. O Brasil conquistou uma integração financeira da economia doméstica com o exterior a partir da segunda metade da década de 1990, mediante atração de grandes fluxos de investimento direto estrangeiro (IDE) no setor financeiro e por meio da redução de restrições à sua entrada (FREITAS, 2011, p.8). O investimento direto estrangeiro realizado por instituições bancárias é baseado na mesma teoria de investimento direto desenvolvida para as corporações industriais. Assim, as decisões dos bancos de investirem no exterior são semelhantes às decisões das indústrias que escolhem entre a exportação dos seus produtos (os quais, no setor bancário, são as transações financeiras transfronteiriças) e a produção local (empréstimos, depósitos e outros serviços financeiros) em países estrangeiros, comparando custos e oportunidades (FREITAS, 2011, p.8-9). Vários fatores explicam as motivações do IDE no setor financeiro como: atendimento aos seus clientes no exterior; barreiras regulatórias; oportunidade de mercado e de negócios no outro país; aproximações culturais com o outro país; diferencial de taxa de câmbio; incentivos fiscais. Além disso, deve-se observar que ocorre transferência de tecnologia e ganhos de produtividade e de eficiência (FREITAS, 2011, p.8-9). Entretanto, é importante ressaltar as especificidades do setor financeiro no que se refere ao IDE, uma vez que os bancos possuem características específicas que os diferencia das demais empresas. A motivação da atividade capitalista é a valorização da riqueza. Assim, independentemente dos determinantes específicos, o que leva os bancos a atuarem no exterior é a busca de lucro. O IDE financeiro altera a gestão macroeconômica e a dinâmica financeira da economia do país receptor. Portanto, divido às características particulares dos bancos e da atividade bancária, as implicações vão muito além de transferências de tecnologias ou conhecimentos e de ganhos de produtividade e de eficiência (FREITAS, 2011, p.9). 29 3.1 Participação dos Bancos Estrangeiros no Brasil O capital estrangeiro desempenha papel muito importante no relacionamento da economia brasileira com o resto do mundo, pois a presença de sócio estrangeiro cria condições favoráveis ao processo de captação de recursos no exterior. A entrada de bancos estrangeiros assume grande importância pois permite a realização de operações internacionais, a transferência de tecnologias e de produtos e a colocação de papéis das empresas locais no exterior (CORAZZA & OLIVEIRA, 2007, p.12). De acordo com Corazza & Oliveira (2007, p.10-11) a abertura do sistema bancário às instituições estrangeiras ocorreu simultaneamente em toda a América Latina. As instituições estrangeiras, nos anos de 1990, tiveram como alvo de investimento os bancos latinoamericanos, devido à atratividade de seus mercados em expansão, que apresentava ótimo retorno nas atividades financeiras, pelos competidores locais pouco eficientes quando comparados com outros países e pela consolidação bancária na Europa e nos Estados Unidos. Além disso, deve-se notar que, se por um lado, a presença de bancos estrangeiros pode facilitar a entrada de capital no país, por outro lado, os bancos multinacionais também são meios facilitadores para a saída de capitais em momentos de crise. Entretanto, a estabilidade monetária, as privatizações e o potencial de negócios no Brasil e no MERCOSUL18 aumentam o interesse de investidores estrangeiros para ingressarem no país (CORAZZA & OLIVEIRA, 2007, p.12). O interesse dos bancos estrangeiros pelo potencial do mercado local, pelas novas oportunidades de lucros e a necessidade do Banco Central de recuperar parte do prejuízo acumulado nos últimos anos com a liquidação de bancos, corretoras e distribuidoras induziu o governo a elaborar um modelo de entrada dessas instituições no País, que, ao mesmo tempo, trouxesse ganhos aos envolvidos na negociação. Para que o governo conseguisse pôr em prática o seu programa de privatizações, os banqueiros internacionais foram chamados a participar do mercado nacional, pois se observava que os bancos nacionais não estavam se interessando em acelerar o processo de fusão e incorporações a despeito de todas as vantagens oferecidas dentro do PROER (CORAZZA & OLIVEIRA, 2007, p.12). 