Planejamento turístico: contribuição geográfica

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PLANEJAMENTO TURÍSTICO: CONTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA AO ESTUDO DO
TURISMO
Tourism planning: geographical contribution to the tourism study
Wilson Martins LOPES JÚNIOR
Doutor em Geografia, Professor Adjunto do
Departamento de Geografia de Campos (GRC), UFF Universidade Federal Fluminense e Pesquisador do
grupo "Turismo, Território e Cultura" Coordenado pela
Dra. Luzia Neide Menezes Teixeira Coriolano da
Universidade Estadual do Ceará - UECE, Fortaleza, CE.
E-mail: [email protected]
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CATS 2012 – Congresso de Arquitetura, Turismo e Sustentabilidade
Resumo
O planejamento turístico compreende importantes questões como a discussão
sobre a definição de turismo, além de outros temas como: paisagem, território, lugar,
meio-ambiente, valores culturais, políticas públicas, marketing, entre outros. A ciência
geografia contribui nesta discussão com referencial teórico-metodológico através do
conceito de espaço geográfico e suas categorias de análise geográficas, região, território,
paisagem e lugar. Neste sentido a relação entre geografia e turismo se apresenta nas
diferentes transformações do espaço geográfico provocadas pelo turismo. Esse artigo não
intenciona abordar os diversos temas e conceitos envolvidos na análise do turismo, mas
propõe destacar algumas questões referentes ao turismo e ao planejamento turístico que
colaborem nesta discussão.
Palavras-chave: turismo, planejamento turístico, geografia do turismo.
Abstract
Tourist Planning involves important questions like the discussion about the
definition of tourism, as well as other themes such as: landscape, territory, place,
environment, cultural values, public policy, marketing, among others. Geography science
contributes to this discussion with the theorical-methodological reference through the
concept of geographical space and its categories of geographical analysis, region,
territory, landscape and place. In this respect, the relationship between geography and
tourism presents itself on the different alterations on the geographical space due to
tourism. This article doesn't intend to approach the several themes and concepts involved
on tourism analysis, but proposes highlighting some questions related to tourism and
Tourist
Planning
that
collaborates
Key words: tourism, tourism planning, tourism geography.
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on
this
discussion.
Introdução
No planejamento turístico são presentes diferentes aspectos como a discussão
sobre a definição de turismo, o entendimento e consequentes observações sobre a
paisagem, o território, o lugar, o meio-ambiente, os valores culturais, as políticas públicas,
o marketing e outros aspectos que colaboram no processo de planejar a partir da análise
do espaço geográfico. Nesta análise do espaço geográfico entendido como o conjunto
indissociável de objetos e de ações, o planejamento se destaca ao estudar o
desenvolvimento, elaborando metas, objetivos, estratégias envolvendo diferentes setores
como público, privado e sociedade, de modo a colaborar com o turismo numa perspectiva
de desenvolvimento sustentável, o que representa um desafio.
Nesta questão, a contribuição da ciência geográfica ao turismo e ao planejamento
encontra-se em seu referencial teórico-metodológico, pois através do conceito de espaço
geográfico e suas categorias de análise região, território, paisagem e lugar colabora-se
nas diferentes pesquisas e trabalhos de temáticas relacionadas ao turismo. Desta forma a
relação entre a geografia e o turismo se expressa na análise das diferentes
transformações do espaço geográfico provocadas pelo turismo. Assim cada vez mais a
geografia analisa suas questões contribuindo na compreensão da complexidade espacial
criada pelo turismo.
Neste artigo intenciona-se evidenciar algumas questões referentes ao turismo e
ao planejamento turístico a título de contribuição a importante temática: planejamento
turístico. Merece ênfase que a sua produção está relacionada a reflexões iniciais acerca
da geografia do turismo e o planejamento.
Um pouco sobre o turismo
O turismo em sua compreensão remete a associação com viagem, o que supõe o
deslocamento e todo um trabalho através de planejamento que envolva profissionais e
estruturas voltadas a receber o turista, como os meios de hospedagem, a alimentação, os
eventos, entretenimento, entre outros. No entanto, é também necessária ampla
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infraestrutura no local receptor, assim como também no emissor, para possibilitar o fluxo
de turistas, o que consequentemente provoca significativas mudanças nestes locais.
