avaliação e aprendizagem na eja: um estudo exploratório no

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AVALIAÇÃO E APRENDIZAGEM NA EJA: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO NO
CONTEXTO DE UMA ESCOLA MUNICIPAL DE CAXIAS DO SUL1
Gabriela Rettore Garbin2
Delcio Antônio Agliardi3
Resumo
Este estudo objetiva compreender se as práticas pedagógicas dos educadores da Educação de
Jovens e Adultos no contexto de uma escola municipal de Caxias do Sul têm sido eficazes,
contribuindo com a aprendizagem dos jovens e adultos. Foi realizada uma pesquisa qualitativa, com
aplicação de um questionário estruturado para os professores da EJA e uma entrevista com a direção
da EJA incluindo uma análise do Projeto Político Pedagógico. Os resultados revelaram que os
professores têm buscado alternativas para que os aspectos qualitativos estejam acima dos
quantitativos, porém ainda não conseguiram conquistar a atenção de alguns alunos com o
desenvolvimento do componente curricular. Várias discussões no ensino estão voltadas para a
avaliação, principalmente porque os educadores enfrentam problemas em diversificar as atividades
de avaliação, o que não foi comprovado durante a pesquisa nessa escola. Os professores precisam
provar o rendimento dos alunos para que seja comprovado o avanço para outra totalidade, porém
podem ser tanto escritos por eles quanto observações, anotações dos professores referentes a
apresentações de trabalhos, teatros, entre outras atividades. Os professores procuram diversificar as
atividades, porém tem dificuldades em dar andamento a estas já que boa parte dos alunos é
infrequente.
Palavras-chave: Avaliação. Educação de Jovens e Adultos. Aprendizagem.
INTRODUÇÃO
Nas escolas de Educação de Jovens e Adultos está presente uma relação
emblemática entre a avaliação e a aprendizagem, como ocorre nas outras
modalidades e níveis de ensino. No entanto, um dos principais objetivos dos
professores é que os alunos devem obter notas boas nas provas. E isso não é
garantia de sucesso, pois depende de muitos fatores, como por exemplo, a
formulação dos trabalhos ou das provas e o que nela se pergunta. Hoffman (2010)
defende que para mudar a avaliação não precisa mudar a escola ou a sociedade e
que avaliar tem seu significado associado ao ato de reflexão e por isso, ao ser
1
O texto traz os resultados do Trabalho de Conclusão de Curso, realizado no curso de Especialização
em EJA, vinculado ao Projeto Ler e escrever o mundo: a EJA no contexto da educação
contemporânea, oportunizado através de acordo de cooperação entre Universidade de Caxias do Sul
e Ministério da Educação, em parceria com Prefeitura Municipal de Caxias do Sul.
2
Professora de Matemática, aluna de Especialização em Educação de Jovens e Adultos da
Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS.
3
Professor orientador. Doutorando em Letras. Mestre em Educação. Docente do Centro de Filosofia e
Educação da Universidade de Caxias do Sul.
humano, a analisar, julgar, interagir com o mundo.
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é destinada às pessoas que não
tiveram acesso ou continuidade de estudos do ensino fundamental e médio na idade
própria, conforme garante a LDB/1996, artigo 37. Essa modalidade de educação, a
partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB/1996), é gratuita,
considerando a sua realidade, mediante cursos e exames. Ao poder público, coube
viabilizar o acesso e estimular a permanência destes educandos na EJA.
Várias discussões no ensino estão voltadas para a avaliação, entre elas as de
Hoffman
(2003),
Vasconcellos
(2000),
Luckesi
(2005)
e
Moretto
(2010),
principalmente porque os educadores enfrentam problemas em diversificar as
atividades de avaliação. Os professores, provavelmente, precisam provar o
rendimento dos educandos e, desta maneira, acabam recaindo sempre em métodos
quantitativos de atribuição de notas: provas que, segundo as mantenedoras
verificam o que foi visto e revisto até o momento, ou trabalhos; estes muitas vezes
que não são analisados ou discutidos com os educandos posteriormente, para uma
reorganização da aprendizagem.
