Texto complementar 1

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A Filosofia como ingrediente da vida humana
Marías, Julian, Introdução à Filosofia, Livraria Duas Cidades, São Paulo, 1960, p. 372-373.
Conceitos: a priori, conhecimento, existência, Filosofia, pergunta, razão, verdade, vida humana
(…) A Filosofia naquilo que possui de realidade, radica-se na vida humana e a esta tem que ser referida para ser
entendida plenamente, porque só nela, em função dela, adquire o seu ser efetivo. Portanto, não se pode
conhecer a priori o que é a Filosofia, nem expressá-la numa definição abstrata; o que dela se conhece só pode
ser subsequente ao facto de ter sido encontrada na vida humana, como um ingrediente seu, com uma posição
e uma função determinadas dentro da sua totalidade.
Mas aqui começam os problemas. Se se tivesse como ponto de partida o pressuposto de que o homem,
por natureza e nada mais, em virtude de possuir a “faculdade”de conhecer, a exercita, seria suficiente definir
as características concretas desse modo de conhecimento que se chama Filosofia, para saber a que se ater em
relação à mesma. Mas, (…) esta hipótese não pode ser admitida de maneira alguma. Nem o homem fez sempre
filosofia, nem é certo que continue sempre a fazê-la. Ainda mais: procurando-se ver as coisas com algum rigor,
não se pode dizer que da existência do homem se segue, sem mais, o conhecimento sensu stricto, e sim que,
como o mostrou Ortega, este é uma possibilidade a que o homem chega em virtude de uma série de
necessidades, experiências e pretensões muito concretas. Mas, por outro lado, como o ser do homem inclui
essencialmente tudo o que lhe aconteceu, e há mais ou menos vinte séculos lhe aconteceu fazer Filosofia, esta
já é, agora e para sempre, um ingrediente da vida humana, alguma coisa que pertence- embora não tenha sido
sempre assim- ao ser do homem. Se a pergunta pela Filosofia implica, de um modo formal, a pergunta pela vida
humana, o saber acerca desta tem de propor, hoje, a questão da Filosofia.
Evidentemente não é tudo. A determinação do lugar que a Filosofia ocupa dentro da vida humana não
pode ser feita univocamente, porque a historicidade daquela condiciona a desta e a relação entre ambas. O que
é a Filosofia- um ingrediente da vida humana- só historicamente se pode conhecer, isto é, quando se sabe que
ingrediente é e de que vida concreta e determinada. Mas isto só se pode saber quando se possui um
conhecimento suficiente da vida humana e é o que temos denominado Filosofia. O que isto significa?
(…) A Filosofia foi definida como uma verdade radical que se justifica a si mesma; e por outro lado, como um
conhecimento capaz de dar a razão da realidade radical que é a nossa vida. Vemos agora a razão última dessa
dupla condição: só o conhecimento radical da nossa vida- que é o tema primário da Filosofia- torna possível a
compreensão e com ela a justificação da própria Filosofia. Por esse motivo, somente a razão vital, por ser capaz
de dar efetivamente a razão da minha vida, pode alcançar uma justificação suficiente da Filosofia e fazer desse
modo que esta o seja numa forma plena e madura. A Filosofia tem sido afetada tradicionalmente de
absolutismo e abstração, por não se ter tomado a si mesma na sua efetividade, isto é, radicada a uma vida,
dentro da qual cumpra a sua missão inexorável: dar a razão da mesma.
Plano de discussão
Como pode a Filosofia ser um ingrediente da vida humana?
Qual o papel da Filosofia na construção de um sentido da existência humana?
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