Setembro 2011 - DeVry Brasil

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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Revista
Ciência & Vida
Volume 7 Número 2
Setembro - 2011
a revista do conhecimento humano publicada pela FACID
Teresina - PI
Semestral
ISSN 1808-3366
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Revista
Ciência & Vida
Volume 7 Número 2
Setembro - 2011
a revista do conhecimento humano publicada pela FACID
Teresina-PI
As opiniões e artigos expressos aqui são de inteira
responsabilidade dos autores.
Periodicidade Semestral
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Revista Facid
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Editor - responsável
Rômulo José Vieira
Projeto Gráfico
Castino Martins da Silveira
Revisão
Antonia Osima Lopes, Francisca Sandra Cardoso Barreto, Maria
Rosilândia Lopes de Amorim, Raimunda Celestina Mendes da Silva
Jornalista Responsável
Marcos Sávio Sabino de Farias - MTB 1005
Impressão
Gráfica
Capa
Amanda Paiva e Silva Martins
Catulo Coelho dos Santos
George Mendes Ribeiro Sousa
Juciara Freitas Ribeiro
(ex-alunos do Curso de Publicidade e Propaganda da FACID)
Revista Facid: Ciência & Vida / Faculdade Integral Diferencial.
V. 7, N. 2, 2011 / Teresina: FACID, 2011.
Semestral
ISSN 1808-3366
1. Pesquisa científica. 2. Desenvolvimento científico.
CDD 509
CDU 001.891
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Revista
Ciência & Vida
Volume 7 Número 2
Setembro - 2011
a revista do conhecimento humano publicada pela FACID
Teresina-PI
FACID - Faculdade Integral Diferencial
Integral - Grupo de Ensino Fundamental, Médio,
Técnico e Superior do Piauí S/C Ltda.
Paulo Raimundo Machado Vale
Diretor Presidente
Maria Josecí Lima Cavalcante Vale
Diretora Acadêmica
Iveline de Melo Prado
Vice-Diretora Acadêmica
Rômulo José Vieira
Coordenador de Pesquisa e Pós-Graduação
Conselho Editorial
Antonia Osima Lopes
Charllyton Luis Sena da Costa
Eliana Campelo Lago
Francisca Sandra Cardoso Barreto
Giovana Ferreira Martins Nunes Santos
Maria Josecí Lima Cavalcante Vale
Rômulo José Vieira - Editor Responsável
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Valéria de Deus Leopoldino de Arêa Leão
Veruska Cronemberger Nogueira
Conselho Consultivo
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Benício Parentes de Sampaio - Divana Maria Martins Parente Lira
Helder Ferreira de Sousa - Izânio Vasconcelos Mesquita
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José Carlos Formiga - Joseli Lima Magalhães
Luis Nódgi Nogueira Filho - Maurício Batista Paes Landim
Marcelino Martins - Morgana Moreira Sales
Maria Helena Barros Araújo Luz - Neiva Sedenho de Carvalho
Sérgio Ibiapina Ferreira Costa - Tony Batista
Waldília Neiva de Moura Santos Cordeiro
Conselho Consultivo Nacional
Anke Bergmann (RJ)
Álvaro Antonio Machado Ferraz (PE)
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Beatriz Azevedo (SP)
Carlos Bezerra de Lima (DF)
Fernando Pratti (RS)
Ives Gandra da Silva Martins (SP)
Ivo Korytowski (RJ)
Liege Santos Rocha (DF)
Luiz Airton Saavedra (SP)
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Ruy Gallart de Meneses (RJ)
Saul Goldenberg (SP)
Samantha Buglione (SC)
Valtencir Zucolotto (SP)
Conselho Consultivo Internacional
Uwe Torsten (Alemanha)
Mario Rietjens (Itália)
Bibliotecária
Marijane Martins Gramosa Vilarinho - CRB/3 - 1059
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EDITORIAL
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EDITORIAL
Já disse o poeta Raul Seixas: "Um sonho que se sonha só, é só um
sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade". Mais um
sonho da FACID tornou-se realidade: a sua consolidação como uma Instituição
de Ensino Superior. Todos que fazem a FACID e a população em geral, não só
de Teresina, mas de todo o Piauí e das regiões circunvizinhas já tinham
conhecimento da qualidade desta instituição e de sua determinação para
oferecer cursos, cada vez melhores. Contudo, neste ano, obteve-se a
confirmação do Ministério de Educação-MEC: a FACID foi primeiro lugar no
Índice Geral de Curso-IGC dentre todas as faculdades particulares do Piauí.
Agora não é um reconhecimento só da comunidade que participa das atividades
da faculdade, mas do próprio Ministério da Educação. Esse resultado foi
comemorado com muita alegria, com grande honra, mas também evidenciaramse a necessidade e a responsabilidade de primar sempre mais pela qualidade
nesta Instituição de Ensino Superior, integrando sempre o essencial triângulo
do ensino superior: o ensino, a pesquisa e a extensão.
Com esta comprovação do ensino na FACID, a pesquisa fica fortalecida
e a extensão aprofunda-se nos anseios das comunidades piauienses,
principalmente aquelas de maiores necessidades socioeconômicas e culturais.
Não há mais dúvida, a FACID caminha a passos firmes e fortes para o
seu engrandecimento e assim atingir seus objetivos de contribuir para o
desenvolvimento do Piauí.Formar profissionais de excelência, promover a
pesquisa para solucionar problemas que acometem a sua população e
desenvolver a assistência àqueles que mais precisam.
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Parabéns a todos que fazem a FACID, votos de sucessos sempre, com
respeito, reconhecimento, serenidade, responsabilidade e que todos continuem
sonhando juntos.
Rômulo José Vieira
Editor - responsável
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SUMÁRIO
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SUMÁRIO
ARTIGOS
ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE DURANTE
INTERNAÇÃO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVAUTI
Sônia Maria Pereira, Carlange Lobão Castro ................................. 19 - 34
A CONTRIBUIÇÃO GERÊNCIA DE ENFERMAGEM NA
ASSISTÊNCIA PRESTADA EM UNIDADE HOSPITALAR
PÚBLICA
Bárbara Karla Bezerra Martins, Amália de Oliveira Carvalho ...............
35 - 50
PATOLOGIAS LOMBARES: PREVALÊNCIA E USO DE
MEDICAMENTOS EM PACIENTES DE CLÍNICAS DE
FISIOTERAPIA
Lia Medeiros Brandim, Fabrício Pires de Moura do Amaral , Cristina
Cardoso da Silva ........................................................................... 51 - 66
DISSOLUÇÃO CONJUGAL POR MULHERES NA
CONTEMPORANEIDADE:
UM
ENFOQUE
PSICOLÓGICO.
Náira Ravanny de Souza Lima, Cyntia Maria de Miranda Araújo......... 67 - 81
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AVALIAÇÃO DA SATISFAÇÃO DOS PACIENTES
ATENDIDOS EM UMA CLÍNICA INTEGRADA DE UM
CURSO DE ODONTOLOGIA
José Guilherme Ferrer Pompeu, Francisco Jurany de Carvalho
Júnior, Raimundo Guimarães Cruz Neto, Claudio Heliomar Vicente
da Silva, Vera Lúcia Gomes Prado...............................................
82 - 99
PERFIL DOS BOLSISTAS PROUNI DE UMA
FACULDADE EM TERESINA
Joíce Suane de Carvalho da Silva, Alba Katharyna Soares, Antonia
Osima Lopes .............................................................................. 100 - 118
ERITROPOETINA E NÚMERO DE ANTIHIPERTENSIVOS
EM
PACIENTES
COM
INSUFICIÊNCIA RENALCRÔNICA EM HEMODIÁLISE
Nayane Piauilino Benvindo Ferreira, Antônio Gonçalves Rodrigues
Júnior ......................................................................................... 119 - 128
PERCEPÇÃO DA CLIENTE GESTANTE SOBRE O
EXAME PREVENTIVO DE CÂNCER CÉRVICOUTERINO
Laurice Alves dos Santos, Gustavo de Moura Leão ...................... 129 - 142
RELAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E
INTERNAÇÕES EM CRIANÇAS DE ATÉ DOIS ANOS
Rejane Andrade Neves, Mayanni Fernandes da Silva, Maria do
Socorro Sousa Alves Barbosa .................................................... 143 - 148
RESENHAS DE LIVROS
CONTEÚDO JURÍDICO DO PRINCÍPIO DA
IGUALDADE
Willame Parente Mazza .............................................................. 151 - 154
NORMAS EDITORIAIS ........................................................
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ARTIGOS
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ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE DURANTE
INTERNAÇÃO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA - UTI
EMOTIONAL ASPECTS REPORT OF THE PATIENT DURING
HOSPITALIZATION IN INTENSIVE CARE UNIT - ICU
Sônia Maria Pereira ;
Carlange Lobão Castro
RESUMO
O adoecer causa sensações de mal estar. Quando este se encontra diante de
uma hospitalização seja ambulatorial, clínica, ou UTI, sobre tratamento contínuo
ou tratamento prolongado, ou por muitas vezes marcados por procedimentos
invasivos e dolorosos, sente insegurança diante da sua realidade, passando por
momentos críticos, ao se defrontar ,de imediato,com o seu risco de morte. O
presente trabalho foi realizado em um hospital particular que possui uma UTI,
com a possibilidade de pacientes,potencialmente recuperáveis, em Teresina PI. Teve como objetivo geral compreender os aspectos emocionais vivenciados
pelo paciente no processo de adoecimento e cuidados intensivos em Unidade
de Terapia Intensiva - UTI. Como objetivos específicos,apresentou identificar
as necessidades psicológicas do paciente diante do tratamento na UTI; identificar
se ocorre o processo de resiliência no paciente; e verificar a existência de luto
antecipatório no paciente. Trata-se de uma pesquisa de campo com abordagem
qualitativa e de caráter e método exploratório. Foram utilizados como
instrumentos de coleta de dados a entrevista semiestruturada e o questionário
sócio-demográfico. Participaram da pesquisa oito pacientes que estiveram
internados em uma UTI. Com base nos resultados, observou-se que a internação
é uma experiência delicada, gera tanto sentimentos inquietantes e estranhos,
produz ganhos negativos e positivos no decorrer do processo do seu adoecer.
Podendo assim desencadear sensações de horror por evocar a possibilidade
____________________
1.
Aluna de graduação (10º período) do Curso de Psicologia da Faculdade Integral da Diferencial - FACID. Técnica em
Enfermagem pelo Instituto Nathan Portela - IDTNP. Rua Castelo do Piauí, 3271, Bairro Buenos Aires. Teresina - PI. Telefone:
(86) 8811-2592.
email: [email protected]
2.
Professora do Curso de Psicologia da Faculdade Integral da Diferencial - FACID. Psicóloga, Mestre em Antropologia pela
Universidade Federal do Piauí - UFPI. Rua Quintino Bocaiúva, 1711, Bairro Vila Operária. Teresina - PI. Telefone: (86)
9987-5009.
email: [email protected]
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de morte que advém com o sentido que cada paciente dar ao desenvolvimento
da sua doença
Palavras-chave: Hospitalização. UTI. Emoções. Resiliência. Luto.
ABSTRACT
Health is the welfare of the human being, and cause ill feelings of malaise. When
it is faced with a hospitalization is outpatient, clinic, or ICU on continuous
treatment or prolonged treatment, which are often marked by invasive and painful
procedures, feel insecurity about their reality through critical moments, when
faced immediately with its life-threatening. This work was performed in a private
hospital that has an ICU, with the possibility of patients potentially recoverable
in Teresina - PI. Had the general objective to understand the emotional aspects
experienced by the patient in the process of illness and intensive care in the
Intensive Care Unit - ICU. Specific objectives presented identify the psychological
needs of the patient before the treatment in the ICU; identify if the process
occurs in the patient resilience, and verify the existence of anticipatory mourning
the patient. The work it is a field research with qualitative approach and
exploratory character and method. It has been used as instruments of data
collection to semi-structured interview and socio-demographic questionnaire.
Participants were eight patients who were admitted to an ICU. Based on the
results, we found that hospitalization is a delicate experience, generating both
disturbing and strange feelings as negative and positive gains during the process
of his illness. And thus can trigger feelings of horror by evoking the possibility of
death that comes with the sense that each patient to the development of their
disease.
Keywords: Hospitalization. ICU. Emotions. Resilience. Mourning.
1 INTRODUÇÃO
O adoecer causa sensações de mal-estar, sendo um fator considerável
de desajustamento, podendo precipitar ou agravar desequilíbrios no ser humano,
como também interferir consideravelmente no ritmo familiar, social e psíquico
(CAMPOS, 1995).
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Na hospitalização por doença crônica ou aguda, surgem sentimentos
que ameaçam a existência do ser humano, bem como a contínua incerteza do
futuro. O medo,uma reação comum do enfermo, cuja intensidade da situação
varia de acordo com o nível de conhecimento da doença e se há possibilidade
de recuperação.
A hospitalização em Unidade de Terapia Intensiva - UTI é um local
onde são internados pacientes em estado grave e necessitando de cuidados
médicos intensivos. As ações de uma UTI são diuturnas, rápidas e precisas,
exigindo o máximo da equipe. Contém um limite entre a vida e a morte, na
maioria das vezes são áreas restritas à circulação, principalmente, de pessoas
estranhas à equipe multiprofissional onde os familiares têm pouco ou nenhum
acesso (ROMANO, 1999).
Somado a isso, a rotina de trabalho, barulho, gemidos de pacientes,
falta de privacidade são as variáveis que influenciam o ser humano e o deixam
emocionalmente vulnerável. Isto porque, ao adoecer,ele deixa de ocupar sua
posição frente à sociedade, sendo impedido, muitas vezes, de realizar suas
funções como, por exemplo, ser membro de um grupo de trabalho, social e
familiar.
Dentro dessa premissa, o desejo de realizar essa pesquisa surgiu a partir
da disciplina Estágio em Saúde associado à experiência da pesquisadora
adquirida durante os 11 anos em que atua nessa profissão como Técnica em
Enfermagem, durante, sendo 5 anos em uma Unidade de Terapia Intensiva UTI. Junto a este,soma-se a necessidade de buscar uma maior compreensão
dos aspectos emocionais envolvidos neste processo através da escuta terapêutica
e por acreditar na importância de um profissional de psicologia dentro de um
hospital e,especificamente, na UTI.
É importante ressaltar que o paciente muitas vezes vem em estado grave
e inconsciente.Quando recobra a sua consciência,depara-se com um ambiente
diferente, especificamente em uma UTI, longe da família. Um lugar cheio de
regras e normas a serem obedecidas, no dia a dia o paciente vai gerando
ansiedade e angústia. O ambiente UTI, por si só, já é propício para o paciente
apresentar quadro de desorientação, em que o mesmo fica sem noção de tempo
e espaço, misturado com ruídos constantes dos equipamentos hospitalares, a
rotatividades dos funcionários, aos gemidos dos outros pacientes e à falta de
privacidade. A morte do outro e os procedimentos chamados invasivos e não
invasivos que são os exames em excesso, medicações, procedimentos realizados
fazem com que o paciente, consequentemente, perca referências fundamentais
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do seu estado de equilíbrio emocional e, principalmente, para aqueles que veem
a UTI, como o fim da vida, e não como um ambiente de tratamento intensivo
para pacientes em estado recuperáveis.
Neste contexto, o problema da pesquisa foi definir os aspectos
emocionais vivenciados pelo paciente durante internação em uma UTI? O
objetivo geral foi compreender os aspectos emocionais vivenciados pelo paciente
no processo de adoecimento e cuidados intensivos em UTI e os objetivos
específicos: identificar as necessidades psicológicas do paciente diante do
tratamento na UTI, identificar se ocorre o processo de resiliência no paciente e
verificar a existência de luto antecipatório no paciente
2 MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi submetida à apreciação e autorização dos Comitês de
Ética e Pesquisa do Hospital e da Faculdade Integral Diferencial - FACID,
como orienta a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL,
1996). Após a aprovação obtida nos referidos comitês, iniciou-se a coleta dos
dados. Para tanto, foi realizada uma reunião com o Diretor clínico e a psicóloga
do referido hospital. A priori, esclareceu-se, sobre o estudo, quais pacientes
poderiam participar. A instituição, por sua vez, priorizou a participação de paciente
internados pelo o Sistema Único de Saúde - SUS. Sem distinções de faixa
etária, sexo, que se encontravam hospitalizados, com doenças agudas ou
crônicas ou uma internação definida, para se submeterem a uma cirurgia cardíaca,
nesse momento eram capazes de compreender situações mais complexas, tendo
capacidade de raciocínio lógico, expressão verbal como:a percepção de valores,
limites e regras. Em caso de aceitação, participantes ou os responsáveis legais
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE, ainda como
garante a Resolução 196/96 (CNS). As entrevistas foram gravadas após o
consentimento dos participantes e responsáveis para uma análise mais fidedigna
de seus conteúdos.
A classificação da seguinte pesquisa se deu através de um estudo de
campo de natureza exploratória, tendo como objetivo familiarizar-se com um
assunto ainda pouco conhecido e explorado. Ao final da pesquisa exploratória,
pôde-se conhecer mais sobre o assunto.
A metodologia desta pesquisa teve enfoque qualitativo que, segundo
Minayo (2006), método se aplica ao estudo da história, relações, representações,
crenças, percepções e opiniões, produto das interpretações que os humanos
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fazem a respeito de si mesmo, sentem e pensam. Permite à construção de novas
abordagens, revisão e criação de novos conceitos e categorias durante a
investigação.
A pesquisa foi realizada no período de setembro a novembro de 2010.
Teve como critério: a inclusão dos pacientes que estiveram internados na UTI
do referido hospital. Desta forma participaram da pesquisa oito pacientes
voluntários de ambos os sexos, com faixa etária de 07 a 69 anos.
Inicialmente foi solicitada uma declaração da instituição hospitalar,
autorizando a pesquisadora a ter acesso às suas dependências para a coleta de
dados. Foi utilizado para a coleta dos dados o questionário sócio-demográfico,
com o objetivo de identificar variáveis e as características sócio-culturais dos
participantes, tais como: sexo, idade, escolaridade, renda familiar, religião etc; e
a entrevista semiestruturada, na qual Gil (1999) define entrevista como uma
técnica onde o entrevistador se coloca perante o entrevistado a fim de formular
perguntas com o objetivo de obter dados referentes à investigação. As aplicações
dos instrumentos foram realizadas, de forma individual, no próprio ambiente
hospitalar após o paciente ter tido alta da UTI e ter sido transferido para o
apartamento. Em alguns casos houve a necessidade de se ter mais de um encontro,
sendo este acordado antes com o participante.
Posteriormente, as entrevistas foram transcritas e analisadas utilizando o
método da Análise de Conteúdo dos dados coletados. A análise de conteúdo
refere-se a técnicas de pesquisa que possibilitam tornar replicáveis e válidas
inferências sobre dados de um determinado contexto, através de técnicas
especializadas e científicas (MINAYO, 2006).
Os dados coletados foram analisados e interpretados com base no
referencial teórico e objetivos propostos, bem como sob a questão principal da
pesquisa. Os resultados desse estudo foram agrupados e a partir destes
elencaram-se as seguintes categorias: Sentimentos dos pacientes emergidos
durante a internação na UTI; Resiliência: uma ressignificação de sua condição
de doença para saúde; e o surgimento do luto no processo de internação na
UTI. Vale ressaltar que foram utilizados nomes fictícios para um maior sigilo dos
participantes
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
A amostra foi composta por oito pacientes, sendo quatro do gênero
feminino e quatro do gênero masculino, da faixa etária de 07 a 69 anos de um
hospital da rede privada da cidade de Teresina-PI, que estiveram internados na
UTI. Os 05 participantes cursaram o Ensino Fundamental e 03 analfabetos.
Destes, 07 se declararam católicos, 01 evangélico. Os 07participantes pertencem
à classe média baixa e 01de classe média alta. Sendo que 03 possuem o estado
civil casado e 01 viúvo e 03 solteiros. 04 participantes constituem família filhos
e 03 não possuem filho, e que 03 são estudantes e 02 lavradores 01 aposentado
e 02 do lar.
Os conteúdos coletados nas entrevistas foram transcritos fielmente,
organizados e categorizados de forma criteriosa com base no referencial teórico
e nos objetivos propostos, bem sob a problemática da pesquisa. Diante disso,
foram construídas as seguintes categorias: sentimentos emergidos durante a
internação na UTI, residência e o leito.
3.1 Sentimentos emergidos durante a internação na UTI
Numa internação hospitalar,o ser humano é perpassado por entrechoque
constante entre a vida e a morte, que fortalece a ruptura do paciente com seu
cotidiano, intensificando o processo de adoecer, devido à ameaça sentida pela
quebra da rotina e dessa forma promovendo regressões emocionais. Tratandose de uma hospitalização em uma UTI, o paciente fica com sentimentos de
vulnerabilidade, visto que a doença é fator de desajuste, traz sentimentos
negativos, promove alterações na sua vida que geram sentimentos de medo,
ansiedade e muitas vezes, estes sentimentos estão relacionados com o fato de
estar só, ser colocado num papel de dependente passivo.
Essa ideia é reforçada por Angerami-Camon (1995), ressaltando a
importância do psicólogo hospitalar para amenizar o sofrimento gerado pelo
adoecimento e hospitalização, evitando as possíveis sequelas emocionais. Um
destaque relevante nas entrevistas foi referente ao sentimento de solidão, medo,
angústia,raiva,ansiedade, como é possível observar na fala do paciente
entrevistado:
[...] a gente sente a presença da pessoa e tenta falar, mas não
consegue, incomoda tanto, é horrível, a gente se sente só (Rosa).
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
No momento em que o paciente encontra-se hospitalizado, ele se depara
com vários fatores que influenciam na sua rotina. Como o afastamento de seu
ambiente físico e familiar, às vezes,é privado da companhia de seus familiares,
colegas, gerando sentimento de solidão, dor que são reforçados pela condição
necessária para um bom funcionamento do hospital, das regras, limitações
impostas de acordo com o procedimento hospitalar. Este fato evidencia-se na
fala de Azaléia, Tulipa e Orquídea:
O ruim é que a gente fica só, naquela UTI, e só depois de muito
tempo é que a mãe da gente entra (Azaléia).
Mas agora eu me sentir tão só aqui.... Com o passar dos dias, eu me
sentia mas só, cadê minha família (Tulipa).
[...] mais a insegurança ronda pela gente, é muito solitário, não temo
calor eu a gente tem na casa da gente, da pra ficar louca ali (Orquídea).
O mesmo por está só em um ambiente estranho causa inquietação, com
estruturas rígidas que o descaracteriza, partilhando o mesmo espaço físico com
pessoas fora de seu convívio familiar e ainda pela preocupação com sua evolução
clínica da doença. A internação é uma ruptura da história do indivíduo,
presencialmente quando ele se dá conta que não é o mesmo (CAMPOS, 1995).
Mas agora eu me senti tão só aqui.... Com o passar dos dias, eu me
sentia, mas só, cadê minha família (Tulipa).
AA fala acima evidencia que o sujeito é um ser que necessita de
companhia, podendo, num pro cesso de isolamento, desenvolver questões
emocionais que podem desencadear um adoecer.
Outro sentimento muito presente é a raiva e só vem a reforçar a falar
Kubler-Ross (2000) que o estado emocional do paciente, faz com que ele, se
queixe: "que mal fiz" acontece muito comumente, o doente se sente castigado,
com muita raiva, ressentido, e esses sentimentos provocam, muitas vezes,
protestos contra si mesmo ou contra o destino, Deus, por exemplo. E foi
observado na fala de Tulipa, significativamente:
[...] e pergunta logo meu Deus por que logo comigo, fiquei com raiva
de mim mesmo.... Foi o maldito cigarro.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Outro sentimento que surgiu foi o medo,um sentimento que causa um
estado de alerta, demonstrado pelo receio de alguma coisa, por sentir-se
ameaçado,fisicamente ou psicologicamente, e neste contexto fortaleceu-se que
o medo que o paciente sente na sua hospitalização apresenta-se também como
sentimentos ambíguos como retrata a fala abaixo::
[...] Medo, insegurança, angustia, o coração que estava fraco batia
forte e eu ficava mais cansado ainda (Violeta).
Os sentimentos representam para o ser humano a vivência do cotidiano
num misto de aceitação e rejeição, em movimentos que se apresentam como
agradáveis e desagradáveis evidenciando na percepção a dor, angústia, aquilo
que não se consegue esconder (VISCONTT, 1982). No relato abaixo da
paciente entrevistada, perceberam-se essa dor e a angústia:
[...] e foi crescendo com o passar dos dias, tudo vai ficando
insuportável, angustia aumenta mais, e a gente se irrita com tudo,
[...] angustia, o coração que estava fraco batia forte e eu ficava mais
cansado ainda (Violeta).
A internação é vista como uma experiência ruim, dolorosa, angustiante
por quem a vivencia, passando pelo medo diante do desconhecido, de um futuro
sem perspectivas. Encontrar-se em um ambiente estranho ao seu, doente, sem
a família propicia relevantemente o aumento da ansiedade no paciente,sendo
este aumento gerador de angústia.
[...] E como se crescesse um sentimento, angustia, a gente fica mais
doente aos poucos. E ter que passar por esses processos todos
deixa a gente desconsertada [...] Da muita angustia (Cravo).
A dor do doente, conforme Angerami-Camon (2004), aumenta pela
possibilidade da morte, trazendo para a dimensão do orgânico e remitindo para
o corpo como aumento nos batimentos cardíacos, dor no peito, dor de cabeça,
falta de apetite, insônia como também medo e angústia
O pensamento, segundo Merskey (1994), é um dos fatores psicológicos
a dominar ou desencadear a dor, produzindo estresse, e colocando o homem
numa fragilidade e complexidade de eventos que podem desenvolver a resposta
da dor, e com isso desencadeia o estresse.
26
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
E esse sentimento de dor que é desencadeado nos pacientes não só
como dores no corpo,e sim generalizadas em todos os aspectos físico,psíquico
e sociais, como relata a fala abaixo:
[...] e as dores, são tantas, dor por está só, dor no corpo, do na alma
[...] eu imagina vim pra ficar bom e cada dia está aparecendo mais
doenças, e as dores, é tantas, dor por está só, dor no corpo, do na
alma. (Girassol)
O estresse, segundo Lipp e Malagris (1995), pode provocar reações
psicofisiológicas e estas ocorrem como resposta a um estímulo, sendo causado
quando o indivíduo confronta-se com diversas situações, sejam agradáveis ou
desagradáveis em circunstância da dor, e que há um círculo vicioso entre o
desencadeamento da dor e um estado emocional.
Os sentimentos envolvidos naquele momento são intensos, englobam
tanto elementos internos como externos, nos relatos percebeu-se que a reação
corporal, o medo de não ter sua vida de volta, é uma resposta a sua condição e
ao ambiente.
Observa-se de forma significante que o ser humano não está preparado
para sofrer danos emocionais e se sente esgotado de suas forças. A dor faz com
que o paciente sinta esse dano emocional, sem fugir da realidade do ser doente.
O enfermo tem reações variáveis no processo da perda da saúde e
produz uma repercussão emocional. Não é a dor que a doença traz que
incomoda, é algo mais subjetivo: é a dor de saber-se doente, de perder a
condição de sadio e, em muitos casos, a não elaboração do luto pela perda da
saúde,leva o indivíduo para a cronicidade (ANGERAMI-CAMON, 1995).
Percebeu-se na fala acima a relevância deste luto, pois cada paciente
tem uma reação e vai depender da capacidade emocional de cada um, na
elaboração do luto pela condição anterior de sadio e consequentemente
adaptação à nova situação do ser doente.
A atividade constante na UTI, nas 24 horas, a rotina repetida inúmeras
vezes, o acordar, o dormir intermitente do enfermo, a ausência do contato com
o mundo externo, a falta de uma conversa, de orientação acabam trazendo para
a pessoa, com mais de três dias de UTI, uma perda inicial de tempo cronológico.
Tal situação aos poucos vai se agravando com a perda da consciência, do
tempo, do espaço físico, de tal forma que comportamentos estranhos começam
a aparecer. (Sebastiani, 2000), estando presentes os indicadores de agravamento
do estado do paciente e reconhecidos,significadamente, na fala abaixo:
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[...] e tudo isso vai deixando a gente louca parece que a gente perde
a noção, lá dentro, não tem uma brecha para a gente vê se é dia ou
noite, só quando alguém chega e diz bom dia, ou boa tarde, ou boa
noite, e toda hora é uma pessoa diferente (Violeta).
A internação relaciona-se a uma perda de autonomia, visto que, ao ser
levado para o hospital, o indivíduo perde parte do domínio sobre si mesmo,
passando de agente para paciente, tanto no sentido psicológico como orgânico
(Sebastiani, 1984 apud CAMPOS, 1995).
Os procedimentos realizados pelos profissionais, no dia a dia, deixam,
visivelmente, o paciente impotente.Falta-lhes autonomia de tomar suas próprias
decisões.Perdem o controle de si mesmos, que por sua vez causam o sentimento
de constrangimento. Este sentimento foi observado com aspecto bastante
relevante na fala do paciente entrevistado:
Aquelas máquinas ligadas apitando, é ruim, e quando a gente acorda
que tem um tubo, na boca da gente, e fica sufocado, querendo falar,
dá um desespero, amarrado querendo se soltar. E o pior é pelado a
gente fica pelado e o povo vendo a gente pelado... Eu tava morto de
vergonha (Rosa).
Muitos pacientes podem entender a internação hospitalar, como uma
agressão, porque o mesmo é instituído e reforçado a circunstância externa de
que é delegado de uma doença, impondo as normas da instituição e decidindo
tudo ou quase tudo pelo paciente que aos poucos vai perdendo sua autonomia.
Dessa forma o paciente começa a assumir outro semblante, o criado pela
instituição (CAMPOS, 1995).
Outros fatores que promovem o estresse do paciente internado em UTI
é a ventilação mecânica, que leva o doente a sentir desconfortos, deixando-os
agitados e impacientes, aumentando o medo de morrer ou de não falar mais.
Através dos relatos de Girassol, Margarida e Orquídea pode-se observar a
intensidade da aflição passada por eles enquanto estavam entubados:
[...] aquele negocio que fica na nossa boca Deus me livre, eu pensava
que iria morrer (Margarida).
[...] quando acordei que tinha aquele negocio na boca da gente e eu
queria falar e não conseguia mexia a cabeça de um lado pro outro.. a
sensação é de está sufocado e muito ruim (Orquídea).
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
[...] eu só me lembro que quando eu acordei estava amarrado com
um tubo na boca. Não conseguia falar, colocava tanta força, aí vinha
uma pessoa e coloca um remédio acho que era eu dormia sem querer.
E quando eu acordava ficava sufocado de novo. Aquele tudo, na
boca eu nem sei como falar. Eu não podia falar, ele impede a gente de
tudo, e eu ficava agitado (Girassol).
A condição de estar naquele lugar, um lugar que não é o seu, frio, solitário,
traz aos internados sentimentos negativos que não os deixam ter a esperança de
uma melhora ou até mesmo de saírem dali.
3.2 Resiliência: uma ressignificação de sua condição de doença para
saúde
Quando se trata de um paciente internado em UTI, a capacidade de
resiliência de superar a situação é importantíssima para sua recuperação. Como
mencionado, a vivência na UTI pode representar uma série de perdas e traumas
e superar todas essas circunstâncias implica uma melhora da qualidade de vida.
A resiliência está relacionada ainda à promoção de saúde, na medida
em que prioriza o potencial das pessoas em produzir saúde (SILVA et al., 2005).
No contexto de adoecimento de internação e também de UTI, essa capacidade
individual de fazer saúde faz toda a diferença.
O relato da Tulipa apresenta,de forma clara,um descontentamento em
estar numa UTI, já que é o momento não é bom, mas logo é notável que,mesmo
com esse sentimento negativo presente, o paciente apresenta pontos positivos
que é ressaltado no relato a seguir:
Não é bom, mas agradeço a Deus, por está vivo [...] agora eu aprendi
a da valor a minha família. Agora vou viver (Tulipa).
A Resiliência, conforme Barbosa (2006), necessita ser compreendida
como um amálgama de sete fatores: a administração das emoções que é a
habilidade de se manter sereno diante de uma situação de estresse, quando isto
acontece às pessoas que passam por esse fator são capazes de utilizar pistas
nas outras pessoas para se reorientar e promovendo a autorregulação;O 2º
fator é o controle de impulsos que é a capacidade que o ser humano tem de
regular a intensidade do mesmo e garante a autorregulação dessas emoções ou
a possibilidade de dar a devida força à vivência de emoções; 3º fator: no otimismo
,há um investimento contínuo de esperança e, por isso mesmo; a convicção da
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
capacidade de controlar o destino da vida, mesmo quando o poder de decisão
estiver fora das próprias mãos.
