PLANEJAMENTO TURÍSTICO: CONTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA AO ESTUDO DO TURISMO Tourism planning: geographical contribution to the tourism study Wilson Martins LOPES JÚNIOR Doutor em Geografia, Professor Adjunto do Departamento de Geografia de Campos (GRC), UFF Universidade Federal Fluminense e Pesquisador do grupo "Turismo, Território e Cultura" Coordenado pela Dra. Luzia Neide Menezes Teixeira Coriolano da Universidade Estadual do Ceará - UECE, Fortaleza, CE. E-mail: [email protected] 135 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade Resumo O planejamento turístico compreende importantes questões como a discussão sobre a definição de turismo, além de outros temas como: paisagem, território, lugar, meio-ambiente, valores culturais, políticas públicas, marketing, entre outros. A ciência geografia contribui nesta discussão com referencial teórico-metodológico através do conceito de espaço geográfico e suas categorias de análise geográficas, região, território, paisagem e lugar. Neste sentido a relação entre geografia e turismo se apresenta nas diferentes transformações do espaço geográfico provocadas pelo turismo. Esse artigo não intenciona abordar os diversos temas e conceitos envolvidos na análise do turismo, mas propõe destacar algumas questões referentes ao turismo e ao planejamento turístico que colaborem nesta discussão. Palavras-chave: turismo, planejamento turístico, geografia do turismo. Abstract Tourist Planning involves important questions like the discussion about the definition of tourism, as well as other themes such as: landscape, territory, place, environment, cultural values, public policy, marketing, among others. Geography science contributes to this discussion with the theorical-methodological reference through the concept of geographical space and its categories of geographical analysis, region, territory, landscape and place. In this respect, the relationship between geography and tourism presents itself on the different alterations on the geographical space due to tourism. This article doesn't intend to approach the several themes and concepts involved on tourism analysis, but proposes highlighting some questions related to tourism and Tourist Planning that collaborates Key words: tourism, tourism planning, tourism geography. 136 on this discussion. Introdução No planejamento turístico são presentes diferentes aspectos como a discussão sobre a definição de turismo, o entendimento e consequentes observações sobre a paisagem, o território, o lugar, o meio-ambiente, os valores culturais, as políticas públicas, o marketing e outros aspectos que colaboram no processo de planejar a partir da análise do espaço geográfico. Nesta análise do espaço geográfico entendido como o conjunto indissociável de objetos e de ações, o planejamento se destaca ao estudar o desenvolvimento, elaborando metas, objetivos, estratégias envolvendo diferentes setores como público, privado e sociedade, de modo a colaborar com o turismo numa perspectiva de desenvolvimento sustentável, o que representa um desafio. Nesta questão, a contribuição da ciência geográfica ao turismo e ao planejamento encontra-se em seu referencial teórico-metodológico, pois através do conceito de espaço geográfico e suas categorias de análise região, território, paisagem e lugar colabora-se nas diferentes pesquisas e trabalhos de temáticas relacionadas ao turismo. Desta forma a relação entre a geografia e o turismo se expressa na análise das diferentes transformações do espaço geográfico provocadas pelo turismo. Assim cada vez mais a geografia analisa suas questões contribuindo na compreensão da complexidade espacial criada pelo turismo. Neste artigo intenciona-se evidenciar algumas questões referentes ao turismo e ao planejamento turístico a título de contribuição a importante temática: planejamento turístico. Merece ênfase que a sua produção está relacionada a reflexões iniciais acerca da geografia do turismo e o planejamento. Um pouco sobre o turismo O turismo em sua compreensão remete a associação com viagem, o que supõe o deslocamento e todo um trabalho através de planejamento que envolva profissionais e estruturas voltadas a receber o turista, como os meios de hospedagem, a alimentação, os eventos, entretenimento, entre outros. No entanto, é também necessária ampla 137 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade infraestrutura no local receptor, assim como também no emissor, para possibilitar o fluxo de turistas, o que consequentemente provoca significativas mudanças nestes locais. Sobre as definições de