ATENÇÃO À SAÚDE BUCAL EM UMA COMUNIDADE DE BAIXA RENDA – UMA VIVÊNCIA EXTENSIONISTA (APRESENTAÇÃO DE POSTER) RESUMO O atendimento odontológico e a orientação acerca da saúde bucal a pacientes menos favorecidos constituem-se em importantes instrumentos sociais para reduzir significativamente o número de casos de doenças periodontais, cáries e perdas de elementos dentários, assegurando uma melhora da qualidade de vida da população. O presente trabalho relata um serviço de assistência odontológica, com ênfase na saúde sistêmica, a uma comunidade carente de um município do sul do Brasil. Tal projeto se encontra em andamento e para sua realização estão sendo utilizados métodos educativos baseados em palestras, desenvolvimento de teatros, instruções de higiene oral (IHO), distribuição de escovas dentais e dentifrícios, bem como atendimento odontológico básico aos pacientes pertencentes à área urbana atendida pela Estratégia de Saúde da Família (ESF) que auxilia cerca de cinco mil pessoas no bairro Valinhos, de Passo Fundo/RS/Brasil. INTRODUÇÃO Indivíduos excluídos do mercado de trabalho formal sobrevivem da coleta, separação, classificação e comercialização do material reciclável existente no lixo, essas famílias não conseguem inserir-se no mercado de trabalho formal, ficando à margem da sociedade. Acabam então auto-limitando a própria atenção básica a saúde, pois sentem-se excluídas do sistema. Tendo por base o anteriormente exposto, o presente trabalho relata uma experiência extensionista multiprofissional realizada em uma comunidade carente do município de Passo Fundo/RS. Os procedimentos realizados são importantes para reabilitar os pacientes, em geral desassistidos do sistema público de saúde. Para os acadêmicos, a vivência na comunidade proporciona um novo olhar para o atendimento em saúde e para a formação profissional. OBJETIVO Relatar a experiência extensionista vivenciada no projeto através da ação de assistência odontológica prestada a uma comunidade de baixo nível socioeconômico. . REVISÃO DE LITERATURA Os indivíduos estão sendo cada vez mais excluídos, não só por sua condição social, mas também por sua condição bucal. A maior parte dos pacientes não possui grande parte dos dentes. A despreocupação acerca da saúde bucal no contexto de sua realidade social, bem como a prática da odontologia mutiladora, comum às populações mais desassistidas, contribuem para o aumento dos índices de edentulismo, podendo o paciente desdentado parcial ou total ser considerado um mutilado. CABRINI et al. (2008); HAIKAL et al., 2014 . Ampliação para uma abordagem sócio-odontológica, inclusive, passa por aquilo que é demandado pelos próprios pacientes, e tende a ter validade prognóstica mais alta que as medidas ditas objetivas (BOMBARDA-NUNES, et. al, 2008; GOMES, ABEGG, 2007; SHEIHAM, 2000) Entretanto, Mello (2014) relata que a formação tecnicista, segmentada, a crítica pouco reflexiva e tradicionalista que forma cirurgiões-dentistas, muitas vezes é incompatível com as múltiplas interfaces exigidas nesse contexto social. METODOLOGIA O presente trabalho relata a assistência odontológica prestada a uma comunidade de baixo nível socioeconômico de um município do interior do RS, através de uma atividade de extensão acadêmica multiprofissional. Para a realização das atividades foram feitas perguntas sobre saúde oral e sistêmica. A partir do diagnóstico, estão sendo realizadas quinzenalmente atividades educativas baseadas em palestras e teatro com instruções de higiene oral, distribuição de escovas dentais e dentifrícios, bem como atendimento odontológico aos pacientes pertencentes à área urbana atendida pela Estratégia de Saúde da Família do bairro Valinhos (Passo Fundo/RS/Brasil). A comunidade é formada por cerca de cinco mil pessoas. O índice CPO-D médio dos indivíduos examinados (15 a 74 anos) foi de 19,65. Os procedimentos realizados envolveram atividades de palestras educativas aos pacientes, exodontias, periodontia e procedimentos restauradores incluindo a confecção de próteses removíveis. Esta atividade tem estimulado nos indivíduos uma maior procura por atendimento odontológico e interesse da comunidade em melhorar o auto-cuidado em saúde bucal. RESULTADOS Os resultados apresentados foram estimados no período de abril a outubro de 2015, tendo sido examinados 38 indivíduos. O índice médio de CPO-D foi de 19,65, mostrando que dentes cariados e extraídos compõem a maior parte desse número, deixando claro que os pacientes não tem acesso ao tratamento dentário precoce (prevenção e restauração). 120 100 80 60 40 20 0 15-19 Cariado 20-34 35-44 Perdido 45-64 65-74 Total Obturado / Restaurado Figura 1 Percentual do CPO-D por componente, nas diferentes faixas etárias, dos indivíduos examinados no bairro Valinhos, Passo Fundo-RS. Algumas perguntas do questionário inicial eram sobre a vida social desses pacientes. Os resultados dessas perguntas mostram claramente que o meio em que esses pacientes estão inseridos não exige uma saúde oral adequada, nem os padrões de beleza oral da classe média brasileira. DUTRA (2011) reporta que o sorriso ideal necessita de uma gengiva rosada e saudável, com aproximadamente 2 milímetros expostos durante o sorriso. Já outros pesquisadores como KUMAR e MUSSKOPF citam outros fatores, como cor e alinhamento dentário. Nota-se claramente a falta desta cultura no meio em que os catadores vivem, sendo que a maioria deles não possui vergonha do seu sorriso, mesmo sem ter todos os dentes ou uma gengiva saudável. SIM: NÃO: 72.9 71.2 69.5 69.5 57.6 52.5 47.5 42.4 28.2 Dificuldade na alimentação: Incomodo na higienização: 30.5 27.1 Deixar de ir a eventos: Dificuldade para falar: 30.5 Vergonha: Atrapalha no sono: Figura 2 Impacto da saúde bucal nas atividades de vida diária dos indivíduos examinados no bairro Valinhos, Passo Fundo-RS. Também foram avaliadas a frequência com que os pacientes requentavam o cirurgiãodentista, e observou-se que um número razoável de pacientes nunca foi atendido por algum dentista (cerca de 30%). CONCLUSÃO A vivência na comunidade proporciona um novo olhar para o atendimento em saúde e para a formação profissional, permitindo perceber o individuo como um ser integrado a uma sociedade, a uma cultura e merecedor de um atendimento humanizado, qualificado e integral. REFERENCIAS BRUNETTI; MONTENEGRO, 2002; ARAÚJO et al., 2006, MACAU, 2008 CABRINI et al. (2008); HAIKAL et al., 2014 BOMBARDA-NUNES, et. al, 2008; GOMES, ABEGG, 2007; SHEIHAM, 2000 FELLER et al., 1997; BARBATO et al., 2007; CIMÕES et al., 2007; CALCAGNOTTO, et al., 2008; PANDOLFI et. al., 2011