Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Revista Ciência & Vida Volume 7 Número 2 Setembro - 2011 a revista do conhecimento humano publicada pela FACID Teresina - PI Semestral ISSN 1808-3366 3 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 4 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Revista Ciência & Vida Volume 7 Número 2 Setembro - 2011 a revista do conhecimento humano publicada pela FACID Teresina-PI As opiniões e artigos expressos aqui são de inteira responsabilidade dos autores. Periodicidade Semestral Rua Veterinário Bugyja Brito, 1354 - Horto Florestal CEP: 64052-410 • Teresina (PI) • Brasil Fone: (086) 3216-7900 / 3216-7901 www.facid.com.br 5 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Revista Facid http://www.facid.com.br [email protected] Editor - responsável Rômulo José Vieira Projeto Gráfico Castino Martins da Silveira Revisão Antonia Osima Lopes, Francisca Sandra Cardoso Barreto, Maria Rosilândia Lopes de Amorim, Raimunda Celestina Mendes da Silva Jornalista Responsável Marcos Sávio Sabino de Farias - MTB 1005 Impressão Gráfica Capa Amanda Paiva e Silva Martins Catulo Coelho dos Santos George Mendes Ribeiro Sousa Juciara Freitas Ribeiro (ex-alunos do Curso de Publicidade e Propaganda da FACID) Revista Facid: Ciência & Vida / Faculdade Integral Diferencial. V. 7, N. 2, 2011 / Teresina: FACID, 2011. Semestral ISSN 1808-3366 1. Pesquisa científica. 2. Desenvolvimento científico. CDD 509 CDU 001.891 6 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Revista Ciência & Vida Volume 7 Número 2 Setembro - 2011 a revista do conhecimento humano publicada pela FACID Teresina-PI FACID - Faculdade Integral Diferencial Integral - Grupo de Ensino Fundamental, Médio, Técnico e Superior do Piauí S/C Ltda. Paulo Raimundo Machado Vale Diretor Presidente Maria Josecí Lima Cavalcante Vale Diretora Acadêmica Iveline de Melo Prado Vice-Diretora Acadêmica Rômulo José Vieira Coordenador de Pesquisa e Pós-Graduação Conselho Editorial Antonia Osima Lopes Charllyton Luis Sena da Costa Eliana Campelo Lago Francisca Sandra Cardoso Barreto Giovana Ferreira Martins Nunes Santos Maria Josecí Lima Cavalcante Vale Rômulo José Vieira - Editor Responsável 7 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Valéria de Deus Leopoldino de Arêa Leão Veruska Cronemberger Nogueira Conselho Consultivo Alexandre Henrique de Paulo Simplício - Ana Célia Sousa Cavalcante Benício Parentes de Sampaio - Divana Maria Martins Parente Lira Helder Ferreira de Sousa - Izânio Vasconcelos Mesquita José Guilherme Ferrer Pompeu - Judite Oliveira Lima Alburquerque José Carlos Formiga - Joseli Lima Magalhães Luis Nódgi Nogueira Filho - Maurício Batista Paes Landim Marcelino Martins - Morgana Moreira Sales Maria Helena Barros Araújo Luz - Neiva Sedenho de Carvalho Sérgio Ibiapina Ferreira Costa - Tony Batista Waldília Neiva de Moura Santos Cordeiro Conselho Consultivo Nacional Anke Bergmann (RJ) Álvaro Antonio Machado Ferraz (PE) Alfredo Carlos Banos (SP) Beatriz Azevedo (SP) Carlos Bezerra de Lima (DF) Fernando Pratti (RS) Ives Gandra da Silva Martins (SP) Ivo Korytowski (RJ) Liege Santos Rocha (DF) Luiz Airton Saavedra (SP) Maria Elena Bernardes (SP) Ruy Gallart de Meneses (RJ) Saul Goldenberg (SP) Samantha Buglione (SC) Valtencir Zucolotto (SP) Conselho Consultivo Internacional Uwe Torsten (Alemanha) Mario Rietjens (Itália) Bibliotecária Marijane Martins Gramosa Vilarinho - CRB/3 - 1059 8 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 EDITORIAL 9 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 10 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 EDITORIAL Já disse o poeta Raul Seixas: "Um sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade". Mais um sonho da FACID tornou-se realidade: a sua consolidação como uma Instituição de Ensino Superior. Todos que fazem a FACID e a população em geral, não só de Teresina, mas de todo o Piauí e das regiões circunvizinhas já tinham conhecimento da qualidade desta instituição e de sua determinação para oferecer cursos, cada vez melhores. Contudo, neste ano, obteve-se a confirmação do Ministério de Educação-MEC: a FACID foi primeiro lugar no Índice Geral de Curso-IGC dentre todas as faculdades particulares do Piauí. Agora não é um reconhecimento só da comunidade que participa das atividades da faculdade, mas do próprio Ministério da Educação. Esse resultado foi comemorado com muita alegria, com grande honra, mas também evidenciaramse a necessidade e a responsabilidade de primar sempre mais pela qualidade nesta Instituição de Ensino Superior, integrando sempre o essencial triângulo do ensino superior: o ensino, a pesquisa e a extensão. Com esta comprovação do ensino na FACID, a pesquisa fica fortalecida e a extensão aprofunda-se nos anseios das comunidades piauienses, principalmente aquelas de maiores necessidades socioeconômicas e culturais. Não há mais dúvida, a FACID caminha a passos firmes e fortes para o seu engrandecimento e assim atingir seus objetivos de contribuir para o desenvolvimento do Piauí.Formar profissionais de excelência, promover a pesquisa para solucionar problemas que acometem a sua população e desenvolver a assistência àqueles que mais precisam. 11 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Parabéns a todos que fazem a FACID, votos de sucessos sempre, com respeito, reconhecimento, serenidade, responsabilidade e que todos continuem sonhando juntos. Rômulo José Vieira Editor - responsável 12 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 SUMÁRIO 13 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 14 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 SUMÁRIO ARTIGOS ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE DURANTE INTERNAÇÃO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVAUTI Sônia Maria Pereira, Carlange Lobão Castro ................................. 19 - 34 A CONTRIBUIÇÃO GERÊNCIA DE ENFERMAGEM NA ASSISTÊNCIA PRESTADA EM UNIDADE HOSPITALAR PÚBLICA Bárbara Karla Bezerra Martins, Amália de Oliveira Carvalho ............... 35 - 50 PATOLOGIAS LOMBARES: PREVALÊNCIA E USO DE MEDICAMENTOS EM PACIENTES DE CLÍNICAS DE FISIOTERAPIA Lia Medeiros Brandim, Fabrício Pires de Moura do Amaral , Cristina Cardoso da Silva ........................................................................... 51 - 66 DISSOLUÇÃO CONJUGAL POR MULHERES NA CONTEMPORANEIDADE: UM ENFOQUE PSICOLÓGICO. Náira Ravanny de Souza Lima, Cyntia Maria de Miranda Araújo......... 67 - 81 15 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 AVALIAÇÃO DA SATISFAÇÃO DOS PACIENTES ATENDIDOS EM UMA CLÍNICA INTEGRADA DE UM CURSO DE ODONTOLOGIA José Guilherme Ferrer Pompeu, Francisco Jurany de Carvalho Júnior, Raimundo Guimarães Cruz Neto, Claudio Heliomar Vicente da Silva, Vera Lúcia Gomes Prado............................................... 82 - 99 PERFIL DOS BOLSISTAS PROUNI DE UMA FACULDADE EM TERESINA Joíce Suane de Carvalho da Silva, Alba Katharyna Soares, Antonia Osima Lopes .............................................................................. 100 - 118 ERITROPOETINA E NÚMERO DE ANTIHIPERTENSIVOS EM PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA RENALCRÔNICA EM HEMODIÁLISE Nayane Piauilino Benvindo Ferreira, Antônio Gonçalves Rodrigues Júnior ......................................................................................... 119 - 128 PERCEPÇÃO DA CLIENTE GESTANTE SOBRE O EXAME PREVENTIVO DE CÂNCER CÉRVICOUTERINO Laurice Alves dos Santos, Gustavo de Moura Leão ...................... 129 - 142 RELAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INTERNAÇÕES EM CRIANÇAS DE ATÉ DOIS ANOS Rejane Andrade Neves, Mayanni Fernandes da Silva, Maria do Socorro Sousa Alves Barbosa .................................................... 143 - 148 RESENHAS DE LIVROS CONTEÚDO JURÍDICO DO PRINCÍPIO DA IGUALDADE Willame Parente Mazza .............................................................. 151 - 154 NORMAS EDITORIAIS ........................................................ 16 157 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 ARTIGOS 17 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 18 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE DURANTE INTERNAÇÃO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA - UTI EMOTIONAL ASPECTS REPORT OF THE PATIENT DURING HOSPITALIZATION IN INTENSIVE CARE UNIT - ICU Sônia Maria Pereira ; Carlange Lobão Castro RESUMO O adoecer causa sensações de mal estar. Quando este se encontra diante de uma hospitalização seja ambulatorial, clínica, ou UTI, sobre tratamento contínuo ou tratamento prolongado, ou por muitas vezes marcados por procedimentos invasivos e dolorosos, sente insegurança diante da sua realidade, passando por momentos críticos, ao se defrontar ,de imediato,com o seu risco de morte. O presente trabalho foi realizado em um hospital particular que possui uma UTI, com a possibilidade de pacientes,potencialmente recuperáveis, em Teresina PI. Teve como objetivo geral compreender os aspectos emocionais vivenciados pelo paciente no processo de adoecimento e cuidados intensivos em Unidade de Terapia Intensiva - UTI. Como objetivos específicos,apresentou identificar as necessidades psicológicas do paciente diante do tratamento na UTI; identificar se ocorre o processo de resiliência no paciente; e verificar a existência de luto antecipatório no paciente. Trata-se de uma pesquisa de campo com abordagem qualitativa e de caráter e método exploratório. Foram utilizados como instrumentos de coleta de dados a entrevista semiestruturada e o questionário sócio-demográfico. Participaram da pesquisa oito pacientes que estiveram internados em uma UTI. Com base nos resultados, observou-se que a internação é uma experiência delicada, gera tanto sentimentos inquietantes e estranhos, produz ganhos negativos e positivos no decorrer do processo do seu adoecer. Podendo assim desencadear sensações de horror por evocar a possibilidade ____________________ 1. Aluna de graduação (10º período) do Curso de Psicologia da Faculdade Integral da Diferencial - FACID. Técnica em Enfermagem pelo Instituto Nathan Portela - IDTNP. Rua Castelo do Piauí, 3271, Bairro Buenos Aires. Teresina - PI. Telefone: (86) 8811-2592. email: [email protected] 2. Professora do Curso de Psicologia da Faculdade Integral da Diferencial - FACID. Psicóloga, Mestre em Antropologia pela Universidade Federal do Piauí - UFPI. Rua Quintino Bocaiúva, 1711, Bairro Vila Operária. Teresina - PI. Telefone: (86) 9987-5009. email: [email protected] 19 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 de morte que advém com o sentido que cada paciente dar ao desenvolvimento da sua doença Palavras-chave: Hospitalização. UTI. Emoções. Resiliência. Luto. ABSTRACT Health is the welfare of the human being, and cause ill feelings of malaise. When it is faced with a hospitalization is outpatient, clinic, or ICU on continuous treatment or prolonged treatment, which are often marked by invasive and painful procedures, feel insecurity about their reality through critical moments, when faced immediately with its life-threatening. This work was performed in a private hospital that has an ICU, with the possibility of patients potentially recoverable in Teresina - PI. Had the general objective to understand the emotional aspects experienced by the patient in the process of illness and intensive care in the Intensive Care Unit - ICU. Specific objectives presented identify the psychological needs of the patient before the treatment in the ICU; identify if the process occurs in the patient resilience, and verify the existence of anticipatory mourning the patient. The work it is a field research with qualitative approach and exploratory character and method. It has been used as instruments of data collection to semi-structured interview and socio-demographic questionnaire. Participants were eight patients who were admitted to an ICU. Based on the results, we found that hospitalization is a delicate experience, generating both disturbing and strange feelings as negative and positive gains during the process of his illness. And thus can trigger feelings of horror by evoking the possibility of death that comes with the sense that each patient to the development of their disease. Keywords: Hospitalization. ICU. Emotions. Resilience. Mourning. 1 INTRODUÇÃO O adoecer causa sensações de mal-estar, sendo um fator considerável de desajustamento, podendo precipitar ou agravar desequilíbrios no ser humano, como também interferir consideravelmente no ritmo familiar, social e psíquico (CAMPOS, 1995). 20 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Na hospitalização por doença crônica ou aguda, surgem sentimentos que ameaçam a existência do ser humano, bem como a contínua incerteza do futuro. O medo,uma reação comum do enfermo, cuja intensidade da situação varia de acordo com o nível de conhecimento da doença e se há possibilidade de recuperação. A hospitalização em Unidade de Terapia Intensiva - UTI é um local onde são internados pacientes em estado grave e necessitando de cuidados médicos intensivos. As ações de uma UTI são diuturnas, rápidas e precisas, exigindo o máximo da equipe. Contém um limite entre a vida e a morte, na maioria das vezes são áreas restritas à circulação, principalmente, de pessoas estranhas à equipe multiprofissional onde os familiares têm pouco ou nenhum acesso (ROMANO, 1999). Somado a isso, a rotina de trabalho, barulho, gemidos de pacientes, falta de privacidade são as variáveis que influenciam o ser humano e o deixam emocionalmente vulnerável. Isto porque, ao adoecer,ele deixa de ocupar sua posição frente à sociedade, sendo impedido, muitas vezes, de realizar suas funções como, por exemplo, ser membro de um grupo de trabalho, social e familiar. Dentro dessa premissa, o desejo de realizar essa pesquisa surgiu a partir da disciplina Estágio em Saúde associado à experiência da pesquisadora adquirida durante os 11 anos em que atua nessa profissão como Técnica em Enfermagem, durante, sendo 5 anos em uma Unidade de Terapia Intensiva UTI. Junto a este,soma-se a necessidade de buscar uma maior compreensão dos aspectos emocionais envolvidos neste processo através da escuta terapêutica e por acreditar na importância de um profissional de psicologia dentro de um hospital e,especificamente, na UTI. É importante ressaltar que o paciente muitas vezes vem em estado grave e inconsciente.Quando recobra a sua consciência,depara-se com um ambiente diferente, especificamente em uma UTI, longe da família. Um lugar cheio de regras e normas a serem obedecidas, no dia a dia o paciente vai gerando ansiedade e angústia. O ambiente UTI, por si só, já é propício para o paciente apresentar quadro de desorientação, em que o mesmo fica sem noção de tempo e espaço, misturado com ruídos constantes dos equipamentos hospitalares, a rotatividades dos funcionários, aos gemidos dos outros pacientes e à falta de privacidade. A morte do outro e os procedimentos chamados invasivos e não invasivos que são os exames em excesso, medicações, procedimentos realizados fazem com que o paciente, consequentemente, perca referências fundamentais 21 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 do seu estado de equilíbrio emocional e, principalmente, para aqueles que veem a UTI, como o fim da vida, e não como um ambiente de tratamento intensivo para pacientes em estado recuperáveis. Neste contexto, o problema da pesquisa foi definir os aspectos emocionais vivenciados pelo paciente durante internação em uma UTI? O objetivo geral foi compreender os aspectos emocionais vivenciados pelo paciente no processo de adoecimento e cuidados intensivos em UTI e os objetivos específicos: identificar as necessidades psicológicas do paciente diante do tratamento na UTI, identificar se ocorre o processo de resiliência no paciente e verificar a existência de luto antecipatório no paciente 2 MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi submetida à apreciação e autorização dos Comitês de Ética e Pesquisa do Hospital e da Faculdade Integral Diferencial - FACID, como orienta a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996). Após a aprovação obtida nos referidos comitês, iniciou-se a coleta dos dados. Para tanto, foi realizada uma reunião com o Diretor clínico e a psicóloga do referido hospital. A priori, esclareceu-se, sobre o estudo, quais pacientes poderiam participar. A instituição, por sua vez, priorizou a participação de paciente internados pelo o Sistema Único de Saúde - SUS. Sem distinções de faixa etária, sexo, que se encontravam hospitalizados, com doenças agudas ou crônicas ou uma internação definida, para se submeterem a uma cirurgia cardíaca, nesse momento eram capazes de compreender situações mais complexas, tendo capacidade de raciocínio lógico, expressão verbal como:a percepção de valores, limites e regras. Em caso de aceitação, participantes ou os responsáveis legais assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE, ainda como garante a Resolução 196/96 (CNS). As entrevistas foram gravadas após o consentimento dos participantes e responsáveis para uma análise mais fidedigna de seus conteúdos. A classificação da seguinte pesquisa se deu através de um estudo de campo de natureza exploratória, tendo como objetivo familiarizar-se com um assunto ainda pouco conhecido e explorado. Ao final da pesquisa exploratória, pôde-se conhecer mais sobre o assunto. A metodologia desta pesquisa teve enfoque qualitativo que, segundo Minayo (2006), método se aplica ao estudo da história, relações, representações, crenças, percepções e opiniões, produto das interpretações que os humanos 22 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 fazem a respeito de si mesmo, sentem e pensam. Permite à construção de novas abordagens, revisão e criação de novos conceitos e categorias durante a investigação. A pesquisa foi realizada no período de setembro a novembro de 2010. Teve como critério: a inclusão dos pacientes que estiveram internados na UTI do referido hospital. Desta forma participaram da pesquisa oito pacientes voluntários de ambos os sexos, com faixa etária de 07 a 69 anos. Inicialmente foi solicitada uma declaração da instituição hospitalar, autorizando a pesquisadora a ter acesso às suas dependências para a coleta de dados. Foi utilizado para a coleta dos dados o questionário sócio-demográfico, com o objetivo de identificar variáveis e as características sócio-culturais dos participantes, tais como: sexo, idade, escolaridade, renda familiar, religião etc; e a entrevista semiestruturada, na qual Gil (1999) define entrevista como uma técnica onde o entrevistador se coloca perante o entrevistado a fim de formular perguntas com o objetivo de obter dados referentes à investigação. As aplicações dos instrumentos foram realizadas, de forma individual, no próprio ambiente hospitalar após o paciente ter tido alta da UTI e ter sido transferido para o apartamento. Em alguns casos houve a necessidade de se ter mais de um encontro, sendo este acordado antes com o participante. Posteriormente, as entrevistas foram transcritas e analisadas utilizando o método da Análise de Conteúdo dos dados coletados. A análise de conteúdo refere-se a técnicas de pesquisa que possibilitam tornar replicáveis e válidas inferências sobre dados de um determinado contexto, através de técnicas especializadas e científicas (MINAYO, 2006). Os dados coletados foram analisados e interpretados com base no referencial teórico e objetivos propostos, bem como sob a questão principal da pesquisa. Os resultados desse estudo foram agrupados e a partir destes elencaram-se as seguintes categorias: Sentimentos dos pacientes emergidos durante a internação na UTI; Resiliência: uma ressignificação de sua condição de doença para saúde; e o surgimento do luto no processo de internação na UTI. Vale ressaltar que foram utilizados nomes fictícios para um maior sigilo dos participantes 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 23 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 A amostra foi composta por oito pacientes, sendo quatro do gênero feminino e quatro do gênero masculino, da faixa etária de 07 a 69 anos de um hospital da rede privada da cidade de Teresina-PI, que estiveram internados na UTI. Os 05 participantes cursaram o Ensino Fundamental e 03 analfabetos. Destes, 07 se declararam católicos, 01 evangélico. Os 07participantes pertencem à classe média baixa e 01de classe média alta. Sendo que 03 possuem o estado civil casado e 01 viúvo e 03 solteiros. 04 participantes constituem família filhos e 03 não possuem filho, e que 03 são estudantes e 02 lavradores 01 aposentado e 02 do lar. Os conteúdos coletados nas entrevistas foram transcritos fielmente, organizados e categorizados de forma criteriosa com base no referencial teórico e nos objetivos propostos, bem sob a problemática da pesquisa. Diante disso, foram construídas as seguintes categorias: sentimentos emergidos durante a internação na UTI, residência e o leito. 3.1 Sentimentos emergidos durante a internação na UTI Numa internação hospitalar,o ser humano é perpassado por entrechoque constante entre a vida e a morte, que fortalece a ruptura do paciente com seu cotidiano, intensificando o processo de adoecer, devido à ameaça sentida pela quebra da rotina e dessa forma promovendo regressões emocionais. Tratandose de uma hospitalização em uma UTI, o paciente fica com sentimentos de vulnerabilidade, visto que a doença é fator de desajuste, traz sentimentos negativos, promove alterações na sua vida que geram sentimentos de medo, ansiedade e muitas vezes, estes sentimentos estão relacionados com o fato de estar só, ser colocado num papel de dependente passivo. Essa ideia é reforçada por Angerami-Camon (1995), ressaltando a importância do psicólogo hospitalar para amenizar o sofrimento gerado pelo adoecimento e hospitalização, evitando as possíveis sequelas emocionais. Um destaque relevante nas entrevistas foi referente ao sentimento de solidão, medo, angústia,raiva,ansiedade, como é possível observar na fala do paciente entrevistado: [...] a gente sente a presença da pessoa e tenta falar, mas não consegue, incomoda tanto, é horrível, a gente se sente só (Rosa). 24 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 No momento em que o paciente encontra-se hospitalizado, ele se depara com vários fatores que influenciam na sua rotina. Como o afastamento de seu ambiente físico e familiar, às vezes,é privado da companhia de seus familiares, colegas, gerando sentimento de solidão, dor que são reforçados pela condição necessária para um bom funcionamento do hospital, das regras, limitações impostas de acordo com o procedimento hospitalar. Este fato evidencia-se na fala de Azaléia, Tulipa e Orquídea: O ruim é que a gente fica só, naquela UTI, e só depois de muito tempo é que a mãe da gente entra (Azaléia). Mas agora eu me sentir tão só aqui.... Com o passar dos dias, eu me sentia mas só, cadê minha família (Tulipa). [...] mais a insegurança ronda pela gente, é muito solitário, não temo calor eu a gente tem na casa da gente, da pra ficar louca ali (Orquídea). O mesmo por está só em um ambiente estranho causa inquietação, com estruturas rígidas que o descaracteriza, partilhando o mesmo espaço físico com pessoas fora de seu convívio familiar e ainda pela preocupação com sua evolução clínica da doença. A internação é uma ruptura da história do indivíduo, presencialmente quando ele se dá conta que não é o mesmo (CAMPOS, 1995). Mas agora eu me senti tão só aqui.... Com o passar dos dias, eu me sentia, mas só, cadê minha família (Tulipa). AA fala acima evidencia que o sujeito é um ser que necessita de companhia, podendo, num pro cesso de isolamento, desenvolver questões emocionais que podem desencadear um adoecer. Outro sentimento muito presente é a raiva e só vem a reforçar a falar Kubler-Ross (2000) que o estado emocional do paciente, faz com que ele, se queixe: "que mal fiz" acontece muito comumente, o doente se sente castigado, com muita raiva, ressentido, e esses sentimentos provocam, muitas vezes, protestos contra si mesmo ou contra o destino, Deus, por exemplo. E foi observado na fala de Tulipa, significativamente: [...] e pergunta logo meu Deus por que logo comigo, fiquei com raiva de mim mesmo.... Foi o maldito cigarro. 25 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Outro sentimento que surgiu foi o medo,um sentimento que causa um estado de alerta, demonstrado pelo receio de alguma coisa, por sentir-se ameaçado,fisicamente ou psicologicamente, e neste contexto fortaleceu-se que o medo que o paciente sente na sua hospitalização apresenta-se também como sentimentos ambíguos como retrata a fala abaixo:: [...] Medo, insegurança, angustia, o coração que estava fraco batia forte e eu ficava mais cansado ainda (Violeta). Os sentimentos representam para o ser humano a vivência do cotidiano num misto de aceitação e rejeição, em movimentos que se apresentam como agradáveis e desagradáveis evidenciando na percepção a dor, angústia, aquilo que não se consegue esconder (VISCONTT, 1982). No relato abaixo da paciente entrevistada, perceberam-se essa dor e a angústia: [...] e foi crescendo com o passar dos dias, tudo vai ficando insuportável, angustia aumenta mais, e a gente se irrita com tudo, [...] angustia, o coração que estava fraco batia forte e eu ficava mais cansado ainda (Violeta). A internação é vista como uma experiência ruim, dolorosa, angustiante por quem a vivencia, passando pelo medo diante do desconhecido, de um futuro sem perspectivas. Encontrar-se em um ambiente estranho ao seu, doente, sem a família propicia relevantemente o aumento da ansiedade no paciente,sendo este aumento gerador de angústia. [...] E como se crescesse um sentimento, angustia, a gente fica mais doente aos poucos. E ter que passar por esses processos todos deixa a gente desconsertada [...] Da muita angustia (Cravo). A dor do doente, conforme Angerami-Camon (2004), aumenta pela possibilidade da morte, trazendo para a dimensão do orgânico e remitindo para o corpo como aumento nos batimentos cardíacos, dor no peito, dor de cabeça, falta de apetite, insônia como também medo e angústia O pensamento, segundo Merskey (1994), é um dos fatores psicológicos a dominar ou desencadear a dor, produzindo estresse, e colocando o homem numa fragilidade e complexidade de eventos que podem desenvolver a resposta da dor, e com isso desencadeia o estresse. 26 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 E esse sentimento de dor que é desencadeado nos pacientes não só como dores no corpo,e sim generalizadas em todos os aspectos físico,psíquico e sociais, como relata a fala abaixo: [...] e as dores, são tantas, dor por está só, dor no corpo, do na alma [...] eu imagina vim pra ficar bom e cada dia está aparecendo mais doenças, e as dores, é tantas, dor por está só, dor no corpo, do na alma. (Girassol) O estresse, segundo Lipp e Malagris (1995), pode provocar reações psicofisiológicas e estas ocorrem como resposta a um estímulo, sendo causado quando o indivíduo confronta-se com diversas situações, sejam agradáveis ou desagradáveis em circunstância da dor, e que há um círculo vicioso entre o desencadeamento da dor e um estado emocional. Os sentimentos envolvidos naquele momento são intensos, englobam tanto elementos internos como externos, nos relatos percebeu-se que a reação corporal, o medo de não ter sua vida de volta, é uma resposta a sua condição e ao ambiente. Observa-se de forma significante que o ser humano não está preparado para sofrer danos emocionais e se sente esgotado de suas forças. A dor faz com que o paciente sinta esse dano emocional, sem fugir da realidade do ser doente. O enfermo tem reações variáveis no processo da perda da saúde e produz uma repercussão emocional. Não é a dor que a doença traz que incomoda, é algo mais subjetivo: é a dor de saber-se doente, de perder a condição de sadio e, em muitos casos, a não elaboração do luto pela perda da saúde,leva o indivíduo para a cronicidade (ANGERAMI-CAMON, 1995). Percebeu-se na fala acima a relevância deste luto, pois cada paciente tem uma reação e vai depender da capacidade emocional de cada um, na elaboração do luto pela condição anterior de sadio e consequentemente adaptação à nova situação do ser doente. A atividade constante na UTI, nas 24 horas, a rotina repetida inúmeras vezes, o acordar, o dormir intermitente do enfermo, a ausência do contato com o mundo externo, a falta de uma conversa, de orientação acabam trazendo para a pessoa, com mais de três dias de UTI, uma perda inicial de tempo cronológico. Tal situação aos poucos vai se agravando com a perda da consciência, do tempo, do espaço físico, de tal forma que comportamentos estranhos começam a aparecer. (Sebastiani, 2000), estando presentes os indicadores de agravamento do estado do paciente e reconhecidos,significadamente, na fala abaixo: 27 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 [...] e tudo isso vai deixando a gente louca parece que a gente perde a noção, lá dentro, não tem uma brecha para a gente vê se é dia ou noite, só quando alguém chega e diz bom dia, ou boa tarde, ou boa noite, e toda hora é uma pessoa diferente (Violeta). A internação relaciona-se a uma perda de autonomia, visto que, ao ser levado para o hospital, o indivíduo perde parte do domínio sobre si mesmo, passando de agente para paciente, tanto no sentido psicológico como orgânico (Sebastiani, 1984 apud CAMPOS, 1995). Os procedimentos realizados pelos profissionais, no dia a dia, deixam, visivelmente, o paciente impotente.Falta-lhes autonomia de tomar suas próprias decisões.Perdem o controle de si mesmos, que por sua vez causam o sentimento de constrangimento. Este sentimento foi observado com aspecto bastante relevante na fala do paciente entrevistado: Aquelas máquinas ligadas apitando, é ruim, e quando a gente acorda que tem um tubo, na boca da gente, e fica sufocado, querendo falar, dá um desespero, amarrado querendo se soltar. E o pior é pelado a gente fica pelado e o povo vendo a gente pelado... Eu tava morto de vergonha (Rosa). Muitos pacientes podem entender a internação hospitalar, como uma agressão, porque o mesmo é instituído e reforçado a circunstância externa de que é delegado de uma doença, impondo as normas da instituição e decidindo tudo ou quase tudo pelo paciente que aos poucos vai perdendo sua autonomia. Dessa forma o paciente começa a assumir outro semblante, o criado pela instituição (CAMPOS, 1995). Outros fatores que promovem o estresse do paciente internado em UTI é a ventilação mecânica, que leva o doente a sentir desconfortos, deixando-os agitados e impacientes, aumentando o medo de morrer ou de não falar mais. Através dos relatos de Girassol, Margarida e Orquídea pode-se observar a intensidade da aflição passada por eles enquanto estavam entubados: [...] aquele negocio que fica na nossa boca Deus me livre, eu pensava que iria morrer (Margarida). [...] quando acordei que tinha aquele negocio na boca da gente e eu queria falar e não conseguia mexia a cabeça de um lado pro outro.. a sensação é de está sufocado e muito ruim (Orquídea). 28 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 [...] eu só me lembro que quando eu acordei estava amarrado com um tubo na boca. Não conseguia falar, colocava tanta força, aí vinha uma pessoa e coloca um remédio acho que era eu dormia sem querer. E quando eu acordava ficava sufocado de novo. Aquele tudo, na boca eu nem sei como falar. Eu não podia falar, ele impede a gente de tudo, e eu ficava agitado (Girassol). A condição de estar naquele lugar, um lugar que não é o seu, frio, solitário, traz aos internados sentimentos negativos que não os deixam ter a esperança de uma melhora ou até mesmo de saírem dali. 3.2 Resiliência: uma ressignificação de sua condição de doença para saúde Quando se trata de um paciente internado em UTI, a capacidade de resiliência de superar a situação é importantíssima para sua recuperação. Como mencionado, a vivência na UTI pode representar uma série de perdas e traumas e superar todas essas circunstâncias implica uma melhora da qualidade de vida. A resiliência está relacionada ainda à promoção de saúde, na medida em que prioriza o potencial das pessoas em produzir saúde (SILVA et al., 2005). No contexto de adoecimento de internação e também de UTI, essa capacidade individual de fazer saúde faz toda a diferença. O relato da Tulipa apresenta,de forma clara,um descontentamento em estar numa UTI, já que é o momento não é bom, mas logo é notável que,mesmo com esse sentimento negativo presente, o paciente apresenta pontos positivos que é ressaltado no relato a seguir: Não é bom, mas agradeço a Deus, por está vivo [...] agora eu aprendi a da valor a minha família. Agora vou viver (Tulipa). A Resiliência, conforme Barbosa (2006), necessita ser compreendida como um amálgama de sete fatores: a administração das emoções que é a habilidade de se manter sereno diante de uma situação de estresse, quando isto acontece às pessoas que passam por esse fator são capazes de utilizar pistas nas outras pessoas para se reorientar e promovendo a autorregulação;O 2º fator é o controle de impulsos que é a capacidade que o ser humano tem de regular a intensidade do mesmo e garante a autorregulação dessas emoções ou a possibilidade de dar a devida força à vivência de emoções; 3º fator: no otimismo ,há um investimento contínuo de esperança e, por isso mesmo; a convicção da 29 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 capacidade de controlar o destino da vida, mesmo quando o poder de decisão estiver fora das próprias mãos. 6º fator:A análise do ambiente é a capacidade de identificar as causas dos problemas e das adversidades presente no ambiente. Essa possibilidade habilita a pessoa a se colocar em um lugar mais seguro do que se posicionar em situação de risco. 