turismo, há certa complexidade, pois várias são as definições de acordo com a sua época e o contexto em que surgiram, portanto, coexistindo diferentes enfoques que influenciaram as mais diferentes definições. Segundo Barreto (1995), a primeira definição de turismo foi do economista austríaco, Hermann von Schullern zu Schattenhofen no ano de 1911. (...) turismo é o conceito que compreende todos os processos, especialmente os econômicos, que se manifestam na chegada, na permanência e na saída do turista de um determinado município, país ou estado. (BARRETO, 1995, p. 9) A partir desta definição surgiram outras com diferentes enfoques e características como econômicas, culturais, ambientais, no entanto a definição que tornou-se referência foi a da Organização Mundial do Turismo – OMT. O turismo é o deslocamento para fora do lugar de residência habitual, por um período mínimo de 24 horas e um máximo de 90 dias, motivado por razões de caráter não lucrativo. (MOLINA, 2001, p. 12) Diferentes definições poderiam ser destacadas, sendo que em sua maioria fazem referencias ao deslocamento e a permanência do turista fora de seu local de habitação, ou então, referência a quantitativo (números) que expressa á prática do turismo. No entanto, as definições pouco contemplam, por exemplo, o aspecto social e cultural, o que evidencia a fragilidade das definições para exprimir fenômeno de tamanha complexidade. A discussão referente às definições remete também à confusão e até mesmo, contradições existentes em relação aos conceitos fundamentais para os estudos do turismo. De acordo com Lemos (1998), a carência de conceitos fundamentais na área do turismo favorece o surgimento do que o autor chama de "mitos", ou seja, afirmações gerais que tornam se consenso. Entretanto, essas afirmações não são conceitos que favoreçam a compreensão, mas sim, pré-conceitos que dificultam os estudos sobre turismo. 138 Em se tratando de definições e conceitos também merece ênfase que o turismo não pode ser compreendido somente pelos fluxos de um fenômeno econômico, mas também enquanto fenômeno de comunicação entre partes, aspecto este também essencial a ser considerado no planejamento turístico. (...) o turismo é um fenômeno comunicacional antes de tudo. É este fato que explica o desejo da experiência. Neste sentido, nos movemos em busca da excitação dos sentidos. Não basta, portanto, buscar entender o turismo como fenômeno econômico sem compreender a dimensão existencial que anima tais fluxos. (WAINBERG in GASTAL; CASTROGIOVANNI, 2003, p. 14) Ou seja, além das relações econômicas que se travam na prática turística é presente também uma carga subjetiva, desde a escolha do local a se visitar até a relação que ocorrerá nesta localidade. Diante disto, entre turista e população local tem-se a comunicação intermediada por diversos fatores, destacando-se o cultural. Nesta perspectiva, para que os diferentes tipos e níveis de relação ocorram, existe a comunicação como base de compreensão deste fenômeno turístico. O turismo apresenta-se com diferentes possibilidades, ou modalidades em sua prática, como: ecoturismo, turismo de aventura, turismo cultural, turismo de estética e saúde, turismo desportivo, turismo de espiritualidade ou religioso, turismo da "terceira idade" e o turismo de negócios, entre outros. Observa-se, portanto, uma diversidade de prática turística que oferece formas diferentes de experiências, principalmente estimulando o crescimento turístico específico e até mesmo, que foge do convencional. Aspecto relevante sobre as modalidades turísticas e ao turismo refere-se aos seus impactos tanto sobre ambientes urbanos como naturais. No caso do ecoturismo ou turismo de natureza, realizado em ambientes naturais, segundo Cruz (2003) é menos impactante que o turismo urbano (de massa) uma vez que a necessidade de infraestrutura é menor, pois a natureza é o seu atrativo. Cruz (2003) afirma ainda que o turismo urbano, ou de massa, que ocorre nas cidades ao utilizar a infraestrutura existente e ainda exigir outras, torna-se o mais impactante, inclusive em razão das inúmeras cidades turísticas não estarem preparadas para o aumento de serviços, dentre os quais, o tratamento de esgoto e água tratada, o que requer investimentos em infraestrutura. 