7 e 8 Novembro 2012 PARTICIPAÇÃO SOCIAL E DEMOCRACIA PARTICIPATIVA NO BRASIL: características, limites e potencialidades. Vilma Leila Souza Ferreira Leal1 Cláudia Ribeiro Pfeiffer2 Resumo O objetivo do presente trabalho é contribuir para a reflexão sobre as características, limites e potencialidades da Participação Social e da Democracia Participativa no Brasil, que vêm se ampliando, nos últimos 25/30 anos, com o fim do regime autoritário de de governo, iniciado em 1964. Nesse sentido, são apresentadas as diversas formas de participação social verificadas em cidades brasileiras, sobretudo a partir da década de 80 – a participação através de movimentos sociais, movimentos reivindicativos de bens bens instrumentais (organizações de interesses), organizações comunitárias, organizações não governamentais ou do Terceiro Setor, representação em canais de participação abertos pelo poder público, bem como análises críticas das mesmas. A metodologia utilizada consistiu em pesquisa bibliográfica orientada para a participação social no contexto da questão urbana,, apresentando breve histórico a partir de 1964 até os dias atuais. atuais governam Palavras Chave: Participação social. Movimentos sociais. Organizações não governamentais 1 Arquiteta, Especialista e Mestranda em Engenharia Urbana na Universidade Federal do Rio de Janeiro, [email protected] 2 Socióloga e Doutora em Planejamento Urbano e Regional pela UFRJ. Professora Adjunta do IPPUR/UFRJ, [email protected] 1 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho apresenta os aspectos técnicos e sociais, no compartilhamento de decisões e responsabilidades, da participação social e democracia participativa no Brasil. Para tanto, serão apresentados no item 1, os antecedentes do Associativismo Urbano no Brasil, com a síntese de suas formas, seus problemas e desafios, segundo Azevedo e Prates (1991). No item 2, as reflexões sobre a Participação Social e Democracia Participativa no Brasil atual, considerando igualmente suas formas, seus problemas e desafios, segundo Carvalho (1998) e o estudo Avanços e Desafios da Participação Social na Esfera Pública Federal Brasileira, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2009) para uma maior observância no que diz respeito à sustentabilidade do processo participativo, já que o processo não poderá ser sustentável simplesmente pelo princípio da participação. No item 3, apresentar-se-ão os limites e potencialidades da participação social, com indicadores, segundo Kliksberg (1999), para que de fato, espaços deliberativos dotados de efetividade e força política possam traçar uma interconectividade com o ciclo de planejamento, orçamento e gestão de políticas públicas, para que o sistema político venha a conferir reconhecimento institucional aos espaços de participação social visando à interferência concreta destes no desenho das políticas públicas e na justa distribuição dos recursos. 2. ASSOCIATIVISMO URBANO NO BRASIL Segundo Azevedo e Prates (1991), o paradigma que orientou os estudos do “fenômeno” dos Movimentos Sociais Urbanos (MSU) no Brasil, na década de 80 caracteriza-se pelos pressupostos macro-sociológicos da tradição marxista, sendo sua vertente principal a proposição geral de que contradições do capitalismo monopolista avançado deslocam o centro de conflito de classes do ambiente das relações industriais para a realidade do espaço urbano. No início da década de 70, os novos atores sociais aparecem como produto das contradições urbanas traduzidas pelas necessidades de espaço, moradia, emprego e lazer, resultado de anterior segregação sócio-espacial. Os MSU se destinam ao questionamento de ordem burguesa ou minimamente à denúncia de espoliação e dominação aos quais estão expostas as classes populares no capitalismo contemporâneo, e têm como objetivo principal, de acordo com Boschi apud Azevedo e Prates (1991, p.130), o desenvolvimento de estratégias junto ao poder público visando conseguir melhorias urbanas, agindo como interlocutores legítimos da comunidade nas questões relativas à legalização da posse da terra, e no caso das favelas, saneamento básico e transportes. Trata-se, portanto de organizações típicas de articulação de interesses orientadas para a produção de “bens coletivos” de natureza negociável, referenciando um tipo de associativismo que nada tem a ver com o que é característico dos movimentos sociais. Segundo Azevedo e Prates (1991), o emaranhado conceitual na literatura brasileira sobre o MSU não tem