7º fator : A empatia, que constitui a Resiliência, significa a capacidade que o ser humano tem de compreender os estados psicológicos dos outros. Foi verificado nas falas dos entrevistados da pesquisa o quanto o otimismo propiciou um estado de segurança e superação no momento da transição do adoecer para a cura. Para o paciente acreditar na esperança, ter a possibilidade de controlar o destino da vida, mesmo quando o poder de decisão está fora das próprias mãos é motivador, que,apesar das dificuldades, eles encontram uma maneira de ressignificar e prosseguir suas vidas. Assim como a fala do paciente entrevistado Girassol nos mostra: [...] agora to aqui contando a historia, rir. rir..... Feliz por ter passado por tudo isso, essa doença só veio me fortalecer, Deus me deu mais uma oportunidade de viver, e de valorizar mais a vida. Assim sendo, a resiliência dos pacientes torna-os capazes de lidar com as pressões de situações adversas. Quando estes ressignificam sua condição presente, lutando pela sua integridade física e seu estado de equilíbrio emocional, pois com a resiliência, eles conseguem se recuperar, vencer cada desafio do momento do adoecer. Observa-se que quanto mais resiliente se tornarem, menor será o índice de doenças e maior será o desenvolvimento pessoal. Verificou-se,com os relatos dos pacientes e juntamente com os pensamentos dos autores, que resiliência significa equilíbrio entre tensão e a capacidade de lutar, além de servir de aprendizado para estarmos preparados quando outra situação adversa acontecer. 3.3 O surgimento do luto no processo de internação na UTI O luto é uma reação às perdas significativas, sejam reais ou simbólicas, que o ser humano vivencia no seu cotidiano. O ser humano pouco sabe a respeito das reações da perda e luto, ou como se constitui um luto saudável e normal, quanto ele é inevitável ou conveniente para se resolver uma perda. O sofrimento 30 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 é algo pessoal e cada pessoa procura seu meio para superá-lo, demonstrando que para toda perda significativa seguir-se-á um processo de luto. Cada sujeito, segundo Kubler-Ross (2000), tem seu jeito tradicional a respeito do luto saudável, seja de maior ou menor intensidade. A autora acrescenta ainda que os sentimentos de invasão, impotência, perda da condição da pessoa e despersonalização são os mais comuns e, por ser um processo individual, às vezes essas perdas são simbolizadas como morte. Percebeu-se,nas falas dos pacientes entrevistados,que com a perda da condição de sadio para a condição de doente, os mesmos ficaram fragilizados, desenvolvendo pensamento de não recuperação, e com a forte presença do morrer. No relato de Rosa é possível perceber essa fragilidade, o medo de morrer: [...] eu ter que fazer essa cirurgia e morrer, será que meus amigos gostam de mim, e meus pais eles iam sofrer, me deu um aperto no peito, muito grande, uma vontade de chorar mais não quis mostrar para meus pais que tava com medo. Frente a uma dificuldade, o sentimento de morte aparece colocando muitas vezes o sujeito numa antecipação que pode deixá-lo sem saída. O sentimento de morte está presente, independente de idade ou sexo, e, cada indivíduo lida com este como pode, num misto de sensações e incertezas que são impostos cotidianamente, sendo vivenciados de diferentes formas, dependendo de como o indivíduo encontra-se (KOVÁCS, 1987). O medo da morte é um sentimento presente nos relatos dos participantes da pesquisa, constatando-se um sentimento de impotência diante da vida, evidenciando um não controle sobre a mesma, gerando insegurança. Corroborando com este pensamento Ismael (2005) relata que a internação em uma UTI desperta sentimentos de insegurança, ansiedade e temor da morte que podem exacerbar no paciente e em seus familiares a crise desencadeada pelo adoecer, sendo necessário um profissional habilitado para lidar com esses sentimentos. Esse medo é perceptível através da fala abaixo: [...] O sentimento mais forte é a presença da morte, Medo de morrer, não vê mais meus filhos, de não poder voltar pra minha casa, andando com minhas próprias pernas (Orquídea) Através da literatura e dos relatos dos entrevistados, foi observado a dependência da condição de doente e como esta dependência gera transtornos, conflitos para o cotidiano da vida de cada um. 31 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 O paciente com seu adoecer,dar-se conta de que está doente, o sentimento de morte é intensificado, é um processo que ocorre mediante a fragilidade do mesmo, tal circunstância aponta para uma consciência de gravidade da doença e finitude. É possível dizer que as condições de internado numa UTI elaboram seus lutos, sobrevivem às perdas e, por meio de diferentes figuras de apego, que fornecem suportes externo e interno nos momentos de adversidade, reorganizam suas vidas. Kubler-Ross (2000) diz que a pessoa sobrevive ao processo de doença, muitas vezes, mais do que sobrevive, reorganiza e ressignifica a vida. 4 CONCLUSÃO A presente pesquisa identificou a internação como uma experiência delicada, com acontecimentos inesperados, gerando tanto sentimentos inquietantes e estranhos, como ganhos negativos e positivos no decorrer do processo do seu adoecer. Observou-se que esta provoca sensações de horror por evocar a possibilidade de morte que advém com o sentido que cada paciente dar ao desenvolvimento da sua doença. Vale considerar que os medos supostamente imaginários podem ter uma base concreta. A doença, às vezes, é vista como castigo, punição e a tristeza,denotam um descontentamento, por imaginar que não poderá desempenhar suas atividades de rotina e ter dado preocupação aos familiares. O término desse processo desencadeia os sentimentos de esperança, de um novo recomeço. De acordo com as falas dos participantes pode-se identificar um grau elevado de resiliência desses pacientes, ou seja, a capacidade de se ressignificar, passando a encarar com tranquilidade as adversidades, chegando até mesmo a agradecer a Deus por essas experiências traumáticas vivenciadas por eles. A presença do luto antecipatório também foi confirmada nas falas, conforme o teórico aponta. Isso sinaliza a necessidade de preparar emocionalmente o paciente para situações de angústia e estresse no contato com a hospitalização em uma UTI, buscando amenizar seus medos e fantasias. Os exames, além de invasivos, agressivos e dolorosos, requerem aparelhagem complexa que emitem sons e ruídos, aumentando o nível de insegurança dos pacientes. Embora esses procedimentos não possam ser evitados, podem ser suavizados pela sensibilidade da assistência humanizada. 32 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Em decorrência dessa grande mobilidade emocional pelos entrevistados, observou-se a necessidade da presença de um profissional da psicologia como parte integrante da equipe da UTI, que possa auxiliar os pacientes a lidar com os aspectos advindos da hospitalização em UTI, tais como sentimentos de angústia, solidão, medo, dor, encontrados no decorrer da pesquisa, evidenciando um grau de vulnerabilidade nos pacientes. Sugiro novas pesquisas nesse sentido, uma vez que, nem todos os hospitais da cidade disponibilizam psicólogos inseridos na equipe de Unidades de Terapia Intensiva. REFERÊNCIAS ANGERAMI-CAMON, V. A. O psicólogo no hospital. In ANGERAMICAMON, V. A. (Org.). Psicologia hospitalar: teoria e prática. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 1995. __________ (Org.). 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Campinas: Editorial Psy, 1995. KUBLER-ROSS, E. Sobre a morte e o morrer. São Paulo, Martins Fontes, 2000. KOVÁCS, M. J. O medo da morte: uma abordagem multidimensional. Boletim de Psicologia, São Paulo, v. 37, n.87, p. 58-62, jul./dez.1987. MERSKEY,H. Pain and psychological Medicine. In: WALL, P. D.; MELZACK, R. Textbook of pain. Thind Edition. London: Churchill Livingstone,1994. MINAYO, M. C. S. O Desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 9. ed.São Paulo: Hucitec, ed. 9º, 2006 ROMANO, B. W. Princípios para a prática da psicologia clínica em hospitais. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. SEBASTIANI, R. W. Historia e Evolução da Psicologia da Saúde numa Perspectiva Latinoamericana. In: ANGERAMI-CAMON, V. A. A psicologia da saúde. São Paulo, Pioneira, 2000. SILVA, M. R. S. et al. Resiliência e Promoção da Saúde. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, v. 14, n. especial, pp.95-102, 2005. VISCONTT, D. S. A linguagem dos sentimento. Tradução Malta S. S. R. L. São Paulo: Summus, 1982. 34 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 A CONTRIBUIÇÃO DA GERÊNCIA DE ENFERMAGEM NA ASSISTÊNCIA PRESTADA EM UNIDADE HOSPITALAR PÚBLICA THE CONTRIBUTION OF MANAGEMENT OF NURSING CARE PROVIDED IN PUBLIC HOSPITAL Bárbara Karla Bezerra Martins¹, Amália de Oliveira Carvalho² RESUMO A administração encontra-se em todos os campos da sociedade, não sendo diferente no serviço hospitalar, que exige um planejamento rigoroso para seu bom funcionamento. O estudo objetivou identificar a relevância do trabalho da Gerência de Enfermagem na assistência prestada por sua equipe, descrever os elementos do trabalho do Gerente de Enfermagem na rede hospitalar pública e averiguar o conhecimento que os gerentes de enfermagem possuem sobre as competências que a atividade requer. Uma pesquisa de campo, do tipo exploratória, descritiva e qualitativa realizada de janeiro a fevereiro de 2011 em Hospitais Municipais de Médio Porte em Teresina - PI após aprovação pelo CEP da FACID - Protocolo n. 242/10 com quatro participantes. Os dados obtidos através de um roteiro de entrevista semiestruturado foram analisados e apresentados em seis categorias. Os resultados apontaram que a assistência de enfermagem prestada em Unidades Hospitalares sofre influência direta do gerenciamento, que para assumir esta função o enfermeiro deve contemplar competências inerentes ao cargo. A realização de capacitação administrativa é fundamental para um bom desempenho de suas atividades e que o gerente de enfermagem necessita de vários instrumentos, como índices mensais, regimento interno e relatório para que tenha uma realização satisfatória do seu trabalho. Concluiu-se que o gerente de enfermagem é fundamental para a existência de uma assistência de qualidade, que as atividades por ele desenvolvidas possuem _____________ ¹ Graduanda do Curso de Bacharelado de Enfermagem pela Faculdade Integral Diferencial (FACID). Teresina-PI. Tel.: (86) 9911-8883. e.mail: [email protected].. Rua do Lírio, nº 995, Bairro São Cristovão. Teresina-PI. ² Docente do Curso de Enfermagem da Faculdade Integral Diferencial (FACID). Especialista em Educação, Desenvolvimento e Políticas Educativas. Faculdade Adelmar Rosado. Avenida Barão de Gurguéia, n. 3601, Condomínio Dom Avelar, B.12, Ap. 202, Tabuleta. Tel.: (86) 9949-7900. Brasil. e.mail: [email protected]. 35 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 caráter decisivo para obtenção de meios e recursos para desempenho efetivo da equipe de enfermagem. Palavras-chave: Assistência. Cuidados de Enfermagem. Enfermagem. Gerência. ABSTRACT The administration is in all fields of society, not different in the hospital service, which requires rigorous planning for its effective functioning. The study aimed to identify the relevance of the work of the Management of Nursing in the assistance provided by his team, describing the elements of work of nursing manager in public hospital network and determine the knowledge that nursing managers have the skills on which the activity requires. It is a field research, an exploratory, descriptive and qualitative study from January to February 2011 in the Midsize city hospitals in Teresina - PI after approval by the IRB of FACID - Protocol 242/10 with four participants. The data obtained through a semi structured interview guide were analyzed and presented in six categories. The results showed that nursing care in hospital units suffer direct influence of management, who assume this role for nurses should include responsibilities of the position. The performance of administrative capacity is crucial to good performance of its activities and the nursing manager requires several instruments, such as monthly indexes, bylaws and report in order to have a satisfactory completion of their work. It was concluded that the nursing manager is crucial to the existence of quality care, that the activities he developed have decisive character for obtaining funds and resources for effective performance of the nursing staff. Keywords: Health. Nursing Care. Nursing. Management. 1 INTRODUÇÃO A administração encontra-se em todos os campos da sociedade, não sendo diferente no serviço hospitalar, que exige um planejamento rigoroso para seu bom funcionamento. Assim, cada setor que compõe uma unidade hospitalar possui um gestor, que tem como função primordial planejar e organizar o serviço prestado pelos seus colaboradores. 36 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Kurcgant (1991) considera o serviço de enfermagem como um grupo organizado de pessoas, onde é grande o número, a complexidade e a diversidade das atividades realizadas, é evidente a necessidade da divisão e distribuição do trabalho entre os seus elementos, bem como o estabelecimento do padrão de relações entre eles. Com isso os esforços são coordenados para o alcance do objetivo proposto, que é a prestação da assistência de enfermagem, sendo fundamental a existência de um Gerente de Enfermagem para eficácia do serviço ofertado. De acordo com Greco (2004) a função gerencial é um instrumento capaz de política e tecnicamente organizar o processo de trabalho com o objetivo de torná-lo mais qualificado e produtivo na oferta de uma assistência de enfermagem universal, igualitária e integral. Nesse contexto o presente estudo teve com objetivos identificar a relevância do trabalho da Gerência de Enfermagem na assistência prestada por sua equipe; descrever os elementos do trabalho do gerente de enfermagem na rede hospitalar pública; averiguar o conhecimento que os gerentes de enfermagem possuem sobre as competências que a atividade requer. Baseado na contribuição do gerente de enfermagem na assistência prestada em unidades hospitalares públicas surgiram as seguintes questões de pesquisa: O trabalho do gerente de enfermagem interfere no resultado da assistência prestada? Quais os recursos utilizados pelo gerente de enfermagem no desenvolvimento de suas atividades laborais? Quais as competências que o enfermeiro deve possuir para assumir o cargo de gerência? Assim estas nortearam o desenvolvimento do trabalho. 2 METODOLOGIA A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Integral Diferencial - FACID sob protocolo de N. 242/10, de acordo com todos os preceitos éticos contidos na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta as pesquisas envolvendo seres humanos. Realizou-se uma pesquisa de campo do tipo exploratória e descritiva com abordagem qualitativa em Hospitais Municipais de Médio Porte em Teresina - PI, no período de janeiro a fevereiro de 2011. Foram entrevistados quatro enfermeiros que atuam como gerente de enfermagem através de entrevistas do tipo semiestruturados, aplicados de forma presencial. 37 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Os dados obtidos foram tratados de acordo com a técnica de análise de conteúdo e, após tratados apresentaram as seguintes categorias: Relevância da Gerência de Enfermagem na Assistência Prestada; Gerenciamento da Assistência/ do Cuidado; Competências do Gerente de Enfermagem; Os Elementos de Trabalho do Gerente de Enfermagem; Capacitação na Área Gerencial/ Administrativa e Capacitação da Equipe de Enfermagem - Educação Permanente 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 O perfil dos Sujeitos Foram entrevistadas quatro enfermeiras que ocupam o cargo de Gerente de Enfermagem de hospitais municipais de Teresina, com faixa etária de 25 a 31 anos, com tempo de formação menor que 10 anos, e com experiência em gerenciamento de um ano e meio a dois anos. Três delas já realizaram curso de aperfeiçoamento na área gerencial, sendo que nenhuma das entrevistadas possuía qualquer experiência prévia em cargo gerencial antes de assumir a gerência de um hospital pela primeira vez. 3.2 A Categorização 3.2.1 O Processo do Trabalho Gerencial e a sua Importância Entre os séculos XIX e XX, Florence Nightingale (1820-1910) demonstrou a importância da aplicação da ciência de administração nos hospitais, visando à melhoria do atendimento de saúde aos clientes. De uma forma inovadora, essa grande líder mostrou que atividades destinadas ao preparo do ambiente, onde o cliente se hospitalizava, proporcionando higiene, aeração e conforto, tornavam o ambiente terapêutico. Esse ambiente tinha a finalidade de contribuir para que as forças da natureza agissem aumentando o potencial de reação humana às diversas situações provocadas pelas doenças (SANTOS; OLIVEIRA; CASTRO, 2006). Gomes et al. (1997, apud KURCGANT, 2005) afirmaram que a Enfermagem moderna surge exercendo o gerenciamento, pois assume tanto à organização do ambiente quanto a organização e treinamento dos agentes de enfermagem. No que se refere à organização e a execução do cuidado do doente, o faz formando duas categorias diferentes - as lady nurses, que executam 38 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 as atividades de supervisão e ensino e as nurses, que eram responsáveis pelos cuidados propriamente ditos. A função administrativa é inerente à prática profissional do enfermeiro, acreditando que sejam muitos os benefícios que essa função, exercida sob orientação de novos padrões e valores, poderá trazer para as organizações de saúde, para os serviços de enfermagem, para a classe profissional e principalmente para o cliente (GAIDZINSK; PERES; FERNANDES, 2004). Os enfermeiros devem estar aptos a tomar iniciativas, fazer o gerenciamento e administração tanto da força de trabalho, quanto dos recursos físicos e materiais, da mesma forma que devem estar aptos a serem empreendedores, gestores, empregadores e lideranças na equipe de saúde. O enfermeiro tem sido o responsável pela organização e coordenação das atividades assistenciais dos hospitais e pela viabilização para que os demais profissionais da equipe de enfermagem e outros da equipe de saúde atuem, tanto no ambiente hospitalar quanto na saúde pública (PERES; CIAMPONE, 2006). A partir do que foi relatado acima pode-se perceber que a Gerência de Enfermagem possui caráter decisório para a existência de uma assistência de qualidade na unidade hospitalar, já que o enfermeiro gerente tem a autonomia de planejar e supervisionar todas as atividades que devem ser desenvolvidas pela sua equipe na unidade, assumindo toda a responsabilidade das ações realizadas pela equipe de enfermagem. Assim, a ação gerencial pode ser desenvolvida de diversas maneiras, sendo importante que ocorra sempre o adequamento das características pessoais do gerente aos objetivos da organização, fazendo com que as atividades de enfermagem realizadas alcancem a excelência. Essa realidade pode ser confirmada nas falas abaixo: "traça metas através de planejamento de melhoria da assistência e põe em prática, reunindo equipe, e sensibilizando para a melhoria da assistência... a equipe de enfermagem é espelho do tipo de liderança que tem" (Rubi). "Influencia em todo o processo de trabalho de enfermagem desde o planejamento, supervisão e execução... ao gerenciamento de recursos materiais, quando o gerente de enfermagem faz a previsão , provisão, compra e armazenagem de forma planejada, isto influencia diretamente na assistência prestada ao paciente. Então são de várias formas que a gerência de enfermagem influencia na assistência prestada. Tanto positivamente como não [..]. Então, gerência e assistência estão interligadas" (Esmeralda) Não há mais como negar a importância da função gerencial como elemento integrante do trabalho da enfermeira, entendida numa lógica que 39 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 privilegia os interesses coletivos e dando concretude a uma assistência segura que leve em consideração as reais necessidades da clientela. Nessa realidade a enfermeira é o elemento da equipe de saúde que gerencia o cuidado prestado ao cliente (GAIDZINSK; PERES; FERNANDES, 2004). 3.2.2 Gerenciamento da Assistência/do Cuidado O gerenciamento do cuidado é tratado por esse autor como a expressão mais clara da boa prática de enfermagem, momento no qual há articulação entre as dimensões gerenciais e assistenciais para atender às necessidades de cuidado dos pacientes e ao mesmo tempo da equipe de enfermagem e da instituição (HAUSMANN; PEDUZZI, 2009). O enfermeiro gerencia o cuidado quando o planeja, quando o delega ou o faz, quando prevê e provê recursos, capacita sua equipe, educa o usuário, interage com outros profissionais, ocupa espaços de articulação e negociação em nome de melhorias do cuidado (ROSSI, 2003). Dessa forma existem diversas formas de realizar o gerenciamento, variando de instituição para instituição, de gerente para gerente, como pode ser percebido pelas falas das entrevistadas, que possuem estratégias próprias para gerenciar o cuidado prestado pela sua equipe. "Análises das atribuições do enfermeiro e auxiliar/técnico, através da agilidade com execução das rotinas, através de reuniões com a equipe" (Rubi). "Através de planos de ações e metas que são supervisionadas diariamente, através também de treinamentos e da educação permanente" (Safira). "Através da Sistematização da assistência de enfermagem (SAE) implantada nas clinicas. Supervisão dos relatórios e planos e metas serem atingidos" (Ametista). De acordo com Peterlini e Zagonel (2003) o profissional enfermeiro assume atividades gerenciais do cuidado em todos os campos de atuação, principalmente nos hospitais, devendo conscientizar-se que esta atividade exige a utilização de diversos instrumentos de gestão e que o processo de avaliação é um instrumento utilizado como prática sistematizada, visando ao direcionamento e redirecionamento das ações. Outros fatos que devem ser considerados são os interesses políticos e sociais que permeiam as funções gerenciais na enfermagem já que estes 40 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 influenciam diretamente o planejamento das atividades que são desenvolvidas pela equipe, sendo assim um fator determinante na qualidade da assistência prestada e como relatada na fala abaixo: "O gerenciamento do cuidado em enfermagem acontece em dimensões que denominam: Técnica, política e de desenvolvimento da cidadania. Técnica: são as competências tais como, planejar, supervisionar, dimensionar. No âmbito político é compreender a missão da instituição e trabalhar conforme os seus preceitos éticos no cuidado do paciente.No desenvolvimento da cidadania, você torna as relações sociais mais democráticas respeitando direitos e deveres dos pacientes. Sendo a enfermagem uma prática social" (Esmeralda). Greco (2004) diz que a função gerencial do enfermeiro é um fato e também recebe as influências de determinantes sócio-político-culturais e econômicos e não pode ser compreendida como um trabalho isolado. É um processo que depende de uma ação cooperativa de um grupo de pessoas, além disso, ela não é neutra, podendo assumir a posição de manutenção, reforma ou transformação, mas apesar disso não se pode dar a ela o papel principal e único dessas transformações. Percebe-se que para realização do gerenciamento do cuidado é necessário ter em mente todos os fatores relacionados ao desenvolvimento do cuidado, pois para se obter a excelência é necessária a obtenção da satisfação de todos os envolvidos nesta assistência. Sendo assim é difícil a tarefa de gerenciar o cuidado já que o desenvolvimento desta função sofre diversas influências que são fundamentais para a realização do processo gerencial. 3.2.3 Competências do Gerente de Enfermagem O termo competência é a integração e a coordenação de um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que na sua manifestação produzem uma atuação diferenciada. Trata sobre o domínio dos conteúdos no âmbito do trabalho e a posse de conhecimentos e habilidades necessárias para atividade. Diante disso, o enfermeiro que desempenha a função gerencial necessita contemplar conhecimento administrativo, financeiro, social, político e assistencial. Competência também vem sendo definida como um saber agir responsável e reconhecido que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que assegurem valor econômico à organização e valor social ao individuo (CUNHA; XIMENES NETO, 2006) 41 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Para o desenvolvimento das competências administrativa e gerencial é considerado indispensável um conjunto de conhecimentos que, na enfermagem, é determinado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) que vislumbram como principais competências a serem trabalhadas pelas instituições de ensino na formação do enfermeiro: a atenção à saúde, a tomada de decisões, a liderança, a comunicação, a administração e gerenciamento e a educação permanente (ROTHBARTH; WOLFF; PERES, 2009; PERES; CIAMPONE, 2006). Pode-se então afirmar que as competências requeridas para assumir um cargo de Gerência de Enfermagem são muitas e estas necessitam ser desenvolvidas durante a formação acadêmica relacionando a teoria com a prática, assim possibilitando a maior compreensão das funções desenvolvidas por um Gerente de Enfermagem. Sendo assim, foi possível perceber pelas falas das participantes que o Gerente de Enfermagem desenvolve diariamente diversas funções que estão diretamente relacionadas com as competências exigidas para o preenchimento do cargo, assim visando o bom desenvolvimento do serviço e a excelência na assistência oferecida na unidade que gerencia. "Responsável técnica por todas as ações de enfermagem, Tomada de decisões, supervisão da assistência como um todo, responsável por toda parte burocrática e administrativa, Dimensionamento de Enfermagem" (Rubi) "[...] Organização e planejamento dos planos assistenciais; Coordenar os programas existente na unidade de saúde; Bom relacionamento com a equipe; Um amplo conhecimento de formação acadêmica; Conhecimento administrativo e saber sobre os direitos trabalhista;" (Ametista). "Planejamento da assistência de enfermagem, elaboração de escalas de serviço, educação permanente de funcionários, gerenciamento de recursos matérias, elaboração de consolidados e indicadores, gerenciamento de resíduos sólidos de saúde. Atividades relacionadas à saúde do trabalhador, atividades relacionadas ao gerenciamento de custos hospitalares" (Esmeralda). O domínio das técnicas administrativas auxilia o trabalho gerencial, entretanto a atuação gerencial requer habilidades mais complexas que não somente o domínio das técnicas administrativas. Assim, não basta ser gerente, é necessário ser um bom gerente. E para isso é necessário possuir características inerentes a esta condição, bem como ser capaz de mobilizar conhecimentos, 42 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 habilidades e atitudes, além disso, aplicá-los em situações reais e concretas, de forma individual ou coletiva com a equipe de trabalho (ROTHBARTH; WOLFF; PERES, 2009). 3.2.4 Os Elementos de Trabalho do Gerente de Enfermagem O modo como desenvolvemos nossas atividades profissionais é chamado de processo de trabalho. Dito de outra forma pode-se dizer que o trabalho, em geral, é o conjunto de procedimentos pelos quais os homens atuam, por intermédio dos meios de produção, sobre algum objeto para, transformando-o, obterem determinado produto que pretensamente tenha alguma utilidade (FARIA et al., 2009). Para que possa obter um bom desempenho na realização de suas atividades o Gerente de Enfermagem necessita ter conhecimento absoluto de todo o funcionamento da unidade que gerencia. Sendo necessário o acesso de fontes que forneçam as informações sobre o estado que a instituição se encontra, possibilitando a realização de um planejamento adequado às necessidades existentes e consiga atender aos objetivos da instituição. Como também é de fundamental importância a existência de uma equipe capacitada para o desenvolvimento das atividades planejadas. No processo de trabalho gerencial, os objetos de trabalho do enfermeiro são a organização do trabalho e os recursos humanos de enfermagem. Para a execução desse processo, é utilizado um conjunto de instrumentos técnicos próprios da gerência, ou seja, o planejamento, o dimensionamento de pessoal de enfermagem, o recrutamento e seleção de pessoal, a educação continuada e/ou permanente, a supervisão, a avaliação de desempenho e outros. Também se utilizam outros meios ou instrumentos como a força de trabalho, os materiais, equipamentos e instalações, além dos diferentes saberes administrativos (KURCGANT, 2005), como confirmadas nas falas abaixo: "Recursos Humanos; Indicadores, escalas; Normas, rotinas, regimento interno "(Rubi). "Relatório dos profissionais de cada setor; Indicadores; Plano de ação; Reuniões" (Ametista). "Recursos físicos, recursos materiais, equipe bem capacitada. Recursos materiais englobam todos os que serão utilizados no cuidado de enfermagem como insumos, equipamentos, papeis..." (Esmeralda) 43 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Na dimensão gerencial do processo de trabalho do enfermeiro identificam-se diversas atividades que possibilitam a realização do gerenciamento; estas, por sua vez, são os instrumentos de trabalho do Gerente de Enfermagem, já que é por meio da efetivação de ações que o gerente consegue obter os resultados esperados podendo então concordar com Peterlini e Zagonel, (2003) que afirmam que instrumentos são os recursos utilizados para se alcançar um objetivo ou conseguir determinado resultado. 3.2.5 Capacitação na Área Gerencial/Administrativa A década que finalizou o milênio anterior foi extremamente profícua para a enfermagem, quer no campo da produção científico-acadêmica, quer no campo da prática assistencial e gerencial. Particularmente, na área do gerenciamento em enfermagem, tanto na dimensão teórica quanto na prática, a produção mostrou-se bastante fecunda, porém ainda insuficiente no que diz respeito aos saberes e fazeres específicos, o que indica necessidade de se pensar formas alternativas de gerenciamento em saúde. Para responder às demandas da problemática advinda do processo assistencial e, paralelamente, às demandas do processo gerencial, há que se rever e recompor os modelos de gestão, bem como, as competências inerentes à formação dos profissionais/gestores (CIAMPONE; KURCGANT, 2004). Baseado no que foi dito pelo autor acima, é um fato a necessidade da realização de uma reformulação na capacitação gerencial dos profissionais de saúde, principalmente os enfermeiros, pois já que estes são os que mais desenvolvem funções gerenciais. Assim, torna-se necessária a realização de uma capacitação na área administrativa, para fornecer suporte administrativo durante o desenvolvimento das funções gerenciais que lhe cabem. Além disso, a administração deixa de ser compreendida como uma atividade dicotômica à assistência de enfermagem e função restritiva, unicamente, a realização de atividades burocráticas, para ser entendida como sendo uma atividade que possibilita a base para assisti-lo (GRECO, 2004). Com a realização da pesquisa foi possível observar que a maioria das entrevistadas realizou algum tipo de capacitação gerencial/administrativa que lhes favoreceram melhor realização das suas atividades laborais diárias. "Sim, (capacitação de gerente de enfermagem)" (Rubi). 44 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 "Sim. Gerência administrativa + implantação da SAE" (Ametista). "Sim, sobre dimensionamento de pessoal, sistematização da assistência de enfermagem, curso sobre responsável técnico. A experiência na docência de enfermagem: Gerenciamento do processo de trabalho em enfermagem" (Esmeralda). Vale ressaltar que a realização de uma capacitação é importante, mas a prática diária é fundamental para realizar o aprimoramento da teoria aprendida dentro da sala de aula. Para Gaidzinsk, Peres e Fernandes (2004) no século XX, o desenvolvimento das competências para liderança era praticamente, realizado em salas de aula e no trabalho centralizado na administração. Somente na última década o desenvolvimento do líder passa a ser concebido como um aprendizado contínuo, envolvendo várias áreas do conhecimento. 3.2.6 Capacitação da Equipe de Enfermagem - Educação Permanente A educação permanente é uma das modalidades de educação no trabalho. Caracteriza-se por: possuir um público-alvo multiprofissional; ser voltada para uma prática institucionalizada; enfocar os problemas de saúde e ter como objetivo a transformação das práticas técnicas e sociais; ser de periodicidade continua; utilizar metodologia centrada na resolução de problemas e buscar como resultado a mudança. A educação permanente em saúde trabalhada tanto pelo Governo Federal, quanto pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), é utilizada como política de formação e qualificação de recursos humanos, onde o processo educativo deve ser dinâmico, contínuo e trazer avanços sociais. A educação permanente dos recursos humanos deve visar auxiliá-los na adequação aos contínuos avanços tecnológicos e às mudanças socioeconômicas (PERES; CIAMPONE, 2006). A realização de atividades educativas que permita agregar novos conhecimentos aos membros da equipe de enfermagem é de grande importância para melhoria da assistência prestada na unidade, já que com um conhecimento mais amplo os profissionais se tornam mais capacitados para o desenvolvimento de suas atividades laborais. Por esse motivo é fundamental a existência de um Núcleo de Educação Permanente (NEP) nas unidades de saúde, que tem como função, determinada pela Portaria de N° 198/GM/MS de 13 de fevereiro de 2004, identificar necessidades de formação e de desenvolvimento dos 45 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 trabalhadores de saúde e construir estratégias e processos que qualifiquem a atenção e a gestão em saúde e fortaleçam o controle social no setor na perspectiva de produzir impacto positivo sobre a saúde individual e coletiva (BRASIL,2004). No decorrer da realização da pesquisa foi possível constatar que nenhum dos locais onde foram coletados os dados possui NEP ou departamento similar, assim a responsável pela a realização da educação permanente nestes hospitais é a gerente de enfermagem que desenvolve projetos de acordo com as necessidades apresentadas pela unidade, tendo o apoio da FMS (Fundação Municipal de Saúde). "As atividades são direcionadas ao cuidar em enfermagem: elaboramos projetos que são autorizados pela FMS e desenvolvemos as capacitações no hospital... Segue um cronograma anual, as temáticas são escolhidas baseadas com a necessidade do serviço como também pela solicitação dos funcionários" (Esmeralda). "Treinamento para implantação da SAE, controle de infecção hospitalar" (Safira). "Capacitação anual a partir da necessidade das equipes a nível hospitalar" (Ametista). O incentivo à capacitação da equipe de enfermagem deve ocorrer continuamente para que o aprendizado adquirido possa ser ampliado possibilitando, assim, a maior integração da equipe com os avanços tecnológicos na área assistencial e melhorando assim a assistência disponibilizada aos seus clientes. 