A avaliação que não analisa o conteúdo do raciocínio (correto ou não), do por
que o educando pensou de forma errônea, desmotiva o educando. E, aos poucos,
ocasiona o desinteresse dos estudos. Os educadores comentam que ocupam boa
parte do seu tempo extraclasse corrigindo provas e trabalhos. Enquanto isso, a
verificação de todo o processo de ensino muitas vezes não é considerada. Por
questões de tempo, não ocorrem alguns momentos fundamentais e importantes para
a avaliação, como a discussão sobre as metodologias adotadas entre profissionais
de uma mesma disciplina e de outras, a análise do por que do educando não ter
alcançado o objetivo desejado, a proposição de inovações e, seguindo esta
sequência, a mudança em práticas vistas ineficientes.
Essa pesquisa foi desenvolvida durante o curso de especialização em
Educação de Jovens e Adultos oferecido pela Universidade de Caxias do Sul, com o
tema “A avaliação e a aprendizagem na EJA”. Esse tema surgiu com a pretensão de
investigar as relações entre a avaliação e a aprendizagem no contexto de uma
escola pública de EJA em Caxias do Sul, visando compreender se as práticas
pedagógicas dos educadores da EJA têm sido eficazes, contribuindo para a
2
aprendizagem dos jovens e adultos; se a maioria dos professores de EJA diversifica
os instrumentos avaliativos ou se aplicam apenas provas e/ou trabalhos sempre com
datas marcadas para aplicação/entrega; e se os professores desenvolvem a
devolutiva de provas e trabalhos, discutindo os erros e acertos com seus alunos.
Procurando obter dados relacionados aos objetivos específicos, que ajudem a
compreender como a avaliação e a aprendizagem no ensino da modalidade da EJA,
foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa. O trabalho analisou as atividades que os
professores realizam com os alunos, o Projeto Político Pedagógico e as ações da
direção relacionadas à avaliação e aprendizagem. Desta forma, para associar a
bibliografia já existente sobre o tema com uma pesquisa de campo, foi aplicado um
questionário estruturado para os professores da EJA visando construir os dados
empíricos da pesquisa, sendo que houve retorno de professores dos seguintes
componentes curriculares: Inglês, Língua Portuguesa e História/Geografia; além de
entrevistas com o diretor da escola, a vice-diretora e o coordenador dessa escola na
modalidade de EJA; e análise do Projeto Político Pedagógico.
É através de apontamentos das lacunas de aprendizagem e também dos
acertos dos educadores, porque assim como para os educadores os erros podem
gerar novos conhecimentos se debatidos, para os educadores poderão representar
novas atitudes e práticas tanto pedagógicas quanto avaliativas em sala de aula.
Nesse contexto, caberá ao final desse estudo verificar os avanços e as conquistas
através dos processos avaliativos percebidos na Educação de Jovens e Adultos,
pensando se os aspectos qualitativos dos resultados estão acima dos quantitativos
na análise do desempenho do aluno.
1. A avaliação no processo de aprendizagem na EJA
No município de Caxias do Sul, as escolas municipais oferecem a EJA
através de uma educação regular, que está dividida em totalidades iniciais e finais.
As iniciais (divididas em três níveis: T1, T2 e T3) compreendem o período de
alfabetização, incluindo os diferentes códigos culturais como número, grandezas,
tempo e espaço. As finais (divididas em três níveis: T4, T5 e T6) compreendem um
aprofundamento dos conceitos desenvolvidos nas totalidades iniciais, que ganham
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uma maior abrangência e complexidade, a partir dos componentes curriculares.
Quanto à avaliação, a proposta das totalidades presume uma avaliação contínua,
participativa, global, diagnóstica e prognóstica, seguindo no ritmo de aprendizagem
de cada aluno, privilegiando os procedimentos e instrumentos avaliativos através de
uma abordagem qualitativa.
