PSICOLOGIA, MORTE E ESPIRITUALIDADE NO CONTEXTO

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REVISTA ELETRÔNICA SOCIEDADE ADMINISTRAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE – RESAC / ISSN: 2237-0528
FACULDADE DE INTEGRAÇÃO DO SERTÃO – FIS / SERRA TALHADA - PE
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PSICOLOGIA, MORTE E ESPIRITUALIDADE NO CONTEXTO HOSPITALAR.
PSYCHOLOGY, DEATH AND SPIRITUALITY IN THE HOSPITAL CONTEXT.
Kamilla Asfora Campelo
Psicóloga Hospitalar;
Monitora Componente Curricular Psicologia Hospitalar no Curso de Psicologia da UFPE (2014.1).
Alexsandro Medeiros do Nascimento
Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Cognitiva da UFPE;
Coordenador do Laboratório de Estudos da Autoconsciência, Consciência, Cognição de Alta Ordem
e Self – LACCOS / UFPE.
Wanessa Alves Gondim
Graduanda no Curso de Psicologia da UFPE;
Monitora da Componente Curricular Psicologia Hospitalar (PS629) no Curso de Psicologia da
UFPE (2015.1).
RESUMO
O presente artigo objetivou refletir sobre a morte e o processo de morrer em situação de
hospitalização, a busca pela espiritualidade como suporte no enfrentamento no momento de
internação, e como a psicologia hospitalar se situa com o instrumental teórico no auxílio ao paciente.
O significado da morte sofreu alterações ao longo do tempo e a forma como é vivenciada reflete nas
situações de crise como o enfrentamento de uma doença terminal. Observa-se uma maior procura
pela espiritualidade no homem moderno demonstrando o resgate à totalidade do espírito humano, na
experiência da morte e do morrer, o indivíduo busca conforto em suas crenças. A Psicologia
Hospitalar lida com esse desafio diário de auxiliar os sujeitos em situação de internação a elaborar a
situação de doença e possível morte, de modo a acolher o sofrimento psicológico para além do
sofrimento físico do corpo que padece. O Psicólogo dentro do Hospital surge como aquele que
concilia a necessidade do paciente, da família e da equipe de saúde, aliviando angústias, sofrimento e
auxiliando no enfrentamento dos indivíduos inseridos nesse contexto. À vista disto, esta reflexão se
faz salutar para o entendimento de questões que atravessam o indivíduo em sua existência como
parte natural do ciclo vital, e o papel do profissional de psicologia hospitalar diante desses
fenômenos.
Palavras-chave: morte:
Espiritualidade; Psicologia hospitalar; Enfrentamento; Humanização em saúde.
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ABSTRACT
The present article aimed to reflect on the death and the process of dying in a situation of
hospitalization, the search for spirituality as a support in the coping at the moment of hospitalization,
and how hospital psychology is situated with the theoretical instruments to assist the patient. The
meaning of death has changed over time and the way it is experienced reflects in crisis situations
such as coping with a terminal illness. It is observed a greater search for spirituality in modern man
demonstrating the rescue of the totality of the human spirit, in the experience of death and dying, the
individual seeks comfort in his beliefs. Hospital Psychology deals with this daily challenge of
helping the hospitalized patients to elaborate the disease situation and possible death, so as to
welcome the psychological suffering beyond the physical suffering of the body that suffers. The
psychologist within of the hospital emerges as the one that conciliates the need of the patient, the
family and the health team, relieving distress, suffering and assisting in the coping of the individuals
inserted in this context. In the light of this, this reflection becomes salutary for the understanding of
issues that cross the individual in his / her existence as a natural part of the life cycle, and the role of
the hospital psychology professional in face of these phenomena.
Keywords:
Death; Spirituality; Hospital psychology; Coping; Humanization in health.
INTRODUÇÃO
A percepção das vivências da morte e do morrer tem sofrido transformações ao longo do tempo,
juntamente com as transformações da sociedade, evoluindo de uma experiência tranquila, e até
mesmo desejada, como na Idade Média para um evento impregnado de angústia, temor e aflição, que
deve ser evitado a todo o custo na época atual (Souza & Boemer, 2005). Essa angústia em lidar com
a morte é vivenciada pelo indivíduo normalmente em situações de dificuldade, principalmente
doenças terminais, em que há o medo de morrer e as relações familiares tornam-se distantes pela
instituição hospitalar.