6º fator:A análise do ambiente é a capacidade de identificar as causas
dos problemas e das adversidades presente no ambiente. Essa possibilidade
habilita a pessoa a se colocar em um lugar mais seguro do que se posicionar em
situação de risco. 7º fator : A empatia, que constitui a Resiliência, significa a
capacidade que o ser humano tem de compreender os estados psicológicos
dos outros.
Foi verificado nas falas dos entrevistados da pesquisa o quanto o otimismo
propiciou um estado de segurança e superação no momento da transição do
adoecer para a cura. Para o paciente acreditar na esperança, ter a possibilidade
de controlar o destino da vida, mesmo quando o poder de decisão está fora das
próprias mãos é motivador, que,apesar das dificuldades, eles encontram uma
maneira de ressignificar e prosseguir suas vidas. Assim como a fala do paciente
entrevistado Girassol nos mostra:
[...] agora to aqui contando a historia, rir. rir..... Feliz por ter passado
por tudo isso, essa doença só veio me fortalecer, Deus me deu mais
uma oportunidade de viver, e de valorizar mais a vida.
Assim sendo, a resiliência dos pacientes torna-os capazes de lidar com
as pressões de situações adversas. Quando estes ressignificam sua condição
presente, lutando pela sua integridade física e seu estado de equilíbrio emocional,
pois com a resiliência, eles conseguem se recuperar, vencer cada desafio do
momento do adoecer. Observa-se que quanto mais resiliente se tornarem, menor
será o índice de doenças e maior será o desenvolvimento pessoal.
Verificou-se,com os relatos dos pacientes e juntamente com os
pensamentos dos autores, que resiliência significa equilíbrio entre tensão e a
capacidade de lutar, além de servir de aprendizado para estarmos preparados
quando outra situação adversa acontecer.
3.3 O surgimento do luto no processo de internação na UTI
O luto é uma reação às perdas significativas, sejam reais ou simbólicas,
que o ser humano vivencia no seu cotidiano. O ser humano pouco sabe a respeito
das reações da perda e luto, ou como se constitui um luto saudável e normal,
quanto ele é inevitável ou conveniente para se resolver uma perda. O sofrimento
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
é algo pessoal e cada pessoa procura seu meio para superá-lo, demonstrando
que para toda perda significativa seguir-se-á um processo de luto.
Cada sujeito, segundo Kubler-Ross (2000), tem seu jeito tradicional a
respeito do luto saudável, seja de maior ou menor intensidade. A autora
acrescenta ainda que os sentimentos de invasão, impotência, perda da condição
da pessoa e despersonalização são os mais comuns e, por ser um processo
individual, às vezes essas perdas são simbolizadas como morte.
Percebeu-se,nas falas dos pacientes entrevistados,que com a perda da
condição de sadio para a condição de doente, os mesmos ficaram fragilizados,
desenvolvendo pensamento de não recuperação, e com a forte presença do
morrer. No relato de Rosa é possível perceber essa fragilidade, o medo de
morrer:
[...] eu ter que fazer essa cirurgia e morrer, será que meus amigos
gostam de mim, e meus pais eles iam sofrer, me deu um aperto no
peito, muito grande, uma vontade de chorar mais não quis mostrar
para meus pais que tava com medo.
Frente a uma dificuldade, o sentimento de morte aparece colocando
muitas vezes o sujeito numa antecipação que pode deixá-lo sem saída. O
sentimento de morte está presente, independente de idade ou sexo, e, cada
indivíduo lida com este como pode, num misto de sensações e incertezas que
são impostos cotidianamente, sendo vivenciados de diferentes formas,
dependendo de como o indivíduo encontra-se (KOVÁCS, 1987).
O medo da morte é um sentimento presente nos relatos dos participantes
da pesquisa, constatando-se um sentimento de impotência diante da vida,
evidenciando um não controle sobre a mesma, gerando insegurança.
Corroborando com este pensamento Ismael (2005) relata que a internação em
uma UTI desperta sentimentos de insegurança, ansiedade e temor da morte que
podem exacerbar no paciente e em seus familiares a crise desencadeada pelo
adoecer, sendo necessário um profissional habilitado para lidar com esses
sentimentos. Esse medo é perceptível através da fala abaixo:
[...] O sentimento mais forte é a presença da morte, Medo de morrer,
não vê mais meus filhos, de não poder voltar pra minha casa, andando
com minhas próprias pernas (Orquídea)
Através da literatura e dos relatos dos entrevistados, foi observado a
dependência da condição de doente e como esta dependência gera transtornos,
conflitos para o cotidiano da vida de cada um.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
O paciente com seu adoecer,dar-se conta de que está doente, o
sentimento de morte é intensificado, é um processo que ocorre mediante a
fragilidade do mesmo, tal circunstância aponta para uma consciência de gravidade
da doença e finitude. É possível dizer que as condições de internado numa UTI
elaboram seus lutos, sobrevivem às perdas e, por meio de diferentes figuras de
apego, que fornecem suportes externo e interno nos momentos de adversidade,
reorganizam suas vidas. Kubler-Ross (2000) diz que a pessoa sobrevive ao
processo de doença, muitas vezes, mais do que sobrevive, reorganiza e
ressignifica a vida.
4 CONCLUSÃO
A presente pesquisa identificou a internação como uma experiência
delicada, com acontecimentos inesperados, gerando tanto sentimentos
inquietantes e estranhos, como ganhos negativos e positivos no decorrer do
processo do seu adoecer. Observou-se que esta provoca sensações de horror
por evocar a possibilidade de morte que advém com o sentido que cada paciente
dar ao desenvolvimento da sua doença. Vale considerar que os medos
supostamente imaginários podem ter uma base concreta. A doença, às vezes, é
vista como castigo, punição e a tristeza,denotam um descontentamento, por
imaginar que não poderá desempenhar suas atividades de rotina e ter dado
preocupação aos familiares. O término desse processo desencadeia os
sentimentos de esperança, de um novo recomeço.
De acordo com as falas dos participantes pode-se identificar um grau
elevado de resiliência desses pacientes, ou seja, a capacidade de se ressignificar,
passando a encarar com tranquilidade as adversidades, chegando até mesmo a
agradecer a Deus por essas experiências traumáticas vivenciadas por eles. A
presença do luto antecipatório também foi confirmada nas falas, conforme o
teórico aponta.
Isso sinaliza a necessidade de preparar emocionalmente o paciente para
situações de angústia e estresse no contato com a hospitalização em uma UTI,
buscando amenizar seus medos e fantasias. Os exames, além de invasivos,
agressivos e dolorosos, requerem aparelhagem complexa que emitem sons e
ruídos, aumentando o nível de insegurança dos pacientes. Embora esses
procedimentos não possam ser evitados, podem ser suavizados pela sensibilidade
da assistência humanizada.
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Em decorrência dessa grande mobilidade emocional pelos entrevistados,
observou-se a necessidade da presença de um profissional da psicologia como
parte integrante da equipe da UTI, que possa auxiliar os pacientes a lidar com
os aspectos advindos da hospitalização em UTI, tais como sentimentos de
angústia, solidão, medo, dor, encontrados no decorrer da pesquisa, evidenciando
um grau de vulnerabilidade nos pacientes. Sugiro novas pesquisas nesse sentido,
uma vez que, nem todos os hospitais da cidade disponibilizam psicólogos
inseridos na equipe de Unidades de Terapia Intensiva.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
A CONTRIBUIÇÃO DA GERÊNCIA DE ENFERMAGEM NA
ASSISTÊNCIA PRESTADA EM UNIDADE HOSPITALAR
PÚBLICA
THE CONTRIBUTION OF MANAGEMENT OF NURSING CARE
PROVIDED IN PUBLIC HOSPITAL
Bárbara Karla Bezerra Martins¹,
Amália de Oliveira Carvalho²
RESUMO
A administração encontra-se em todos os campos da sociedade, não sendo
diferente no serviço hospitalar, que exige um planejamento rigoroso para seu
bom funcionamento. O estudo objetivou identificar a relevância do trabalho da
Gerência de Enfermagem na assistência prestada por sua equipe, descrever os
elementos do trabalho do Gerente de Enfermagem na rede hospitalar pública e
averiguar o conhecimento que os gerentes de enfermagem possuem sobre as
competências que a atividade requer. Uma pesquisa de campo, do tipo
exploratória, descritiva e qualitativa realizada de janeiro a fevereiro de 2011 em
Hospitais Municipais de Médio Porte em Teresina - PI após aprovação pelo
CEP da FACID - Protocolo n. 242/10 com quatro participantes. Os dados
obtidos através de um roteiro de entrevista semiestruturado foram analisados e
apresentados em seis categorias. Os resultados apontaram que a assistência de
enfermagem prestada em Unidades Hospitalares sofre influência direta do
gerenciamento, que para assumir esta função o enfermeiro deve contemplar
competências inerentes ao cargo. A realização de capacitação administrativa é
fundamental para um bom desempenho de suas atividades e que o gerente de
enfermagem necessita de vários instrumentos, como índices mensais, regimento
interno e relatório para que tenha uma realização satisfatória do seu trabalho.
Concluiu-se que o gerente de enfermagem é fundamental para a existência de
uma assistência de qualidade, que as atividades por ele desenvolvidas possuem
_____________
¹ Graduanda do Curso de Bacharelado de Enfermagem pela Faculdade Integral Diferencial (FACID). Teresina-PI. Tel.: (86)
9911-8883. e.mail: [email protected].. Rua do Lírio, nº 995, Bairro São Cristovão. Teresina-PI.
² Docente do Curso de Enfermagem da Faculdade Integral Diferencial (FACID). Especialista em Educação, Desenvolvimento
e Políticas Educativas. Faculdade Adelmar Rosado. Avenida Barão de Gurguéia, n. 3601, Condomínio Dom Avelar, B.12,
Ap. 202, Tabuleta. Tel.: (86) 9949-7900. Brasil. e.mail: [email protected].
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
caráter decisivo para obtenção de meios e recursos para desempenho efetivo
da equipe de enfermagem.
Palavras-chave: Assistência. Cuidados de Enfermagem. Enfermagem. Gerência.
ABSTRACT
The administration is in all fields of society, not different in the hospital service,
which requires rigorous planning for its effective functioning. The study aimed to
identify the relevance of the work of the Management of Nursing in the assistance
provided by his team, describing the elements of work of nursing manager in
public hospital network and determine the knowledge that nursing managers
have the skills on which the activity requires. It is a field research, an exploratory,
descriptive and qualitative study from January to February 2011 in the Midsize
city hospitals in Teresina - PI after approval by the IRB of FACID - Protocol
242/10 with four participants. The data obtained through a semi structured
interview guide were analyzed and presented in six categories. The results showed
that nursing care in hospital units suffer direct influence of management, who
assume this role for nurses should include responsibilities of the position. The
performance of administrative capacity is crucial to good performance of its
activities and the nursing manager requires several instruments, such as monthly
indexes, bylaws and report in order to have a satisfactory completion of their
work. It was concluded that the nursing manager is crucial to the existence of
quality care, that the activities he developed have decisive character for obtaining
funds and resources for effective performance of the nursing staff.
Keywords: Health. Nursing Care. Nursing. Management.
1 INTRODUÇÃO
A administração encontra-se em todos os campos da sociedade, não
sendo diferente no serviço hospitalar, que exige um planejamento rigoroso para
seu bom funcionamento. Assim, cada setor que compõe uma unidade hospitalar
possui um gestor, que tem como função primordial planejar e organizar o serviço
prestado pelos seus colaboradores.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Kurcgant (1991) considera o serviço de enfermagem como um grupo
organizado de pessoas, onde é grande o número, a complexidade e a diversidade
das atividades realizadas, é evidente a necessidade da divisão e distribuição do
trabalho entre os seus elementos, bem como o estabelecimento do padrão de
relações entre eles. Com isso os esforços são coordenados para o alcance do
objetivo proposto, que é a prestação da assistência de enfermagem, sendo
fundamental a existência de um Gerente de Enfermagem para eficácia do serviço
ofertado.
De acordo com Greco (2004) a função gerencial é um instrumento capaz
de política e tecnicamente organizar o processo de trabalho com o objetivo de
torná-lo mais qualificado e produtivo na oferta de uma assistência de enfermagem
universal, igualitária e integral.
Nesse contexto o presente estudo teve com objetivos identificar a
relevância do trabalho da Gerência de Enfermagem na assistência prestada por
sua equipe; descrever os elementos do trabalho do gerente de enfermagem na
rede hospitalar pública; averiguar o conhecimento que os gerentes de enfermagem
possuem sobre as competências que a atividade requer.
Baseado na contribuição do gerente de enfermagem na assistência
prestada em unidades hospitalares públicas surgiram as seguintes questões de
pesquisa: O trabalho do gerente de enfermagem interfere no resultado da
assistência prestada? Quais os recursos utilizados pelo gerente de enfermagem
no desenvolvimento de suas atividades laborais? Quais as competências que o
enfermeiro deve possuir para assumir o cargo de gerência? Assim estas nortearam
o desenvolvimento do trabalho.
2 METODOLOGIA
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade
Integral Diferencial - FACID sob protocolo de N. 242/10, de acordo com
todos os preceitos éticos contidos na Resolução 196/96 do Conselho Nacional
de Saúde, que regulamenta as pesquisas envolvendo seres humanos.
Realizou-se uma pesquisa de campo do tipo exploratória e descritiva
com abordagem qualitativa em Hospitais Municipais de Médio Porte em Teresina
- PI, no período de janeiro a fevereiro de 2011. Foram entrevistados quatro
enfermeiros que atuam como gerente de enfermagem através de entrevistas do
tipo semiestruturados, aplicados de forma presencial.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Os dados obtidos foram tratados de acordo com a técnica de análise de
conteúdo e, após tratados apresentaram as seguintes categorias: Relevância da
Gerência de Enfermagem na Assistência Prestada; Gerenciamento da Assistência/
do Cuidado; Competências do Gerente de Enfermagem; Os Elementos de
Trabalho do Gerente de Enfermagem; Capacitação na Área Gerencial/
Administrativa e Capacitação da Equipe de Enfermagem - Educação Permanente
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 O perfil dos Sujeitos
Foram entrevistadas quatro enfermeiras que ocupam o cargo de Gerente
de Enfermagem de hospitais municipais de Teresina, com faixa etária de 25 a 31
anos, com tempo de formação menor que 10 anos, e com experiência em
gerenciamento de um ano e meio a dois anos. Três delas já realizaram curso de
aperfeiçoamento na área gerencial, sendo que nenhuma das entrevistadas possuía
qualquer experiência prévia em cargo gerencial antes de assumir a gerência de
um hospital pela primeira vez.
3.2 A Categorização
3.2.1 O Processo do Trabalho Gerencial e a sua Importância
Entre os séculos XIX e XX, Florence Nightingale (1820-1910)
demonstrou a importância da aplicação da ciência de administração nos hospitais,
visando à melhoria do atendimento de saúde aos clientes. De uma forma
inovadora, essa grande líder mostrou que atividades destinadas ao preparo do
ambiente, onde o cliente se hospitalizava, proporcionando higiene, aeração e
conforto, tornavam o ambiente terapêutico. Esse ambiente tinha a finalidade de
contribuir para que as forças da natureza agissem aumentando o potencial de
reação humana às diversas situações provocadas pelas doenças (SANTOS;
OLIVEIRA; CASTRO, 2006).
Gomes et al. (1997, apud KURCGANT, 2005) afirmaram que a
Enfermagem moderna surge exercendo o gerenciamento, pois assume tanto à
organização do ambiente quanto a organização e treinamento dos agentes de
enfermagem. No que se refere à organização e a execução do cuidado do
doente, o faz formando duas categorias diferentes - as lady nurses, que executam
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as atividades de supervisão e ensino e as nurses, que eram responsáveis pelos
cuidados propriamente ditos.
A função administrativa é inerente à prática profissional do enfermeiro,
acreditando que sejam muitos os benefícios que essa função, exercida sob
orientação de novos padrões e valores, poderá trazer para as organizações de
saúde, para os serviços de enfermagem, para a classe profissional e
principalmente para o cliente (GAIDZINSK; PERES; FERNANDES, 2004).
Os enfermeiros devem estar aptos a tomar iniciativas, fazer o
gerenciamento e administração tanto da força de trabalho, quanto dos recursos
físicos e materiais, da mesma forma que devem estar aptos a serem
empreendedores, gestores, empregadores e lideranças na equipe de saúde. O
enfermeiro tem sido o responsável pela organização e coordenação das atividades
assistenciais dos hospitais e pela viabilização para que os demais profissionais
da equipe de enfermagem e outros da equipe de saúde atuem, tanto no ambiente
hospitalar quanto na saúde pública (PERES; CIAMPONE, 2006).
A partir do que foi relatado acima pode-se perceber que a Gerência de
Enfermagem possui caráter decisório para a existência de uma assistência de
qualidade na unidade hospitalar, já que o enfermeiro gerente tem a autonomia
de planejar e supervisionar todas as atividades que devem ser desenvolvidas
pela sua equipe na unidade, assumindo toda a responsabilidade das ações
realizadas pela equipe de enfermagem. Assim, a ação gerencial pode ser
desenvolvida de diversas maneiras, sendo importante que ocorra sempre o
adequamento das características pessoais do gerente aos objetivos da
organização, fazendo com que as atividades de enfermagem realizadas alcancem
a excelência. Essa realidade pode ser confirmada nas falas abaixo:
"traça metas através de planejamento de melhoria da assistência e põe em
prática, reunindo equipe, e sensibilizando para a melhoria da assistência...
a equipe de enfermagem é espelho do tipo de liderança que tem" (Rubi).
"Influencia em todo o processo de trabalho de enfermagem desde o
planejamento, supervisão e execução... ao gerenciamento de recursos
materiais, quando o gerente de enfermagem faz a previsão , provisão, compra
e armazenagem de forma planejada, isto influencia diretamente na assistência
prestada ao paciente. Então são de várias formas que a gerência de
enfermagem influencia na assistência prestada. Tanto positivamente como
não [..]. Então, gerência e assistência estão interligadas" (Esmeralda)
Não há mais como negar a importância da função gerencial como
elemento integrante do trabalho da enfermeira, entendida numa lógica que
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
privilegia os interesses coletivos e dando concretude a uma assistência segura
que leve em consideração as reais necessidades da clientela. Nessa realidade a
enfermeira é o elemento da equipe de saúde que gerencia o cuidado prestado
ao cliente (GAIDZINSK; PERES; FERNANDES, 2004).
3.2.2 Gerenciamento da Assistência/do Cuidado
O gerenciamento do cuidado é tratado por esse autor como a expressão
mais clara da boa prática de enfermagem, momento no qual há articulação entre
as dimensões gerenciais e assistenciais para atender às necessidades de cuidado
dos pacientes e ao mesmo tempo da equipe de enfermagem e da instituição
(HAUSMANN; PEDUZZI, 2009).
O enfermeiro gerencia o cuidado quando o planeja, quando o delega ou
o faz, quando prevê e provê recursos, capacita sua equipe, educa o usuário,
interage com outros profissionais, ocupa espaços de articulação e negociação
em nome de melhorias do cuidado (ROSSI, 2003).
Dessa forma existem diversas formas de realizar o gerenciamento,
variando de instituição para instituição, de gerente para gerente, como pode ser
percebido pelas falas das entrevistadas, que possuem estratégias próprias para
gerenciar o cuidado prestado pela sua equipe.
"Análises das atribuições do enfermeiro e auxiliar/técnico, através da
agilidade com execução das rotinas, através de reuniões com a equipe"
(Rubi).
"Através de planos de ações e metas que são supervisionadas diariamente,
através também de treinamentos e da educação permanente" (Safira).
"Através da Sistematização da assistência de enfermagem (SAE) implantada
nas clinicas. Supervisão dos relatórios e planos e metas serem atingidos"
(Ametista).
De acordo com Peterlini e Zagonel (2003) o profissional enfermeiro
assume atividades gerenciais do cuidado em todos os campos de atuação,
principalmente nos hospitais, devendo conscientizar-se que esta atividade exige
a utilização de diversos instrumentos de gestão e que o processo de avaliação é
um instrumento utilizado como prática sistematizada, visando ao direcionamento
e redirecionamento das ações.
Outros fatos que devem ser considerados são os interesses políticos e
sociais que permeiam as funções gerenciais na enfermagem já que estes
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
influenciam diretamente o planejamento das atividades que são desenvolvidas
pela equipe, sendo assim um fator determinante na qualidade da assistência
prestada e como relatada na fala abaixo:
"O gerenciamento do cuidado em enfermagem acontece em dimensões que
denominam: Técnica, política e de desenvolvimento da cidadania. Técnica:
são as competências tais como, planejar, supervisionar, dimensionar. No
âmbito político é compreender a missão da instituição e trabalhar conforme
os seus preceitos éticos no cuidado do paciente.No desenvolvimento da
cidadania, você torna as relações sociais mais democráticas respeitando
direitos e deveres dos pacientes. Sendo a enfermagem uma prática social"
(Esmeralda).
Greco (2004) diz que a função gerencial do enfermeiro é um fato e
também recebe as influências de determinantes sócio-político-culturais e
econômicos e não pode ser compreendida como um trabalho isolado. É um
processo que depende de uma ação cooperativa de um grupo de pessoas, além
disso, ela não é neutra, podendo assumir a posição de manutenção, reforma ou
transformação, mas apesar disso não se pode dar a ela o papel principal e único
dessas transformações.
Percebe-se que para realização do gerenciamento do cuidado é
necessário ter em mente todos os fatores relacionados ao desenvolvimento do
cuidado, pois para se obter a excelência é necessária a obtenção da satisfação
de todos os envolvidos nesta assistência. Sendo assim é difícil a tarefa de gerenciar
o cuidado já que o desenvolvimento desta função sofre diversas influências que
são fundamentais para a realização do processo gerencial.
3.2.3 Competências do Gerente de Enfermagem
O termo competência é a integração e a coordenação de um conjunto
de conhecimentos, habilidades e atitudes que na sua manifestação produzem
uma atuação diferenciada. Trata sobre o domínio dos conteúdos no âmbito do
trabalho e a posse de conhecimentos e habilidades necessárias para atividade.
Diante disso, o enfermeiro que desempenha a função gerencial necessita
contemplar conhecimento administrativo, financeiro, social, político e assistencial.
Competência também vem sendo definida como um saber agir
responsável e reconhecido que implica mobilizar, integrar, transferir
conhecimentos, recursos, habilidades, que assegurem valor econômico à
organização e valor social ao individuo (CUNHA; XIMENES NETO, 2006)
41
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Para o desenvolvimento das competências administrativa e gerencial é
considerado indispensável um conjunto de conhecimentos que, na enfermagem,
é determinado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) que vislumbram
como principais competências a serem trabalhadas pelas instituições de ensino
na formação do enfermeiro: a atenção à saúde, a tomada de decisões, a liderança,
a comunicação, a administração e gerenciamento e a educação permanente
(ROTHBARTH; WOLFF; PERES, 2009; PERES; CIAMPONE, 2006).
Pode-se então afirmar que as competências requeridas para assumir um
cargo de Gerência de Enfermagem são muitas e estas necessitam ser
desenvolvidas durante a formação acadêmica relacionando a teoria com a prática,
assim possibilitando a maior compreensão das funções desenvolvidas por um
Gerente de Enfermagem.
Sendo assim, foi possível perceber pelas falas das participantes que o
Gerente de Enfermagem desenvolve diariamente diversas funções que estão
diretamente relacionadas com as competências exigidas para o preenchimento
do cargo, assim visando o bom desenvolvimento do serviço e a excelência na
assistência oferecida na unidade que gerencia.
"Responsável técnica por todas as ações de enfermagem, Tomada de
decisões, supervisão da assistência como um todo, responsável por toda
parte burocrática e administrativa, Dimensionamento de Enfermagem"
(Rubi)
"[...] Organização e planejamento dos planos assistenciais; Coordenar os
programas existente na unidade de saúde; Bom relacionamento com a equipe;
Um amplo conhecimento de formação acadêmica; Conhecimento
administrativo e saber sobre os direitos trabalhista;" (Ametista).
"Planejamento da assistência de enfermagem, elaboração de escalas de
serviço, educação permanente de funcionários, gerenciamento de recursos
matérias, elaboração de consolidados e indicadores, gerenciamento de
resíduos sólidos de saúde. Atividades relacionadas à saúde do trabalhador,
atividades relacionadas ao gerenciamento de custos hospitalares"
(Esmeralda).
O domínio das técnicas administrativas auxilia o trabalho gerencial,
entretanto a atuação gerencial requer habilidades mais complexas que não
somente o domínio das técnicas administrativas. Assim, não basta ser gerente, é
necessário ser um bom gerente. E para isso é necessário possuir características
inerentes a esta condição, bem como ser capaz de mobilizar conhecimentos,
42
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
habilidades e atitudes, além disso, aplicá-los em situações reais e concretas, de
forma individual ou coletiva com a equipe de trabalho (ROTHBARTH; WOLFF;
PERES, 2009).
3.2.4 Os Elementos de Trabalho do Gerente de Enfermagem
O modo como desenvolvemos nossas atividades profissionais é chamado
de processo de trabalho. Dito de outra forma pode-se dizer que o trabalho, em
geral, é o conjunto de procedimentos pelos quais os homens atuam, por
intermédio dos meios de produção, sobre algum objeto para, transformando-o,
obterem determinado produto que pretensamente tenha alguma utilidade (FARIA
et al., 2009).
Para que possa obter um bom desempenho na realização de suas
atividades o Gerente de Enfermagem necessita ter conhecimento absoluto de
todo o funcionamento da unidade que gerencia. Sendo necessário o acesso de
fontes que forneçam as informações sobre o estado que a instituição se encontra,
possibilitando a realização de um planejamento adequado às necessidades
existentes e consiga atender aos objetivos da instituição. Como também é de
fundamental importância a existência de uma equipe capacitada para o
desenvolvimento das atividades planejadas.
No processo de trabalho gerencial, os objetos de trabalho do enfermeiro
são a organização do trabalho e os recursos humanos de enfermagem. Para a
execução desse processo, é utilizado um conjunto de instrumentos técnicos
próprios da gerência, ou seja, o planejamento, o dimensionamento de pessoal
de enfermagem, o recrutamento e seleção de pessoal, a educação continuada
e/ou permanente, a supervisão, a avaliação de desempenho e outros. Também
se utilizam outros meios ou instrumentos como a força de trabalho, os materiais,
equipamentos e instalações, além dos diferentes saberes administrativos
(KURCGANT, 2005), como confirmadas nas falas abaixo:
"Recursos Humanos; Indicadores, escalas; Normas, rotinas, regimento
interno "(Rubi).
"Relatório dos profissionais de cada setor; Indicadores; Plano de ação;
Reuniões" (Ametista).
"Recursos físicos, recursos materiais, equipe bem capacitada. Recursos
materiais englobam todos os que serão utilizados no cuidado de enfermagem
como insumos, equipamentos, papeis..." (Esmeralda)
43
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Na dimensão gerencial do processo de trabalho do enfermeiro
identificam-se diversas atividades que possibilitam a realização do gerenciamento;
estas, por sua vez, são os instrumentos de trabalho do Gerente de Enfermagem,
já que é por meio da efetivação de ações que o gerente consegue obter os
resultados esperados podendo então concordar com Peterlini e Zagonel, (2003)
que afirmam que instrumentos são os recursos utilizados para se alcançar um
objetivo ou conseguir determinado resultado.
3.2.5 Capacitação na Área Gerencial/Administrativa
A década que finalizou o milênio anterior foi extremamente profícua para
a enfermagem, quer no campo da produção científico-acadêmica, quer no campo
da prática assistencial e gerencial. Particularmente, na área do gerenciamento
em enfermagem, tanto na dimensão teórica quanto na prática, a produção
mostrou-se bastante fecunda, porém ainda insuficiente no que diz respeito aos
saberes e fazeres específicos, o que indica necessidade de se pensar formas
alternativas de gerenciamento em saúde. Para responder às demandas da
problemática advinda do processo assistencial e, paralelamente, às demandas
do processo gerencial, há que se rever e recompor os modelos de gestão, bem
como, as competências inerentes à formação dos profissionais/gestores
(CIAMPONE; KURCGANT, 2004).
Baseado no que foi dito pelo autor acima, é um fato a necessidade da
realização de uma reformulação na capacitação gerencial dos profissionais de
saúde, principalmente os enfermeiros, pois já que estes são os que mais
desenvolvem funções gerenciais. Assim, torna-se necessária a realização de
uma capacitação na área administrativa, para fornecer suporte administrativo
durante o desenvolvimento das funções gerenciais que lhe cabem. Além disso, a
administração deixa de ser compreendida como uma atividade dicotômica à
assistência de enfermagem e função restritiva, unicamente, a realização de
atividades burocráticas, para ser entendida como sendo uma atividade que
possibilita a base para assisti-lo (GRECO, 2004).
Com a realização da pesquisa foi possível observar que a maioria das
entrevistadas realizou algum tipo de capacitação gerencial/administrativa que
lhes favoreceram melhor realização das suas atividades laborais diárias.
"Sim, (capacitação de gerente de enfermagem)" (Rubi).
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
"Sim. Gerência administrativa + implantação da SAE" (Ametista).
"Sim, sobre dimensionamento de pessoal, sistematização da assistência de
enfermagem, curso sobre responsável técnico. A experiência na docência de
enfermagem: Gerenciamento do processo de trabalho em enfermagem"
(Esmeralda).
Vale ressaltar que a realização de uma capacitação é importante, mas a
prática diária é fundamental para realizar o aprimoramento da teoria aprendida
dentro da sala de aula. Para Gaidzinsk, Peres e Fernandes (2004) no século
XX, o desenvolvimento das competências para liderança era praticamente,
realizado em salas de aula e no trabalho centralizado na administração. Somente
na última década o desenvolvimento do líder passa a ser concebido como um
aprendizado contínuo, envolvendo várias áreas do conhecimento.
3.2.6 Capacitação da Equipe de Enfermagem - Educação Permanente
A educação permanente é uma das modalidades de educação no trabalho.
Caracteriza-se por: possuir um público-alvo multiprofissional; ser voltada para
uma prática institucionalizada; enfocar os problemas de saúde e ter como objetivo
a transformação das práticas técnicas e sociais; ser de periodicidade continua;
utilizar metodologia centrada na resolução de problemas e buscar como resultado
a mudança. A educação permanente em saúde trabalhada tanto pelo Governo
Federal, quanto pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (UNESCO), é utilizada como política de formação e
qualificação de recursos humanos, onde o processo educativo deve ser dinâmico,
contínuo e trazer avanços sociais. A educação permanente dos recursos humanos
deve visar auxiliá-los na adequação aos contínuos avanços tecnológicos e às
mudanças socioeconômicas (PERES; CIAMPONE, 2006).
A realização de atividades educativas que permita agregar novos
conhecimentos aos membros da equipe de enfermagem é de grande importância
para melhoria da assistência prestada na unidade, já que com um conhecimento
mais amplo os profissionais se tornam mais capacitados para o desenvolvimento
de suas atividades laborais. Por esse motivo é fundamental a existência de um
Núcleo de Educação Permanente (NEP) nas unidades de saúde, que tem como
função, determinada pela Portaria de N° 198/GM/MS de 13 de fevereiro de
2004, identificar necessidades de formação e de desenvolvimento dos
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
trabalhadores de saúde e construir estratégias e processos que qualifiquem a
atenção e a gestão em saúde e fortaleçam o controle social no setor na
perspectiva de produzir impacto positivo sobre a saúde individual e coletiva
(BRASIL,2004).
No decorrer da realização da pesquisa foi possível constatar que nenhum
dos locais onde foram coletados os dados possui NEP ou departamento similar,
assim a responsável pela a realização da educação permanente nestes hospitais
é a gerente de enfermagem que desenvolve projetos de acordo com as
necessidades apresentadas pela unidade, tendo o apoio da FMS (Fundação
Municipal de Saúde).
"As atividades são direcionadas ao cuidar em enfermagem: elaboramos
projetos que são autorizados pela FMS e desenvolvemos as capacitações
no hospital... Segue um cronograma anual, as temáticas são escolhidas
baseadas com a necessidade do serviço como também pela solicitação dos
funcionários" (Esmeralda).
"Treinamento para implantação da SAE, controle de infecção hospitalar"
(Safira).