Sobre as definições de turismo, há certa complexidade, pois várias são as
definições de acordo com a sua época e o contexto em que surgiram, portanto,
coexistindo diferentes enfoques que influenciaram as mais diferentes definições.
Segundo Barreto (1995), a primeira definição de turismo foi do economista austríaco,
Hermann von Schullern zu Schattenhofen no ano de 1911.
(...) turismo é o conceito que compreende todos os processos,
especialmente os econômicos, que se manifestam na chegada, na
permanência e na saída do turista de um determinado município, país
ou estado. (BARRETO, 1995, p. 9)
A partir desta definição surgiram outras com diferentes enfoques e características
como econômicas, culturais, ambientais, no entanto a definição que tornou-se referência
foi a da Organização Mundial do Turismo – OMT.
O turismo é o deslocamento para fora do lugar de residência habitual,
por um período mínimo de 24 horas e um máximo de 90 dias, motivado
por razões de caráter não lucrativo. (MOLINA, 2001, p. 12)
Diferentes definições poderiam ser destacadas, sendo que em sua maioria fazem
referencias ao deslocamento e a permanência do turista fora de seu local de habitação,
ou então, referência a quantitativo (números) que expressa á prática do turismo. No
entanto, as definições pouco contemplam, por exemplo, o aspecto social e cultural, o que
evidencia a fragilidade das definições para exprimir fenômeno de tamanha complexidade.
A discussão referente às definições remete também à confusão e até mesmo,
contradições existentes em relação aos conceitos fundamentais para os estudos do
turismo. De acordo com Lemos (1998), a carência de conceitos fundamentais na área do
turismo favorece o surgimento do que o autor chama de "mitos", ou seja, afirmações
gerais que tornam se consenso. Entretanto, essas afirmações não são conceitos que
favoreçam a compreensão, mas sim, pré-conceitos que dificultam os estudos sobre
turismo.
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Em se tratando de definições e conceitos também merece ênfase que o turismo
não pode ser compreendido somente pelos fluxos de um fenômeno econômico, mas
também enquanto fenômeno de comunicação entre partes, aspecto este também
essencial a ser considerado no planejamento turístico.
(...) o turismo é um fenômeno comunicacional antes de tudo. É este fato
que explica o desejo da experiência. Neste sentido, nos movemos em
busca da excitação dos sentidos. Não basta, portanto, buscar entender o
turismo como fenômeno econômico sem compreender a dimensão
existencial que anima tais fluxos. (WAINBERG in GASTAL;
CASTROGIOVANNI, 2003, p. 14)
Ou seja, além das relações econômicas que se travam na prática turística é
presente também uma carga subjetiva, desde a escolha do local a se visitar até a relação
que ocorrerá nesta localidade. Diante disto, entre turista e população local tem-se a
comunicação intermediada por diversos fatores, destacando-se o cultural. Nesta
perspectiva, para que os diferentes tipos e níveis de relação ocorram, existe a
comunicação como base de compreensão deste fenômeno turístico.
O turismo apresenta-se com diferentes possibilidades, ou modalidades em sua
prática, como: ecoturismo, turismo de aventura, turismo cultural, turismo de estética e
saúde, turismo desportivo, turismo de espiritualidade ou religioso, turismo da "terceira
idade" e o turismo de negócios, entre outros. Observa-se, portanto, uma diversidade de
prática turística que oferece formas diferentes de experiências, principalmente
estimulando o crescimento turístico específico e até mesmo, que foge do convencional.
Aspecto relevante sobre as modalidades turísticas e ao turismo refere-se aos seus
impactos tanto sobre ambientes urbanos como naturais. No caso do ecoturismo ou
turismo de natureza, realizado em ambientes naturais, segundo Cruz (2003) é menos
impactante que o turismo urbano (de massa) uma vez que a necessidade de
infraestrutura é menor, pois a natureza é o seu atrativo. Cruz (2003) afirma ainda que o
turismo urbano, ou de massa, que ocorre nas cidades ao utilizar a infraestrutura existente
e ainda exigir outras, torna-se o mais impactante, inclusive em razão das inúmeras
cidades turísticas não estarem preparadas para o aumento de serviços, dentre os quais, o
tratamento de esgoto e água tratada, o que requer investimentos em infraestrutura.
