UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIENCIAS DA SAUDE DEPARTAMENTO DE ESTOMATOLOGIA CURSO DE ODONTOLOGIA TC do BEM: TOMOGRAFIA DENTAL COM BAIXA DOSE DE RADIAÇÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Giuliano Omizzolo Giacomini Santa Maria, RS, Brasil 2015 TC do BEM: TOMOGRAFIA DENTAL COM BAIXA DOSE DE RADIAÇÃO Giuliano Omizzolo Giacomini Trabalho apresentado para conclusão do curso de graduação em Odontologia da Universidade Federal de Santa Maria Orientador: Prof. Gustavo Nogara Dotto Santa Maria, RS, Brasil 2015 Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências da Saúde Curso de Odontologia A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de Curso TC do BEM: TOMOGRAFIA DENTAL COM BAIXA DOSE DE RADIAÇÃO elaborado por Giuliano Omizzolo Giacomini como requisito parcial para obtenção de grau em Odontologia COMISSÃO EXAMINADORA Gustavo Nogara Dotto, Prof. Dr. (UFSM) (Orientador) Alexandre Dornelles Pistóia, Prof. Dr. (UFSM) Sidney Ricardo Dotto, Prof. Dr. (UFSM) Santa Maria, 16 de novembro de 2015 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha família, meus pais (Mauro e Nereida) e irmão (Klaus), que sempre estimularam meu desenvolvimento acadêmico/profissional sem medir esforços para que isso fosse possível e, ao mesmo tempo, tiveram cada um seu papel exclusivo no desenvolvimento do ser humano Giuliano Omizzolo Giacomini, contribuindo verdadeiramente para a minha formação. Além destes, meu avô Francisco Omizzolo, que com sua cultura, interesse, incentivo e zelo foi um grande estimulador aos meus estudos. Bem como, minha avó Idalina M. V. Giacomini, que foi uma das minhas primeiras pacientes no período de graduação, demonstrando segurança e confiança no meu trabalho, além de todo seu carinho e gratidão. Também cito meus avós, Isonia Omizzolo e Osmar A. Giacomini, pessoas com as quais eu tive o prazer de crescer e tenho o prazer de viver, pois é uma honra ter os 4 avós por perto. Devo dizer que dedico este trabalho e dedicarei minha profissão à todas as pessoas que, de alguma forma, contribuíram e contribuem para minha formação, desde professores pré-escolares até professores da graduação, desde familiares mais distantes aos familiares mais próximos, dos amigos do dia-dia aos amigos afastados. Por fim, devo realizar mais um destaque pessoal à minha namorada Aloma, que há 5 anos já é minha companheira e, com certeza, é uma das responsáveis pelo meu crescimento acadêmico e pessoal. AGRADECIMENTOS Agradeço ao Professor Gustavo Nogara Dotto por todo apoio dedicado ao meu conhecimento e crescimento, tanto acadêmico quanto pessoal, bem como, por sua paciência e dedicação no momento da transmissão de conhecimentos e na construção deste trabalho. Figuram ainda como pessoas importantes para isso, a grande maioria dos professores do Curso de Odontologia da UFSM, pelas suas contribuições em relação à conhecimento clínico e técnico-científico, e os membros do grupo de pesquisa CA+SA (Computação Aplicada em Saúde), pelo caráter multidisciplinar e de colaboração mutua das nossas reuniões. Vale destacar a colaboração da Equipe de Física Médica do HUSM e a Equipe de Técnicos em Radiologia do hospital, em especial a Física Ana Paula Viero e a Técnica em Radiologia Maria de Lourdes Bordinhao (“Udi”), sempre bastante prestativas e atenciosas conosco. Agradecimento especial cabe ainda ao Professor Carlos Jesus Pereira Haygert, por toda sua luta para que o nosso trabalho pudesse ser desenvolvido e pela sua disponibilidade em nos apoiar. “Procure uma necessidade e tenha ideias para resolvê-la, uma ideia levará a outra e assim sucessivamente” (Robots, Twentieth Century Fox, 2005). RESUMO Trabalho de Conclusão de Curso Curso de Odontologia Universidade Federal de Santa Maria TC do BEM: TOMOGRAFIA DO BEM TOMOGRAFIA DENTAL COM BAIXA DOSE DE RADIAÇÃO AUTOR: GIULIANO OMIZZOLO GIACOMINI ORIENTADOR: GUSTAVO NOGARA DOTTO Santa Maria, 16 de novembro de 2015 Introdução: A