18 MERCOSUL, sigla que significa Mercado Comum do Sul, formado pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, foi instituído por meio do Tratado de Assunção em 1991. Disponível em: http://www.geomundo.com.br/geografia-30146.htm Acesso em 11/05/2011 30 Tabela 7. Aquisições bancárias com incentivo do PROER (1995-1997) e principais aquisições no varejo por instituições estrangeiras (1997-2008) Incentivo do Instituição Comprador Data PROER Banco Nacional Banco Econômico Banco Mercantil Banco Banorte Banco Martinelli Banco United Banco Bamerindus Banco Geral do Comércio Banco Boavista Banco Noroeste Banco Bandeirantes Banco América do Sul Banco Real Banco Excel-Ecomômico Banco do Estado de Pernambuco Banco Bozano Simonsen Banco Meridional Banespa Caixa Geral de Depósito ABN Amro SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM Unibanco 18.11.1995 Banco Excel 30.04.1996 Banco Rural 31.05.1996 Banco Bandeirantes 17.06.1996 Banco Pontual 23.08.1996 Banco Antônio Queiroz 30.08.1996 HSBC 02.04.1997 - Santander - Espírito Santo e Crédit Agrícole 04.12.1997 - Santander 30.03.1998 - Caixa Geral de Depósitos 22.05.1998 - Sudameris 30.07.1998 - ABN Amro 13.08.1998 - Bilbao Vizcaya 09.10.1998 - ABN Amro 17.11.1998 - Santander 18.05.2000 - Santander 18.05.2000 - Santander 20.11.2000 Unibanco 2005 Santander 28.07.2008 - 22.08.1997 Fonte: BACEN. Disponível em: http://www.ucm.es/info/ec/jec10/ponencias/303CorazzaOliveira.pdf Acesso em 10/05.2011. 31 A tabela 7 mostra os dados referentes às aquisições bancárias que tiveram incentivos do PROER e as principais aquisições de instituições estrangeiras a partir de 1995. Havia nessa década grande incentivo e o mercado apresentava pontos favoráveis para tais aquisições. Como as políticas de estabilização criaram um ambiente favorável, ocorreram os primeiros movimentos para a entrada de bancos estrangeiros em nosso país, sendo iniciado pelo Santander (banco espanhol), que gastou USD 2,7 bilhões entre 1994 e 1996, adquirindo o controle ou a participação em diversos bancos latino-americanos e pelo Banco BilbaoVizcaya (BBV) que investiu USD 1,6 bilhão. Posteriormente vem o HSBC, que investe para seu ingresso no Peru, amplia sua presença no México, adquire o grupo argentino Roberts e, na operação mais importante, compra, no Brasil, a totalidade das ações do Bamerindus (CORAZZA & OLIVEIRA, 2007, p.11). Em 1957, o Grupo Santander entrou no mercado brasileiro por meio de um acordo operacional com o Banco Intercontinental do Brasil S.A. A partir dos anos 90, o Grupo Santander buscou estabelecer forte presença na América Latina, particularmente no Brasil. O Grupo Santander seguiu esta estratégia tanto por meio de crescimento orgânico, como por aquisições. Em 1997, o Grupo Santander adquiriu o Banco Geral do Comércio S.A., um banco de varejo de médio porte, que subseqüentemente mudou seu nome para Banco Santander Brasil S.A. No ano seguinte, o Grupo Santander adquiriu o Banco Noroeste S.A. para fortalecer ainda mais a sua posição como um banco de varejo no Brasil. Em 1999, o Banco Noroeste foi incorporado pelo Banco Santander Brasil. Em janeiro de 2000, o Grupo Santander adquiriu o Banco Meridional S.A. (incluindo a subsidiária Banco Bozano, Simonsen S.A.), um banco atuante em serviços bancários de varejo e atacado, principalmente no sudeste do Brasil (SANTANDER, Relações com Investidores)19. O Grupo Santander é um grande exemplo de internacionalização bancária no Brasil. Desde 1997 vem mostrando capacidade de expandir sua presença no país por meio de aquisições, integração das instituições e melhoras no seu desempenho operacional. Em novembro de 2000, com a aquisição do Banespa, que era controlado pelo Governo do Estado de São Paulo, passou a ser um dos maiores grupos financeiros do Brasil, apresentando operações fortes nos serviços bancários de varejo e atacado. Após a aquisição, o Grupo Santander conseguiu modernizar a tecnologia de informação no Banespa. (SANTANDER, Relações com Investidores) 19 Cf. SANTANDER. Relações com Investidores. Disponível em: http://www.ri.santander.com.br/web/conteudo_pt.asp?tipo=510&idioma=0&conta=28 Acesso em 25/04/2011. 