permitido diferenciar quando uma organização associativa constitui de fato um movimento social ou quando ela é apenas um recurso político nas mãos de lideranças externas. Na maioria das vezes, organizações como a Igreja, os partidos políticos, grupos ideológicos utilizam o potencial organizacional do associativismo urbano como recurso estratégico para demonstração de protesto político. Outro ponto importante na análise do associativismo urbano no Brasil são as ações relacionadas à articulação de interesse, que facilitam a explicitação de valores que podem servir como base de novas identidades para os membros dessas organizações, onde provável ganho da esfera da cidadania pode ser visto como “efeitos não esperados” da ação dessas organizações, e não como objetivos buscados. 2 O processo de constituição de identidade coletiva requer, como condição de sua eficácia, o reconhecimento público por parte de atores relevantes da sociedade, entre os quais o Estado constitui um ator central. É importante entender as implicações analíticas da diferenciação entre Movimentos Sociais e Organizações Reivindicativas, dentro do padrão geral de associativismo urbano no país, para se avaliar de maneira mais precisa o planejamento participativo, que ganhou força e legitimidade, nesses últimos tempos, nos diversos níveis da esfera pública. O planejamento participativo, esta forma de planejamento urbano, pelas dificuldades conceituais e pela pequena experiência nos diversos níveis de governo, presta-se a muitos equívocos e mitos. Como na maioria dos países da América Latina, a concepção de planejamento no Brasil foi fortemente influenciada pela abordagem da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) nos anos 60, onde em seu diagnóstico apontava para imensos desequilíbrios sociais e econômicos dos países latino-americanos. A partir de meados dos anos 70 o governo federal indica os primeiros sinais de abandono de tentativas compreensivas, globalizantes e integradas de planejamento, iniciando os primeiros passos em direção ao que, posteriormente nos anos 80, denominar-se-ia planejamento participativo, motivado pelo fim do milagre econômico, o agravamento da crise, a impossibilidade de governar enfatizando apenas grandes projetos e o esgotamento do governo militar. No processo de “abertura política” buscou-se o resgate e a valorização da questão social, e a redescoberta de pequenos projetos capazes de minimizar problemas locais, com a participação da população, abrindo-se caminhos para a legitimação dos MSU, interlocutores da população junto ao poder público. Obviamente este processo não se deu de forma retilínea, nem sem conflitos e contradições graves com os pretensos objetivos de participação dessas iniciativas. O acontecimento da Nova República (1985) e a extinção do BNH (1986) significarão o abandono formal de qualquer forma de tentativa de planejamento compreensivo no plano federal. O planejamento participativo surge a partir da demanda dos programas alternativos, voltados para a população de baixa renda, iniciados nos meados dos anos 70 e expandidos na década de 80 nos diferentes níveis de governo. Sob o mesmo rótulo de planejamento participativo englobam-se duas diferentes propostas que significam tipos de envolvimento comunitário, bastante distintos, tanto em termos de amplitude quanto de poder decisório e motivação à participação, quais sejam: a participação instrumental e a participação ampliada ou neocorporativa. A experiência brasileira mostra que a participação da população em programas de planejamento participativo tem se centrado fundamentalmente na participação instrumental ou restrita, definindo este espaço de planejamento como local de perdas e ganhos, tanto do Poder Público quanto das organizações populares. As proposições das formas, problemas e desafios do Associativismo Urbano no Brasil, antecedente à Constituição de 1998, segundo Azevedo e Prates (1991) são apresentados no Quadro 01: Formas, Problemas e Desafios dos Antecedentes do Associativismo Urbano no Brasil. 