"Capacitação anual a partir da necessidade das equipes a nível hospitalar"
(Ametista).
O incentivo à capacitação da equipe de enfermagem deve ocorrer
continuamente para que o aprendizado adquirido possa ser ampliado
possibilitando, assim, a maior integração da equipe com os avanços tecnológicos
na área assistencial e melhorando assim a assistência disponibilizada aos seus
clientes.
4 CONCLUSÃO
Atualmente a Gerência de Enfermagem vem assumindo um papel
fundamental para a qualidade da assistência prestada em Unidades Hospitalares,
já que o enfermeiro gerente tem autonomia para planejar e determinar todas as
ações que devem ser desenvolvidas pela sua equipe. Para a realização do
processo gerencial, o Enfermeiro necessita englobar diversos conhecimentos
que vão desde saberes técnicos até questões administrativas, sendo estes a
base para a obtenção de um bom resultado no seu trabalho.
46
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Foi possível perceber que o gerente de enfermagem não é responsável
somente pela sua equipe, mas participa do gerenciamento de todos os setores
do hospital desenvolvendo assim uma diversidade de ações, que favorecem a
prática do cuidado na unidade. O processo de enfermagem é influenciado
também pelas ações e decisões do gerente. Este utiliza recursos que os organiza
e disponibiliza na prestação da assistência a partir de um planejamento por ele
desenvolvido, estipulando metas e objetivos a serem alcançadas visando à
obtenção da excelência na assistência prestada no hospital, desenvolvendo assim
o gerenciamento dos recursos e o do cuidado.
Assim ao gerenciar os recursos materiais o gerente fornece instrumentos
para a realização do cuidado, assume a responsabilidade de supervisionar e
organizar as ações que serão desenvolvidas pela sua equipe. Enquanto gerenciar
o cuidado é uma questão que requer muita atenção e cautela, já que este sofre
influências diversas que vão desde organização do serviço até a relação
estabelecida com os familiares do cliente. Assim o cuidado oferecido deve ser
realizado de acordo com as necessidades apresentadas por cada cliente,
respeitando suas crenças, medos e anseios, fazendo com que a assistência
prestada seja individual.
O estudo evidenciou também que o gerente de enfermagem possui uma
estratégia própria para realizar o gerenciamento do cuidado, que lhe permite
supervisionar e avaliar o desenvolvimento dos objetivos e metas estabelecidos
no planejamento de atividades da Unidade, além de acompanhar diretamente a
assistência prestada à clientela do hospital.
Além de ter estratégias que lhe auxiliem no desenvolvimento das atividades
gerenciais, os sujeitos do estudo demonstraram possuir conhecimento das
questões que norteiam o cargo, além de dominar saberes técnicos, assistenciais
e habilidades administrativas. Assim competência é o termo utilizado para definir
este conjunto de conhecimentos que são esperados de um gerente e que foram
percebidos através do desenvolvimento de suas atividades diárias relatadas na
pesquisa.
O desenvolvimento constante de atividades educativas estimula e
promove o aumento do conhecimento da equipe e permite o acesso às inovações
do processo do cuidar aos agentes realizadores do cuidado ao cliente, este
processo de capacitação contínua é denominado educação permanente.
Tornando-se assim um grande aliado do Gerente de Enfermagem já que
possibilita manter a equipe atualizada e capacitada para o desenvolvimento das
atividades laborais diárias necessárias a cada cliente.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Percebe-se no estudo que o gerente de enfermagem acompanha as
mudanças que vêm acontecendo no mercado de trabalho, através da busca por
capacitação relacionada à área gerencial de enfermagem, já que é uma das
áreas de atuação do enfermeiro que requer maior realização de capacitação.
Apesar dos avanços no ensino ainda existe um déficit na formação acadêmica
em relação às questões administrativo-gerenciais, sendo assim necessária a
realização de atividades que complementem o conhecimento adquirido na
graduação.
Outro fato constatado foi que o profissional enfermeiro que atua no
setor gerencial utiliza vários recursos para desenvolver as suas funções, já que o
processo de trabalho deste baseia-se nos dados obtidos através de indicadores,
relatórios, escalas e da supervisão das atividades realizadas no dia a dia da
instituição pelos seus colaboradores. Assim o gerente faz uso de dois tipos de
elementos - os objetivos que são os consolidados oferecidos pela instituição e
os subjetivos que é a sua percepção e avaliação pessoal do trabalho realizado
pela sua equipe junto à clientela presente na unidade hospitalar. Assim como
mostra a pesquisa às atividades desenvolvidas pelo Gerente de Enfermagem
são fundamentais para obtenção de um serviço organizado, funcionante e eficiente
nas unidades hospitalares.
REFERÊNCIAS
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w w w. sc ie lo . br / s c ie lo . php ?p id = S 0 1 0 4 07072006000300002&script=sci_arttext>.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
PATOLOGIAS LOMBARES: PREVALÊNCIA E USO DE
MEDICAMENTOS EM PACIENTES DE CLÍNICAS DE
FISIOTERAPIA
LUMBAR DISORDERS: PREVALENCE AND MEDICATION USE
IN PATIENTS OF PHYSIOTHERAPY
Lia Medeiros Brandim¹,
Fabrício Pires de Moura do Amaral²,
Cristina Cardoso da Silva³.
RESUMO
O segmento lombar suporta a maior descarga de peso da coluna, estando mais
suscetível a lesões que levam à inabilidade funcional. A fisioterapia e a terapia
medicamentosa são os alicerces para o tratamento eficaz. O objetivo desta
pesquisa foi quantificar a prevalência das patologias da coluna lombar e a
utilização de medicamentos no tratamento das mesmas em pacientes atendidos
em clínicas de fisioterapia de Teresina-PI. Trata-se de um estudo transversal,
retrospectivo, descritivo de caráter quantitativo, realizado em duas clínicas de
fisioterapia de Teresina-PI. Para isso foram analisados 274 prontuários de
pacientes com dor lombar do período de junho de 2009 a junho de 2011,
sendo observados os seguintes parâmetros: diagnóstico clínico, farmacoterapia,
gênero e idade. Os resultados revelaram predomínio diagnóstico das doenças
degenerativas 56,3%, sendo 71,18% do gênero feminino, com predomínio
masculino apenas no grupo com discopatias e 64,27% da faixa etária 30 a 60
anos, sendo que nos jovem predominaram os desvios posturais e no grupo de
idosos as doenças degenerativas. Em relação aos medicamentos 68% dos
pacientes faziam uso, sendo que 65,20% destes eram AINES(?). Concluiu-se
que dores lombares são ocasionadas principalmente por doenças degenerativas,
com predisposição em mulheres de idade produtiva e/ou elevada e que a
associação entre fisioterapia e tratamento medicamentoso, principalmente os
____________________________
¹ Aluna de graduação (10º período) do curso de Fisioterapia da Faculdade Integral Diferencial-FACID.
E-mail: [email protected]
²Professor do curso de Fisioterapia da FACID, Doutor em farmacologia pela Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Ceará. • E-mail: [email protected]
³ Professora do curso de Fisioterapia da FACID, Especialista em Fisioterapia Aplicada à Ortopodia e Traumatologia
E-mail: [email protected]
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
AINES, é amplamente utilizada na prática clínica.
Palavras-chave: Dor lombar. Prevalência. Medicamentos.
ABSTRACT
The lumbar segment supports the largest unloading of weight of the backbone, it
is more susceptible to injuries that leads to functional disability. The physical
therapy and drug therapy are foundations for effective treatment. The objective
of this research was to quantify the prevalence of lumbar´s column pathologies
and the use of medicines in the treatment of these diseases in patients served in
physical therapy clinics of Teresina-PI. This is a study retrospective, crosssectional, descriptive with quantitative character in two physical therapy clinics
of Teresina-PI. Thereunto, 274 medical records of patients with lumbar pain in
the period from June 2009 to June 2011 were examined, the following parameters
were observed: clinical diagnosis, drug therapy, gender and age. The results
revealed the predominance of diagnosis of degenerative diseases 56.3%, with
71.18% of the female gender, with male predominance in the only group with
disc-related diseases and 64.27% with age 30-60 years, and postural deviations
predominated in young and degenerative diseases in the elderly group. In
medicines, 68% were using drugs, and that 65.20% of these were AINES. It
was concluded then that the pain is caused mainly by degenerative diseases,
with women of productive age predisposition in and/or high and that the association
between physical therapy and drug treatment, especially the AINES agents, is
widely used in clinical practice.
Keywords: Lumbar pain. Prevalence. Drugs.
1 INTRODUÇÃO
O ser humano adquiriu, devida sua evolução anatômica e postural, a
sobrecarga do esqueleto axial. A ortostase e o bipedismo comprometeram o
corpo trazendo repercussões limitantes e imprevisíveis (SINÍZIO et al., 2003).
As dores lombares constituem grande causa de morbidade e incapacidade,
sendo que 50% a 80% das pessoas no mundo irão sofrer de dor lombar em
algum momento da vida (FUJII, 2008).
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
A lombalgia é uma dor localizada entre a parte mais baixa do dorso, em
nível de última costela, até a prega glútea; a lombociatalgia surge quando esta
dor se irradia para as nádegas e/ou membros inferiores (BRAZIL et al., 2004).
A lombalgia e a lombociatalgia são sintomas referidos em caso de
alterações nas estruturas músculo-esqueléticas-ligamentares da coluna lombar,
as chamadas patologias da coluna lombar (APPEL et al; 2002).
Dentre as patologias mais comuns que geram os quadros dolorosos
estão: artrose, problemas discais, alterações posturais, espondilolistese
(escorregamento de um corpo vertebral sobre o outro), fraturas de corpos
vertebrais (espondilólise) e doenças inflamatórias da região lombar (FUJI, 2008).
No que diz respeito à prevalência, segundo Barbosa (2007), 90% das
dores lombares são de origem mecânico-degenerativas e a ocorrência desses
distúrbios varia de acordo com a idade, sendo patologias como as discopatias,
mais comuns entre pacientes de 20 a 50 anos e processos degenerativos
acometem mais pacientes idosos. Em relação ao gênero, as mulheres apresentam
maior prevalência de lombalgia quando comparado aos homens, isso porque
tarefas domésticas, geralmente realizadas por elas, geram sobrecargas repetidas
na coluna (PONTE, 2005).
Carvalho et al. (2005) afirmaram que na reeducação do paciente com
afecções vertebrais, a fisioterapia e a terapia medicamentosa são os alicerces
para o tratamento.
O tratamento medicamentoso das dores lombares deve ser centrado no
controle sintomático da dor para propiciar a recuperação funcional o mais
rapidamente possível, sendo que, a farmacoterapia de primeira linha para a
lombalgia consiste de anti-inflamatórios não esteroides, de analgésicos opioides
e antidepressivos, sendo que, na prática clínica os anti-inflamatórios não
esteroides (AINES), são os medicamentos mais empregados (BRAZIL et al;
2004; GARCIA FILHO et al; 2006).
Diante do exposto elaborou-se o seguinte problema: Qual a prevalência
das patologias lombares e a utilização de medicamentos no tratamento das
mesmas em pacientes atendidos em clínicas de fisioterapia de Teresina-PI?
A pesquisa foi realizada pela necessidade de obter uma atualização de
dados na cidade de Teresina-PI acerca das doenças da coluna lombar, bem
como o perfil medicamentoso dos pacientes acometidos, visto que a população
teresinense vem se modificando ao longo dos anos, tanto pelo envelhecimento,
como pela mudança nos hábitos de vida, o que reflete diretamente nos tipos de
53
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
patologias que surgem. Baseado nesses novos levantamentos, profissionais de
diversas áreas da saúde poderão direcionar intervenções, na prevenção e
tratamento dessas doenças, buscando proporcionar ao paciente a melhoria de
sua capacidade funcional.
Este estudo, portanto, teve por objetivo geral quantificar a prevalência
das patologias da coluna lombar e a utilização de medicamentos no tratamento
das mesmas em pacientes atendidos em clínicas de fisioterapia de Teresina-PI,
objetivando especificamente identificar as patologias da coluna lombar que
acometem pacientes atendidos em clínicas de fisioterapia de Teresina-PI,
identificar a prevalência de cada patologia nos diferentes gêneros e faixas etárias
e verificar a prevalência dos principais grupos farmacológicos utilizados no
tratamento destas doenças.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
O projeto foi elaborado e encaminhado ao Comitê de Ética e Pesquisa
- CEP, baseado na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Foi
solicitada autorização para a realização da pesquisa às Diretoras das instituições
pesquisadas. Solicitou-se também a assinatura do termo fiel depositário aos
responsáveis pela base de dados de cada clínica, a fim de possibilitar a análise
dos prontuários. Esta pesquisa iniciou após aprovação pelo Comitê de Ética e
Pesquisa acima mencionado, com protocolo nº 165/11.
Trata-se de um estudo transversal, retrospectivo, descritivo de caráter
quantitativo, realizado em duas clínicas de fisioterapia (A e B) localizadas em
Teresina-PI. Sendo A, uma clínica escola pertencente a uma instituição privada
de ensino superior localizada na zona leste e B uma clínica privada localizada no
centro da cidade.
A amostra foi do tipo aleatória simples composta de 274 prontuários,
segundo os seguintes critérios de inclusão: pacientes atendidos nas clínicas objetos
de estudo desta pesquisa no período de junho de 2009 a junho de 2011,
prontuários cuja queixa principal fosse dor lombar, com patologias da coluna
lombar evidenciadas no diagnóstico clínico. Foram excluídos prontuários de
pacientes com dores lombares resultantes de patologias em órgãos abdominais
e prontuários com ausência de diagnóstico clínico.
A coleta de dados se deu por análise de prontuários, com base no
diagnóstico clínico e na farmacoterapia dos pacientes. Foram levantados os
54
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
seguintes dados: os tipos de patologias da coluna lombar diagnosticados, o
número de casos de cada uma, a quantidade de pacientes que fazia ou não uso
de medicação no tratamento destas patologias e os tipos de medicamentos
utilizados. Foram levantados também dados referentes à idade e gênero dos
pacientes.
A análise estatística foi realizada através de análise descritiva simples e
do programa Prisma 5.0. Calcularam-se a média e o desvio padrão e se fez
uma comparação entre os gêneros masculino e feminino, através do teste T
student, e entre os grupos etários de menos de 30, 30 a 60 e mais de 60 anos,
utilizando o teste one way ANOVA (TURKEY múltipla comparações), sendo
considerados estatisticamente significantes aqueles dados que obtiveram o valor
de p<0,05.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O gráfico 1 mostra que dentre os pacientes atendidos nas clínicas de
fisioterapia pesquisadas, 30,8% obtiveram diagnóstico de espondiloartrose,
25,5% foram diagnosticados com alguma discopatia lombar, 18,8%
apresentaram lombalgia inespecífica, 13,3% tiveram como causa da dor algum
desvio postural, 7% tiveram relato diagnóstico de lombociatalgia e 5%
apresentaram outros diagnósticos.
Gráfico 1 - Prevalência das patologias lombares em pacientes
atendidos em clínicas de fisioterapia de Teresina-PI, Teresina-PI, 2012
5%
OUTROS
7%
LOMBOCIATALGIA
13,30%
DESVIOS POSTURAIS
LOMBALGIA
18,80%
DISCOPATIAS LOMBARES
25,50%
ESPONDILOARTROSE
30,80%
Fonte: Dados da Pesquisa
55
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Os dados apresentados acima revelaram uma alta prevalência de
patologias degenerativas da coluna lombar (espondiloartrose e discopatias
degenerativas) em pacientes atendidos em clínicas de fisioterapia de TeresinaPI, confirmando o estudo de Barbosa (2007) que afirmou ser a maioria das
dores lombares, 90%, de origem mecânico-degenerativa. Nesse mesmo sentido
Appel et al. (2002) afirmaram que a artrose é a causa mais comum de dor
lombar e Vialle (2010) relatou que a hérnia discal lombar é um dos diagnósticos
mais comuns dentre as alterações degenerativas da coluna lombar.
Os resultados obtidos divergem ainda de pesquisas da mesma natureza
realizadas anteriormente. Nos estudos de Deus (2007) e Silva (2011), o
diagnóstico lombalgia foi o mais prevalente. Isso pode ser atribuído ao fato de
que em anos anteriores havia uma menor preocupação por parte dos profissionais
de saúde em especificar a patologia geradora do quadro doloroso, banalizando
assim o termo lombalgia como diagnóstico, sem especificar a causa. Tendo em
vista que, nesta pesquisa houve uma menor prevalência dos diagnósticos
inespecíficos (lombalgia e lombociatalgia), pode se rever que atualmente há
uma maior preocupação por parte dos profissionais de saúde em estabelecer
diagnósticos mais precisos, onde se evidencie não apenas o quadro doloroso,
mas sim a patologia que o gerou.
O gráfico 2 mostra que 8,06% dos pacientes com dor lombar tinham
faixa etária <30 anos, 64, 27% entre 30 e 60 anos e 27,67% pertenciam à faixa
etária >60 anos
Gráfico 2 - Frequências das patologias lombares de acordo com os
grupos etários, Teresina - PI, 2012
Fonte: Dados da Pesquisa
56
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Observando os resultados expostos, é notório que o grupo 30 e 60 anos,
correspondente à faixa etária produtiva (classe trabalhadora) foi o mais afetado,
o que confirma os relatos de Andrade (2005), que em sua revisão de literatura
afirmou haver uma maior incidência de dores lombares em indivíduos de fase
economicamente ativa. Esse resultado pode ser atribuído ao fato de que conforme
relatou Baú (2005), o atual mercado de trabalho exige grande produtividade a
um custo competitivo, o que impõe, muitas vezes, ritmos intensos e jornadas
prolongadas, sendo que frequentemente o trabalho é realizado em posturas e
ambientes ergonomicamente inadequados, predispondo os trabalhadores a
lesões.
Nesse mesmo sentido Ney Filho (2010) relatou que a dor nas costas
tem sido responsável por uma elevada ocorrência de incapacidade para o
trabalho. Porto (2004) afirmou ainda que a partir dos 30 anos o excesso de
atividades, estresse e más posturas, comuns neste período de vida, são os grandes
responsáveis pelo surgimento das dores lombares.
Os dados revelaram ainda ser a população idosa consideravelmente
afetada pelas dores lombares o que corrobora com a pesquisa de Reis et al.
(2008), onde houve uma prevalência de 33,6% de idosos com dores lombares,
afirmando ainda que há evidências da relação entre a dor lombar e a idade,
sendo que o risco de lombalgia aumenta com a idade, tendo elevada frequência
entre indivíduos com mais de 65 anos.
Analisando individualmente os grupos etários na Tabela 1, pôde-se
perceber que apesar de haver prevalência do grupo 30-60 em todas as
patologias, na faixa etária mais jovem (<30) houve um predomínio dos desvios
posturais e no grupo referente aos idosos (>60) prevaleceram às doenças
degenerativas (espondiloartrose e discopatias).
Foram encontradas diferenças significativas entre os seguintes grupos
etários: <30 vs 30-60, p = 0,0001 e entre 30-60 vs >60, p = 0,0001. Não foi
encontrada diferença significativa entre <30 vs > 60. Para ANOVA (Turkey
comparações múltiplas)
57
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Tabela 1 - Distribuição da prevalência das patologias lombares de
acordo com os grupos etários, Teresina - PI, 2012
<30
a (8,06 ± 14,8)
0,9%
30 – 60
a (64,27±11,63)
58,5%
>60
a (27,67 ± 9,40)
40,6%
Discopatias
Lombalgia
3,1%
11%
65,6%
73%
31,3%
16%
Desvios posturais
33,4%
45,1%
21,5%
---------
78,3%
65,1%
21,7%
34,9%
PATOLOGIAS
Espondiloartrose
Lombociatalgia
Outros
a = média e desvio padrão
Segundo Cabral et al. (2009), dados epidemiológicos apontaram para
alta prevalência de alterações posturais de coluna entre crianças e adolescentes.
Isso pode se dever ao fato de que essa época da vida corresponde à faixa
etária escolar. Pereira et al. (2005) afirmaram que, o excesso de peso e o
transporte inadequado do material escolar, a ausência de atividade física
específica, os mobiliários não adequados à necessidade do escolar e posturas
incorretas adotadas durante as aulas são fatores predisponentes ou agravantes
da escoliose.
No que diz respeito à prevalência das patologias degenerativas no grupo
dos idosos, os dados confirmam a afirmação de Reis et al. (2008) quando este
relatou que o maior tempo de exposição a sobrecargas ao longo da vida junto
ao envelhecimento tendem a desencadear processos degenerativos da coluna
vertebral.
O gráfico 3 mostra que 71,18% dos pacientes com dor lombar eram do
gênero feminino e 28,8% do gênero masculino.
58
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Gráfico 3 - Frequências das patologias lombares de acordo com o
gênero, Teresina - PI, 2012
Fonte: Dados da Pesquisa
Os dados obtidos concordam com o estudo de Matos et al. (2008),
onde também houve maior prevalência 54,2% de dores lombares no gênero
feminino.
Estes resultados podem ser justificados pelo fato de que, segundo Ponte
(2005), comparado aos homens, as mulheres apresentam uma prevalência mais
elevada de lombalgia, isso porque as tarefas domésticas, geralmente realizadas
pelo gênero feminino, geram sobrecargas repetidas na coluna.
Além disso, segundo Matos et al. (2008) o gênero feminino apresenta
algumas características anatomo-funcionais, como por exemplo, menor estatura,
menor massa óssea, menos massa muscular, articulações mais frágeis e menos
adaptadas ao esforço físico, que podem colaborar para o surgimento das dores
na coluna.
Em relação à distribuição da prevalência das patologias lombares de
acordo com o gênero, conforme mostra a tabela 2, as mulheres possuíam uma
maior frequência das mesmas, média 71,18 ± 13,86, enquanto os homens
apresentavam 28,82 ± 13,86. Ainda na Tabela 2, analisando individualmente os
grupos, pode-se perceber predomínio do gênero masculino apenas no grupo
59
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
de pacientes com diagnóstico de discopatias degenerativas
Tabela 2 - Distribuição da prevalência das patologias lombares de acordo
com o gênero, Teresina- PI, 2012
PATOLOGIAS
GÊNERO
FEMININO
MASCULINO
ESPONDILOARTROSE
65,5%
34,5%
DISCOPATIAS
48,4%
51,6%
LOMBALGIA
76,1%
23,9%
DESVIOS POSTURAIS
78,0%
22,0%
LOMBOCIATALGIA
69,6%
30,4%
OUTROS
89,5%
10,5%
P = 0,0002 (Teste T student)
Esse resultado confirma o relato de Appel et al. (2002), de que a herniação
discal, é uma situação relativamente frequente, com discreta predominância do
gênero masculino.
Pode-se justificar o resultado apresentado na tabela 2 pelo fato de que,
conforme afirmaram Pereira, Pinto e Sousa (2006), trabalhos pesados com
movimentação de cargas são desenvolvidos principalmente por homens, logo,
a exposição a forças compressivas intensas resultariam em uma maior tendência
a deformações e rupturas do disco intervertebral.
Em relação à utilização de medicamentos no tratamento das patologias
lombares: 68% utilizavam medicamentos e 32% não utilizavam medicamentos.
Os resultados mostraram que houve maior prevalência de pacientes que
utilizavam medicação em associação com o tratamento fisioterapêutico.
Esse fato pode ser explicado por ser a melhora dos pacientes mais efetiva
quando há uma associação do tratamento fisioterápico com o medicamentoso
conforme Carvalho et al. (2005), quando disseram que a fisioterapia e a terapia
medicamentosa são os alicerces para o tratamento da dor na coluna.
Em relação ao tratamento utilizado nos quadros de dor lombar, os
resultados desta pesquisa corroboram o estudo de Martinez et al. (2008), o
qual evidenciou em sua pesquisa que a modalidade mais utilizada é a
medicamentosa, uma vez que 100% dos pacientes apresentavam prescrição
para medicamentos.
O Gráfico 4 revela que os medicamentos mais utilizados pelos pacientes
60
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
com dor lombar foram: Anti-inflamatórios não esteroides 65,2%, Antidepressivos
10,3%, Suplemento de cálcio 10,3%, corticoides 7,3% e opioides 6,9%.
Gráfico 4 - Distribuição dos pacientes de acordo com os medicamentos
em uso, Teresina- PI, 2012
FONTE: DADOS DA PESQUISA
Em relação à prescrição das principais modalidades farmacêuticas, houve
um predomínio absoluto dos anti-inflamatórios não esteroides, resultados estes
compatíveis com o estudo de Martinez et al. (2008) onde houve predomínio de
87,5% dos AINES em relação às outras modalidades farmacêuticas encontradas.
Os AINES foram os mais utilizados, pois conforme afirmaram Brazil et
al. (2004), esses medicamentos têm efeitos analgésicos e anti-inflamatórios,
sendo mais efetivos porque comumente as alterações anatômicas degenerativas
da coluna lombar geram inflamação e dor. A menor prevalência de utilização
dos corticoides pode ser explicada pelo fato de que esses medicamentos geram
graves efeitos adversos, como aumento da pressão arterial e indução do diabetes,
assim como os analgésicos opioides possuem como fatores limitantes do seu
uso prolongado, a tolerância e a dependência física (WANNMACHER;
FERREIRA, 2004).
Em relação ao uso de medicamentos, constatou-se, neste estudo,maior
utilização de medicamentos direcionados para o combate direto à dor (AINES,
corticoides e opioides). Este resultado reforça os achados de Brazil et al. (2004)
de que o tratamento medicamentoso das dores lombares deve ser centrado no
61
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
controle sintomático da dor para propiciar a recuperação funcional o mais
rapidamente possível e que todas as classes de anti-inflamatórios (AINEs e
corticoesteroides) podem ser úteis no tratamento da lombalgia, uma vez que
ambas foram encontradas nesta pesquisa.
SSegundo o estudo de Garcia Filho et al. (2006) o tratamento
farmacológico de primeira linha para lombalgia consiste de anti-inflamatórios
não esteroides (AINES), de analgésicos opioides e antidepressivos. Os resultados
apresentados confirmam este estudo, pois todos os grupos farmacológicos
mencionados acima foram encontrados nos dados obtidos.
Observou-se ainda que os antidepressivos foram significativamente
utilizados pelos pacientes com dores lombares, evidenciando que a dor lombar
gera alterações psicocomportamentais, afetando negativamente a qualidade de
vida desses pacientes. Teixeira (2007) relatou que os antidepressivos podem
melhorar a analgesia, proporcionando relaxamento muscular e normalização do
sono, do apetite e do humor.
Apesar de não atuar no combate direto à dor, foi importante relatar a
prevalência do uso de suplementação de cálcio, uma vez que a mesma foi
significativa. Esse resultado pode levar a entender que a osteoporose é uma
doença sistêmica que comumente acompanha pacientes com quadro de
alterações patológicas da coluna, uma vez que a suplementação de cálcio é
caracteristicamente usada por pacientes com osteoporose.
Pandrini et al. (2002) afirmaram que a osteoporose vertebral está entre
as cinco afecções frequentes da clínica diária que se acompanham de lombalgia
crônica e Cecin (2002) que a suplementação de cálcio e vitamina D é
recomendada como tratamento nos casos de dor lombar associada à
osteoporose.
5 CONCLUSÃO
Concluiu-se que em pacientes atendidos em clínicas de fisioterapia de
Teresina-PI as dores lombares são ocasionadas principalmente por doenças
degenerativas, com predisposição em mulheres de faixa etária produtiva (classe
trabalhadora) e idade elevada, sendo que a associação entre fisioterapia e
tratamento medicamentoso, principalmente através da utilização de antiinflamatórios não esteroides, é amplamente utilizada na prática clínica.
62
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
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DISSOLUÇÃO CONJUGAL POR MULHERES NA
CONTEMPORANEIDADE: UM ENFOQUE PSICOLÓGICO
MARITAL DISSOLUTION BY WOMEN IN CONTEMPORARY
SOCIETY
Náira Ravanny de Souza Lima 1
Cyntia Maria de Miranda Araújo2
RESUMO
A concepção de família perpassou pela função de procriação para casamentos
com objetivos econômicos, até chegar à família moderna, com interesses voltados
à satisfação individual na relação. No Brasil as separações e divórcios têm sido
frequentes. Pesquisa do IBGE mostra que, em 2007, para cada quatro
casamentos foi registrada uma dissolução. Esta pesquisa é do tipo qualitativa e
exploratória, e teve como objetivo principal compreender a experiência
psicológica das mulheres na maturidade quando da tomada de decisão pela
separação. Para tanto, buscou-se investigar os fatores motivacionais presentes
na decisão de separação/divórcio, identificar os sentimentos predominantes
durante o casamento e separação/divórcio, e apresentar as concepções das
mulheres participantes acerca de casamento, família e divórcio. As participantes
foram localizadas a partir da amostragem bola-de-neve. Aplicou-se questionário
e realizou-se entrevista semiestruturada com 10 mulheres de 35 a 58 anos, as
quais decidiram se separar entre 15 a 29 anos de casamento. Os dados foram
analisados através da Hermenêutica de Profundidade. As categorias criadas
foram: Casamento, família e dissolução conjugal: O que elas têm a dizer?;
"Quando acaba o respeito...": motivos e motivações para a separação e/ou
divórcio; Da privação à liberdade: sentimentos vivenciados no casamento e
pós-casamento e Resquícios de "A Letra Escarlate". Concluiu-se que o
sentimento de insatisfação dentro da relação, aliado à falta de respeito, foi
determinante na decisão pela separação. Nesse processo, percebeu-se das
_________________________
1
Mestre
2
Academicos
67
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
entrevistadas o sentimento de receio pelas reações da sociedade em geral, mas
também a mudança de paradigma social acerca de casamento e divórcio.
Palavras-chave: Dissolução conjugal. Mulher. Enfoque Psicológico.
ABSTRACT
The concept of family pervaded by the function of procreation to marriage with
economic goals, to reach the modern family, with interests focused on individual
satisfaction in the relationship. In Brazil, separations and divorces have been
frequent. IBGE survey shows that in 2007, for every four marriages were
recorded one dissolution. This research is qualitative and exploratory. Aimed
mainly at understanding the psychological experience of women at maturity when
the decision is taken by separation, for both sought to investigate the motivational
factors present in the decision of separation/divorce, identify the women
predominant feelings during the marriage and separation/divorce and provide
the concepts of the women about marriage, family and divorce. The participants
were located from a sampling snow-ball. A questionnaire was applied and held
semi-structured interviews with 10 women from 35 to 58 years, which decided
to break-up between 15 to 29 years of marriage. The data were analyzed by
Depth Hermeneutics. The created categories were: Marriage, family and marital
dissolution: What are they to say?; "When the respect ends...": reasons and
motivations for the separation and/or divorce; The freedom deprivation: feelings
experienced in marriage and after marriage and Remnants of "The Scarlet Letter"
It was concluded that the feeling of dissatisfaction within the relationship, coupled
with the lack of respect made them want to separate. In this process, in general
was noticed the feeling of respondents fear of the society reactions, but also the
social paradigm shift about marriage and divorce.
Keywords: Marital Dissolution. Woman. Psychological Approach.
1 INTRODUÇÃO
Antes de discutir o término da relação conjugal,é importante salientar
como se apresentou a construção de família no decorrer da história, afim, de
contextualizar os fenômenos:separação e divórcio nos dias atuais. Compreende68
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
se que existem tipos históricos de família construídos socialmente. Nesse sentido,
têm-se a concepção de família, pela qual perpassou em certo momento a função
de apenas procriação e transmissão da linhagem, para casamentos com objetivos
econômicos, até visualizar-se a família moderna e pós-moderna se moldando a
partir do amor romântico e satisfação pessoal e afetiva dos seus membros. Isso
foi possível devido às mudanças decorrentes do efeito pós 1ª e 2ª Guerra,
globalização e movimento feminista (PROST; VINCENT, 1992; HINTZ, 2001).
Dando enfoque às relações conjugais, Pincus e Dare (1981) apresentam
que o princípio que rege as relações duradouras é de que nessas relações há
uma reciprocidade e complementaridade das necessidades, anseios e medos
que fazem parte da vida a dois. Entretanto, ao observar dinâmica que os
casamentos foram tomando ao longo do século, tornou-se cada vez mais presente
o número de separações e divórcios.