32 No Brasil, o Grupo Santander era composto de mais de uma pessoa jurídica, e em 2006, com a aprovação de seus acionistas e do Banco Central, consolidou todas as suas participações em uma única pessoa jurídica, surgindo assim o Banco Santander Banespa S.A., que posteriormente teve sua denominação alterada para Banco Santander (Brasil) S.A. Tal consolidação melhorou sua eficiência operacional e reduziu custos administrativos. Em 1º de novembro de 2007, o RFS Holdings B.V., um consórcio composto pelo Santander Espanha, The Royal Bank of Scotland Group PLC, Fortis SA/NV e Fortis N.V., adquiriu 96,95% do capital do ABN AMRO, então controlador do Banco Real. Na sequência, em 12 de dezembro de 2007, o CADE aprovou sem ressalvas a aquisição das pessoas jurídicas brasileiras do ABN AMRO pelo consórcio. No primeiro trimestre de 2008, o Fortis e Santander Espanha chegaram a um acordo por meio do qual o Santander Espanha adquiriu direito às atividades de administração de ativos do ABN AMRO no Brasil, que o Fortis havia adquirido como parte da compra pelo consórcio do ABN AMRO (SANTANDER, Relações com Investidores)20. Em 24 de julho de 2008, o Banco Santander Espanha assumiu o controle acionário indireto do Banco Real, que era composto pelas unidades de negócios na América Latina e Itália e, dentre outras, do Banco Real e da ABN AMRO Brasil Dois Participações (AAB Dois Par). Tal fato ocorreu por meio da aquisição da totalidade das ações de emissão do ABN Amro Real (de sociedade holandesa) após o cumprimento de todas as condições exigidas, especialmente a aprovação do Banco Central do Brasil (BACEN) e do De Nederlandsche Bank (Banco Central da Holanda) (SANTANDER, Relações com Investidores). No mesmo ano, foi aprovada a incorporação pelo Banco Santander (Brasil) S.A. das ações do Banco Real, que passou então a ser uma subsidiária integral do Banco Santander Brasil. Em 28 de julho de 2008 as diretorias do Banco Santander, do Banco Real e da AAB Dois Par celebraram o “Contrato de Compra e Venda de Ações” por meio do qual o Banco Santander adquiriu 2.213.403 ações ordinárias de emissão do Banco Real, até então detidas pela AAB Dois Par e pela Aymoré Crédito, Financiamento e Investimento S.A. A justificativa da incorporação de ações é a consolidação de investimentos do Banco Santander Espanha no Brasil, simplificando a atual estrutura societária das companhias, tornando o Banco Real e a AAB Dois Par subsidiárias integrais do Banco Santander. 20 Cf. SANTANDER. Relações com Investidores. Disponível em: http://www.ri.santander.com.br/web/conteudo_pt.asp?tipo=510&idioma=0&conta=28 Acesso em 25 de abril de 2011. 33 Em Fato Relevante divulgado na CVM e na BOVESPA em 29 de Julho de 2008, o Banco Santander, o Banco ABN AMRO Real e AAB Dois Par, anunciaram o “Instrumento Particular de Protocolo e Justificação de Incorporação de Ações do Banco ABN AMRO Real S.A. e da ABN AMRO Brasil Dois Participações S.A. ao Patrimônio do Banco Santander S.A.”, que apresentou ao mercado as justificativas e condições nas quais se deram a incorporação das ações de emissão do Banco Real e da AAB Dois Par ao patrimônio do Banco Santander21. Foi então celebrado em 14 de abril de 2009. A incorporação do Banco Real pelo Banco Santander teve como objetivo a consolidação dos investimentos do conglomerado econômico e financeiro Santander no país (Grupo Santander Brasil), com o conseqüente fortalecimento da sua estrutura operacional e organizacional e a unificação das suas atividades. A Incorporação representou uma etapa fundamental do processo de reestruturação societária das empresas integrantes do Grupo Santander Brasil e permitiu a conclusão do plano de integração operacional, administrativa e tecnológica que vinha sendo implementado desde a aquisição do controle do Banco Real (julho de 2008) e a incorporação das ações de emissão do Banco Real pelo Banco Santander 22. Como descreve o Fato Relevante divulgado na BOVESPA em junho de 2008, os objetivos da incorporação de ações eram: garantir a correta transferência das ações recémadquiridas no Brasil pelo Banco Santander Espanha, pelo seu efetivo preço de aquisição, preservar as personalidades jurídicas dos bancos: Santander, do Real e da AAB Dois Par; e manter concentrada a participação de acionistas minoritários no Banco Santander, a fim de evitar conflitos de interesse, isto é, uma maneira de proteger os interesses do acionista controlador e dos acionistas minoritários das empresas em questão. As despesas necessárias à efetivação das Incorporações de Ações são estimadas em R$ 2.300.000,00 (dois milhões e trezentos mil reais), sendo que tal valor será aplicado no pagamento de empresas especializadas incumbidas da elaboração dos laudos de avaliação, de honorários despendidos com escritórios de advocacia e das publicações legais para divulgação dos editais, avisos e atas envolvidos no processo legal das Incorporações de Ações.23 21 Cf. BOVESPA. Disponível em: http://www.bmfbovespa.com.br/empresas/consbov/ArquivoComCabecalho.asp?motivo=&protocolo=171448&fu ncao=visualizar&site=B Acesso em 09/05/2011. 