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Questões como as expostas sobre o impacto da atividade turística reforça a ideia
da necessidade do planejamento para manutenção desta atividade. É necessário analisar
a atividade turística através do diagnóstico de seu desenvolvimento e refletir sobre as
ações que antecipem possíveis questões ou problemas, assim como identificar e valorizar
os benefícios ocasionados. Mas para tanto, na perspectiva do planejamento, é necessária
a análise ser feita sobre o espaço geográfico, pois é nele que o turismo enquanto pratica
social de cunho geográfico age transformando-o e consumindo os elementos deste
espaço geográfico.
Turismo: espaço e território
Turismo e a geografia relacionam-se na prática turística que atua diretamente
sobre os conceitos de domínio geográfico, espaço, território, região, paisagem e lugar.
Esses conceitos se sustentam em ampla discussão na ciência geográfica e quando da sua
alteração, ou nova caracterização provocada pelas atividades turísticas a sua definição e
interpretação tornam-se essenciais.
A partir da definição e do entendimento do conceito de espaço geográfico e da
compreensão dos elementos que configuram a produção e a (re) estruturação do espaço,
é possível trabalhar outras categorias de análise geográficas em diferentes pesquisas do
turismo. Portanto, é necessário inicialmente definir o conceito de espaço. Como
referência apresenta-se o conceito de espaço geográfico de Milton Santos.
O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também
contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não
considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história
se dá. (SANTOS, 2004, p. 63)
O espaço possui sistemas de objetos e sistemas de ações articulados de diferentes
maneiras e que expõem a dinâmica espacial e a importância dos sistemas de objetos e de
ações que, através de sua interação solidária e contraditória favorecem a dinâmica
espacial.
Todavia, na compreensão desta dinâmica do espaço faz-se necessário
considerar a noção de tempo, pois são justamente os processos que ocorrem na história
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que caracterizam as formas espaciais. Assim, o espaço geográfico está relacionado à
produção humana em suas dimensões histórica e social como um produto, condição e
meio para todas as atividades humanas sociais, portanto, também para o turismo.
Deste modo o turismo atua no espaço geográfico de modo ao criar e recriar
formas espaciais das mais diversas através do seu processo de estruturação que
compreende os objetos e ações em sua organização socioespacial. Nesta prática o
turismo faz com que os novos objetos e ações interajam com objetos e ações existentes,
de modo que o espaço por sua vez passa a ser organizado segundo uma nova lógica que
garante a prática do turismo. Portanto, o turismo se destaca como agente que provoca
alterações no espaço geográfico e que se desenvolve por meio dos elementos deste
espaço.
O turismo é uma atividade que se desenvolve por meio dos elementos
dos espaços geográficos. Assim sendo, ao utilizar a natureza como
atrativo turístico, os equipamentos urbanos como infra-estrutura do
turismo, os territórios de origens de turistas, as comunidades receptoras
com sua população residente e as práticas sociais decorrentes deste
encontro, o turismo passa a ser objeto do saber geográfico.
(CORIOLANO, 1998, p. 21)
Diante deste objeto do saber geográfico – o turismo - o espaço geográfico é
fundamental por fornecer os elementos essenciais, como infraestrutura (hotéis,
transportes, serviços, outros) a sociedade (turistas, população receptora) as empresas
(firmas envolvidas na prática turística) e o Estado, que regulamenta a atividade. Assim,
nesta perspectiva do turismo o espaço é estruturado e reestruturado.
O turismo na sua enorme complexidade reveste-se de tríplice aspecto
com incidências territoriais específicas em cada um deles. Trata-se de
fenômeno que apresenta áreas de dispersão (emissoras), áreas de
deslocamento e áreas de atração (receptoras). É nestas que se produz o
espaço turístico ou se reformula o espaço anteriormente ocupado. É
aqui também que se dá o consumo do espaço. (RODRIGUES, 1997, p. 43)
Portanto, o turismo tem poder significativo de alterar o espaço, em um processo
complexo que resulta na própria produção do espaço turístico. Assim, neste espaço as
relações entre os sistemas de objetos e de ações engajadas na lógica capitalista,
empresário – turista, leva, por exemplo, a própria mercantilização do espaço a ser
consumido.