De acordo com o Projeto Político Pedagógico da Escola (2013) na EJA a
avaliação é um processo diagnóstico, contínuo, cumulativo e participativo. Contínuo
para que o professor possa a qualquer momento ver os avanços e identificando as
dificuldades para posteriormente poder saná-las. Cumulativo por acompanhar a
construção de conhecimento do aluno como um todo, predominando os aspectos
qualitativos sobre os quantitativos. Deve ter finalidade diagnóstica que se utiliza de
diferentes instrumentos de avaliação tais como: observação, registros descritivos e
reflexivos,
trabalhos
individuais
e
coletivos,
portfólios,
exercícios,
provas,
questionários, dentre outros, considerando a faixa etária, as características de
desenvolvimento, o tempo e o ritmo de cada educando. O processo avaliativo tem
como objetivos identificar potencialidades e dificuldades de aprendizagem e
redirecionar o trabalho pedagógico. Na EJA, o conhecimento é concebido enquanto
totalidade, ou seja, ou o aluno é promovido ou permanece na Totalidade que está
cursando, não ocorrendo promoções parciais. O registro de avaliação é feito através
de pareceres descritivos que contemplem o desenvolvimento global do aluno,
garantindo dois pareceres anuais, para os alunos que permanecem na mesma
totalidade, considerando para tanto, a data de matrícula do aluno. Esse registro é
fundamentado através de instrumentos de avaliações diversos que são guardados
em um portfólio e seu retorno é dado individualmente em momentos específicos, tais
como: conselhos de classe participativos, atendimento ao aluno e ou família, entre
outros que se façam necessários. Os critérios para promoção dos alunos em cada
Totalidade são construídos coletivamente, a partir dos Planos de Estudos e de
Trabalho.
Analisando as idades junto à secretaria da escola, cerca de noventa porcento
dos alunos matriculados nessa escola são jovens com menos de dezoito anos de
idade, sendo que dos outros dez porcento, a maioria tem entre dezoito e vinte anos.
Para preservar as identidades uso P1, P2 ou P3 para representar coordenador, vice4
diretor ou diretor. Em entrevista, P1 afirmou que essa realidade é diferente do início
da EJA quando distribuíam os poucos jovens nas diversas turmas pra poder
dinamizar já que a maioria que eram adultos. E essa mudança não é verificada
apenas nessa escola, é uma realidade nacional. Os alunos que hoje se encontram
na EJA, conforme relatos de P1, P2 e P3, são alunos que não se adaptaram um dia
por algum motivo no diurno. Alguns por dificuldade, outros por questão
comportamental. Os adultos porque sentiram necessidade relacionada à empresa
que solicita certificação ou porque perceberam que possuem subemprego. Os
alunos comentam também que quando estudavam no ensino regular, tinham tensão,
ansiedade, vergonha e medo de ser o próximo a não saber a resposta.
No início do ano, foi realizado um questionário investigativo inicialmente com
professores e, posteriormente, com alunos. Com os professores o objetivo era
verificar como percebem os alunos de EJA e com os alunos para avaliar o que
pretendem, quais são seus objetivos. P2 afirmou que: “o questionário serviu para
confirmar que a maioria dos alunos sabe que precisa terminar o ensino fundamental
e que pra isso estão correndo contra o tempo”.
Quanto aos alunos que necessitam de atendimento especializado, P2 afirma
que muitos alunos têm atendimento da professora da sala de recursos que vem
quinzenalmente fazer atendimentos. Procura-se dar um olhar diferente e pede-se
que os professores tentem avaliar de uma forma diferenciada, para poder fazer com
que realmente a EJA de alguma forma ajude esse aluno a evoluir um pouco, a
conseguir acompanhar um pouco mais os conteúdos, e assim realmente terminar o
ensino fundamental, visto que esse é o principal objetivo deles.
2. A diversidade de instrumentos avaliativos na EJA
A avaliação acabou se tornando uma prova de resistência do aluno às
ameaças dos professores, como aumentar nota, diminuir nota. A avaliação não
serve para acertar contas, ameaçar ou pressionar os alunos. A prova é um momento
de aprendizagem, um momento privilegiado de estudo. É preciso diversificar os
instrumentos avaliativos, elaborar com atenção e dedicação as questões das provas,
contextualizar as questões com os objetivos, perguntar de forma clara e precisa, não
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colocar “pega ratões” na prova.
Segundo Hoffman (2003) a prática tradicional com uma ação avaliativa
classificatória ainda é vista como garantia de ensino de qualidade pelos professores,
pais e sociedade em geral. Acreditam que se a prática não for essa, os professores
são menos exigentes e que o ensino não é competente como o utilizado
antigamente. Uma discussão entre professores, sociedade e alunos, poderia
contribuir para que as práticas seculares e rotineiras que faziam parte da escola
sejam compreendidas, possam evoluir e que se adaptem a cada realidade.