tecnologia referente a Tomografia Computadorizada tem avançado ao longo dos anos, como também, o aumento de seu uso e aplicações, apesar de ser o método de imagens médicas com doses de radiação mais elevadas, gerando assim uma procura por aplicações com doses reduzidas de radiação. Parâmetros que podem ser modificados nesta busca são a quilovoltagem (kVp) e a miliAmperagem (mA). Objetivo: validar o protocolo da Tomografia Computadorizada Multi Slice (TCMS) de uso hospitalar – TC do Bem – TC Dental de baixa dose de radiação, por meio da comparação das doses totais de radiação (DLP) com Tomografia Computadorizada Cone Beam (TCCB) de grande FOV. Materiais e Métodos: Foram utilizados dados de DLP (Dose Length Product) de 20 (vinte) pacientes obtidos em TCCB de grande FOV confrontando com dados de dose de outros 20 (vinte) pacientes obtidos em TCMS (protocolo TC do Bem). Para a realização do exame TCCB foi utilizado o tomógrafo iCAT Classic (120kVp, 3-7mAs). Para o exame de TCMS foi utilizado o tomógrafo Aquilion 64 (120kVp, 10mAs). Resultados: No protocolo TC do Bem obteve-se uma média para DLP de 28,5mGy.cm e para a TCCB obteve-se uma média para a DLP de 569mGy.cm, verificando-se uma dose de radiação efetiva significativamente inferior para TCMS em comparação com a TCCB de grande FOV, resultando em um valor de p<0.05 para todas as comparações. Discussão: Devido à grande variedade de preferências e experiências clínicas, a necessária qualidade de imagem varia e a dificuldade em determinar um conjunto fixo de parâmetros de aquisição de imagens que proporciona a necessária qualidade de imagem, é ainda presente no meio. Contudo, baseados, inclusive, em valores subjetivos isso pode ser atingido. Por estas razões, os protocolos locais são desenvolvidos com base na experiência local. Conclusão: a partir dos valores de DLP obtidos, o paciente está exposto à menos radiação quando realiza o procedimento de TCMS. Sendo assim, a utilização desse método em ambiente hospitalar é extremamente benéfica aos pacientes e à equipe de saúde responsável pelo tratamento e proservação dos mesmos. Palavras-chave: Tomografia Computadorizada Computadorizada Multi Slice. Dose de Radiação. Cone Beam. Tomografia ABSTRACT Introduction: CT technology has advanced over the years, as well as increasing the use and applications, although it is the method of medical images with higher doses of radiation which implies the searching for new applications with reduced radiation dose. Parameters that can be modificate in this search are kilovoltage (kVp) and mimliAmpere (mA) Objective: validate the Multi Slice CT protocol for hospital use – TC do Bem - low-dose radiation CT Dental, through the comparison of total doses of radiation (Dose Lenght Product - DLP) with Cone Beam CT - iCAT full FOV. Material and Methods: It was used data from DLP (Dose Length Product) twenty (20) patients achieved in CBCT confronting dose data from other twenty (20) patients achieved in MSCT (TC do Bem protocol). To conduct the test, was used the CBCT scanner iCAT Classic (120kVp, 3-7mAs) and about 20 seconds for 360°/rotation. For the examination of MSCT was used Aquilion64 CT scanner (120kVp, 10mAs and about 6 seconds (0.5s to 360°/rotation). Results: In CT do Bem protocol yielded an average for DLP 28,5mGy.cm and the CBCT obtained an average for the DLP 569mGy.cm. The scanning MSCT has a significantly lower effective dose of radiation compared with CBCT large FOV, resulting in a value of p <0.05 for all comparisons. Discussion: Due to the variety of clinical experiences and preferences, the required image quality is variable and the difficult to determine a fixed set of image acquisition parameters that provides the required image quality is still present in the radiology. However, based on subjective values that can be achieved. For these reasons, local protocols are developed based on local experience Conclusion: The authors concluded that the DLP values