139 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade Questões como as expostas sobre o impacto da atividade turística reforça a ideia da necessidade do planejamento para manutenção desta atividade. É necessário analisar a atividade turística através do diagnóstico de seu desenvolvimento e refletir sobre as ações que antecipem possíveis questões ou problemas, assim como identificar e valorizar os benefícios ocasionados. Mas para tanto, na perspectiva do planejamento, é necessária a análise ser feita sobre o espaço geográfico, pois é nele que o turismo enquanto pratica social de cunho geográfico age transformando-o e consumindo os elementos deste espaço geográfico. Turismo: espaço e território Turismo e a geografia relacionam-se na prática turística que atua diretamente sobre os conceitos de domínio geográfico, espaço, território, região, paisagem e lugar. Esses conceitos se sustentam em ampla discussão na ciência geográfica e quando da sua alteração, ou nova caracterização provocada pelas atividades turísticas a sua definição e interpretação tornam-se essenciais. A partir da definição e do entendimento do conceito de espaço geográfico e da compreensão dos elementos que configuram a produção e a (re) estruturação do espaço, é possível trabalhar outras categorias de análise geográficas em diferentes pesquisas do turismo. Portanto, é necessário inicialmente definir o conceito de espaço. Como referência apresenta-se o conceito de espaço geográfico de Milton Santos. O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. (SANTOS, 2004, p. 63) O espaço possui sistemas de objetos e sistemas de ações articulados de diferentes maneiras e que expõem a dinâmica espacial e a importância dos sistemas de objetos e de ações que, através de sua interação solidária e contraditória favorecem a dinâmica espacial. Todavia, na compreensão desta dinâmica do espaço faz-se necessário considerar a noção de tempo, pois são justamente os processos que ocorrem na história 140 que caracterizam as formas espaciais. Assim, o espaço geográfico está relacionado à produção humana em suas dimensões histórica e social como um produto, condição e meio para todas as atividades humanas sociais, portanto, também para o turismo. Deste modo o turismo atua no espaço geográfico de modo ao criar e recriar formas espaciais das mais diversas através do seu processo de estruturação que compreende os objetos e ações em sua organização socioespacial. Nesta prática o turismo faz com que os novos objetos e ações interajam com objetos e ações existentes, de modo que o espaço por sua vez passa a ser organizado segundo uma nova lógica que garante a prática do turismo. Portanto, o turismo se destaca como agente que provoca alterações no espaço geográfico e que se desenvolve por meio dos elementos deste espaço. O turismo é uma atividade que se desenvolve por meio dos elementos dos espaços geográficos. Assim sendo, ao utilizar a natureza como atrativo turístico, os equipamentos urbanos como infra-estrutura do turismo, os territórios de origens de turistas, as comunidades receptoras com sua população residente e as práticas sociais decorrentes deste encontro, o turismo passa a ser objeto do saber geográfico. (CORIOLANO, 1998, p. 21) Diante deste objeto do saber geográfico – o turismo - o espaço geográfico é fundamental por fornecer os elementos essenciais, como infraestrutura (hotéis, transportes, serviços, outros) a sociedade (turistas, população receptora) as empresas (firmas envolvidas na prática turística) e o Estado, que regulamenta a atividade. Assim, nesta perspectiva do turismo o espaço é estruturado e reestruturado. O turismo na sua enorme complexidade reveste-se de tríplice aspecto com incidências territoriais específicas em cada um deles. Trata-se de fenômeno que apresenta áreas de dispersão (emissoras), áreas de deslocamento e áreas de atração (receptoras). É nestas que se produz o espaço turístico ou se reformula o espaço anteriormente ocupado. É aqui também que se dá o consumo do espaço. (RODRIGUES, 1997, p. 43) Portanto, o turismo tem poder significativo de alterar o espaço, em um processo complexo que resulta na própria produção do espaço turístico. Assim, neste espaço as relações entre os sistemas de objetos e de ações engajadas na lógica capitalista, empresário – turista, leva, por exemplo, a própria mercantilização do espaço a ser consumido. 