uso de óleos vegetais como adjuvantes da resposta

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USO DE ÓLEOS VEGETAIS COMO ADJUVANTE
DA RESPOSTA IMUNOLÓGICA EM
PROCEDIMENTOS DE
IMUNIZAÇÃO/VACINAÇÃO
Maria da Guia Silva Lima. Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular
Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal do Ceará
A introdução das vacinas na prática médica, no início do século passado, foi uma notável
contribuição para o declínio das doenças mais responsáveis pela morbidade e mortalidade humanas
constantes nos registros históricos. Recentemente, a vacinação atraiu novas atenções em virtude do pânico
gerado pelos ataques com o bacilo do antraz feitos após a destruição das torres-gêmeas do World Trade
Center em 11/09/01, relançando a necessidade de novos investimentos nesse procedimento. Sem
necessidade de apelar a referências mais distantes vamos encontrar aqui no Brasil mesmo o recente artigo
do Professor Isaias Raw sobre a aprovação da vacina contra a hepatite B fabricada pelo Instituto Butantan
e outras questões relacionadas ao tema (“Saúde, Biotecnologia e auto-suficiência”, Folha de São Paulo de
16/08/02).
É bem sabido que, o contato de animais com antígenos provenientes de grande variedade de
agentes infecciosos, provoca, no organismo dos hospedeiros, homem e/ou animais, uma rápida
proliferação de células-T (um tipo particular de linfócitos). Essas células, juntamente com os
imunoadjuvantes ajudam a preservar a resposta celular do tipo T, indispensável para que ocorra uma
resposta imune específica, protetora do hospedeiro. Com esses conceitos em mente, falar de vacinação
implica em definir de modo preciso o antígeno, o imunoadjuvante e o protocolo de vacinação. Esses três
elementos aqui serão considerados sendo dada especial ênfase aos imunoadjuvantes.
Adjuvante ("adjuvare" = auxiliar) é o nome genérico que se aplica a substâncias usadas em
associação a antígenos, com o objetivo específico de auxiliar ou potencializar a resposta imunológica que
seria de menor intensidade, se o antígeno tivesse sido ministrado isoladamente. Há mais de 60 anos os
adjuvantes vêm sendo utilizados na Imunologia experimental e na vacinação animal onde seu uso
adequado dispensa doses elevadas, bem como aplicações freqüentes do antígeno sensibilizante. Nesse
contexto, a denominação “imunoadjuvante” é mais adequada.
O mecanismo de ação dos adjuvantes foi inicialmente explicado pela propriedade que os
mesmos teriam de reter os antígenos no sítio de inoculação (é o caso dos adjuvantes oleosos, por
exemplo). Posteriormente, o mecanismo de ação dos adjuvantes passou a ser relacionado com o processo
inflamatório inespecífico, acompanhado do recrutamento de fagócitos mononucleares para o local da
imunização e outra explicação ainda é a de que os adjuvantes seriam imunorreguladores do equilíbrio
entre a resposta imunológica protetora, a tolerância e a supressão. O mecanismo que tem maior aceitação
é o que se baseia na capacidade dos adjuvantes de ativarem de maneira seletiva uma das duas
subpopulações de células-T que auxiliam (Células T-“helper”) a resposta imune, Ta1 ou Ta2. A proposta
mais recente que dá um refinamento maior ao mecanismo anteriormente mencionado é a de que os
adjuvantes atuam aumentando a expectativa de sobrevida das células-T ativadas por antígenos, através do
aumento da expressão da proteína Bcl-3 nestas células. Dessa forma, Bcl-3 seria um componente
essencial através do qual os adjuvantes, a inflamação e a imunidade inata controlam a resposta imune
adaptativa (Thomas C. Mitchell et al. Nature Immunology, 2: 397-402, 2001).
A natureza química dos adjuvantes utilizados até o momento é bastante variada e menciono
alguns dos adjuvantes mais utilizados: a) sais de alumínio, tais como fosfato e hidróxido de alumínio que
são os únicos adjuvantes aprovados para uso clínico; b) combinação de sais de alumínio com
monofosforil lipídio A (MPL); c) combinação de monofosphoril lipídio A (MPL) com QS-21 (uma fração
purificada de extrato de saponina de Quillarja saponina) e uma emulsão de óleo e água; d) bacterianos
como LPS e MDP; e) óleos minerais; f) óleos vegetais. Na categoria dos óleos minerais, vale uma
referência especial ao adjuvante mais antigo e mais conhecido, o adjuvante de Freund, quer na forma
“incompleta” que consiste em um óleo mineral livre de compostos aromáticos policíclicos quer em sua
forma “completa” onde foi adicionada à sua fórmula original, uma bactéria inativada (Mycobacterium
tuberculosis ou Mycobacterium butyricum).
A importância do conhecimento de novos adjuvantes e de seu mecanismo de ação é posta em
evidência quando se sabe que, atualmente, a nova geração de vacinas, incluindo aquelas nas quais são
usadas subunidades de antígenos virais, produzidas por técnica de DNA recombinante, somente darão
bons resultados se ministradas com adjuvante seguro, adequado e eficaz. Assim, o uso de produtos
naturais como imunoadjuvantes, sobretudo aqueles de baixa toxicidade e baixo preço, para emprego em
procedimentos de imunização/vacinação humana e/ou animal, poderá tornar-se uma alternativa de
interesse biológico e econômico.
O uso dos óleos vegetais como imunoadjuvante tem apenas raras referências na literatura
especializada. Assim é que, anteriormente, apenas o óleo de amendoim foi mostrado como tendo um
efeito adjuvante comparável ao do adjuvante de Freund e os ácidos graxos insaturados foram mostrados
como agentes inflamatórios e imunorreguladores. O mecanismo de ação dos ácidos graxos como
imunorreguladores parece ser exercido através das células-T.
Partindo da necessidade do conhecimento de novos adjuvantes para otimizar a eficácia das
vacinas e considerando que os óleos vegetais são conhecidos por serem mais facilmente absorvidos que
os óleos minerais e pela conveniência mesmo econômica da utilização dos mesmos, um estudo foi
iniciado, em nosso laboratório, sobre as propriedades imunoadjuvantes e pró-inflamatórias de diversos
óleos vegetais como os de oliva, amendoim, soja e milho, para citar apenas alguns (A.C. da Silva et al.
Proceedings VI Pharmatech. (2001) 165-166).
O modelo experimental por nós utilizado para testar a capacidade imunoadjuvante dos óleos
vegetais foi constituído com camundongos imunizados por via subcutânea com ovalbumina, como
antígeno, emulsionada nos diferentes óleos vegetais, usando-se o efeito adjuvante do gel de hidróxido de
alumínio (Al(OH)3) como controle. A cinética e a intensidade da resposta imune foi detectada pela
quantificação da síntese de anticorpos produzidos pelos camundongos, contra a ovalbumina (antígeno).
Com relação ao efeito adjuvante dos óleos vegetais sobre a síntese de IgE foi constatado que o menor
efeito foi o do óleo de oliva, seguido do óleo de milho e do óleo de soja que, mesmo sendo o de maior
efeito potencializador, ainda esse efeito foi ca. 50 % menor que o do Al(OH)3. Esses resultados põem em
evidência a potencialidade do uso dos óleos vegetais como imunoadjuvantes em protocolos de
imunização humana/animal e experiências estão sendo desenvolvidas com antígenos próprios a vacinação
contra doenças que acometem animais e o homem para que seja comprovada a adequação do uso desses
novos adjuvantes.
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