obtained for MSCT were lower than the DLP values found to CBCT large FOV, it means that the patient is exposed to less radiation when performing MSCT procedure. Thus, using this method in hospitals is extremely beneficial to patients and the health staff responsible for the treatment and follow patients. Key-words: Cone Beam Computed Tomography. Multislice Computed Tomography. Radiation Dosage. LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 3DVR – 3 dimensions volume rendering CBCT – Cone Beam Computed Tomography CNR – Contrast Noise Ratio (relação contraste ruído) CT – Computed Tomography DLP – Dose Lengh Product (dose total de radiação) FOV – Field Of View (campo de visão) HUSM – Hospital Universitário de Santa Maria kVp – kilovoltage (quilovoltagem) LCD – Low Contrast Detail mA – miliAmpere (miliamperagem) mAs – miliAmpere per second (miliamperagem por segundo) mGy – miliGray mGy.cm – miliGray por centímetro MSCT – Multi Slice Computed Tomopraphy Gy – Gray (unidade de medida para radiações ionizantes) TC – Tomografia Computadorizada TCCB – Tomografia Computadorizada Cone Beam TCMD – Tomografia Computadorizada Multidetectores TCMS – Tomografia Computadorizada Multi Slice TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido SUMÁRIO INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA ........................................................ 11 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................ 16 RESULTADOS .......................................................................................................... 18 DISCUSSÃO ............................................................................................................. 19 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 22 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 23 11 INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA Atualmente, existe uma preocupação crescente na sociedade em relação às doses de radiação à que estamos expostos durante a realização de diversos exames que utilizam radiação ionizante. Essa preocupação não está associada somente aos pacientes, mas também aos profissionais da saúde e aos fabricantes de equipamentos (DALMAZO et al., 2010). Nesse contexto, a tecnologia referente a Tomografia Computadorizada tem avançado ao longo dos anos, consequentemente, aumentando o seu uso e suas aplicações e gerando profundas preocupações referentes à radiação (BUXI et al., 2014). Além disso, destaca-se o fato de que a modalidade de imagens médicas com a dose de radiação mais elevada é obtida a partir da Tomografia Computadorizada e, a partir dessa consideração, a redução da dose tornou-se um objetivo muito importante nessas aplicações (ALSLEEM and DAVIDSON, 2013).. A tecnologia mais recente tratando-se desta aplicação é a chamada Tomografia Computadorizada Cone Beam (TCCB), em que são utilizados painéis de detectores, em substituição às linhas multidetectores da Tomografia Computadorizada Multi Slice (TCMS), com capacidade de alta resolução de imagem espacial volumétrica (ASLEEM and DAVIDSON, 2013). Em contrapartida, a TCMS apresenta um scanner espiral com mais de uma fileira de detectores, podendo haver 4, 16, 64, 256 ou 320 linhas (canais) de detectores que são capazes de gerar muitas fatias simultaneamente e várias análises completas em segundos, ou em um período de sub-segundo. Nesse sentido, os sistemas TCMS são melhores do que sistemas TCCB (único volume), devido aos scanners serem mais rápidos, detectarem elementos de menor tamanho, cobrir uma área maior e usar algoritmos de reconstrução aprimorados (ASLEEM and DAVIDSON, 2013). Para procedimentos odontológicos, tanto clínicos quanto hospitalares, a utilização de exames por imagem para analisar estruturas ósseas e dentes é considerada um auxiliar importante ao diagnóstico. Com relação a isso, em procedimentos hospitalares, o uso da TCMS para diagnóstico e avaliação dentomaxilofacial dos pacientes se torna um excelente