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Diante do exposto, nota-se que o espaço constitui-se num produto social no qual
ocorrem diferentes relações sob a diretriz de um modo de produção, o que provocará a
padronização dos lugares como das práticas sociais. Nesta perspectiva o espaço é
produzido e reproduzido através da organização e reorganização espacial provocada pela
sociedade. No caso das interferências do turismo, essas merecem ênfase, pois além de
espaciais são territoriais, uma vez que o turismo se manifesta de diferentes formas no
território, todavia, suas manifestações estão sob a intenção da iniciativa privada e do
próprio Estado. Também vale dizer que a reprodução da prática do turismo não se prende
a limites do território e o próprio turismo provoca o ordenamento como reordenamento
do território o que, por sua vez justifica a necessidade do planejamento.
Após a definição e apresentação do importante conceito de espaço geográfico, faz
necessárias algumas informações geográficas sobre o território, palco das intervenções
do turismo como da instalação de infraestrutura entre outras.
Em se tratando de território, conforme Spósito (2004, p. 111) “O conceito de
território é constantemente confundido por aqueles que ainda não se debruçaram em
leituras mais profundas”, mas somente a partir da revisão deste importante conceito
geográfico considerando-se a sua existência a partir do espaço geográfico e determinado
por atores que se sustentam em relações de poder, chega-se ao seu entendimento.
As abordagens e formas de entender o território na ciência geográfica são
inúmeras, principalmente se consideradas as constantes mudanças socioespaciais,
todavia, todas têm a sua contribuição. Justamente diante das mudanças socioespaciais é
que o espaço geográfico possibilita a formação do território formado pela ação de atores
ou agentes que territorializam o próprio espaço. Portanto, o homem e as relações de
poder são os responsáveis pela produção do território a partir do espaço.
O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação
conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em
qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou
abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator ‘territorializa’
o espaço. (...) O território nessa perspectiva é um espaço onde se
projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por
conseqüência, revela relações marcadas pelo poder. O espaço é a ‘prisão
original’, o território é a prisão que os homens constroem para si. (...)
Evidentemente, o território se apóia no espaço, mas não é o espaço.
(RAFFESTIN, 1993, p. 143-144)
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Neste sentido, o território está para o espaço geográfico sob um conjunto de
normas e de poder que justifica a sua existência. O próprio conceito de território tem
intrínseco às relações de poder, pois o território se concebe a partir de um espaço onde
se coloca ações, trabalho, política, relações econômicas, produtivas, culturais, entre
outras, que caracterizam as relações de poder no território. Desta forma o território é o
produto da apropriação e do domínio espacial com suas dimensões política, econômica e
cultural associadas.
Importante aspecto nesta discussão, segundo Santos (2008), refere-se ao uso do
território, que ocorre pela implantação de infraestrutura, pois é justamente na categoria
território usado, isto é, no território que recebeu cargas de técnicas em tempos históricos
diferentes que se compreende o território, enfim, através do seu uso.
É o uso do território, e não o território em si mesmo, que faz dele objeto
de análise social. Trata-se de uma forma impura, um híbrido, uma noção
que, por isso mesmo, carece de constante revisão histórica. O que ele
tem de permanente é ser nosso quadro de vida. (SANTOS in SANTOS;
SOUZA; SILVEIRA, 1996, p. 15)
Justamente buscando a nova realidade do território através de variáveis como
técnicas e tempo na perspectiva do território usado, e especialmente enfocando a
infraestrutura utilizada pelo turismo e suas diferentes consequências que torna-se
possível o entendimento do território e do espaço do turismo. Assim, com os espaços
reorganizados pelo turismo e até mesmo privatizados, as diferenças e desigualdades
socioespaciais aumentam e tornam se expressivas, o que deixa clara a necessidade do
planejamento enquanto um meio que busque mudanças tanto quantitativas como
qualitativas.
A geografia e o planejamento no turismo
Conforme exposto anteriormente sobre a relação entre o turismo, espaço e
território, ou seja, na apropriação do espaço geográfico através do consumo do território
e de seus bens e serviços pelo turismo, surgem alterações significativas no espaço
geográfico - município e a sociedade. Essas alterações se dividem entre benefícios e
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prejuízos. Segundo Rejowski (1996) alguns benefícios apontados são geração de emprego
e de renda, aumento da arrecadação de impostos, atração de investimentos, entre
outros. No caso dos prejuízos, a mesma autora destaca, entre outros a especulação
imobiliária, o aumento da economia informal e do custo de vida. Existem ainda outros
impactos na esfera ambiental e sociocultural, como por exemplo, a questão do lixo, de
esgoto e água tratada, a descaracterização cultural, a prostituição, abandono de
atividades tradicionais, etc.