22 Cf. BOVESPA. Disponível em: http://www.bmfbovespa.com.br/Cias-Listadas/EmpresasListadas/ResumoInformacoesRelevantes.aspx?codigoCvm=20532&idioma=pt-br Acesso em 09/05/2011. 23 Cf. BOVESPA. Disponível em: http://www.bmfbovespa.com.br/empresas/consbov/ArquivoComCabecalho.asp?motivo=&protocolo=171448&fu ncao=visualizar&site=B Acesso em 09/05/2011. 34 Gráfico 2. Estrutura antes das Incorporações de Ações Grupo Empresarial Sterrebeeck B.V. 98,12% 97,62% Banco Santander Banco Real 99,99% AAB Dois Par Fonte: BOVESPA. Disponível em: http://www.bmfbovespa.com.br/empresas/consbov/ArquivoComCabecalho.asp?motivo=&protocolo=171448&fu ncao=visualizar&site=B Acesso em 09/05/2011. Gráfico 3. Estrutura após as Incorporações de Ações Grupo Empresarial 41,10% Sterrebeeck B.V. 56,83% Banco Santander 100,00% Banco Real 100,00% AAB Dois Par Fonte: BOVESPA. Disponível em: http://www.bmfbovespa.com.br/empresas/consbov/ArquivoComCabecalho.asp?motivo=&protocolo=171448&fu ncao=visualizar&site=B Acesso em 09/05/2011. . A incorporação possibilitou a integração dos negócios e atividades bancárias em uma única instituição financeira para todos os fins comerciais, financeiros e jurídicos, com isso foi possível a redução de custos administrativos e a simplificação da estrutura societária do Grupo Santander Brasil.24 24 Cf. BOVESPA. Disponível em: http://www.bmfbovespa.com.br/Cias-Listadas/EmpresasListadas/ResumoInformacoesRelevantes.aspx?codigoCvm=20532&idioma=pt-br Acesso em 09/05/2011. 35 Quadro 2. Características das Ações das Instituições antes das Incorporações Ações Ordinárias Ações Preferenciais Dividendos 10% (dez por cento) maiores do que os atribuídos às ações ordinárias. Prioridade na distribuição dos dividendos. Direito de voto nas deliberações das Assembléias Gerais. Banco Santander Dividendo obrigatório de 25% do lucro líquido anual ajustado. Participação, em igualdade de condições com as ações ordinárias, dos aumentos de capital decorrentes de capitalização de reservas e lucros, bem como na distribuição de ações bonificadas, provenientes de capitalização de lucros em suspenso, reservas ou quaisquer fundos. Prioridade no reembolso do capital, sem prêmio, em caso de dissolução da Companhia. Direito de voto nas deliberações das Assembléias Gerais. Banco Real Dividendo obrigatório de 25% do lucro líquido anual ajustado. O Banco Real não possui ações preferenciais. Direito de voto nas deliberações das Assembléias Gerais. AAB Dois Par Dividendo mínimo de 1% do lucro líquido anual ajustado. AAB Dois Par não possui ações preferenciais. Fonte: BOVESPA. Disponível em: http://www.bmfbovespa.com.br/empresas/consbov/ArquivoComCabecalho.asp?motivo=&protocolo=171448&fu ncao=visualizar&site=B Acesso em 09/05/2011. O Quadro 2 mostra as características das ações ordinárias e preferenciais do Banco Santander, do Banco Real e da AAB Dois Par, antes da incorporação das instituições. Especifica a forma de distribuição de dividendos e o direito a votos nas Assembléias Gerais. O Quadro 3 representa como ficou organizado o Banco Santander após a realização da Incorporação de Ações do Banco Real e da AAB Dois Par. 36 Quadro 3. Características das Ações das Instituições após as Incorporações Ações Ordinárias Ações Preferenciais Dividendos 10% (dez por cento) maiores do que os atribuídos às ações ordinárias. Direito de voto nas deliberações das Assembléias Gerais. Banco Santander Dividendo obrigatório de 25% do lucro líquido anual ajustado. Prioridade na distribuição dos dividendos. Participação, em igualdade de condições com as ações ordinárias, dos aumentos de capital decorrentes de capitalização de reservas e lucros, bem como na distribuição de ações bonificadas, provenientes de capitalização de lucros em suspenso, reservas ou quaisquer fundos. Prioridade no reembolso do capital, sem prêmio, em caso de dissolução da Companhia. Fonte: BOVESPA. Disponível em: http://www.bmfbovespa.com.br/empresas/consbov/ArquivoComCabecalho.asp?motivo=&protocolo=171448&fu ncao=visualizar&site=B Acesso em 09/05/2011. Em 30 de abril de 2009, o Banco Real foi incorporado pelo Santander Brasil e foi extinto como pessoa jurídica independente. Como resultado dessa aquisição, o Santander Brasil tornou-se o terceiro maior banco privado do Brasil em termos de ativos. Nota-se que a aquisição de instituições brasileiras por grupos do exterior teve grande valor no processo de consolidação e concentração bancária no Brasil. O destaque desse processo é direcionado para a grande participação do Grupo Santander no Brasil, fortalecendo as instituições bancárias que hoje compõem o grupo, na competição com o mercado internacional. 3.2 Participação de Bancos Brasileiros no Exterior No que se refere à presença dos bancos domésticos no exterior, é provável que, com a retomada do crescimento nas economias centrais e a normalização dos mercados financeiros internacionais, haja um crescimento da internacionalização de bancos nacionais no futuro próximo. A presença no exterior através da instalação de filiais nos principais centros financeiros, além de ser uma estratégia de marketing junto aos clientes, permite às instituições o acúmulo de reservas em moeda estrangeira com condições mais favoráveis, e ofertarem aos seus clientes no Brasil diversos serviços rentáveis no exterior (FREITAS, 2011, p. 68). 37 Uma explicação para o recente movimento das instituições bancárias em direção à internacionalização está na teoria da interiorização, que é baseada na empresa multinacional e considera que as falhas de mercado ocorrem além das fronteiras (COUTINHO & AMARAL, 2010, p.7, apud WILLIAMS, 1997). Para superar as imperfeições do mercado, a empresa multinacional cria um mercado interno e, dessa forma, evita custos excessivos de transação. Quando a firma interioriza uma transação, as vantagens específicas do mercado se tornam vantagens específicas da firma, o que resulta no processo de internacionalização, e a firma pode aproveitar mais da vantagem de conhecimento (COUTINHO & AMARAL, 2010, p.7, apud WILLIAMS, 1997). Sendo assim, continua o autor, diante da vantagem de manter relações comerciais de longo prazo com seus clientes, os bancos estão dispostos a ajustar a localização de suas unidades para responder às mudanças de localização de seus clientes, na tentativa de manter o contato pessoal resultante de sua rede de informações e de sua infraestrutura de habilidades gerenciais (COUTINHO & AMARAL, 2010, p.7). Coutinho & Amaral (2010, p.8, apud Focarelli & Pozzolo, 2000) acreditam que a internacionalização dos bancos possui relação direta com a integração econômica entre os países. Os bancos buscam expandir suas atividades para o exterior com o objetivo de oferecer serviços em operações internacionais para clientes do país de origem. À medida que adquirem conhecimento quanto às questões institucionais, e de regulação dos países de destino, tais bancos são motivados a ampliar suas operações e promover serviços para a população e firmas locais. Para Coutinho & Amaral (2010, p.8) o movimento de internacionalização dos bancos é resultado de uma pressão competitiva existente nas economias consideradas mais maduras, e que já não apresentam perspectiva de expansão no mercado interno. Tal aspecto incentiva os bancos na busca de mercados com maior potencial de crescimento e maiores margens de lucro. O volume de capital estrangeiro direcionado para o setor bancário no Brasil, considerando o estoque existente de investimento estrangeiro no setor bancário em 2000 e o fluxo ocorrido entre 2001 e 2006, chega ao montante de US$ 22,23 bilhões. Apenas no período entre 1998 e 2001, o fluxo de investimentos diretos estrangeiros direcionados para o setor representou cerca de 16% do fluxo total (COUTINHO & AMARAL, 2010, p.10). 