4 CONCLUSÃO Atualmente a Gerência de Enfermagem vem assumindo um papel fundamental para a qualidade da assistência prestada em Unidades Hospitalares, já que o enfermeiro gerente tem autonomia para planejar e determinar todas as ações que devem ser desenvolvidas pela sua equipe. Para a realização do processo gerencial, o Enfermeiro necessita englobar diversos conhecimentos que vão desde saberes técnicos até questões administrativas, sendo estes a base para a obtenção de um bom resultado no seu trabalho. 46 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Foi possível perceber que o gerente de enfermagem não é responsável somente pela sua equipe, mas participa do gerenciamento de todos os setores do hospital desenvolvendo assim uma diversidade de ações, que favorecem a prática do cuidado na unidade. O processo de enfermagem é influenciado também pelas ações e decisões do gerente. Este utiliza recursos que os organiza e disponibiliza na prestação da assistência a partir de um planejamento por ele desenvolvido, estipulando metas e objetivos a serem alcançadas visando à obtenção da excelência na assistência prestada no hospital, desenvolvendo assim o gerenciamento dos recursos e o do cuidado. Assim ao gerenciar os recursos materiais o gerente fornece instrumentos para a realização do cuidado, assume a responsabilidade de supervisionar e organizar as ações que serão desenvolvidas pela sua equipe. Enquanto gerenciar o cuidado é uma questão que requer muita atenção e cautela, já que este sofre influências diversas que vão desde organização do serviço até a relação estabelecida com os familiares do cliente. Assim o cuidado oferecido deve ser realizado de acordo com as necessidades apresentadas por cada cliente, respeitando suas crenças, medos e anseios, fazendo com que a assistência prestada seja individual. O estudo evidenciou também que o gerente de enfermagem possui uma estratégia própria para realizar o gerenciamento do cuidado, que lhe permite supervisionar e avaliar o desenvolvimento dos objetivos e metas estabelecidos no planejamento de atividades da Unidade, além de acompanhar diretamente a assistência prestada à clientela do hospital. Além de ter estratégias que lhe auxiliem no desenvolvimento das atividades gerenciais, os sujeitos do estudo demonstraram possuir conhecimento das questões que norteiam o cargo, além de dominar saberes técnicos, assistenciais e habilidades administrativas. Assim competência é o termo utilizado para definir este conjunto de conhecimentos que são esperados de um gerente e que foram percebidos através do desenvolvimento de suas atividades diárias relatadas na pesquisa. O desenvolvimento constante de atividades educativas estimula e promove o aumento do conhecimento da equipe e permite o acesso às inovações do processo do cuidar aos agentes realizadores do cuidado ao cliente, este processo de capacitação contínua é denominado educação permanente. Tornando-se assim um grande aliado do Gerente de Enfermagem já que possibilita manter a equipe atualizada e capacitada para o desenvolvimento das atividades laborais diárias necessárias a cada cliente. 47 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Percebe-se no estudo que o gerente de enfermagem acompanha as mudanças que vêm acontecendo no mercado de trabalho, através da busca por capacitação relacionada à área gerencial de enfermagem, já que é uma das áreas de atuação do enfermeiro que requer maior realização de capacitação. Apesar dos avanços no ensino ainda existe um déficit na formação acadêmica em relação às questões administrativo-gerenciais, sendo assim necessária a realização de atividades que complementem o conhecimento adquirido na graduação. Outro fato constatado foi que o profissional enfermeiro que atua no setor gerencial utiliza vários recursos para desenvolver as suas funções, já que o processo de trabalho deste baseia-se nos dados obtidos através de indicadores, relatórios, escalas e da supervisão das atividades realizadas no dia a dia da instituição pelos seus colaboradores. Assim o gerente faz uso de dois tipos de elementos - os objetivos que são os consolidados oferecidos pela instituição e os subjetivos que é a sua percepção e avaliação pessoal do trabalho realizado pela sua equipe junto à clientela presente na unidade hospitalar. Assim como mostra a pesquisa às atividades desenvolvidas pelo Gerente de Enfermagem são fundamentais para obtenção de um serviço organizado, funcionante e eficiente nas unidades hospitalares. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS nº 198, de 13 de fevereiro de 2004. Institui a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. 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O objetivo desta pesquisa foi quantificar a prevalência das patologias da coluna lombar e a utilização de medicamentos no tratamento das mesmas em pacientes atendidos em clínicas de fisioterapia de Teresina-PI. Trata-se de um estudo transversal, retrospectivo, descritivo de caráter quantitativo, realizado em duas clínicas de fisioterapia de Teresina-PI. Para isso foram analisados 274 prontuários de pacientes com dor lombar do período de junho de 2009 a junho de 2011, sendo observados os seguintes parâmetros: diagnóstico clínico, farmacoterapia, gênero e idade. Os resultados revelaram predomínio diagnóstico das doenças degenerativas 56,3%, sendo 71,18% do gênero feminino, com predomínio masculino apenas no grupo com discopatias e 64,27% da faixa etária 30 a 60 anos, sendo que nos jovem predominaram os desvios posturais e no grupo de idosos as doenças degenerativas. Em relação aos medicamentos 68% dos pacientes faziam uso, sendo que 65,20% destes eram AINES(?). Concluiu-se que dores lombares são ocasionadas principalmente por doenças degenerativas, com predisposição em mulheres de idade produtiva e/ou elevada e que a associação entre fisioterapia e tratamento medicamentoso, principalmente os ____________________________ ¹ Aluna de graduação (10º período) do curso de Fisioterapia da Faculdade Integral Diferencial-FACID. E-mail: [email protected] ²Professor do curso de Fisioterapia da FACID, Doutor em farmacologia pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará. • E-mail: [email protected] ³ Professora do curso de Fisioterapia da FACID, Especialista em Fisioterapia Aplicada à Ortopodia e Traumatologia E-mail: [email protected] 51 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 AINES, é amplamente utilizada na prática clínica. Palavras-chave: Dor lombar. Prevalência. Medicamentos. ABSTRACT The lumbar segment supports the largest unloading of weight of the backbone, it is more susceptible to injuries that leads to functional disability. The physical therapy and drug therapy are foundations for effective treatment. The objective of this research was to quantify the prevalence of lumbar´s column pathologies and the use of medicines in the treatment of these diseases in patients served in physical therapy clinics of Teresina-PI. This is a study retrospective, crosssectional, descriptive with quantitative character in two physical therapy clinics of Teresina-PI. Thereunto, 274 medical records of patients with lumbar pain in the period from June 2009 to June 2011 were examined, the following parameters were observed: clinical diagnosis, drug therapy, gender and age. The results revealed the predominance of diagnosis of degenerative diseases 56.3%, with 71.18% of the female gender, with male predominance in the only group with disc-related diseases and 64.27% with age 30-60 years, and postural deviations predominated in young and degenerative diseases in the elderly group. In medicines, 68% were using drugs, and that 65.20% of these were AINES. It was concluded then that the pain is caused mainly by degenerative diseases, with women of productive age predisposition in and/or high and that the association between physical therapy and drug treatment, especially the AINES agents, is widely used in clinical practice. Keywords: Lumbar pain. Prevalence. Drugs. 1 INTRODUÇÃO O ser humano adquiriu, devida sua evolução anatômica e postural, a sobrecarga do esqueleto axial. A ortostase e o bipedismo comprometeram o corpo trazendo repercussões limitantes e imprevisíveis (SINÍZIO et al., 2003). As dores lombares constituem grande causa de morbidade e incapacidade, sendo que 50% a 80% das pessoas no mundo irão sofrer de dor lombar em algum momento da vida (FUJII, 2008). 52 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 A lombalgia é uma dor localizada entre a parte mais baixa do dorso, em nível de última costela, até a prega glútea; a lombociatalgia surge quando esta dor se irradia para as nádegas e/ou membros inferiores (BRAZIL et al., 2004). A lombalgia e a lombociatalgia são sintomas referidos em caso de alterações nas estruturas músculo-esqueléticas-ligamentares da coluna lombar, as chamadas patologias da coluna lombar (APPEL et al; 2002). Dentre as patologias mais comuns que geram os quadros dolorosos estão: artrose, problemas discais, alterações posturais, espondilolistese (escorregamento de um corpo vertebral sobre o outro), fraturas de corpos vertebrais (espondilólise) e doenças inflamatórias da região lombar (FUJI, 2008). No que diz respeito à prevalência, segundo Barbosa (2007), 90% das dores lombares são de origem mecânico-degenerativas e a ocorrência desses distúrbios varia de acordo com a idade, sendo patologias como as discopatias, mais comuns entre pacientes de 20 a 50 anos e processos degenerativos acometem mais pacientes idosos. Em relação ao gênero, as mulheres apresentam maior prevalência de lombalgia quando comparado aos homens, isso porque tarefas domésticas, geralmente realizadas por elas, geram sobrecargas repetidas na coluna (PONTE, 2005). Carvalho et al. (2005) afirmaram que na reeducação do paciente com afecções vertebrais, a fisioterapia e a terapia medicamentosa são os alicerces para o tratamento. O tratamento medicamentoso das dores lombares deve ser centrado no controle sintomático da dor para propiciar a recuperação funcional o mais rapidamente possível, sendo que, a farmacoterapia de primeira linha para a lombalgia consiste de anti-inflamatórios não esteroides, de analgésicos opioides e antidepressivos, sendo que, na prática clínica os anti-inflamatórios não esteroides (AINES), são os medicamentos mais empregados (BRAZIL et al; 2004; GARCIA FILHO et al; 2006). Diante do exposto elaborou-se o seguinte problema: Qual a prevalência das patologias lombares e a utilização de medicamentos no tratamento das mesmas em pacientes atendidos em clínicas de fisioterapia de Teresina-PI? A pesquisa foi realizada pela necessidade de obter uma atualização de dados na cidade de Teresina-PI acerca das doenças da coluna lombar, bem como o perfil medicamentoso dos pacientes acometidos, visto que a população teresinense vem se modificando ao longo dos anos, tanto pelo envelhecimento, como pela mudança nos hábitos de vida, o que reflete diretamente nos tipos de 53 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 patologias que surgem. Baseado nesses novos levantamentos, profissionais de diversas áreas da saúde poderão direcionar intervenções, na prevenção e tratamento dessas doenças, buscando proporcionar ao paciente a melhoria de sua capacidade funcional. Este estudo, portanto, teve por objetivo geral quantificar a prevalência das patologias da coluna lombar e a utilização de medicamentos no tratamento das mesmas em pacientes atendidos em clínicas de fisioterapia de Teresina-PI, objetivando especificamente identificar as patologias da coluna lombar que acometem pacientes atendidos em clínicas de fisioterapia de Teresina-PI, identificar a prevalência de cada patologia nos diferentes gêneros e faixas etárias e verificar a prevalência dos principais grupos farmacológicos utilizados no tratamento destas doenças. 2 MATERIAIS E MÉTODOS O projeto foi elaborado e encaminhado ao Comitê de Ética e Pesquisa - CEP, baseado na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Foi solicitada autorização para a realização da pesquisa às Diretoras das instituições pesquisadas. Solicitou-se também a assinatura do termo fiel depositário aos responsáveis pela base de dados de cada clínica, a fim de possibilitar a análise dos prontuários. Esta pesquisa iniciou após aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa acima mencionado, com protocolo nº 165/11. Trata-se de um estudo transversal, retrospectivo, descritivo de caráter quantitativo, realizado em duas clínicas de fisioterapia (A e B) localizadas em Teresina-PI. Sendo A, uma clínica escola pertencente a uma instituição privada de ensino superior localizada na zona leste e B uma clínica privada localizada no centro da cidade. A amostra foi do tipo aleatória simples composta de 274 prontuários, segundo os seguintes critérios de inclusão: pacientes atendidos nas clínicas objetos de estudo desta pesquisa no período de junho de 2009 a junho de 2011, prontuários cuja queixa principal fosse dor lombar, com patologias da coluna lombar evidenciadas no diagnóstico clínico. Foram excluídos prontuários de pacientes com dores lombares resultantes de patologias em órgãos abdominais e prontuários com ausência de diagnóstico clínico. A coleta de dados se deu por análise de prontuários, com base no diagnóstico clínico e na farmacoterapia dos pacientes. Foram levantados os 54 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 seguintes dados: os tipos de patologias da coluna lombar diagnosticados, o número de casos de cada uma, a quantidade de pacientes que fazia ou não uso de medicação no tratamento destas patologias e os tipos de medicamentos utilizados. Foram levantados também dados referentes à idade e gênero dos pacientes. A análise estatística foi realizada através de análise descritiva simples e do programa Prisma 5.0. Calcularam-se a média e o desvio padrão e se fez uma comparação entre os gêneros masculino e feminino, através do teste T student, e entre os grupos etários de menos de 30, 30 a 60 e mais de 60 anos, utilizando o teste one way ANOVA (TURKEY múltipla comparações), sendo considerados estatisticamente significantes aqueles dados que obtiveram o valor de p<0,05. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO O gráfico 1 mostra que dentre os pacientes atendidos nas clínicas de fisioterapia pesquisadas, 30,8% obtiveram diagnóstico de espondiloartrose, 25,5% foram diagnosticados com alguma discopatia lombar, 18,8% apresentaram lombalgia inespecífica, 13,3% tiveram como causa da dor algum desvio postural, 7% tiveram relato diagnóstico de lombociatalgia e 5% apresentaram outros diagnósticos. Gráfico 1 - Prevalência das patologias lombares em pacientes atendidos em clínicas de fisioterapia de Teresina-PI, Teresina-PI, 2012 5% OUTROS 7% LOMBOCIATALGIA 13,30% DESVIOS POSTURAIS LOMBALGIA 18,80% DISCOPATIAS LOMBARES 25,50% ESPONDILOARTROSE 30,80% Fonte: Dados da Pesquisa 55 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Os dados apresentados acima revelaram uma alta prevalência de patologias degenerativas da coluna lombar (espondiloartrose e discopatias degenerativas) em pacientes atendidos em clínicas de fisioterapia de TeresinaPI, confirmando o estudo de Barbosa (2007) que afirmou ser a maioria das dores lombares, 90%, de origem mecânico-degenerativa. Nesse mesmo sentido Appel et al. (2002) afirmaram que a artrose é a causa mais comum de dor lombar e Vialle (2010) relatou que a hérnia discal lombar é um dos diagnósticos mais comuns dentre as alterações degenerativas da coluna lombar. Os resultados obtidos divergem ainda de pesquisas da mesma natureza realizadas anteriormente. Nos estudos de Deus (2007) e Silva (2011), o diagnóstico lombalgia foi o mais prevalente. Isso pode ser atribuído ao fato de que em anos anteriores havia uma menor preocupação por parte dos profissionais de saúde em especificar a patologia geradora do quadro doloroso, banalizando assim o termo lombalgia como diagnóstico, sem especificar a causa. Tendo em vista que, nesta pesquisa houve uma menor prevalência dos diagnósticos inespecíficos (lombalgia e lombociatalgia), pode se rever que atualmente há uma maior preocupação por parte dos profissionais de saúde em estabelecer diagnósticos mais precisos, onde se evidencie não apenas o quadro doloroso, mas sim a patologia que o gerou. O gráfico 2 mostra que 8,06% dos pacientes com dor lombar tinham faixa etária <30 anos, 64, 27% entre 30 e 60 anos e 27,67% pertenciam à faixa etária >60 anos Gráfico 2 - Frequências das patologias lombares de acordo com os grupos etários, Teresina - PI, 2012 Fonte: Dados da Pesquisa 56 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Observando os resultados expostos, é notório que o grupo 30 e 60 anos, correspondente à faixa etária produtiva (classe trabalhadora) foi o mais afetado, o que confirma os relatos de Andrade (2005), que em sua revisão de literatura afirmou haver uma maior incidência de dores lombares em indivíduos de fase economicamente ativa. Esse resultado pode ser atribuído ao fato de que conforme relatou Baú (2005), o atual mercado de trabalho exige grande produtividade a um custo competitivo, o que impõe, muitas vezes, ritmos intensos e jornadas prolongadas, sendo que frequentemente o trabalho é realizado em posturas e ambientes ergonomicamente inadequados, predispondo os trabalhadores a lesões. Nesse mesmo sentido Ney Filho (2010) relatou que a dor nas costas tem sido responsável por uma elevada ocorrência de incapacidade para o trabalho. Porto (2004) afirmou ainda que a partir dos 30 anos o excesso de atividades, estresse e más posturas, comuns neste período de vida, são os grandes responsáveis pelo surgimento das dores lombares. Os dados revelaram ainda ser a população idosa consideravelmente afetada pelas dores lombares o que corrobora com a pesquisa de Reis et al. (2008), onde houve uma prevalência de 33,6% de idosos com dores lombares, afirmando ainda que há evidências da relação entre a dor lombar e a idade, sendo que o risco de lombalgia aumenta com a idade, tendo elevada frequência entre indivíduos com mais de 65 anos. Analisando individualmente os grupos etários na Tabela 1, pôde-se perceber que apesar de haver prevalência do grupo 30-60 em todas as patologias, na faixa etária mais jovem (<30) houve um predomínio dos desvios posturais e no grupo referente aos idosos (>60) prevaleceram às doenças degenerativas (espondiloartrose e discopatias). Foram encontradas diferenças significativas entre os seguintes grupos etários: <30 vs 30-60, p = 0,0001 e entre 30-60 vs >60, p = 0,0001. Não foi encontrada diferença significativa entre <30 vs > 60. Para ANOVA (Turkey comparações múltiplas) 57 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Tabela 1 - Distribuição da prevalência das patologias lombares de acordo com os grupos etários, Teresina - PI, 2012 <30 a (8,06 ± 14,8) 0,9% 30 – 60 a (64,27±11,63) 58,5% >60 a (27,67 ± 9,40) 40,6% Discopatias Lombalgia 3,1% 11% 65,6% 73% 31,3% 16% Desvios posturais 33,4% 45,1% 21,5% --------- 78,3% 65,1% 21,7% 34,9% PATOLOGIAS Espondiloartrose Lombociatalgia Outros a = média e desvio padrão Segundo Cabral et al. (2009), dados epidemiológicos apontaram para alta prevalência de alterações posturais de coluna entre crianças e adolescentes. Isso pode se dever ao fato de que essa época da vida corresponde à faixa etária escolar. Pereira et al. (2005) afirmaram que, o excesso de peso e o transporte inadequado do material escolar, a ausência de atividade física específica, os mobiliários não adequados à necessidade do escolar e posturas incorretas adotadas durante as aulas são fatores predisponentes ou agravantes da escoliose. No que diz respeito à prevalência das patologias degenerativas no grupo dos idosos, os dados confirmam a afirmação de Reis et al. (2008) quando este relatou que o maior tempo de exposição a sobrecargas ao longo da vida junto ao envelhecimento tendem a desencadear processos degenerativos da coluna vertebral. O gráfico 3 mostra que 71,18% dos pacientes com dor lombar eram do gênero feminino e 28,8% do gênero masculino. 58 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Gráfico 3 - Frequências das patologias lombares de acordo com o gênero, Teresina - PI, 2012 Fonte: Dados da Pesquisa Os dados obtidos concordam com o estudo de Matos et al. (2008), onde também houve maior prevalência 54,2% de dores lombares no gênero feminino. Estes resultados podem ser justificados pelo fato de que, segundo Ponte (2005), comparado aos homens, as mulheres apresentam uma prevalência mais elevada de lombalgia, isso porque as tarefas domésticas, geralmente realizadas pelo gênero feminino, geram sobrecargas repetidas na coluna. Além disso, segundo Matos et al. (2008) o gênero feminino apresenta algumas características anatomo-funcionais, como por exemplo, menor estatura, menor massa óssea, menos massa muscular, articulações mais frágeis e menos adaptadas ao esforço físico, que podem colaborar para o surgimento das dores na coluna. Em relação à distribuição da prevalência das patologias lombares de acordo com o gênero, conforme mostra a tabela 2, as mulheres possuíam uma maior frequência das mesmas, média 71,18 ± 13,86, enquanto os homens apresentavam 28,82 ± 13,86. Ainda na Tabela 2, analisando individualmente os grupos, pode-se perceber predomínio do gênero masculino apenas no grupo 59 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 de pacientes com diagnóstico de discopatias degenerativas Tabela 2 - Distribuição da prevalência das patologias lombares de acordo com o gênero, Teresina- PI, 2012 PATOLOGIAS GÊNERO FEMININO MASCULINO ESPONDILOARTROSE 65,5% 34,5% DISCOPATIAS 48,4% 51,6% LOMBALGIA 76,1% 23,9% DESVIOS POSTURAIS 78,0% 22,0% LOMBOCIATALGIA 69,6% 30,4% OUTROS 89,5% 10,5% P = 0,0002 (Teste T student) Esse resultado confirma o relato de Appel et al. (2002), de que a herniação discal, é uma situação relativamente frequente, com discreta predominância do gênero masculino. Pode-se justificar o resultado apresentado na tabela 2 pelo fato de que, conforme afirmaram Pereira, Pinto e Sousa (2006), trabalhos pesados com movimentação de cargas são desenvolvidos principalmente por homens, logo, a exposição a forças compressivas intensas resultariam em uma maior tendência a deformações e rupturas do disco intervertebral. Em relação à utilização de medicamentos no tratamento das patologias lombares: 68% utilizavam medicamentos e 32% não utilizavam medicamentos. Os resultados mostraram que houve maior prevalência de pacientes que utilizavam medicação em associação com o tratamento fisioterapêutico. Esse fato pode ser explicado por ser a melhora dos pacientes mais efetiva quando há uma associação do tratamento fisioterápico com o medicamentoso conforme Carvalho et al. (2005), quando disseram que a fisioterapia e a terapia medicamentosa são os alicerces para o tratamento da dor na coluna. Em relação ao tratamento utilizado nos quadros de dor lombar, os resultados desta pesquisa corroboram o estudo de Martinez et al. (2008), o qual evidenciou em sua pesquisa que a modalidade mais utilizada é a medicamentosa, uma vez que 100% dos pacientes apresentavam prescrição para medicamentos. O Gráfico 4 revela que os medicamentos mais utilizados pelos pacientes 60 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 com dor lombar foram: Anti-inflamatórios não esteroides 65,2%, Antidepressivos 10,3%, Suplemento de cálcio 10,3%, corticoides 7,3% e opioides 6,9%. Gráfico 4 - Distribuição dos pacientes de acordo com os medicamentos em uso, Teresina- PI, 2012 FONTE: DADOS DA PESQUISA Em relação à prescrição das principais modalidades farmacêuticas, houve um predomínio absoluto dos anti-inflamatórios não esteroides, resultados estes compatíveis com o estudo de Martinez et al. (2008) onde houve predomínio de 87,5% dos AINES em relação às outras modalidades farmacêuticas encontradas. Os AINES foram os mais utilizados, pois conforme afirmaram Brazil et al. (2004), esses medicamentos têm efeitos analgésicos e anti-inflamatórios, sendo mais efetivos porque comumente as alterações anatômicas degenerativas da coluna lombar geram inflamação e dor. A menor prevalência de utilização dos corticoides pode ser explicada pelo fato de que esses medicamentos geram graves efeitos adversos, como aumento da pressão arterial e indução do diabetes, assim como os analgésicos opioides possuem como fatores limitantes do seu uso prolongado, a tolerância e a dependência física (WANNMACHER; FERREIRA, 2004). Em relação ao uso de medicamentos, constatou-se, neste estudo,maior utilização de medicamentos direcionados para o combate direto à dor (AINES, corticoides e opioides). Este resultado reforça os achados de Brazil et al. (2004) de que o tratamento medicamentoso das dores lombares deve ser centrado no 61 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 controle sintomático da dor para propiciar a recuperação funcional o mais rapidamente possível e que todas as classes de anti-inflamatórios (AINEs e corticoesteroides) podem ser úteis no tratamento da lombalgia, uma vez que ambas foram encontradas nesta pesquisa. SSegundo o estudo de Garcia Filho et al. (2006) o tratamento farmacológico de primeira linha para lombalgia consiste de anti-inflamatórios não esteroides (AINES), de analgésicos opioides e antidepressivos. Os resultados apresentados confirmam este estudo, pois todos os grupos farmacológicos mencionados acima foram encontrados nos dados obtidos. Observou-se ainda que os antidepressivos foram significativamente utilizados pelos pacientes com dores lombares, evidenciando que a dor lombar gera alterações psicocomportamentais, afetando negativamente a qualidade de vida desses pacientes. Teixeira (2007) relatou que os antidepressivos podem melhorar a analgesia, proporcionando relaxamento muscular e normalização do sono, do apetite e do humor. Apesar de não atuar no combate direto à dor, foi importante relatar a prevalência do uso de suplementação de cálcio, uma vez que a mesma foi significativa. Esse resultado pode levar a entender que a osteoporose é uma doença sistêmica que comumente acompanha pacientes com quadro de alterações patológicas da coluna, uma vez que a suplementação de cálcio é caracteristicamente usada por pacientes com osteoporose. Pandrini et al. (2002) afirmaram que a osteoporose vertebral está entre as cinco afecções frequentes da clínica diária que se acompanham de lombalgia crônica e Cecin (2002) que a suplementação de cálcio e vitamina D é recomendada como tratamento nos casos de dor lombar associada à osteoporose. 5 CONCLUSÃO Concluiu-se que em pacientes atendidos em clínicas de fisioterapia de Teresina-PI as dores lombares são ocasionadas principalmente por doenças degenerativas, com predisposição em mulheres de faixa etária produtiva (classe trabalhadora) e idade elevada, sendo que a associação entre fisioterapia e tratamento medicamentoso, principalmente através da utilização de antiinflamatórios não esteroides, é amplamente utilizada na prática clínica. 62 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 REFERÊNCIAS ANDRADE, S. C.; ARAÚJO, A. G. R.; VILAR, M. J. P. Escola de coluna: revisão histórica e sua aplicação na lombalgia crônica. Rev. Bras. 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Pesquisa do IBGE mostra que, em 2007, para cada quatro casamentos foi registrada uma dissolução. Esta pesquisa é do tipo qualitativa e exploratória, e teve como objetivo principal compreender a experiência psicológica das mulheres na maturidade quando da tomada de decisão pela separação. Para tanto, buscou-se investigar os fatores motivacionais presentes na decisão de separação/divórcio, identificar os sentimentos predominantes durante o casamento e separação/divórcio, e apresentar as concepções das mulheres participantes acerca de casamento, família e divórcio. As participantes foram localizadas a partir da amostragem bola-de-neve. Aplicou-se questionário e realizou-se entrevista semiestruturada com 10 mulheres de 35 a 58 anos, as quais decidiram se separar entre 15 a 29 anos de casamento. Os dados foram analisados através da Hermenêutica de Profundidade. As categorias criadas foram: Casamento, família e dissolução conjugal: O que elas têm a dizer?; "Quando acaba o respeito...": motivos e motivações para a separação e/ou divórcio; Da privação à liberdade: sentimentos vivenciados no casamento e pós-casamento e Resquícios de "A Letra Escarlate". Concluiu-se que o sentimento de insatisfação dentro da relação, aliado à falta de respeito, foi determinante na decisão pela separação. Nesse processo, percebeu-se das _________________________ 1 Mestre 2 Academicos 67 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 entrevistadas o sentimento de receio pelas reações da sociedade em geral, mas também a mudança de paradigma social acerca de casamento e divórcio. Palavras-chave: Dissolução conjugal. Mulher. Enfoque Psicológico. ABSTRACT The concept of family pervaded by the function of procreation to marriage with economic goals, to reach the modern family, with interests focused on individual satisfaction in the relationship. In Brazil, separations and divorces have been frequent. IBGE survey shows that in 2007, for every four marriages were recorded one dissolution. This research is qualitative and exploratory. Aimed mainly at understanding the psychological experience of women at maturity when the decision is taken by separation, for both sought to investigate the motivational factors present in the decision of separation/divorce, identify the women predominant feelings during the marriage and separation/divorce and provide the concepts of the women about marriage, family and divorce. The participants were located from a sampling snow-ball. A questionnaire was applied and held semi-structured interviews with 10 women from 35 to 58 years, which decided to break-up between 15 to 29 years of marriage. The data were analyzed by Depth Hermeneutics. The created categories were: Marriage, family and marital dissolution: What are they to say?; "When the respect ends...": reasons and motivations for the separation and/or divorce; The freedom deprivation: feelings experienced in marriage and after marriage and Remnants of "The Scarlet Letter" It was concluded that the feeling of dissatisfaction within the relationship, coupled with the lack of respect made them want to separate. In this process, in general was noticed the feeling of respondents fear of the society reactions, but also the social paradigm shift about marriage and divorce. Keywords: Marital Dissolution. Woman. Psychological Approach. 1 INTRODUÇÃO Antes de discutir o término da relação conjugal,é importante salientar como se apresentou a construção de família no decorrer da história, afim, de contextualizar os fenômenos:separação e divórcio nos dias atuais. Compreende68 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 se que existem tipos históricos de família construídos socialmente. Nesse sentido, têm-se a concepção de família, pela qual perpassou em certo momento a função de apenas procriação e transmissão da linhagem, para casamentos com objetivos econômicos, até visualizar-se a família moderna e pós-moderna se moldando a partir do amor romântico e satisfação pessoal e afetiva dos seus membros. Isso foi possível devido às mudanças decorrentes do efeito pós 1ª e 2ª Guerra, globalização e movimento feminista (PROST; VINCENT, 1992; HINTZ, 2001). Dando enfoque às relações conjugais, Pincus e Dare (1981) apresentam que o princípio que rege as relações duradouras é de que nessas relações há uma reciprocidade e complementaridade das necessidades, anseios e medos que fazem parte da vida a dois. Entretanto, ao observar dinâmica que os casamentos foram tomando ao longo do século, tornou-se cada vez mais presente o número de separações e divórcios. No Brasil as separações e divórcios têm sido frequentes. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que em 2007, embora tenham sido realizados 916.006 casamentos no Brasil, 2,9% a mais do que em 2006 (889.828), o número de dissoluções (soma dos divórcios diretos sem recurso e separações) chegou a 231.329, ou seja, para cada quatro casamentos foi registrada uma dissolução. Féres-Carneiro (2003) apresenta através de sua prática clínica como terapeuta de casal, que quase sempre as mulheres manifestam o desejo de se separarem enquanto os maridos, na maior parte das vezes, desejam manter o casamento. Surgiu então o interesse de investigar as separações e divórcios após longos tempos de casamento tendo como o enfoque a mulher contemporânea e sua subjetividade. Buscou-se como objetivo principal compreender a experiência psicológica das mulheres na maturidade quando da tomada de decisão pela separação ou divórcio e como objetivos específicos, investigar os fatores motivacionais (sociais, econômicos, afetivos) presentes na decisão de separação/ divórcio, identificar os sentimentos predominantes durante o casamento e separação/divórcio e apresentar as concepções das mulheres participantes acerca de casamento, família e divórcio. Atualmente, dentro da psicologia, as questões de gênero ainda se encontram-se marginalizadas, apontando a relevância dessa pesquisa para a classe e a necessidade de incentivo a pesquisas desse porte. Por meio dessa pesquisa propôs-se acrescentar à literatura uma compreensão qualitativa da separação/divórcio, da mulher e do casamento, de forma a contribuir para estudos posteriores, ampliar concepções existentes e fomentar debates, tendo 69 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 em vista proporcionar aos profissionais da área da psicologia, meios de atualizarse em prol de uma atuação com mais qualidade tanto às mulheres como também à sociedade como um todo. 2 MATERIAL E MÉTODOS Esta pesquisa foi de abordagem qualitativa do tipo exploratória. Participaram da pesquisa 10 mulheres localizadas entre a faixa etária de 35 a 58 anos, as quais tomaram a iniciativa pela separação/divórcio entre 15 a 29 anos de casamento, conforme proposto nos critérios de participação. Esta investigação teve como método de constituição da amostra, a bola-de-neve ou snowball que se mostrou vantajosa por possibilitar identificar os elementos de uma população indefinida e de difícil localização, como foi o caso da população deste estudo. Desta forma, a partir da primeira participante, encontraram-se outras por indicação desta e assim, sucessivamente até completar a quantidade da amostra. A pesquisa foi realizada em duas cidades: Caxias, Maranhão e em Teresina-Piauí. Os contatos com as participantes foram ocorridos em ambientes acordados previamente entre participante e pesquisadora. Após o projeto de pesquisa ser aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da FACID, foram identificadas as participante e a elas foram esclarecidos os objetivos e justificativa da pesquisa, bem como salientado os preceitos éticos como sigilo de informações identificatórias e não obrigatoriedade das participantes frente à pesquisa, sendo garantido o direito de retirar o consentimento em qualquer momento da pesquisa, sem prejuízos ou sanções. As mulheres que concordaram em participar do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE, em duas vias de igual teor, elaborado de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, nº protocolo 117/10 que dispõe sobre a ética na pesquisa com seres humanos. Foram marcadas as entrevistas individuais em datas acordadas entre pesquisadora-participante e na ocasião, também foi aplicado o questionário sócio-demográfico. Com o consentimento das participantes, as entrevistas foram gravadas em aparelho MP4 e posteriormente transcritas. Para a análise dos dados, ficam feitas as tabulações com as informações colhidas com os questionários e criadas categorias para as entrevistas que foram analisadas com base na metodologia Hermenêutica de Profundidade (HP). A HP é uma ferramenta teórica e metodológica que possibilita ao pesquisador distintas dimensões de análise, tais como análise do contexto sócio-histórico e espaço- 70 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 temporal que cerca o fenômeno pesquisado, análises discursivas, de conteúdo, semióticas ou de qualquer padrão formal que venha a ser necessário, conferindo um caráter potencialmente crítico à pesquisa (VERONESE; GUARECHI, 2006). Optou-se pela utilização desse método tendo em vista seu caráter inovador, superando as abordagens tradicionais de ideologia, uma vez que ressalta a necessidade de propor sentidos ao fenômeno, discuti-los, desdobrálos e não desvelá-los. A HP se caracteriza por três enfoques: análise sócio-histórica; análise formal ou discursiva e interpretação/reinterpretação. Na análise sócio-histórica, procura-se contextualizar os dados da pesquisa em tempo e espaço. Thompson (1998, p. 366) descreve que a análise sócio-histórica "objetiva reconstruir as condições sociais e históricas de produção, circulação e recepção das formas simbólicas". Vale ressaltar que neste estudo, entende-se formas simbólicas como construções significativas que exigem interpretação, a exemplo de gestos, ações, falas e textos. Na etapa de análise formal ou discursiva, o foco a ser considerado são as características estruturais das expressões linguísticas e das relações do discurso (THOMPSON, 1998). Neste tipo de análise a preocupação é com a organização interna das formas simbólicas, com suas características estruturais, seus padrões e relações, servindo, para a construção do campo-objetivo. O terceiro e último enfoque da HP é a interpretação/reinterpretação que é facilitada pela fase da análise discursiva ou formal, porém distinta dela. Enquanto a análise de discurso procura desvelar os padrões e efeitos que constituem uma forma simbólica ou discursiva, a interpretação se constrói sob essa análise, como também sob os resultados da análise sócio-histórica. Segundo Thompson (1998 p.375) "a interpretação implica um movimento novo de pensamento, ela procede por síntese, por construção criativa de possíveis significados". Nota-se, portanto, que o método de HP, a partir da complementaridade de seus enfoques, almeja uma apreciação da profundidade do fenômeno a ser estudado. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Casamento, família e dissolução conjugal: O que elas têm a dizer? A maioria das participantes ressaltou a ideia de casamento como 71 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 instituição necessária para a formação de uma família sendo citados também o respeito e o diálogo como pré-requisito para o casamento. Nas falas surgiram também sentimentos de compreensão, companheirismo, cumplicidade, partilha e parceria como essenciais para a manutenção do casamento. O que leva ao entendimento de que sentimentos de corresponsabilidade e troca são mais valorizados por elas na relação a dois, até mais do que o amor, tendo em vista que apenas 01 das participantes citou o mesmo. Cabe ressaltar, que a visão de casamento apresentada, indica um ideal de igualdade entre os cônjuges, em detrimento a relações hierárquicas (HINTZ, 2001). É uma instituição necessária. Pra mim é a base de toda a família (SARA). A DR famosa discutir a relação, pra mim é fundamental no casamento. Chegar e dizer o que não gosta o que gosta, dizer "não faça isso, isso é melhor". Sempre discutir a relação, foi uma coisa que faltou no meu casamento, porque ele não gosta de conversar, então eu sentia muita falta (NÚBIA). O casamento é diálogo, é apoio (TÂNIA). Em se tratando de família, foi observado em grande parte das falas das participantes a expressão "família é base", e " família é tudo", como sendo uma instituição essencial para a formação do sujeito, corroborando com diversos autores que trazem a noção de família como mecanismo de transmissão de valores morais e culturais além de atribuírem a ela função de protetora e cuidadora (ARIÈS,1981). É essencial, é a base para todo ser humano (JOYCE). É o berço da sociedade (SARA). As relações entre homem e mulher foram ganhando notoriedade nas discussões sobre família e a dissolução conjugal passou a ser observada como objeto de estudo pelas ciências humanas. Na maioria dos relatos, o divórcio aparece como última opção de um relacionamento que não está dando certo, sendo ainda citado por três delas como "um mal necessário". Essa expressão reflete um sentimento de frustração em relação ao final da relação conjugal. O não dito é "preferia que tivesse dado certo", de acordo com o preceito social e religioso de durabilidade que caracterizava o casamento até pouco tempo atrás, 72 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 considerando que o divórcio foi legalizado no Brasil em 1977, há exatos 30 anos. Paralelamente, o divórcio traz o sentido de recomeço, citado por uma delas, como uma oportunidade de refazer a vida, dando a si mesmas a possibilidade de assimilação de novos projetos que possam "dar certo". Percebese aqui a conotação de satisfação pessoal atrelado ao casamento e presença de um imaginário da ideia de casal, além dos papéis de marido e mulher, enfatizando as relações entre os parceiros. O divórcio é a oportunidade que a pessoa tem de refazer a sua vida, a sua vida afetiva, principalmente (SARA). O divórcio é um mal necessário, ele tem que acontecer quando não dá mais pra viver, quando não dá mais para conciliar interesses (BEATRIZ). Entende-se que o sentimento de "casal" só veio a surgir no século XX, até então se falava em sentimento de família, não considerando os sujeitos individuais que formavam o casal e as particularidades desse casal. A partir da inserção da ideia de romance e amor romântico nos requisitos para escolher um parceiro, voltou-se o olhar para o casal (GIDDENS, 1993). A mudança desse tipo de pensamento ocorreu como reflexo do movimento feminista, com ideais de igualdade e independência; da inserção da mulher no mercado de trabalho; da industrialização e globalização, destacando a importância da liberdade sexual e um maior controle da mulher sobre a natalidade, onde foi possível desvincular o ato sexual de gravidez. Passou-se a usar o termo "casal" e as expressões "vida de casal", "problemas de casal" (BERTOLINI, 2002; CRUZ, 2002; PETRINI; CAVALCANTE, 2005). Segundo Osório (2002) a dinâmica dessas relações altera-se de acordo com fatores culturais e socioeconômicos do momento histórico em questão e podem ser definidas como relações que mantêm homens e mulheres com o mesmo sexo ou não, tendo estabelecido entre si laços afetivos e sexuais que os levam a uma vida compartilhada, independente de ritos dessa união ou fins de procriação. 3.2 "Quando acaba o respeito...": motivos e motivações para a separação e/ou divórcio Os motivos ligados à separação/divórcio citados pelas participantes foram :traição, agressões verbais, agressões físicas, desrespeito e insatisfação. 73 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 A traição apareceu em nove das dez falas e foi apontada como motivo por seis das participantes. Observou-se que nos relatos de agressões físicas, estavam presentes também elementos de violência psicológica. No meu caso foi traição, que eu não suporto, eu só deduzia, mas não tinha a certeza, eu só consegui separar de verdade quando eu tive a certeza, quando eu vi (NÍVEA). Quando acabou o respeito entre a gente, porque amor já tinha acabado, mas tava suportável a relação, mas quando acaba o respeito, quando ele começou a me ignorar e a me tratar mal mesmo na frente da família dele, dos amigos dele, não tinha mais condição (LEILA). Começaram as agressões verbais, o desrespeito até de trazer namoradas na minha casa, de muitas vezes tentar denegrir a minha imagem profissional. [...]certa vez eu cheguei até a apanhar em frente ao trabalho, saí do trabalho e ele me bateu, então isso aí é uma forma de denegrir a imagem da pessoa (TÂNIA). Já tinha caído a ficha de que não era pra viver daquele jeito né? Trabalhando, me matando e no final, ser chamada de vagabunda, disso, daquilo, que não podia existir (PAULA). A dinâmica da tomada de decisão pela separação ou divórcio está atrelada a fatores internos e externos ao indivíduo. Em relação aos fatores internos (fatores externos serão mais amplamente discutidos na categoria 3.4) estão a autopercepção e a motivação. A auto-percepção reflete em como a pessoa está se percebendo dentro da relação e a motivação é o que a impulsiona a fazer algo. O conceito de motivação está relacionado às necessidades do indivíduo. A Teoria das Necessidades Humanas de Maslow diferencia cinco tipos de necessidades: as necessidades fisiológicas (respiração, comida, água, sono, sexo, homeostase, excreção), necessidades de segurança (do emprego, da família, da saúde, da propriedade), necessidades de amor e relacionamentos (participação, amizade, família, intimidade sexual), as necessidades de estima (autoestima, confiança, respeito dos outros, respeito aos outros) e necessidades de autorrealização (moralidade, espontaneidade, solução de problemas) (CLONINGER,1999; SCHUSTACK; FRIEDMAN, 2003). Dessa forma, considera-se que além do motivo é preciso estar motivado para separar-se. De acordo com os dados analisados, observou-se que apesar de terem pedido o divórcio, as participantes procuraram alternativas ao fim do casamento. 74 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Fato que evidencia a percepção das mesmas em relação ao divórcio como última opção de um relacionamento que não está dando certo, apresentada na primeira categoria. Eu me doei muito, e eu não tive aquela resposta, retorno, dele, então pra mim foi difícil (JOYCE). Foi cinco anos eu avisando o tempo todo (CARLA). Segundo a pesquisa realizada por Féres-Carneiro (2003) as mulheres são as que mais solicitam a separação, considerando-se tanto a separação judicial 72% quanto o divórcio 53,4%. Outro aspecto ressaltado é o de que, mesmo que a decisão de separação seja predominantemente feminina, são as mulheres que tomam a maior parte das iniciativas de diálogo, buscando alternativas para o relacionamento. 3.3 Da privação à liberdade: sentimentos vivenciados no casamento e pós-casamento Ao serem questionadas sobre como foi a experiência de terem se casado, metade das participantes responderam à pergunta como tendo sido uma experiência boa, sendo que, da outra metade, três apontaram como sendo ruim, e duas como boa e ruim ao mesmo tempo. As lembranças boas foram associadas aos filhos por todas elas. E as ruins, às agressões citadas na categoria anterior. Pode-se perceber alguns sentimentos relativos à época de casamentos. Os mais freqüentes foram o de privação e insatisfação, presentes em cinco falas cada. Outros sentimentos associados surgiram a esses: o de desgaste, de dependência e sofrimento, e ainda em menor escala o de revolta, medo, frustração, afastamento e indiferença. A maioria das participantes disse sentir-se "livre" e "feliz". Os sentimentos menos expressivos foram de mágoa, identificado em duas falas, e ainda os de menos-valia, impotência e alívio, cada um com uma fala. Foi muito bom, tudo faz parte do nosso crescimento. Aí vieram os filhos, maravilhosos, taí uma coisa que você não se arrepende nunca (NÍVEA). Teve momentos bons, eu não vou negar, mas teve momentos péssimos, talvez os piores que eu tenha passado na minha vida (PAULA). Eu posso associar meu casamento a uma prisão entre aspas (BEATRIZ). Eu me sinto livre, me sinto dona de mim, eu posso dizer que vou fazer isso 75 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 aqui ou não vou fazer isso aqui, não tenho que dar satisfações a não ser a mim mesma (TÂNIA). Nota-se pelos relatos das participantes que os sentimentos prevalecentes,durante o casamento,eram negativos e que elas se sentiam insatisfeitas. É possível considerar que a partir do momento que foi admitido pensar nas satisfações individuais dentro da relação conjugal, esse sentimento de insatisfação impulsionou à realização pessoal. Osório (2002) afirma que devido a conflitos interpessoais dentro da relação conjugal, em um dos membros pode ocorrer uma redução da potencialidade, um "encolhimento" deste,frente ao outro, comprometendo o desenvolvimento pessoal e amadurecimento emocional. Pode-se comentar que essa situação gerava uma angústia e insatisfação que acabou movendo-as no sentido de buscarem meios de reverterem essa situação. Essa motivação leva o indivíduo a atualizar-se e desenvolver-se. Entretanto a direção dessa tendência dependerá de como ele percebe a si mesmo, suas experiências e sua relação com os outros e com o mundo. 3.4 Resquícios de "A letra escarlate": as influências sócioculturais envolvendo casamento, separação e/ou divórcio "A Letra Escarlate" é um filme baseado na obra norte-americana de Nathaniel Hawthorne lançado no ano de 1995 e dirigido por Roland Joffé. O filme conta a história de uma mulher que por ter cometido o pecado do adultério, passa a ser socialmente marginalizada. Ela era obrigada a usar uma letra "A" bordada em suas vestes para diferenciá-la de seus acusadores como símbolo de sua vergonha. As atitudes de discriminação, preconceito, injustiça e intolerância dos habitantes da cidade para com a personagem principal eram justificadas pelo pecado da mesma. Nessa categoria são descritas as reações positivas e negativas da família, amigos e filhos em relação à decisão de separarse bem como os sentimentos e receios das participantes diante dessa decisão. Verificou-se uma média de seis anos entre o primeiro pensamento pelo desejo de separar-se até a separação propriamente dita, sendo esses números variantes de seis meses a vinte anos. Esse fato denota a necessidade de um tempo de processamento e amadurecimento da escolha pela separação. A maioria das participantes descreve a separação/divórcio como uma tomada de decisão que aconteceu como um processo, como algo pensado, avaliado e 76 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 reavaliado, da mesma forma que, encontra-se presente no relato da maioria das participantes, a fala "não aguentei mais". Questionadas sobre o que as levou manter o casamento mesmo quando já insatisfeitas com o mesmo, três das respostas foram pelos filhos e receio de criá-los sozinha, o que se relaciona bem com a resposta da falta de autonomia financeira, a segunda mais citada. Isto reflete o fato de ainda ser recente a inserção da mulher no mercado de trabalho, visto que no Brasil, apenas com a legislação de 1962, a mulher pôde trabalhar sem a permissão do marido. Antes disso, seu papel era associado apenas aos cuidados do lar e sua ajuda no orçamento familiar era dispensável (NARVAZ; KOLLER, 2006). Entende-se que tais papéis sociais são construídos ideologicamente como cultura, nos quais estão implícitas as desigualdades de gênero e introjetadas no imaginário social (BASSANEZI, 1993). Meus filhos, que eu esperei meus filhos crescerem pra entender porque que eu tava me separando (CARLA). Se eu tivesse uma autonomia financeira, muito provavelmente esse casamento teria durado bem menos (BEATRIZ). Hoebel e Frost (2003) afirmam que a cultura é produtora de maneiras de ser, pensar e agir, e em se tratando de relacionamento conjugal, o que prevalece para as religiões é a indissolubilidade do casamento. Uma vez atribuído a indissolubilidade um caráter verídico, ele passa a ser interpretado como conduta moral e o que fugir ao convencional, por vezes, será reconhecido como tal. Esse caráter diferenciado pode ser interpretado como algo extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresenta, caracterizando-se, assim, o estigma (GOOFFMAN, 1998). Nos relatos das participantes, foram observados sentimentos associados ao estereótipo de ser divorciada ou separada, visto que além das dificuldades econômicas que viessem a surgir com a separação, elas pensavam também na questão de sair de uma condição que estava conforme o padrão socialmente aceito para outra que não é bem vista pela sociedade. Quanto à experiência de estar separada, os relatos da maioria refletem o preconceito que vivenciaram e vivenciam, destacando que tal preconceito aparece de duas formas: o que começa por si mesmas e também pelos outros, denunciando que estar separada pode vir a tornar-se um estigma. Eu tinha vergonha de, sabe? como eu fui criada por uma pessoa que tinha preconceito, eu me sentia uma prostituta, como uma mulher de vida livre, 77 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 que eu imaginava que as pessoas, talvez fosse até do meu imaginário, e depois eu perdi isso, entendeu? Então por conta disso eu acho que eu imaginava o que as pessoas iam pensar que eu agora ia ficar sem marido e que todo mundo ia tirar casquinha (ANA). Eu senti assim, às vezes numa roda de amigos, onde todas são casadas, tem uma separada, eu não sei se elas veem isso como ameaça, "não, tá solteira", sabe? "Eu acho que, tá separada, então tá acessível, qualquer um pode chegar, meu marido pode chegar" [...] talvez seja até a gente mesmo, evito andar com casais (NÚBIA). A gente sente assim, que para as amigas, amigas entre aspas, a gente sente assim, é um perigo, você passa a ser vista como um perigo, passa a ser vista de outra forma, você é uma bomba que esta ali preste a explodir a qualquer hora (TÂNIA). As pessoas mudam o pensamento com você, é impressionante [...] as vezes eu me sinto mal, eu tento não ligar pra isso, mas, as vezes tem certos comportamentos que me incomodam (BEATRIZ). Quanto a reações da família, amigos e filhos em relação à decisão das participantes em separar-se, foi de apoio pela maioria. A família foi quem mais apoiou, tendo sido menos frequente as reações de não aceitação. Notouse,essencial,o apoio da família às participantes, que serviu tanto como suporte financeiro, como emocional para elas. As reações de não aceitação foram mais presentes na fala acerca dos filhos. Foi relatado também reações de surpresa e admiração em relação à reação dos amigos. Meus pais foram maravilhosos [...] sempre tive o apoio deles (LEILA). Pra minha família foi péssimo, foi horrível, para minha mãe e meus irmãos eu era a primeira pessoa que estava separando na família, e não era correto, era errado (TÂNIA). Todo mundo (amigos) teve a mesma reação da minha família. Todo mundo disse "Ana, você demorou demais" Aí todo mundo disse, "Ana você tem que viver agora, daqui pra frente, esqueça o que passou e vá viver daqui pra frente" (ANA) Ficaram admirados (os amigos) porque eles não acreditavam e ate por causa dos anos de casado (NÚBIA). O (filho) mais velho chegou e disse assim "mãe tá mais do que na hora de você viver sua vida, pega meu pai, bota num baú, joga no mar e vai ser feliz" (NÍVEA). 78 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 A (filha) mais nova resistiu um pouco [...] de vez em quando falava, de voltar a família (SARA). CONCLUSÃO Os resultados desse estudo apontaram o casamento como uma instância da sociedade que serve como base para a construção da família. O divórcio, um mal necessário, se configura então como uma alternativa, dentre outras já cogitadas, quando há insatisfação na relação homem-mulher. Os sentimentos vivenciados durante o casamento foram de insatisfação e privação, que moveram as participantes à separação, de acordo com a percepção de si e da sua relação com o outro, dentro do que elas visualizaram como escolhas. A partir dos resultados apresentados, conclui-se também que a experiência de mulheres na maturidade pela tomada de decisão de separar-se após longos tempos de casamento é permeada por uma história de vida de frustrações individuais dentro do contexto da relação a dois. Os sentimentos vivenciados após a separação foram descritos como de felicidade e liberdade. Entretanto, embora houvesse a insatisfação, a separação aconteceu em média, depois de seis anos a partir do primeiro desejo de separar-se. Compreende-se então, que o amadurecimento da escolha sofreu diversas influências: as sociais, em que elas pesaram a reação da família, amigos e filhos diante da decisão de separação; das concepções de indissolubilidade do casamento, introjetadas a partir da religião e/ou educação obtida pela família; as econômicas, na qual se verificou ser de grande valia o estudo e trabalho na vida dessas mulheres no quesito amadurecimento pessoal e independência; e afetivas, ligadas ao sentimento de manter a estrutura familiar (pai-mãe-filhos) . Visto que essa decisão acontece como um processo, pode-se afirmar que se apresentaram alguns questionamentos centrais antes da separação. Dentro dessa dimensão encontra-se o receio da reação dos amigos, famílias e filhos diante de tal decisão e a insegurança ao pensar em manter-se sozinha e criar os filhos. Nesse sentido, observou-se que o fato de essas mulheres terem tido o apoio da família durante e após o processo de separação foi de suma importância, servindo tanto como suporte financeiro como emocional às mesmas, destacando aqui que essa situação pode vir a ser uma demanda à psicoterapia. Cabe ressaltar que o contexto sócio-histórico atual começa a entender o casamento como dissolúvel quando não há satisfação pessoal, uma mudança ainda tímida do paradigma que cerca as relações conjugais, principalmente as 79 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 de longa data, pois as participantes relataram situações de estereotipação. Nesse viés, sugere-se que a Psicologia, enquanto comprometida com a categoria compromisso social e sociedade, através de suas práticas e campos de estudo, promova ações que identifiquem e desconstruam estruturas sociais e práticas pessoais e profissionais. Dentro da psicologia são poucos os estudos na área da Psicologia de gênero. Ressalta-se, portanto, a importância de que outras pesquisas sejam realizadas, tendo em vista buscar um conhecimento mais aprofundado sobre as relações conjugais, separações e divórcios, e reconfigurações familiares organizadas a partir dessas dissoluções. Isso serve ao objetivo principal de compreender a ótica subjetiva das partes, tanto do homem quanto da mulher. Tais conhecimentos são válidos no campo de saber da Psicologia, pois contribuem para o entendimento do ser humano em suas novas formas de se relacionar, acrescentando atualizações à prática psicoterápica individual, familiar e de grupos. REFERÊNCIAS ARIÈS, P. História social da criança e da família. 2. ed., Rio de Janeiro: LCT, 1981. BASSANEZI, C. Revistas femininas e o ideal de felicidade conjugal (19451964). Cadernos Pagu, n. 1, p. 111-148, 1993. BERTOLINI, L B A. Relações entre o trabalho da mulher e a dinâmica famíliar. 2 ed. São Paulo: Vetor, 2002. CLONINGER, S C. Teorias da personalidade. 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A coleta de dados foi feita através de um questionário contendo 18 questões fechadas, que abordavam questões como: satisfação do atendimento prestado por professores e alunos, questões relativas ao medo e dor durante o tratamento, como também relacionados com à instituição. Os dados coletados foram apurados, analisados e tabelados utilizando-se o programa Microsoft Office Excel. Os resultados encontrados foram satisfatórios e coerentes com o que é encontrado na literatura, revelando que a maioria dos pacientes não sentiram dor (70%) ou medo (57%) durante o tratamento.Altos índices de satisfação com relação ao atendimento prestado por professores e alunos foram encontrados nos dados analisados, apontando 92% como ótimo ou bom no atendimento pelo aluno e 100% no atendimento pelo professor. Quando a questão analisada foi a satisfação do usuário com a instituição, em termos de limpeza, iluminação, organização e conforto, também se obteve um alto grau de satisfação pelos _____________________ 1. Prof.Associado da UFPI, e das IES FACID e NOVAFAPI. Teresina - Piauí, [email protected]. 2. Graduado em Odontologia - Faculdade FACID, Teresina - Piauí. 3. Acadêmico- Faculdade NOVAFAPI, Teresina - Piauí. 4. Prof. Associado da UFPE, Recife - Pernambuco. 5. Profa. Associada da UFPI, Teresina - Piauí. 82 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 usuários da Clínica Integrada de Odontologia de Instituição de Ensino Superior de Teresina, Piauí. Podendo concluir que os pacientes da clínica desta instituição, estão satisfeitos com o atendimento prestado por alunos, professores em geral. Palavras-chave: Estudos de Avaliação. Satisfação do paciente. Faculdades de Odontologia ABSTRACT The objective of this study was to assess the satisfaction of patients at an Integrated Clinic of a Dentistry course. One hundred patients, of both genders, were interviewed. Data collection was carried out using a form with 18-questions, which addressed issues such as: satisfaction with the care provided by professors and students, fear and pain during treatment, as well as institution-related satisfaction. The data collected were presented and processed using Microsoft Office Excel. Results were satisfactory and consistent with other studies, and the majority of the patients experienced no pain (70%) or fear (57%) during treatment. Regarding the satisfaction with care received, excellent or good care rates were found: 100% for care received from professors and 92% for care from students. Regarding the satisfaction with the institution on topics such as cleaning, lighting, organization and comfort, the satisfaction rate was also high. It was possible to conclude that patients of this institution are satisfied with the care provided by students and professors. Keywords: Evaluation Studies. Patient satisfaction. Dentistry Colleges. 1 INTRODUÇÃO A satisfação é uma das formas de se mensurar a qualidade de um serviço, que expressa o resultado do serviço prestado. A Odontologia,na última década,apresentou mudanças expressivas devido a um conjunto de fatores que devem ser abordados e analisados profundamente, pois culminaram em um momento de transformação, que pode significar um ponto de inflexão importante em relação a sua prática tradicional e ao desenvolvimento de novas interações. Na literatura, procura-se averiguar a expectativa do paciente frente ao atendimento; aos critérios utilizados para a avaliação por parte do paciente do 83 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 tratamento recebido; o nível de satisfação e os resultados obtidos. Tais trabalhos servem para avaliar a qualidade da relação entre paciente, profissional e estrutura organizacional do serviço, melhorando a eficácia do sistema prestador do atendimento ao usuário. Como toda instituição organizacional que está preocupada com a satisfação dos usuários com seus produtos e serviços, os provedores de serviços de saúde estão tornando-se mais envolvidos com a satisfação do paciente. Isto ocorre devido ao aumento da evidência de que a associação entre satisfação, aquiescência do paciente e sucesso do tratamento, determina a qualidade do atendimento em saúde. A satisfação do paciente é definida como uma resposta de base afetiva e avaliação de base cognitiva do receptor do tratamento de saúde. Considerando as atividades da disciplina de uma Clínica Integrada de um curso de Odontologia, como meio de viabilizar a satisfação das necessidades de saúde bucal da população, mediante a prestação de serviços adequados e o desenvolvimento dos recursos humanos necessários, torna-se indispensável a participação da comunidade como sujeito de tal processo. Implicando o compromisso da Instituição e de seus agentes a promover mecanismos apropriados (formais e informais) de participação dos pacientes, pois o fato de um serviço ser gratuito não exclui a obrigatoriedade de uma atenção individual ao paciente. Os alunos e os professores devem esmerar-se para que o paciente não se sinta "diminuído por receber um serviço gratuito" e torná-lo capaz de entender que a qualidade de um serviço oferecido não está condicionada à gratuidade. Com o intuito de avaliar a qualidade dos serviços prestados por uma Clínica Integrada de um curso de Odontologia, esta pesquisa teve como objetivo avaliar se o atendimento prestado conduz a satisfação nos pacientes, bem como avaliar a disciplina de Clínica Integrada do curso de acordo com a satisfação do usuário, oferecendo subsídios para melhorar e/ou modificar as características da disciplina. Na disciplina de clínica integrada, o aluno de graduação torna-se apto para o desempenho da clínica geral, de acordo com os fatores cognitivos, afetivos e psicomotores, com capacidade para exame, diagnóstico, planejamento e pela consequente execução do plano de tratamento, objetivando a resolução do caso clínico, interagindo os conhecimentos, habilidades e atitudes (valores) adquiridas ao longo do curso, de modo a proporcionar ao paciente o atendimento 84 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 integral das necessidades evidenciadas. Assim, a avaliação do que é realizado, é um dos componentes fundamentais para a programação dos serviços com garantia de qualidade e satisfação, além de ser um marco capaz de sugerir modificações e melhorias para o Curso de Odontologia da Faculdade que foi estudada. Diante de toda essa situação, pode-se fazer o questionamento se a qualidade dos serviços prestados pela Clínica Integrada de um curso de Odontologia de uma faculdade particular de Teresina produz satisfação aos pacientes. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Abordagem Geral A formação de dentistas tem tradicionalmente envolvido uma grande parcela do tempo voltada para o atendimento de pacientes. Assim sendo, a procura, por parte de pacientes, de clínicas odontológicas de instituições de ensino é extremamente importante. No entanto, em um meio acadêmico, muitas vezes, não sabemos ou não dividimos uma mesma opinião sobre como um paciente avalia o serviço que recebe o que considera relevante no mesmo, e, dentro de suas condições financeiras, o que o leva a escolher um serviço de saúde (RAMOS, 2001; POMPEU et al; 2012). Segundo Pinto (2000), permanece o eterno dilema: se tanto a preferência subjetiva quanto as abordagens profissionais são suspeitas para determinar quais são as necessidades e como elas são medidas, quem vai decidir sobre os indicadores sociais apropriados e como? A resposta consensual é a participação. A participação bem informada da população cujas necessidades estão sendo avaliadas é essencial. 2.2 Importância da Avaliação da Satisfação Os estudos com a finalidade de avaliar a satisfação de usuários de serviços de saúde ganharam destaque na literatura principalmente na década de 1970, em países como Estados Unidos e Inglaterra (ESPERIDIÃO; TRAD, 2006). No Brasil, a década de 1990 representou o auge das medidas de avaliação da satisfação de usuários, no contexto da expansão dos programas de qualidade no setor empresarial e sua implantação em serviços de saúde (MENDES, 2003). Apesar de o Sistema Único de Saúde ter sido legalmente estruturado há 85 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 quase duas décadas, cerca de trinta milhões de pessoas nunca foram ao dentista, ou seja, ainda há uma grande demanda sem acesso aos benefícios desse sistema. As faculdades de odontologia apresentam-se como um meio alternativo para a melhoria do acesso da população à atenção básica em saúde bucal. Leão e Dias (2001) relataram que trabalhos envolvendo percepções de pacientes agruparam alguns conceitos que eram referenciados ao julgar satisfação como: habilidade técnica do profissional, evitar que o paciente sinta dor, facilidade de acesso à clínica e ao tratamento, custo do tratamento; informações em relação ao tratamento, atitude do dentista, estética, higiene e função dos dentes. Assim, os estudos sobre satisfação do usuário são importantes, porque podem contribuir para o planejamento de medidas visando à superação das limitações detectadas com base nas informações adquiridas, e, dessa forma, visar o planejamento de medidas para a superação das limitações detectadas nos serviços de saúde (MIALHE; GONÇALO; CARVALHO, 2008). Por isso que a satisfação torna um indicador cada vez mais importante de qualidade no tratamento dentário (BUTTERS; WILLIS, 2000). 