No Brasil as separações e divórcios têm sido frequentes. Pesquisa do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que em 2007,
embora tenham sido realizados 916.006 casamentos no Brasil, 2,9% a mais do
que em 2006 (889.828), o número de dissoluções (soma dos divórcios diretos
sem recurso e separações) chegou a 231.329, ou seja, para cada quatro
casamentos foi registrada uma dissolução. Féres-Carneiro (2003) apresenta
através de sua prática clínica como terapeuta de casal, que quase sempre as
mulheres manifestam o desejo de se separarem enquanto os maridos, na maior
parte das vezes, desejam manter o casamento. Surgiu então o interesse de
investigar as separações e divórcios após longos tempos de casamento tendo
como o enfoque a mulher contemporânea e sua subjetividade.
Buscou-se como objetivo principal compreender a experiência
psicológica das mulheres na maturidade quando da tomada de decisão pela
separação ou divórcio e como objetivos específicos, investigar os fatores
motivacionais (sociais, econômicos, afetivos) presentes na decisão de separação/
divórcio, identificar os sentimentos predominantes durante o casamento e
separação/divórcio e apresentar as concepções das mulheres participantes acerca
de casamento, família e divórcio.
Atualmente, dentro da psicologia, as questões de gênero ainda se
encontram-se marginalizadas, apontando a relevância dessa pesquisa para a
classe e a necessidade de incentivo a pesquisas desse porte. Por meio dessa
pesquisa propôs-se acrescentar à literatura uma compreensão qualitativa da
separação/divórcio, da mulher e do casamento, de forma a contribuir para
estudos posteriores, ampliar concepções existentes e fomentar debates, tendo
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
em vista proporcionar aos profissionais da área da psicologia, meios de atualizarse em prol de uma atuação com mais qualidade tanto às mulheres como também
à sociedade como um todo.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Esta pesquisa foi de abordagem qualitativa do tipo exploratória.
Participaram da pesquisa 10 mulheres localizadas entre a faixa etária de 35 a 58
anos, as quais tomaram a iniciativa pela separação/divórcio entre 15 a 29 anos
de casamento, conforme proposto nos critérios de participação. Esta
investigação teve como método de constituição da amostra, a bola-de-neve ou
snowball que se mostrou vantajosa por possibilitar identificar os elementos de
uma população indefinida e de difícil localização, como foi o caso da população
deste estudo. Desta forma, a partir da primeira participante, encontraram-se
outras por indicação desta e assim, sucessivamente até completar a quantidade
da amostra. A pesquisa foi realizada em duas cidades: Caxias, Maranhão e em
Teresina-Piauí. Os contatos com as participantes foram ocorridos em ambientes
acordados previamente entre participante e pesquisadora.
Após o projeto de pesquisa ser aprovado pelo Comitê de Ética e
Pesquisa da FACID, foram identificadas as participante e a elas foram esclarecidos
os objetivos e justificativa da pesquisa, bem como salientado os preceitos éticos
como sigilo de informações identificatórias e não obrigatoriedade das participantes
frente à pesquisa, sendo garantido o direito de retirar o consentimento em
qualquer momento da pesquisa, sem prejuízos ou sanções. As mulheres que
concordaram em participar do estudo assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido - TCLE, em duas vias de igual teor, elaborado de acordo
com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, nº protocolo 117/10
que dispõe sobre a ética na pesquisa com seres humanos.
Foram marcadas as entrevistas individuais em datas acordadas entre
pesquisadora-participante e na ocasião, também foi aplicado o questionário
sócio-demográfico. Com o consentimento das participantes, as entrevistas foram
gravadas em aparelho MP4 e posteriormente transcritas. Para a análise dos
dados, ficam feitas as tabulações com as informações colhidas com os
questionários e criadas categorias para as entrevistas que foram analisadas com
base na metodologia Hermenêutica de Profundidade (HP). A HP é uma
ferramenta teórica e metodológica que possibilita ao pesquisador distintas
dimensões de análise, tais como análise do contexto sócio-histórico e espaço-
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
temporal que cerca o fenômeno pesquisado, análises discursivas, de conteúdo,
semióticas ou de qualquer padrão formal que venha a ser necessário, conferindo
um caráter potencialmente crítico à pesquisa (VERONESE; GUARECHI,
2006).
Optou-se pela utilização desse método tendo em vista seu caráter
inovador, superando as abordagens tradicionais de ideologia, uma vez que
ressalta a necessidade de propor sentidos ao fenômeno, discuti-los, desdobrálos e não desvelá-los.
A HP se caracteriza por três enfoques: análise sócio-histórica; análise
formal ou discursiva e interpretação/reinterpretação. Na análise sócio-histórica,
procura-se contextualizar os dados da pesquisa em tempo e espaço. Thompson
(1998, p. 366) descreve que a análise sócio-histórica "objetiva reconstruir as
condições sociais e históricas de produção, circulação e recepção das formas
simbólicas". Vale ressaltar que neste estudo, entende-se formas simbólicas como
construções significativas que exigem interpretação, a exemplo de gestos, ações,
falas e textos.
Na etapa de análise formal ou discursiva, o foco a ser considerado são
as características estruturais das expressões linguísticas e das relações do discurso
(THOMPSON, 1998). Neste tipo de análise a preocupação é com a organização
interna das formas simbólicas, com suas características estruturais, seus padrões
e relações, servindo, para a construção do campo-objetivo.
O terceiro e último enfoque da HP é a interpretação/reinterpretação que
é facilitada pela fase da análise discursiva ou formal, porém distinta dela.
Enquanto a análise de discurso procura desvelar os padrões e efeitos que
constituem uma forma simbólica ou discursiva, a interpretação se constrói sob
essa análise, como também sob os resultados da análise sócio-histórica. Segundo
Thompson (1998 p.375) "a interpretação implica um movimento novo de
pensamento, ela procede por síntese, por construção criativa de possíveis
significados". Nota-se, portanto, que o método de HP, a partir da
complementaridade de seus enfoques, almeja uma apreciação da profundidade
do fenômeno a ser estudado.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Casamento, família e dissolução conjugal: O que elas têm a dizer?
A maioria das participantes ressaltou a ideia de casamento como
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instituição necessária para a formação de uma família sendo citados também o
respeito e o diálogo como pré-requisito para o casamento. Nas falas surgiram
também sentimentos de compreensão, companheirismo, cumplicidade, partilha
e parceria como essenciais para a manutenção do casamento. O que leva ao
entendimento de que sentimentos de corresponsabilidade e troca são mais
valorizados por elas na relação a dois, até mais do que o amor, tendo em vista
que apenas 01 das participantes citou o mesmo. Cabe ressaltar, que a visão de
casamento apresentada, indica um ideal de igualdade entre os cônjuges, em
detrimento a relações hierárquicas (HINTZ, 2001).
É uma instituição necessária. Pra mim é a base de toda a família (SARA).
A DR famosa discutir a relação, pra mim é fundamental no casamento.
Chegar e dizer o que não gosta o que gosta, dizer "não faça isso, isso é melhor".
Sempre discutir a relação, foi uma coisa que faltou no meu casamento, porque
ele não gosta de conversar, então eu sentia muita falta (NÚBIA).
O casamento é diálogo, é apoio (TÂNIA).
Em se tratando de família, foi observado em grande parte das falas das
participantes a expressão "família é base", e " família é tudo", como sendo uma
instituição essencial para a formação do sujeito, corroborando com diversos
autores que trazem a noção de família como mecanismo de transmissão de
valores morais e culturais além de atribuírem a ela função de protetora e cuidadora
(ARIÈS,1981).
É essencial, é a base para todo ser humano (JOYCE).
É o berço da sociedade (SARA).
As relações entre homem e mulher foram ganhando notoriedade nas
discussões sobre família e a dissolução conjugal passou a ser observada como
objeto de estudo pelas ciências humanas. Na maioria dos relatos, o divórcio
aparece como última opção de um relacionamento que não está dando certo,
sendo ainda citado por três delas como "um mal necessário". Essa expressão
reflete um sentimento de frustração em relação ao final da relação conjugal. O
não dito é "preferia que tivesse dado certo", de acordo com o preceito social e
religioso de durabilidade que caracterizava o casamento até pouco tempo atrás,
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
considerando que o divórcio foi legalizado no Brasil em 1977, há exatos 30
anos.
Paralelamente, o divórcio traz o sentido de recomeço, citado por uma
delas, como uma oportunidade de refazer a vida, dando a si mesmas a
possibilidade de assimilação de novos projetos que possam "dar certo". Percebese aqui a conotação de satisfação pessoal atrelado ao casamento e presença de
um imaginário da ideia de casal, além dos papéis de marido e mulher, enfatizando
as relações entre os parceiros.
O divórcio é a oportunidade que a pessoa tem de refazer a sua vida, a sua
vida afetiva, principalmente (SARA).
O divórcio é um mal necessário, ele tem que acontecer quando não dá mais
pra viver, quando não dá mais para conciliar interesses (BEATRIZ).
Entende-se que o sentimento de "casal" só veio a surgir no século XX,
até então se falava em sentimento de família, não considerando os sujeitos
individuais que formavam o casal e as particularidades desse casal. A partir da
inserção da ideia de romance e amor romântico nos requisitos para escolher um
parceiro, voltou-se o olhar para o casal (GIDDENS, 1993). A mudança desse
tipo de pensamento ocorreu como reflexo do movimento feminista, com ideais
de igualdade e independência; da inserção da mulher no mercado de trabalho;
da industrialização e globalização, destacando a importância da liberdade sexual
e um maior controle da mulher sobre a natalidade, onde foi possível desvincular
o ato sexual de gravidez. Passou-se a usar o termo "casal" e as expressões
"vida de casal", "problemas de casal" (BERTOLINI, 2002; CRUZ, 2002;
PETRINI; CAVALCANTE, 2005).
Segundo Osório (2002) a dinâmica dessas relações altera-se de acordo
com fatores culturais e socioeconômicos do momento histórico em questão e
podem ser definidas como relações que mantêm homens e mulheres com o
mesmo sexo ou não, tendo estabelecido entre si laços afetivos e sexuais que os
levam a uma vida compartilhada, independente de ritos dessa união ou fins de
procriação.
3.2 "Quando acaba o respeito...": motivos e motivações para a separação
e/ou divórcio
Os motivos ligados à separação/divórcio citados pelas participantes
foram :traição, agressões verbais, agressões físicas, desrespeito e insatisfação.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
A traição apareceu em nove das dez falas e foi apontada como motivo por seis
das participantes. Observou-se que nos relatos de agressões físicas, estavam
presentes também elementos de violência psicológica.
No meu caso foi traição, que eu não suporto, eu só deduzia, mas não tinha a
certeza, eu só consegui separar de verdade quando eu tive a certeza, quando
eu vi (NÍVEA).
Quando acabou o respeito entre a gente, porque amor já tinha acabado, mas
tava suportável a relação, mas quando acaba o respeito, quando ele começou
a me ignorar e a me tratar mal mesmo na frente da família dele, dos amigos
dele, não tinha mais condição (LEILA).
Começaram as agressões verbais, o desrespeito até de trazer namoradas na
minha casa, de muitas vezes tentar denegrir a minha imagem profissional.
[...]certa vez eu cheguei até a apanhar em frente ao trabalho, saí do trabalho
e ele me bateu, então isso aí é uma forma de denegrir a imagem da pessoa
(TÂNIA).
Já tinha caído a ficha de que não era pra viver daquele jeito né? Trabalhando,
me matando e no final, ser chamada de vagabunda, disso, daquilo, que não
podia existir (PAULA).
A dinâmica da tomada de decisão pela separação ou divórcio está atrelada
a fatores internos e externos ao indivíduo. Em relação aos fatores internos (fatores
externos serão mais amplamente discutidos na categoria 3.4) estão a autopercepção e a motivação. A auto-percepção reflete em como a pessoa está se
percebendo dentro da relação e a motivação é o que a impulsiona a fazer algo.
O conceito de motivação está relacionado às necessidades do indivíduo.
A Teoria das Necessidades Humanas de Maslow diferencia cinco tipos de
necessidades: as necessidades fisiológicas (respiração, comida, água, sono, sexo,
homeostase, excreção), necessidades de segurança (do emprego, da família,
da saúde, da propriedade), necessidades de amor e relacionamentos
(participação, amizade, família, intimidade sexual), as necessidades de estima
(autoestima, confiança, respeito dos outros, respeito aos outros) e necessidades
de autorrealização (moralidade, espontaneidade, solução de problemas)
(CLONINGER,1999; SCHUSTACK; FRIEDMAN, 2003). Dessa forma,
considera-se que além do motivo é preciso estar motivado para separar-se.
De acordo com os dados analisados, observou-se que apesar de terem
pedido o divórcio, as participantes procuraram alternativas ao fim do casamento.
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Fato que evidencia a percepção das mesmas em relação ao divórcio como
última opção de um relacionamento que não está dando certo, apresentada na
primeira categoria.
Eu me doei muito, e eu não tive aquela resposta, retorno, dele, então pra mim
foi difícil (JOYCE).
Foi cinco anos eu avisando o tempo todo (CARLA).
Segundo a pesquisa realizada por Féres-Carneiro (2003) as mulheres
são as que mais solicitam a separação, considerando-se tanto a separação judicial
72% quanto o divórcio 53,4%. Outro aspecto ressaltado é o de que, mesmo
que a decisão de separação seja predominantemente feminina, são as mulheres
que tomam a maior parte das iniciativas de diálogo, buscando alternativas para
o relacionamento.
3.3 Da privação à liberdade: sentimentos vivenciados no casamento e
pós-casamento
Ao serem questionadas sobre como foi a experiência de terem se casado,
metade das participantes responderam à pergunta como tendo sido uma
experiência boa, sendo que, da outra metade, três apontaram como sendo ruim,
e duas como boa e ruim ao mesmo tempo. As lembranças boas foram associadas
aos filhos por todas elas. E as ruins, às agressões citadas na categoria anterior.
Pode-se perceber alguns sentimentos relativos à época de casamentos. Os mais
freqüentes foram o de privação e insatisfação, presentes em cinco falas cada.
Outros sentimentos associados surgiram a esses: o de desgaste, de dependência
e sofrimento, e ainda em menor escala o de revolta, medo, frustração,
afastamento e indiferença. A maioria das participantes disse sentir-se "livre" e
"feliz". Os sentimentos menos expressivos foram de mágoa, identificado em
duas falas, e ainda os de menos-valia, impotência e alívio, cada um com uma
fala.
Foi muito bom, tudo faz parte do nosso crescimento. Aí vieram os filhos,
maravilhosos, taí uma coisa que você não se arrepende nunca (NÍVEA).
Teve momentos bons, eu não vou negar, mas teve momentos péssimos,
talvez os piores que eu tenha passado na minha vida (PAULA).
Eu posso associar meu casamento a uma prisão entre aspas (BEATRIZ).
Eu me sinto livre, me sinto dona de mim, eu posso dizer que vou fazer isso
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
aqui ou não vou fazer isso aqui, não tenho que dar satisfações a não ser a mim
mesma (TÂNIA).
Nota-se pelos relatos das participantes que os sentimentos
prevalecentes,durante o casamento,eram negativos e que elas se sentiam
insatisfeitas. É possível considerar que a partir do momento que foi admitido
pensar nas satisfações individuais dentro da relação conjugal, esse sentimento
de insatisfação impulsionou à realização pessoal. Osório (2002) afirma que
devido a conflitos interpessoais dentro da relação conjugal, em um dos membros
pode ocorrer uma redução da potencialidade, um "encolhimento" deste,frente
ao outro, comprometendo o desenvolvimento pessoal e amadurecimento
emocional. Pode-se comentar que essa situação gerava uma angústia e
insatisfação que acabou movendo-as no sentido de buscarem meios de
reverterem essa situação. Essa motivação leva o indivíduo a atualizar-se e
desenvolver-se. Entretanto a direção dessa tendência dependerá de como ele
percebe a si mesmo, suas experiências e sua relação com os outros e com o
mundo.
3.4 Resquícios de "A letra escarlate": as influências sócioculturais
envolvendo casamento, separação e/ou divórcio
"A Letra Escarlate" é um filme baseado na obra norte-americana de
Nathaniel Hawthorne lançado no ano de 1995 e dirigido por Roland Joffé. O
filme conta a história de uma mulher que por ter cometido o pecado do adultério,
passa a ser socialmente marginalizada. Ela era obrigada a usar uma letra "A"
bordada em suas vestes para diferenciá-la de seus acusadores como símbolo
de sua vergonha. As atitudes de discriminação, preconceito, injustiça e
intolerância dos habitantes da cidade para com a personagem principal eram
justificadas pelo pecado da mesma. Nessa categoria são descritas as reações
positivas e negativas da família, amigos e filhos em relação à decisão de separarse bem como os sentimentos e receios das participantes diante dessa decisão.
Verificou-se uma média de seis anos entre o primeiro pensamento pelo
desejo de separar-se até a separação propriamente dita, sendo esses números
variantes de seis meses a vinte anos. Esse fato denota a necessidade de um
tempo de processamento e amadurecimento da escolha pela separação. A
maioria das participantes descreve a separação/divórcio como uma tomada de
decisão que aconteceu como um processo, como algo pensado, avaliado e
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
reavaliado, da mesma forma que, encontra-se presente no relato da maioria das
participantes, a fala "não aguentei mais".
Questionadas sobre o que as levou manter o casamento mesmo quando
já insatisfeitas com o mesmo, três das respostas foram pelos filhos e receio de
criá-los sozinha, o que se relaciona bem com a resposta da falta de autonomia
financeira, a segunda mais citada. Isto reflete o fato de ainda ser recente a
inserção da mulher no mercado de trabalho, visto que no Brasil, apenas com a
legislação de 1962, a mulher pôde trabalhar sem a permissão do marido. Antes
disso, seu papel era associado apenas aos cuidados do lar e sua ajuda no
orçamento familiar era dispensável (NARVAZ; KOLLER, 2006). Entende-se
que tais papéis sociais são construídos ideologicamente como cultura, nos quais
estão implícitas as desigualdades de gênero e introjetadas no imaginário social
(BASSANEZI, 1993).
Meus filhos, que eu esperei meus filhos crescerem pra entender porque que
eu tava me separando (CARLA).
Se eu tivesse uma autonomia financeira, muito provavelmente esse casamento
teria durado bem menos (BEATRIZ).
Hoebel e Frost (2003) afirmam que a cultura é produtora de maneiras
de ser, pensar e agir, e em se tratando de relacionamento conjugal, o que
prevalece para as religiões é a indissolubilidade do casamento. Uma vez atribuído
a indissolubilidade um caráter verídico, ele passa a ser interpretado como conduta
moral e o que fugir ao convencional, por vezes, será reconhecido como tal.
Esse caráter diferenciado pode ser interpretado como algo extraordinário
ou mau sobre o status moral de quem os apresenta, caracterizando-se, assim, o
estigma (GOOFFMAN, 1998). Nos relatos das participantes, foram observados
sentimentos associados ao estereótipo de ser divorciada ou separada, visto que
além das dificuldades econômicas que viessem a surgir com a separação, elas
pensavam também na questão de sair de uma condição que estava conforme o
padrão socialmente aceito para outra que não é bem vista pela sociedade.
Quanto à experiência de estar separada, os relatos da maioria refletem
o preconceito que vivenciaram e vivenciam, destacando que tal preconceito
aparece de duas formas: o que começa por si mesmas e também pelos outros,
denunciando que estar separada pode vir a tornar-se um estigma.
Eu tinha vergonha de, sabe? como eu fui criada por uma pessoa que tinha
preconceito, eu me sentia uma prostituta, como uma mulher de vida livre,
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
que eu imaginava que as pessoas, talvez fosse até do meu imaginário, e
depois eu perdi isso, entendeu? Então por conta disso eu acho que eu
imaginava o que as pessoas iam pensar que eu agora ia ficar sem marido e que
todo mundo ia tirar casquinha (ANA).
Eu senti assim, às vezes numa roda de amigos, onde todas são casadas, tem
uma separada, eu não sei se elas veem isso como ameaça, "não, tá solteira",
sabe? "Eu acho que, tá separada, então tá acessível, qualquer um pode chegar,
meu marido pode chegar" [...] talvez seja até a gente mesmo, evito andar com
casais (NÚBIA).
A gente sente assim, que para as amigas, amigas entre aspas, a gente sente
assim, é um perigo, você passa a ser vista como um perigo, passa a ser vista
de outra forma, você é uma bomba que esta ali preste a explodir a qualquer
hora (TÂNIA).
As pessoas mudam o pensamento com você, é impressionante [...] as vezes
eu me sinto mal, eu tento não ligar pra isso, mas, as vezes tem certos
comportamentos que me incomodam (BEATRIZ).
Quanto a reações da família, amigos e filhos em relação à decisão das
participantes em separar-se, foi de apoio pela maioria. A família foi quem mais
apoiou, tendo sido menos frequente as reações de não aceitação. Notouse,essencial,o apoio da família às participantes, que serviu tanto como suporte
financeiro, como emocional para elas. As reações de não aceitação foram mais
presentes na fala acerca dos filhos. Foi relatado também reações de surpresa e
admiração em relação à reação dos amigos.
Meus pais foram maravilhosos [...] sempre tive o apoio deles (LEILA).
Pra minha família foi péssimo, foi horrível, para minha mãe e meus irmãos eu
era a primeira pessoa que estava separando na família, e não era correto, era
errado (TÂNIA).
Todo mundo (amigos) teve a mesma reação da minha família. Todo mundo
disse "Ana, você demorou demais" Aí todo mundo disse, "Ana você tem que
viver agora, daqui pra frente, esqueça o que passou e vá viver daqui pra
frente" (ANA)
Ficaram admirados (os amigos) porque eles não acreditavam e ate por causa
dos anos de casado (NÚBIA).
O (filho) mais velho chegou e disse assim "mãe tá mais do que na hora de
você viver sua vida, pega meu pai, bota num baú, joga no mar e vai ser feliz"
(NÍVEA).
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
A (filha) mais nova resistiu um pouco [...] de vez em quando falava, de voltar
a família (SARA).
CONCLUSÃO
Os resultados desse estudo apontaram o casamento como uma instância
da sociedade que serve como base para a construção da família. O divórcio,
um mal necessário, se configura então como uma alternativa, dentre outras já
cogitadas, quando há insatisfação na relação homem-mulher. Os sentimentos
vivenciados durante o casamento foram de insatisfação e privação, que moveram
as participantes à separação, de acordo com a percepção de si e da sua relação
com o outro, dentro do que elas visualizaram como escolhas.
A partir dos resultados apresentados, conclui-se também que a
experiência de mulheres na maturidade pela tomada de decisão de separar-se
após longos tempos de casamento é permeada por uma história de vida de
frustrações individuais dentro do contexto da relação a dois. Os sentimentos
vivenciados após a separação foram descritos como de felicidade e liberdade.
Entretanto, embora houvesse a insatisfação, a separação aconteceu em
média, depois de seis anos a partir do primeiro desejo de separar-se.
Compreende-se então, que o amadurecimento da escolha sofreu diversas
influências: as sociais, em que elas pesaram a reação da família, amigos e filhos
diante da decisão de separação; das concepções de indissolubilidade do
casamento, introjetadas a partir da religião e/ou educação obtida pela família;
as econômicas, na qual se verificou ser de grande valia o estudo e trabalho na
vida dessas mulheres no quesito amadurecimento pessoal e independência; e
afetivas, ligadas ao sentimento de manter a estrutura familiar (pai-mãe-filhos) .
Visto que essa decisão acontece como um processo, pode-se afirmar
que se apresentaram alguns questionamentos centrais antes da separação. Dentro
dessa dimensão encontra-se o receio da reação dos amigos, famílias e filhos
diante de tal decisão e a insegurança ao pensar em manter-se sozinha e criar os
filhos. Nesse sentido, observou-se que o fato de essas mulheres terem tido o
apoio da família durante e após o processo de separação foi de suma importância,
servindo tanto como suporte financeiro como emocional às mesmas, destacando
aqui que essa situação pode vir a ser uma demanda à psicoterapia.
Cabe ressaltar que o contexto sócio-histórico atual começa a entender
o casamento como dissolúvel quando não há satisfação pessoal, uma mudança
ainda tímida do paradigma que cerca as relações conjugais, principalmente as
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
de longa data, pois as participantes relataram situações de estereotipação. Nesse
viés, sugere-se que a Psicologia, enquanto comprometida com a categoria
compromisso social e sociedade, através de suas práticas e campos de estudo,
promova ações que identifiquem e desconstruam estruturas sociais e práticas
pessoais e profissionais.
Dentro da psicologia são poucos os estudos na área da Psicologia de
gênero. Ressalta-se, portanto, a importância de que outras pesquisas sejam
realizadas, tendo em vista buscar um conhecimento mais aprofundado sobre as
relações conjugais, separações e divórcios, e reconfigurações familiares
organizadas a partir dessas dissoluções. Isso serve ao objetivo principal de
compreender a ótica subjetiva das partes, tanto do homem quanto da mulher.
Tais conhecimentos são válidos no campo de saber da Psicologia, pois contribuem
para o entendimento do ser humano em suas novas formas de se relacionar,
acrescentando atualizações à prática psicoterápica individual, familiar e de grupos.
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AVALIAÇÃO DA SATISFAÇÃO DOS PACIENTES ATENDIDOS
EM UMA CLÍNICA INTEGRADA DE UM CURSO DE
ODONTOLOGIA
EVALUATION OF SATISFACTION OF PATIENTS TREATED AT
THE INTEGRATED CLINIC OF THE DENTISTRY
José Guilherme Ferrer Pompeu1
Francisco Jurany de Carvalho Júnior2
Raimundo Guimarães Cruz Neto3
Claudio Heliomar Vicente da Silva4
Vera Lúcia Gomes Prado5
RESUMO
O objetivo deste estudo foi avaliar a satisfação dos pacientes atendidos em uma
Clínica Integrada de um curso de Odontologia em Teresina, onde foram
entrevistados 100 usuários, selecionados independentemente do sexo. A coleta
de dados foi feita através de um questionário contendo 18 questões fechadas,
que abordavam questões como: satisfação do atendimento prestado por
professores e alunos, questões relativas ao medo e dor durante o tratamento,
como também relacionados com à instituição. Os dados coletados foram
apurados, analisados e tabelados utilizando-se o programa Microsoft Office
Excel. Os resultados encontrados foram satisfatórios e coerentes com o que é
encontrado na literatura, revelando que a maioria dos pacientes não sentiram
dor (70%) ou medo (57%) durante o tratamento.Altos índices de satisfação
com relação ao atendimento prestado por professores e alunos foram encontrados
nos dados analisados, apontando 92% como ótimo ou bom no atendimento
pelo aluno e 100% no atendimento pelo professor. Quando a questão analisada
foi a satisfação do usuário com a instituição, em termos de limpeza, iluminação,
organização e conforto, também se obteve um alto grau de satisfação pelos
_____________________
1. Prof.Associado da UFPI, e das IES FACID e NOVAFAPI. Teresina - Piauí, [email protected].
2. Graduado em Odontologia - Faculdade FACID, Teresina - Piauí.
3. Acadêmico- Faculdade NOVAFAPI, Teresina - Piauí.
4. Prof. Associado da UFPE, Recife - Pernambuco.
5. Profa. Associada da UFPI, Teresina - Piauí.
82
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
usuários da Clínica Integrada de Odontologia de Instituição de Ensino Superior
de Teresina, Piauí. Podendo concluir que os pacientes da clínica desta instituição,
estão satisfeitos com o atendimento prestado por alunos, professores em geral.
Palavras-chave: Estudos de Avaliação. Satisfação do paciente. Faculdades
de Odontologia
ABSTRACT
The objective of this study was to assess the satisfaction of patients at an Integrated
Clinic of a Dentistry course. One hundred patients, of both genders, were
interviewed. Data collection was carried out using a form with 18-questions,
which addressed issues such as: satisfaction with the care provided by professors
and students, fear and pain during treatment, as well as institution-related
satisfaction. The data collected were presented and processed using Microsoft
Office Excel. Results were satisfactory and consistent with other studies, and
the majority of the patients experienced no pain (70%) or fear (57%) during
treatment. Regarding the satisfaction with care received, excellent or good care
rates were found: 100% for care received from professors and 92% for care
from students. Regarding the satisfaction with the institution on topics such as
cleaning, lighting, organization and comfort, the satisfaction rate was also high. It
was possible to conclude that patients of this institution are satisfied with the
care provided by students and professors.
Keywords: Evaluation Studies. Patient satisfaction. Dentistry Colleges.
1 INTRODUÇÃO
A satisfação é uma das formas de se mensurar a qualidade de um serviço,
que expressa o resultado do serviço prestado. A Odontologia,na última
década,apresentou mudanças expressivas devido a um conjunto de fatores que
devem ser abordados e analisados profundamente, pois culminaram em um
momento de transformação, que pode significar um ponto de inflexão importante
em relação a sua prática tradicional e ao desenvolvimento de novas interações.
Na literatura, procura-se averiguar a expectativa do paciente frente ao
atendimento; aos critérios utilizados para a avaliação por parte do paciente do
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
tratamento recebido; o nível de satisfação e os resultados obtidos. Tais trabalhos
servem para avaliar a qualidade da relação entre paciente, profissional e estrutura
organizacional do serviço, melhorando a eficácia do sistema prestador do
atendimento ao usuário.
Como toda instituição organizacional que está preocupada com a
satisfação dos usuários com seus produtos e serviços, os provedores de serviços
de saúde estão tornando-se mais envolvidos com a satisfação do paciente. Isto
ocorre devido ao aumento da evidência de que a associação entre satisfação,
aquiescência do paciente e sucesso do tratamento, determina a qualidade do
atendimento em saúde. A satisfação do paciente é definida como uma resposta
de base afetiva e avaliação de base cognitiva do receptor do tratamento de
saúde.
Considerando as atividades da disciplina de uma Clínica Integrada de
um curso de Odontologia, como meio de viabilizar a satisfação das necessidades
de saúde bucal da população, mediante a prestação de serviços adequados e o
desenvolvimento dos recursos humanos necessários, torna-se indispensável a
participação da comunidade como sujeito de tal processo. Implicando o
compromisso da Instituição e de seus agentes a promover mecanismos
apropriados (formais e informais) de participação dos pacientes, pois o fato de
um serviço ser gratuito não exclui a obrigatoriedade de uma atenção individual
ao paciente. Os alunos e os professores devem esmerar-se para que o paciente
não se sinta "diminuído por receber um serviço gratuito" e torná-lo capaz de
entender que a qualidade de um serviço oferecido não está condicionada à
gratuidade.
Com o intuito de avaliar a qualidade dos serviços prestados por uma
Clínica Integrada de um curso de Odontologia, esta pesquisa teve como objetivo
avaliar se o atendimento prestado conduz a satisfação nos pacientes, bem como
avaliar a disciplina de Clínica Integrada do curso de acordo com a satisfação do
usuário, oferecendo subsídios para melhorar e/ou modificar as características
da disciplina.
Na disciplina de clínica integrada, o aluno de graduação torna-se apto
para o desempenho da clínica geral, de acordo com os fatores cognitivos, afetivos
e psicomotores, com capacidade para exame, diagnóstico, planejamento e pela
consequente execução do plano de tratamento, objetivando a resolução do
caso clínico, interagindo os conhecimentos, habilidades e atitudes (valores)
adquiridas ao longo do curso, de modo a proporcionar ao paciente o atendimento
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
integral das necessidades evidenciadas.
Assim, a avaliação do que é realizado, é um dos componentes
fundamentais para a programação dos serviços com garantia de qualidade e
satisfação, além de ser um marco capaz de sugerir modificações e melhorias
para o Curso de Odontologia da Faculdade que foi estudada. Diante de toda
essa situação, pode-se fazer o questionamento se a qualidade dos serviços
prestados pela Clínica Integrada de um curso de Odontologia de uma faculdade
particular de Teresina produz satisfação aos pacientes.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Abordagem Geral
A formação de dentistas tem tradicionalmente envolvido uma grande
parcela do tempo voltada para o atendimento de pacientes. Assim sendo, a
procura, por parte de pacientes, de clínicas odontológicas de instituições de
ensino é extremamente importante. No entanto, em um meio acadêmico, muitas
vezes, não sabemos ou não dividimos uma mesma opinião sobre como um
paciente avalia o serviço que recebe o que considera relevante no mesmo, e,
dentro de suas condições financeiras, o que o leva a escolher um serviço de
saúde (RAMOS, 2001; POMPEU et al; 2012).
Segundo Pinto (2000), permanece o eterno dilema: se tanto a preferência
subjetiva quanto as abordagens profissionais são suspeitas para determinar quais
são as necessidades e como elas são medidas, quem vai decidir sobre os
indicadores sociais apropriados e como? A resposta consensual é a participação.
A participação bem informada da população cujas necessidades estão sendo
avaliadas é essencial.