Os profissionais de saúde estão em constante proximidade com a questão da finitude de seus
pacientes (Nascimento & Roazzi, 2007), porém muitas vezes a formação profissional e o paradigma
científico impõem a ideia rígida de cura da enfermidade, distanciando-os da compreensão do
processo e significado da morte (Cardoso, Muniz, Schwartz & Arrieira, 2013; Kastenbaum &
Aisemberg, 1983; Kübler-Ross, 1998; Kovács, 2003). A psicologia hospitalar, como apresenta
Simonetti (2011), tem como filosofia a atenção para “além da cura”, emergindo questões da doença,
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da vida, da morte, as emoções, os sentimentos, desejos, pensamentos, ou seja a subjetividade é o
objetivo e mirada do psicólogo hospitalar.
Diante desse contexto, os psicólogos perceberam como demanda de seus pacientes o fenômeno da
espiritualidade/religiosidade e sua relação com o bem-estar psicológico e suporte no enfrentamento
do processo de hospitalização (Oliveira & Junges, 2012). O paciente pode, portanto, acessar
conteúdos da religião e de suas crenças para ampará-lo em situações de crise, utilizando-as como
estratégia de enfrentamento.
Este trabalho apresenta, portanto, em caráter exploratório uma reflexão teoricamente baseada sobre a
relação da psicologia com o processo da morte e do morrer, e como a espiritualidade atua sendo
recurso no enfrentamento desse processo. É importante salientar a atuação do psicólogo hospitalar no
período de permanência do paciente na instituição, considerando suas angústias, e sofrimentos para
além do corpo físico, enfatizando o resgate da subjetividade.
A MORTE
Se a sexualidade atualmente é discutida abertamente, de forma menos velada do que na época
clássica, a morte, por sua vez, fez o processo inverso e tornou-se tabu, deslocando-se para o território
da intimidade psicológica (Ariés, 1977). De acordo com Gorer (1995), há 200 anos, a nossa relação
com as três experiências humanas fundamentais, a saber, a copulação, o nascimento e a morte, eram
desprovidas de mistério:
As crianças eram convidadas a pensar sobre a morte, sobre sua própria morte, e aos
instrutivos e premonitórios sepultamentos alheios. Durante o século XIX, quando a
taxa de mortalidade era elevada, raros foram os que não testemunharam, ao menos
uma vez, uma verdadeira agonia, ou que não tenham participado de uma cerimônia
fúnebre. Os funerais eram ocasiões de grande ostentação, tanto na classe operária
quanto na classe média e na aristocracia. Os cemitérios eram o centro de cada velha
aldeia e os que se localizavam em cidades tinham, em geral, uma posição
privilegiada. Foi muito tarde, no século XIX, que a execução de criminosos deixou
de ser, ao mesmo tempo, um divertimento e uma advertência pública. (Gorer, 1995,
p. 22).
Com o passar dos anos não só as crianças como os próprios sujeitos se afastaram progressivamente
da ideia da morte. Atualmente tida como tabu, mal pode ser pensada ou falada de forma natural, a
despeito de toda a sua naturalidade como parte inseparável da vida. Segundo Freud (1988/1915), em
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capítulo intitulado “Nossa atitude perante a morte”, o homem manifesta uma tendência por deixar a
morte de lado e eliminá-la da vida, ele diz que “[...] no fundo ninguém acredita na própria morte [...]
No inconsciente cada um de nós está convencido de sua imortalidade” (p.230). Todo ser humano dirá
ter consciência de que um dia morrerá. Contudo, ao se envolver com a vida, tenderá a não pensar
nem a se expressar a respeito da própria morte (Brustolin & Pasa, 2013).
Segundo Kovács (1992), o medo é a resposta psicológica mais comum diante da morte. O medo de
morrer é universal e atinge todos os seres humanos. Diante de uma doença como o câncer ou outras
doenças degenerativas, carregadas de sofrimento físico e psicológico, a dificuldade em lidar com a
ideia da morte, de acordo com Kastenbaum e Aisenberg (1983), inclui o indesejável prospecto de
sofrer; ou seja, é a possibilidade de padecer, a aflição física, em especial, mas também o padecimento
mental, social, e às vezes espiritual, que torna o morrer um evento tão aversivo.
O homem moderno desaprendeu a lidar com a morte. O “desaparecimento” da religião, do modo
como se manifestava nos séculos passados, foi um fator determinante para a ocorrência da
desritualização da morte e sua consequente negação (Nascimento, Rego & da Rocha Falcão, 2002).