141 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade Diante do exposto, nota-se que o espaço constitui-se num produto social no qual ocorrem diferentes relações sob a diretriz de um modo de produção, o que provocará a padronização dos lugares como das práticas sociais. Nesta perspectiva o espaço é produzido e reproduzido através da organização e reorganização espacial provocada pela sociedade. No caso das interferências do turismo, essas merecem ênfase, pois além de espaciais são territoriais, uma vez que o turismo se manifesta de diferentes formas no território, todavia, suas manifestações estão sob a intenção da iniciativa privada e do próprio Estado. Também vale dizer que a reprodução da prática do turismo não se prende a limites do território e o próprio turismo provoca o ordenamento como reordenamento do território o que, por sua vez justifica a necessidade do planejamento. Após a definição e apresentação do importante conceito de espaço geográfico, faz necessárias algumas informações geográficas sobre o território, palco das intervenções do turismo como da instalação de infraestrutura entre outras. Em se tratando de território, conforme Spósito (2004, p. 111) “O conceito de território é constantemente confundido por aqueles que ainda não se debruçaram em leituras mais profundas”, mas somente a partir da revisão deste importante conceito geográfico considerando-se a sua existência a partir do espaço geográfico e determinado por atores que se sustentam em relações de poder, chega-se ao seu entendimento. As abordagens e formas de entender o território na ciência geográfica são inúmeras, principalmente se consideradas as constantes mudanças socioespaciais, todavia, todas têm a sua contribuição. Justamente diante das mudanças socioespaciais é que o espaço geográfico possibilita a formação do território formado pela ação de atores ou agentes que territorializam o próprio espaço. Portanto, o homem e as relações de poder são os responsáveis pela produção do território a partir do espaço. O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator ‘territorializa’ o espaço. (...) O território nessa perspectiva é um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder. O espaço é a ‘prisão original’, o território é a prisão que os homens constroem para si. (...) Evidentemente, o território se apóia no espaço, mas não é o espaço. (RAFFESTIN, 1993, p. 143-144) 142 Neste sentido, o território está para o espaço geográfico sob um conjunto de normas e de poder que justifica a sua existência. O próprio conceito de território tem intrínseco às relações de poder, pois o território se concebe a partir de um espaço onde se coloca ações, trabalho, política, relações econômicas, produtivas, culturais, entre outras, que caracterizam as relações de poder no território. Desta forma o território é o produto da apropriação e do domínio espacial com suas dimensões política, econômica e cultural associadas. Importante aspecto nesta discussão, segundo Santos (2008), refere-se ao uso do território, que ocorre pela implantação de infraestrutura, pois é justamente na categoria território usado, isto é, no território que recebeu cargas de técnicas em tempos históricos diferentes que se compreende o território, enfim, através do seu uso. É o uso do território, e não o território em si mesmo, que faz dele objeto de análise social. Trata-se de uma forma impura, um híbrido, uma noção que, por isso mesmo, carece de constante revisão histórica. O que ele tem de permanente é ser nosso quadro de vida. (SANTOS in SANTOS; SOUZA; SILVEIRA, 1996, p. 15) Justamente buscando a nova realidade do território através de variáveis como técnicas e tempo na perspectiva do território usado, e especialmente enfocando a infraestrutura utilizada pelo turismo e suas diferentes consequências que torna-se possível o entendimento do território e do espaço do turismo. Assim, com os espaços reorganizados pelo turismo e até mesmo privatizados, as diferenças e desigualdades socioespaciais aumentam e tornam se expressivas, o que deixa clara a necessidade do planejamento enquanto um meio que busque mudanças tanto quantitativas como qualitativas. A geografia e o planejamento no turismo Conforme exposto anteriormente sobre a relação entre o turismo, espaço e território, ou seja, na apropriação do espaço geográfico através do consumo do território e de seus bens e serviços pelo turismo, surgem alterações significativas no espaço geográfico - município e a sociedade. Essas alterações se dividem entre benefícios e 143 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade prejuízos. Segundo Rejowski (1996) alguns benefícios apontados são geração de emprego e de renda, aumento da arrecadação de impostos, atração de investimentos, entre outros. No caso dos prejuízos, a mesma autora destaca, entre outros a especulação imobiliária, o aumento da economia informal e do custo de vida. Existem ainda outros impactos na esfera ambiental e sociocultural, como por exemplo, a questão do lixo, de esgoto e água tratada, a descaracterização cultural, a prostituição, abandono de atividades tradicionais, etc. Diante destes efeitos negativos e também