As aulas, e por consequência todas as atividades desenvolvidas pelos alunos,
precisam ter objetivos bem traçados para que aconteça o sucesso no ensino. Estes
objetivos devem ser conhecidos e compreendidos também pelos alunos. O aluno
aprende quando se engaja no processo, assim responde com maior facilidade aos
incentivos do professor. Daí a necessidade da criação de um contexto de
conhecimento do aluno, que se torna ativo no processo tanto quanto o professor. Há
uma interação que promove o conhecimento. Moretto (2010) afirma que o
construtivismo é uma perspectiva epistemológica, ou seja, uma visão do que
representa o conhecimento, de como é produzido e de como as pessoas dele se
apropriam, e nesse processo, o método dialético tem papel fundamental.
Provas, recuperações ou trabalhos para buscar o valor mínimo para cada
etapa do ano, conferem ao estudo um caráter de obrigação, que é cumprido com
sofrimento, afirma Hoffman (2003). O aluno é induzido à memorização, à reprodução
exata da fala do professor e do que está escrito no caderno. O que pode contribuir é
a organização de dossiês, portfólios e relatórios de avaliação permite verificação da
evolução da aprendizagem do aluno. Torna-se significativo quando expressa os
avanços, e auxilia o professor em novos rumos.
Pensando na construção dos portfólios, P2 afirma que a direção dessa escola
deixa a critério do professor escolher os instrumentos que prefere utilizar para
avaliar. Não se pede uma prova com dia marcado porque existe uma rotatividade
muito grande diferentemente do ensino regular.
Então o que pedem aos
professores, é que no decorrer da semana vão organizando atividades, selecionem
algumas dessas atividades, recolham, façam a correção e guardem no portfólio que
fica na secretaria a disposição de pais, professores, da coordenação e da própria
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direção.
Conforme descrito anteriormente, os professores, de um modo geral,
encontram dificuldades em diversificar as atividades de avaliação. Porém, durante a
pesquisa isso não foi confirmado em nenhum dos questionários e entrevistas
realizados. Ao contrário do que se imaginava, os professores da EJA dessa escola
diversificam os instrumentos avaliativos, não aplicando apenas provas e/ou
trabalhos sempre com datas marcadas pra aplicação ou entrega. Conforme P1, que
é coordenador da EJA, em 2012 foi proposto aos professores a formação de um
dossiê (portfólio) (outras escolas da rede municipal já haviam adotado) que consiste
em uma proposta de trabalho. O professor no primeiro dia de aula, em fevereiro, e
depois também com os alunos que avançam e que ingressam no decorrer do ano,
entrega uma proposta de trabalho que consta: o que o professor vai trabalhar
através de linhas gerais, com grandes conceitos; como que ele trabalha; o que ele
espera dos alunos; e como o aluno vai ser avaliado. Essa proposta de trabalho está
assinada pelo professor e o aluno cola em seu caderno. Os alunos vão fazendo os
trabalhos no decorrer das aulas, e o professor recolhe esses trabalhos guardando
num portfólio com o nome do aluno. P3, diretor da escola, salientou que os
professores tem que avaliar de uma forma que qualquer pessoa de fora da escola
que verifique os trabalhos, consiga perceber se cada aluno teve bom rendimento ou
não, não importa se é por nota, parecer ou números de acertos.
Quando há uma situação de avanço, onde o grupo de professores comenta
que um aluno avança ou não avança, tem que haver uma comprovação, um registro,
ou um trabalho escrito, ou uma observação do professor. Por exemplo: foi feito um
trabalho em grupo e o aluno desenvolveu bem, falou, praticou, tem que ter algo que
prova o avanço ou a permanência desse aluno. Caso o aluno não avance porque
não fez absolutamente nada, há uma comprovação já que a pasta dele está vazia.
Com isso os professores além de buscarem diversificar os trabalhos (realizam
trabalhos escritos, expressão artística, debates, produções textuais, cada um tenta,
construção de maquetes, tentam variar o máximo possível), também estão baseados
em observações de todos os componentes curriculares para verificar na totalidade
do aluno se ele deve ou não avançar. Assim, o próprio aluno tem consciência de que
precisa participar na aula, realizar as tarefas, mostrar que evoluiu partindo dele
7
mesmo como referência.
Como há um planejamento desde o início do ano, a avaliação com uma
função diagnóstica atravessa a barreira do autoritarismo, sem deixar de lado o rigor
na prática educativa. O professor determina previamente o mínimo necessário a ser
aprendido pelo aluno. A nota precisa significar que o aluno adquiriu o mínimo para
que o indivíduo seja capaz de governar. A avaliação diagnóstica é um instrumento
de entendimento do estágio de aprendizagem no qual o aluno está, verificando e
possibilitando uma tomada de decisões suficiente e satisfatórias para que possa
avançar no seu processo de aprendizagem.