A partir do momento em que a morte se tornou um tabu (mais ou menos na década de 50 do século
passado), sua ocorrência passou a ser cada vez mais negada na sociedade, de modo que, um povo que
não sabe trabalhar com a morte e nem elaborá-la, não pode ser um povo saudável (Aries, 1977;
Kastenbaum & Aisenberg, 1983).
Como citado por Laurie Laufer (2012): “Ver é necessário para criar um mundo imaginário, e para
não ficar preso a uma só imagem, o que seria uma paralisação da vida psíquica.” As crianças são
afastadas dos rituais de morte, impedidas de ver o corpo morto e desse modo, aquilo que não pode
ser representado permanece inominável e impensável, pois a criança fica presa à imagem daquilo
como algo proibido e é essa imagem que ela vai desenvolver ao longo da vida. Percebe-se que
quanto maior a prática religiosa das pessoas, maior e mais elaborados são os rituais de morte,
facilitando a elaboração do fato ocorrido ao invés de ser totalmente negado.
No Recife, especificamente nos últimos anos, houve uma queda considerável nas matérias no jornal
sobre os finados, mostrando cada vez mais o aumento do mal estar das pessoas diante da morte. O
processo de morte também passa a ser desvinculado do contexto familiar. Segundo a antropóloga
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Dra. M. L. Reesink1 (2013), a maioria das pessoas prefere morrer em hospitais a morrer na própria
casa, com o intuito de aliviar a família do fardo que seria o cuidado com o moribundo, ao contrário
do que acontecia há décadas atrás quando as pessoas eram levadas para morrer em suas próprias
casas, ao lado da família e pessoas próximas, havendo um contato com a morte muito mais humano e
caloroso do que a morte em uma cama de hospital, às vezes até mesmo numa UTI, sem ninguém
conhecido por perto, nem para que o sujeito possa se despedir ou dizer suas últimas palavras,
morrendo assim com um pouco mais de conforto e alívio (ver Kastenbaum & Aisenberg, 1983).
Hoje em dia, a proximidade da família do sujeito que está prestes a morrer causa muita dor aos
familiares e ao próprio sujeito que percebe o sofrimento destes, e com o desejo crescente de afastar a
morte, acaba-se por afastar também o doente terminal. Como nos alerta com muita agudeza analítica
Kübler-Ross (1998), o problema de pensar na morte é que ela nos faz pensar na própria vida, em
como estamos vivendo, em como administramos os nossos bens materiais e simbólicos, nossas
relações familiares, e a possibilidade de morrer e de deixar uma série de questões inacabadas também
promove angústias e sofrimento.
A passagem para a morte, e o pensar sobre esse processo é especialmente facilitado e suas
vicissitudes minoradas com a experiência da espiritualidade. Dessa forma, as crenças espirituais e/ou
religiosas mostram-se como subsídio nos momentos de dificuldade, sendo importante fonte de
estudo.
A ESPIRITUALIDADE
De acordo com Roof (1993) citado em Dalgalarrondo (2008), muitas pessoas rejeitam as formas de
religião tradicionais com práticas institucionalizadas e dão maior ênfase à experiência espiritual, que
apresenta uma dimensão mais pessoal e existencial, acreditando em Deus ou em um poder superior,
transcendental. Desse modo essas pessoas preferem dizer que são “espirituais” ao invés de
“religiosas”. No Brasil, várias estatísticas indicam que em média 98 a 99% das pessoas acreditam em
Deus. O censo realizado pelo IBGE no ano 2000 revelou que mais de 92% da população disse ter
uma religião, o que torna o fator religiosidade indispensável (Antoniazzi, 2004; Dalgalarrondo,
2008).
1
Comunicação pessoal. 8 de Nov. I Simpósio de Tanatologia e Terminalidade. Faculdade AESGA. Garanhuns,
Pernambuco.
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Paiva (2015) ressalta em seu estudo uma mudança no conceito de espiritualidade que determinava o
campo de ensinamento da Bíblia, originada da tradição cristã, e agora, é considerado polissêmico e
impreciso. Oliveira e Junges (2012) apresentam a distinção entre religião e espiritualidade afirmando
a necessidade do aspecto doutrinário da primeira, no entanto, ambas convergem na dimensão
experiencial. Há uma maior procura pela espiritualidade devido às mudanças culturais advindas da
modernidade tardia ou pós-modernidade, demontrando tendência ao resgate da amplitude do espírito
humano em sua totalidade (Paiva, 2015).