Diante destes efeitos negativos e também vislumbrando potencializar os aspectos
positivos torna-se essencial o planejamento e as políticas públicas que considerem o
desenvolvimento socioespacial da prática turística de modo a inibir os impactos negativos
socioeconômicos, culturais e ambientais aos municípios e a população.
(...) não se pode tomar o turismo como uma atividade eminentemente
positiva. Na realidade, o turismo não planejado pode a médio e longo
prazo gerar mais consequências negativas do que positivas sobre a
sociedade (...) (DIAS, 2003, p. 28)
Nesta questão das alterações espaciais que se destaca o planejamento fornecendo
diretrizes ao sistema turístico, entendido segundo Beni (2000, p.23) “... como um
conjunto de partes que interagem de modo a atingir um determinado fim, de acordo com
um plano ou princípio”, assim como também às políticas públicas que considerem este
aspecto. No caso das políticas públicas, estas são determinantes para que as atividades
turísticas se desenvolvam, pois apresentam as próprias estratégias do Estado para o
setor.
Políticas públicas é antes de tudo, uma atividade política e essas são
influenciadas por características econômicas, sociais e culturais da
sociedade, assim como pelas estruturas formais dos governos e
outros aspectos do sistema político. (HALL, 2001, p.26)
Nesta perspectiva, são as políticas públicas que apresentam a posição do Estado,
ou seja, do poder público diante de uma situação que considere a complexidade dos
diferentes atores sociais e as demandas da sociedade visando melhoramentos. Portanto,
as políticas públicas devem ser a expressão do próprio interesse social.
No caso do turismo, existem as suas próprias políticas públicas que compreendem
fatores e diretrizes específicas para alcançar os seus objetivos.
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Uma política de turismo deve ter como concepção o turismo como um
sistema aberto, orgânico e complexo que se coloque como atividade
multissetorial, cuja execução deve, necessariamente, incorporar visões
multidisciplinares, multiculturais e multissetoriais. (GASTAL; MOESCH,
2007, p.45)
O caráter multissetorial reflete nas próprias políticas públicas de turismo, isto
decorrente do amplo conjunto de atividades e seus diferentes atores (estatais e
privados). Nesta perspectiva o caráter multissetorial corresponde a outras atividades e
políticas de setores essenciais ao turismo como a infraestrutura, a preservação ambiental
e do patrimônio cultural, o desenvolvimento urbano e regional, entre outros que
expressam a complexidade do sistema turístico.
Diante desta complexidade de elementos e variáveis o espaço turístico necessita
de planejamento e organização, o que exige do governo e setor privado atuação
compartilhada como através de parcerias, ou seja, gestão territorial participativa e que,
valorize as especificidades regionais e locais. O planejamento que privilegie os interesses
locais, isto é, não restrito (centralizado) a classe empresarial envolvida diretamente com o
turismo, mas também acessível à população local, o que é imprescindível. Ou seja, um
novo modelo de planejamento, segundo Molina (2001, p. 13-14) “(...) mais participativo,
que reconhece as capacidades e interesses locais e regionais e as realidades dos grupos
humanos e econômicos que atuam em suas respectivas áreas”.
Nesta perspectiva aspecto relevante refere-se ao turismo sustentável, ou seja,
tendo como diretriz o conceito de desenvolvimento sustentável de modo a preservar o
meio ambiente, melhorar as condições de vida das populações locais, visando um
desenvolvimento condizente com a sustentabilidade. Portanto, o turismo sustentável
destaca-se como uma alternativa ao turismo tradicional, envolvendo princípios do
conceito de desenvolvimento sustentável presentes no espaço geográfico, como o
ecológico, social, cultural e o econômico.
Para o planejamento essa nova postura envolvendo diferentes conceitos é mais
abrangente demonstrando preocupação sociocultural, além dos aspectos ecológicos, de
modo a favorecer a perspectiva integradora da atividade turística preservando o
ambiente e considerando a vida da população local.