aliado, pois esse é um equipamento normalmente encontrado em hospitais e que, devidamente calibrado, 12 possibilita a aquisição de imagens com visualização das estruturas ósseas e dentárias da região. O auxilio diagnóstico deste método de imagem sobre a estrutura craniofacial do paciente possibilita a avaliação das estruturas ósseas e dentárias do mesmo utilizando cortes multiplanares (axial, sagital, coronal, panorâmico e transversal) e a reconstrução em 3DVR (três dimensões - volume rendering). O tomógrafo médico pode, então, ser integrado à odontologia, ao serem modificados e fixados o kVp (kilovoltagem), o mAs (miliamperagem) e o FOV (Field of View/campo de visão) do equipamento, o que possibilita, também, um tempo menor de duração do exame (GARIB et al., 2007). A formação de uma imagem 3D depende do VOXEL, que pode ser compreendido como o volume de um pixel, cada um com sua altura, largura e espessura (HATCHER et al., 2003). O FOV, que considera o tamanho do campo de visão desejado para o exame, tem tamanhos padrões de detectores para determinados tipos de exame, considerando o tamanho adequado de cada área de exposição (SCARFE and FARMAN, 2008). Ao encontro disso, a avaliação por imagem dos dentes e maxilares dos pacientes internos ao Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) não ocorria mesmo previamente a tratamentos de radio e quimioterapia, tendo em vista que anteriormente a estes procedimentos, principalmente quando relacionados à face, deve-se verificar a necessidade de tratamento odontológico, pois o tempo de proservação após radioterapia para nova intervenção odontológica sem riscos ao paciente é, normalmente, de cinco anos. Contudo, a partir do conhecimento da disponibilidade de um equipamento de TCMS no HUSM, os idealizadores deste projeto passaram a desenvolver o uso deste equipamento com protocolo de dose reduzida de radiação para avaliação dentomaxilofacial no hospital, com a reformatação das imagens DICOM adquiridas em cortes axial, sagital, coronal, panorâmico, transversal e reconstruções 3D, bem como, a realização do laudo de todos os exames. Com isso, os planejamentos e possibilidades de atendimento e tratamento são ampliados, resultando em retorno ao público (pacientes) atendido pelo HUSM. Sabe-se ainda que, com o desenvolvimento de novas tecnologias em Tomografia Computadorizada, pode-se reivindicar uma redução da dose de até 80%, mantendo a qualidade de imagem do diagnóstico. Nesse contexto, os avanços em imagem tomográfica são projetados para fornecer qualidade de imagem 13 diagnóstica equivalente e com a aparência semelhante as imagens de dose completa, com uma fração da dose de radiação. Esse desenvolvimento busca ajustar automaticamente o equipamento ao paciente, compensando parâmetros para a fisiologia particular e a otimização da dose por região anatômica desejada (BUXI et al., 2014). Parâmetros que podem ser manipulados e que têm uma influência direta sobre a dose de radiação incluem a energia do feixe de raios-X (quilovoltagem), a corrente do tubo (miliamperagem), o tempo de rotação(igual ao tempo de exposição), a espessura de corte (colimação), o pitch, a distância do tubo de raios-X e o comprimento de digitalização (Length) (ZACHARIAS et al., 2013). A relação entre a energia do feixe de raios-X (kVp) e dose de radiação não é linear e a relação entre a corrente do tubo e a dose de radiação é linear, o que significa que o aumento da corrente no tubo em 50% irá resultar em uma dose 50% mais elevada. A corrente do tubo (mA) e o tempo de exposição (em segundos) estão associados (miliamperagem por segundo – mAs), levando-se também a uma relação linear com a dose de radiação resultante (ZACHARIAS et al., 2013). Inseridos na iniciativa de redução/otimização de dose para exames por imagem dependentes de radiação ionizante, Dalmazo et al. propuseram a redução de kVp e mAs para otimização de dose em exames de rotina em tomografia computadorizada e