Essa espiritualidade tem se mostrado presente e atuante no contexto hospitalar e no auxílio aos
pacientes e familiares. Observa-se uma retomada de crenças ou pensamentos transcendentais do
sujeito diante da situação de possível morte ou seja, o que estaria para além do físico e empírico. Em
pesquisa realizada por Siegel et al. (2001), viu-se que o uso da religião como estratégia de
enfrentamento foi verificado principalmente diante de situações de crise, tais como: problemas
relacionados à saúde e ao envelhecimento, tipos de doenças, incapacidades e morte. Mota,
Benevides-Pereira, Gomes e Araújo (2006) destacam também o envolvimento religioso como
estratégia de enfrentamento e busca pela resolução dos problemas.
A maior parte do comportamento humano, segundo Barros-Oliveira e Neto (2004), é orientada pela
morte. O desejo de ter filhos como um prolongamento de sua espécie e a busca por formas de
religiosidade e espiritualidade como desejo de transcender e sobreviver à morte.
Existe um consenso entre cientistas sociais, filósofos e psicólogos, de que a religião é uma
importante instância promotora de significação e ordenação da vida e do sofrimento. Ela se mostra
sumamente importante nos momentos de maior impacto (Dalgalarrondo, 2008). Gadamer (2000,
citado em Dalgalarrondo, 2008) acredita que o fato da experiência religiosa não faltar em lugar
nenhum da humanidade, se dá através do compartilhamento de um sentimento em particular, que é o
medo da morte e o senso de finitude. Ele vai dizer ainda que:
[...] O pensamento antecipador do homem leva, irresistivelmente, como parece, ao
desejo de pensar para além de uma morte, assim tão certa. Desse modo, os homens
são os únicos seres vivos que conhecemos que sepultam seus mortos. Isso significa
que eles procuram conservá-los para além da morte – e honrar em culto àqueles que
guardam na memória [...] (Gadamer, 2000, p. 227).
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A espiritualidade representa um recurso ao empoderamento do sujeito baseado em suas crenças
individuais, sem necessariamente a institucionalização da religião. Segundo Guerrero, Zago, Sawada
e Pinto (2011), a espiritualidade dá sentido à vida e por isso permite suportar sentimentos debilitantes
como culpa, raiva e ansiedade. Ela exerce influência em diversas dimensões do sujeito em sua vida, e
também no processo de morte e morrer, sendo importante como estratégia de enfrentamento dos
pacientes diante do diagnóstico (Pinto et al., 2015).
Reginato, Benedetto e Galiann (2016) mostram que, com o auxílio da ciência, o sucesso terapêutico
progrediu com ações de drogas específicas e interferência do código genético, tendendo a uma
marginalização dos recursos da fé. Porém, essa pesquisa demonstra que para os pacientes, a
consciência da participação da fé, imponderável e não quantificável, sempre existiu.
Isso pode ser percebido no estudo de Pinto et al. (2015), que buscou identificar a importância da
espiritualidade em pacientes com câncer para enfrentamento das questões de adoecimento e
tratamento. Observou que a espiritualidade contribuiu atribuindo significado ao processo da doença e
a necessária compreensão deste fator por parte do profissional de enfermagem.
Oliveira e Junges (2012), buscam explorar a percepção dos psicólogos sobre a relação entre
espiritualidade/religiosidade e saúde mental em suas práticas. Observaram que o psicólogo é
facilitador no processo de autoconhecimento na integração com a dimensão espiritual e a escuta
dessa experiência pode favorecer uma intervenção no campo da espiritualidade.
Dessa forma, o psicólogo se faz importante no contexto da instituição hospitalar permeando questões
que vão além do campo biológico já trabalhado pelos demais profissionais de saúde.
O PSICÓLOGO E A PSICOLOGIA EM CONTEXTO HOSPITALAR
De acordo com Kovács (1992), o psicólogo que deseja lidar com pacientes terminais ou de cuidados
paliativos, deve ter uma boa compreensão e aceitação do processo de morrer para ser capaz de ajudar
o outro a morrer.