É utilizada uma avaliação mediadora visto que busca analisar as várias
maneiras dos alunos se manifestarem quando estão em aprendizagem, sejam elas
verbais, escritas ou outras produções. Assim, se acompanha as hipóteses que os
alunos estão formulando sobre os conteúdos estudados, auxiliando os professores a
reformularem as hipóteses prévias e descobrindo melhores soluções. Hoffman
(1998, p. 9) reforça explicando que “Uma ação avaliativa mediadora não promove o
diálogo ou a relação no trabalho pedagógico, ela é um processo interativo, dialógico,
existe enquanto relação, enquanto confluência de idéias e vivências.”
O professor que possui uma postura mediadora, expressa resultados
qualitativos, utiliza os métodos avaliativos para reorientar o aluno e completar as
lacunas existentes no aprendizado. O avaliar está associado à complexidade do
aprender.
Além disso, P2 relatou que o professor do componente curricular planeja, com
o auxílio do professor do laboratório de informática, atividades que possam ser
realizadas nos computadores, seleciona o que é necessário imprimir, anexa no
portfólio e pode utilizar como instrumento avaliativo.
Segundo o que foi descrito, a prática docente nessa escola se aproxima mais
da perspectiva construtivista sociointeracionista, onde o conhecimento é uma
representação que o sujeito realiza do que está no seu cotidiano e de suas
vivências. Por isso, todo conhecimento é construído individualmente pelo sujeito
cognoscente mediado pelo social. O aluno não é apenas um receptor-repetidor de
conteúdos, é um elaborador de representações. Nesse trajeto, o professor é quem
prepara o trajeto para que a construção aconteça perguntando inicialmente o que os
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alunos já sabem sobre o tema. Na sequência, apresenta o novo assunto associando
o que os alunos manifestaram anteriormente. Acredita-se que assim os alunos
relacionem os conhecimentos novos com os já existentes e ressignifiquem suas
representações.
3. A avaliação na EJA enquanto processo diagnóstico e contínuo
Em boa parte das aulas, o professor é o que fala, e o aluno é o que escuta,
inclusive ditando o que o aluno deverá reproduzir na prova. Para reverter esta
situação, é necessário que o professor trace objetivos para suas aulas,
estabelecendo metas e estratégias. Dessa forma, o professor consegue reavaliar
seu trabalho durante o percurso de aprendizagem e perceber o que é melhor
desenvolvido por cada turma. A escola precisa servir para que o educando
desenvolva capacidades e assim possa exercer uma profissão, desenvolvendo as
suas competências. Competência é um conjunto formado por habilidades,
conhecimentos e atitudes, inclui-se, portanto, utilização do que já se sabe para
desenvolver novos conhecimentos, é o “ser capaz de”.
Analisando este conceito de competência, Moretto (2010) afirma que o
professor competente no ensinar precisa conhecer o conteúdo específico e
relacioná-lo com outras áreas do saber; precisa saber administrar a aula,
organizando os diversos momentos da melhor maneira, utilizando o método dialético
nesse processo de interação; precisa utilizar uma linguagem adequada facilitando a
construção de relações significativas pelo aluno; precisa ser capaz de ser capaz de
administrar as emoções que afloram na sala de aula, sem punir.
Nessa escola, muitos alunos são infrequentes, porém quando percebem que
não avançam e procuram a direção, verificam em seu portfólio que não há atividades
realizadas em um determinado componente curricular porque elegeram um dia pra
faltar sempre. Por exemplo, na quarta-feira é dia de futebol à noite, então os que
gostam acabam faltando sempre neste dia. Assim não são avaliados pelos dois
professores da quarta-feira. E assim não avança, mesmo que esteja bem com os
demais professores. Ele só avança na sua totalidade. Segundo P3, não se estipula
que tenha um avanço a cada dois ou três meses, conforme a evolução verificada
9
nesse portfólio, observando os materiais produzidos, é marcada uma reunião de
avanço, estas acontecem três, quatro, cinco vezes no máximo por ano.