38 De acordo com Freitas (2011, p.68), atualmente ainda são poucos os bancos brasileiros que estão adotando a estratégia do IDE como forma de diversificar suas fontes de receita e riscos de negócios. Apenas o Itaú e o Banco do Brasil têm adotado esta estratégia, com foco em países da América Latina, onde poderiam usufruir de vantagens competitivas importantes. Com a aquisição de um banco local, obtêm-se informações e conhecimento das práticas do país anfitrião, o que, combinado com tecnologias de gestão e de marketing desenvolvidas para uso doméstico, torna possível a construção de vantagens competitivas por meio de oferta de pacotes de serviços bancários a grupos específicos de clientes. Porém, não obstante as especificidades das economias nacionais, os ciclos de crescimento dos países latino-americanos possuem forte correlação com o da economia brasileira, o que pode reduzir as vantagens da diversificação, na medida em que os riscos permanecem concentrados em uma mesma região geográfica (FREITAS, 2011, p.68). A fusão entre Itaú e Unibanco foi considerada uma grande decisão para o setor financeiro e não apenas para as duas instituições, uma vez que tal união aumentou a concorrência com os outros grandes bancos do país como o Bradesco e o Banco do Brasil, o que permitiu o repasse de ganhos de escala ao correntista. A negociação ocorreu por apenas cinco meses e, de acordo com Daniel Coradi, presidente da consultoria Engenheiros Financeiros & Consultores, a crise financeira internacional precipitou o acordo (CARVALHO & KLEBER, 2008, p.1). O Itaú conseguiu tornar-se a maior instituição financeira do país, ultrapassando seu maior concorrente, o Bradesco. Lidera atualmente o mercado, à frente do Santander, que depois da aquisição do ABN Real cresceu muito no mercado financeiro brasileiro e do Banco do Brasil, que como banqueiro do governo, tende a ser mais acionado pelas autoridades monetárias para suprimento de crédito a determinados setores. Já tem presença no Uruguai, Chile e Argentina e agora com a fusão, se estabeleceu também no Paraguai, com o Interbanco, do Unibanco, reforçando sua estratégia de internacionalização (CARVALHO & KLEBER, 2008, p.1). O Unibanco, que já não conseguia acompanhar o crescimento das outras instituições devido às limitações geográficas e tinha poucas condições de aquisição de outras instituições, resolveu sua questão do problema sucessório. O Unibanco já tinha incorporado a Caixa Geral de Depósitos (CGD), de Portugal, em 2005, que tinha, por sua vez, adquirido, em 1998, o Banco Bandeirantes, o qual ficou com a parte boa do Banorte, liquidado pelo PROER em 1996 (CARVALHO & KLEBER, 2008, p.1). 39 Com ativos totais de R$ 575,1 bilhões e um patrimônio líquido de R$ 57,7 bilhões, o Itaú/Unibanco torna-se o maior banco do País, incluindo as instituições privadas e as instituições estatais, guardando uma diferença considerável (36% a mais em ativos e 57,7% em patrimônio líquido) com relação ao segundo colocado, o Bradesco. Seguem-se o Banco do Brasil e o Santander (CARVALHO & KLEBER, 2008, p.1). O presidente do Unibanco, Pedro Moreira Salles, acredita que o processo de internacionalização do seu banco e do Itaú não seria possível sem a fusão das duas instituições, que permitirá a conquista de mercados no exterior com maior segurança (SALLES, 2008, p.1). O presidente do Itaú, Roberto Setubal, em entrevistas para jornais, confirmou que o alvo da internacionalização do banco será a América Latina, onde já possui participação em alguns países. Os países mais cogitados a princípio são o Chile, Colômbia e México (SALLES, 2008, p.1). Segundo cálculos dos dois bancos, o valor de mercado da nova companhia seria hoje de US$ 44,9 bilhões, o que daria ao grupo o posto de 16º maior banco do mundo. O líder nesse ranking é o chinês ICBC (Banco Industrial e Comercial da China), com valor de US$ 176,36 bilhões, seguido pelo americano JP Morgan Chase (US$ 151,8 bilhões) e pelo inglês HSBC (US$ 146,88 bilhões). O brasileiro mais próximo seria o Bradesco, em 21º, com valor de US$ 34,12 bilhões (SALLES, 2008, p.1). Outro banco importante do sistema bancário brasileiro no processo de internacionalização é o Banco do Brasil S.A. Em Fato Relevante publicado na CVM25 no dia 25 de abril de 2011, o Banco do Brasil S.A. anunciou que assinou o “Contrato de Compra e Venda de Ações” para aquisição de 100% do capital social do EuroBank, pelo valor de USD 6 milhões. O Banco EuroBank é uma sociedade de capital fechado com sede na Flórida, nos Estados Unidos, que possui 3 agências localizadas em Coral Gables, Pompano Beach e Boca Raton. Atende clientes americanos, portugueses, hispânicos e um pequeno público de brasileiros. Tal aquisição deve expandir os negócios do Banco do Brasil no território norte americano, cujo foco será atender as comunidades brasileira e hispânica residentes no país26. Como aponta O Globo (2011) o EuroBank é um pequeno banco com sede em Coral Gables, na Flórida, e tem operado mais na área de empréstimos para imóveis comerciais, de 25 CVM: Comissão de Valores Mobiliários. Cf. BOVESPA. Disponível em: http://siteempresas.bovespa.com.br/consbov/ArquivosExibe.asp?site=C&protocolo=286792 Acesso em 09/05/2011. 