2.2 Importância da Avaliação da Satisfação
Os estudos com a finalidade de avaliar a satisfação de usuários de serviços
de saúde ganharam destaque na literatura principalmente na década de 1970,
em países como Estados Unidos e Inglaterra (ESPERIDIÃO; TRAD, 2006).
No Brasil, a década de 1990 representou o auge das medidas de avaliação da
satisfação de usuários, no contexto da expansão dos programas de qualidade
no setor empresarial e sua implantação em serviços de saúde (MENDES, 2003).
Apesar de o Sistema Único de Saúde ter sido legalmente estruturado há
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
quase duas décadas, cerca de trinta milhões de pessoas nunca foram ao dentista,
ou seja, ainda há uma grande demanda sem acesso aos benefícios desse sistema.
As faculdades de odontologia apresentam-se como um meio alternativo para a
melhoria do acesso da população à atenção básica em saúde bucal.
Leão e Dias (2001) relataram que trabalhos envolvendo percepções de
pacientes agruparam alguns conceitos que eram referenciados ao julgar satisfação
como: habilidade técnica do profissional, evitar que o paciente sinta dor, facilidade
de acesso à clínica e ao tratamento, custo do tratamento; informações em relação
ao tratamento, atitude do dentista, estética, higiene e função dos dentes.
Assim, os estudos sobre satisfação do usuário são importantes, porque
podem contribuir para o planejamento de medidas visando à superação das
limitações detectadas com base nas informações adquiridas, e, dessa forma,
visar o planejamento de medidas para a superação das limitações detectadas
nos serviços de saúde (MIALHE; GONÇALO; CARVALHO, 2008). Por isso
que a satisfação torna um indicador cada vez mais importante de qualidade no
tratamento dentário (BUTTERS; WILLIS, 2000).
2.3 A Disciplina de Clínica Integrada
A Clínica Integrada é uma das matérias obrigatórias dos currículos
mínimos dos Cursos de Graduação em Odontologia no Brasil como matéria
profissionalizante, conforme resolução do Conselho Federal de Educação (CFE,
1982). Inicialmente, foi concebida como um estágio ao final do Curso de
Graduação, onde o aluno deveria aplicar os conhecimentos adquiridos nas
demais disciplinas clínicas. A partir de 1982, a Clínica Integrada adquiriu o
status de matéria, passando a organizar-se também em forma de disciplina
(ARAÚJO, 2003).
Segundo Bacci, Cardoso e Pasian (2002), a atenção odontológica
configurada em clínicas integradas deve ser um eixo, a espinha dorsal no processo
de formação do aluno e, nunca uma atividade marginalizada, complementar ou
terminal. O paciente ideal para a CI é aquele que apresenta necessidades em no
mínimo três especialidades, de várias complexidades, que podem ser
solucionadas pelos graduandos e por um clínico geral (BORGHI et al., 2008).
A produtividade clínica dos graduandos é de extrema importância para
o processo de planejamento das atividades a serem realizadas nas clínicas e
para a qualificação da assistência prestada (REIS; SANTOS; LELES, 2011).
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
As necessidades típicas destes pacientes são relacionadas à cárie e
edentulismo, resultando em procedimentos característicos da prática generalista.
Hoje fatores como confiança, atualização, competência, humanidade, presteza,
pontualidade, cordialidade, preparo técnico científico e organização do ambiente
de trabalho, são todos referências para a satisfação de um cliente e/ou paciente
que usa um serviço (SANTOS; LACERDA, 1999; RUSSO, 2003).
Em Porto Alegre (RS), Barbisan et al. (1995), realizaram um estudo
sobre o paciente na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul(FO-UFRGS), desde o ingresso no setor de triagem, até o
encaminhamento aos ambulatórios e atendimentos pelos alunos, e sua avaliação
ao final deste processo. A maioria dos pacientes 66.57% atribuiu nota 10 aos
atendimentos recebidos e a média aritmética dos graus atribuídos pelos pacientes
para o atendimento recebido foi de 9.24 numa escala de 0 a 10.
Segundo Almeida e Padilha (2001), em um trabalho realizado na
Disciplina de Clínica Integrada da Universidade Federal da Paraíba (DCI/UFPB),
foi observado que a DCI/UFPB não é capaz de promover saúde bucal nos
pacientes, só atendimento curativo a nível ambulatorial, o que provocou uma
insatisfação nos usuários.
Segundo Wanderley et al.(2002), no estudo da efetividade dos serviços
odontológicos oferecidos pela Disciplina de Clínica Integrada da Universidade
Federal da Paraíba, os autores concluíram que a efetividade foi crítica, com
predomínio da atenção curativa, índice de abandono preocupante e deficiência
no registro dos planejamentos.
2.4 O Ensino Odontológico
O ensino odontológico, historicamente identificado com o modelo
biomédico de entender, explicar e tratar o processo saúde-doença apresenta
algumas características marcadas pela supervalorização: do aspecto individual
sobre o coletivo, da especialização sobre a abordagem clínica generalista, da
tecnologia de ponta sobre as práticas simplificadas, da mercantilização do ato
odontológico, da assistência curativa sobre a prevenção ou promoção de saúde,
da centralização na autoridade do profissional, da concepção estática do
processo-saúde-doença e alienada da sua determinação social.
Apontando o modelo inapropriado de prática e assistência odontológica,
hegemônico no Brasil, como ineficaz, ineficiente, descoordenado, territorialmente
mal distribuído, de baixa cobertura, alta complexidade, caráter mercantilista,
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
monopolista e finalmente, no que se refere ao ensino odontológico, inadequado
no preparo dos recursos humanos, Narvai(2002),destaca essas características
a partir do relatório final dos membros da VII Conferencia Nacional de
Saúde,realizada em Brasília em março de 1980. Embora tenham se passado
mais de duas décadas, muitas dessas críticas ainda permanecem bastante atuais.
Enfocando problema no ensino odontológico, destacamos que o objetivo
do atendimento a pacientes nas clínicas universitárias deve responder à
necessidade de formação e treinamento prático e técnico dos alunos, sem excluir
o ideal ético de suprir as necessidades de saúde e demandas dos usuários que
procuram este tipo de serviço, bem como a formação humanizada e ética dos
profissionais de saúde, conforme recomendado nas Diretrizes Curriculares
Nacionais dos Cursos de Graduação em Odontologia pelo Conselho Nacional
de Educação (2001), que determina como perfil do egresso/profissional:
Cirurgião Dentista, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva,
para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor técnico
e científico. Capacitado ao exercício de atividades referentes à saúde bucal da
população, pautado em princípios éticos, legais e na compreensão da realidade
social, cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atenção para a
transformação da realidade em benefício da sociedade (ALMEIDA, 2003,
p.26).
Defendendo que a ética da responsabilidade deve ser científica e social,
Garrafa (1999) afirma que a bioética concretizou-se a partir de definição de
Potter como: A ciência da sobrevivência e do melhoramento da vida, podendose inserir nesse contexto o atendimento a usuários da clínica nas
universidades.Nesse aspecto, o que historicamente se percebe é a falta de
interesse na produção de trabalhos acadêmicos que avaliem os resultados dessa
relação para a saúde do usuário, a partir de indicadores epidemiológicos e
psicossociais que contemplam não só quantificação da produção dos
procedimentos técnicos odontológicos representados por restaurações, próteses,
tratamento endodônticos e cirurgias, mas também o impacto sobre a saúde dos
usuários e sua satisfação com os resultados alcançados, incluindo, ainda a
concepção crítica do aluno frente à natureza e às consequências técnicas e
éticas dessa relação.
O ensino odontológico em clínica integrada concluindo que a clínica
integrada está consolidando-se nos currículos das instituições de
ensino,estruturadas como disciplinas capazes de incorporar as necessidades
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
dos pacientes em seus objetivos, ressaltando a necessidade de se reavaliar o
papel do ensino clínico dos cursos de odontologia não somente como produtoras
de recursos humanos, mas também como produtoras da saúde dos usuários,
recomendando:"o reforço imediato das atividades preventivas e de promoção
de saúde,bem como o aprofundamento da monitorização dos indicadores de
saúde nos usuários desta disciplina" (PADILHA et al., 2001).
Percebe-se, nessa abordagem, a necessidade de se rever a prática da
disciplina de clínica integrada,que se concretiza a partir do atendimento a usuários
que se sentem como objeto de ensino devido a serem tratados como um caso
de exemplificação para os alunos, sob o aspecto técnico e científico, sem perder
de vista o papel social da prestação desse serviço, revelando o caráter ético da
relação aluno-paciente (MINAS, 2002).
2.5 Concepções de Saúde
As variadas concepções do conceito de saúde, nos diferentes grupos
que compõem a sociedade moderna, são social e historicamente construídas,
apresentando variações de conceitos e também de valores no que se refere à
saúde, incluindo: estética, função, qualidade de vida, tipo de assistência,
promoção e proteção à saúde e ainda a natureza, direitos e deveres da relação
paciente-profissional, que determinam, em última instância, as expectativas dos
usuários e profissionais, nesse caso alunos, frente ao atendimento
odontológico(TIEDMANN; LINHARES; SILVEIRA, 2005; MATOS et al.,
2002).
Nessa mesma perspectiva, podemos analisar a relação estabelecida entre
os alunos de graduação e os usuários da clínica integrada odontológica
universitária, que, embora guarde algumas peculiaridades do ponto de vista
legal, por se tratar de alunos em formação sob a tutela e a responsabilidade do
professor, ainda assim, reproduz o mesmo conjunto de variáveis social e
culturalmente determinadas da relação paciente profissional, configurando-se a
clínica como relevante espaço de reflexão e aprendizado da prática profissional.
3 METODOLOGIA
O trabalho foi caracterizado pelo estudo descritivo realizado com base
no método qualitativo. Esse tipo de pesquisa teve como propósito observar e
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
descrever os aspectos característicos de uma determinada população e avaliou
a satisfação dos pacientes em relação ao atendimento oferecido por serviços
odontológicos de Clínicas Integradas.
O estudo foi desenvolvido dentre o total de pacientes de uma Clínica
Integrada de um Curso de Odontologia de uma faculdade particular em Teresina,
onde foram selecionados 100 usuários, independentemente do gênero, com
idade mínima de 18 anos e já terem sido atendidos no mínimo três vezes.
Para a coleta de dados foi utilizado um questionário baseado em trabalhos
realizados por outros autores, em que se procurou captar a opinião dos pacientes
em relação aos diversos aspectos da assistência recebida e, da relação entre os
usuários, alunos, professores e pessoal de apoio.
O questionário foi aplicado pelos autores do trabalho, na sala de espera
da clínica integrada em um clima de cordialidade, sem forçar a situação, não
fazendo deste instante um episódio constrangedor e nem de caráter obrigatório
para o paciente, que após informado do propósito, o autorizou através do
consentimento livre e esclarecido.
O referido questionário foi aplicado entre os meses de fevereiro e junho
de 2010, e foi composto por dezoito (18) questões, sendo, questões fechadas,
contendo itens sobre a qualidade da estrutura física (conforto, limpeza e
iluminação), organização, atendimento a orientações recebidas pelo professor
e pelo aluno. Portanto, foi avaliado como os pacientes expressaram sua
percepção sobre o atendimento na Clínica Integrada dessa faculdade, os serviços
oferecidos pelos alunos e professores e, ao mesmo tempo, o que revelaram
sobre suas necessidades e expectativas de satisfação.
Os dados coletados foram apurados, analisados e tabelados, utilizandose o programa Microsoft Office Excel.
Este estudo se enquadrou na modalidade de pesquisa de risco mínimo
e, de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, relativa
à pesquisa em seres humanos, se tornou necessária a aprovação desse estudo
pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sob protocolo de nº 332/09. Além disso, tal
procedimento pressupôs a utilização do consentimento livre e esclarecido dos
pacientes, conforme explicitado no capítulo IV da Resolução CSN 196/96
(Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de
Ética em Pesquisa).
90
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com os resultados obtidos, 40 pacientes, o que representa
40% dos resultados obtidos estão trabalhando, 40% relataram estar
desempregados, 20% disseram estar estudando e nenhum dos pacientes
entrevistados relatou estar aposentado.
Em estudo desenvolvido por Araújo (2003), observou-se que a maioria
dos pacientes entrevistados estavam desempregados, 43,5% trabalham e um
percentual mínimo de 2,5% eram aposentados.
EEsse grande percentual de pacientes que relataram estar desempregados
é característico da clientela de Clínicas Integradas das Faculdades de
Odontologia das Instituições de Ensino Superior no Brasil, sendo que pacientes
que trabalham possuem um elevado nível de faltas, pois eles não conseguem
dispensas para frequentarem regularmente os serviços de saúde, problemas
este que dificulta ao aluno a integralização de seus procedimentos em saúde
bucal, além do fato de que indivíduos de classes baixas terem maiores dificuldades
de promoverem saúde e de participarem de campanhas de prevenção e, por
isto, tem maiores prevalência de alterações no seu estado de saúde (ARAÚJO,
2003).
A renda familiar dos pacientes entrevistados na Clínica Integrada do
curso de Odontologia da faculdade particular, com base no salário mínimo: 53
pacientes, que representa 53% dos pacientes entrevistados, afirmaram receber
de um a dois salários mínimos mensais, 15 pacientes (15%) disseram receber
de dois a três salários mínimos mensais, 14 pacientes (14%) relataram não ter
nenhuma renda ou não sabiam, 10% dos entrevistados, que representam 10
pacientes, disseram que tinham renda de três a cinco salários mínimos, quatro
entrevistados (4%) afirmaram receber entre 05 e 10 salários mínimos, o que
também ocorreu nos pacientes que relataram ter uma renda familiar acima de
10 salários mínimos.
Tiedmann, Linhares e Silveira (2005), relataram em seus estudos que
80% dos usuários que procuraram o atendimento em clínica universitária tinham
uma renda familiar de até quatro salários mínimos, dados esses que se assemelham
aos encontrados nesta pesquisa.
De acordo com Barbisan et al. (1995), Leão e Dias (2001),Matos et al.
(2002), os estudos da área de saúde têm demonstrado que os indivíduos das
classes sócias mais baixas são os que apresentam maiores dificuldades para
prevenção e o tratamento de certas doenças, ou por não terem condições de
alterarem as condições sociais e ambientais que as geram, ou porque sua situação
91
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
de classe não lhes permite acesso à práticas curativas.
Com relação à escolaridade, 19% dos pacientes disserem ter o 1º grau
incompleto, 10% afirmaram ter o 1º grau completo, 19% relataram ter o 2º
grau incompleto, 26% relataram ter o 2º grau completo, 18% disseram ter curso
superior incompleto e 8% afirmaram ter concluído o curso superior.
Enquanto ao nível de escolaridade dos pacientes entrevistados,
Tiedmann, Linhares e Silveira (2005) relataram, em seus estudos, que a grande
minoria dos usuários 3,5% obtinha nível superior
Araújo (2003) destacou percentual de 46.5% para pacientes com nível
médio completo e incompleto. Assemelhando-se assim a esse estudo, que
encontrou um percentual de 45% para o mesmo nível de escolaridade dos
pacientes.
Como se pode observar no gráfico 1, 85% dos entrevistados relataram
ter recebido informações sobre a sua necessidade de tratamento, qual tratamento
iria ser realizado, enquanto que 15% dos pacientes disseram não ter recebido
nenhuma informação sobre sua necessidade de tratamento.
Mialhe, Gonçalo e Carvalho (2008) relataram, em seus estudos que
eles apresentaram confiança e segurança na realização do atendimento clínico,
discutindo o plano de tratamento odontológico junto aos usuários e fornecendo
explicações claras sobre os procedimentos realizados, o que também foi
encontrado nesse estudo.
Gráfico 1. Informações sobre a necessidade de tratamento do
paciente. Teresina-PI, 2010
Pode-se observar que enquanto as informações prestadas pelo aluno
em relação à saúde bucal dos pacientes, 76 (76%) pacientes afirmaram ter
recebido informações sobre como realizar uma correta escovação, como ter
uma dieta adequada, flúor ou como evitar a cárie, enquanto que 24 (24%)
relataram não ter recebido nenhuma informação sobre o assunto, dado que se
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
assemelha ao estudo de Araújo (2003), em que 68% dos entrevistados
receberam informações sobre procedimentos preventivos em seu estudo.
Ao avaliar a biossegurança na clínica, 100% dos pacientes entrevistados
disseram que os alunos e professores estavam devidamente uniformizados com
luvas, máscara, gorro e bata. Em estudo semelhante desenvolvido por Mialhe,
Gonçalo e Carvalho (2008), também foi verificado que 100% dos entrevistados
afirmaram que os alunos estavam devidamente uniformizados.
Araújo (2003) relata que, em função dos riscos de contaminação por
doenças infecciosas ao qual estão expostos os profissionais da Odontologia e
os usuários, a utilização de equipamentos de proteção individual vem sendo
colocados em prática, pela grande maioria dos prestadores de saúde.
Foi verificado que 70% dos pacientes entrevistados não relataram sentir
nenhum tipo de dor durante o tratamento, enquanto que 30% dos pacientes
relataram sentir algum tipo de dor durante o tratamento realizado na Clínica
Integrada do curso de Odontologia.
Em trabalho semelhante a esse realizado por Araújo (2003) foi relatado
que a maioria dos entrevistados 66% revelaram não ter sentido dor durante o
tratamento, enquanto que 34% responderam que sentiram algum tipo de dor
durante o tratamento odontológico.
Verificou-se que 57% (57) dos pacientes entrevistados relataram não
sentir nenhum medo durante o tratamento odontológico, enquanto que 29%
(29) disseram sentir medo da anestesia, 6% (6) afirmaram ter medo da broca/
caneta e outros 8% (8) disseram sentir medo de tudo durante o tratamento
odontológico. Nenhum dos pacientes entrevistados relatou ter medo dos
instrumentais utilizados durante o atendimento odontológico.
Em relação ao medo durante o tratamento odontológico Mialhe, Gonçalo
e Carvalho (2008), observaram em seu estudo que a maior parte dos usuários
não sentiu nenhum medo durante o tratamento. O medo do instrumental, da
broca, e outros motivos considerados como causadores de medo aos
entrevistados foram pouco referidos. A anestesia foi considerada pelos
entrevistados como a maior causa de medo do tratamento, assim como se
observou no presente estudo.
Araújo (2003), salientaram que os paciente de baixo poder aquisitivo,
cujo histórico de vida está relacionado a dor e ao sofrimento, associam a dor e
o medo como fatores de insatisfação quando durante o atendimento ocorrem
episódios dolorosos, que naturalmente geram medo no paciente.
De acordo com os dados registrados na Tabela 1, 66% (66) dos
93
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
pacientes entrevistados disseram ter achado ótimo o atendimento prestado pelo
aluno, 26% (26) disse que o atendimento prestado pelo aluno foi bom e 8% (8)
relataram ter sido regular o atendimento prestado pelo aluno. Nenhum paciente
entrevistado afirmou ter achado péssimo o atendimento prestado pelo aluno da
Clínica Integrada do curso de Odontologia da faculdade particular
Tabela 1 - Satisfação dos pacientes atendidos pelos alunos e
professores. Teresina, 2010
No atendimento prestado pelo professor, 60% (60) dos entrevistados
relataram ter achado ótimo o atendimento, enquanto que 40% (40) afirmaram
ter achado bom o atendimento prestado. Nenhum entrevistado afirmou ter achado
regular ou péssimo o atendimento prestado pelo professor da Clínica Integrada
da faculdade particular.
Um alto grau de satisfação dos usuários com o atendimento prestado
pelos alunos e pelos professores na Clínica Integrada foi verificado por Mialhe,
Gonçalo e Carvalho (2008) que relataram em seu estudo que mais da metade
dos usuários considerou o atendimento realizado pelos alunos e professores
como ótimo ou bom, sendo que 77% avaliaram como ótimo o atendimento
prestado pelo aluno. Já em relação ao atendimento prestado pelo professor
67% afirmaram ter achado ótimo.
Avaliando de modo geral, o paciente não possui critérios objetivos que
lhe permitam avaliar a qualidade do tratamento odontológico recebido,
baseando-se assim para seu julgamento em critérios difusos como rapidez,
organização e resolutividade do problema que o afligem (LEÃO; DIAS, 2001).
Dentre os pacientes entrevistados, 92% (92) afirmaram não ter nenhum
tipo de constrangimento ao ser atendido em um local coletivo, enquanto que
94
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
8% (8) afirmaram sentir algum tipo de constrangimento ao ser atendido em um
local coletivo.
Segundo Araújo (2003), o fato de o atendimento ser em um ambiente
coletivo, ao lado de muitas pessoas, não desagradou à maioria dos pacientes
(95%), que afirmaram não se importar com isso.
O motivo que, por parte dos pacientes, fizeram buscar a clínica foi à
indicação de colegas e amigos 41% (41), 35% (35) procuraram a clínica por
não ter dinheiro, 19% (19) relataram ter procurado o atendimento por já ser
conhecido do aluno e 5% (5) por acharem que os alunos tem mais paciência
com os pacientes.
Estudos realizados por Tiedmann, Linhares e Silveira (2005) mostraram
que a grande maioria dos usuários que procuravam o serviço da clínica
universitária o fazia por motivo financeiro, o que representou uma amostra de
39% dentre um número de 54 pacientes ou por indicação de outros usuários,
que representou 28%.
Segundo Minas (2002), os pacientes sentem-se como objetos de ensino,
mas se colocam na situação de submissão, pois necessitam do tratamento e, se
o perderem, não terão condições financeiras para pagar por um mesmo
tratamento de qualidade e sob a supervisão de um professor no serviço privado.
Dentre os pacientes entrevistados, 62% (62) afirmaram ter achado ótimo
o atendimento recebido na Clínica Integrada do curso de odontologia da
faculdade particular e 38% (38) disseram ter achado bom o atendimento
recebido, gerando assim uma satisfação de 100% no atendimento prestado na
clínica.
Dados pesquisados anteriormente por Tiedmann, Linhares e Silveira
(2005) verificaram que também houve uma alta manifestação de satisfação com
o atendimento na clínica universitária, chegando a 98% dentre um número de
54 usuários, considerando ainda o acadêmico atencioso, esclarecedor e educado
segundo os relatos dos usuários entrevistados.
De acordo com Butters e Willis (2000), a satisfação do paciente está
tornando-se indicador cada vez mais importante de qualidade, contudo a maioria
dos levantamentos de satisfação do paciente tem como público alvo apenas os
pacientes atuais da clínica odontológica, o que pode resultar em uma estimativa
aumentada da satisfação com o tratamento, já que os pacientes insatisfeitos já
deixaram a clínica.
95
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
5 CONCLUSÃO
Conclui-se que os pacientes da Clínica Integrada do curso de
Odontologia da faculdade particular estudada estão satisfeitos com o atendimento
prestado por alunos, professores e instituição em geral, pois de acordo com as
perguntas e respostas que indicam qualidade e satisfação dos pacientes, viu-se
que:
• A grande maioria, representada por 70% dos pacientes, relatou não
ter sentido dor alguma durante o tratamento. No quesito medo, a maior parte
dos entrevistados afirmou não ter sentido medo no atendimento prestado pelos
alunos da Clínica Integrada do curso de Odontologia da faculdade particular.
Indicativos estes que geram satisfação nos pacientes atendidos.
• Em relação à satisfação pelo atendimento prestado por alunos e
professores da faculdade particular, 92% dos entrevistados conceituaram como
ótimo ou bom o atendimento oferecido pelos graduandos, enquanto que 100%
afirmaram ter achado ótimo ou bom o serviço prestado pelos professores.
• Quando perguntado se o paciente teria alguma sugestão para melhorar
o atendimento, a maioria dos pacientes informou não ter nenhuma sugestão,
que estava satisfeito com o atendimento da forma como estava.
• No quesito sobre avaliação da satisfação do atendimento recebido na
clínica, 100% dos pacientes entrevistados revelaram ter achado ótimo ou bom
o atendimento oferecido na clínica, e que os mesmos recomendariam a clínica
para outras pessoas.
Apesar dos resultados favoráveis e positivos, deve-se salientar que os
professores responsáveis pela Clínica Integrada do curso de Odontologia da
faculdade particular estudada, jamais deveriam se acomodar em seu saber e
sua dedicação, muito pelo contrário, devem sentir-se responsáveis pelo controle
de qualidade, pelo aprimoramento da própria clínica em seus aspectos
organizacionais, filosóficos, administrativos e técnico-científicos.
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99
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
PERFIL DOS BOLSISTAS PROUNI DE UMA FACULDADE EM
TERESINA
FELLOWS PROFILE PROUNI OF A COLLEGE IN TERESINA
Joice Suane de Carvalho da Silva,
Alba Katharyna Soares¹,
Antonia Osima Lopes2
RESUMO
O Programa Universidade para Todos (ProUni) tem sido avaliado como uma
das mais bem-sucedidas ações do Ministério da Educação, por possibilitar o
ingresso de jovens de baixa renda em instituições de ensino superior (IES)
privadas. Em Teresina todas as IES privadas estão credenciadas junto ao ProUni.
O objetivo geral do estudo foi investigar o perfil dos bolsistas do ProUni de
uma Faculdade em Teresina-PI. Os objetivos específicos foram: identificar os
bolsistas ProUni nas modalidades integral e parcial em todos os cursos da
Faculdade selecionada; caracterizar os bolsistas quanto a origem familiar,
escolarização básica, vida acadêmica atual e expectativas profissionais;
comparar o desempenho acadêmico dos bolsistas dos diferentes cursos; analisar
o desempenho acadêmico dos bolsistas tendo como parâmetro a origem escolar
(escola pública ou privada); revelar as impressões dos bolsistas sobre o ProUni.
O método adotado foi o estudo de caso descritivo, utilizando-se também a
pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental. O questionário foi o instrumento
de coleta de dados junto aos bolsistas, e o histórico escolar foi utilizado para a
coleta de dados sobre o desempenho acadêmico dos participantes. Os resultados
foram tratados através da análise de conteúdo e da estatística descritiva,
revelando que o perfil dos bolsistas ProUni da Faculdade campo do estudo
apresentou as seguintes características: a maioria era originaria de Teresina,
possuía bolsa integral e estudou em escola pública; não houve diferença
significativa no desempenho acadêmico dos bolsistas que estudaram em escola
pública em comparação com aqueles que estudaram em escola privada; a
______________________________
1
Alunas do Curso de Medicina da FACID. Joice Suane foi bolsista do Programa de Iniciação Científica desta mesma IES. Email: [email protected]. Alba foi colaboradora da pesquisa. E-mail: [email protected]
2
Professora da FACID e Coordenadora da Comissão Local de Acompanhamento e Supervisão do ProUni; orientadora da
pesquisa de iniciação científica. E-mail: [email protected]
100
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
maioria revelou que, concluído seu curso de graduação, pretende trabalhar e
continuar estudando. Todos os participantes do estudo revelaram que o ProUni
lhes deu a oportunidade de fazer um curso superior com melhores condições de
infraestrutura acadêmica do que os cursos de uma IES pública. Conclui-se que,
mais do que apresentar um retrato dos bolsistas ProUni de uma Faculdade,
este trabalho aponta para a necessidade de ampliar-se o campo de estudo
sobre o tema, considerando-se que o Programa é uma modalidade de inclusão
e as IES particulares integrando-se ao ProUni estão exercitando sua
responsabilidade social.
Palavras-chave: Universidade para todos. Bolsistas. Vida acadêmica.
Expectativas profissionais
ABSTRACT
The University for All Program (ProUni) has been rated as one of the most
successful actions of the Ministry of Education, by allowing the entry of lowincome youth in institutions of higher education (IHE) private. In Teresina all
private institutions are accredited to ProUni. The problem investigated in this
study was characterized as the profile of the scholarship students ProUni a private
institution of higher education in Teresina-PI. The overall objective of the study
was to investigate the backgrounds of the scholars a Faculty of ProUni in TeresinaPI. The specific objectives were to identify the modalities ProUni stock and part
in all selected courses of the Faculty, scholars characterize as family background,
basic education, life current academic and professional expectations, to compare
the academic performance of the stock of the different courses; analyze the
academic performance of the stock as parameter the origin school (public or
private school); reveal impressions of the fellows on the ProUni. The method
used was a descriptive case study, also using the bibliographic and documental
research. The questionnaire was the instrument to collect data from the fellows,
and the transcript was used to collect data on participants' academic performance.
The results were processed through content analysis and descriptive statistics,
revealing that the profile of the Faculty Fellows ProUni field of study had the
following characteristics: the majority were originally from Teresina, had a full
scholarship and studied in public school, there was no difference significant
academic performance of scholars who studied in public schools compared to
101
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
those who have studied in private schools, revealed that the majority, completed
his undergraduate course, want to work and continue studying. All study
participants revealed that ProUni gave them the opportunity to make a college
with better infrastructure than academic courses in a public HEI. It is concluded
that, rather than presenting a picture of a Faculty Fellows ProUni, this work
points to the need to expand the field of study on the subject, considering that
the program is a form of inclusion and the IES integrating the private ProUni are
exercising their social responsibility.
Keywords: University for all. Fellows. Academic life. Professional expectations
1 INTRODUÇÃO
O Programa Universidade para Todos tem sido avaliado como uma das
mais bem-sucedidas ações do Ministério da Educação, por possibilitar o ingresso
de jovens de baixa renda nas instituições de ensino superior (IES) privadas. A
concessão de bolsas de estudo para estudantes nessas condições tem
oportunizado a milhares de jovens a continuidade de sua escolaridade com
maior possibilidade de sucesso profissional, pela oportunidade de estudarem
em IES privadas, as quais podem dispor de uma infraestrutura melhor aparelhada
do que muitas universidades públicas.
Em Teresina, todas as instituições privadas de ensino superior aderiram
ao ProUni, atraídas pela isenção dos tributos federais indicados na Lei 11.096,
de 13 de janeiro de 2005, que instituiu o Programa (BRASIL, 2005). Como
resultado, um significativo número de jovens de baixa renda está cursando sua
graduação em instituições privadas, cujas mensalidades não poderiam ser pagas,
devido sua condição financeira não permitir. O que estes estudantes pensam
deste beneficio que estão usufruindo? Que dificuldades eles vivenciam como
bolsista ProUni na instituição em que estudam ?
As respostas para estas e outras questões têm sido assunto de conversas
entre os próprios bolsistas e professores que lidam com esta clientela nas salas
de aula. O estudo ora relatado buscou produzir elementos que revelassem as
principais características acadêmicas dos bolsistas ProUni de uma Faculdade
em Teresina, tornando-se uma contribuição à discussão sobre os benefícios do
ProUni. O problema investigado foi focado na caracterização do perfil dos
alunos bolsistas do ProUni de uma instituição privada de ensino superior em
102
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Teresina-PI.
O objetivo geral do estudo foi investigar o perfil dos alunos bolsistas do
ProUni de uma Faculdade em Teresina-PI, tendo como objetivos específicos:
identificar os bolsistas ProUni nas modalidades integral e parcial em todos os
cursos da Faculdade selecionada; caracterizar os bolsistas quanto a origem
familiar, escolarização básica, vida acadêmica atual e expectativas profissionais;
comparar o desempenho acadêmico dos bolsistas dos diferentes cursos; analisar
o desempenho acadêmico dos bolsistas tendo como parâmetro a origem escolar
(escola pública ou privada); revelar as impressões dos bolsistas sobre o ProUni.
1.1O Programa Universidade para Todos
O Programa Universidade para Todos, mais identificado pela sigla ProUni,
é conduzido pelo Ministério da Educação (MEC) como umas das ações das
políticas e programas de graduação da educação superior. Tem como finalidade
a concessão de bolsas de estudos integrais e parciais a estudantes de baixa
renda, em cursos de graduação e sequenciais de formação específica de
instituições privadas de educação superior. Para as instituições que se credenciam
no Programa a contrapartida é a isenção de quatro tributos federais: Imposto
de Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ); Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido (CSLL); Contribuição Social para Financiamento da Seguridade Social
(COFINS) e Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) ,
conforme estabeleceu a Leis noº 11.096/2005 (Brasil, 2005).
De acordo com dados do site do ProUni, no seu primeiro processo
seletivo, realizado no primeiro semestre de 2005, o Programa ofereceu 112 mil
bolsas em 1.142 instituições de ensino superior privadas de todo o País (BRASIL,
2010). Para o Ministério da Educação, ao reservar vagas para jovens de baixa
renda, incluindo afrodescendentes, indígenas e pessoas com deficiência, o ProUni
caracteriza-se como um importante mecanismo de inclusão social, estabelecendo
oportunidades para vencer as desigualdades no País (ibid.).