verificaram que não há perdas qualitativas e quantitativas na imagem para o diagnóstico. A redução de dose de radiação, nesse caso, foi justificada com a utilização de técnicas que consideram dados antropométricos individuais, ou trabalhando-se com níveis menos conservadores de ruído. Com o mesmo propósito, um estudo de Heyer et al. verificou redução significativa na dose efetiva de radiação, de aproximadamente 44%, em angiotomografias pulmonares a partir da redução da kilovoltagem (kVp) e do aumento dos níveis de ruído. Nessa concordância, Jung et al., ao desenvolver testes com quatro níveis diferentes de corrente elétrica (150, 100, 70 e 40mA) para a realização de TC Volumétrica Helicoidal de Tórax, constataram que a redução na corrente não gerou diferença significativa na qualidade de imagem. Ao referenciar a Tomografia Computadorizada Cone Beam, que é um método amplamente utilizado em imagenologia odontológica, percebe-se sua grande eficácia e precisão na obtenção de imagens tridimensionais dos tecidos duros orais. As vantagens do uso deste método em relação a TCMS, são referentes ao menor 14 custo do exame, menor tamanho do voxel de imagem, menor dose de radiação para o paciente a partir de protocolos padrão e facilidade de acesso ao equipamento (SUOMALAINEN et al., 2015). O tamanho da área exposta à radiação e, por conseguinte, a dose de radiação podem variar muito na TCCB, principalmente levando em consideração o FOV e a colimação dos equipamentos (HELMROT and THILANDER-KLANG, 2010). Destaca-se ainda que a miliamperagem também pode variar na TCCB, tendo significativa influência na dose efetiva de radiação (CHAMBERS, 2014). O desempenho de sistemas de imagens de Tomografia Computadorizada é, portanto, influenciado pelo sistema de tomografia específico, referente a corrente (miliamperes – segundo), a quilovoltagem (kVp), a espessura de corte, tamanho do pitch e colimação do feixe de raios-X, bem como o processamento da imagem e sua visualização. Esses fatores devem, portanto, ser ajustadas para otimizar a qualidade da imagem em termos de desempenho do baixo contraste de imagem (LCD – low contrast detail), diminuindo o ruído de imagem e mantendo menor dose de radiação para o paciente (ALSLEEM and DAVIDSON, 2013). Embora o ruído da imagem medido seja maior nas imagens de baixo kVp, a qualidade subjetiva da imagem é maior para menores kVp do que para maiores, desde que não comprometam o diagnóstico (GODOY et al., 2010). Ainda assim, destaca-se que a dose de radiação para o paciente não é linear com a quilovoltagem, porém, reduzindo kVp pode se reduzir a quantidade de radiação quando outros fatores de exposição são fixos. Além disso, embora a seleção de baixa quilovoltagem minimize a radiação para os pacientes, o kVp deve ser selecionado dependendo do diâmetro da secção transversal do paciente e deve ser ajustada de acordo com a tarefa (ZACHARIAS et al., 2013). Desse modo, considera-se que a interdependência entre qualidade de imagem e dose de radiação relacionada ao kVp é muito complexa. O kVp deve ser otimizado para ser suficientemente baixo para aumentar a resolução de contraste, a fim de melhorar LCD (low contrast detail), mas suficientemente elevada para reduzir o ruído e minimizar a radiação (ALSLEEM and DAVIDSON, 2013). Nesse contexto, a dose de radiação aceitável é determinada pela situação clínica. Diminuindo o mAs, por exemplo, a dose de radiação é reduzida, mas, ao mesmo tempo, aumenta o ruído da imagem e reduz a relação de contraste – ruído (CNR). No entanto, o nível aceitável de compensação na qualidade da imagem deve 15 ser determinado de acordo com a finalidade de diagnóstico clínico e tarefa a ser realizada. A baixa quilovoltagem aumenta interações fotoelétricos, o que melhora o nível de atenuação, levando a aumento de contraste de imagem e melhor visualização de detalhes (ALSLEEM and DAVIDSON, 2013). Para comprovar a segurança e as vantagens da TCMS e demonstrar o uso dessa aplicação em odontologia hospitalar, o objetivo do presente trabalho foi validar o protocolo TCMS de uso hospitalar para avaliação e diagnóstico odontológico (TC do Bem), por meio da comparação das doses totais de radiação (Dose Lenght Product – DLP) durante o procedimento na TCMS com a DLP obtida durante a aquisição de exames na TCCB de grande FOV (iCAT full FOV). 