54ª Reunião Anual da SBPC – Goiânia/GO – Julho/2002 Os leucócitos polimorfonucleares são importantes reguladores da imunidade e da produção de citocinas por camundongos resistentes e susceptíveis frente à infecção pelo Paracoccidioides brasiliensis Vera L. G. Calich e Adriana Pina. Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. Os leucócitos polimorfonucleares são células fagocitárias importantes nos mecanismos de imunidade natural e adquirida contra patógenos. Além da sua função fagocitária e subseqüente produção de reativos intermediários do oxigênio e nitrogênio, essenciais aos mecanismos microbicidas, os leucócitos PMN têm sido reconhecidos como importantes células reguladoras da imunidade adquirida devido à sua capacidade de síntese de citocinas. Assim, dependendo da situação experimental, as células PMN podem secretar citocinas pró-inflamatórias como a IL-12, fatores de crescimento como o GM-CSF ou ainda citocinas anti-inflamatórias como a IL-10. O resultado do influxo celular, função microbicida e atividade secretória dos PMN pode resultar em imunidade aumentada ou diminuída que depende do microrganismo infectante e de características intrínsicas do hospedeiro. Estudos em nosso laboratório caracterizaram camundongos B10.A como susceptíveis e camundongos A/J como resistentes à infecção pulmonar pelo P.brasiliensis. Para investigar o papel das células PMN na paracoccidioidomicose (PCM) pulmonar, camundongos B10.A e A/J foram depletados destas células através da inoculação in vivo por via intraperitoneal (i.p.) do anticorpo monoclonal anti-células PMN e infectados pela via intratraqueal (i.t.) com um milhão de leveduras viáveis. Camundongos-controle receberam doses equivalentes de IgG normal de rato. A depleção de granulócitos diminuiu o tempo de sobrevida dos animais B10.A, mas não dos animais A/J. Quando comparados com os animais não depletados, camundongos resistentes apresentaram aumento da carga fúngica no pulmão somente no dia 7 pós-infecção. Ao contrário, camundongos susceptíveis depletados de PMN apresentaram números mais elevados de células leveduriformes no pulmão, fígado e baço nos dias 7, 15, 30 e 120 pós-infecção, com relação aos seus grupos-controle tratados com IgG. A depleção dos granulócitos, entretanto, não alterou as reações de hipersensibilidade do tipo tardio (HTT) desenvolvidas por ambas as linhagens de animais. Considerando a resposta imune humoral, a depleção de células PMN levou à maior produção de anticorpos específicos em animais B10.A (Ig Total, IgG1, IgA e IgG3) e em animais A/J (Ig Total, IgG2a, IgG2b e IgG3). A depleção também alterou o padrão de citocinas pulmonares. Nos animais B10.A-tratados foram encontradas concentrações mais elevadas de IL-12 aos 15 dias e de IL-4 aos 120 dias pós-infecção, em comparação aos animais controle. Níveis de IL-12 significativamente mais altos foram detectados no grupo de animais A/J- depletados aos 7 e 120 dias e o IFN-γ foi detectado em níveis mais elevados em todo o curso da doença. Então, a depleção de PMN induz níveis mais altos de anticorpos e um ambiente mais pró-inflamatório no local da infecção. Apesar dos níveis mais altos de IFN-γ e IL-12, a atividade microbicida dos fagócitos no sítio da infecção não apresentou-se aumentada, como verificado pelo aumento da carga fúngica pulmonar. Assim, na ausência de leucócitos PMN um ambiente mais rico em citocinas ativadoras de fagócitos e indutoras de imunidade do tipo Th1 estabeleceu-se, mas surpreendentemente, este fato não redundou em imunoproteção à infecção pelo 54ª Reunião Anual da SBPC – Goiânia/GO – Julho/2002 P.brasiliensis. De acordo com esses dados, pudemos verificar que os neutrófilos são células importantes na defesa do hospedeiro à infecção pelo P.brasiliensis. Entretanto, o efeito protetor desta população celular depende do patrimônio genético do hospedeiro e é mais marcante na linhagem susceptível de camundongos. Neste trabalho também investigamos o efeito da depleção in vivo de leucócitos PMN na imunidade adquirida e protetora desenvolvida pela pré-imunização de animais B10.A. Assim, os camundongos foram previamente imunizados pela via s.c., depletados ou não de células PMN e desafiados i.t. com 1 milhão de células leveduriformes. Não foram detectadas diferenças significativas na contagem de fungos viáveis do pulmão, fígado e baço, entre os grupos imunizados tratados ou não com o AcM anti-PMN. A depleção não alterou a produção de anticorpos específicos, porém aumentou significativamente a síntese de IL-3, bem como a reatividade de HTT. Portanto, nossos resultados mostraram que, diferentemente da imunidade natural, os leucócitos PMN não exercem um papel protetor na fase adquirida da resposta imune à infecção com o P.brasiliensis. Em conjunto, nossos resultados têm relevância para a compreensão dos mecanismos imunológicos operantes contra infecções fúngicas pulmonares e demonstram claramente que os leucócitos PMN exercem uma função imunoprotetora nos fenômenos de imunidade natural à paracoccidioidomicose; entretanto, é o patrimônio genético do hospedeiro que determina o quanto esta população leucocitária pode contribuir nos mecanismos de imunoproteção.