Educar/Cuidar O conceito de educar e cuidar esteve por muito

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Eixo 7: Educar/Cuidar
O conceito de educar e cuidar esteve por muito tempo centrado no trabalho
desenvolvido somente na Educação Infantil. Principalmente, o conceito de cuidar estava
associado ao trabalho de satisfazer as necessidades primárias de alimentação, higiene e
saúde das crianças em creches, cujos pais, por diferentes motivos, não tinham condições
de cuidar de seus filhos. Portanto, as creches estavam sujeitas às legislações
estabelecidas pelas Secretarias de Assistência Social e não da Educação.
A Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 deram um novo caráter ao
atendimento, e as creches passaram, aos poucos, para a responsabilidade das Secretarias
de Educação, perdendo, então, o caráter assistencialista, passando a assumir outro papel
educacional. Outro fato importante a ressaltar foi a transferência do direito à creche: o
que antes era direito aos pais passou a se consolidar como direito fundamental das
crianças.
Essas mudanças na legislação e nas concepções obrigaram os governos a repensar
suas políticas educacionais, não só do ponto de vista do conceito do trabalho a ser
desenvolvido, mas também das reorganizações de tempos e de espaços e da formação
dos profissionais da educação.
Em Educação Infantil ficou clara a necessidade da construção de uma Proposta
pedagógica centrada na criança e seu processo de desenvolvimento e aprendizagem que
considerasse, não só os professores e educadores, mas também os familiares no
processo educativo. Nesse sentido, as políticas para a infância passaram a incorporar um
duplo compromisso: as necessidades das crianças, seus direitos e suas famílias.
Ao longo do processo de desenvolvimento do ser humano, cuidar das crianças
varia de cultura para cultura, de acordo com as relações que a sociedade lhes concede.
Nesse sentido, não é possível dissociar o cuidar do educar, pois o desenvolvimento das
crianças depende de aprendizagens realizadas através das interações estabelecidas com
o outro, as quais, ao mesmo tempo influenciam e potencializam seu desenvolvimento
individual e a construção de um saber cultural.
O ato de cuidar relaciona-se ao desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e
social da criança. “Enquanto todo, sou eu, com minhas singularidades, características,
tamanho, cheiro, com meus olhos ou sem meus olhos, com minha inteligência
desenvolvida ou não, com minhas pernas ou sem as minhas pernas. Sou eu naquilo que
eu sou, na minha identidade, enquanto todo. Ao mesmo tempo, eu sou sempre parte.
Autonomia nesse sentido é ser responsável como parte e como todo, numa relação. Esta
é a idéia de educação inclusiva, ou seja, ser parte e todo ao mesmo tempo”. (Lino de
Macedo. Fundamentos para uma Educação Inclusiva, não publicado). Não se limita
somente à sobrevivência física, pois a medida que vão sendo satisfeitas suas
necessidades primárias de alimentação, higiene, saúde, locomoção, vão surgindo novas
necessidades relacionadas à exploração do mundo, de si mesmo e de outro.
Assim, educar e cuidar são ações que devem ser planejadas, sistematizadas,
organizadas, em gestões compartilhadas entre crianças, professores, educadores, pais,
cada um deles portadores de diferentes culturas, portanto com diferentes concepções de
cuidar. Por isso, é necessário que haja constante diálogo entre as diferentes culturas que
circulam no interior das escolas para que o cuidar/educar sejam processos
complementares e indissociáveis, que tenham como um dos objetivos a autonomia
física, intelectual, emocional dos alunos. Conceber uma escola para a infância é pensar
um espaço educativo com ambientes acolhedores, alegres, seguros, instigadores, com
profissionais bem qualificados, organizando e oferecendo experiências desafiadoras.
Nesse contexto, este eixo curricular fundamenta a concepção cuidar/educar como
duas dimensões indissociáveis da educação de crianças. Num sentido mais amplo,
cuidar e educar envolve a preocupação com a organização e o processo de apropriação
do tempo e espaço, com a escolha e utilização dos materiais, com as manifestações
infantis e com o trabalho com as famílias. Os projetos pedagógicos devem assegurar às
crianças que as escolas sejam espaços de direitos, de brincadeiras, de curiosidade, do
lúdico, do acolhimento, de construção da identidade, de interação das crianças maiores
com os menores, das crianças com os adultos e com as famílias.
Portanto, pensar numa proposta curricular que leve em conta a importância e a
especificidade da Educação Infantil obriga criar um espaço educacional que deve:
• Criar uma atmosfera de alegria e entusiasmo;
• Criar situações de medição entre as crianças, as suas emoções e o seu
ambiente;
• Oferecer uma base sólida de afeto;
• Organizar coletivamente o espaço e o tempo;
• Dialogar com a família e a comunidade;
• Investir na formação continuada dos profissionais que atuam com as
crianças pequenas;
• Avaliar regularmente seu projeto pedagógico;
• Definir a inclusão como um projeto da escola que incorpora diversidade
como eixo central.
Por todas essas características, educar e cuidar tem sido entendido
automaticamente como conceitos que devem nortear a Educação Infantil. Porém, se
entendermos que cuidar significa solicitude, zelo, diligência, atenção, bom trato e que a
atitude de cuidado provoca preocupação, inquietação e sentido de responsabilidade, essa
é uma ação que cabe em todos os níveis e segmentos da educação.
O Professor que atua nas classes do Ensino Fundamental e da Educação de Jovens
e Adultos também precisa cuidar dos seus alunos. Esse cuidado significa uma
organização da sala de aula, de forma que ela se torne um ambiente criativo e
investigativo, que estimule os alunos a construir e reconstruir os conhecimentos, que
resguarde a identidade cultural e a pluralidade de significados que cada um tem da
trajetória histórica de sua própria vida.
Além disso, cuidar desses alunos de origens e histórias tão diferentes significa
adotar uma metodologia dialógica, estimulando-os a novas descobertas, a resignificar os
seus conhecimentos, a estabelecer novas relações pessoais, a adquirir novos valores e
novas atitudes na sua relação com o meio social, a reconstruir a sua identidade pessoal e
grupal, a ser protagonista de sua própria história.
Naturalmente, cuidar dos jovens e adultos pressupõe, ainda e principalmente, uma
revisão de currículos, metodologias, avaliações, conteúdos e da organização de tempo
para esses alunos que são, na maioria, trabalhadores e, portanto, precisam conciliar o
estudo com o trabalho. Há muito o que se fazer; estamos buscando novos modelos para
a educação de jovens e adultos pois as rápidas mudanças sociais e as exigências do
mercado nos obrigam a avaliar constantemente os rumos da educação.
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