Um dos problemas confirmados por P3 é, por exemplo, um aluno que
avançou da T4 para a T5, terá que se inteirar do que está sendo visto e dar conta
daquilo, assim apresentam dificuldades que são agravadas pela quantidade de
faltas. Há nessa escola em torno de cem alunos inscritos, porém tem dias, por
exemplo, se é muito frio, que aparecem apenas quarenta alunos.
Também devido ao problema da infrequência, ao entregar os trabalhos e
provas, os professores não conseguem desenvolver com todos os alunos uma
análise posterior destes meios avaliativos discutindo os acertos e os erros com os
alunos. E isso ocorre não apenas com os trabalhos e provas, mas também com os
outros instrumentos avaliativos citados anteriormente. Segundo P1, a educação fica
fragmentada quando o aluno não vem. O professor está desenvolvendo o conteúdo
utilizando diversas dinâmicas possíveis, porém cria-se um impasse no momento em
que não há a possibilidade de continuar aquele trabalho devido à assiduidade não
regular dos alunos. A EJA se torna um eterno recomeçar tanto para o professor
quanto pro aluno. Além disso, para avançar nas totalidades, é verificada não apenas
a assiduidade, mas também o atitudinal, o cognitivo, além de diversos fatores que
são considerados na avaliação da EJA. O aluno é avaliado de uma maneira
diferenciada, visto que ele pode avançar em qualquer época do ano. Há casos de
alunos que esporadicamente aparecem e que apresentam melhor qualidade nas
suas avaliações do que aquele que está todo dia, por isso que optou-se por avaliar o
aluno aula a aula, momento a momento na modalidade EJA dessa escola, não
existindo momentos específicos de avaliação, como prova com dia marcado. Só há
um cuidado em não cair apenas, e este é outro desafio, meramente no aspecto
atitudinal.
A avaliação na modalidade de EJA contribui para a aprendizagem dos
educandos, até mesmo para os que são infrequentes. Para boa parte dos alunos, a
escola é um espaço seguro, limpo, amplo, é um espaço social. Não há aula nas
sextas-feiras, porém P1 diz que se tivesse na sexta, no sábado e até no domingo,
eles viriam. Além da escola ser um ponto de encontro entre eles e ser um local
agradável, sentem que existem regras e indiretamente o jovem precisa e quer
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regras. Alguns alunos não querem avançar, não querem terminar, querem ficar na
escola. Se ficarem em casa terão que fazer faxina ou terão que cuidar de alguém,
além de situações familiares complicadas ou morar em um local pequeno, sem
condições. A escola se torna um local onde podem ter sossego. Há também alunos
que querem concluir os estudos em função do trabalho, precisam da certificação.
O erro, no contexto escolar, é considerado algo ruim que não deve mais
acontecer. Dificilmente o erro é analisado e seguido de uma reflexão, como um novo
ponto de partida. Se há diálogo, o aluno modifica suas representações, chegando a
uma síntese. Essa síntese poderá modificar-se novamente quando em contato com
outro agente social, elaborando uma nova síntese. E essa é a dinâmica do processo
da construção das estruturas conceituais e cognitivas do sujeito, na visão
construtivista sociointeracionista. Através do método dialético, o professor realiza um
diagnóstico para que a aprendizagem realmente aconteça, é um questionador que
provoca e busca uma negociação para que o aluno elabore sua síntese.
Acumular informações não é função do aluno. A função hoje do sujeito
cognoscente é ser gerente dos dados existentes. Gerente porque detecta a
situação-problema, faz a análise e toma uma decisão que solucione o problema.
Nesse sentido, o professor que não utiliza a metodologia dialética, provavelmente
terá alunos que interiorizam assuntos e não se apropriam deles. Não são capazes
de gerenciar as informações, apenas acumulam o que lhe é solicitado num dado
momento que servirá para as avaliações, e no instante seguinte continuarão com
suas antíteses. A avaliação, através da concepção dialético-libertadora do processo
de avaliação do processo escolar, não permite uma acomodação de acordo com
Vasconcellos (2000), é preciso querer mudar, transformar a realidade, buscar um
procedimento metodológico que nos ajude.