vislumbrando potencializar os aspectos positivos torna-se essencial o planejamento e as políticas públicas que considerem o desenvolvimento socioespacial da prática turística de modo a inibir os impactos negativos socioeconômicos, culturais e ambientais aos municípios e a população. (...) não se pode tomar o turismo como uma atividade eminentemente positiva. Na realidade, o turismo não planejado pode a médio e longo prazo gerar mais consequências negativas do que positivas sobre a sociedade (...) (DIAS, 2003, p. 28) Nesta questão das alterações espaciais que se destaca o planejamento fornecendo diretrizes ao sistema turístico, entendido segundo Beni (2000, p.23) “... como um conjunto de partes que interagem de modo a atingir um determinado fim, de acordo com um plano ou princípio”, assim como também às políticas públicas que considerem este aspecto. No caso das políticas públicas, estas são determinantes para que as atividades turísticas se desenvolvam, pois apresentam as próprias estratégias do Estado para o setor. Políticas públicas é antes de tudo, uma atividade política e essas são influenciadas por características econômicas, sociais e culturais da sociedade, assim como pelas estruturas formais dos governos e outros aspectos do sistema político. (HALL, 2001, p.26) Nesta perspectiva, são as políticas públicas que apresentam a posição do Estado, ou seja, do poder público diante de uma situação que considere a complexidade dos diferentes atores sociais e as demandas da sociedade visando melhoramentos. Portanto, as políticas públicas devem ser a expressão do próprio interesse social. No caso do turismo, existem as suas próprias políticas públicas que compreendem fatores e diretrizes específicas para alcançar os seus objetivos. 144 Uma política de turismo deve ter como concepção o turismo como um sistema aberto, orgânico e complexo que se coloque como atividade multissetorial, cuja execução deve, necessariamente, incorporar visões multidisciplinares, multiculturais e multissetoriais. (GASTAL; MOESCH, 2007, p.45) O caráter multissetorial reflete nas próprias políticas públicas de turismo, isto decorrente do amplo conjunto de atividades e seus diferentes atores (estatais e privados). Nesta perspectiva o caráter multissetorial corresponde a outras atividades e políticas de setores essenciais ao turismo como a infraestrutura, a preservação ambiental e do patrimônio cultural, o desenvolvimento urbano e regional, entre outros que expressam a complexidade do sistema turístico. Diante desta complexidade de elementos e variáveis o espaço turístico necessita de planejamento e organização, o que exige do governo e setor privado atuação compartilhada como através de parcerias, ou seja, gestão territorial participativa e que, valorize as especificidades regionais e locais. O planejamento que privilegie os interesses locais, isto é, não restrito (centralizado) a classe empresarial envolvida diretamente com o turismo, mas também acessível à população local, o que é imprescindível. Ou seja, um novo modelo de planejamento, segundo Molina (2001, p. 13-14) “(...) mais participativo, que reconhece as capacidades e interesses locais e regionais e as realidades dos grupos humanos e econômicos que atuam em suas respectivas áreas”. Nesta perspectiva aspecto relevante refere-se ao turismo sustentável, ou seja, tendo como diretriz o conceito de desenvolvimento sustentável de modo a preservar o meio ambiente, melhorar as condições de vida das populações locais, visando um desenvolvimento condizente com a sustentabilidade. Portanto, o turismo sustentável destaca-se como uma alternativa ao turismo tradicional, envolvendo princípios do conceito de desenvolvimento sustentável presentes no espaço geográfico, como o ecológico, social, cultural e o econômico. Para o planejamento essa nova postura envolvendo diferentes conceitos é mais abrangente demonstrando preocupação sociocultural, além dos aspectos ecológicos, de modo a favorecer a perspectiva integradora da atividade turística preservando o ambiente e considerando a vida da população local. Mas o envolvimento de complexos conceitos como de desenvolvimento sustentável e cultura, no âmbito do planejamento provocam algumas questões como: 145 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade qual o nível de crescimento em relação ao turismo que pode ser considerado ideal, ou melhor, sustentável, numa determinada localidade? Responder questão como essa, é tarefa difícil, pois muitas teorias estão sendo elaboradas e aplicadas às diferentes realidades turísticas. É importante discutir e repensar os