Mas o envolvimento de complexos conceitos como de desenvolvimento
sustentável e cultura, no âmbito do planejamento provocam algumas questões como:
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qual o nível de crescimento em relação ao turismo que pode ser considerado ideal, ou
melhor, sustentável, numa determinada localidade? Responder questão como essa, é
tarefa difícil, pois muitas teorias estão sendo elaboradas e aplicadas às diferentes
realidades turísticas. É importante discutir e repensar os conceitos presentes no
planejamento do turismo e a sua real aplicação nas diversas localidades turísticas, pois
muitos conceitos são complexos e impraticáveis à realidade. Ainda neste sentido deve-se
valorizar o auxílio de outras áreas do conhecimento para o planejamento do turismo.
No caso da contribuição geográfica ao estudo do turismo através do
planejamento, apresentam-se algumas informações que destacam a relação entre a
geografia e o planejamento.
Referente ao planejamento na geografia, Santos R. F. (2004) realizou importante
estudo apresentando diferentes conceitos e enfoques. Para a pesquisadora, o
planejamento compreende diferentes etapas de um mesmo processo que objetiva
alcançar metas que possibilitem a mudança de uma situação para o seu desenvolvimento.
(...) o planejamento é o processo contínuo que envolve coleta,
organização e análise sistematizadas das informações, por meio de
procedimentos e métodos, para chegar a decisões ou a escolhas acerca
das melhores alternativas para o aproveitamento dos recursos
disponíveis. Sua finalidade é atingir metas específicas no futuro, levando
à melhoria de uma determinada situação e ao desenvolvimento das
sociedades. (SANTOS, R. F. 2004, p. 24).
Os estudos de planejamento visam a prognósticos da realidade espacial em uma
projeção futura, sendo que possuem uma finalidade social, assim como a geografia. Desta
forma os próprios pressupostos teóricos geográficos e suas categorias de análise, como o
espaço, região, território e o lugar são valorizados por atenderem aos estudos espaciais.
O planejamento pode ser apresentado de formas diferentes, mas no caso da sua
relação com a geografia é no espaço que está o seu maior envolvimento, pois em seu
histórico de procedimentos prático-metodológicos a geografia se favorece para atuar
junto do planejamento. Também o enfoque da geografia nas relações da sociedade com a
natureza, assim como nas diferentes territorialidades impostas à sociedade e a própria
complexidade dos elementos do espaço revelam essa interface entre geografia e
planejamento.
146
Para Ab'Saber (1968) existem aspectos que justificam que a geografia auxilie no
planejamento como através da compreensão do espaço geográfico e de sua organização
o que colabora no entendimento e formação de novos padrões de organização espacial.
O autor ainda evidencia o uso de métodos e técnicas geográficas da cartografia e
observação de campo que favorecem o planejamento de diversas maneiras. Soma-se á
essas contribuições os sistemas de informação geográfica enquanto ferramentas para o
planejamento.
Aspectos como os destacados reafirmam a questão do conceito de espaço
geográfico e suas categorias de análise constituírem elementos geográficos essenciais ao
planejamento do turismo.
Algumas considerações
Diante do exposto, intencionou-se a partir de uma discussão inicial sobre turismo,
planejamento e geografia, apontar algumas contribuições geográficas ao planejamento
do turismo. Assim, destacou-se a importância do conhecimento geográfico na
sustentação da análise da nova realidade espacial contemporânea que recebe influências
do turismo enquanto fenômeno social, complexo e diversificado.
Devido sua complexidade e interferência no espaço geográfico de modo a
transforma-lo
gerando
diferentes
consequências,
notou-se
a
importância
do
planejamento do turismo sustentado na ciência geográfica através do conceito de espaço
geográfico e suas categorias de análise, região, território, paisagem e lugar. Portanto, o
processo de planejar deve partir da análise do espaço geográfico e do território usado.
Nesta análise do espaço geográfico entendido como o conjunto indissociável de
objetos e de ações, o planejamento se favorece ao estudar o desenvolvimento,
elaborando metas, objetivos e estratégias envolvendo diferentes setores como público,
privado e sociedade, de modo a colaborar com o turismo numa perspectiva de
desenvolvimento sustentável, o que representa um desafio.
Vale dizer que outras características no planejamento são importantes como o
papel da regulação por parte do Estado; políticas integradas entre os diferentes setores; a
descentralização que permita maior autonomia aos municípios; participação e
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representatividade da sociedade civil; articulação entre o planejamento dos níveis
estadual e local; entre outros aspectos específicos ao planejamento que no mundo
globalizado torna-se imprescindível para atingir o desenvolvimento no plano social.
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