3 Quadro 01: Formas, Problemas e Desafios dos Antecedentes do Associativismo Urbano no Brasil. FORMA Movimentos Reivindicativos NÍVEL Representativa PROBLEMA Crise de legitimidade no sistema Institucional de representação política; Pressões adaptativas sobre o sistema político. DESAFIO Questionamento de suas bases de legitimidade. Organizações de Interesse Representativa A possibilidade dos próprios setores populares incorporarem na sua ação a construção da autonomia desses grupos subalternos nas sociedades capitalistas. Planejamento Participativo Direta Dificuldades das Associações na manutenção de altos níveis de participação regular; Benefícios coletivos resultam das atividades não rotineiras, altamente gratificantes ao nível individual. A participação da população em programas de Planejamento Participativo tem se centrado fundamentalmente na “Participação Instrumental” e mesmo assim em níveis limitados. Ser um importante mecanismo de democratização do Estado e da incorporação paulatina dos setores populares melhor organizados na gestão da Política Urbana nos diferentes níveis de governo. Fonte: AZEVEDO e PRATES (1991). Quadro Síntese elaborado para a disciplina Participação Social no Planejamento e Gestão das Cidades. Setembro de 2010. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano/UFRJ. Ministrada pela Profª. Cláudia Pfeiffer. Elaborado pela autora. 4 3. PARTICIPAÇÃO SOCIAL E DEMOCRACIA PARTICIPATIVA NO BRASIL ATUAL A participação ampliada ou neocorporativa ocorre através da inclusão de organizações associativas em órgãos colegiados do tipo “Conselhos” ou “Comitês” e nos tempos atuais vem sendo praticada por conta de normativas do Governo Federal. Segundo Carvalho (1998), o amplo movimento de “Participação Popular na Constituinte” encaminhou emendas à Constituição de 1988 - conhecida como Constituição Cidadã, com subscrições coletadas em todo o país, marcando assim o momento de inflexão e nova fase dos movimentos sociais. A emergência dos novos movimentos sociais, caracterizado pela conquista do direito a ter direitos, do direito de participar da redefinição dos direitos e da gestão da sociedade, ocorreu com o reconhecimento, na Constituição, em seu artigo primeiro, de que “todo poder emana do povo, que o exerce indiretamente, através de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”, que prevê a participação direta ou semi-direta como o plebiscito, o referendo, a iniciativa popular de lei, as tribunas populares, os conselhos e outros canais institucionais de participação popular. É necessário destacar, pela participação da sociedade organizada, a construção de novos espaços de co-gestão, os Conselhos setoriais, salientando-se também os “Orçamentos Participativos”, que se constituem em processo de consultas e debates sobre o orçamento público municipal. Através deste processo as populações de algumas cidades brasileiras passam a discutir os problemas urbanos que afetam suas vidas, como infraestrutura e saneamento básico, organizando grupos de acompanhamento de execução orçamentária e das obras executadas, através de assembleias nos bairros, nas regiões e no município, com a eleição de prioridades e delegados que representarão cada região. Carvalho (1998) relata que, para a nova fase vivida pelos movimentos sociais, desafiados pela complexa construção de possibilidades de participação na proposição, negociação e gestão de políticas públicas, surge a necessidade de capacitação técnica e política. Conforme estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), entre outras iniciativas para intensificar o diálogo com a sociedade na administração pública no período entre 2003 e 2006, o Governo Federal colocou em prática estratégia de apoio à realização de conferências nacionais e de criação de novos conselhos nacionais de direitos e de políticas públicas, com o inédito fato do dinamismo de participação de diversos segmentos organizados nas mais diferentes áreas de políticas públicas. Neste período foram realizadas 43 conferências, mobilizando cerca de dois milhões de pessoas da sociedade civil e do poder público nas esferas municipal, estadual e nacional. A partir dessas conferências começa a ser construído na história do país, um novo capítulo em referência à reflexão de políticas públicas para o desenvolvimento. Carvalho (1998) relata: Surge um significado neoliberal de cidadania, com a inclusão de pessoas ao conjunto dos consumidores, perdendo-se de seu cunho instituinte, que garante e amplia continuamente o escopo dos direitos, que afirma, acima de tudo, o direito de participar da definição e da gestão de novos direitos... O significado neoliberal da cidadania, democracia, descentralização, participação ou parceria conferida a inúmeros projetos governamentais não define, no entanto, de forma mecânica e absoluta o seu alcance. A disputa de significado e de espaço é permanente e consegue, em muitos casos, uma reapropriação desses espaços na perspectiva de uma participação mais substantiva, inclusiva e instituinte. Uma reflexão sobre as formas, os problemas e desafios da Participação Social e do exercício da Democracia Participativa poderá ser observada no Quadro 02 - Formas, Problemas e Desafios da Participação Social no Brasil Atual, segundo Carvalho (1998) e IPEA (2009). 