26 40 acordo com seu perfil disponível no site da agência reguladora financeira Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC). A aquisição do EuroBank contribuirá para a expansão dos negócios do BB nos EUA e lhe permitirá atuar no mercado de varejo norte-americano, com foco no atendimento das comunidades brasileira e hispânica residentes naquele país (O Globo, 25/04/2011). É uma decisão importante, pois ao mesmo tempo em que traz boas oportunidades, como a internacionalização, desde que se atente para as medidas de risco e não adote as mesmas práticas do subprime, isto é, emprestar para quem não terá condições de honrar seus compromissos (O GLOBO, 2011).27 Antes de decidir pela compra do EuroBank, o Banco do Brasil analisou outros 700 bancos como alvos de aquisição nos Estados Unidos, desde junho de 2009. O foco da instituição financeira são regiões americanas onde há forte concentração de brasileiros, como Nova York, Nova Jersey e Massachusetts, além da Flórida, onde as agências do EuroBank estão instaladas (O GLOBO, 2011). Como mostra a tabela 8, a instituição que possui apenas três agências, tem ativos no valor total de USD 102,1 milhões e carteira de crédito de USD 74,8 milhões contabilizados no final de 2010. O patrimônio líquido em 2010 era de USD 5,5 milhões. Tabela 8. Principais Informações Financeiras do EuroBank em 31/12/2010 Informações em 31/12/2010 Valores em USD milhões Ativos 102,1 Carteira de Crédito 74,8 Depósitos 91,4 Patrimônio Líquido 5,5 Fonte: BOVESPA. Disponível em: http://siteempresas.bovespa.com.br/consbov/ArquivosExibe.asp?site=C&protocolo=286792 Acesso em 09/05/2011. 27 Cf. O GLOBO. Disponível em: http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2011/04/26/banco-do-brasilcrescer-para-fora-mas-com-prudencia-376679.asp Acesso em 25/04/2011. 41 De acordo com Allan Toledo, vice-presidente de negócios internacionais do Banco do Brasil, em O Globo (2011), o Banco do Brasil vai investir USD 25 milhões em três anos para expandir a rede de atendimento do EuroBank, cuja meta é levar a rede para 20 pontos nos próximos cinco anos, uma vez que no mercado norte americano é possível adquirir apenas agências e não necessariamente um banco como um todo. Com isso, o banco pretende atingir 25% da comunidade brasileira residente nos Estados Unidos, o que significa uma conquista de 375 mil clientes. A idéia é repetir a experiência do Banco do Brasil no Japão, onde a instituição financeira já tem sete agências e 125 mil clientes (um terço da população brasileira no Japão) (O GLOBO, 2011). O Banco Bradesco, ao contrário dos concorrentes Itaú Unibanco e Banco do Brasil, com planos certos para a internacionalização acredita que a expansão do banco se dará primeiramente no Brasil. Após o movimento de consolidação do mercado brasileiro ocorrido nos dois últimos anos, a aquisição de um banco mexicano, o Banco Ibi, é um importante passo do setor no processo de expansão fora do Brasil. Para o Bradesco essa é uma oportunidade de se expor ao consumo de um outro país na América Latina com grande potencial de crescimento também. Para alguns, a operação com o Ibi mexicano poderia funcionar como uma “degustação” do mercado daquele país para o Bradesco.28 Portanto pode-se dizer que o processo de internacionalização dos bancos brasileiros está sendo cada vez mais avaliado, e muitos já estão buscando inserção do mercado internacional, pois querem atender novos mercados e ganhar maiores retornos. A tendência é cada vez maior de mais bancos seguirem o mesmo caminho. 28 Cf. Valor Econômico. Bradesco: ida ao México não significa internacionalização. 25 de janeiro de 2010. Disponível em: http://www.consvita.com.br/boletiminternacional/?p=2681 Acesso em 06/06/2011. 