conceitos presentes no planejamento do turismo e a sua real aplicação nas diversas localidades turísticas, pois muitos conceitos são complexos e impraticáveis à realidade. Ainda neste sentido deve-se valorizar o auxílio de outras áreas do conhecimento para o planejamento do turismo. No caso da contribuição geográfica ao estudo do turismo através do planejamento, apresentam-se algumas informações que destacam a relação entre a geografia e o planejamento. Referente ao planejamento na geografia, Santos R. F. (2004) realizou importante estudo apresentando diferentes conceitos e enfoques. Para a pesquisadora, o planejamento compreende diferentes etapas de um mesmo processo que objetiva alcançar metas que possibilitem a mudança de uma situação para o seu desenvolvimento. (...) o planejamento é o processo contínuo que envolve coleta, organização e análise sistematizadas das informações, por meio de procedimentos e métodos, para chegar a decisões ou a escolhas acerca das melhores alternativas para o aproveitamento dos recursos disponíveis. Sua finalidade é atingir metas específicas no futuro, levando à melhoria de uma determinada situação e ao desenvolvimento das sociedades. (SANTOS, R. F. 2004, p. 24). Os estudos de planejamento visam a prognósticos da realidade espacial em uma projeção futura, sendo que possuem uma finalidade social, assim como a geografia. Desta forma os próprios pressupostos teóricos geográficos e suas categorias de análise, como o espaço, região, território e o lugar são valorizados por atenderem aos estudos espaciais. O planejamento pode ser apresentado de formas diferentes, mas no caso da sua relação com a geografia é no espaço que está o seu maior envolvimento, pois em seu histórico de procedimentos prático-metodológicos a geografia se favorece para atuar junto do planejamento. Também o enfoque da geografia nas relações da sociedade com a natureza, assim como nas diferentes territorialidades impostas à sociedade e a própria complexidade dos elementos do espaço revelam essa interface entre geografia e planejamento. 146 Para Ab'Saber (1968) existem aspectos que justificam que a geografia auxilie no planejamento como através da compreensão do espaço geográfico e de sua organização o que colabora no entendimento e formação de novos padrões de organização espacial. O autor ainda evidencia o uso de métodos e técnicas geográficas da cartografia e observação de campo que favorecem o planejamento de diversas maneiras. Soma-se á essas contribuições os sistemas de informação geográfica enquanto ferramentas para o planejamento. Aspectos como os destacados reafirmam a questão do conceito de espaço geográfico e suas categorias de análise constituírem elementos geográficos essenciais ao planejamento do turismo. Algumas considerações Diante do exposto, intencionou-se a partir de uma discussão inicial sobre turismo, planejamento e geografia, apontar algumas contribuições geográficas ao planejamento do turismo. Assim, destacou-se a importância do conhecimento geográfico na sustentação da análise da nova realidade espacial contemporânea que recebe influências do turismo enquanto fenômeno social, complexo e diversificado. Devido sua complexidade e interferência no espaço geográfico de modo a transforma-lo gerando diferentes consequências, notou-se a importância do planejamento do turismo sustentado na ciência geográfica através do conceito de espaço geográfico e suas categorias de análise, região, território, paisagem e lugar. Portanto, o processo de planejar deve partir da análise do espaço geográfico e do território usado. Nesta análise do espaço geográfico entendido como o conjunto indissociável de objetos e de ações, o planejamento se favorece ao estudar o desenvolvimento, elaborando metas, objetivos e estratégias envolvendo diferentes setores como público, privado e sociedade, de modo a colaborar com o turismo numa perspectiva de desenvolvimento sustentável, o que representa um desafio. Vale dizer que outras características no planejamento são importantes como o papel da regulação por parte do Estado; políticas integradas entre os diferentes setores; a descentralização que permita maior autonomia aos municípios; participação e 147 CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade representatividade da sociedade civil; articulação entre o planejamento dos níveis estadual e local; entre outros aspectos específicos ao planejamento que no mundo globalizado torna-se imprescindível para atingir o desenvolvimento no plano social. Referências bibliográficas AB’SABER, A. N. 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