5 Quadro 2: Formas, Problemas e Desafios da Participação Social no Brasil Atual FORMA Conselhos Gestores[1] NÍVEL DE PARTICIPAÇÃO Representativa PROBLEMA Pelo acesso mínimo às informações do governo, eles deixam de ser espaços de negociação e co-gestão, reduzindo a espaços de luta social reivindicativos. Orçamentos Participativos[1] Representativa Traduz-se como “marketing” e fachada, a cargo de alguma secretaria de “Relações Comunitárias”, enquanto as demais secretarias continuam imersas em seus feudos e setorizações tecnocráticas. Parcerias[1] Direta NãoInstitucionalizada[1] Direta Fóruns[1] Direta Disposição dos governos a diálogo democrático, para a continuidade de convênios; Utilização da população mais pobre, já excessivamente sobrecarregada para execução de trabalhos. Quando o Estado é ditatorial, muito pouco permeável às demandas da sociedade, a tendência dos movimentos e da participação social é centrar-se neste tipo de ação auto-referida, às vezes até substitutiva da ação estatal A informalidade da estrutura dos Fóruns tem como preço, certa dispersão, visto que cada organização é geralmente muito absorvida pelas suas prioridades e rotinas de trabalho; Precariedade e fragilidade, tanto da parte da sociedade civil como da parte dos órgãos públicos e governo que deles participam; Conferências Nacionais (20032006)[2] Representativa DESAFIO Buscar denominadores comuns: apesar da existência de interesses antagônicos, é preciso buscar acordos que interessem a ambas as partes, mesmo que limitados ou provisórios. As lideranças dos movimentos tradicionais devem superar seus critérios corporativos e ideologilizados, face à necessidade de pensar a cidade como um todo, de governar para todos. Construir o controle público da sociedade sobre o Estado, sem desconstruir o Estado: Reinvenção do Estado. Alterar a cultura da sociedade, tornando públicas, novas demandas e novos valores. Construção de um marco legal e de uma cultura democrática e participativa, com habilidades e metodologias que possam fazê-los instrumentos eficientes e eficazes de melhoria da qualidade de vida e de democratização dos processos de tomada de decisões políticas, objetivando mais democracia e justiça social. Princípios de igualdade e equidade não são práticas na participação, resultando em desigualdades formais na participação, além das informais, que refletem maiores dificuldades para os grupos subordinados manifestarem seus problemas específicos; Ausência de metodologia participativa de acompanhamento de resultados; Questões referentes à complexidade da temática das conferências, sobretudo aquelas que tratam de temas transversais, cujos encaminhamentos envolvem a articulação com multiplicidade de órgãos federais; Os resultados das conferências, embora de um lado expressem rico processo de participação social, de outro, trazem em seu bojo de interesses diferentes, muitas vezes conflitantes entre si, que dificultam seu encaminhamento ao ciclo de elaboração e planejamento de políticas públicas. Fonte: CARVALHO (1998)[1] e IPEA (2009)[2]. Quadro Síntese elaborado para a disciplina Participação Social no Planejamento e Gestão das Cidades. Setembro de 2010. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano/UFRJ. Ministrada pela Profª. Cláudia Pfeiffer. Elaborado pela autora. 6 4. POTENCIALIDADES E LIMITES DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL A participação social é um constante exercício de construção de consenso e de negociação entre os distintos atores sociais que exercem influência ou vivem as consequências das situaçõesproblema objetos dos programas e projetos ou ainda o estabelecimento de parceria entre os diversos agentes que atuam na resolução de situações-problema. Kliksberg (1999) propõe uma série de teses sobre a participação social, procurando por em foco em que consiste a nova legitimidade da participação, ressaltando que faz parte de um movimento mais geral de reafirmação da mesma estratégia de gerência de vanguarda, identificando algumas das principais resistências à participação e sugerindo estratégias para enfrentá-las, a serem apresentadas no Quadro 03: Seis Teses sobre a Participação