2.3 A Disciplina de Clínica Integrada A Clínica Integrada é uma das matérias obrigatórias dos currículos mínimos dos Cursos de Graduação em Odontologia no Brasil como matéria profissionalizante, conforme resolução do Conselho Federal de Educação (CFE, 1982). Inicialmente, foi concebida como um estágio ao final do Curso de Graduação, onde o aluno deveria aplicar os conhecimentos adquiridos nas demais disciplinas clínicas. A partir de 1982, a Clínica Integrada adquiriu o status de matéria, passando a organizar-se também em forma de disciplina (ARAÚJO, 2003). Segundo Bacci, Cardoso e Pasian (2002), a atenção odontológica configurada em clínicas integradas deve ser um eixo, a espinha dorsal no processo de formação do aluno e, nunca uma atividade marginalizada, complementar ou terminal. O paciente ideal para a CI é aquele que apresenta necessidades em no mínimo três especialidades, de várias complexidades, que podem ser solucionadas pelos graduandos e por um clínico geral (BORGHI et al., 2008). A produtividade clínica dos graduandos é de extrema importância para o processo de planejamento das atividades a serem realizadas nas clínicas e para a qualificação da assistência prestada (REIS; SANTOS; LELES, 2011). 86 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 As necessidades típicas destes pacientes são relacionadas à cárie e edentulismo, resultando em procedimentos característicos da prática generalista. Hoje fatores como confiança, atualização, competência, humanidade, presteza, pontualidade, cordialidade, preparo técnico científico e organização do ambiente de trabalho, são todos referências para a satisfação de um cliente e/ou paciente que usa um serviço (SANTOS; LACERDA, 1999; RUSSO, 2003). Em Porto Alegre (RS), Barbisan et al. (1995), realizaram um estudo sobre o paciente na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul(FO-UFRGS), desde o ingresso no setor de triagem, até o encaminhamento aos ambulatórios e atendimentos pelos alunos, e sua avaliação ao final deste processo. A maioria dos pacientes 66.57% atribuiu nota 10 aos atendimentos recebidos e a média aritmética dos graus atribuídos pelos pacientes para o atendimento recebido foi de 9.24 numa escala de 0 a 10. Segundo Almeida e Padilha (2001), em um trabalho realizado na Disciplina de Clínica Integrada da Universidade Federal da Paraíba (DCI/UFPB), foi observado que a DCI/UFPB não é capaz de promover saúde bucal nos pacientes, só atendimento curativo a nível ambulatorial, o que provocou uma insatisfação nos usuários. Segundo Wanderley et al.(2002), no estudo da efetividade dos serviços odontológicos oferecidos pela Disciplina de Clínica Integrada da Universidade Federal da Paraíba, os autores concluíram que a efetividade foi crítica, com predomínio da atenção curativa, índice de abandono preocupante e deficiência no registro dos planejamentos. 2.4 O Ensino Odontológico O ensino odontológico, historicamente identificado com o modelo biomédico de entender, explicar e tratar o processo saúde-doença apresenta algumas características marcadas pela supervalorização: do aspecto individual sobre o coletivo, da especialização sobre a abordagem clínica generalista, da tecnologia de ponta sobre as práticas simplificadas, da mercantilização do ato odontológico, da assistência curativa sobre a prevenção ou promoção de saúde, da centralização na autoridade do profissional, da concepção estática do processo-saúde-doença e alienada da sua determinação social. Apontando o modelo inapropriado de prática e assistência odontológica, hegemônico no Brasil, como ineficaz, ineficiente, descoordenado, territorialmente mal distribuído, de baixa cobertura, alta complexidade, caráter mercantilista, 87 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 monopolista e finalmente, no que se refere ao ensino odontológico, inadequado no preparo dos recursos humanos, Narvai(2002),destaca essas características a partir do relatório final dos membros da VII Conferencia Nacional de Saúde,realizada em Brasília em março de 1980. Embora tenham se passado mais de duas décadas, muitas dessas críticas ainda permanecem bastante atuais. Enfocando problema no ensino odontológico, destacamos que o objetivo do atendimento a pacientes nas clínicas universitárias deve responder à necessidade de formação e treinamento prático e técnico dos alunos, sem excluir o ideal ético de suprir as necessidades de saúde e demandas dos usuários que procuram este tipo de serviço, bem como a formação humanizada e ética dos profissionais de saúde, conforme recomendado nas Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia pelo Conselho Nacional de Educação (2001), que determina como perfil do egresso/profissional: Cirurgião Dentista, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor técnico e científico. Capacitado ao exercício de atividades referentes à saúde bucal da população, pautado em princípios éticos, legais e na compreensão da realidade social, cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atenção para a transformação da realidade em benefício da sociedade (ALMEIDA, 2003, p.26). Defendendo que a ética da responsabilidade deve ser científica e social, Garrafa (1999) afirma que a bioética concretizou-se a partir de definição de Potter como: A ciência da sobrevivência e do melhoramento da vida, podendose inserir nesse contexto o atendimento a usuários da clínica nas universidades.Nesse aspecto, o que historicamente se percebe é a falta de interesse na produção de trabalhos acadêmicos que avaliem os resultados dessa relação para a saúde do usuário, a partir de indicadores epidemiológicos e psicossociais que contemplam não só quantificação da produção dos procedimentos técnicos odontológicos representados por restaurações, próteses, tratamento endodônticos e cirurgias, mas também o impacto sobre a saúde dos usuários e sua satisfação com os resultados alcançados, incluindo, ainda a concepção crítica do aluno frente à natureza e às consequências técnicas e éticas dessa relação. O ensino odontológico em clínica integrada concluindo que a clínica integrada está consolidando-se nos currículos das instituições de ensino,estruturadas como disciplinas capazes de incorporar as necessidades 88 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 dos pacientes em seus objetivos, ressaltando a necessidade de se reavaliar o papel do ensino clínico dos cursos de odontologia não somente como produtoras de recursos humanos, mas também como produtoras da saúde dos usuários, recomendando:"o reforço imediato das atividades preventivas e de promoção de saúde,bem como o aprofundamento da monitorização dos indicadores de saúde nos usuários desta disciplina" (PADILHA et al., 2001). Percebe-se, nessa abordagem, a necessidade de se rever a prática da disciplina de clínica integrada,que se concretiza a partir do atendimento a usuários que se sentem como objeto de ensino devido a serem tratados como um caso de exemplificação para os alunos, sob o aspecto técnico e científico, sem perder de vista o papel social da prestação desse serviço, revelando o caráter ético da relação aluno-paciente (MINAS, 2002). 2.5 Concepções de Saúde As variadas concepções do conceito de saúde, nos diferentes grupos que compõem a sociedade moderna, são social e historicamente construídas, apresentando variações de conceitos e também de valores no que se refere à saúde, incluindo: estética, função, qualidade de vida, tipo de assistência, promoção e proteção à saúde e ainda a natureza, direitos e deveres da relação paciente-profissional, que determinam, em última instância, as expectativas dos usuários e profissionais, nesse caso alunos, frente ao atendimento odontológico(TIEDMANN; LINHARES; SILVEIRA, 2005; MATOS et al., 2002). Nessa mesma perspectiva, podemos analisar a relação estabelecida entre os alunos de graduação e os usuários da clínica integrada odontológica universitária, que, embora guarde algumas peculiaridades do ponto de vista legal, por se tratar de alunos em formação sob a tutela e a responsabilidade do professor, ainda assim, reproduz o mesmo conjunto de variáveis social e culturalmente determinadas da relação paciente profissional, configurando-se a clínica como relevante espaço de reflexão e aprendizado da prática profissional. 3 METODOLOGIA O trabalho foi caracterizado pelo estudo descritivo realizado com base no método qualitativo. Esse tipo de pesquisa teve como propósito observar e 89 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 descrever os aspectos característicos de uma determinada população e avaliou a satisfação dos pacientes em relação ao atendimento oferecido por serviços odontológicos de Clínicas Integradas. O estudo foi desenvolvido dentre o total de pacientes de uma Clínica Integrada de um Curso de Odontologia de uma faculdade particular em Teresina, onde foram selecionados 100 usuários, independentemente do gênero, com idade mínima de 18 anos e já terem sido atendidos no mínimo três vezes. Para a coleta de dados foi utilizado um questionário baseado em trabalhos realizados por outros autores, em que se procurou captar a opinião dos pacientes em relação aos diversos aspectos da assistência recebida e, da relação entre os usuários, alunos, professores e pessoal de apoio. O questionário foi aplicado pelos autores do trabalho, na sala de espera da clínica integrada em um clima de cordialidade, sem forçar a situação, não fazendo deste instante um episódio constrangedor e nem de caráter obrigatório para o paciente, que após informado do propósito, o autorizou através do consentimento livre e esclarecido. O referido questionário foi aplicado entre os meses de fevereiro e junho de 2010, e foi composto por dezoito (18) questões, sendo, questões fechadas, contendo itens sobre a qualidade da estrutura física (conforto, limpeza e iluminação), organização, atendimento a orientações recebidas pelo professor e pelo aluno. Portanto, foi avaliado como os pacientes expressaram sua percepção sobre o atendimento na Clínica Integrada dessa faculdade, os serviços oferecidos pelos alunos e professores e, ao mesmo tempo, o que revelaram sobre suas necessidades e expectativas de satisfação. Os dados coletados foram apurados, analisados e tabelados, utilizandose o programa Microsoft Office Excel. Este estudo se enquadrou na modalidade de pesquisa de risco mínimo e, de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, relativa à pesquisa em seres humanos, se tornou necessária a aprovação desse estudo pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sob protocolo de nº 332/09. Além disso, tal procedimento pressupôs a utilização do consentimento livre e esclarecido dos pacientes, conforme explicitado no capítulo IV da Resolução CSN 196/96 (Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa). 90 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com os resultados obtidos, 40 pacientes, o que representa 40% dos resultados obtidos estão trabalhando, 40% relataram estar desempregados, 20% disseram estar estudando e nenhum dos pacientes entrevistados relatou estar aposentado. Em estudo desenvolvido por Araújo (2003), observou-se que a maioria dos pacientes entrevistados estavam desempregados, 43,5% trabalham e um percentual mínimo de 2,5% eram aposentados. EEsse grande percentual de pacientes que relataram estar desempregados é característico da clientela de Clínicas Integradas das Faculdades de Odontologia das Instituições de Ensino Superior no Brasil, sendo que pacientes que trabalham possuem um elevado nível de faltas, pois eles não conseguem dispensas para frequentarem regularmente os serviços de saúde, problemas este que dificulta ao aluno a integralização de seus procedimentos em saúde bucal, além do fato de que indivíduos de classes baixas terem maiores dificuldades de promoverem saúde e de participarem de campanhas de prevenção e, por isto, tem maiores prevalência de alterações no seu estado de saúde (ARAÚJO, 2003). A renda familiar dos pacientes entrevistados na Clínica Integrada do curso de Odontologia da faculdade particular, com base no salário mínimo: 53 pacientes, que representa 53% dos pacientes entrevistados, afirmaram receber de um a dois salários mínimos mensais, 15 pacientes (15%) disseram receber de dois a três salários mínimos mensais, 14 pacientes (14%) relataram não ter nenhuma renda ou não sabiam, 10% dos entrevistados, que representam 10 pacientes, disseram que tinham renda de três a cinco salários mínimos, quatro entrevistados (4%) afirmaram receber entre 05 e 10 salários mínimos, o que também ocorreu nos pacientes que relataram ter uma renda familiar acima de 10 salários mínimos. Tiedmann, Linhares e Silveira (2005), relataram em seus estudos que 80% dos usuários que procuraram o atendimento em clínica universitária tinham uma renda familiar de até quatro salários mínimos, dados esses que se assemelham aos encontrados nesta pesquisa. De acordo com Barbisan et al. (1995), Leão e Dias (2001),Matos et al. (2002), os estudos da área de saúde têm demonstrado que os indivíduos das classes sócias mais baixas são os que apresentam maiores dificuldades para prevenção e o tratamento de certas doenças, ou por não terem condições de alterarem as condições sociais e ambientais que as geram, ou porque sua situação 91 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 de classe não lhes permite acesso à práticas curativas. Com relação à escolaridade, 19% dos pacientes disserem ter o 1º grau incompleto, 10% afirmaram ter o 1º grau completo, 19% relataram ter o 2º grau incompleto, 26% relataram ter o 2º grau completo, 18% disseram ter curso superior incompleto e 8% afirmaram ter concluído o curso superior. Enquanto ao nível de escolaridade dos pacientes entrevistados, Tiedmann, Linhares e Silveira (2005) relataram, em seus estudos, que a grande minoria dos usuários 3,5% obtinha nível superior Araújo (2003) destacou percentual de 46.5% para pacientes com nível médio completo e incompleto. Assemelhando-se assim a esse estudo, que encontrou um percentual de 45% para o mesmo nível de escolaridade dos pacientes. Como se pode observar no gráfico 1, 85% dos entrevistados relataram ter recebido informações sobre a sua necessidade de tratamento, qual tratamento iria ser realizado, enquanto que 15% dos pacientes disseram não ter recebido nenhuma informação sobre sua necessidade de tratamento. Mialhe, Gonçalo e Carvalho (2008) relataram, em seus estudos que eles apresentaram confiança e segurança na realização do atendimento clínico, discutindo o plano de tratamento odontológico junto aos usuários e fornecendo explicações claras sobre os procedimentos realizados, o que também foi encontrado nesse estudo. Gráfico 1. Informações sobre a necessidade de tratamento do paciente. Teresina-PI, 2010 Pode-se observar que enquanto as informações prestadas pelo aluno em relação à saúde bucal dos pacientes, 76 (76%) pacientes afirmaram ter recebido informações sobre como realizar uma correta escovação, como ter uma dieta adequada, flúor ou como evitar a cárie, enquanto que 24 (24%) relataram não ter recebido nenhuma informação sobre o assunto, dado que se 92 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 assemelha ao estudo de Araújo (2003), em que 68% dos entrevistados receberam informações sobre procedimentos preventivos em seu estudo. Ao avaliar a biossegurança na clínica, 100% dos pacientes entrevistados disseram que os alunos e professores estavam devidamente uniformizados com luvas, máscara, gorro e bata. Em estudo semelhante desenvolvido por Mialhe, Gonçalo e Carvalho (2008), também foi verificado que 100% dos entrevistados afirmaram que os alunos estavam devidamente uniformizados. Araújo (2003) relata que, em função dos riscos de contaminação por doenças infecciosas ao qual estão expostos os profissionais da Odontologia e os usuários, a utilização de equipamentos de proteção individual vem sendo colocados em prática, pela grande maioria dos prestadores de saúde. Foi verificado que 70% dos pacientes entrevistados não relataram sentir nenhum tipo de dor durante o tratamento, enquanto que 30% dos pacientes relataram sentir algum tipo de dor durante o tratamento realizado na Clínica Integrada do curso de Odontologia. Em trabalho semelhante a esse realizado por Araújo (2003) foi relatado que a maioria dos entrevistados 66% revelaram não ter sentido dor durante o tratamento, enquanto que 34% responderam que sentiram algum tipo de dor durante o tratamento odontológico. Verificou-se que 57% (57) dos pacientes entrevistados relataram não sentir nenhum medo durante o tratamento odontológico, enquanto que 29% (29) disseram sentir medo da anestesia, 6% (6) afirmaram ter medo da broca/ caneta e outros 8% (8) disseram sentir medo de tudo durante o tratamento odontológico. Nenhum dos pacientes entrevistados relatou ter medo dos instrumentais utilizados durante o atendimento odontológico. Em relação ao medo durante o tratamento odontológico Mialhe, Gonçalo e Carvalho (2008), observaram em seu estudo que a maior parte dos usuários não sentiu nenhum medo durante o tratamento. O medo do instrumental, da broca, e outros motivos considerados como causadores de medo aos entrevistados foram pouco referidos. A anestesia foi considerada pelos entrevistados como a maior causa de medo do tratamento, assim como se observou no presente estudo. Araújo (2003), salientaram que os paciente de baixo poder aquisitivo, cujo histórico de vida está relacionado a dor e ao sofrimento, associam a dor e o medo como fatores de insatisfação quando durante o atendimento ocorrem episódios dolorosos, que naturalmente geram medo no paciente. De acordo com os dados registrados na Tabela 1, 66% (66) dos 93 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 pacientes entrevistados disseram ter achado ótimo o atendimento prestado pelo aluno, 26% (26) disse que o atendimento prestado pelo aluno foi bom e 8% (8) relataram ter sido regular o atendimento prestado pelo aluno. Nenhum paciente entrevistado afirmou ter achado péssimo o atendimento prestado pelo aluno da Clínica Integrada do curso de Odontologia da faculdade particular Tabela 1 - Satisfação dos pacientes atendidos pelos alunos e professores. Teresina, 2010 No atendimento prestado pelo professor, 60% (60) dos entrevistados relataram ter achado ótimo o atendimento, enquanto que 40% (40) afirmaram ter achado bom o atendimento prestado. Nenhum entrevistado afirmou ter achado regular ou péssimo o atendimento prestado pelo professor da Clínica Integrada da faculdade particular. Um alto grau de satisfação dos usuários com o atendimento prestado pelos alunos e pelos professores na Clínica Integrada foi verificado por Mialhe, Gonçalo e Carvalho (2008) que relataram em seu estudo que mais da metade dos usuários considerou o atendimento realizado pelos alunos e professores como ótimo ou bom, sendo que 77% avaliaram como ótimo o atendimento prestado pelo aluno. Já em relação ao atendimento prestado pelo professor 67% afirmaram ter achado ótimo. Avaliando de modo geral, o paciente não possui critérios objetivos que lhe permitam avaliar a qualidade do tratamento odontológico recebido, baseando-se assim para seu julgamento em critérios difusos como rapidez, organização e resolutividade do problema que o afligem (LEÃO; DIAS, 2001). Dentre os pacientes entrevistados, 92% (92) afirmaram não ter nenhum tipo de constrangimento ao ser atendido em um local coletivo, enquanto que 94 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 8% (8) afirmaram sentir algum tipo de constrangimento ao ser atendido em um local coletivo. Segundo Araújo (2003), o fato de o atendimento ser em um ambiente coletivo, ao lado de muitas pessoas, não desagradou à maioria dos pacientes (95%), que afirmaram não se importar com isso. O motivo que, por parte dos pacientes, fizeram buscar a clínica foi à indicação de colegas e amigos 41% (41), 35% (35) procuraram a clínica por não ter dinheiro, 19% (19) relataram ter procurado o atendimento por já ser conhecido do aluno e 5% (5) por acharem que os alunos tem mais paciência com os pacientes. Estudos realizados por Tiedmann, Linhares e Silveira (2005) mostraram que a grande maioria dos usuários que procuravam o serviço da clínica universitária o fazia por motivo financeiro, o que representou uma amostra de 39% dentre um número de 54 pacientes ou por indicação de outros usuários, que representou 28%. Segundo Minas (2002), os pacientes sentem-se como objetos de ensino, mas se colocam na situação de submissão, pois necessitam do tratamento e, se o perderem, não terão condições financeiras para pagar por um mesmo tratamento de qualidade e sob a supervisão de um professor no serviço privado. Dentre os pacientes entrevistados, 62% (62) afirmaram ter achado ótimo o atendimento recebido na Clínica Integrada do curso de odontologia da faculdade particular e 38% (38) disseram ter achado bom o atendimento recebido, gerando assim uma satisfação de 100% no atendimento prestado na clínica. Dados pesquisados anteriormente por Tiedmann, Linhares e Silveira (2005) verificaram que também houve uma alta manifestação de satisfação com o atendimento na clínica universitária, chegando a 98% dentre um número de 54 usuários, considerando ainda o acadêmico atencioso, esclarecedor e educado segundo os relatos dos usuários entrevistados. De acordo com Butters e Willis (2000), a satisfação do paciente está tornando-se indicador cada vez mais importante de qualidade, contudo a maioria dos levantamentos de satisfação do paciente tem como público alvo apenas os pacientes atuais da clínica odontológica, o que pode resultar em uma estimativa aumentada da satisfação com o tratamento, já que os pacientes insatisfeitos já deixaram a clínica. 95 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 5 CONCLUSÃO Conclui-se que os pacientes da Clínica Integrada do curso de Odontologia da faculdade particular estudada estão satisfeitos com o atendimento prestado por alunos, professores e instituição em geral, pois de acordo com as perguntas e respostas que indicam qualidade e satisfação dos pacientes, viu-se que: • A grande maioria, representada por 70% dos pacientes, relatou não ter sentido dor alguma durante o tratamento. No quesito medo, a maior parte dos entrevistados afirmou não ter sentido medo no atendimento prestado pelos alunos da Clínica Integrada do curso de Odontologia da faculdade particular. Indicativos estes que geram satisfação nos pacientes atendidos. • Em relação à satisfação pelo atendimento prestado por alunos e professores da faculdade particular, 92% dos entrevistados conceituaram como ótimo ou bom o atendimento oferecido pelos graduandos, enquanto que 100% afirmaram ter achado ótimo ou bom o serviço prestado pelos professores. • Quando perguntado se o paciente teria alguma sugestão para melhorar o atendimento, a maioria dos pacientes informou não ter nenhuma sugestão, que estava satisfeito com o atendimento da forma como estava. • No quesito sobre avaliação da satisfação do atendimento recebido na clínica, 100% dos pacientes entrevistados revelaram ter achado ótimo ou bom o atendimento oferecido na clínica, e que os mesmos recomendariam a clínica para outras pessoas. Apesar dos resultados favoráveis e positivos, deve-se salientar que os professores responsáveis pela Clínica Integrada do curso de Odontologia da faculdade particular estudada, jamais deveriam se acomodar em seu saber e sua dedicação, muito pelo contrário, devem sentir-se responsáveis pelo controle de qualidade, pelo aprimoramento da própria clínica em seus aspectos organizacionais, filosóficos, administrativos e técnico-científicos. REFERÊNCIAS ALMEIDA, R. V. D.; PADILHA, W. W. N. Clínica integrada: é possível promover saúde bucal numa clínica de ensino odontológico? Rev. Pesqui Odontopediatr. Clin. Integrada, João Pessoa: v. 1, n. 3, p. 23-30, set./dez. 2001. 96 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 ALMEIDA, M. Diretizes curriculares nacionais para os cursos universitários da área da saúde. Londrina: Rede UNIDA, p.89, 2003. ARAÚJO, I. C. 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O objetivo geral do estudo foi investigar o perfil dos bolsistas do ProUni de uma Faculdade em Teresina-PI. Os objetivos específicos foram: identificar os bolsistas ProUni nas modalidades integral e parcial em todos os cursos da Faculdade selecionada; caracterizar os bolsistas quanto a origem familiar, escolarização básica, vida acadêmica atual e expectativas profissionais; comparar o desempenho acadêmico dos bolsistas dos diferentes cursos; analisar o desempenho acadêmico dos bolsistas tendo como parâmetro a origem escolar (escola pública ou privada); revelar as impressões dos bolsistas sobre o ProUni. O método adotado foi o estudo de caso descritivo, utilizando-se também a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental. O questionário foi o instrumento de coleta de dados junto aos bolsistas, e o histórico escolar foi utilizado para a coleta de dados sobre o desempenho acadêmico dos participantes. Os resultados foram tratados através da análise de conteúdo e da estatística descritiva, revelando que o perfil dos bolsistas ProUni da Faculdade campo do estudo apresentou as seguintes características: a maioria era originaria de Teresina, possuía bolsa integral e estudou em escola pública; não houve diferença significativa no desempenho acadêmico dos bolsistas que estudaram em escola pública em comparação com aqueles que estudaram em escola privada; a ______________________________ 1 Alunas do Curso de Medicina da FACID. Joice Suane foi bolsista do Programa de Iniciação Científica desta mesma IES. Email: [email protected]. Alba foi colaboradora da pesquisa. E-mail: [email protected] 2 Professora da FACID e Coordenadora da Comissão Local de Acompanhamento e Supervisão do ProUni; orientadora da pesquisa de iniciação científica. E-mail: [email protected] 100 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 maioria revelou que, concluído seu curso de graduação, pretende trabalhar e continuar estudando. Todos os participantes do estudo revelaram que o ProUni lhes deu a oportunidade de fazer um curso superior com melhores condições de infraestrutura acadêmica do que os cursos de uma IES pública. Conclui-se que, mais do que apresentar um retrato dos bolsistas ProUni de uma Faculdade, este trabalho aponta para a necessidade de ampliar-se o campo de estudo sobre o tema, considerando-se que o Programa é uma modalidade de inclusão e as IES particulares integrando-se ao ProUni estão exercitando sua responsabilidade social. Palavras-chave: Universidade para todos. Bolsistas. Vida acadêmica. Expectativas profissionais ABSTRACT The University for All Program (ProUni) has been rated as one of the most successful actions of the Ministry of Education, by allowing the entry of lowincome youth in institutions of higher education (IHE) private. In Teresina all private institutions are accredited to ProUni. The problem investigated in this study was characterized as the profile of the scholarship students ProUni a private institution of higher education in Teresina-PI. The overall objective of the study was to investigate the backgrounds of the scholars a Faculty of ProUni in TeresinaPI. The specific objectives were to identify the modalities ProUni stock and part in all selected courses of the Faculty, scholars characterize as family background, basic education, life current academic and professional expectations, to compare the academic performance of the stock of the different courses; analyze the academic performance of the stock as parameter the origin school (public or private school); reveal impressions of the fellows on the ProUni. The method used was a descriptive case study, also using the bibliographic and documental research. The questionnaire was the instrument to collect data from the fellows, and the transcript was used to collect data on participants' academic performance. The results were processed through content analysis and descriptive statistics, revealing that the profile of the Faculty Fellows ProUni field of study had the following characteristics: the majority were originally from Teresina, had a full scholarship and studied in public school, there was no difference significant academic performance of scholars who studied in public schools compared to 101 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 those who have studied in private schools, revealed that the majority, completed his undergraduate course, want to work and continue studying. All study participants revealed that ProUni gave them the opportunity to make a college with better infrastructure than academic courses in a public HEI. It is concluded that, rather than presenting a picture of a Faculty Fellows ProUni, this work points to the need to expand the field of study on the subject, considering that the program is a form of inclusion and the IES integrating the private ProUni are exercising their social responsibility. Keywords: University for all. Fellows. Academic life. Professional expectations 1 INTRODUÇÃO O Programa Universidade para Todos tem sido avaliado como uma das mais bem-sucedidas ações do Ministério da Educação, por possibilitar o ingresso de jovens de baixa renda nas instituições de ensino superior (IES) privadas. A concessão de bolsas de estudo para estudantes nessas condições tem oportunizado a milhares de jovens a continuidade de sua escolaridade com maior possibilidade de sucesso profissional, pela oportunidade de estudarem em IES privadas, as quais podem dispor de uma infraestrutura melhor aparelhada do que muitas universidades públicas. Em Teresina, todas as instituições privadas de ensino superior aderiram ao ProUni, atraídas pela isenção dos tributos federais indicados na Lei 11.096, de 13 de janeiro de 2005, que instituiu o Programa (BRASIL, 2005). Como resultado, um significativo número de jovens de baixa renda está cursando sua graduação em instituições privadas, cujas mensalidades não poderiam ser pagas, devido sua condição financeira não permitir. O que estes estudantes pensam deste beneficio que estão usufruindo? Que dificuldades eles vivenciam como bolsista ProUni na instituição em que estudam ? As respostas para estas e outras questões têm sido assunto de conversas entre os próprios bolsistas e professores que lidam com esta clientela nas salas de aula. O estudo ora relatado buscou produzir elementos que revelassem as principais características acadêmicas dos bolsistas ProUni de uma Faculdade em Teresina, tornando-se uma contribuição à discussão sobre os benefícios do ProUni. O problema investigado foi focado na caracterização do perfil dos alunos bolsistas do ProUni de uma instituição privada de ensino superior em 102 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Teresina-PI. O objetivo geral do estudo foi investigar o perfil dos alunos bolsistas do ProUni de uma Faculdade em Teresina-PI, tendo como objetivos específicos: identificar os bolsistas ProUni nas modalidades integral e parcial em todos os cursos da Faculdade selecionada; caracterizar os bolsistas quanto a origem familiar, escolarização básica, vida acadêmica atual e expectativas profissionais; comparar o desempenho acadêmico dos bolsistas dos diferentes cursos; analisar o desempenho acadêmico dos bolsistas tendo como parâmetro a origem escolar (escola pública ou privada); revelar as impressões dos bolsistas sobre o ProUni. 1.1O Programa Universidade para Todos O Programa Universidade para Todos, mais identificado pela sigla ProUni, é conduzido pelo Ministério da Educação (MEC) como umas das ações das políticas e programas de graduação da educação superior. Tem como finalidade a concessão de bolsas de estudos integrais e parciais a estudantes de baixa renda, em cursos de graduação e sequenciais de formação específica de instituições privadas de educação superior. Para as instituições que se credenciam no Programa a contrapartida é a isenção de quatro tributos federais: Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ); Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL); Contribuição Social para Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) , conforme estabeleceu a Leis noº 11.096/2005 (Brasil, 2005). De acordo com dados do site do ProUni, no seu primeiro processo seletivo, realizado no primeiro semestre de 2005, o Programa ofereceu 112 mil bolsas em 1.142 instituições de ensino superior privadas de todo o País (BRASIL, 2010). Para o Ministério da Educação, ao reservar vagas para jovens de baixa renda, incluindo afrodescendentes, indígenas e pessoas com deficiência, o ProUni caracteriza-se como um importante mecanismo de inclusão social, estabelecendo oportunidades para vencer as desigualdades no País (ibid.). O Manual de orientação ao bolsista ProUni informa que a bolsa de estudo é um benefício concedido na forma de desconto parcial ou integral sobre os valores cobrados pelas instituições de ensino privadas e se refere à totalidade das semestralidades ou anuidades escolares (BRASIL, 2011). A bolsa é um benefício concedido ao estudante pelo Governo Federal e não está condicionada a nenhuma forma de restituição monetária ao governo, ou seja, concluído o curso o bolsista não fica devendo nada aos cofres públicos. 103 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 O artigo 2º da Lei nº 11.096/2005 (BRASIL, 2005), estabelece que a bolsa será destinada a candidatos nas seguintes situações: I - estudante que tenha cursado o ensino médio completo em escola da rede pública ou em instituições privadas na condição de bolsista integral; II - estudante portador de deficiência, nos termos da lei; III - professor da rede pública de ensino, para os cursos de licenciatura, normal superior e pedagogia, destinados à formação do magistério da educação básica, independentemente da renda a que se referem os § 1º e 2º do art. 1º desta Lei. A Lei estabelece também que a manutenção da bolsa pelo beneficiário, observado o prazo máximo para a conclusão do curso, dependerá do cumprimento de requisitos de desempenho acadêmico, estabelecidos em normas expedidas pelo Ministério da Educação. Define ainda que o estudante a ser beneficiado pelo Prouni será pré-selecionado pelos resultados e pelo perfil socioeconômico do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM. O ProUni também possui ações de incentivos à permanência dos bolsistas nas IES, sendo uma delas a bolsa permanência, que é uma remuneração mensal em dinheiro concedida a estudantes com bolsa integral, em cursos que possuam alta carga de horas de trabalhos acadêmicos, como por exemplo, o Curso de Medicina. Outro incentivo destina-se aos bolsistas parciais, que podem utilizarse do Programa de Financiamento FIES para financiar integralmente a outra parte da mensalidade de seu curso não coberta pelo ProUni. De acordo com informações do site do ProUni, no ano 2010 o Programa chegou ao quantitativo de 400 mil bolsas de estudos oferecidas em todo o Brasil. Para o MEC a implementação do ProUni, somada à criação de novas universidades federais, amplia significativamente o número de vagas na educação superior, interioriza a educação pública e gratuita e combate as desigualdades regionais. 