42 CONCLUSÃO O objetivo deste trabalho foi analisar o processo de concentração e consolidação bancária no Brasil a partir da entrada de fluxos de IDE, por meio de fusões e aquisições, com o incentivo de diversas políticas do governo. A conquista de estabilização econômica estimulou ainda mais a entrada de capitais no Brasil e a partir disso, há perspectiva dos bancos brasileiros se inserirem no mercado internacional. Tendo como hipótese básica do estudo que há perspectivas de os bancos brasileiros, após terem passado por grandes transformações com a entrada de IDE, se inserirem no mercado externo, atuando com competitividade perante seus concorrentes internacionais, os capítulos deste trabalho buscam responder a questão. A evolução econômica do Brasil desde 1960 mostra o esforço em realizar a industrialização por meio do processo de substituição de importações. Em meados dos anos de 1960, com o governo militar, o país apresentou crescimento do setor produtivo, entretanto esse progresso gerou altos índices de inflação. Em 1964, houve a reforma bancária, que aumentou o número de instituições bancárias e também a criação dos bancos múltiplos a partir de 1988. Com isso as autoridades monetárias limitaram a entrada de capital estrangeiro no setor, formalizado em lei em 1988. Com as restrições à entrada de IDE o setor ficou mais concentrado, ao mesmo tempo em que a tecnologia veio para facilitar os serviços prestados e os processos de controles internos. A inflação existente no período analisado foi um dos fatores mais importantes para a acumulação dos ganhos do setor bancário, com a geração de lucros nas operações no overnight. Entretanto o cenário de alta inflação foi modificado com a introdução do Plano Real em 1994. Os bancos sentiram a perda dos altos lucros. Para auxiliar os bancos o governo criou programas como o PROER, PROES e PROEF. Foram implantadas diversas políticas de incentivos à privatização na década de 1990. Tais medidas liberalizantes promoveram a abertura comercial e a desregulamentação do mercado interno. Somado a isso, houve a implantação do Plano Real que trouxe estabilidade na economia brasileira. Neste contexto, os bancos brasileiros se tornaram mais modernos e competitivos. 43 Com a abertura do mercado brasileiro para entrada de capital externo e de bancos estrangeiros ocorreu uma onda de fusões, incorporações e aquisições no setor, como nunca antes visto no Brasil. O setor de serviços foi um grande beneficiário do IDE, recebendo em torno de USD 73,8 bilhões de 1995 a 2002. Tais processos incluíram não somente compra de bancos nacionais por estrangeiros, mas também aquisições entre os bancos nacionais, destacando dois processos distintos, mas complementares: aumento de competição e com isso a concentração dos bancos. Sendo a consolidação bancária no Brasil uma forma de reverter as estruturas bancárias frágeis. As políticas de estabilização da economia favoreceram e entrada de IDE nos anos 2000, e mesmo diante de uma crise internacional, o Brasil se manteve estável e apresentando crescimento considerável. Com tais mudanças apresentadas, os bancos domésticos iniciam o movimento de internacionalização, resultado de uma pressão competitiva existente nas economias consideradas mais maduras. Tal aspecto incentiva os bancos na busca de mercados com maior potencial de crescimento e maiores margens de lucro. Dentre os diversos casos de bancos estrangeiros que adquiriram bancos nacionais, o caso do Santander merece destaque com a aquisição do banco ABM Amro. O Banco Itaú, depois de comprar o Unibanco, ficou mais forte e está buscando a internacionalização na América Latina, onde já possui participação em alguns países. Os países mais cogitados a princípio são o Chile, Colômbia e México. Outro banco importante do país que aderiu ao processo de internacionalização é o Banco do Brasil, que adquiriu recentemente um banco norte-americano EuroBank por USD 6 milhões, com o objetivo de atender a comunidade brasileira residente no exterior. Portanto pode-se dizer que os bancos brasileiros, depois de fortalecidos com a entrada de capital direto estrangeiro, e de passar por um processo de concentração, seguido de consolidação, já estão buscando inserção do mercado internacional, pois procuram atender novos mercados e podem enfrentar a concorrência com competitividade. Com o provável crescimento das economias no mundo, a tendência é cada vez maior de outros bancos seguirem o mesmo caminho. 44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, A. M. C. CARTONI, D. 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