O Manual de orientação ao bolsista ProUni informa que a bolsa de
estudo é um benefício concedido na forma de desconto parcial ou integral sobre
os valores cobrados pelas instituições de ensino privadas e se refere à totalidade
das semestralidades ou anuidades escolares (BRASIL, 2011). A bolsa é um
benefício concedido ao estudante pelo Governo Federal e não está condicionada
a nenhuma forma de restituição monetária ao governo, ou seja, concluído o
curso o bolsista não fica devendo nada aos cofres públicos.
103
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
O artigo 2º da Lei nº 11.096/2005 (BRASIL, 2005), estabelece que a
bolsa será destinada a candidatos nas seguintes situações:
I - estudante que tenha cursado o ensino médio completo em escola da
rede pública ou em instituições privadas na condição de bolsista integral;
II - estudante portador de deficiência, nos termos da lei;
III - professor da rede pública de ensino, para os cursos de licenciatura,
normal superior e pedagogia, destinados à formação do magistério da educação
básica, independentemente da renda a que se referem os § 1º e 2º do art. 1º
desta Lei.
A Lei estabelece também que a manutenção da bolsa pelo beneficiário,
observado o prazo máximo para a conclusão do curso, dependerá do
cumprimento de requisitos de desempenho acadêmico, estabelecidos em normas
expedidas pelo Ministério da Educação. Define ainda que o estudante a ser
beneficiado pelo Prouni será pré-selecionado pelos resultados e pelo perfil
socioeconômico do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM.
O ProUni também possui ações de incentivos à permanência dos bolsistas
nas IES, sendo uma delas a bolsa permanência, que é uma remuneração mensal
em dinheiro concedida a estudantes com bolsa integral, em cursos que possuam
alta carga de horas de trabalhos acadêmicos, como por exemplo, o Curso de
Medicina. Outro incentivo destina-se aos bolsistas parciais, que podem utilizarse do Programa de Financiamento FIES para financiar integralmente a outra
parte da mensalidade de seu curso não coberta pelo ProUni.
De acordo com informações do site do ProUni, no ano 2010 o Programa
chegou ao quantitativo de 400 mil bolsas de estudos oferecidas em todo o
Brasil. Para o MEC a implementação do ProUni, somada à criação de novas
universidades federais, amplia significativamente o número de vagas na educação
superior, interioriza a educação pública e gratuita e combate as desigualdades
regionais.
1.2 Os Estudos sobre Perfil
As pesquisas sobre perfil, em geral, buscam identificar características
de uma determinada população para fins específicos. As pesquisas sobre perfil
de estudantes, por exemplo, em geral de iniciativa de determinada instituição de
ensino, buscam identificar características gerais e específicas desta população
com objetivo de subsidiar políticas e programas de melhor atendimento de sua
clientela.
104
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Os estudos desenvolvidos pelo Fórum Nacional de Pró-Reitores de
Assuntos Comunitários e Estudantis (FONAPRACE, 2003) e pela Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO, 2005) resultaram em um
abrangente estudo dos estudantes das universidades federais, desvendando suas
características pessoais, informações sobre a família, os antecedentes escolares,
a vida acadêmica atual, informações do curso e expectativa profissional,
informações culturais, informações sobre saúde e atividades físico-esportivas.
Também a Universidade Estadual de Londrina, no Paraná, desenvolveu
um estudo semelhante ao das universidades federais visando "conhecer a
realidade socioeconômica e cultural dos estudantes de graduação da Universidade
Estadual de Londrina - PR, dimensionando os reais níveis de carência e traçando
um perfil dos estudantes da UEL" (FINATTI, 2005, p. 1).
Nas universidades públicas os estudos de levantamento de perfil de
estudantes representam uma importante contribuição para a definição de políticas
e programas de assistência a esta população. Também têm sido utilizados por
pesquisadores de outras instituições de ensino superior como importante
mecanismo de conhecimento de determinadas características de seus alunos,
com vistas ao planejamento de ações de atenção a este segmento da comunidade
acadêmica.
Estudos em outras áreas, como o de Reis e Ramos (2001), discutem
que para cada nova geração que ingressa no mercado de trabalho brasileiro, o
nível médio de escolaridade é normalmente bastante superior em relação aos
pais desses mesmos indivíduos. Daí o aumento da demanda de filhos de famílias
de baixa renda que buscam o ensino superior, almejando melhorar suas condições
de vidas em relação a de seus pais. Os dados deste estudo mostraram que
trabalhadores com pais mais escolarizados têm um nível médio de escolaridade
bem mais alto do que os indivíduos com pais pouco educados e têm mais chance
no mercado de trabalho, com empregos melhores e salários maiores.
2 METODOLOGIA
2.1 Métodos de Pesquisa
Foi utilizado o estudo de caso descritivo, cujo objeto de estudo foi
investigado em uma só instituição de ensino. Este tipo de estudo requer análise
profunda do objeto, permitindo um conhecimento detalhado de seus elementos.
Foram utilizadas ainda a pesquisa bibliográfica, para a busca das
105
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
informações que construíram a fundamentação teórica do estudo, e a pesquisa
documental, para a análise dos dados de desempenho acadêmico dos
participantes.
2.2 Cenário e Participantes do Estudo
O cenário da pesquisa foi uma Faculdade em Teresina-PI que possui
bolsistas ProUni, desde a implantação desse programa, no 1º semestre de
2005. O critério de seleção dessa Faculdade foi a facilidade de acesso aos
bolsistas devido as pesquisadoras também aí estudarem.
Na Faculdade são oferecidos os cursos de graduação em Direito,
Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Odontologia, Psicologia, e
Sistemas de Informação, todos com bolsistas ProUni.
A amostra definida foi de 80% dos bolsistas, selecionados pelo critério
de facilidade de acesso no âmbito da Faculdade, tendo-se o cuidado de garantir
a representatividade de todos os cursos de graduação. Na definição da amostra
foram excluídos os bolsistas que estavam com matrícula trancada no primeiro
semestre de 2011.
A opção de definir a amostra de 80% está relacionada com os estudos
de perfil analisados, que recomendam a inclusão de toda a população que
constitui o grupo a ser analisado, com vistas a apresentar dados mais fidedignos
na construção da caracterização do perfil dos sujeitos (FINATTI, 2005;
FONAPRACE, 2003; UNIRIO, 2005). Na Faculdade selecionada, de acordo
com dados de março de 2011, o total de bolsistas era de 269 (duzentos e
sessenta e nove) sujeitos.
2.3 Coleta e Análise dos Dados
Os dados foram coletados através de um questionário, elaborado com
base nos objetivos do estudo e do histórico escolar dos bolsistas da amostra.
Os bolsistas foram identificados através de lista nominal por curso, fornecida
pela Coordenação do ProUni da Faculdade. A seleção da amostra se deu de
forma aleatória, pelo procedimento de sorteio a partir da lista de bolsistas por
curso, que era numerada. De cada curso selecionou-se 80% dos bolsistas.
O questionário foi aplicado em duas fases. A primeira foi durante a
assinatura da renovação das bolsas, em abril de 2011, quando a abordagem
dos bolsistas ocorria no momento em que iam assinar o termo de atualização de
106
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
sua bolsa. Nesta fase atingiu-se apenas 44% do total de bolsistas. Foi
diagnosticado que o não alcance da amostra se deu pela impossibilidade das
pesquisadoras ficarem durante os três turnos na sala onde os bolsistas
compareciam para a assinatura do termo de atualização da bolsa. Este
comparecimento era de acordo com a vontade do bolsista e assim a presença
deles foi muito aleatória. Aqueles que compareciam no momento em que uma
das pesquisadoras estava na sala, eram convidados a participarem do estudo e,
ao concordarem, eram solicitados a ler e assinar o termo de Consentimento
Livre e Esclarecido, em duas vias, ficando uma com a pesquisadora e outra
com o bolsista.
Posteriormente à devolução do questionário respondido, era feita a
marcação na lista de bolsistas de quem já tinha respondido; a identificação dos
bolsistas nesta situação era feita pela via do TCLE que ficava com as
pesquisadoras, uma vez que no questionário o bolsista não ficava identificado
pelo nome, somente pelo curso.
A segunda fase de aplicação do questionário não estava prevista no
projeto, mas foi necessária para a complementação da amostra e ocorreu de
maio a julho do mesmo ano. Nesta fase o questionário foi aplicado nos intervalos
das aulas, quando os bolsistas eram identificados e convidados a participarem
do estudo. Os procedimentos éticos foram idênticos aos da aplicação na primeira
fase.
A organização dos dados descritivos do questionário se deu através da
definição de categorias, utilizando-se a técnica de análise de conteúdo, na
modalidade análise temática, descrita por Bardin (2009). Os dados quantitativos
do questionário e dos históricos escolares foram analisados através de estatística
descritiva, aplicando-se o teste ANOVA e o teste T, gerando-se tabelas e
gráficos.
2.4 Procedimentos Éticos
Para a realização da pesquisa foram cumpridos todos os requisitos da
ética em pesquisa definidos pela Resolução CNS nº 196/1996 que estabelece
diretrizes e normas para as pesquisas envolvendo seres humanos (BRASIL,
1996).
O projeto foi submetido previamente ao Comitê de Ética em Pesquisa
107
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
da Faculdade Integral Diferencial (FACID), aguardando-se sua aprovação para
iniciar-se a coleta dos dados. A aprovação da pesquisa se deu através do Parecer
CEP/FACID com protocolo nº 335/2010.
Ao aceitarem participar do estudo, os bolsistas ProUni recebiam o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido, que descrevia os objetivos da pesquisa,
os procedimentos de coleta dos dados, a garantia do sigilo das informações e
anonimato dos participantes e seus direitos. Após a assinatura do Termo,
recebiam o questionário com as devidas explicações, sendo agendada a sua
devolução para o dia seguinte.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Perfil Geral dos Bolsistas
Do total de bolsistas da amostra 53,3% eram do gênero masculino, o
que mostra no cômputo geral uma predominância de homens em relação às
mulheres bolsistas do ProUni na Faculdade campo do estudo. No entanto, na
análise por curso, em Direito e em Psicologia, a predominância foi do gênero
feminino. Em relação à idade, a maioria dos bolsistas (79,2%) estava na faixa
de 20 a 29 anos. Sobre o estado civil os dados revelaram que 91,7%
permaneciam solteiros. No deslocamento entre a residência e a Faculdade,
79,2% indicaram utilizar o ônibus coletivo como meio de transporte.
Estes dados gerais coincidem em parte com os encontrados por Finatti
(2005) e FONAPRACE (2003), que se diferenciam em relação aos dados
relativos ao curso de Direito em que houve predominância do gênero masculino
nesses dois estudos.
Em relação ao tipo de bolsa ProUni, a maioria dos bolsistas participantes
do estudo indicou ter bolsa integral, o que possibilita na conclusão de seu curso
de graduação sem as despesas com as mensalidades. Nos cursos de
Odontologia, Psicologia e Sistemas de Informação todos os bolsistas informaram
ter este tipo de bolsa (Figura 1).
De acordo com informações da Coordenação do ProUni da Faculdade
campo do estudo, na adesão ao Programa, em dezembro de 2004, a opção foi
pela oferta de bolsas integrais e bolsas parciais de 50%. No primeiro processo
seletivo de bolsistas, ocorrido no primeiro semestre letivo de 2005 e até o
segundo semestre de 2006, as bolsas disponibilizadas eram nestas duas
modalidades. A partir do primeiro semestre de 2007 a Faculdade mudou a
108
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opção e passou a oferecer somente bolsas integrais. No entanto, podia receber
bolsas parciais através de transferências de bolsistas de outras Faculdades, daí
a predominância de bolsas integrais em todos os cursos contrastando com
baixos percentuais de bolsas parciais, conforme mostra a Figura 1.
Figura 1 - Modalidades de bolsas dos participantes do estudo
Fonte: dados da pesquisa (2011).
As normas do ProUni estabelecem que as bolsas são dirigidas a egressos
do ensino médio que estudaram em escolas públicas ou em escolas privadas na
condição de bolsista integral. Outra exigência é que a renda familiar per capita
seja de até um salário mínimo e meio para a concessão de bolsa integral e até de
três salários mínimos para a bolsa parcial (BRASIL, 2011). Tendo por base
estes requisitos, a pesquisa buscou identificar a origem familiar e a escolarização
básica destes bolsistas, cujos dados estão apresentados nas Figuras 2, 3 e 4.
109
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Figura 2 - Origem familiar dos bolsistas
Fonte: dados da pesquisa (2011).
Os dados revelaram que os bolsistas eram predominantemente do Piauí,
incluindo Teresina e outras cidades, mas que também muitos eram de outros
Estados. Identificou-se que aqueles originários de outras cidades do Piauí
moravam em casa de parentes em Teresina. Os bolsistas de outros Estados
informaram morar em pensões, casas ou apartamentos alugados, juntos com
colegas bolsistas ou não. Os Estados identificados foram Ceará, Maranhão e
Pará.
Ainda para caracterizar a origem familiar dos bolsistas buscou-se
identificar o nível de escolaridade dos pais, chegando-se aos dados apresentados
na Figura 3.
110
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Figura 3 - Nível de escolaridade dos pais
Fonte: dados da pesquisa (2011).
Os dados revelaram que os pais, mesmo com uma renda familiar de um
salário mínimo e meio, o que ocorria na maioria, predominantemente chegaram
a concluir o ensino médio. Alguns até concluindo um curso de graduação e de
pós-graduação, com índices mais altos entre as mães. Estes dados são
semelhantes ao estudo de Reis e Ramos (2011) que comparou a escolaridade
dos pais de trabalhadores, comprovando que o nível de educação dos pais tem
influência direta sobre os rendimentos dos filhos no mercado de trabalho, quando
estes superam a escolaridade de seus genitores. No estudo ora relatado supõese que os pais estimularam seus filhos a fazerem um curso de graduação em
uma instituição de ensino superior privada, utilizando o benefício do ProUni,
para assim obterem um bom nível de escolaridade e posteriormente uma boa
colocação no mercado de trabalho.
Um outro dado relacionado com a origem dos bolsistas foi o ensino
médio completo em escola da rede pública ou em instituições privadas na
111
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
condição de bolsista integral. Os resultados apresentados na Figura 4 mostram
que predominantemente os bolsistas são de escola pública, o que os relaciona
com o grupo familiar de baixa renda, como exigem as normas do ProUni. Também
nos estudos de Finatti (2005) e da UNIRIO (2005) houve uma predominância
de alunos egressos de escolas públicas nas IES pesquisadas.
Figura 4 - Tipo de escola no ensino médio
Fonte: dados da pesquisa (2011).
No perfil geral dos bolsistas também se buscou-se identificar as
características de sua vida acadêmica sendo verificado se participavam de
atividades de monitoria, extensão, pesquisa e estágio não obrigatório. Os
resultados mostraram que uma minoria tinha esta participação, sendo que em
quatro cursos nenhum dos bolsistas participou de qualquer uma das opções de
atividades apresentadas, conforme mostra a Figura 5.
112
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Figura 5 - Participação em atividades acadêmicas
Fonte: dados da pesquisa (2011).
Estes resultados mostram que a Faculdade necessita fazer uma melhor
divulgação junto aos bolsistas ProUni da importância destas atividades a fim de
que haja um engajamento efetivo destes estudantes em atividades acadêmicas
que vão enriquecer e ampliar seus conhecimentos durante a graduação. A
monitoria, a extensão, a pesquisa e o estágio não obrigatório, são atividades
que complementam a formação do aluno fora da sala de aula e constituem-se
em componentes curriculares obrigatórios, o que significa que o bolsista deverá
apresentar o certificado de participação em, pelo menos, uma destas atividades
para concluir sua graduação.
3.2 Desempenho Acadêmico
Na categoria desempenho acadêmico uma característica investigada foi
se haveria diferença significativa entre o desempenho de bolsistas que cursaram
o ensino médio em escola pública ou em escola privada. Os resultados indicaram
113
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
que não houve diferença significativa nesta categoria, conforme mostram as
Figuras 6 e 7.
Figura 6 - Desempenho acadêmico dos bolsistas oriundos de escola
privada
Fonte: dados da pesquisa (2011)
Figura 7 - Desempenho acadêmico dos bolsistas oriundos de escola
pública.
Fonte: dados da pesquisa (2011).
114
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Resultados semelhantes foram encontrados por Finatti (2005) em seu
estudo sobre o perfil socioeconômico e cultural dos estudantes da Universidade
Estadual de Londrina-PR (UEL), para os cursos de Direito, Enfermagem,
Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Odontologia e Psicologia. Ressalte-se que
na UEL não há curso de Sistemas de Informação, daí não ter-se obtido dados
deste curso para comparação dos resultados.
Como apresentado nas Figuras 6 e 7, em seis dos oito cursos estudados
não se constatou diferença significativa no desempenho de bolsistas oriundos
de escola particular. Assim foi possível verificar que, nesta clientela, o fato da
maioria ter cursado o ensino médio em escola pública, esta situação não interferiu
em seu desempenho no curso de graduação. Estes resultados podem contribuir
para a discussão da ideia de que a escola pública não oferece um ensino de má
qualidade, conforme o difundido pelo senso comum.
3.3 Expectativas Profissionais
Quanto às expectativas dos bolsistas após a conclusão de seu curso,
outra característica do perfil dos bolsistas que se buscou investigar, os resultados
foram muito positivos uma vez que mais de 90% indicaram que pretendem
trabalhar após a conclusão de seu curso e, destes, 50% pretendem continuar
estudando mesmo já empregados (Tabela 1).
Tabela 1 - Expectativas dos bolsistas após a conclusão do curso de
graduação
Expectativas
1 Trabalhar e continuar estudando
2 Trabalhar na área
3 Continuar estudando
4 Trabalhar em qualquer área
5 Outras
Total
Fonte:dados
Dadosdadapesquisa
pesquisa(2011)
(2011).
Fonte:
115
%
50,0
43,2
5,9
0,7
0,2
100,0
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Entre as respostas identificadas como "outras" na Tabela 1, foram
encontradas: "fazer concurso", "ser professor de ensino superior", "ter um bom
emprego". Considera-se um resultado significativo nesta categoria o fato de
que metade dos participantes indicou que, após concluir a graduação, pretende
continuar estudando. Acredita-se que este é um indicador de que as expectativas
profissionais desses sujeitos estão voltadas para a ampliação dos conhecimentos
acadêmicos e para o crescimento profissional.
Ressalte-se que estes dados não puderam ser confrontados com os de
outros autores devido não se ter encontrado estudos que abordassem
expectativas profissionais de estudantes de graduação.
3.4 Impressões dos Bolsistas sobre o ProUni
Outra informação buscada para caracterizar o perfil dos bolsistas do
ProUni foi as impressões destes estudantes sobre o Programa Universidade
para Todos. Os dados desta categoria foram analisados por curso, tendo sido
constatada grande semelhança entre as respostas mais prevalentes. Devido esta
semelhança de respostas entre os cursos, apresenta-se na Tabela 2 os resultados
gerais desta categoria.
Tabela 2 - Impressões dos bolsistas sobre o ProUni
Impressões
1 Muito válido porque dá oportunidade à pessoas pobres de
concluir um curso superior
2 Dá oportunidade ao jovem pobre de competir no mercado de
trabalho em igualdade de condições com os ricos.
3 É importante para os pobres porque as universidades públicas
oferecem poucas vagas
4 Não responderam
Total
Fonte:dados
Dadosdadapesquisa
pesquisa(2011)
(2011).
Fonte:
116
%
73,8
20,0
4,1
2,6
100,0
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Nestas respostas, foi possível perceber que os participantes deste estudo
consideram o ProUni um programa que tem trazido benefícios para as pessoas
de baixa renda que passar a poder ter acesso ao ensino superior privado. A
concessão de bolsas de estudo a esses estudantes, desde a criação do Programa
em 2005, tem oferecido oportunidade a milhares de jovens de ampliarem os
seus conhecimentos e as chances de sucesso profissional no mundo do trabalho
(BRASIL, 2011).
Ressalte-se que estes dados não puderam ser confrontados com os de
outros autores devido não ter-se encontrado outros estudos sobre bolsistas do
ProUni.
4 CONCLUSÃO
Finalizado o estudo e se verificando-se os objetivos propostos,
constatou-se que a maioria dos bolsistas possuía bolsa integral; era oriundo de
escola pública; nasceu em Teresina; demonstrou pretensão de trabalhar e
continuar estudando.
Conclui-se que, mais do que apresentar um retrato dos bolsistas ProUni
de uma Faculdade, o presente trabalho aponta para a necessidade de ampliarse o campo de estudo sobre o tema, considerando-se que o Programa é uma
modalidade de inclusão social e as IES particulares, integrando-se ao ProUni,
estão exercitando sua responsabilidade social.
REFERÊNCIAS
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70, 2009.
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www.estacio.br/ prouni/pdf/manual_bolsista_prouni.pdf. Acesso em: 15, mai.
2011.
BRASIL. Ministério da Educação; Programa Universidade para Todos.
Processo seletivo 2005. Disponível em: http://siteprouni.gov.br. Acesso em:
15mai.2010
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
BRASIL. Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005. Institui o Programa
Universidade para Todos - PROUNI, regula a atuação de entidades beneficentes
de assistência social no ensino superior; altera a Lei no 10.891, de 9 de julho de
2004, e dá outras providências.
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de 1996. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres
humanos. Brasília, 1996.
FINATTI, B. E. O perfil sócio-econômico e cultural dos estudantes da
Universidade Estadual de Londrina-PR. 2005. Disponível em: www.uel.br.
Acesso em: 08 ago. 2010.
FONAPRACE (Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e
Estudantis). Pesquisa do perfil sócio-econômico e cultural do estudante
de graduação das IFES brasileiras. 2003. Disponível em:
www.fonaprace.org.br. Acesso em: 08 ago.2010.
REIS, M. C.; RAMOS, L. Escolaridade dos pais, desempenho no mercado
de trabalho e desigualdade de rendimentos. Revista Brasileira de Economia,
Rio de Janeiro, v.65, n.2, p. 177-205, abr./jun. 2001. Disponível em:
www.scielo.br. Acesso em: 05 dez. 2011.
UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro). Pesquisa do
perfil sócio-econômico e cultural do estudante da UNIRIO. 2005.
Disponível em: www.fonaprace.org.br. Acesso em: 08 ago.2010.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
ERITROPOETINA E NÚMERO DE ANTI-HIPERTENSIVOS EM
PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA EM
HEMODIÁLISE
ERYTHROPOIETIN AND NUMBER OF ANTIHYPERTENSIVE IN
PATIENTS WITH CHRONIC RENAL FAILURE ON
HEMODIALYSIS
Nayane Piauilino Benvindo Ferreira¹,
Antônio Gonçalves Rodrigues Júnior²
RESUMO
A anemia é complicação comum em pacientes com doença renal crônica,
principalmente os submetidos à terapia de substituição renal como a hemodiálise.
O uso de eritropoetina recombinante humana tem sido muito importante no
manejo da anemia desses pacientes. A hipertensão arterial é complicação citada
com o uso de eritropoetina. A terapia anti-hipertensiva reduz o risco de doença
cardiovascular e retarda a progressão da lesão dos néfrons ao melhorar a
hipertensão e hipertrofia intraglomerulares. Objetivou-se associar dose de
eritropoetina e número de drogas anti-hipertensivas usadas por pacientes com
insuficiência renal crônica em hemodiálise. Através dos prontuários e entrevistas
com cada paciente de duas clínicas especializadas em hemodiálise (localizadas
em Floriano-PI e Teresina-PI), foram coletados dados sobre o número de antihipertensivos, dose de eritropoetina, presença de função residual e hematócrito.
Participaram da pesquisa 308 pacientes obtendo uma fraca correlação positiva
entre dose de eritropoetina e número de anti-hipertensivos na clínica de FlorianoPI (Rxv=0,10) e na clínica de Teresina-PI (Rxv=0,22). Concluindo-se que
altas doses de eritropoetina são associadas a um moderado aumento do número
de drogas anti-hipertensivas usadas por pacientes com insuficiência renal crônica
em hemodiálise.
Palavras-chaves: Doença renal. Hipertensão arterial. Anemia. Hematócrito.
___ ____ ____ ____ __
¹Acadêmica do curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial - FACID • email: [email protected]
Rua Desembargador João Pereira, 120, Apto 404, Santa Isabel • CEP 64055-100 Teresina-PI • Fone: (86) 99530202.
²Médico, especialista em nefrologia, professor do curso de graduação em Medicina da Faculdade Integral Diferencial FACID • email: [email protected] • Rua Angélica, 1651, Apto. 800, Jóckei Clube • CEP 64048-162 Teresina-PI
Fone: (86) 99304321.
119
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
ABSTRACT
Anemia is common complication of chronic kidney disease patients, particularty
those undergoing renal replacement therapy such as hemodialysis. The use of
recombinant human erytropoietin has been very important in the management of
anemia in these patients. Hypertension is complication refered to with the use of
erythropoietin. The antihypertensive therapy reduces the risk of cardiovascular
diseases and slow the progression of nephron injury by improving intraglomerular
hypertension and hypertrophy. The objective was to involve erythropoietin doses
and number of antihypertensive drugs used by patients with chronic renal failure
in hemodialysis. Through records and interviews with each patient two clinics
specializing in hemodialysis (located in Floriano-PI e Teresina-PI), data were
collected on the number of antihypertensive drugs, erythropoietin doses, presence
of residual function and hematocrit. 308 patients partipated in the survey obtaneid
a weak positive correlação between erythropoietin doses and number of
antihypertensive in clinical Floriano-PI (Rxy = 0,10) and clinical Teresina-PI
(Rxy = 0,22). Concluding higher doses of erythropoietin are associated with a
moderate increase in the number of antihypertensive drugs used by patients with
chronic renal failure undergoing hemodialysis.
Key-works: Kidney disease. Hypertension. Anemia. Hemtocrit.
1 INTRODUÇÃO
Independentemente da doença de base, os principais desfechos em
pacientes com doença renal crônica (DRC) são as suas complicações
decorrentes da perda funcional renal (anemia, acidose metabólica, alteração do
metabolismo mineral e desnutrição), doença renal terminal e óbito,
principalmente, por causas cardiovasculares (BASTOS; BREGMAN;
KIRSZTAIN, 2010).
A DRC é um estado inflamatório. Os níveis de proteína C reativa
aumentam à medida que os pacientes perdem função renal. Este estado
inflamatório está associado à presença de anemia (ABENSUR, 2010).
A anemia da DRC, quando não complicada por fatores associados, é
tipicamente normocítica e normocrômica (GUALANDRO, 2000). No paciente
renal crônico a presença de anemia está relacionada com alterações
cardiovasculares (aumento de débito cardíaco, hipertrofia ventricular, angina e
120
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
insuficiência cardíaca), disfunção cognitiva, neuromuscular, sexual e da resposta
imune, aumenta a fadiga, diminui a capacidade de trabalho, a tolerância ao
exercício, o apetite, a libido e altera o sono. Este conjunto de achados clínicos
tem um impacto desfavorável na qualidade de vida desses pacientes
(CANZIANI, 2000). A presença de hipertrofia de ventrículo esquerdo constitui
importante fator independente de risco cardiovascular para os pacientes com
DRC, representando o principal predito de morte cardiovascular (ARAÚJO et
al, 2011).
À semelhança do que ocorre nas demais condições clínicas, a anemia
na insuficiência renal crônica (IRC) depende de três vertentes fisiopatológicas:
perda de sangue, destruição aumentada das hemácias e redução da eritropoiese.
O mecanismo preponderante para seu aparecimento e manutenção é a
eritropoiese diminuída, ocasionada, principalmente, pela deficiência relativa de
eritropoetina (LUGON, 2000).
A deficiência de eritropoetina (EPO) no contexto da IRC pode ser
causada por dois mecanismos diferentes: a capacidade de produção dos rins é
diminuída devido ao dano renal causado pela doença subjacente e ou o set
point para a produção de EPO é reduzido em relação à oxigenação dos tecidos
(FEHR et al, 2004).
As causas de resposta inadequada à reposição de eritropoetina são:
deficiência de ferro (causa mais comum de resposta incompleta), processos
infecciosos ou inflamatórios, perda crônica de sangue, intoxicação por alumínio,
hemoglobinopatias, deficiência de folato ou vitamina B12, mieloma múltiplo,
desnutrição e hemólise (YI ZHANG, 2004).
Está indicado que o hematócrito atinja o valor entre 33% a 36% e a
hemoglobina entre 11-12g/dl, pois esses valores estão associados à maior
sobrevida dos pacientes em hemodiálise, diminuição da hipertrofia ventricular,
melhoria da qualidade de vida e da capacidade de exercício (ABENSUR;
ALVES, 2000).
É descrita elevação de 10 mmHg ou mais em 30% dos pacientes que
usam eritropoetina. Os possíveis mecanismos identificados em estudos
experimentais e clínicos são aumento da viscosidade sanguínea, da reatividade
vascular, da disfunção endotelial e ação vasoconstrictora direta (RODRIGUES
JÚNIOR et al., 2006).
O tratamento da hipertensão arterial induzida pela eritropoetina deve
ser realizado com a redução do peso seco real, diminuição da dose de
eritropoetina ou interrupção do tratamento, e depois reintrodução com a menor
121
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
dosagem possível e iniciação ou aumento da medicação anti-hipertensiva, de
preferência com os bloqueadores do canal de cálcio (KISS; FARSANG;
RODICIO, 2005).
O estudo visou determinar a associação entre as doses de eritropoetina
e o número de anti-hipertensivos usados por pacientes com insuficiência renal
crônica em hemodiálise. Por acreditar-se que o uso de eritropoetina, necessário
em pacientes com DRC avançada, determina aumento dos níveis de pressão
arterial em parte da população em hemodiálise, necessitando o uso de maior
quantidade de drogas anti-hipertensivas para evitar a ocorrência de eventos
cardiovasculares desfavoráveis.
2 METODOLOGIA
O estudo teve caráter observacional, transversal e descritivo de
abordagem quantitativa. O protocolo de pesquisa foi submetido à análise do
Comitê de Ética em Pesquisa - CEP / FACID, protocolo nº 565/10, de acordo
com a Resolução CNS 196/96(BRASIL, 1990) tendo recebido parecer
favorável quanto à sua execução. Aos pacientes concordantes da participação
na pesquisa foi solicitada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
Dentro de um universo de 378 pacientes submetidos à terapia renal
substitutiva por hemodiálise, a amostra de 308 pacientes foi inclusa no estudo
por se enquadrarem nos critérios de inclusão da pesquisa tais como: idade maior
ou igual a 18 anos, estar em tratamento dialítico há mais de três meses e em uso
de eritropoetina há pelo menos 1 (um) mês.
Foram analisados os prontuários de 186 pacientes de uma unidade de
terapia renal em Floriano-PI, e busca ativa de prontuários e entrevista com 122
pacientes em unidade de terapia renal de Teresina-PI, totalizando 308
participantes, com idade maior ou igual a 18 anos, de ambos os gêneros, que
estavam em tratamento dialítico há mais de três meses, durante o período de um
mês (abril/maio de 2011). Na abordagem inicial, o paciente era esclarecido
quanto à finalidade, aos objetivos e aos procedimentos do estudo. Uma vez
concordante da participação, era solicitada a assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
Os parâmetros avaliados nesta pesquisa foram dose de eritropoetina,
número de medicações anti-hipertensivas, presença de diurese residual e valor
de hematócrito. Não foi utilizado o valor de hemoglobina para avaliar o grau de
anemia como preconizado na literatura (ALVES; GORDAN, 2007) porque
122
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
não era disponibilizado por uma das clínicas.
A unidade representativa de dose de eritropoetina apresentada nos
gráficos e tabelas devido a fins didáticos foi de ampolas/mês, no qual 01 ampola
= 4000UI. A via de administração da eritropoetina em ambas as clínicas era a
endovenosa.
A análise dos dados foi realizada através da estatística descritiva onde
foram calculados medidas, indicadores e percentuais na base 100. Os resultados
são apresentados através de gráficos e tabelas que para tanto se fez uso do
programa Excel 2007 (SPSS 12.0). Para o cálculo da correlação foi utilizado o
índice de correlação de Pearson. Também foram determinadas as médias, com
os respectivos desvios padrão, dos valores das variáveis estudadas.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste estudo, a maioria dos 308 pacientes fazia uso de 4000UI de
eritropoetina três vezes por semana o que corresponde a 12 ampolas/mês (Figura
1). Segundo Sesso et al., (2008), 83% dos pacientes em hemodiálise no Brasil
fazem uso de eritropoetina.