16 MATERIAIS E MÉTODOS Para a realização do exame TCCB foi utilizado iCAT Classic (Imaging Sciences International, Hatfield, PA, EUA) 120kV, 3-7mA e tempo de aquisição de cerca de 20 segundos (para 360º de rotação). Para o TCMS foi utilizado o Aquilion 64 (Toshiba America Medical Systems, Inc., Tustin, CA, EUA), utilizando 120 kV, 10 mA (5 mAs), baseado portanto no protocolo do TCCB, porém apresentando tempo de aquisição de aproximadamente 6 segundos (0,5s para 360º de rotação). As tomografias de feixe cônico foram realizadas com o paciente sentado, Plano de Frankfurt paralelo ao solo e plano sagital perpendicular ao chão, com FOV máximo e com tempo máximo de rotação selecionadas para a melhor qualidade de imagem, estando os dentes do paciente ocluídos. As tomografias multi slice foram realizadas com o paciente deitado em decúbito dorsal, plano de Frankfurt perpendicular ao solo, plano sagital paralelo ao solo e dentes também ocluídos. Nos exames de TC (Aquilion 64 e iCAT) o FOV era de aproximadamente 160 (D) x130 (H) mm. A análise estatística foi feita a partir do console dos TC scanners, em que é possível obter dados de dose estimada: DLP (Dose Lenght Product/Dose Comprimento do Produto), referente a dose total depositada ao longo da aquisição. Nesta pesquisa foram utilizados os dados de amostras independentes-K, uma única variável (DLP - dose de radiação) e de dados numéricos. Para testar estatisticamente esses dados foram utilizados ANOVA One-way, tendo como objetivo verificar os efeitos de vários tratamentos (várias amostras), complementando a análise das diferenças entre as médias (Bonferroni, NewmanKeuls e teste-t pareado). Para a comparação foram utilizados dados de dose de 20 (vinte) procedimentos realizados em TCCB de pacientes que realizaram os exames em uma clínica de Radiologia Odontológica e Imagenologia no munícipio de Porto Alegre, RS, confrontando com dados de dose de 20 (vinte) procedimentos realizados em TCMS no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM). Por se tratar de um projeto de pesquisa universitário em que o foco é a redução da dose de radiação em TCMS dentro de um hospital universitário e compará-la com a dose de radiação TCCB, não houve critérios de inclusão ou exclusão de pacientes, tendo em vista que o trabalho foi realizado em ambiente que 17 procura atender a todos que necessitam dos seus serviços. Porém, todos os exames por imagem são realizados somente após avaliação clínica e adequado encaminhamento em formulário próprio do hospital, relatando a necessidade do procedimento. Com isso, o TCLE assinado pelos pacientes e/ou responsáveis no momento de entrada no hospital, autorizando a realização de todos os procedimentos necessários durante a internação, possibilitou também o desenvolvimento do trabalho. Figura 1 – Equipamentos de tomografia computadorizada Multi Slice (Aquilion64) e Cone Beam (iCAT Classic) utilizados para comparação da dose total de radiação. Figura 2 – Sala de comando e monitores do tomógrafo Multi Slice durante a aquisição do exame. Pode-se observar o paciente deitado na mesa, cabeça no interior do gantry, scout e sequência de cortes sendo adquiridos na tela do computador. 