Social. O mesmo autor ressalta que a participação comunitária é um instrumento potente, mas nunca se deve perder de vista que é ao mesmo tempo um fim em si mesma. Faz parte da natureza do ser humano participar, elevando sua dignidade e abrindo-lhe possibilidades de desenvolvimento e realização. E ainda afirma: “Trabalhar pela participação é, definitivamente, fazer por restituir aos desfavorecidos da América Latina um dos direitos humanos mais básicos, que com frequência – silenciosamente – foi infringido.” A participação comunitária deve ser construída com o exercício de consenso e de negociação entre os distintos atores sociais que exercem influência ou fazem parte das situaçõesproblema, vislumbrando que a efetividade da gestão participativa de um projeto social depende da competência técnica dos gestores na escolha das técnicas e métodos participativos que trarão grande contribuição desde a realização dos diagnósticos sobre a situação-problema, passando pela identificação e priorização dos possíveis problemas, pela escolha e análise das alternativas, pela programação e implementação da intervenção, até a gestão, monitoramento e avaliação das ações. A partir de análise de projetos do Banco Mundial, Kliksberg (1999) concluiu que a participação dá resultados muito mais expressivos, no campo social, a outros modelos organizacionais de perfil tradicional, como os burocráticos e paternalistas. A participação dá resultados muito mais expressivos, no campo social, a outros modelos organizacionais de perfil tradicional, como os burocráticos e paternalistas. E demonstra isso, a partir de análise do Banco Mundial, sobre os projetos pesquisados. Segundo os dados do estudo, 81% dos projetos com alto grau de participação tiveram alto grau de efetividade. Dos projetos de participação com grau médio, 31% obtiveram alto grau de efetividade. (KLIKSBERG, 1999) As potencialidades da gestão participativa evidenciam excelentes resultados, quando gerenciadas com transparência, seriedade e metodologia que motive a participação de todos os envolvidos. 7 Quadro 03: “Seis Teses sobre a Participação Social” TESE 1. “A participação dá resultados” 2. “A participação tem vantagens comparativas” 3. “A participação é um núcleo central da gerência do ano 2000” 4. “A participação enfrenta fortes resistências e interesses” 5. “Requerem-se políticas públicas e estratégias orgânicas e ativas para fazer avançar a participação” 6. “A participação encontra-se na natureza mesma do ser humano”, CONSIDERAÇÕES A participação da comunidade mudou radicalmente os graus em que as metas dos projetos foram atingidas, cumprindo com excelência os indicadores dos programas. E por outro lado, a participação foi um fator fundamental de aquisição de poder pela comunidade, influindo fortemente na aquisição, por parte dos membros da comunidade, de novas habilidades organizacionais e de destrezas relacionadas à operação dos serviços e no fortalecimento da organização comunitária. Os programas devem ser eficientes, com otimização de recursos, geralmente escassos, que promovam a equidade, gerando sustentabilidade, com a formação de capacidades que fortaleçam a possibilidade de que a comunidade o continue aplicando-os ao longo do tempo. Pelas dificuldades apresentadas e identificadas na execução dos programas pesquisados, traduz-se que deve haver uma estreita coerência entre as metas de eficiência, equidade e sustentabilidade e o “estilo organizacional” aplicado, que garantam o comprometimento e “pertencimento” da comunidade ao programa. A participação em si como processo social muda seus próprios atores, potencializando os grupos menos favorecidos, fazendo crescer sua confiança em suas próprias capacidades contribuindo para sua articulação. Tem na revalorização da participação no campo social a inscrição de um processo mais generalizado. O modelo desejado para o ano 2000 é o de organizações inteligentes, que apreendem, adaptadoras e inovadoras. A participação para criar um ambiente altamente desejado em gerência avançada: um clima de confiança. As medições indicam fortes correlações entre clima de confiança e rendimento, sendo que a criação de confiança necessita de participação. Participação é hoje uma estratégia-mestra da gerência de excelência. A participação comunitária definitivamente implica em um processo que necessita de profundas mudanças sociais e, como tal, é esperado que enfrente resistências e que, ao afetar interesses estabelecidos, se desenvolvam estratégias