Figura 1: Dose de eritropoetina em ampolas por mês, administrada
por via endovenosa nas clínicas de Floriano e Teresina, 2011
Fonte: dados da pesquisa (2011)
123
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
A definição da dose de eritropoetina a ser utilizada por cada paciente foi
definida com base no grau de anemia, que, por sua vez, foi avaliado através do
nível de hematócrito. Na prática, hematócrito (ou preferencialmente hemoglobina)
é o indicador clínico mais comumente usado para guiar o tratamento com
eritropoetina (YI ZHANG et al, 2004).
Figura 2 - Comparação entre níveis de hematócrito, presença de
função residual renal e número de anti-hipertensivos dos pacientes
com insuficiência renal crônica em hemodiálise das clínicas de
Floriano e de Teresina, 2011
Fonte: dados da pesquisa (2011)
Em ambas as clínicas a maioria dos pacientes apresentou hematócrito
inferior a 33% o que corrobora com Yi Zhang et al (2004) quando afirmaram
que a anemia é uma complicação comum e previsível da doença renal terminal,
especialmente, nos pacientes em terapia de hemodiálise.
Ao aplicar o índice de correlação de Pearson entre nível de hematócrio
e dose de eritropoetina, foi obtida uma moderada correlação negativa em ambas
as clínicas, com resultado de Rxy = - 0,37 em Floriano e Rxy = - 0,41 em
Teresina, indicando que o aumento da dose de eritropoetina provocou uma
124
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
diminuição do grau de anemia, traduzido laboratorialmente por um aumento do
nível de hematócrito, concordando com Ofsthun et al (2003) que afirmaram
que a introdução de eritropoetina recombinante humana para o tratamento da
anemia na doença renal crônica promoveu a oportunidade para corrigir a anemia
desses pacientes.
A hipertensão é uma complicação reconhecida do tratamento da anemia
com eritropoetina em pacientes em hemodiálise (RODRIGUES JÚNIOR et al,
2006). Neste estudo, a quantidade de drogas anti-hipertensivas foi maior na
Clínica de Floriano, onde a variação do número utilizado de anti-hipertensivos
foi de zero a seis (média de 2,7 ±1,36) enquanto que em Teresina a variação foi
de zero a quatro (média de 1,1± 0,99) (Figura 2).
Ao associar-se dose de eritropoetina com número de anti-hipertensivos,
foram obtidos os seguintes resultados: Rxy = 0,10 (na Clínica de Floriano) o
que indica haver uma fraca correlação positiva, ou seja, o aumento na dose de
eritropoetina provoca um pequeno acréscimo/aumento na quantidade de drogas
anti-hipertensivas entre os pacientes atendidos na Clínica de Floriano. Na Clínica
de Teresina o resultado foi de Rxy = 0,22 o que indica haver uma fraca/moderada
correlação positiva, ou seja, o aumento na dose de eritropoetina provoca um
moderado acréscimo/aumento na quantidade de drogas anti-hipertensivas entre
os pacientes frequenta na Clínica de Teresina. Tal resultado apresenta-se em
desacordo com Rodrigues Júnior et al (2006) que afirmaram em seu estudo
com uso de eritropoetina (EPO) por via subcutânea, não foi observada relação
entre dose deste hormônio e pressão arterial à monitoramento ambulatorial da
pressão arterial (MAPA) de 44 horas; bem como entre dose de EPO e número
de classes de anti-hipertensivos. O hematócrito também não se correlacionou
com essas duas variáveis. Estes resultados divergentes podem ser explicados
devido à diferença na via de administração da EPO.
Outro parâmetro avaliado neste estudo foi a presença de função residual
renal (volume urinário > 300ml/24 horas). Em ambas as clínicas o resultado
prevalente foi de ausência de função residual renal, ou seja, a maioria dos
pacientes urinava uma quantidade inferior a 300 ml nas 24 horas. Araújo et al
(2011) concluíram que a ausência de diurese residual pode contribuir para os
valores mais altos de resistência periférica e estado hipervolêmico, mostrando
que a diurese de baixo volume coexiste com altos valores de resistência periférica.
As razões para a perda da diurese residual podem ser explicadas pelas alterações
relacionadas à doença de base que causou a DRC ou pelo processo inflamatório
contínuo, anemia e comorbidades associadas. Neste estudo, a avaliação da
125
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
função residual renal foi necessária para verificar se tal parâmetro influenciava
quantidade de anti-hipertensivos utilizados pelos pacientes. como em ambas as
clínicas os valores encontrados foram semelhantes, verificou-se que este
parâmetro não interferiu na quantidade de drogas anti-hipertensivas
Figura 3 - Médias dos níveis de hematócrito (Ht), dose de
eritropoetina (EPO) e número de anti-hipertensivos dos pacientes com
insuficiência renal crônica em hemodiálise da clínica de Floriano e de
Teresina, 2011
Fonte: dados da pesquisa (2011)
Realizando o teste de significância das médias, chegou-se a conclusão
de que havia diferença significativa entre as médias de hematócrito, dose de
eritropoetina e anti-hipertensivos das clínicas de Floriano e Teresina(Figura 3).
Ou seja, com uma margem de erro inferior a 1% o teste indica que
estatisticamente a média de hematócrito dos pacientes da clínica de Teresina é
superior à média dos pacientes da clínica de Floriano e a média de dose de
eritropoetina e consumo de anti-hipertensivos presentes nos pacientes integrantes
da clínica de Floriano é superior à dos pacientes que integram a clínica de
Teresina. Estes dados permitem se inferir que neste estudo o menor nível de
hematócrito correlacionou-se com o uso de maiores doses de eritropoetina,
que por sua vez acarretou o uso de mais drogas anti-hipertesivas.
126
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
4 CONCLUSÃO
Os resultados do estudo permitem concluir que há uma fraca correlação
positiva entre dose de eritropoetina e número de anti-hipertensivos, ou seja, o
aumento na dose de eritropoetina associa-se a moderado acréscimo/aumento
na quantidade de drogas anti-hipertensivas.
Baseado nestes resultados observa-se que o adequado controle da
pressão arterial em pacientes que usam doses maiores de eritropoetina para
corrigir a anemia é uma ferramenta importante no manejo clínico desses pacientes,
pois visa contribuir para uma maior expectativa de vida dos mesmos.
REFERÊNCIAS
ABENSUR, H.; ALVES, M. A. R. Diretrizes da sociedade brasileira de
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
PERCEPÇÃO DA CLIENTE GESTANTE SOBRE O EXAME
PREVENTIVO DE CÂNCER CÉRVICO-UTERINO
CUSTOMER PERCEPTION OF PREGNANT WOMEN ABOUT
THE SCREENING TEST FOR CERVICAL CANCER
Laurice Alves dos Santos¹,
Gustavo de Moura Leão²
RESUMO
O estudo teve como objetivo geral compreender a percepção da cliente gestante
frente à realização do exame preventivo do câncer de colo do útero. Os dados
foram obtidos através de uma entrevista semiestruturada gravada com mp4
com quinze gestantes de uma Unidade de Saúde da Família de Teresina-PI. Na
análise das entrevistas, a maioria das respostas apontou que as gestantes acham
que a o exame de Papanicolaou não compromete o feto; para elas, se o exame
é pedido na consulta de pré-natal é porque não traz nenhum prejuízo para a
gravidez. Portanto, elas se sentem seguras quanto ao profissional que irá realizar
o exame pelo fato de já conhecerem o trabalho da equipe de saúde daquela
unidade e que, apesar de sentirem medo, vergonha, dor e constrangimento, isto
não foi impedimento para que elas não procurassem fazê-lo, pois na verdade o
que elas mais desejavam era saber se tinham alguma irregularidade na gestação
que pudesse prejudicar a sua saúde e a do bebê.
Palavras-chave: Câncer de Colo do Útero. Gestantes. Exame de
Papanicolaou.
ABSTRACT
The study aimed to understand the general perception of the client pregnant
before the completion of screening for cancer of the cervix, the data were obtained
through a semi - structured recorded with mp4 fifteen pregnant women in a
_________________________
¹ Aluna de graduação (8°período) do Curso de Enfermagem da Faculdade Integral Diferencial-FACID
Email: [email protected]
² Professor do Curso de Enfermagem da FACID, Especialista em Enfermagem
Email: [email protected]
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Health Unit Family Teresina-PI. In the analysis of the interviews was a surprise,
even knowing why he is asked to cytology during pregnancy, the majority of
responses indicated that pregnant women find that the Pap smear does not
compromise the fetus, for them if the test is requested in the query prenatal care
is because they do not bring any harm to the pregnancy. Therefore, they feel
safe on the professional conducting the examination because they already know
the work of the health team that unit and that in spite of feeling fear, shame, pain
and embarrassment this has not been an impediment to what they do not seek it
because in fact what they wanted most was to know if there were any irregularities
during pregnancy that could harm your health and the baby.
Keywords: Cervical Cancer. Pregnant women.Papsmear.
1 INTRODUÇÃO
O câncer de colo uterino é tido como afecção progressiva e é
caracterizado por alterações intraepiteliais cervicais que podem se desenvolver
para um estágio invasivo ao longo de uma ou duas décadas. Possuindo etapas
bem definidas e de lenta evolução, o câncer de colo de útero pode ser
interrompido a partir de um diagnóstico precoce e de um tratamento oportuno
a custos reduzidos (THUM et al., 2008).
O câncer cervical é o terceiro tipo de câncer mais comum entre as
mulheres, sendo responsável por cerca de 9% de todos os novos casos de
câncer invasivo no mundo todo. A incidência por câncer de colo de útero tornase evidente na faixa etária de 20 a 29 anos e o risco aumenta rapidamente até
atingir seu pico, geralmente na faixa etária de 45 a 49 anos, sendo que a maioria
dos casos novos ocorre em países em desenvolvimento onde, em algumas
regiões, é o câncer mais comum entre as mulheres (SILVEIRA; CRUZ; FARIA,
2008a).
Muitos fatores orbitam em torno do câncer e influenciam direta ou
indiretamente para instalação deste mecanismo no epitélio escamoso cervical.
Entre eles estão fatores imunológicos (resposta imune local e humoral),
comportamento sexual, idade, infecções genitais causadas por agentes
sexualmente transmissíveis (Chlamydia e Herpes) e pelo papilomavírus humano
(HPV), gravidez, paridade, uso de contraceptivos orais por muito tempo,
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
tabagismo, imunodeficiências, desnutrição e outras (SILVEIRA et al., 2008b).
A principal estratégia para detecção precoce/rastreamento do câncer
do colo do útero é a realização da coleta de material para exames citopatológicos
cérvico-vaginal e microflora conhecido popularmente como exame preventivo
do colo do útero (Brasil, 2006). Esse exame deve ser realizado em mulheres de
25 a 60 anos de idade, uma vez por ano e, após dois exames anuais consecutivos
negativos, a cada três anos.
Este câncer é o mais comum dentre os cânceres associados à gravidez,
uma vez que a gestação gera um desequilíbrio na flora vaginal, favorecendo o
desenvolvimento tanto do HPV, quanto de outros agentes infecciosos, porém a
incidência não é alterada pela gestação. Ocorre que este câncer tem alta
incidência de detecção na gravidez, devido à procura destas mulheres aos
serviços de saúde para a realização do pré-natal (NOVAIS; LAGANÁ, 2009).
A maior ocorrência de papilomavírus humano em gestantes é devido
aos níveis aumentados dos hormônios esteroidais. Os elementos virais podem
ativar a replicação do HPV o que resultaria na progressão mais rápida de uma
lesão intra-epitelial ao carcinoma epidermóide. Durante a gestação ocorreria a
expressão clínica máxima da infecção genital por esse vírus, com rápida regressão
durante o puerpério (SILVEIRA; CRUZ; FARIA, 2008a).
O câncer cérvico-uterino, devido à sua alta prevalência nas mulheres,
como também nas gestantes, é um problema de saúde pública e os profissionais
de saúde, principalmente, o enfermeiro, devem estar aptos a desencadearem
ações de promoção, prevenção e controle do câncer do colo do útero para
garantir condições de vida e saúde de qualidade. Além disso, o atendimento da
mulher gestante no pré-natal é um momento especial e nele devem ser asseguradas
as ações e as atividades de promoção e de proteção tanto da saúde da mulher,
quanto da saúde do seu filho (YASSOYAMA; SALOMÃO; VICENTINI,
2005).
Diante do exposto, definiu-se como problema de pesquisa: qual a
percepção da cliente gestante sobre a realização do exame de citologia oncótica?
Bem como as seguintes questões norteadoras: o que representa para as gestantes
a realização do exame de prevenção de câncer de colo uterino e qual a
importância da realização da citologia oncótica para as gestantes?
Diante desse contexto, que o desenvolvimento desse estudo tem
relevância para a diminuição do número de casos de câncer de colo do útero na
gravidez enfatizando a importância da conscientização das mulheres a realizar
periodicamente o exame preventivo com vista a tornar precoce o rastreamento
131
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
do câncer cérvico-uterino, pois as mulheres gestantes só darão importância à
prevenção desse câncer se elas compreenderem a necessidade e importância
de realizá-la.
Nesta perspectiva, o presente estudo teve como objetivo geral:
compreender a percepção da cliente gestante frente à realização do exame
preventivo do câncer de colo do útero; e específicos: identificar com qual
periodicidade as gestantes realizavam o exame citológico; avaliar o conhecimento
das gestantes sobre a importância da realização do exame citológico; identificar
as expectativas da gestante quanto à realização do exame de citologia oncótica;
compreender os sentimentos da cliente gestante frente à realização do exame
citológico.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de uma pesquisa de caráter descritivo com abordagem
qualitativa. O cenário da pesquisa foi uma Unidade de Saúde da Família situada
na zona Norte de Teresina-PI, onde foram realizadas as entrevistas com mulheres
gestantes da instituição avaliada, com o intuito de compreender a sua percepção
acerca da realização do exame preventivo de câncer de colo do útero.
A pesquisa foi efetivada após a aprovação da Fundação Municipal de
Saúde (FMS) que através de um MEMO CAA/Nº 030/2011 autorizou o
desenvolvimento do estudo e do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da FACID
no qual o projeto foi protocolado o número 429/10, tendo sido aprovado no
dia 01/04/2011. Os aspectos éticos também compreenderam a assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) por parte dos sujeitos da
pesquisa ao aceitarem participar do estudo, sabendo que a eles foi confiado o
direito de sigilo absoluto de identidade, desligando-se do estudo a qualquer
momento, obedecendo às normatizações da Comissão Nacional de Ética em
Pesquisa - CONEP, presentes na Resolução do CNS 196/96 que permite a
pesquisa envolvendo seres humanos (Brasil, 1996).
Os sujeitos do estudo foram quinze gestantes que realizaram o prénatal, exame citológico, que estiveram nas datas da coleta de dados no cenário
de pesquisa e que aceitaram participar da entrevista. Assim, foram excluídas
mulheres não gestantes, gestantes que não realizam o pré-natal e exame citológico
nos cenários de pesquisa, gestantes de outras Unidades de Saúde da Família
que não sejam a especificada.
Os dados foram coletados através de uma entrevista semiestruturada
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gravada com mp4, um aparelho de áudio, e usado para gravação de voz. Na
entrevista havia um roteiro de questões fechadas relativas à ocupação, à
escolaridade, ao estado civil e ao número de gestações, bem como cinco questões
abertas que suscitaram a fala das gestantes a respeito da percepção delas sobre
a realização do exame citológico na gestação. A coleta de dados foi realizada
durante o período de abril a julho de 2011. As falas, após transcrição, foram
lidas, relidas e separadas em categorias por similaridade semântica. Desta forma,
emergiram três categorias: periodicidade do exame citológico; importância da
realização do exame de Papanicolaou na gestação; sentimentos e expectativas
das gestantes em relação ao exame de Papanicolaou. As categorias oriundas
das falas dos sujeitos foram interpretadas à luz do referencial existente sobre o
tema.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Caracterização dos Sujeitos
O número de sujeitos entrevistados foi quinze gestantes que estavam na
Unidade de Saúde da Família para a realização da citologia oncótica. Quanto à
ocupação, cinco eram estudantes, oito estavam desempregadas, 1estava
trabalhando como doméstica, uma era dona do lar.
Quanto à escolaridade, cinco estavam cursando o ensino fundamental,
sete haviam concluído o ensino médio, duas cursaram até o 1º ano do ensino
médio e uma até o 2º ano do ensino médio; em relação ao estado civil, cinco
eram solteiras e dez eram casadas. Das entrevistadas, doze informaram estavam
na primeira gestação e as demais tiveram mais de uma gestação.
3.2 Categorias Analíticas
3.2.1 Periodicidade do exame citológico
Esta categoria informa a periodicidade com que essas mulheres
realizaram o exame de Papanicolaou. As gestantes foram perguntadas quanto à
realização do exame preventivo de câncer do colo do útero, ou seja, a pergunta
foi direcionada a saber se elas faziam este exame anualmente. Constatou-se
diante das falas que das quinze mulheres entrevistadas, seis garantiram realizar
o exame anualmente com a consciência da importância de fazê-lo para a
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prevenção e preservação da saúde, demonstrando ainda mais preocupação e
interesse durante a gestação para evitarem complicações na gravidez.
Desde que menstruei minha mãe fala sempre pra eu vir fazer a
prevenção para evitar inflamações e saber se não tem nenhum
problema com meu útero (Depoente 01).
Sempre quando posso venho fazer a prevenção por que tenho medo
de câncer, mioma, ter que tirar o útero (Depoente 02).
Das entrevistadas, nove não realizaram o exame de Papanicolaou
regularmente e afirmaram só procurarem o serviço de saúde quando estavam
com alguma manifestação ginecológica como corrimentos, dor, coceira,
inflamações, ciclo menstrual desregulado, dentre outras.
Só vinha fazer quando sentia dor no pé da barriga ou quando minha
menstruação não vinha certo (Depoente 07).
Já vim fazer porque tava com corrimento e já pensei logo que tinha
alguma doença, aí procurei a enfermeira e ela me disse pra vim fazer
(Depoente 08).
Das mulheres que não realizaram o exame anualmente, três nunca fizeram
a citologia oncótica. Quando perguntadas o motivo da não realização do exame
as três gestantes responderam que o medo do resultado e a vergonha as
impediram de procurarem a unidade básica de saúde para realizar a citologia.
Nunca fiz a prevenção por medo do que poderia dar. Sei que é errado,
mas a gente sempre fica pensando se a gente não tem alguma doença,
aí sempre adiamos (Depoente 13).
Minha mãe sempre pediu pra eu vir fazer, ela me diz que pode dar
câncer, inflamação, mas sempre deixo pra depois, vai que dá alguma
doença, fico com medo, por isso nunca quis fazer (Depoente 15).
A prevalência de infecção pelo HPV em mulheres grávidas é relevante,
mas similar àquela encontrada em mulheres não gestantes (SILVEIRA et al.,
2008b). Assim é importante também que a gestante realize esse exame durante
o pré-natal evitando complicações para ela e garantindo proteção para a saúde
do seu filho.
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3.2.2 Importância da realização do exame de papanicolaou na gestação
Esta categoria revelou o conhecimento das gestantes em relação à
importância de se realizar a citologia oncótica durante o pré-natal como uma
forma de prevenir o câncer do colo do útero, evitando sérias complicações
para o período gestacional. Assim, as mulheres foram convidadas a responder
se elas achavam importante realizar este exame mesmo estando grávida. Porém,
era de se esperar que as mesmas ao menos conhecessem a importância de
realizar e a finalidade do exame de Papanicolaou, mesmo antes de engravidar.
Todas as gestantes indicavam ser importante fazer o exame citológico,
embora onze relacionaram a importância de realizá-lo ao fato do mesmo ser
solicitado na consulta de pré-natal, como forma de excluir alguma anormalidade
na gestação, mas só realizaram o exame sob pedido da equipe de saúde que as
acompanha ou atribuíram o significado à identificação de doenças ou prevenir
outras como DST/AIDS. As falas abaixo constatam essa realidade.
Me disseram que era bom eu fazer pra ver se eu não tinha nada no
meu útero que pudesse levar para a criança (Depoente 03).
É um exame bom para se prevenir doenças como câncer, AIDS
(Depoente 06)
Disseram que durante a gravidez era bom vir fazer, o médico disse
que era rotina, não sei bem para o que é, mas pelo o que o povo diz é
pra ver se não tem câncer, AIDS, pra prevenir doenças (Depoente
07).
Sim, faz parte do acompanhamento do pré-natal, o médico pediu.
Importante pra saber de doenças. (Depoente 13).
Percebeu-se com as respostas dadas que todas as entrevistadas
consideraram importante realizar o exame de citologia oncótica estando grávidas,
pois afirmaram que este exame vai prevenir muitas doenças relacionadas ao
útero, como o câncer ou outras doenças sexualmente transmissíveis. Apenas
três gestantes referiram-se exclusivamente ao câncer do colo do útero.
Acho muito importante fazer a prevenção, pois nos prevenimos do
câncer no útero, sei disso porque já trabalhei como assistente de
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ginecologista e sei que estando grávida posso ter mais risco de ter
(Depoente 02).
Acho importante sim, porque da mesma forma que posso pegar
doença não estando grávida, grávida posso também. E se dizem que
é importante pra saber se tá tudo bem comigo, é bom fazer, porque se
Deus me livre, eu tiver alguma doença no útero, câncer, já previne
para não passar pro bebê (Depoente 04).
Diante das falas observou-se que mesmo não atribuindo a realização do
exame citológico apenas à prevenção do câncer do colo do útero e sim a uma
forma geral de prevenção, as gestantes entrevistadas se preocupavam também
com o próprio corpo e com a gravidez. Mesmo que só procurem o serviço de
saúde quando obrigadas, elas demonstraram expectativas de descobrirem alguma
doença e a mesma poder trazer prejuízo para a gestação ou afetar sua saúde.
As mulheres demonstraram não saber que a gravidez é um fator de risco
para o desenvolvimento do HPV, tornando-a propícia a desenvolver o câncer
do colo do útero. Apesar da frequência da infecção genital do HPV durante a
gravidez não ser bem conhecida, parece ser maior que a população em geral.
Foi demonstrado que, durante a gestação, as células parabasais possuem
receptores para estrógeno-negativo e progesterona-positivo, sendo que essas
células estão em intensa atividade proliferativa. Consequentemente, com altas
taxas de DNA que é substrato essencial para a proliferação celular. A conjunção
de todos esses fatores acarreta o aumento das lesões HPV induzidas durante a
gestação (QUEIROZ; CANO; ZAIA, 2007).
3.2.3 Sentimentos e expectativas das gestantes em relação ao exame de
Papa Nicolaou
Quando perguntadas sobre seus sentimentos quanto à realização do
exame citológico, seis gestantes demonstraram medo e quatro referiramse à
vergonha como dificuldades de se realizar o exame preventivo. O medo está
relacionado com o resultado do exame, do profissional detectar alguma
anormalidade que possa afetar o período da gestação; a vergonha relaciona-se
ao desconforto da posição ginecológica e da exposição da genitália, todavia
reconhecem que é inevitável fazê-lo, pois acham importante como meio de
detecção de doenças e do câncer do colo do útero.
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Tenho medo de ter alguma doença que possa passar pro meu filho,
mas tem que vim fazer pra ver se não tem [...] É um exame desagradável,
dá vergonha (Depoente 03).
Tenho medo de dá alguma coisa quando ela ver meu útero ou alguma
coisa com o bebê (Depoente 04).
Não gosto de fazer esse exame por vergonha de tirar a roupa, mas é
o jeito fazer (Depoente 06).
Dentre a gestantes que relataram vergonha, duas acrescentaram que
além dos motivos expostos acima se sentem constrangidas quando é um
profissional do sexo masculino que realiza o exame. A dor e o incômodo que
gera o procedimento do exame também foram referidos por duas gestantes,
quando estavam na expectativa para realizar o exame preventivo de câncer do
colo do útero.
[...] não gosto de fazer este exame porque dói muito, mas é o jeito [...]
(Depoente 08).
Toda vez que venho fazer sinto dor, aquilo incomoda de mais
(Depoente 09).
Fico constrangida quando é homem que faz (Depoente 07).
Eu só faço o exame se for com mulher, tenho vergonha (Depoente
10).
A vergonha é a não aceitação decorrente do processo psicológico de
ser apanhado em flagrante e fora dos padrões aceitos e valorizados pela
sociedade. A presença do outro, insinuada como testemunha, fiscal, juiz,
avaliador, é determinante para sentir vergonha. (THUM et al., 2008).
Em relação à forma como o exame é realizado, três gestantes afirmaram
não sentirem nada como dor ou vergonha e relataram estarem habituadas com
o exame, pois costumam realizá-lo frequentemente, mas demonstraram medo
com o resultado, preocupação com sua saúde e a da criança.
Já me acostumei, nem sinto mais nada, tenho medo é do que pode
dar, fico preocupada com a gravidez (Depoente 01).
Se é recomendado a gestante vir fazer, nem fico com medo de
137
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fazer(Depoente 02).
A gente sempre fica pensando no que pode dar, vim fazer sem medo,
só temo de poder ter alguma coisa que possa prejudicar a mim e a
minha gravidez (Depoente 12).
Percebeu-se também que além do medo, vergonha e dor quanto à
realização do exame preventivo, todas as mulheres esperavam serem bem
atendidas pelo profissional de saúde que iria realizar o exame, bem como atenção,
interação, explicações e que este seja apto a ter um relacionamento amigável.
Apontaram ainda que dessa forma seriam amenizadas tais expectativas, uma
vez que o profissional estaria estabelecendo um vínculo de confiança com as
clientes e as mesmas ficariam mais seguras, bem como mais à vontade para
realizar o exame.
Assim, poderiam ficar mais tranquilas e a consulta ginecológica se tornaria
menos tensa.
[...] gosto quando eles explicam tudo, fico mais segura e tranquila
para fazer o exame (Depoente 06).
[...] espero ser bem atendida, que a pessoa trate a gente bem e tire
nossas dúvidas (Depoente 14).
[...] a gente sempre espera ser bem consultada (Depoente 15).
Cabe ao profissional, especialmente ao enfermeiro, estabelecer um
vínculo de confiança com estas mulheres, buscando compreender seus anseios
e sentimentos para assim planejar uma forma eficaz de atendimento de acordo
com a cultura e sexualidade de cada mulher (PRIMO; BOM; SILVA, 2008).
Esta categoria mostrou também que dez gestantes não acharam que o
exame de Papanicolaou compromete o feto; para elas, se o exame é solicitado
durante o pré-natal é porque não tem risco nenhum para o bebê, pois o
profissional que irá fazer a citologia está preparado para realizá-lo de maneira
correta sem afetar a gestação. Para elas não importava como era feito o exame,
estavam ali porque se preocupavam com o bom andamento da gravidez, bem
como sua saúde, e se o profissional estava fazendo frequentemente este exame
é porque estava preparado para fazê-lo de forma correta.
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Não. Esse exame, todas as mulheres tem que fazer, se eles querem
que a gente faça gestante é porque não vai prejudicar o bebê
(Depoente 09).
Não, se é pedido no pré-natal é porque toda gestante tem que fazer,
acho que não tem nada haver (Depoente 11).
Porém, cinco gestantes acharam que o exame citológico pode chegar a
tocar no bebê, já que o exame é feito para colher material do colo do útero ou
se o profissional introduzir demais o espéculo.
Ah! Depende de como eles vão fazer, se o ferro que colocam for
muito, pode machucar o bebê (Depoente 05).
Não sei. Se o exame é no útero deve sim (Depoente 13).
Não sei, porque nunca fiz, mas acho que pode sim, se mexer muito
com o aparelho que colocam [...] (Depoente 15).
Através das falas ficou claro que as gestantes não sabem realmente como
é realizado o exame preventivo de câncer do colo do útero durante o período
gestacional, por isso acharam que o exame pode comprometer o feto. Foi
observado também que elas não foram informadas sobre como é realizado
realmente este exame, assim criaram essa falsa expectativa. Porém, isto não foi
motivo para que elas não fossem ao serviço de saúde para realizarem a citologia;
na verdade pôde-se observar que elas confiavam no profissional, já que
frequentavam a Unidade de Saúde e conheciam o trabalho da equipe de saúde
daquele local.
Quando foram perguntadas se elas gostariam de ter mais informações
sobre o exame de Papanicolaou na gestação, catorze gestantes responderam
que sim, pois desejavam saber como é realizada de fato a citologia na gestação,
se compromete ou não o feto, já que haviam sido informadas naquele momento
que o exame citológico é diferente do exame de uma mulher que não está grávida.
Desejavam também saber melhor a importância da prevenção do câncer do
colo do útero na gestação. Só uma gestante disse não querer mais informações,
estava apressada para resolver alguns compromissos.
Sim, pra ter certeza se compromete ou não o bebê, como é feito
realmente, a importância (Depoente 04).
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Sim, sobre esta maneira de realizar o exame na gestante (Depoente
12).
Quero sim, não entendo muito como é feito e pra que serve, só vim
porque por causa do pré-natal (Depoente 15).
Notou-se também que as mulheres, apesar de não saberem mais
explicações sobre este exame, isto não foi impedimento para elas irem fazer,
pois na verdade o que elas mais desejavam era saber se tinham alguma
irregularidade na gestação. No entanto, segundo elas, se o profissional que
fosse realizá-lo oferecesse mais informações acerca da citologia, as mesmas
compreenderiam mais como é realizado o exame preventivo, assim ficariam
com menos vergonha, menos tensas e não criariam expectativas falsas, como a
de comprometer o feto, pois já iam sabendo que o exame é seguro e que não
traz prejuízos para si e nem para o bebê.
Pela análise dos relatos ficou evidente que faltam mais explicações que
poderiam ser dadas pelos profissionais na consulta quando solicitarem a citologia
oncótica, explicando como é realizado este exame durante a gestação. Sendo
bem orientadas as gestantes saberão melhor como se prevenir do câncer do
colo do útero e como é realizado o exame citológico, retornando ao serviço de
saúde depois da gestação para fazê-lo periodicamente.
As mulheres precisam receber orientações sobre a coleta do exame,
tais como: no que consiste a sua realização, finalidade, importância de fazê-lo
periodicamente, apresentar os materiais utilizados, esclarecimentos sobre a
posição da mulher no momento da coleta, a população alvo e informações
sobre o resultado do exame. Acredita-se que os profissionais, tantas vezes
representados pelos enfermeiros, possam interagir melhor com a mulher,
individualizar a assistência e estabelecer um vínculo de confiança que garanta
seu retorno à unidade (FELICIANO; CHRISTEN; VELHO, 2010).
4 CONCLUSÃO
A elaboração deste estudo permitiu conhecer as mulheres, em especial
as gestantes que realizam o exame citológico, e compreender a percepção que
elas têm sobre a prevenção do câncer do colo do útero, bem como o
conhecimento das gestantes sobre a importância de fazer este exame durante o
pré-natal e suas expectativas quanto à realização da citologia.
Ao analisar a periodicidade em que as gestantes realizavam o exame de
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Papanicolaou, constatou-se que a maioria não realiza regularmente este exame
e só procura realizá-lo quando identifica alguma manifestação ginecológica, como
corrimentos, dor, inflamações.
Finalmente, pela análise de todas as categorias, concluiu-se que, embora
no início do estudo se pensasse que a maioria das respostas seria que o exame
de Papanicolaou comprometeria o feto, a maioria das respostas apontou que
não, o que se percebeu então, que as gestante sentem-se seguras com o
profissional que irá realizar o exame e que apesar de sentirem medo, vergonha,
dor e constrangimento isto não foi impedimento para que elas não procurassem
fazê-lo, pois na verdade o que elas mais desejavam era saber se tinham alguma
irregularidade na gestação. Porém, não descartaram que se o profissional
oferecesse mais explicações sobre este exame todos os anseios seriam
amenizados e assim se sentiriam mais seguras e à vontade para fazer o exame
preventivo.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Saúde. Controle de cânceres do colo do útero e da
mama. Caderno de atenção básica, Brasília (DF), n.13. 2006.