1.2 Os Estudos sobre Perfil As pesquisas sobre perfil, em geral, buscam identificar características de uma determinada população para fins específicos. As pesquisas sobre perfil de estudantes, por exemplo, em geral de iniciativa de determinada instituição de ensino, buscam identificar características gerais e específicas desta população com objetivo de subsidiar políticas e programas de melhor atendimento de sua clientela. 104 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Os estudos desenvolvidos pelo Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (FONAPRACE, 2003) e pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO, 2005) resultaram em um abrangente estudo dos estudantes das universidades federais, desvendando suas características pessoais, informações sobre a família, os antecedentes escolares, a vida acadêmica atual, informações do curso e expectativa profissional, informações culturais, informações sobre saúde e atividades físico-esportivas. Também a Universidade Estadual de Londrina, no Paraná, desenvolveu um estudo semelhante ao das universidades federais visando "conhecer a realidade socioeconômica e cultural dos estudantes de graduação da Universidade Estadual de Londrina - PR, dimensionando os reais níveis de carência e traçando um perfil dos estudantes da UEL" (FINATTI, 2005, p. 1). Nas universidades públicas os estudos de levantamento de perfil de estudantes representam uma importante contribuição para a definição de políticas e programas de assistência a esta população. Também têm sido utilizados por pesquisadores de outras instituições de ensino superior como importante mecanismo de conhecimento de determinadas características de seus alunos, com vistas ao planejamento de ações de atenção a este segmento da comunidade acadêmica. Estudos em outras áreas, como o de Reis e Ramos (2001), discutem que para cada nova geração que ingressa no mercado de trabalho brasileiro, o nível médio de escolaridade é normalmente bastante superior em relação aos pais desses mesmos indivíduos. Daí o aumento da demanda de filhos de famílias de baixa renda que buscam o ensino superior, almejando melhorar suas condições de vidas em relação a de seus pais. Os dados deste estudo mostraram que trabalhadores com pais mais escolarizados têm um nível médio de escolaridade bem mais alto do que os indivíduos com pais pouco educados e têm mais chance no mercado de trabalho, com empregos melhores e salários maiores. 2 METODOLOGIA 2.1 Métodos de Pesquisa Foi utilizado o estudo de caso descritivo, cujo objeto de estudo foi investigado em uma só instituição de ensino. Este tipo de estudo requer análise profunda do objeto, permitindo um conhecimento detalhado de seus elementos. Foram utilizadas ainda a pesquisa bibliográfica, para a busca das 105 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 informações que construíram a fundamentação teórica do estudo, e a pesquisa documental, para a análise dos dados de desempenho acadêmico dos participantes. 2.2 Cenário e Participantes do Estudo O cenário da pesquisa foi uma Faculdade em Teresina-PI que possui bolsistas ProUni, desde a implantação desse programa, no 1º semestre de 2005. O critério de seleção dessa Faculdade foi a facilidade de acesso aos bolsistas devido as pesquisadoras também aí estudarem. Na Faculdade são oferecidos os cursos de graduação em Direito, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Odontologia, Psicologia, e Sistemas de Informação, todos com bolsistas ProUni. A amostra definida foi de 80% dos bolsistas, selecionados pelo critério de facilidade de acesso no âmbito da Faculdade, tendo-se o cuidado de garantir a representatividade de todos os cursos de graduação. Na definição da amostra foram excluídos os bolsistas que estavam com matrícula trancada no primeiro semestre de 2011. A opção de definir a amostra de 80% está relacionada com os estudos de perfil analisados, que recomendam a inclusão de toda a população que constitui o grupo a ser analisado, com vistas a apresentar dados mais fidedignos na construção da caracterização do perfil dos sujeitos (FINATTI, 2005; FONAPRACE, 2003; UNIRIO, 2005). Na Faculdade selecionada, de acordo com dados de março de 2011, o total de bolsistas era de 269 (duzentos e sessenta e nove) sujeitos. 2.3 Coleta e Análise dos Dados Os dados foram coletados através de um questionário, elaborado com base nos objetivos do estudo e do histórico escolar dos bolsistas da amostra. Os bolsistas foram identificados através de lista nominal por curso, fornecida pela Coordenação do ProUni da Faculdade. A seleção da amostra se deu de forma aleatória, pelo procedimento de sorteio a partir da lista de bolsistas por curso, que era numerada. De cada curso selecionou-se 80% dos bolsistas. O questionário foi aplicado em duas fases. A primeira foi durante a assinatura da renovação das bolsas, em abril de 2011, quando a abordagem dos bolsistas ocorria no momento em que iam assinar o termo de atualização de 106 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 sua bolsa. Nesta fase atingiu-se apenas 44% do total de bolsistas. Foi diagnosticado que o não alcance da amostra se deu pela impossibilidade das pesquisadoras ficarem durante os três turnos na sala onde os bolsistas compareciam para a assinatura do termo de atualização da bolsa. Este comparecimento era de acordo com a vontade do bolsista e assim a presença deles foi muito aleatória. Aqueles que compareciam no momento em que uma das pesquisadoras estava na sala, eram convidados a participarem do estudo e, ao concordarem, eram solicitados a ler e assinar o termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias, ficando uma com a pesquisadora e outra com o bolsista. Posteriormente à devolução do questionário respondido, era feita a marcação na lista de bolsistas de quem já tinha respondido; a identificação dos bolsistas nesta situação era feita pela via do TCLE que ficava com as pesquisadoras, uma vez que no questionário o bolsista não ficava identificado pelo nome, somente pelo curso. A segunda fase de aplicação do questionário não estava prevista no projeto, mas foi necessária para a complementação da amostra e ocorreu de maio a julho do mesmo ano. Nesta fase o questionário foi aplicado nos intervalos das aulas, quando os bolsistas eram identificados e convidados a participarem do estudo. Os procedimentos éticos foram idênticos aos da aplicação na primeira fase. A organização dos dados descritivos do questionário se deu através da definição de categorias, utilizando-se a técnica de análise de conteúdo, na modalidade análise temática, descrita por Bardin (2009). Os dados quantitativos do questionário e dos históricos escolares foram analisados através de estatística descritiva, aplicando-se o teste ANOVA e o teste T, gerando-se tabelas e gráficos. 2.4 Procedimentos Éticos Para a realização da pesquisa foram cumpridos todos os requisitos da ética em pesquisa definidos pela Resolução CNS nº 196/1996 que estabelece diretrizes e normas para as pesquisas envolvendo seres humanos (BRASIL, 1996). O projeto foi submetido previamente ao Comitê de Ética em Pesquisa 107 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 da Faculdade Integral Diferencial (FACID), aguardando-se sua aprovação para iniciar-se a coleta dos dados. A aprovação da pesquisa se deu através do Parecer CEP/FACID com protocolo nº 335/2010. Ao aceitarem participar do estudo, os bolsistas ProUni recebiam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que descrevia os objetivos da pesquisa, os procedimentos de coleta dos dados, a garantia do sigilo das informações e anonimato dos participantes e seus direitos. Após a assinatura do Termo, recebiam o questionário com as devidas explicações, sendo agendada a sua devolução para o dia seguinte. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Perfil Geral dos Bolsistas Do total de bolsistas da amostra 53,3% eram do gênero masculino, o que mostra no cômputo geral uma predominância de homens em relação às mulheres bolsistas do ProUni na Faculdade campo do estudo. No entanto, na análise por curso, em Direito e em Psicologia, a predominância foi do gênero feminino. Em relação à idade, a maioria dos bolsistas (79,2%) estava na faixa de 20 a 29 anos. Sobre o estado civil os dados revelaram que 91,7% permaneciam solteiros. No deslocamento entre a residência e a Faculdade, 79,2% indicaram utilizar o ônibus coletivo como meio de transporte. Estes dados gerais coincidem em parte com os encontrados por Finatti (2005) e FONAPRACE (2003), que se diferenciam em relação aos dados relativos ao curso de Direito em que houve predominância do gênero masculino nesses dois estudos. Em relação ao tipo de bolsa ProUni, a maioria dos bolsistas participantes do estudo indicou ter bolsa integral, o que possibilita na conclusão de seu curso de graduação sem as despesas com as mensalidades. Nos cursos de Odontologia, Psicologia e Sistemas de Informação todos os bolsistas informaram ter este tipo de bolsa (Figura 1). De acordo com informações da Coordenação do ProUni da Faculdade campo do estudo, na adesão ao Programa, em dezembro de 2004, a opção foi pela oferta de bolsas integrais e bolsas parciais de 50%. No primeiro processo seletivo de bolsistas, ocorrido no primeiro semestre letivo de 2005 e até o segundo semestre de 2006, as bolsas disponibilizadas eram nestas duas modalidades. A partir do primeiro semestre de 2007 a Faculdade mudou a 108 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 opção e passou a oferecer somente bolsas integrais. No entanto, podia receber bolsas parciais através de transferências de bolsistas de outras Faculdades, daí a predominância de bolsas integrais em todos os cursos contrastando com baixos percentuais de bolsas parciais, conforme mostra a Figura 1. Figura 1 - Modalidades de bolsas dos participantes do estudo Fonte: dados da pesquisa (2011). As normas do ProUni estabelecem que as bolsas são dirigidas a egressos do ensino médio que estudaram em escolas públicas ou em escolas privadas na condição de bolsista integral. Outra exigência é que a renda familiar per capita seja de até um salário mínimo e meio para a concessão de bolsa integral e até de três salários mínimos para a bolsa parcial (BRASIL, 2011). Tendo por base estes requisitos, a pesquisa buscou identificar a origem familiar e a escolarização básica destes bolsistas, cujos dados estão apresentados nas Figuras 2, 3 e 4. 109 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Figura 2 - Origem familiar dos bolsistas Fonte: dados da pesquisa (2011). Os dados revelaram que os bolsistas eram predominantemente do Piauí, incluindo Teresina e outras cidades, mas que também muitos eram de outros Estados. Identificou-se que aqueles originários de outras cidades do Piauí moravam em casa de parentes em Teresina. Os bolsistas de outros Estados informaram morar em pensões, casas ou apartamentos alugados, juntos com colegas bolsistas ou não. Os Estados identificados foram Ceará, Maranhão e Pará. Ainda para caracterizar a origem familiar dos bolsistas buscou-se identificar o nível de escolaridade dos pais, chegando-se aos dados apresentados na Figura 3. 110 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Figura 3 - Nível de escolaridade dos pais Fonte: dados da pesquisa (2011). Os dados revelaram que os pais, mesmo com uma renda familiar de um salário mínimo e meio, o que ocorria na maioria, predominantemente chegaram a concluir o ensino médio. Alguns até concluindo um curso de graduação e de pós-graduação, com índices mais altos entre as mães. Estes dados são semelhantes ao estudo de Reis e Ramos (2011) que comparou a escolaridade dos pais de trabalhadores, comprovando que o nível de educação dos pais tem influência direta sobre os rendimentos dos filhos no mercado de trabalho, quando estes superam a escolaridade de seus genitores. No estudo ora relatado supõese que os pais estimularam seus filhos a fazerem um curso de graduação em uma instituição de ensino superior privada, utilizando o benefício do ProUni, para assim obterem um bom nível de escolaridade e posteriormente uma boa colocação no mercado de trabalho. Um outro dado relacionado com a origem dos bolsistas foi o ensino médio completo em escola da rede pública ou em instituições privadas na 111 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 condição de bolsista integral. Os resultados apresentados na Figura 4 mostram que predominantemente os bolsistas são de escola pública, o que os relaciona com o grupo familiar de baixa renda, como exigem as normas do ProUni. Também nos estudos de Finatti (2005) e da UNIRIO (2005) houve uma predominância de alunos egressos de escolas públicas nas IES pesquisadas. Figura 4 - Tipo de escola no ensino médio Fonte: dados da pesquisa (2011). No perfil geral dos bolsistas também se buscou-se identificar as características de sua vida acadêmica sendo verificado se participavam de atividades de monitoria, extensão, pesquisa e estágio não obrigatório. Os resultados mostraram que uma minoria tinha esta participação, sendo que em quatro cursos nenhum dos bolsistas participou de qualquer uma das opções de atividades apresentadas, conforme mostra a Figura 5. 112 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Figura 5 - Participação em atividades acadêmicas Fonte: dados da pesquisa (2011). Estes resultados mostram que a Faculdade necessita fazer uma melhor divulgação junto aos bolsistas ProUni da importância destas atividades a fim de que haja um engajamento efetivo destes estudantes em atividades acadêmicas que vão enriquecer e ampliar seus conhecimentos durante a graduação. A monitoria, a extensão, a pesquisa e o estágio não obrigatório, são atividades que complementam a formação do aluno fora da sala de aula e constituem-se em componentes curriculares obrigatórios, o que significa que o bolsista deverá apresentar o certificado de participação em, pelo menos, uma destas atividades para concluir sua graduação. 3.2 Desempenho Acadêmico Na categoria desempenho acadêmico uma característica investigada foi se haveria diferença significativa entre o desempenho de bolsistas que cursaram o ensino médio em escola pública ou em escola privada. Os resultados indicaram 113 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 que não houve diferença significativa nesta categoria, conforme mostram as Figuras 6 e 7. Figura 6 - Desempenho acadêmico dos bolsistas oriundos de escola privada Fonte: dados da pesquisa (2011) Figura 7 - Desempenho acadêmico dos bolsistas oriundos de escola pública. Fonte: dados da pesquisa (2011). 114 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Resultados semelhantes foram encontrados por Finatti (2005) em seu estudo sobre o perfil socioeconômico e cultural dos estudantes da Universidade Estadual de Londrina-PR (UEL), para os cursos de Direito, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Odontologia e Psicologia. Ressalte-se que na UEL não há curso de Sistemas de Informação, daí não ter-se obtido dados deste curso para comparação dos resultados. Como apresentado nas Figuras 6 e 7, em seis dos oito cursos estudados não se constatou diferença significativa no desempenho de bolsistas oriundos de escola particular. Assim foi possível verificar que, nesta clientela, o fato da maioria ter cursado o ensino médio em escola pública, esta situação não interferiu em seu desempenho no curso de graduação. Estes resultados podem contribuir para a discussão da ideia de que a escola pública não oferece um ensino de má qualidade, conforme o difundido pelo senso comum. 3.3 Expectativas Profissionais Quanto às expectativas dos bolsistas após a conclusão de seu curso, outra característica do perfil dos bolsistas que se buscou investigar, os resultados foram muito positivos uma vez que mais de 90% indicaram que pretendem trabalhar após a conclusão de seu curso e, destes, 50% pretendem continuar estudando mesmo já empregados (Tabela 1). Tabela 1 - Expectativas dos bolsistas após a conclusão do curso de graduação Expectativas 1 Trabalhar e continuar estudando 2 Trabalhar na área 3 Continuar estudando 4 Trabalhar em qualquer área 5 Outras Total Fonte:dados Dadosdadapesquisa pesquisa(2011) (2011). Fonte: 115 % 50,0 43,2 5,9 0,7 0,2 100,0 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Entre as respostas identificadas como "outras" na Tabela 1, foram encontradas: "fazer concurso", "ser professor de ensino superior", "ter um bom emprego". Considera-se um resultado significativo nesta categoria o fato de que metade dos participantes indicou que, após concluir a graduação, pretende continuar estudando. Acredita-se que este é um indicador de que as expectativas profissionais desses sujeitos estão voltadas para a ampliação dos conhecimentos acadêmicos e para o crescimento profissional. Ressalte-se que estes dados não puderam ser confrontados com os de outros autores devido não se ter encontrado estudos que abordassem expectativas profissionais de estudantes de graduação. 3.4 Impressões dos Bolsistas sobre o ProUni Outra informação buscada para caracterizar o perfil dos bolsistas do ProUni foi as impressões destes estudantes sobre o Programa Universidade para Todos. Os dados desta categoria foram analisados por curso, tendo sido constatada grande semelhança entre as respostas mais prevalentes. Devido esta semelhança de respostas entre os cursos, apresenta-se na Tabela 2 os resultados gerais desta categoria. Tabela 2 - Impressões dos bolsistas sobre o ProUni Impressões 1 Muito válido porque dá oportunidade à pessoas pobres de concluir um curso superior 2 Dá oportunidade ao jovem pobre de competir no mercado de trabalho em igualdade de condições com os ricos. 3 É importante para os pobres porque as universidades públicas oferecem poucas vagas 4 Não responderam Total Fonte:dados Dadosdadapesquisa pesquisa(2011) (2011). Fonte: 116 % 73,8 20,0 4,1 2,6 100,0 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Nestas respostas, foi possível perceber que os participantes deste estudo consideram o ProUni um programa que tem trazido benefícios para as pessoas de baixa renda que passar a poder ter acesso ao ensino superior privado. A concessão de bolsas de estudo a esses estudantes, desde a criação do Programa em 2005, tem oferecido oportunidade a milhares de jovens de ampliarem os seus conhecimentos e as chances de sucesso profissional no mundo do trabalho (BRASIL, 2011). Ressalte-se que estes dados não puderam ser confrontados com os de outros autores devido não ter-se encontrado outros estudos sobre bolsistas do ProUni. 4 CONCLUSÃO Finalizado o estudo e se verificando-se os objetivos propostos, constatou-se que a maioria dos bolsistas possuía bolsa integral; era oriundo de escola pública; nasceu em Teresina; demonstrou pretensão de trabalhar e continuar estudando. Conclui-se que, mais do que apresentar um retrato dos bolsistas ProUni de uma Faculdade, o presente trabalho aponta para a necessidade de ampliarse o campo de estudo sobre o tema, considerando-se que o Programa é uma modalidade de inclusão social e as IES particulares, integrando-se ao ProUni, estão exercitando sua responsabilidade social. REFERÊNCIAS BARDIN, L. Análise de conteúdo. 4.ed. revista e atualizada. Lisboa: edições 70, 2009. BRASIL. Ministério da Educação; Programa Universidade para Todos. Manual do bolsista. Brasília: Ministério da Educação, 2011. Disponível em: http:// www.estacio.br/ prouni/pdf/manual_bolsista_prouni.pdf. Acesso em: 15, mai. 2011. BRASIL. Ministério da Educação; Programa Universidade para Todos. Processo seletivo 2005. Disponível em: http://siteprouni.gov.br. Acesso em: 15mai.2010 117 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 BRASIL. Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005. Institui o Programa Universidade para Todos - PROUNI, regula a atuação de entidades beneficentes de assistência social no ensino superior; altera a Lei no 10.891, de 9 de julho de 2004, e dá outras providências. BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília, 1996. FINATTI, B. E. O perfil sócio-econômico e cultural dos estudantes da Universidade Estadual de Londrina-PR. 2005. Disponível em: www.uel.br. Acesso em: 08 ago. 2010. FONAPRACE (Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis). Pesquisa do perfil sócio-econômico e cultural do estudante de graduação das IFES brasileiras. 2003. Disponível em: www.fonaprace.org.br. Acesso em: 08 ago.2010. REIS, M. C.; RAMOS, L. Escolaridade dos pais, desempenho no mercado de trabalho e desigualdade de rendimentos. Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, v.65, n.2, p. 177-205, abr./jun. 2001. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em: 05 dez. 2011. UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro). Pesquisa do perfil sócio-econômico e cultural do estudante da UNIRIO. 2005. Disponível em: www.fonaprace.org.br. Acesso em: 08 ago.2010. 118 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 ERITROPOETINA E NÚMERO DE ANTI-HIPERTENSIVOS EM PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA EM HEMODIÁLISE ERYTHROPOIETIN AND NUMBER OF ANTIHYPERTENSIVE IN PATIENTS WITH CHRONIC RENAL FAILURE ON HEMODIALYSIS Nayane Piauilino Benvindo Ferreira¹, Antônio Gonçalves Rodrigues Júnior² RESUMO A anemia é complicação comum em pacientes com doença renal crônica, principalmente os submetidos à terapia de substituição renal como a hemodiálise. O uso de eritropoetina recombinante humana tem sido muito importante no manejo da anemia desses pacientes. A hipertensão arterial é complicação citada com o uso de eritropoetina. A terapia anti-hipertensiva reduz o risco de doença cardiovascular e retarda a progressão da lesão dos néfrons ao melhorar a hipertensão e hipertrofia intraglomerulares. Objetivou-se associar dose de eritropoetina e número de drogas anti-hipertensivas usadas por pacientes com insuficiência renal crônica em hemodiálise. Através dos prontuários e entrevistas com cada paciente de duas clínicas especializadas em hemodiálise (localizadas em Floriano-PI e Teresina-PI), foram coletados dados sobre o número de antihipertensivos, dose de eritropoetina, presença de função residual e hematócrito. Participaram da pesquisa 308 pacientes obtendo uma fraca correlação positiva entre dose de eritropoetina e número de anti-hipertensivos na clínica de FlorianoPI (Rxv=0,10) e na clínica de Teresina-PI (Rxv=0,22). Concluindo-se que altas doses de eritropoetina são associadas a um moderado aumento do número de drogas anti-hipertensivas usadas por pacientes com insuficiência renal crônica em hemodiálise. Palavras-chaves: Doença renal. Hipertensão arterial. Anemia. Hematócrito. ___ ____ ____ ____ __ ¹Acadêmica do curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial - FACID • email: [email protected] Rua Desembargador João Pereira, 120, Apto 404, Santa Isabel • CEP 64055-100 Teresina-PI • Fone: (86) 99530202. ²Médico, especialista em nefrologia, professor do curso de graduação em Medicina da Faculdade Integral Diferencial FACID • email: [email protected] • Rua Angélica, 1651, Apto. 800, Jóckei Clube • CEP 64048-162 Teresina-PI Fone: (86) 99304321. 119 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 ABSTRACT Anemia is common complication of chronic kidney disease patients, particularty those undergoing renal replacement therapy such as hemodialysis. The use of recombinant human erytropoietin has been very important in the management of anemia in these patients. Hypertension is complication refered to with the use of erythropoietin. The antihypertensive therapy reduces the risk of cardiovascular diseases and slow the progression of nephron injury by improving intraglomerular hypertension and hypertrophy. The objective was to involve erythropoietin doses and number of antihypertensive drugs used by patients with chronic renal failure in hemodialysis. Through records and interviews with each patient two clinics specializing in hemodialysis (located in Floriano-PI e Teresina-PI), data were collected on the number of antihypertensive drugs, erythropoietin doses, presence of residual function and hematocrit. 308 patients partipated in the survey obtaneid a weak positive correlação between erythropoietin doses and number of antihypertensive in clinical Floriano-PI (Rxy = 0,10) and clinical Teresina-PI (Rxy = 0,22). Concluding higher doses of erythropoietin are associated with a moderate increase in the number of antihypertensive drugs used by patients with chronic renal failure undergoing hemodialysis. Key-works: Kidney disease. Hypertension. Anemia. Hemtocrit. 1 INTRODUÇÃO Independentemente da doença de base, os principais desfechos em pacientes com doença renal crônica (DRC) são as suas complicações decorrentes da perda funcional renal (anemia, acidose metabólica, alteração do metabolismo mineral e desnutrição), doença renal terminal e óbito, principalmente, por causas cardiovasculares (BASTOS; BREGMAN; KIRSZTAIN, 2010). A DRC é um estado inflamatório. Os níveis de proteína C reativa aumentam à medida que os pacientes perdem função renal. Este estado inflamatório está associado à presença de anemia (ABENSUR, 2010). A anemia da DRC, quando não complicada por fatores associados, é tipicamente normocítica e normocrômica (GUALANDRO, 2000). No paciente renal crônico a presença de anemia está relacionada com alterações cardiovasculares (aumento de débito cardíaco, hipertrofia ventricular, angina e 120 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 insuficiência cardíaca), disfunção cognitiva, neuromuscular, sexual e da resposta imune, aumenta a fadiga, diminui a capacidade de trabalho, a tolerância ao exercício, o apetite, a libido e altera o sono. Este conjunto de achados clínicos tem um impacto desfavorável na qualidade de vida desses pacientes (CANZIANI, 2000). A presença de hipertrofia de ventrículo esquerdo constitui importante fator independente de risco cardiovascular para os pacientes com DRC, representando o principal predito de morte cardiovascular (ARAÚJO et al, 2011). À semelhança do que ocorre nas demais condições clínicas, a anemia na insuficiência renal crônica (IRC) depende de três vertentes fisiopatológicas: perda de sangue, destruição aumentada das hemácias e redução da eritropoiese. O mecanismo preponderante para seu aparecimento e manutenção é a eritropoiese diminuída, ocasionada, principalmente, pela deficiência relativa de eritropoetina (LUGON, 2000). A deficiência de eritropoetina (EPO) no contexto da IRC pode ser causada por dois mecanismos diferentes: a capacidade de produção dos rins é diminuída devido ao dano renal causado pela doença subjacente e ou o set point para a produção de EPO é reduzido em relação à oxigenação dos tecidos (FEHR et al, 2004). As causas de resposta inadequada à reposição de eritropoetina são: deficiência de ferro (causa mais comum de resposta incompleta), processos infecciosos ou inflamatórios, perda crônica de sangue, intoxicação por alumínio, hemoglobinopatias, deficiência de folato ou vitamina B12, mieloma múltiplo, desnutrição e hemólise (YI ZHANG, 2004). Está indicado que o hematócrito atinja o valor entre 33% a 36% e a hemoglobina entre 11-12g/dl, pois esses valores estão associados à maior sobrevida dos pacientes em hemodiálise, diminuição da hipertrofia ventricular, melhoria da qualidade de vida e da capacidade de exercício (ABENSUR; ALVES, 2000). É descrita elevação de 10 mmHg ou mais em 30% dos pacientes que usam eritropoetina. Os possíveis mecanismos identificados em estudos experimentais e clínicos são aumento da viscosidade sanguínea, da reatividade vascular, da disfunção endotelial e ação vasoconstrictora direta (RODRIGUES JÚNIOR et al., 2006). O tratamento da hipertensão arterial induzida pela eritropoetina deve ser realizado com a redução do peso seco real, diminuição da dose de eritropoetina ou interrupção do tratamento, e depois reintrodução com a menor 121 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 dosagem possível e iniciação ou aumento da medicação anti-hipertensiva, de preferência com os bloqueadores do canal de cálcio (KISS; FARSANG; RODICIO, 2005). O estudo visou determinar a associação entre as doses de eritropoetina e o número de anti-hipertensivos usados por pacientes com insuficiência renal crônica em hemodiálise. Por acreditar-se que o uso de eritropoetina, necessário em pacientes com DRC avançada, determina aumento dos níveis de pressão arterial em parte da população em hemodiálise, necessitando o uso de maior quantidade de drogas anti-hipertensivas para evitar a ocorrência de eventos cardiovasculares desfavoráveis. 2 METODOLOGIA O estudo teve caráter observacional, transversal e descritivo de abordagem quantitativa. O protocolo de pesquisa foi submetido à análise do Comitê de Ética em Pesquisa - CEP / FACID, protocolo nº 565/10, de acordo com a Resolução CNS 196/96(BRASIL, 1990) tendo recebido parecer favorável quanto à sua execução. Aos pacientes concordantes da participação na pesquisa foi solicitada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Dentro de um universo de 378 pacientes submetidos à terapia renal substitutiva por hemodiálise, a amostra de 308 pacientes foi inclusa no estudo por se enquadrarem nos critérios de inclusão da pesquisa tais como: idade maior ou igual a 18 anos, estar em tratamento dialítico há mais de três meses e em uso de eritropoetina há pelo menos 1 (um) mês. Foram analisados os prontuários de 186 pacientes de uma unidade de terapia renal em Floriano-PI, e busca ativa de prontuários e entrevista com 122 pacientes em unidade de terapia renal de Teresina-PI, totalizando 308 participantes, com idade maior ou igual a 18 anos, de ambos os gêneros, que estavam em tratamento dialítico há mais de três meses, durante o período de um mês (abril/maio de 2011). Na abordagem inicial, o paciente era esclarecido quanto à finalidade, aos objetivos e aos procedimentos do estudo. Uma vez concordante da participação, era solicitada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os parâmetros avaliados nesta pesquisa foram dose de eritropoetina, número de medicações anti-hipertensivas, presença de diurese residual e valor de hematócrito. Não foi utilizado o valor de hemoglobina para avaliar o grau de anemia como preconizado na literatura (ALVES; GORDAN, 2007) porque 122 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 não era disponibilizado por uma das clínicas. A unidade representativa de dose de eritropoetina apresentada nos gráficos e tabelas devido a fins didáticos foi de ampolas/mês, no qual 01 ampola = 4000UI. A via de administração da eritropoetina em ambas as clínicas era a endovenosa. A análise dos dados foi realizada através da estatística descritiva onde foram calculados medidas, indicadores e percentuais na base 100. Os resultados são apresentados através de gráficos e tabelas que para tanto se fez uso do programa Excel 2007 (SPSS 12.0). Para o cálculo da correlação foi utilizado o índice de correlação de Pearson. Também foram determinadas as médias, com os respectivos desvios padrão, dos valores das variáveis estudadas. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Neste estudo, a maioria dos 308 pacientes fazia uso de 4000UI de eritropoetina três vezes por semana o que corresponde a 12 ampolas/mês (Figura 1). Segundo Sesso et al., (2008), 83% dos pacientes em hemodiálise no Brasil fazem uso de eritropoetina. Figura 1: Dose de eritropoetina em ampolas por mês, administrada por via endovenosa nas clínicas de Floriano e Teresina, 2011 Fonte: dados da pesquisa (2011) 123 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 A definição da dose de eritropoetina a ser utilizada por cada paciente foi definida com base no grau de anemia, que, por sua vez, foi avaliado através do nível de hematócrito. Na prática, hematócrito (ou preferencialmente hemoglobina) é o indicador clínico mais comumente usado para guiar o tratamento com eritropoetina (YI ZHANG et al, 2004). Figura 2 - Comparação entre níveis de hematócrito, presença de função residual renal e número de anti-hipertensivos dos pacientes com insuficiência renal crônica em hemodiálise das clínicas de Floriano e de Teresina, 2011 Fonte: dados da pesquisa (2011) Em ambas as clínicas a maioria dos pacientes apresentou hematócrito inferior a 33% o que corrobora com Yi Zhang et al (2004) quando afirmaram que a anemia é uma complicação comum e previsível da doença renal terminal, especialmente, nos pacientes em terapia de hemodiálise. Ao aplicar o índice de correlação de Pearson entre nível de hematócrio e dose de eritropoetina, foi obtida uma moderada correlação negativa em ambas as clínicas, com resultado de Rxy = - 0,37 em Floriano e Rxy = - 0,41 em Teresina, indicando que o aumento da dose de eritropoetina provocou uma 124 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 diminuição do grau de anemia, traduzido laboratorialmente por um aumento do nível de hematócrito, concordando com Ofsthun et al (2003) que afirmaram que a introdução de eritropoetina recombinante humana para o tratamento da anemia na doença renal crônica promoveu a oportunidade para corrigir a anemia desses pacientes. A hipertensão é uma complicação reconhecida do tratamento da anemia com eritropoetina em pacientes em hemodiálise (RODRIGUES JÚNIOR et al, 2006). Neste estudo, a quantidade de drogas anti-hipertensivas foi maior na Clínica de Floriano, onde a variação do número utilizado de anti-hipertensivos foi de zero a seis (média de 2,7 ±1,36) enquanto que em Teresina a variação foi de zero a quatro (média de 1,1± 0,99) (Figura 2). Ao associar-se dose de eritropoetina com número de anti-hipertensivos, foram obtidos os seguintes resultados: Rxy = 0,10 (na Clínica de Floriano) o que indica haver uma fraca correlação positiva, ou seja, o aumento na dose de eritropoetina provoca um pequeno acréscimo/aumento na quantidade de drogas anti-hipertensivas entre os pacientes atendidos na Clínica de Floriano. Na Clínica de Teresina o resultado foi de Rxy = 0,22 o que indica haver uma fraca/moderada correlação positiva, ou seja, o aumento na dose de eritropoetina provoca um moderado acréscimo/aumento na quantidade de drogas anti-hipertensivas entre os pacientes frequenta na Clínica de Teresina. Tal resultado apresenta-se em desacordo com Rodrigues Júnior et al (2006) que afirmaram em seu estudo com uso de eritropoetina (EPO) por via subcutânea, não foi observada relação entre dose deste hormônio e pressão arterial à monitoramento ambulatorial da pressão arterial (MAPA) de 44 horas; bem como entre dose de EPO e número de classes de anti-hipertensivos. O hematócrito também não se correlacionou com essas duas variáveis. Estes resultados divergentes podem ser explicados devido à diferença na via de administração da EPO. Outro parâmetro avaliado neste estudo foi a presença de função residual renal (volume urinário > 300ml/24 horas). Em ambas as clínicas o resultado prevalente foi de ausência de função residual renal, ou seja, a maioria dos pacientes urinava uma quantidade inferior a 300 ml nas 24 horas. Araújo et al (2011) concluíram que a ausência de diurese residual pode contribuir para os valores mais altos de resistência periférica e estado hipervolêmico, mostrando que a diurese de baixo volume coexiste com altos valores de resistência periférica. As razões para a perda da diurese residual podem ser explicadas pelas alterações relacionadas à doença de base que causou a DRC ou pelo processo inflamatório contínuo, anemia e comorbidades associadas. Neste estudo, a avaliação da 125 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 função residual renal foi necessária para verificar se tal parâmetro influenciava quantidade de anti-hipertensivos utilizados pelos pacientes. como em ambas as clínicas os valores encontrados foram semelhantes, verificou-se que este parâmetro não interferiu na quantidade de drogas anti-hipertensivas Figura 3 - Médias dos níveis de hematócrito (Ht), dose de eritropoetina (EPO) e número de anti-hipertensivos dos pacientes com insuficiência renal crônica em hemodiálise da clínica de Floriano e de Teresina, 2011 Fonte: dados da pesquisa (2011) Realizando o teste de significância das médias, chegou-se a conclusão de que havia diferença significativa entre as médias de hematócrito, dose de eritropoetina e anti-hipertensivos das clínicas de Floriano e Teresina(Figura 3). Ou seja, com uma margem de erro inferior a 1% o teste indica que estatisticamente a média de hematócrito dos pacientes da clínica de Teresina é superior à média dos pacientes da clínica de Floriano e a média de dose de eritropoetina e consumo de anti-hipertensivos presentes nos pacientes integrantes da clínica de Floriano é superior à dos pacientes que integram a clínica de Teresina. Estes dados permitem se inferir que neste estudo o menor nível de hematócrito correlacionou-se com o uso de maiores doses de eritropoetina, que por sua vez acarretou o uso de mais drogas anti-hipertesivas. 126 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 4 CONCLUSÃO Os resultados do estudo permitem concluir que há uma fraca correlação positiva entre dose de eritropoetina e número de anti-hipertensivos, ou seja, o aumento na dose de eritropoetina associa-se a moderado acréscimo/aumento na quantidade de drogas anti-hipertensivas. Baseado nestes resultados observa-se que o adequado controle da pressão arterial em pacientes que usam doses maiores de eritropoetina para corrigir a anemia é uma ferramenta importante no manejo clínico desses pacientes, pois visa contribuir para uma maior expectativa de vida dos mesmos. REFERÊNCIAS ABENSUR, H.; ALVES, M. A. R. Diretrizes da sociedade brasileira de nefrologia para a condução da anemia na insuficiência renal crônica. Jornal Brasileiro de Nefrologia, São Paulo, v.22(supl 5), p.1-3, 2000. ABENSUR, H. Deficiência de ferro na doença renal crônica. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, São Paulo, v.32 (supl.2), junho, 2010. ALVES, M. A. R.; GORDAN, P. A. Diagnóstico de anemia em pacientes portadores de doença renal crônica. Jornal Brasileiro de Nefrologia, São Paulo, v.29, n.4 (Supl.4), p. 4-6, 2007. ARAÚJO, S. et al. Morfologia e função cardíacas em pacientes renais crônicos, com ou sem diurese residual, em tratamento hemodialítico. 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American Journal of Kidney Diseases, v.44, n.5, p.866-876, novembro, 2004. 128 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 PERCEPÇÃO DA CLIENTE GESTANTE SOBRE O EXAME PREVENTIVO DE CÂNCER CÉRVICO-UTERINO CUSTOMER PERCEPTION OF PREGNANT WOMEN ABOUT THE SCREENING TEST FOR CERVICAL CANCER Laurice Alves dos Santos¹, Gustavo de Moura Leão² RESUMO O estudo teve como objetivo geral compreender a percepção da cliente gestante frente à realização do exame preventivo do câncer de colo do útero. Os dados foram obtidos através de uma entrevista semiestruturada gravada com mp4 com quinze gestantes de uma Unidade de Saúde da Família de Teresina-PI. Na análise das entrevistas, a maioria das respostas apontou que as gestantes acham que a o exame de Papanicolaou não compromete o feto; para elas, se o exame é pedido na consulta de pré-natal é porque não traz nenhum prejuízo para a gravidez. Portanto, elas se sentem seguras quanto ao profissional que irá realizar o exame pelo fato de já conhecerem o trabalho da equipe de saúde daquela unidade e que, apesar de sentirem medo, vergonha, dor e constrangimento, isto não foi impedimento para que elas não procurassem fazê-lo, pois na verdade o que elas mais desejavam era saber se tinham alguma irregularidade na gestação que pudesse prejudicar a sua saúde e a do bebê. Palavras-chave: Câncer de Colo do Útero. Gestantes. Exame de Papanicolaou. ABSTRACT The study aimed to understand the general perception of the client pregnant before the completion of screening for cancer of the cervix, the data were obtained through a semi - structured recorded with mp4 fifteen pregnant women in a _________________________ ¹ Aluna de graduação (8°período) do Curso de Enfermagem da Faculdade Integral Diferencial-FACID Email: [email protected] ² Professor do Curso de Enfermagem da FACID, Especialista em Enfermagem Email: [email protected] 129 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Health Unit Family Teresina-PI. In the analysis of the interviews was a surprise, even knowing why he is asked to cytology during pregnancy, the majority of responses indicated that pregnant women find that the Pap smear does not compromise the fetus, for them if the test is requested in the query prenatal care is because they do not bring any harm to the pregnancy. Therefore, they feel safe on the professional conducting the examination because they already know the work of the health team that unit and that in spite of feeling fear, shame, pain and embarrassment this has not been an impediment to what they do not seek it because in fact what they wanted most was to know if there were any irregularities during pregnancy that could harm your health and the baby. Keywords: Cervical Cancer. Pregnant women.Papsmear. 1 INTRODUÇÃO O câncer de colo uterino é tido como afecção progressiva e é caracterizado por alterações intraepiteliais cervicais que podem se desenvolver para um estágio invasivo ao longo de uma ou duas décadas. Possuindo etapas bem definidas e de lenta evolução, o câncer de colo de útero pode ser interrompido a partir de um diagnóstico precoce e de um tratamento oportuno a custos reduzidos (THUM et al., 2008). O câncer cervical é o terceiro tipo de câncer mais comum entre as mulheres, sendo responsável por cerca de 9% de todos os novos casos de câncer invasivo no mundo todo. A incidência por câncer de colo de útero tornase evidente na faixa etária de 20 a 29 anos e o risco aumenta rapidamente até atingir seu pico, geralmente na faixa etária de 45 a 49 anos, sendo que a maioria dos casos novos ocorre em países em desenvolvimento onde, em algumas regiões, é o câncer mais comum entre as mulheres (SILVEIRA; CRUZ; FARIA, 2008a). Muitos fatores orbitam em torno do câncer e influenciam direta ou indiretamente para instalação deste mecanismo no epitélio escamoso cervical. Entre eles estão fatores imunológicos (resposta imune local e humoral), comportamento sexual, idade, infecções genitais causadas por agentes sexualmente transmissíveis (Chlamydia e Herpes) e pelo papilomavírus humano (HPV), gravidez, paridade, uso de contraceptivos orais por muito tempo, 130 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 tabagismo, imunodeficiências, desnutrição e outras (SILVEIRA et al., 2008b). A principal estratégia para detecção precoce/rastreamento do câncer do colo do útero é a realização da coleta de material para exames citopatológicos cérvico-vaginal e microflora conhecido popularmente como exame preventivo do colo do útero (Brasil, 2006). Esse exame deve ser realizado em mulheres de 25 a 60 anos de idade, uma vez por ano e, após dois exames anuais consecutivos negativos, a cada três anos. Este câncer é o mais comum dentre os cânceres associados à gravidez, uma vez que a gestação gera um desequilíbrio na flora vaginal, favorecendo o desenvolvimento tanto do HPV, quanto de outros agentes infecciosos, porém a incidência não é alterada pela gestação. Ocorre que este câncer tem alta incidência de detecção na gravidez, devido à procura destas mulheres aos serviços de saúde para a realização do pré-natal (NOVAIS; LAGANÁ, 2009). A maior ocorrência de papilomavírus humano em gestantes é devido aos níveis aumentados dos hormônios esteroidais. Os elementos virais podem ativar a replicação do HPV o que resultaria na progressão mais rápida de uma lesão intra-epitelial ao carcinoma epidermóide. Durante a gestação ocorreria a expressão clínica máxima da infecção genital por esse vírus, com rápida regressão durante o puerpério (SILVEIRA; CRUZ; FARIA, 2008a). O câncer cérvico-uterino, devido à sua alta prevalência nas mulheres, como também nas gestantes, é um problema de saúde pública e os profissionais de saúde, principalmente, o enfermeiro, devem estar aptos a desencadearem ações de promoção, prevenção e controle do câncer do colo do útero para garantir condições de vida e saúde de qualidade. Além disso, o atendimento da mulher gestante no pré-natal é um momento especial e nele devem ser asseguradas as ações e as atividades de promoção e de proteção tanto da saúde da mulher, quanto da saúde do seu filho (YASSOYAMA; SALOMÃO; VICENTINI, 2005). Diante do exposto, definiu-se como problema de pesquisa: qual a percepção da cliente gestante sobre a realização do exame de citologia oncótica? Bem como as seguintes questões norteadoras: o que representa para as gestantes a realização do exame de prevenção de câncer de colo uterino e qual a importância da realização da citologia oncótica para as gestantes? Diante desse contexto, que o desenvolvimento desse estudo tem relevância para a diminuição do número de casos de câncer de colo do útero na gravidez enfatizando a importância da conscientização das mulheres a realizar periodicamente o exame preventivo com vista a tornar precoce o rastreamento 131 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 do câncer cérvico-uterino, pois as mulheres gestantes só darão importância à prevenção desse câncer se elas compreenderem a necessidade e importância de realizá-la. Nesta perspectiva, o presente estudo teve como objetivo geral: compreender a percepção da cliente gestante frente à realização do exame preventivo do câncer de colo do útero; e específicos: identificar com qual periodicidade as gestantes realizavam o exame citológico; avaliar o conhecimento das gestantes sobre a importância da realização do exame citológico; identificar as expectativas da gestante quanto à realização do exame de citologia oncótica; compreender os sentimentos da cliente gestante frente à realização do exame citológico. 2 MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de uma pesquisa de caráter descritivo com abordagem qualitativa. O cenário da pesquisa foi uma Unidade de Saúde da Família situada na zona Norte de Teresina-PI, onde foram realizadas as entrevistas com mulheres gestantes da instituição avaliada, com o intuito de compreender a sua percepção acerca da realização do exame preventivo de câncer de colo do útero. A pesquisa foi efetivada após a aprovação da Fundação Municipal de Saúde (FMS) que através de um MEMO CAA/Nº 030/2011 autorizou o desenvolvimento do estudo e do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da FACID no qual o projeto foi protocolado o número 429/10, tendo sido aprovado no dia 01/04/2011. Os aspectos éticos também compreenderam a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) por parte dos sujeitos da pesquisa ao aceitarem participar do estudo, sabendo que a eles foi confiado o direito de sigilo absoluto de identidade, desligando-se do estudo a qualquer momento, obedecendo às normatizações da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP, presentes na Resolução do CNS 196/96 que permite a pesquisa envolvendo seres humanos (Brasil, 1996). Os sujeitos do estudo foram quinze gestantes que realizaram o prénatal, exame citológico, que estiveram nas datas da coleta de dados no cenário de pesquisa e que aceitaram participar da entrevista. Assim, foram excluídas mulheres não gestantes, gestantes que não realizam o pré-natal e exame citológico nos cenários de pesquisa, gestantes de outras Unidades de Saúde da Família que não sejam a especificada. Os dados foram coletados através de uma entrevista semiestruturada 132 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 gravada com mp4, um aparelho de áudio, e usado para gravação de voz. Na entrevista havia um roteiro de questões fechadas relativas à ocupação, à escolaridade, ao estado civil e ao número de gestações, bem como cinco questões abertas que suscitaram a fala das gestantes a respeito da percepção delas sobre a realização do exame citológico na gestação. A coleta de dados foi realizada durante o período de abril a julho de 2011. As falas, após transcrição, foram lidas, relidas e separadas em categorias por similaridade semântica. Desta forma, emergiram três categorias: periodicidade do exame citológico; importância da realização do exame de Papanicolaou na gestação; sentimentos e expectativas das gestantes em relação ao exame de Papanicolaou. As categorias oriundas das falas dos sujeitos foram interpretadas à luz do referencial existente sobre o tema. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Caracterização dos Sujeitos O número de sujeitos entrevistados foi quinze gestantes que estavam na Unidade de Saúde da Família para a realização da citologia oncótica. Quanto à ocupação, cinco eram estudantes, oito estavam desempregadas, 1estava trabalhando como doméstica, uma era dona do lar. Quanto à escolaridade, cinco estavam cursando o ensino fundamental, sete haviam concluído o ensino médio, duas cursaram até o 1º ano do ensino médio e uma até o 2º ano do ensino médio; em relação ao estado civil, cinco eram solteiras e dez eram casadas. Das entrevistadas, doze informaram estavam na primeira gestação e as demais tiveram mais de uma gestação. 3.2 Categorias Analíticas 3.2.1 Periodicidade do exame citológico Esta categoria informa a periodicidade com que essas mulheres realizaram o exame de Papanicolaou. As gestantes foram perguntadas quanto à realização do exame preventivo de câncer do colo do útero, ou seja, a pergunta foi direcionada a saber se elas faziam este exame anualmente. Constatou-se diante das falas que das quinze mulheres entrevistadas, seis garantiram realizar o exame anualmente com a consciência da importância de fazê-lo para a 133 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 prevenção e preservação da saúde, demonstrando ainda mais preocupação e interesse durante a gestação para evitarem complicações na gravidez. Desde que menstruei minha mãe fala sempre pra eu vir fazer a prevenção para evitar inflamações e saber se não tem nenhum problema com meu útero (Depoente 01). Sempre quando posso venho fazer a prevenção por que tenho medo de câncer, mioma, ter que tirar o útero (Depoente 02). Das entrevistadas, nove não realizaram o exame de Papanicolaou regularmente e afirmaram só procurarem o serviço de saúde quando estavam com alguma manifestação ginecológica como corrimentos, dor, coceira, inflamações, ciclo menstrual desregulado, dentre outras. Só vinha fazer quando sentia dor no pé da barriga ou quando minha menstruação não vinha certo (Depoente 07). Já vim fazer porque tava com corrimento e já pensei logo que tinha alguma doença, aí procurei a enfermeira e ela me disse pra vim fazer (Depoente 08). Das mulheres que não realizaram o exame anualmente, três nunca fizeram a citologia oncótica. Quando perguntadas o motivo da não realização do exame as três gestantes responderam que o medo do resultado e a vergonha as impediram de procurarem a unidade básica de saúde para realizar a citologia. Nunca fiz a prevenção por medo do que poderia dar. Sei que é errado, mas a gente sempre fica pensando se a gente não tem alguma doença, aí sempre adiamos (Depoente 13). Minha mãe sempre pediu pra eu vir fazer, ela me diz que pode dar câncer, inflamação, mas sempre deixo pra depois, vai que dá alguma doença, fico com medo, por isso nunca quis fazer (Depoente 15). A prevalência de infecção pelo HPV em mulheres grávidas é relevante, mas similar àquela encontrada em mulheres não gestantes (SILVEIRA et al., 2008b). Assim é importante também que a gestante realize esse exame durante o pré-natal evitando complicações para ela e garantindo proteção para a saúde do seu filho. 134 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 3.2.2 Importância da realização do exame de papanicolaou na gestação Esta categoria revelou o conhecimento das gestantes em relação à importância de se realizar a citologia oncótica durante o pré-natal como uma forma de prevenir o câncer do colo do útero, evitando sérias complicações para o período gestacional. Assim, as mulheres foram convidadas a responder se elas achavam importante realizar este exame mesmo estando grávida. Porém, era de se esperar que as mesmas ao menos conhecessem a importância de realizar e a finalidade do exame de Papanicolaou, mesmo antes de engravidar. Todas as gestantes indicavam ser importante fazer o exame citológico, embora onze relacionaram a importância de realizá-lo ao fato do mesmo ser solicitado na consulta de pré-natal, como forma de excluir alguma anormalidade na gestação, mas só realizaram o exame sob pedido da equipe de saúde que as acompanha ou atribuíram o significado à identificação de doenças ou prevenir outras como DST/AIDS. As falas abaixo constatam essa realidade. Me disseram que era bom eu fazer pra ver se eu não tinha nada no meu útero que pudesse levar para a criança (Depoente 03). É um exame bom para se prevenir doenças como câncer, AIDS (Depoente 06) Disseram que durante a gravidez era bom vir fazer, o médico disse que era rotina, não sei bem para o que é, mas pelo o que o povo diz é pra ver se não tem câncer, AIDS, pra prevenir doenças (Depoente 07). Sim, faz parte do acompanhamento do pré-natal, o médico pediu. Importante pra saber de doenças. (Depoente 13). Percebeu-se com as respostas dadas que todas as entrevistadas consideraram importante realizar o exame de citologia oncótica estando grávidas, pois afirmaram que este exame vai prevenir muitas doenças relacionadas ao útero, como o câncer ou outras doenças sexualmente transmissíveis. Apenas três gestantes referiram-se exclusivamente ao câncer do colo do útero. Acho muito importante fazer a prevenção, pois nos prevenimos do câncer no útero, sei disso porque já trabalhei como assistente de 135 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 ginecologista e sei que estando grávida posso ter mais risco de ter (Depoente 02). Acho importante sim, porque da mesma forma que posso pegar doença não estando grávida, grávida posso também. E se dizem que é importante pra saber se tá tudo bem comigo, é bom fazer, porque se Deus me livre, eu tiver alguma doença no útero, câncer, já previne para não passar pro bebê (Depoente 04). Diante das falas observou-se que mesmo não atribuindo a realização do exame citológico apenas à prevenção do câncer do colo do útero e sim a uma forma geral de prevenção, as gestantes entrevistadas se preocupavam também com o próprio corpo e com a gravidez. Mesmo que só procurem o serviço de saúde quando obrigadas, elas demonstraram expectativas de descobrirem alguma doença e a mesma poder trazer prejuízo para a gestação ou afetar sua saúde. As mulheres demonstraram não saber que a gravidez é um fator de risco para o desenvolvimento do HPV, tornando-a propícia a desenvolver o câncer do colo do útero. Apesar da frequência da infecção genital do HPV durante a gravidez não ser bem conhecida, parece ser maior que a população em geral. Foi demonstrado que, durante a gestação, as células parabasais possuem receptores para estrógeno-negativo e progesterona-positivo, sendo que essas células estão em intensa atividade proliferativa. Consequentemente, com altas taxas de DNA que é substrato essencial para a proliferação celular. A conjunção de todos esses fatores acarreta o aumento das lesões HPV induzidas durante a gestação (QUEIROZ; CANO; ZAIA, 2007). 3.2.3 Sentimentos e expectativas das gestantes em relação ao exame de Papa Nicolaou Quando perguntadas sobre seus sentimentos quanto à realização do exame citológico, seis gestantes demonstraram medo e quatro referiramse à vergonha como dificuldades de se realizar o exame preventivo. O medo está relacionado com o resultado do exame, do profissional detectar alguma anormalidade que possa afetar o período da gestação; a vergonha relaciona-se ao desconforto da posição ginecológica e da exposição da genitália, todavia reconhecem que é inevitável fazê-lo, pois acham importante como meio de detecção de doenças e do câncer do colo do útero. 136 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Tenho medo de ter alguma doença que possa passar pro meu filho, mas tem que vim fazer pra ver se não tem [...] É um exame desagradável, dá vergonha (Depoente 03). Tenho medo de dá alguma coisa quando ela ver meu útero ou alguma coisa com o bebê (Depoente 04). Não gosto de fazer esse exame por vergonha de tirar a roupa, mas é o jeito fazer (Depoente 06). Dentre a gestantes que relataram vergonha, duas acrescentaram que além dos motivos expostos acima se sentem constrangidas quando é um profissional do sexo masculino que realiza o exame. A dor e o incômodo que gera o procedimento do exame também foram referidos por duas gestantes, quando estavam na expectativa para realizar o exame preventivo de câncer do colo do útero. [...] não gosto de fazer este exame porque dói muito, mas é o jeito [...] (Depoente 08). Toda vez que venho fazer sinto dor, aquilo incomoda de mais (Depoente 09). Fico constrangida quando é homem que faz (Depoente 07). Eu só faço o exame se for com mulher, tenho vergonha (Depoente 10). A vergonha é a não aceitação decorrente do processo psicológico de ser apanhado em flagrante e fora dos padrões aceitos e valorizados pela sociedade. A presença do outro, insinuada como testemunha, fiscal, juiz, avaliador, é determinante para sentir vergonha. (THUM et al., 2008). Em relação à forma como o exame é realizado, três gestantes afirmaram não sentirem nada como dor ou vergonha e relataram estarem habituadas com o exame, pois costumam realizá-lo frequentemente, mas demonstraram medo com o resultado, preocupação com sua saúde e a da criança. Já me acostumei, nem sinto mais nada, tenho medo é do que pode dar, fico preocupada com a gravidez (Depoente 01). Se é recomendado a gestante vir fazer, nem fico com medo de 137 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 fazer(Depoente 02). A gente sempre fica pensando no que pode dar, vim fazer sem medo, só temo de poder ter alguma coisa que possa prejudicar a mim e a minha gravidez (Depoente 12). Percebeu-se também que além do medo, vergonha e dor quanto à realização do exame preventivo, todas as mulheres esperavam serem bem atendidas pelo profissional de saúde que iria realizar o exame, bem como atenção, interação, explicações e que este seja apto a ter um relacionamento amigável. Apontaram ainda que dessa forma seriam amenizadas tais expectativas, uma vez que o profissional estaria estabelecendo um vínculo de confiança com as clientes e as mesmas ficariam mais seguras, bem como mais à vontade para realizar o exame. Assim, poderiam ficar mais tranquilas e a consulta ginecológica se tornaria menos tensa. [...] gosto quando eles explicam tudo, fico mais segura e tranquila para fazer o exame (Depoente 06). [...] espero ser bem atendida, que a pessoa trate a gente bem e tire nossas dúvidas (Depoente 14). [...] a gente sempre espera ser bem consultada (Depoente 15). Cabe ao profissional, especialmente ao enfermeiro, estabelecer um vínculo de confiança com estas mulheres, buscando compreender seus anseios e sentimentos para assim planejar uma forma eficaz de atendimento de acordo com a cultura e sexualidade de cada mulher (PRIMO; BOM; SILVA, 2008). Esta categoria mostrou também que dez gestantes não acharam que o exame de Papanicolaou compromete o feto; para elas, se o exame é solicitado durante o pré-natal é porque não tem risco nenhum para o bebê, pois o profissional que irá fazer a citologia está preparado para realizá-lo de maneira correta sem afetar a gestação. Para elas não importava como era feito o exame, estavam ali porque se preocupavam com o bom andamento da gravidez, bem como sua saúde, e se o profissional estava fazendo frequentemente este exame é porque estava preparado para fazê-lo de forma correta. 138 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Não. Esse exame, todas as mulheres tem que fazer, se eles querem que a gente faça gestante é porque não vai prejudicar o bebê (Depoente 09). Não, se é pedido no pré-natal é porque toda gestante tem que fazer, acho que não tem nada haver (Depoente 11). Porém, cinco gestantes acharam que o exame citológico pode chegar a tocar no bebê, já que o exame é feito para colher material do colo do útero ou se o profissional introduzir demais o espéculo. Ah! Depende de como eles vão fazer, se o ferro que colocam for muito, pode machucar o bebê (Depoente 05). Não sei. Se o exame é no útero deve sim (Depoente 13). Não sei, porque nunca fiz, mas acho que pode sim, se mexer muito com o aparelho que colocam [...] (Depoente 15). Através das falas ficou claro que as gestantes não sabem realmente como é realizado o exame preventivo de câncer do colo do útero durante o período gestacional, por isso acharam que o exame pode comprometer o feto. Foi observado também que elas não foram informadas sobre como é realizado realmente este exame, assim criaram essa falsa expectativa. Porém, isto não foi motivo para que elas não fossem ao serviço de saúde para realizarem a citologia; na verdade pôde-se observar que elas confiavam no profissional, já que frequentavam a Unidade de Saúde e conheciam o trabalho da equipe de saúde daquele local. Quando foram perguntadas se elas gostariam de ter mais informações sobre o exame de Papanicolaou na gestação, catorze gestantes responderam que sim, pois desejavam saber como é realizada de fato a citologia na gestação, se compromete ou não o feto, já que haviam sido informadas naquele momento que o exame citológico é diferente do exame de uma mulher que não está grávida. Desejavam também saber melhor a importância da prevenção do câncer do colo do útero na gestação. Só uma gestante disse não querer mais informações, estava apressada para resolver alguns compromissos. Sim, pra ter certeza se compromete ou não o bebê, como é feito realmente, a importância (Depoente 04). 139 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Sim, sobre esta maneira de realizar o exame na gestante (Depoente 12). Quero sim, não entendo muito como é feito e pra que serve, só vim porque por causa do pré-natal (Depoente 15). Notou-se também que as mulheres, apesar de não saberem mais explicações sobre este exame, isto não foi impedimento para elas irem fazer, pois na verdade o que elas mais desejavam era saber se tinham alguma irregularidade na gestação. No entanto, segundo elas, se o profissional que fosse realizá-lo oferecesse mais informações acerca da citologia, as mesmas compreenderiam mais como é realizado o exame preventivo, assim ficariam com menos vergonha, menos tensas e não criariam expectativas falsas, como a de comprometer o feto, pois já iam sabendo que o exame é seguro e que não traz prejuízos para si e nem para o bebê. Pela análise dos relatos ficou evidente que faltam mais explicações que poderiam ser dadas pelos profissionais na consulta quando solicitarem a citologia oncótica, explicando como é realizado este exame durante a gestação. Sendo bem orientadas as gestantes saberão melhor como se prevenir do câncer do colo do útero e como é realizado o exame citológico, retornando ao serviço de saúde depois da gestação para fazê-lo periodicamente. As mulheres precisam receber orientações sobre a coleta do exame, tais como: no que consiste a sua realização, finalidade, importância de fazê-lo periodicamente, apresentar os materiais utilizados, esclarecimentos sobre a posição da mulher no momento da coleta, a população alvo e informações sobre o resultado do exame. Acredita-se que os profissionais, tantas vezes representados pelos enfermeiros, possam interagir melhor com a mulher, individualizar a assistência e estabelecer um vínculo de confiança que garanta seu retorno à unidade (FELICIANO; CHRISTEN; VELHO, 2010). 4 CONCLUSÃO A elaboração deste estudo permitiu conhecer as mulheres, em especial as gestantes que realizam o exame citológico, e compreender a percepção que elas têm sobre a prevenção do câncer do colo do útero, bem como o conhecimento das gestantes sobre a importância de fazer este exame durante o pré-natal e suas expectativas quanto à realização da citologia. Ao analisar a periodicidade em que as gestantes realizavam o exame de 140 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Papanicolaou, constatou-se que a maioria não realiza regularmente este exame e só procura realizá-lo quando identifica alguma manifestação ginecológica, como corrimentos, dor, inflamações. Finalmente, pela análise de todas as categorias, concluiu-se que, embora no início do estudo se pensasse que a maioria das respostas seria que o exame de Papanicolaou comprometeria o feto, a maioria das respostas apontou que não, o que se percebeu então, que as gestante sentem-se seguras com o profissional que irá realizar o exame e que apesar de sentirem medo, vergonha, dor e constrangimento isto não foi impedimento para que elas não procurassem fazê-lo, pois na verdade o que elas mais desejavam era saber se tinham alguma irregularidade na gestação. Porém, não descartaram que se o profissional oferecesse mais explicações sobre este exame todos os anseios seriam amenizados e assim se sentiriam mais seguras e à vontade para fazer o exame preventivo. REFERÊNCIAS BRASIL, Ministério da Saúde. Controle de cânceres do colo do útero e da mama. Caderno de atenção básica, Brasília (DF), n.13. 2006. BRASIL. Conselho Nacional da Saúde. Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996. Diretrises e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília, 1996 FELICIANO, C; CHRISTEN, K; VELHO, M. B. Câncer de Colo Uterino: Realização do Exame Colpocitológico e mecanismos que ampliam sua adesão. Rev. Enferm. UERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 1, p. 75-9, jan/mar. 2010. Disponível em: <http: //scielo.br>. Acesso em: 22 de set. de 2010. NOVAIS, T. G. G.; LAGANÁ, M. T. C. Epidemiologia do câncer de colo uterino em mulheres gestantes usuárias de um serviço de pré - natal público. Saúde Coletiva, v. 27,n.6,p.713,jan/fev.2009.Disponívelem:<http:// redalyc.uaemex.mx/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=84212434003> Acesso em: 22 de set. de 2010. PRIMO, C. C.; BOM, M.; SILVA, P. C. Atuação do Enfermeiro no Atendimento 141 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 à Mulher no Programa Saúde da Família. Rev. Enferm UERJ, Rio de Janeiro, v.16, n. 1, p.76-82, jan/mar. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br> Acesso em: 24 de set. de 2010. QUEIROZ, A. M. A.; CANO, M. A. T; ZAIA, J. E. O papiloma vírus humano (HPV) em mulheres atendidas pelo SUS, na cidade de Patos de Minas - MG. RBAC, v. 39, n. 2, p.151-157 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 20 de set. de 2011. SILVEIRA, L. M. S.; CRUZ, A. L. N.; FARIA M. S. Atipias cervicais detectadas pela citologia em mulheres atendidas em dois hospitais da rede pública de São Luís - MA. RBAC, v. 40, n. 2, p. 115-119, 2008a. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 24 de set. de 2010. SILVEIRA, L. M. S. et al. Gestação e papilomavírus humano: influência da idade materna, período gestacional, número de gestações e achados microbiológicos. RBAC, v. 40, n. 1, p. 43-47, 2008b. Disponível em:<http:// www.scielo.br>. Acesso em: 24 de set. de 2010. THUM, M. et al. Câncer de Colo Uterino: Percepção das Mulheres sobre prevenção. Cienc Cuid Saude, v. 7, n. 4, p. 509-516, out/dez. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 22 de set. de 2010. 