18 RESULTADOS De acordo com os dados obtidos utilizando TCMS com protocolo de 120 kV e 10 mA durante a exposição, obteve-se uma média para DLP de 28,5 mGy.com e um tempo de varredura total de aproximadamente 6 segundos por aquisição. Para a TCCB obteve-se uma média para a DLP de 569 mGy.com e um tempo de varredura total de 20 segundos por aquisição. Fica evidenciado que, a digitalização em TCMS tem uma dose de radiação efetiva significativamente inferior em comparação com a TCCB de grande FOV, resultando em um valor de p<0.05 para todas as comparações. À análise da tabela 1 e também da figura 3 verifica-se essa diferença. Tabela 1 – Teste t pareado com intervalo de confiança (IC) para a comparação das médias de DLP obtidas nos exames de TCMS Aquilion64 e de TCCB iCAT full FOV. Teste T-pareado e IC: Aquilion64; Icat Grupo N Média Desvio Padrão Erro Médio Padrão Aquilion64 20 28.475 3.060 0.684 Icat 20 569.025 1.020 0.228 Diferença 20 -540.550 3.554 0.795 IC de 95% para diferença das médias: (-542.213; -538.887) Teste-T para a diferença das médias = 0 (vs ≠ 0): T-valor = -680.16 P-valor = 0.000 Figura 3 – Gráfico de colunas para a comparação das médias DLP obtidos utilizando tomografia Multi Slice e tomografia Cone Beam de grande FOV. 19 DISCUSSÃO Quando trata-se da realização de uma Tomografia Computadorizada (TC), a dose de radiação que o paciente recebe é dependente do design do aparelho e dos parâmetros técnicos, podendo variar de uma máquina para outra nos diferentes tipos de aquisição (TAVANO, 2009). Atualmente, em odontologia, a TCCB tem grande aplicabilidade, enquanto que a TCMS é, muitas vezes, desconhecida. Contudo, o uso do tomógrafo médico (TCMS) integrado à odontologia, possibilita a aquisição de imagens de boa qualidade com exposição à radiação reduzida, visto que parâmetros de protocolos padrão para o uso do equipamento, tais como quilovoltagem (kVp) e corrente elétrica (mAs), podem ser modificados (GARIB et al., 2007). Além disso, o uso do FOV correto para o campo de visão desejado também interfere nesse processo (SCARFE and FARMAN, 2008). Visto isso, destaca-se que em procedimentos odontológicos, tanto clínicos quanto hospitalares, o que se procura avaliar são estruturas ósseas e dentes e, a partir disso, pode ser pensado um protocolo que evidencie esses tecidos sem comprometer a imagem e otimizando a dose de radiação durante a aquisição do exame. Uma abordagem abrangente da gestão de dose de radiação deve ser focada em fornecer a quantidade e qualidade da radiação correta, como e quando necessário. A maioria dos scanners de Tomografia Computadorizada (TC) são programados aos parâmetros de dose de radiação e arquivados automaticamente em correspondência aos parâmetros de digitalização definidos para cada protocolo de exposição (BUXI et al., 2014). Ao encontro disso, a redução de dose de radiação deve ser prioridade quando se fala em tomografia computadorizada, ou seja, a resolução espacial mais alta não é prioridade diante da necessidade de otimizar a dose de radiação (DILLENSEGER et al., 2015). Devido à grande variedade de preferências e experiências clínicas, a necessária qualidade de imagem varia e a dificuldade em determinar um conjunto fixo de parâmetros de aquisição de imagens que proporciona a necessária qualidade de imagem, é ainda presente no meio. Contudo, baseados, inclusive, em valores subjetivos isso pode ser atingido. Por estas razões, os protocolos locais são desenvolvidos com base na experiência local (GODOY et al., 2010). É importante 20 considerar que, como em todos os processos em uma instituição, protocolos de tomografia computadorizada devem ser revistos regularmente para garantir que a qualidade da imagem e a dose estejam realmente otimizados. Ressalta-se que, excesso e sub-dosagem são erros médicos e, portanto, a redução da dose e aumento da dose pode ser apropriado ou não ao tentar otimizar protocolos de tomografia computadorizada (ZACHARIAS et al., 2013). Apesar de encontrarmos diversos estudos relatando experiências com controle e otimização de doses de radiação e protocolos, ao compararmos o TCCB com o TCMS, pouco ou nada encontramos. Nesse sentido, verifica-se que o primeiro permite cortes mais finos com doses de radiação menores do que o segundo quando são utilizados protocolos padrão (CHOI, 2014). No entanto, os dois processos são diferentes no