BRASIL. Conselho Nacional da Saúde. Resolução nº 196, de 10 de outubro
de 1996. Diretrises e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres
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142
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
RELAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E
INTERNAÇÕES EM CRIANÇAS DE ATÉ DOIS ANOS
RELATION BETWEENBREASTFEEDINGAND
HOSPITALIZATIONIN CHILDRENUNDER TWO YEARS
Rejane Andrade Neves1,
Mayanni Fernandes da Silva1,
Maria do Socorro Sousa Alves Barbosa2
RESUMO
A amamentação tem repercussões no estado nutricional, imunidade,
funcionamento e desenvolvimento da criança. A OMS recomenda aleitamento
materno exclusivo durante os seis primeiros meses de vida e complementar até
os dois anos ou mais. A não adesão a esta recomendação pode trazer prejuízos
ao desenvolvimento da criança levando a maior número de internações. Esta
pesquisa do tipo corte transversal teve como objetivo descrever a correlação
entre o tempo de aleitamento materno e o número de internações em crianças
de até dois anos em hospitais públicos de Teresina (PI). Sua população foi
composta por crianças com até dois anos de idade internadas em hospitais da
rede municipal de Teresina. A coleta de dados foi realizada através de entrevistas
com as mães ou responsáveis pelas crianças, que após serem esclarecidas acerca
da pesquisa aceitaram participar e assinaram o Termo de Consentimento Livre
Esclarecido. Após coleta, os dados foram submetidos à análise estatística
descritiva através do software estatístico SPSS 17.0. Crianças que não
receberam AME, conforme a recomendação da OMS, hospitalizaram-se mais
quando comparadas àquelas que receberam AME adequado, entretanto a
correlação entre o tempo de aleitamento materno e o número de internações foi
fraca estatisticamente.
Palavras- chave: Lactação. Hospitalização. Lactente.
_____________________
¹Acadêmicas do curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial- FACID (10º período), participantes
do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PIBIC/FACID. Teresina- PI. E-mail/ telefone:
[email protected]/ (86) 9943-6718 e [email protected]/ (86) 9432 4423
2
Professora do curso de Medicina da FACID, médica especialista em ginecologia e obstetrícia. TeresinaPI. [email protected]
143
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
ABSTRACT
Breastfeeding has an impact on nutritional status, immunity, functioning and
development of children. The WHO recommends exclusive breastfeeding during
the first six months of life and complementary to the two years or more. Failure
to adhere to this recommendation may hinder the child's development leading to
more admissions. This is a cross-sectional survey that aimed to describe the
correlation between duration of breastfeeding and the number of hospitalizations
in children under two years in public hospitals in Teresina (PI). Its population
consists of children under two years of age admitted to hospitals in the city of
Teresina. Data collection was conducted through interviews with mothers or
other caregivers, who after being informed about the survey and agreed to
participate signed a consent form. After collection, the data were analyzed using
descriptive statistical software SPSS 17.0. Children who did not receive AME
as recommended by WHO hospitalized more when compared to those receiving
AME appropriate, however the correlation between duration of breastfeeding
and the number of hospitalizations was statistically weak.
Keywords: Lactation. Hospitalization. Infant.
1 INTRODUÇÃO
Amamentar é mais que nutrir. É um processo que envolve profunda
interação entre mãe e filho, com repercussões na criança em seu estado nutricional,
sistema imunológico, fisiologia e no seu desenvolvimento cognitivo e emocional
(BRASIL, 2009a).
O aleitamento materno é a estratégia isolada que mais previne mortes
infantis, além de promover a saúde física, mental e psíquica da criança e da
mulher que amamenta (BRASIL, 2009b; SBP, 2007).
Os benefícios da amamentação são inúmeros, tais como: redução da
mortalidade infantil; menor incidência e gravidade de infecções, como diarreia,
pneumonia e otites; prevenção de alergias e algumas doenças crônicas, como
diabetes tipo 1, obesidade e alguns tipos de cânceres; promoção do
desenvolvimento da cavidade bucal; influência positiva no desenvolvimento
cognitivo; fortalecimento da relação mãe-bebê; além das vantagens específicas
para as mães, como prevenção de câncer de mama; efeito anticoncepcional e
144
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
proteção contra diabetes tipo 2; além de implicações financeiras para a família
por ser mais econômica (SBP, 2007).
Recomenda-se aleitamento materno exclusivo (AME) por
aproximadamente seis meses em regime de livre demanda e complementada
até os dois anos ou mais (KING, 2001; BRASIL; OPAS, 2003; BRASIL;
UNICEF, 2007; MURAHOVSCHI, 2006; SBP, 2007; UNICEF, [20--]).
Dados relacionando o não aleitamento a internações podem ser utilizados
no planejamento de ações de incentivo à amamentação, visando a reduzir
internações, morbimortalidade infantil e, consequentemente, reduzindo custos
com internações. Na literatura são escassas pesquisas relacionando o aleitamento
à internação; não foi encontrada pesquisa semelhante na região sendo esta,
portanto, uma pesquisa pioneira.
A pesquisa, do tipo corte transversal, teve como objetivo geral descrever
a correlação entre o tempo de aleitamento materno e o número de internações
em crianças de até dois anos em hospitais públicos de Teresina- PI.
2 MATERIAL E MÉTODO
A população estudada foi composta por crianças com até dois anos de
idade internadas em hospitais da rede municipal de Teresina. A amostra
representativa utilizada (172 crianças), foi definida com base nos dados
fornecidos pela Coordenação de Gestão do Sistema Único de Saúde (SUS),
referente ao atendimento da população no ano de 2009. Foram excluídas duas
unidades de saúde por apresentarem média de atendimento muito diferente dentre
as onze unidades municipais de saúde; uma maternidade, que tem público
principal recém nascidos; e o hospital de urgências, por ter significativo
atendimento a pacientes oriundos de outros municípios.
As informações foram obtidas por meio de questionário aplicado ao
acompanhante do menor, após esclarecimento acerca da pesquisa e assinatura
do Termo de Consentimento Livre Esclarecido.
A análise do aleitamento materno seguiu as recomendações da OMS.
No grupo AME foram enquadradas as crianças que recebem somente leite
materno sem quaisquer outros líquidos ou alimentos (exceto medicamentos); no
aleitamento materno (AM): as crianças que recebem leite materno e quaisquer
outros líquidos ou alimentos. Crianças que não recebem leite materno foram
consideradas desmamadas.
Após aplicação dos questionários, os dados foram submetidos à análise
145
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
estatística descritiva por análise de correlação paramétrica e não paramétrica
no software estatístico SPSS 17.0.
Por tratar-se de um inquérito populacional, observacional, o presente
estudo não envolveu riscos de natureza física, psíquica, moral, intelectual, social
ou cultural para a instituição ou para os pesquisados. Foi aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa da Faculdade integral Diferencial - FACID, sob o nº 338/
10, conforme prevê a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde para
estudos com seres humanos (BRASIL, 1996) e seu projeto também foi
encaminhado para apreciação da Fundação Municipal de Saúde.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A frequência de internações recorrentes nas crianças que não receberam
AM adequado foi maior que nas que foram amamentadas conforme a orientação
da OMS, contudo, a correlação entre o tempo de aleitamento materno e o
número de internações foi fraca estatisticamente.
Dentre as crianças internadas, apenas 12% receberam AME conforme
a recomendação da OMS, 21% tinham idade inferior a seis meses, não sendo
possível determinar se receberiam ou não AME adequadamente, e 67% não
receberam AME até o sexto mês de vida.Valor bem inferior ao encontrado na
II Pesquisa de prevalência de aleitamento materno nas capitais brasileiras e
Distrito Federal, realizado com 34.366 crianças menores de 1 ano que
compareceram à segunda fase da campanha de multivacinação de 2008, em
todas as capitais brasileiras e Distrito Federal (BRASIL, 2009).
Na referida pesquisa, a prevalência do AME em menores de seis meses
foi de 41,0%, porém o comportamento desse indicador foi bastante heterogêneo,
variando de 27,1% em Cuiabá/MT a 56,1% em Belém/PA (BRASIL, 2009).
Em Teresina foi aproximadamente 45% .
Entre crianças menores de seis meses assistidas pelas Unidades Básicas
de Saúde do município do Rio de Janeiro, a prevalência de AME foi de 58,1%
(PEREIRA et al, 2010).
Em Campinas (SP), a mediana do aleitamento materno exclusivo foi de
90 dias nas 2.857 crianças envolvidas na pesquisa (BERNARDI; JORDÃO;
BARROS FILHO, 2009).
Das crianças internadas que receberam AME adequado, apenas 25%
já haviam sido internadas antes, enquanto no grupo que não recebeu AME
conforme a recomendação da OMS, 32% já haviam sido internadas
146
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
anteriormente, onde 3% haviam sido internadas mais de quatro vezes
previamente.
As crianças que não receberam AME adequado, internaram-se mais
por diarreia e infecção respiratória que as que receberam AME até o sexto
mês, bem como por alergias.
Dentre os fatores que podem influenciar nas internações tem-se a
vacinação, porém a situação vacinal das crianças não amamentadas
adequadamente era melhor que a das adequadamente amamentadas, onde apenas
30% estavam com a vacinação em dia, enquanto naquelas 48% apresentavam
vacinação completa.
4 CONCLUSÃO
Crianças que não receberam AME conforme a recomendação da OMS
hospitalizaram-se mais quando comparadas àquelas que receberam AME
adequado, entretanto a correlação entre o tempo de aleitamento materno e o
número de internações foi fraca estatisticamente.
REFERÊNCIAS
BERNARDI, J. L. D., JORDÃO, R. E; BARROS FILHO, A. A. Fatores
associados à duração mediana do aleitamento materno em lactentes nascidos
em município do estado de São Paulo. Rev. Nutr., Campinas, v.22, n. 6, p.867878, nov./dez., 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento
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alimentação complementar. Brasília, 2009. (Série A. Normas e Manuais Técnicos)
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Materno e alimentação complementar. Brasília, 2009. (Série A. Normas e
Manuais Técnicos).
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materno nas capitais brasileiras e Distrito Federal. Brasília, 2009. (Série
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de 1996. Diretrises e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres
humanos. Brasília, 1996
KING, F. S. Como ajudar as mães a amamentar. 4ed. Brasília: Ministério
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MURAHOVSCHI, J. Pediatria: diagnóstico + tratamento. 6 ed. rev. e atual.
São Paulo: Sarvier, 2006.
OPAS. Escritório regional da OMS. Amamentação. Atualizado em junho de
2003. Disponível em <http://www.opas.org.br>.acesso em 26/ 08/ 10.
PEREIRA, R. S. V. et al., Fatores associados ao aleitamento materno exclusivo:
o papel do cuidado na atenção básica. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro.
vol.26, n.12. dez.2010.
SBP - Sociedade Brasileira de Pediatria. Tratado de Pediatria. Barueri, SP:
Manole, 2007. P 267-77.
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08/10.
148
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RESENHAS DE LIVROS
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
MELLO, Celso Antônio Bandeira. Conteúdo jurídico do princípio da
igualdade. 3 ed. São Paulo: Malheiros, 2002. 48 p.
Willame Parente Mazza
Esta obra, "O conteúdo jurídico do princípio da igualdade", é um clássico
da literatura jurídica brasileira, de fundamental importância para compreensão
do princípio da igualdade consignado no Art. 5º da Constituição Federal. Escrito
por Celso Antônio Bandeira de Mello, professor Emérito da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e titular da disciplina de Direito
Administrativo, o livro traz com maestria, através de exemplos e com uma
densidade peculiar do autor, qual o conteúdo jurídico do princípio da igualdade.
Relembra e explica a tradicional premissa e nada moderna de Aristóteles na
qual afirma que a igualdade é tratar igualmente os iguais e desigualmente os
desiguais. No entanto questiona: quem são os iguais e quem são os desiguais?
O livro inicia com a ideia de que não é somente a lei que vai proporcionar
a igualdade entre os cidadãos. Ademais essa mesma lei deve ser editada em
conformidade com a isonomia.
Nesse sentido, percebe-se que o princípio da igualdade não se dirige
somente ao aplicador da lei, mas também ao legislador, pois a lei deve ser um
instrumento regulador da vida social que necessita tratar equitativamente todos
os cidadãos.
Esse questionamento é de extrema importância porque o princípio da
igualdade, por meio da lei, procura dar um tratamento não uniforme às pessoas.
Vale dizer, em um determinado caso, o "discrímen" é legítimo, em outros, é
ilegítimo.
Nos casos de "discrímen" analisados pelo autor, a lei construiu algo em
elemento diferencial, como afirma no texto: "a lei apanhou, nas diversas situações
qualificadas, algum ou alguns pontos de diferença a que atribuiu relevo para fins
de discriminar situações, inculcando a cada qual, efeitos jurídicos e, de
conseguinte, desuniformes entre si".
O autor questiona e procura explicar quais os limites legais da função
normal da lei em discriminar, ou melhor, quando é vedado à lei estabelecer
_______________________
1
Auditor Fiscal da Fazenda Estadual do Estado do Piauí, Mestre em Direito com ênfase em Tributário
pela Universidade Católica de Brasília (UCB), Especialiação em Direito tributário e Fiscal, Especialização
em Direito Público e Especialização em Controle interno e externo na Administração Pública. Professor
Universitário no curso de Direito e Professor em cursos preparatórios para concursos.
151
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
discriminação.
Relaciona, ainda, a igualdade e os fatores sexo, raça e credo religioso.
Assim, ele quebra alguns preconceitos ao mostrar que determinados elementos
ou traços característicos das pessoas ou situações são possíveis de serem
escolhidos pela norma como raiz de alguma diferenciação.
Demonstra, na obra, de uma forma clara, através de exemplos, a perfeita
possibilidade de elementos residentes nas coisas, pessoas ou situações, poderem
ser escolhidos pela lei como fator discriminatório, concluindo que, não é no
traço de diferenciação escolhido que se deve buscar algum desacato ao princípio
isonômico. No entanto, ressalta que, por mais que existam estes elementos
possíveis de serem motivadores dos "discrímen" da lei, nenhum fator pode ser
escolhido aleatoriamente sem pertinência lógica com a diferenciação procedida.
Assim, a ordem jurídica deve firmar a impossibilidade de desequiparações
fortuitas ou injustificadas baseadas em outros fatores que são absorvidos na
generalidade da regra.
O autor apresenta três aspectos que devem ser observados para análise
do desrespeito à isonomia. Ademais, esses aspectos devem ser analisados,
obrigatoriamente, em conjunto para a identificação do desrespeito à isonomia.
Os aspectos são: quanto ao elemento tomado como fator de desigualdade; a
correlação lógica abstrata existente entre o fator escolhido como critério de
"discrímen" e a disparidade estabelecida no tratamento jurídico diversificado; e
a consonância desta correlação lógica com os interesses absorvidos no sistema
constitucional e destarte juridicizados (MELLO, 2002, p.21).
O professor Celso Antônio Bandeira de Mello expõe os requisitos que
os critérios diferenciadores não devem possuir para não singularizar o destinatário.
Ou seja, como afirma o autor: "a lei não pode erigir em critério diferencial um
traço tão específico que singularize no presente e definitivamente, de modo
absoluto, um sujeito a ser colhido pelo regime peculiar"; "o traço diferencial
adotado, necessariamente, há de residir na pessoa, coisa ou situação a ser
discriminada" (MELLO, 2002, p.23).
Essa singularização viciosa denunciada pela norma pode ser tanto lógica
quanto material. A questão é: se a norma visa uma incidência futura a outros
destinatários inexistentes à época de sua edição, ou se ela se destina a criar um
critério específico futuro, mas que colherá um destinatário certo e atual da época
de sua edição. Neste último caso é que se verifica a quebra da isonomia.
O autor comenta a questão da natureza da norma, geral ou abstrata, e
152
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
conclui que toda regra abstrata é simultaneamente geral. Isso leva à conclusão
que a regra geral nunca poderá ofender à isonomia pelo aspecto da
individualização do destinatário, e a regra abstrata também não ofenderá a
isonomia, a não ser se as regras absorverem maliciosamente estes caracteres
(abstração e generalidade) de tal forma que favoreça determinado indivíduo.
Insta salientar que a diferenciação dada pela norma às pessoas, situações
ou coisas, não pode ir além dos traços diferenciais contidos nelas mesmas. Não
é possível uma diferenciação a um advogado ou médico que habitem determinada
região levando em consideração para diferenciá-los a área em que residem.
Outro fator de diferenciação válido entre os indivíduos é o fator tempo.
Na verdade, quando se usa o fator tempo de forma válida, a lei está prestigiando
como "discrímen" a própria sucessão de fatos ou de estados transcorridos ou a
transcorrer. Nesse sentido é que o autor fala, com muita propriedade, que não
tem nada de incongruente em considerar o transcorrer do tempo para diferenciar,
já que com este transcorrer o que se demarcou foi a extensão de uma sucessão
reiterada de um estado. Com isso, percebe-se no texto, que o autor não coloca
o tempo por si só como fator de diferenciação, mas a sucessão de fatos ou a
existência deles que ocorre no tempo através de uma fixação de período, prazo
ou data. Sendo assim, cita vários fatores de diferenciação, mas sempre chega à
conclusão que esses fatores só são legítimos para se ter a isonomia se a diferença
residir nas pessoas, fatos ou situações.
Acrescenta ainda que o que autoriza discriminar é a diferença que as
coisas possuem em si e a correlação entre o tratamento desequiparador e os
dados diferenciais radicados nas coisas.
O autor elege como elemento fundamental para que a lei tenha um
tratamento isonômico a correlação lógica entre o fator de "discrímen" e os efeitos
jurídicos atribuídos a ele. Agora não se leva em consideração somente o fator
de "discrímen" escolhido, mas a pertinência desse fator com o específico
tratamento jurídico construído em função da diferenciação dele resultante. No
entanto, é ressaltado no texto uma importante variável que pode alterar a relação
lógica entre o fator de "discrímen" e os efeitos jurídicos atribuídos a ele. O autor
destaca que o momento histórico em que a lei atua pode considerar a relação
lógica ou não, ou seja, esta correlação lógica nem sempre é absoluta, "pura".
Como último requisito que o autor traz para que a lei consigne um
verdadeiro tratamento isonômico, tem-se a consonância da discriminação com
os interesses protegidos na Constituição. Dessa forma, além de todos os
requisitos vistos até aqui, é necessário que o vínculo demonstrável de forma
153
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
lógica, citado anteriormente, seja constitucionalmente pertinente, ou melhor, que
as vantagens, "calcadas em alguma peculiaridade distintiva hão de ser conferidas
prestigiando situações conotadas positivamente ou, quando menos, compatíveis
com os interesses acolhidos no sistema constitucional (MELLO, 2002, p. 42)."
Quanto a esse requisito, conclui-se, através de exemplos clareadores
previstos na Constituição Federal, que não é qualquer fundamento lógico que
autoriza desequiparar, mas somente aquele que se orienta na linha de interesses
prestigiados na Constituição.
Percebe-se que o autor cerca todas as possibilidades que garantem à lei
dispensar um tratamento isonômico aos cidadãos. No entanto, ele traz um aspecto
não intrínseco à lei, mas ao intérprete da lei, restringindo sobremaneira a atenção
à isonomia tanto na edição das leis como na sua interpretação.
Na interpretação, quando a lei não tiver assumido o fator tido como
desequiparador, não se pode interpretar como desigualdades, legalmente, certas
situações. Dessa forma, não se pode considerar circunstâncias ocasionais que
proponham fortuitas, acidentais ou sutis distinções entre categorias de pessoas.
Percebe-se na obra o verdadeiro sentido de uma das frases mais usadas
no meio acadêmico e tão pouca compreendia diante da abrangência em que foi
mostrada, qual seja: a igualdade é tratar igualmente os iguais e desigualmente os
desiguais.
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NORMAS EDITORIAIS
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NORMAS EDITORIAIS DA REVISTA FACID CIÊNCIA & VIDA
A Revista FACID Ciência & Vida objetiva a divulgação da produção científica
e técnica dos professores, alunos e técnicos da Faculdade Integral Diferencial,
bem como de profissionais da comunidade.
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na forma de ARTIGOS, ENSAIOS e RESENHAS, os quais devem falar
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textos que discutam temas com base em informações já publicadas. Quando se
tratar de artigo de revisão esta deverá ser, preferencialmente, do tipo sistemática
e deverá apresentar: título, autor, resumo, palavras chave, abstract, key-words,
introdução, discussão do tema com base na pesquisa bibliográfica, conclusão,
e referências. O artigo não deve ultrapassar 15 (quinze) laudas.
Título - Deve ser conciso, claro e objetivo, evitando-se excesso de palavras
ou expressões como: “Avaliação de...,” “Considerações acerca de.....” “Estudo
sobre ....”. Deve ter no máximo 15 palavras. Apenas a primeira letra da primeira
palavra deve ser maiúscula.
Título em inglês - Transcrição do título em português.
Nome dos autores - Devem ser apresentados os nomes completos, sem
abreviatura, abaixo do título com somente a primeira letra maiúscula, um após
outro, separados por vírgula e centralizados. Em nota de rodapé na primeira
página deve-se apresentar de cada autor a afiliação completa (Titulação/
vinculação, instituição, cidade e estado, endereço eletrônico). O número de
autores não deverá ser maior que cinco. Os autores pertencentes a uma mesma
157
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
instituição devem ser mencionados em uma única nota, utilizando o sobre escrito
correspondente.
Resumo e Abstract - Devem ter no máximo 250 palavras, descrevendo o
objetivo, material e método, resultados e conclusões em um só parágrafo. O
Abstract deve ser a transcrição do resumo.
Palavras-chave e key-words - Devem ser no mínimo três e no máximo cinco
termos para indexação que identifiquem o conteúdo do artigo, os quais não
deverão constar no título. Para a escolha dos termos para indexação (descritores)
na área de saúde, deve-se consultar a lista de “Descritores em Ciências da
Saúde – DECS”, elaborado pela BIREME (disponível em http://decs.bus.br)
ou na lista da “Mesh-Medical Subject Headings” (disponível em http://
nlm.nih.gov/mesh/mbrowser.html).
Introdução - Deve ser compacta e objetiva, definindo o problema estudado,
demonstrando sua importância e lacunas do conhecimento que serão abordadas
no artigo. As citações presentes devem ser atualizadas e pertinentes ao tema,
adequadas à apresentação do problema, sendo empregadas para fundamentarem
a discussão. Os objetivos e hipóteses deverão ser contextualizados nesta sessão.
Não deve conter mais de 550 palavras.
Material e Métodos - Os métodos bem como os materiais devem ser
detalhados de modo que possam ser confirmados, incluindo os procedimentos
utilizados, universo e amostra. Indicar os testes estatísticos utilizados. As questões
éticas devem ser apresentadas nesta sessão.
Resultados e Discussão podem conter figuras e/ou tabelas, contudo os dados
nesta forma não devem ser repetidos no texto. Os resultados devem ser
apresentados em uma sequência lógica. As tabelas e figuras devem trazer
informações distintas ou complementares entre si. Os dados estatísticos devem
ser descritos nesta sessão. A discussão deve ser pertinente apenas aos dados
obtidos, evitando-se hipóteses não fundamentadas nos resultados. Deve-se
relacionar-se aos conhecimentos existentes e aos apresentados por outros
estudos relevantes. Deve, sempre que possível, incluir novas perspectivas de
pesquisas.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
Conclusão - Deve estar fundamentada nas evidências disponíveis e pertinentes
ao objeto de estudo. As conclusões devem ser claras e precisas. Deve-se
relacionar os resultados obtidos com as hipóteses apresentadas. Podem ser
apresentadas sugestões para outras pesquisas que complementem o estudo ou
para outros problemas surgidos no desenvolvimento.
Referências - O artigo deverá apresentar no máximo 25 citações, sendo a
maioria, preferencialmente, em periódicos recentes dos últimos cinco anos. No
caso de artigos de revisão, deverão ser apresentadas no máximo 35 citações.
Devem incluir todos os autores referenciados no texto.
Apêndice - Informações complementares produzidas pelo autor, como o
questionário aplicado, termo de consentimento livre e esclarecido, roteiro de
entrevistas.
Anexos - Informações complementares, como documentos e ilustrações,
retiradas da bibliografia.
ENSAIOS – Texto que expõe estudos realizados com as conclusões a que se
chegou. Pode ser de caráter informal, no qual se destaca a liberdade e emoção
criadora do autor e pode ser caracterizado como formal, onde a brevidade,
serenidade e o uso da primeira pessoa podem ser utilizados. Neste tipo de
publicação é marcante a presença do espírito problematizador, sobressaindo o
espírito crítico e a originalidade do autor. Deve apresentar temas atuais e de
interesse coletivo. Pode ser até 10 (dez) páginas.
RESENHAS – resumo crítico de livros publicados ou no prelo que podem
suscitar no leitor o desejo de ler a obra integralmente. Este texto deve ter, no
máximo 5 laudas e deve ser escrito informando o título da obra, nome completo
do autor, editora e ano publicado.
Instruções aos Colaboradores
1 Os trabalhos devem ser preferencialmente inéditos e redigidos em língua
portuguesa, sendo seu conteúdo de inteira responsabilidade dos autores.
2
Os textos para publicação devem ser acompanhados de uma
correspondência ao Editor solicitando que o texto seja publicado. Uma vez
recebidos, os textos serão submetidos à apreciação do Conselho Editorial
e dois conselheiros, no mínimo, decidirão sobre sua aprovação para
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 7, n. 2, Setembro 2011
publicação, podendo ocorrer que o texto seja devolvido ao seu autor para
alterações e/ou correções.
3
O texto deve ser digitado na fonte Times New Roman tamanho 12, espaço
1,5 entre linhas, margens superior e esquerda de 3 cm, margem inferior e
direita de 2 cm, papel formato A-4. No resumo e abstract o espaçamento
deverá ser simples.
4
As tabelas para apresentação de dados devem ser numeradas
consecutivamente com algarismos arábicos, encabeçadas pelo título, com
indicação da fonte após a linha inferior. Todas as tabelas inseridas devem
ser mencionadas no texto. O texto deve ser em fonte Times New Roman,
estilo normal e tamanho 12.
5
Para a inserção de ilustrações (quadros, gráficos, fotografias, esquemas,
algoritmos etc), deve-se numerá-las consecutivamente com algarismos
arábicos, com indicação do título na parte superior e da fonte após o seu
limite inferior e indicadas no texto em que devem ser inseridas. Gráficos,
fotografias, esquemas e ilustrações devem ser denominados como figuras.
O texto deve ser em fonte Times New Roman, estilo normal e tamanho
nove. Devem ser inseridas logo abaixo do parágrafo em que foram citadas
pela primeira vez. As figuras agrupadas devem ser citadas no texto como:
Figura 1A; Figura 1B; Figura 1C; etc. As figuras devem ter no mínimo
300dpi.
6
As citações no texto devem ser organizadas de acordo com as normas
vigentes da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT - 10520) formato autor-data.
7
A lista de referências deve ser organizada em ordem alfabética e de acordo
com as normas ABNT – 6023 (espaço simples entre linhas e um espaço
simples entre uma referência e outra).
Modelos de referências bibliográficas
Livros (um autor)
SOARES, L.S. Educação e vida na República. 4.ed. São Paulo: Letras Azuis,
2004.
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Livros (dois autores)
ROCHA,B.; PEREIRA,L.H. Cuidando do enfermo. São Paulo: Manole, 2001.
Livros com mais de três autores
POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e
metodológicos. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.
Capítulos de livros
OLIVEIRA, A. A. S. de; VILLAPOUCA, K. C. Perspectivas epistemológicas
da bioética brasileira a partir da teoria de Thomas Kuhn. In: GARRAFA, V.;
CORDÓN, J. (Orgs.). Pesquisa em bioética: bioética no Brasil hoje. São
Paulo: Gaia, 2006. p.35-50
Artigos de periódicos (com mais de três autores)
PEREIRA, Q. L. C. et al. Processo de (re)construção de um grupo de
planejamento familiar: uma proposta de educação popular em saúde. Texto e
Contexto Enferm, Florianópolis, v. 16, n. 2, p. 320-5, abr/jun. 2007.
Teses
ABBOTT, M.P. Modificações oxidativas de proteínas em presença de
complexos de cobre(II). 2007. 130f. Tese de doutorado (Programa de Pósgraduação em Química) Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
Artigo de jornal assinado
DIMENSTEIN, G. Escola da Vida. Folha de São Paulo, São Paulo, 14 jul.
2002. Folha Campinas, p. 2.
Artigo de jornal não assinado
FUNGOS e chuva ameaçam livros históricos. Folha de São Paulo, São Paulo,
5 jul. 2002. Cotidiano, p. 2.
Artigo de periódico (formato eletrônico)
VRAKEN, M. V. Prevention and treatment of sexuality transmitted diseases: an
updates. American Family Physican. v. 76, n. 12, p. 1827-1832. Dez. 2007.
Disponível em: < www.aafp.org/afp>. Acesso em: 29 de março de 2010.
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Decretos, Leis
BRASIL. Decreto n. 2.134, de 24 de janeiro de 1997. Regulamenta o art. 23
da Lei n. 8.159, de 8 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a categoria dos
documentos públicos sigilosos e o acesso a eles, e dá outras providências. Diário
Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, n. 18, p. 14351436, 27. jan. 1997. Seção 1.
Constituição Federal
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.
Trabalho publicado em Anais de Congresso
MARTINS, I.S.; SILVA FILHO, F.J.V.; ALVES NETO, F.E. Abordagem
Cirúrgica em Ginecomastia Gigante em Pseudo-hermafrodita Masculino. In: I
JORNADA DE MEDICINA DA FACID, 2005, Teresina. Anais da I Jornada
de Medicina da FACID. Teresina, Gráfica do Povo, 2006, p.212.
8
Acompanha o texto uma folha com o título e nome completo do autor e/ou
autores com a filiação profissional e a qualificação acadêmica do(s)
autor(es), os endereços postal e eletrônico, inclusive o telefone (modelo
abaixo).
9
O original do trabalho a ser publicado deve ser entregue em uma via impressa
e em CD (processador Word for Windows), pelos correios ou via e-mail:
[email protected]. Ao Conselho Editorial é reservado o direito de
publicar ou não o trabalho.
10 A publicação do trabalho não implicará na remuneração de seus autores. O
autor responsável pela submissão do artigo receberá um exemplar do
fascículo por artigo publicado.
11 A revista não se obriga a devolver os artigos recebidos, publicados ou não.
12 O artigo a ser publicado deve ser entregue na FACID. O autor responsável
pela submissão do artigo deverá anexar e assinar os seguintes documentos:
Declaração de Responsabilidade e Transferência de Direitos Autorais.
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Modelos de páginas (em separado) que devem acompanhar o artigo
Modelo 1
Modelo 2
DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE
TRANSFERÊNCIA DE DIREITOS AUTORAIS
Declaro que participei deste artigo para tornar
Declaro que, em caso de aceitação do meu artigo
pública minha responsabilidade pelo seu conteúdo, não
submetido à Revista FACID Ciência & Vida, esta passa a
omitindo nenhuma ligação ou acordo de financiamento entre os
ter os direitos autorais e propriedade exclusiva sobre o
seus autores e instituições que possam ter interesse na
mesmo.
publicação do mesmo.
Declaro ainda que o manuscrito é original e que
Teresina, ....... de .............. de 20.....
este artigo, em parte ou na íntegra, ou qualquer outro artigo
similar, de minha autoria, não fora enviado a outra revista e não
___________________________________
o será, enquanto estiver sob a análise da Revista FACID
Nome completo do (a) aluno (a)
Ciência & Vida, quer impresso ou eletronicamente.
Teresina, ........ de ................. de 20.....
___________________________________
___________________________________
Nome completo do (a) orientador (a)
Nome completo do (a) aluno (a)
____________________________________
Nome completo do (a) orientador (a)
TÍTULO
Modelo 3
Título do artigo
Nome completo do Autor 1
Qualificação acadêmica e Filiação
Exemplos: Aluno de graduação do Curso de Odontologia
da FACID; Especialista em _______, Professor(a) do
Curso de ___________ da FACID; Mestre em
__________, Professor(a) Adjunto da UFPI; Doutor em
________, Professor(a) da _________)
Endereço Postal
Rua das Estrelas, nº 000, apto 000
Bairro do Céu, Cidade – Estado
CEP – 00 000 - 000
Endereço eletrônico (e-mail)
Telefone(s) para contato
Nome completo do Autor 2
Qualificação acadêmica e Filiação
Endereço Postal
Endereço eletrônico (e-mail)
Telefone(s) para contato
OBS: Deve constar os dados de todos os autores respeitando o
limite máximo de 5 (cinco) para cada artigo, conforme a norma
editorial da Revista.
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OBS: As submissões que não atenderem às normas acima apresentadas não
serão encaminhadas para análise dos consultores, sendo imediatamente recusadas
para publicação na Revista FACID Ciência & Vida.
Conselho Editorial da Revista FACID Ciência & Vida
A/C Dr. Rômulo Vieira
Rua Veterinário Bugyja Brito, 1354 - Horto Florestal.
Cep: 64049-410/ Teresina-PI.
Email: [email protected]
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