para se criar obstáculos; São resistências abordadas pelo autor: a. o eficientismo curto-prazista, referindo-se aos questionamentos da participação em termos de custos e tempo, mostrando em raciocínio explícito que elaborar um projeto participativo fica mais oneroso que um projeto submetido à execução direta; b. o reducionismo economicista, outra linha de raciocínio, onde o que importa é apenas a relação de custo/benefício, sendo as avaliações apenas percebidas sob o enfoque dos valores econômicos; c. o predomínio da cultura organizacional formal; d. a subestima dos pobres; A tendência à manipulação da comunidade, sendo o clientelismo uma das formas favoritas mais adotadas para a manipulação, onde ocorrem processos pobres em participação efetiva e, o problema do poder, um obstáculo fundamental no caminho da mobilização da participação pela falta de coerência na colocação dos efetivos papéis. O ambiente de mudança cria atitudes e percepções culturais que veem a participação da comunidade como uma das vias principais para ativar a democracia nos fatos concretos. Relata segundo PNUD (1993): “Uma participação maior da população não é mais uma vaga ideologia baseada nos desejos de uns poucos idealistas. Converteu-se em um imperativo – uma condição de sobrevivência”. Fonte: KLIKSBERG (1999) Elaborado pela autora. 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS A participação é uma necessidade do homem de se auto-afirmar, de interagir com a sociedade, criar, realizar, contribuir e sentir-se parte da situação. A grande potencialidade da Gestão Participativa é o processo de aprendizado ocorrido pela discussão das diferenças, já que toda e qualquer comunidade apresenta todos os elementos constituintes do capital social, que são os valores partilhados, cultura, tradições, saber acumulado, redes de solidariedade e expectativas de comportamento recíproco. A Participação Social deve corresponder a um conjunto de princípios e processos que defendem e permitem o envolvimento regular e significativo das pessoas na definição de metas e objetivos, na resolução de problemas, no processo de tomada de decisão, no acesso à informação e no controle da execução para distribuição equilibrada de recursos. Deve-se considerar a Gestão Participativa como exercício pleno de cidadania e também como uma possibilidade concreta de ampliação da liberdade social, daqueles que se encontram pela comum condição social ou por aqueles que acreditam na democracia como forma ideal de governança. Grandes desafios devem ser superados no processo de instituição de normas de caráter participativo no planejamento e gestão. Como, por exemplo, o despreparo técnico e político dos atores envolvidos; a urgência em superar a burocracia estatal, o clientelismo e o corporativismo; a dificuldade do diálogo e negociação entre segmentos sociais com inserção social diversa; a necessidade de ampliação e consolidação de uma cultura democrática e sua tradução em métodos e procedimentos concretos que potencializem a gestão compartilhada da sociedade; a dúvida em relação ao fato já comprovado através de pesquisas de que a participação dá resultados superiores em relação aos modelos organizacionais tradicionais, ou seja, a participação tem vantagens comparativas. Para isso, é necessário que o sistema político confira, de fato, reconhecimento institucional aos espaços de participação social visando à interferência concreta destes no desenho das políticas públicas, através de métodos e técnicas que direcionem à sua real significância e ainda, a geração de consciência pública a respeito das vantagens da participação, inclusive através dos meios de comunicação de massa, que se converta em agenda pública. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, Sergio de; PRATES, Antonio Augusto Pereira. Planejamento participativo, movimentos sociais e ação coletiva. In Ciências Sociais Hoje, 1991. São Paulo: Vértice, Editora Revista dos Tribunais, 1991, p. 122-152. CARVALHO, Maria do Carmo A. A. Participação social no Brasil hoje. Pólis Assessoria, Formação e Estudos em Políticas Sociais. São Paulo, SP. 1998 IPEA. Avanços e Desafios da Participação Social na Esfera Pública Federal Brasileira. Capítulo 30. In Brasil em Desenvolvimento: Estado, Planejamento e Políticas Públicas (Série Brasil: estado de uma nação). Edição 2009. KLIKSBERG, Bernardo. Seis teses não-convencionais sobre participação. Rio de Janeiro, Revista de Administração Pública, v. 33, n.3, p.7-37, maio/jun. 1999 9