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A não adesão a esta recomendação pode trazer prejuízos ao desenvolvimento da criança levando a maior número de internações. Esta pesquisa do tipo corte transversal teve como objetivo descrever a correlação entre o tempo de aleitamento materno e o número de internações em crianças de até dois anos em hospitais públicos de Teresina (PI). Sua população foi composta por crianças com até dois anos de idade internadas em hospitais da rede municipal de Teresina. A coleta de dados foi realizada através de entrevistas com as mães ou responsáveis pelas crianças, que após serem esclarecidas acerca da pesquisa aceitaram participar e assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido. Após coleta, os dados foram submetidos à análise estatística descritiva através do software estatístico SPSS 17.0. Crianças que não receberam AME, conforme a recomendação da OMS, hospitalizaram-se mais quando comparadas àquelas que receberam AME adequado, entretanto a correlação entre o tempo de aleitamento materno e o número de internações foi fraca estatisticamente. Palavras- chave: Lactação. Hospitalização. Lactente. _____________________ ¹Acadêmicas do curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial- FACID (10º período), participantes do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PIBIC/FACID. Teresina- PI. E-mail/ telefone: [email protected]/ (86) 9943-6718 e [email protected]/ (86) 9432 4423 2 Professora do curso de Medicina da FACID, médica especialista em ginecologia e obstetrícia. TeresinaPI. [email protected] 143 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 ABSTRACT Breastfeeding has an impact on nutritional status, immunity, functioning and development of children. The WHO recommends exclusive breastfeeding during the first six months of life and complementary to the two years or more. Failure to adhere to this recommendation may hinder the child's development leading to more admissions. This is a cross-sectional survey that aimed to describe the correlation between duration of breastfeeding and the number of hospitalizations in children under two years in public hospitals in Teresina (PI). Its population consists of children under two years of age admitted to hospitals in the city of Teresina. Data collection was conducted through interviews with mothers or other caregivers, who after being informed about the survey and agreed to participate signed a consent form. After collection, the data were analyzed using descriptive statistical software SPSS 17.0. Children who did not receive AME as recommended by WHO hospitalized more when compared to those receiving AME appropriate, however the correlation between duration of breastfeeding and the number of hospitalizations was statistically weak. Keywords: Lactation. Hospitalization. Infant. 1 INTRODUÇÃO Amamentar é mais que nutrir. É um processo que envolve profunda interação entre mãe e filho, com repercussões na criança em seu estado nutricional, sistema imunológico, fisiologia e no seu desenvolvimento cognitivo e emocional (BRASIL, 2009a). O aleitamento materno é a estratégia isolada que mais previne mortes infantis, além de promover a saúde física, mental e psíquica da criança e da mulher que amamenta (BRASIL, 2009b; SBP, 2007). Os benefícios da amamentação são inúmeros, tais como: redução da mortalidade infantil; menor incidência e gravidade de infecções, como diarreia, pneumonia e otites; prevenção de alergias e algumas doenças crônicas, como diabetes tipo 1, obesidade e alguns tipos de cânceres; promoção do desenvolvimento da cavidade bucal; influência positiva no desenvolvimento cognitivo; fortalecimento da relação mãe-bebê; além das vantagens específicas para as mães, como prevenção de câncer de mama; efeito anticoncepcional e 144 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 proteção contra diabetes tipo 2; além de implicações financeiras para a família por ser mais econômica (SBP, 2007). Recomenda-se aleitamento materno exclusivo (AME) por aproximadamente seis meses em regime de livre demanda e complementada até os dois anos ou mais (KING, 2001; BRASIL; OPAS, 2003; BRASIL; UNICEF, 2007; MURAHOVSCHI, 2006; SBP, 2007; UNICEF, [20--]). Dados relacionando o não aleitamento a internações podem ser utilizados no planejamento de ações de incentivo à amamentação, visando a reduzir internações, morbimortalidade infantil e, consequentemente, reduzindo custos com internações. Na literatura são escassas pesquisas relacionando o aleitamento à internação; não foi encontrada pesquisa semelhante na região sendo esta, portanto, uma pesquisa pioneira. A pesquisa, do tipo corte transversal, teve como objetivo geral descrever a correlação entre o tempo de aleitamento materno e o número de internações em crianças de até dois anos em hospitais públicos de Teresina- PI. 2 MATERIAL E MÉTODO A população estudada foi composta por crianças com até dois anos de idade internadas em hospitais da rede municipal de Teresina. A amostra representativa utilizada (172 crianças), foi definida com base nos dados fornecidos pela Coordenação de Gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), referente ao atendimento da população no ano de 2009. Foram excluídas duas unidades de saúde por apresentarem média de atendimento muito diferente dentre as onze unidades municipais de saúde; uma maternidade, que tem público principal recém nascidos; e o hospital de urgências, por ter significativo atendimento a pacientes oriundos de outros municípios. As informações foram obtidas por meio de questionário aplicado ao acompanhante do menor, após esclarecimento acerca da pesquisa e assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido. A análise do aleitamento materno seguiu as recomendações da OMS. No grupo AME foram enquadradas as crianças que recebem somente leite materno sem quaisquer outros líquidos ou alimentos (exceto medicamentos); no aleitamento materno (AM): as crianças que recebem leite materno e quaisquer outros líquidos ou alimentos. Crianças que não recebem leite materno foram consideradas desmamadas. Após aplicação dos questionários, os dados foram submetidos à análise 145 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 estatística descritiva por análise de correlação paramétrica e não paramétrica no software estatístico SPSS 17.0. Por tratar-se de um inquérito populacional, observacional, o presente estudo não envolveu riscos de natureza física, psíquica, moral, intelectual, social ou cultural para a instituição ou para os pesquisados. Foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade integral Diferencial - FACID, sob o nº 338/ 10, conforme prevê a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde para estudos com seres humanos (BRASIL, 1996) e seu projeto também foi encaminhado para apreciação da Fundação Municipal de Saúde. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A frequência de internações recorrentes nas crianças que não receberam AM adequado foi maior que nas que foram amamentadas conforme a orientação da OMS, contudo, a correlação entre o tempo de aleitamento materno e o número de internações foi fraca estatisticamente. Dentre as crianças internadas, apenas 12% receberam AME conforme a recomendação da OMS, 21% tinham idade inferior a seis meses, não sendo possível determinar se receberiam ou não AME adequadamente, e 67% não receberam AME até o sexto mês de vida.Valor bem inferior ao encontrado na II Pesquisa de prevalência de aleitamento materno nas capitais brasileiras e Distrito Federal, realizado com 34.366 crianças menores de 1 ano que compareceram à segunda fase da campanha de multivacinação de 2008, em todas as capitais brasileiras e Distrito Federal (BRASIL, 2009). Na referida pesquisa, a prevalência do AME em menores de seis meses foi de 41,0%, porém o comportamento desse indicador foi bastante heterogêneo, variando de 27,1% em Cuiabá/MT a 56,1% em Belém/PA (BRASIL, 2009). Em Teresina foi aproximadamente 45% . Entre crianças menores de seis meses assistidas pelas Unidades Básicas de Saúde do município do Rio de Janeiro, a prevalência de AME foi de 58,1% (PEREIRA et al, 2010). Em Campinas (SP), a mediana do aleitamento materno exclusivo foi de 90 dias nas 2.857 crianças envolvidas na pesquisa (BERNARDI; JORDÃO; BARROS FILHO, 2009). Das crianças internadas que receberam AME adequado, apenas 25% já haviam sido internadas antes, enquanto no grupo que não recebeu AME conforme a recomendação da OMS, 32% já haviam sido internadas 146 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 anteriormente, onde 3% haviam sido internadas mais de quatro vezes previamente. As crianças que não receberam AME adequado, internaram-se mais por diarreia e infecção respiratória que as que receberam AME até o sexto mês, bem como por alergias. Dentre os fatores que podem influenciar nas internações tem-se a vacinação, porém a situação vacinal das crianças não amamentadas adequadamente era melhor que a das adequadamente amamentadas, onde apenas 30% estavam com a vacinação em dia, enquanto naquelas 48% apresentavam vacinação completa. 4 CONCLUSÃO Crianças que não receberam AME conforme a recomendação da OMS hospitalizaram-se mais quando comparadas àquelas que receberam AME adequado, entretanto a correlação entre o tempo de aleitamento materno e o número de internações foi fraca estatisticamente. REFERÊNCIAS BERNARDI, J. L. D., JORDÃO, R. E; BARROS FILHO, A. A. Fatores associados à duração mediana do aleitamento materno em lactentes nascidos em município do estado de São Paulo. Rev. Nutr., Campinas, v.22, n. 6, p.867878, nov./dez., 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar. Brasília, 2009. (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de Atenção Básica, n. 23). BRASIL. Ministério da Saúde. A Saúde da criança: nutrição infantil. Aleitamento Materno e alimentação complementar. Brasília, 2009. (Série A. Normas e Manuais Técnicos). BRASIL. Ministério da Saúde. II Pesquisa de prevalência de aleitamento materno nas capitais brasileiras e Distrito Federal. Brasília, 2009. (Série 147 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 C. Projetos, Programas e Relatórios). BRASIL. Ministério da Saúde; UNICEF. Promovendo o aleitamento materno. Brasília: Total Editora, 2007. (Álbum seriado). BRASIL. Conselho Nacional da Saúde. Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996. Diretrises e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília, 1996 KING, F. S. Como ajudar as mães a amamentar. 4ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2001. MURAHOVSCHI, J. Pediatria: diagnóstico + tratamento. 6 ed. rev. e atual. São Paulo: Sarvier, 2006. OPAS. Escritório regional da OMS. Amamentação. Atualizado em junho de 2003. Disponível em <http://www.opas.org.br>.acesso em 26/ 08/ 10. PEREIRA, R. S. V. et al., Fatores associados ao aleitamento materno exclusivo: o papel do cuidado na atenção básica. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro. vol.26, n.12. dez.2010. SBP - Sociedade Brasileira de Pediatria. Tratado de Pediatria. Barueri, SP: Manole, 2007. P 267-77. UNICEF/ BRASIL; PETRILLO, M. Aleitamento materno. [s.l.]. Unicef [20-]. Disponível em: <http://www.unicef.org/brazil/pt/index.html>. Acesso em 27/ 08/10. 148 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 RESENHAS DE LIVROS 149 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 150 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 MELLO, Celso Antônio Bandeira. Conteúdo jurídico do princípio da igualdade. 3 ed. São Paulo: Malheiros, 2002. 48 p. Willame Parente Mazza Esta obra, "O conteúdo jurídico do princípio da igualdade", é um clássico da literatura jurídica brasileira, de fundamental importância para compreensão do princípio da igualdade consignado no Art. 5º da Constituição Federal. Escrito por Celso Antônio Bandeira de Mello, professor Emérito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e titular da disciplina de Direito Administrativo, o livro traz com maestria, através de exemplos e com uma densidade peculiar do autor, qual o conteúdo jurídico do princípio da igualdade. Relembra e explica a tradicional premissa e nada moderna de Aristóteles na qual afirma que a igualdade é tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais. No entanto questiona: quem são os iguais e quem são os desiguais? O livro inicia com a ideia de que não é somente a lei que vai proporcionar a igualdade entre os cidadãos. Ademais essa mesma lei deve ser editada em conformidade com a isonomia. Nesse sentido, percebe-se que o princípio da igualdade não se dirige somente ao aplicador da lei, mas também ao legislador, pois a lei deve ser um instrumento regulador da vida social que necessita tratar equitativamente todos os cidadãos. Esse questionamento é de extrema importância porque o princípio da igualdade, por meio da lei, procura dar um tratamento não uniforme às pessoas. Vale dizer, em um determinado caso, o "discrímen" é legítimo, em outros, é ilegítimo. Nos casos de "discrímen" analisados pelo autor, a lei construiu algo em elemento diferencial, como afirma no texto: "a lei apanhou, nas diversas situações qualificadas, algum ou alguns pontos de diferença a que atribuiu relevo para fins de discriminar situações, inculcando a cada qual, efeitos jurídicos e, de conseguinte, desuniformes entre si". O autor questiona e procura explicar quais os limites legais da função normal da lei em discriminar, ou melhor, quando é vedado à lei estabelecer _______________________ 1 Auditor Fiscal da Fazenda Estadual do Estado do Piauí, Mestre em Direito com ênfase em Tributário pela Universidade Católica de Brasília (UCB), Especialiação em Direito tributário e Fiscal, Especialização em Direito Público e Especialização em Controle interno e externo na Administração Pública. Professor Universitário no curso de Direito e Professor em cursos preparatórios para concursos. 151 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 discriminação. Relaciona, ainda, a igualdade e os fatores sexo, raça e credo religioso. Assim, ele quebra alguns preconceitos ao mostrar que determinados elementos ou traços característicos das pessoas ou situações são possíveis de serem escolhidos pela norma como raiz de alguma diferenciação. Demonstra, na obra, de uma forma clara, através de exemplos, a perfeita possibilidade de elementos residentes nas coisas, pessoas ou situações, poderem ser escolhidos pela lei como fator discriminatório, concluindo que, não é no traço de diferenciação escolhido que se deve buscar algum desacato ao princípio isonômico. No entanto, ressalta que, por mais que existam estes elementos possíveis de serem motivadores dos "discrímen" da lei, nenhum fator pode ser escolhido aleatoriamente sem pertinência lógica com a diferenciação procedida. Assim, a ordem jurídica deve firmar a impossibilidade de desequiparações fortuitas ou injustificadas baseadas em outros fatores que são absorvidos na generalidade da regra. O autor apresenta três aspectos que devem ser observados para análise do desrespeito à isonomia. Ademais, esses aspectos devem ser analisados, obrigatoriamente, em conjunto para a identificação do desrespeito à isonomia. Os aspectos são: quanto ao elemento tomado como fator de desigualdade; a correlação lógica abstrata existente entre o fator escolhido como critério de "discrímen" e a disparidade estabelecida no tratamento jurídico diversificado; e a consonância desta correlação lógica com os interesses absorvidos no sistema constitucional e destarte juridicizados (MELLO, 2002, p.21). O professor Celso Antônio Bandeira de Mello expõe os requisitos que os critérios diferenciadores não devem possuir para não singularizar o destinatário. Ou seja, como afirma o autor: "a lei não pode erigir em critério diferencial um traço tão específico que singularize no presente e definitivamente, de modo absoluto, um sujeito a ser colhido pelo regime peculiar"; "o traço diferencial adotado, necessariamente, há de residir na pessoa, coisa ou situação a ser discriminada" (MELLO, 2002, p.23). Essa singularização viciosa denunciada pela norma pode ser tanto lógica quanto material. A questão é: se a norma visa uma incidência futura a outros destinatários inexistentes à época de sua edição, ou se ela se destina a criar um critério específico futuro, mas que colherá um destinatário certo e atual da época de sua edição. Neste último caso é que se verifica a quebra da isonomia. O autor comenta a questão da natureza da norma, geral ou abstrata, e 152 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 conclui que toda regra abstrata é simultaneamente geral. Isso leva à conclusão que a regra geral nunca poderá ofender à isonomia pelo aspecto da individualização do destinatário, e a regra abstrata também não ofenderá a isonomia, a não ser se as regras absorverem maliciosamente estes caracteres (abstração e generalidade) de tal forma que favoreça determinado indivíduo. Insta salientar que a diferenciação dada pela norma às pessoas, situações ou coisas, não pode ir além dos traços diferenciais contidos nelas mesmas. Não é possível uma diferenciação a um advogado ou médico que habitem determinada região levando em consideração para diferenciá-los a área em que residem. Outro fator de diferenciação válido entre os indivíduos é o fator tempo. Na verdade, quando se usa o fator tempo de forma válida, a lei está prestigiando como "discrímen" a própria sucessão de fatos ou de estados transcorridos ou a transcorrer. Nesse sentido é que o autor fala, com muita propriedade, que não tem nada de incongruente em considerar o transcorrer do tempo para diferenciar, já que com este transcorrer o que se demarcou foi a extensão de uma sucessão reiterada de um estado. Com isso, percebe-se no texto, que o autor não coloca o tempo por si só como fator de diferenciação, mas a sucessão de fatos ou a existência deles que ocorre no tempo através de uma fixação de período, prazo ou data. Sendo assim, cita vários fatores de diferenciação, mas sempre chega à conclusão que esses fatores só são legítimos para se ter a isonomia se a diferença residir nas pessoas, fatos ou situações. Acrescenta ainda que o que autoriza discriminar é a diferença que as coisas possuem em si e a correlação entre o tratamento desequiparador e os dados diferenciais radicados nas coisas. O autor elege como elemento fundamental para que a lei tenha um tratamento isonômico a correlação lógica entre o fator de "discrímen" e os efeitos jurídicos atribuídos a ele. Agora não se leva em consideração somente o fator de "discrímen" escolhido, mas a pertinência desse fator com o específico tratamento jurídico construído em função da diferenciação dele resultante. No entanto, é ressaltado no texto uma importante variável que pode alterar a relação lógica entre o fator de "discrímen" e os efeitos jurídicos atribuídos a ele. O autor destaca que o momento histórico em que a lei atua pode considerar a relação lógica ou não, ou seja, esta correlação lógica nem sempre é absoluta, "pura". Como último requisito que o autor traz para que a lei consigne um verdadeiro tratamento isonômico, tem-se a consonância da discriminação com os interesses protegidos na Constituição. Dessa forma, além de todos os requisitos vistos até aqui, é necessário que o vínculo demonstrável de forma 153 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 lógica, citado anteriormente, seja constitucionalmente pertinente, ou melhor, que as vantagens, "calcadas em alguma peculiaridade distintiva hão de ser conferidas prestigiando situações conotadas positivamente ou, quando menos, compatíveis com os interesses acolhidos no sistema constitucional (MELLO, 2002, p. 42)." Quanto a esse requisito, conclui-se, através de exemplos clareadores previstos na Constituição Federal, que não é qualquer fundamento lógico que autoriza desequiparar, mas somente aquele que se orienta na linha de interesses prestigiados na Constituição. Percebe-se que o autor cerca todas as possibilidades que garantem à lei dispensar um tratamento isonômico aos cidadãos. No entanto, ele traz um aspecto não intrínseco à lei, mas ao intérprete da lei, restringindo sobremaneira a atenção à isonomia tanto na edição das leis como na sua interpretação. Na interpretação, quando a lei não tiver assumido o fator tido como desequiparador, não se pode interpretar como desigualdades, legalmente, certas situações. Dessa forma, não se pode considerar circunstâncias ocasionais que proponham fortuitas, acidentais ou sutis distinções entre categorias de pessoas. Percebe-se na obra o verdadeiro sentido de uma das frases mais usadas no meio acadêmico e tão pouca compreendia diante da abrangência em que foi mostrada, qual seja: a igualdade é tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais. 154 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 NORMAS EDITORIAIS 155 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 156 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 NORMAS EDITORIAIS DA REVISTA FACID CIÊNCIA & VIDA A Revista FACID Ciência & Vida objetiva a divulgação da produção científica e técnica dos professores, alunos e técnicos da Faculdade Integral Diferencial, bem como de profissionais da comunidade. A Revista tem periodicidade semestral e está aberta à publicação de trabalhos na forma de ARTIGOS, ENSAIOS e RESENHAS, os quais devem falar sobre temas nas áreas da Saúde, Ciências Humanas, Ciências Sociais , Tecnologia, dentre outros, fomentando a análise e reflexão de idéias, experiências e resultados de pesquisas, experiências de vida e manifestações artísticoculturais, contribuindo para o desenvolvimento científico e cultural do País. ARTIGOS – Texto que discute um tema investigado para publicação de autoria declarada, que apresenta título em português e em inglês, nome dos autores, resumo e abstract do texto, palavras-chave e Key-words, introdução, material e métodos, resultados e discussão, conclusão, referências bibliográficas, apêndices e anexos (opcionais). Serão considerados “artigos de revisão” os textos que discutam temas com base em informações já publicadas. Quando se tratar de artigo de revisão esta deverá ser, preferencialmente, do tipo sistemática e deverá apresentar: título, autor, resumo, palavras chave, abstract, key-words, introdução, discussão do tema com base na pesquisa bibliográfica, conclusão, e referências. O artigo não deve ultrapassar 15 (quinze) laudas. Título - Deve ser conciso, claro e objetivo, evitando-se excesso de palavras ou expressões como: “Avaliação de...,” “Considerações acerca de.....” “Estudo sobre ....”. Deve ter no máximo 15 palavras. Apenas a primeira letra da primeira palavra deve ser maiúscula. Título em inglês - Transcrição do título em português. Nome dos autores - Devem ser apresentados os nomes completos, sem abreviatura, abaixo do título com somente a primeira letra maiúscula, um após outro, separados por vírgula e centralizados. Em nota de rodapé na primeira página deve-se apresentar de cada autor a afiliação completa (Titulação/ vinculação, instituição, cidade e estado, endereço eletrônico). O número de autores não deverá ser maior que cinco. Os autores pertencentes a uma mesma 157 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 instituição devem ser mencionados em uma única nota, utilizando o sobre escrito correspondente. Resumo e Abstract - Devem ter no máximo 250 palavras, descrevendo o objetivo, material e método, resultados e conclusões em um só parágrafo. O Abstract deve ser a transcrição do resumo. Palavras-chave e key-words - Devem ser no mínimo três e no máximo cinco termos para indexação que identifiquem o conteúdo do artigo, os quais não deverão constar no título. Para a escolha dos termos para indexação (descritores) na área de saúde, deve-se consultar a lista de “Descritores em Ciências da Saúde – DECS”, elaborado pela BIREME (disponível em http://decs.bus.br) ou na lista da “Mesh-Medical Subject Headings” (disponível em http:// nlm.nih.gov/mesh/mbrowser.html). Introdução - Deve ser compacta e objetiva, definindo o problema estudado, demonstrando sua importância e lacunas do conhecimento que serão abordadas no artigo. As citações presentes devem ser atualizadas e pertinentes ao tema, adequadas à apresentação do problema, sendo empregadas para fundamentarem a discussão. Os objetivos e hipóteses deverão ser contextualizados nesta sessão. Não deve conter mais de 550 palavras. Material e Métodos - Os métodos bem como os materiais devem ser detalhados de modo que possam ser confirmados, incluindo os procedimentos utilizados, universo e amostra. Indicar os testes estatísticos utilizados. As questões éticas devem ser apresentadas nesta sessão. Resultados e Discussão podem conter figuras e/ou tabelas, contudo os dados nesta forma não devem ser repetidos no texto. Os resultados devem ser apresentados em uma sequência lógica. As tabelas e figuras devem trazer informações distintas ou complementares entre si. Os dados estatísticos devem ser descritos nesta sessão. A discussão deve ser pertinente apenas aos dados obtidos, evitando-se hipóteses não fundamentadas nos resultados. Deve-se relacionar-se aos conhecimentos existentes e aos apresentados por outros estudos relevantes. Deve, sempre que possível, incluir novas perspectivas de pesquisas. 158 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Conclusão - Deve estar fundamentada nas evidências disponíveis e pertinentes ao objeto de estudo. As conclusões devem ser claras e precisas. Deve-se relacionar os resultados obtidos com as hipóteses apresentadas. Podem ser apresentadas sugestões para outras pesquisas que complementem o estudo ou para outros problemas surgidos no desenvolvimento. Referências - O artigo deverá apresentar no máximo 25 citações, sendo a maioria, preferencialmente, em periódicos recentes dos últimos cinco anos. No caso de artigos de revisão, deverão ser apresentadas no máximo 35 citações. Devem incluir todos os autores referenciados no texto. Apêndice - Informações complementares produzidas pelo autor, como o questionário aplicado, termo de consentimento livre e esclarecido, roteiro de entrevistas. Anexos - Informações complementares, como documentos e ilustrações, retiradas da bibliografia. ENSAIOS – Texto que expõe estudos realizados com as conclusões a que se chegou. Pode ser de caráter informal, no qual se destaca a liberdade e emoção criadora do autor e pode ser caracterizado como formal, onde a brevidade, serenidade e o uso da primeira pessoa podem ser utilizados. Neste tipo de publicação é marcante a presença do espírito problematizador, sobressaindo o espírito crítico e a originalidade do autor. Deve apresentar temas atuais e de interesse coletivo. Pode ser até 10 (dez) páginas. RESENHAS – resumo crítico de livros publicados ou no prelo que podem suscitar no leitor o desejo de ler a obra integralmente. Este texto deve ter, no máximo 5 laudas e deve ser escrito informando o título da obra, nome completo do autor, editora e ano publicado. Instruções aos Colaboradores 1 Os trabalhos devem ser preferencialmente inéditos e redigidos em língua portuguesa, sendo seu conteúdo de inteira responsabilidade dos autores. 2 Os textos para publicação devem ser acompanhados de uma correspondência ao Editor solicitando que o texto seja publicado. Uma vez recebidos, os textos serão submetidos à apreciação do Conselho Editorial e dois conselheiros, no mínimo, decidirão sobre sua aprovação para 159 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 publicação, podendo ocorrer que o texto seja devolvido ao seu autor para alterações e/ou correções. 3 O texto deve ser digitado na fonte Times New Roman tamanho 12, espaço 1,5 entre linhas, margens superior e esquerda de 3 cm, margem inferior e direita de 2 cm, papel formato A-4. No resumo e abstract o espaçamento deverá ser simples. 4 As tabelas para apresentação de dados devem ser numeradas consecutivamente com algarismos arábicos, encabeçadas pelo título, com indicação da fonte após a linha inferior. Todas as tabelas inseridas devem ser mencionadas no texto. O texto deve ser em fonte Times New Roman, estilo normal e tamanho 12. 5 Para a inserção de ilustrações (quadros, gráficos, fotografias, esquemas, algoritmos etc), deve-se numerá-las consecutivamente com algarismos arábicos, com indicação do título na parte superior e da fonte após o seu limite inferior e indicadas no texto em que devem ser inseridas. Gráficos, fotografias, esquemas e ilustrações devem ser denominados como figuras. O texto deve ser em fonte Times New Roman, estilo normal e tamanho nove. Devem ser inseridas logo abaixo do parágrafo em que foram citadas pela primeira vez. As figuras agrupadas devem ser citadas no texto como: Figura 1A; Figura 1B; Figura 1C; etc. As figuras devem ter no mínimo 300dpi. 6 As citações no texto devem ser organizadas de acordo com as normas vigentes da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT - 10520) formato autor-data. 7 A lista de referências deve ser organizada em ordem alfabética e de acordo com as normas ABNT – 6023 (espaço simples entre linhas e um espaço simples entre uma referência e outra). Modelos de referências bibliográficas Livros (um autor) SOARES, L.S. Educação e vida na República. 4.ed. São Paulo: Letras Azuis, 2004. 160 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Livros (dois autores) ROCHA,B.; PEREIRA,L.H. Cuidando do enfermo. São Paulo: Manole, 2001. Livros com mais de três autores POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Rio de Janeiro: Vozes, 2008. Capítulos de livros OLIVEIRA, A. A. S. de; VILLAPOUCA, K. C. Perspectivas epistemológicas da bioética brasileira a partir da teoria de Thomas Kuhn. In: GARRAFA, V.; CORDÓN, J. (Orgs.). Pesquisa em bioética: bioética no Brasil hoje. São Paulo: Gaia, 2006. p.35-50 Artigos de periódicos (com mais de três autores) PEREIRA, Q. L. C. et al. Processo de (re)construção de um grupo de planejamento familiar: uma proposta de educação popular em saúde. Texto e Contexto Enferm, Florianópolis, v. 16, n. 2, p. 320-5, abr/jun. 2007. Teses ABBOTT, M.P. Modificações oxidativas de proteínas em presença de complexos de cobre(II). 2007. 130f. Tese de doutorado (Programa de Pósgraduação em Química) Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. Artigo de jornal assinado DIMENSTEIN, G. Escola da Vida. Folha de São Paulo, São Paulo, 14 jul. 2002. Folha Campinas, p. 2. Artigo de jornal não assinado FUNGOS e chuva ameaçam livros históricos. Folha de São Paulo, São Paulo, 5 jul. 2002. Cotidiano, p. 2. Artigo de periódico (formato eletrônico) VRAKEN, M. V. Prevention and treatment of sexuality transmitted diseases: an updates. American Family Physican. v. 76, n. 12, p. 1827-1832. Dez. 2007. Disponível em: < www.aafp.org/afp>. Acesso em: 29 de março de 2010. 161 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Decretos, Leis BRASIL. Decreto n. 2.134, de 24 de janeiro de 1997. Regulamenta o art. 23 da Lei n. 8.159, de 8 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a categoria dos documentos públicos sigilosos e o acesso a eles, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, n. 18, p. 14351436, 27. jan. 1997. Seção 1. Constituição Federal BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Trabalho publicado em Anais de Congresso MARTINS, I.S.; SILVA FILHO, F.J.V.; ALVES NETO, F.E. Abordagem Cirúrgica em Ginecomastia Gigante em Pseudo-hermafrodita Masculino. In: I JORNADA DE MEDICINA DA FACID, 2005, Teresina. Anais da I Jornada de Medicina da FACID. Teresina, Gráfica do Povo, 2006, p.212. 8 Acompanha o texto uma folha com o título e nome completo do autor e/ou autores com a filiação profissional e a qualificação acadêmica do(s) autor(es), os endereços postal e eletrônico, inclusive o telefone (modelo abaixo). 9 O original do trabalho a ser publicado deve ser entregue em uma via impressa e em CD (processador Word for Windows), pelos correios ou via e-mail: [email protected]. Ao Conselho Editorial é reservado o direito de publicar ou não o trabalho. 10 A publicação do trabalho não implicará na remuneração de seus autores. O autor responsável pela submissão do artigo receberá um exemplar do fascículo por artigo publicado. 11 A revista não se obriga a devolver os artigos recebidos, publicados ou não. 12 O artigo a ser publicado deve ser entregue na FACID. O autor responsável pela submissão do artigo deverá anexar e assinar os seguintes documentos: Declaração de Responsabilidade e Transferência de Direitos Autorais. 162 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 Modelos de páginas (em separado) que devem acompanhar o artigo Modelo 1 Modelo 2 DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE TRANSFERÊNCIA DE DIREITOS AUTORAIS Declaro que participei deste artigo para tornar Declaro que, em caso de aceitação do meu artigo pública minha responsabilidade pelo seu conteúdo, não submetido à Revista FACID Ciência & Vida, esta passa a omitindo nenhuma ligação ou acordo de financiamento entre os ter os direitos autorais e propriedade exclusiva sobre o seus autores e instituições que possam ter interesse na mesmo. publicação do mesmo. Declaro ainda que o manuscrito é original e que Teresina, ....... de .............. de 20..... este artigo, em parte ou na íntegra, ou qualquer outro artigo similar, de minha autoria, não fora enviado a outra revista e não ___________________________________ o será, enquanto estiver sob a análise da Revista FACID Nome completo do (a) aluno (a) Ciência & Vida, quer impresso ou eletronicamente. Teresina, ........ de ................. de 20..... ___________________________________ ___________________________________ Nome completo do (a) orientador (a) Nome completo do (a) aluno (a) ____________________________________ Nome completo do (a) orientador (a) TÍTULO Modelo 3 Título do artigo Nome completo do Autor 1 Qualificação acadêmica e Filiação Exemplos: Aluno de graduação do Curso de Odontologia da FACID; Especialista em _______, Professor(a) do Curso de ___________ da FACID; Mestre em __________, Professor(a) Adjunto da UFPI; Doutor em ________, Professor(a) da _________) Endereço Postal Rua das Estrelas, nº 000, apto 000 Bairro do Céu, Cidade – Estado CEP – 00 000 - 000 Endereço eletrônico (e-mail) Telefone(s) para contato Nome completo do Autor 2 Qualificação acadêmica e Filiação Endereço Postal Endereço eletrônico (e-mail) Telefone(s) para contato OBS: Deve constar os dados de todos os autores respeitando o limite máximo de 5 (cinco) para cada artigo, conforme a norma editorial da Revista. 163 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011 OBS: As submissões que não atenderem às normas acima apresentadas não serão encaminhadas para análise dos consultores, sendo imediatamente recusadas para publicação na Revista FACID Ciência & Vida. 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