É fundamental no início do ano letivo, mas também no decorrer do ano,
desenvolver uma avaliação diagnóstica para descobrir o que os alunos já sabem e
como resolvem situações-problema. Assim, o planejamento, que conforme Luckesi
(2005), traça os caminhos, e a avaliação redirecionam os caminhos durante o
processo que se façam necessários. As propostas pedagógicas precisam favorecer
a aprendizagem, sejam quais forem os ritmos dos alunos, seus conhecimentos
prévios, interesses ou particularidades. A avaliação investiga a qualidade dos
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resultados durante e ao final da ação, visando um aprimoramento do processo de
aprendizagem. É um ato amoroso, no sentido que avaliar é um ato acolhedor,
integrativo, inclusivo, que auxilia o aluno no seu desenvolvimento pessoal. E não há
um melhor método de avaliar, segundo Hoffman (2001), o caminho de como avaliar
precisa ser construído por cada professor, claro que aproveitando as ideias de todos
através de discussões sobre valores, princípios e metodologias.
Hoffman (2010) afirma que a prática educativa precisa estar voltada para o
futuro, acompanhando todas as etapas vividas pelo estudante, ajustando as
estratégias pedagógicas que sejam necessárias durante o processo. Por isso
devemos ter cuidado já que muitas vezes os educadores transformam a inclusão em
exclusão quando a avaliação classifica e não promove, quando serve para comparar
e não perceber a evolução do aluno. A reprovação é responsável pela exclusão de
grande número de estudantes das escolas. E não há como incluir, se o profissional
não tem formação ou consciência sobre seu papel em relação a este aluno de EJA.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Seria importante, e isso é responsabilidade também da escola, buscar formas
dos professores repensarem e buscarem mais instrumentos que realmente façam o
aluno produzir e se mobilizar em função do conhecimento, saindo um pouco do
papel. Pode ser através de oficinas, com atividades criativas e chamativas que
façam com que os alunos venham e permaneçam na escola. Muitos alunos,
conforme P2, tinham problemas sérios de frequência durante o ensino regular, daí
quando vão para a EJA esses alunos melhoram um pouco, até frequentando mais
do que antes.
Segundo Luckesi (2005), pais, sistema de ensino, profissionais da educação,
professores e alunos, possuem suas atenções focadas na promoção, ou não, de um
ano para outro de sua escolaridade. O trabalho pedagógico está mais centrado no
exame do que no ensino/aprendizagem. Por isso, para muitos professores, a
avaliação da aprendizagem é angustiante porque não sabem como fazer para que
ela não seja apenas um momento de cobrança sem significado. O que não é
diferente para os alunos, que também só estudam se tiver prova, se não cair na
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prova, não precisa estudar. Já os pais, se a nota foi boa, estão satisfeitos, porque
acreditam que a nota é um espelho da aprendizagem. E isso não é verdade. O
sistema de ensino se
conforma
com estatísticas
que
demonstrem
uma
aprendizagem significativa, independente se isso ocorreu efetivamente.
Conforme foi descrito neste trabalho, a avaliação da aprendizagem possui
uma significação bastante ampla, porém, na maioria das vezes em nossa cultura,
acontece por meio da prova escrita. Nessa escola, na modalidade de EJA, vimos
que os professores elaboram diversos instrumentos avaliativos. O importante é que,
se avaliação tiver que acontecer através de provas, que ao menos esteja de acordo
com os objetivos traçados e com assuntos relevantes. É preciso avaliar e não
apenas verificar a aprendizagem. Verificar significa ver se algo é assim mesmo,
encerra-se quando se analisou o objeto e termina por aí. Avaliar significa coletar,
analisar, sintetizar com qualidade, é munida de um sentido de ação. A prática
educacional brasileira tem utilizado a verificação ao invés da avaliação. Avaliar é
acima de tudo questionar, provocar o pensar, desafiar o aluno, mas com tempo,
materiais e o que necessitarem para que respondam da melhor maneira.
Referências
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da
educação
nacional.
Disponível
em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 11 ago. 2013.
HOFFMANN, Jussara. Avaliação Mediadora: Uma prática em construção da préescola à universidade. 20.ed. Porto Alegre: Mediação, 2003. 197 p.
HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho. 13.ed. Porto
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LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e
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MORETTO, Vasco Pedro. Prova: um momento privilegiado de estudo, não um
acerto de contas. 9.ed. Rio de Janeiro, RJ: Lamparina, 2010. 186 p.
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VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Avaliação: concepção dialética-libertadora do
processo de escolar. 11.ed. São Paulo: Libertad, 2000. 101 p.
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