sentido de que o TCMS tem resolução de contraste superior em comparação ao TCCB, bem como, permite um tempo de varrimento mais rápido em comparação com a TCCB (ALSLEEM and DAVIDSON, 2013). Com relação aos protocolos padrão utilizados destaca-se que, para exames de Tomografia de Face, habitualmente utilizados em âmbito hospitalar, inclusive para avaliação orofacial, o protocolo corresponde a aproximadamente 100kVp e 90mAs, levando a uma dose média de radiação de aproximadamente 900mGy.cm. Os autores deste trabalho buscaram portanto, por meio da comparação da DLP obtida em TCCB full FOV com a DLP obtida em exames de TCMS com protocolo reduzido de radiação, validar a otimização de dose de radiação da TCMS e o seu uso no diagnóstico odontológico hospitalar. Para isso, o trabalho utilizou como aplicação os parâmetros para realização de Dental CT - CT do Bem, que é realizado no HUSM, com TCMS calibrado em 120 kVp e 10 mAs, tempo aproximado de aquisição de 6 (seis) segundos e FOV de 160mm x 130mm, semelhante ao FOV do TCCB full FOV. Por tratar-se de um trabalho inédito e inovador, a comparação de DLP em equipamentos diferentes, sendo que um (TCMS) apresenta protocolo alterado para redução de dose e visualização de imagens importantes ao diagnóstico odontológico, é realizada a partir de uma base de imagens determinada por fatores clínicos locais/subjetivos que geraram resultados significativamente positivos quanto à qualidade da imagem disponibilizada durante o desenvolvimento do projeto TC do Bem, como pode ser verificado nas figuras 4 e 5. 21 Figura 4 – Tela do programa de computador com exame do paciente no formato Dental CT – CT do Bem. Pode-se observar os cortes axial, panorâmico e transversais ao lado da reconstrução tipo 3DVR. Figura 5 – Imagens da reconstrução 3D da mandíbula de um paciente, realizada a partir de imagens geradas em TCMS. Os autores deste trabalho ainda destacam que, apesar de a comparação de DLP apresentar vantagem para a TCMS utilizando protocolo de baixa dose, TC do Bem, a resolução de contraste e qualidade dos cortes tomográficos é superior na TCCB. Porém, a TCMS é uma máquina presente e em uso na maioria dos hospitais brasileiros, devendo portanto ser utilizada para fornecer imagens Dental que irão beneficiar o paciente, o cirurgião-dentista e toda a equipe de saúde envolvida. Por fim, lembra-se ainda que, mesmo diante de protocolos de baixa dose de radiação, exames tomográficos somente devem ser realizados sob correta orientação clínica. 22 CONCLUSÃO A partir da busca por métodos que racionalizem as doses de radiação em equipamentos tomográficos, os autores concluíram que a utilização da TCMS com protocolo de baixa dose de radiação (TC do Bem) obteve valores de DLP menores que os valores encontrados de DLP para a TCCB de grande FOV, ou seja, o paciente está exposto à menos radiação quando realiza o procedimento de TCMS. Sendo assim, por este ser o único método de imagem de aplicabilidade odontológica disponível na maioria dos hospitais brasileiros e, devido a presença de cirurgiõesdentistas ser obrigatória em ambiente hospitalar, visando interações multiprofissionais que gerem melhorias nas condições dos pacientes, a utilização da TCMS – TC do Bem – é extremamente benéfica aos pacientes e à equipe de saúde responsável pelo tratamento e proservação dos mesmos. 23 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alsleem H, Davidson R. Factors Affecting Contrast-Detail Performance in Computed Tomography: A Review. Journal of Medical Imaging and Radioation Sciences, 2013; 44: 62-70. Buxi TBS., Yadav A, et al. Effect of iterative reconstructions in low dose computed tomography. Journal of Biomedical Graphies and Computing, 2014; 4(3). Chambers D. The Effective Dose of Different Scanning Protocols Using the Sirona Galileos® Comfort CBCT Scanner. University of Western Ontario – Electronic Thesis and Dissertation Repository. 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