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Ferreira, Queiroz, Lira e Siqueira (2009) realizaram um levantamento de nove instituições de ensino
de psicologia com nota 5 (cinco) no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) de
2006. Analisaram as grades curriculares dos cursos de Psicologia em busca de disciplinas com
temáticas sobre a morte, o morrer e a Psicologia da Saúde. Muito pouco foi encontrado.
Diante disso, Ferreira, Queiroz, Lira e Siqueira em 2013 realizaram uma pesquisa com quinze
Psicólogos de quatro diferentes hospitais para através de um questionário estruturado avaliar
conhecimentos, habilidades e atitudes dos profissionais diante da morte. Em suma, sete, dos quinze
entrevistados se consideraram preparados para lidar com os pacientes, a maior parte deles relata ter
retirado o conhecimento da prática ou pela busca particular de leituras e eventos na área. A pesquisa
mostrou também que o profissional de Psicologia é por muitas vezes solicitado pela equipe de saúde
para dar suporte em situações que a própria equipe não se sente capaz de lidar e por não compreender
que determinadas reações tanto do paciente quanto da família, são esperadas (Ferreira, Queiroz, Lira
& Siqueira, 2013).
Apesar disso e da dificuldade de reconhecimento do Psicólogo na maioria dos hospitais, esse
profissional assume um papel de grande relevância no auxílio dessa população. Diante do cenário de
agitação da realidade hospitalar, onde a equipe de saúde não consegue lidar com a tarefa de ouvir o
paciente e acolher sua demanda, o Psicólogo entra para atender necessidades que por muitos passam
despercebidas.
O Psicólogo Hospitalar tem em seus objetivos atender às demandas emocionais, trabalhar os medos e
ansiedades diante do sofrimento, do comprometimento físico e da iminência da morte; facilitar o
processo de tomada de decisões e resolução de possíveis problemas pendentes; apoiar a família para
lidar com as emoções ante a morte, a separação e o próprio paciente; apoiar a equipe de saúde
envolvida para que possa lidar melhor com a possível frustração e perda do paciente; auxiliar para
que o tratamento e o cuidado oferecido ao paciente em sua fase terminal respeite sua dignidade e
qualidade de vida (Kovács, 2003; Oliveira, Voltarelli, Santos, & Mastropietro, 2005; Souza &
Boemer, 2005).
Este recorte que norteia o ofício do psicólogo hospitalar responde ao que historicamente tem
caracterizado este domínio específico de aplicação dos conhecimentos da psicologia em sua
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aplicação ao contexto de atendimento terciário em saúde. A psicologia hospitalar foi criada para
satisfazer uma demanda emergente no Brasil, onde historicamente há uma evidência no cuidado com
o indivíduo após a instalação da doença, utilizando o modelo clínico assistencialista (Castro &
Bornholdt, 2004). Dentro desse contexto, o psicólogo hospitalar atua em conjunto com uma equipe
multiprofissional visando o bem-estar físico e mental dos pacientes e seus familiares e/ou
responsáveis, resultante da patologia, internação e tratamento (Lazzaretti et al., 2007; Nascimento &
Roazzi, 2007).
O processo de hospitalização exige do paciente uma série de condutas que demonstram sua
passividade em resposta aos procedimentos tomados visando a recuperação de sua enfermidade. Por
conseguinte, ocorre o processo de despersonalização do paciente, ou seja, o estigma do doente se
instala e passa a ser apenas um número no leito, ou portador de determinada doença. O indivíduo já
não é mais visto em sua amplitude existencial, e sim limitado em seu diagnóstico médico (AngeramiCamon, 2010).
Inserida nesse ambiente hospitalar, a humanização enquanto estratégia política tem como objetivo
facilitar o processo de internação, tanto para os usuários desse sistema quanto para os profissionais
de saúde, criando uma relação de bem-estar psíquico e social (Mota, Martinz & Veras, 2006). A
psicologia hospitalar está em comum acordo com a política de humanização implantada dentro dos
hospitais, pois segundo Lazzaretti et al. (2007), favorece a promoção de saúde e qualidade de vida, e
facilita a comunicação e expressão humana, com tratamento específico das questões do ser humano e
sua história de vida.
Embora muitos avanços tenham sido feitos na área, a Psicologia Hospitalar ainda permanece pouco
preparada e considerada. Segundo Fossi e Guareschi (2004) esse processo vem ocorrendo de forma
paulatina, relatam que há menos de duas décadas as intervenções psicológicas ocorridas em
hospitais, ainda não eram regulamentadas. Considerar o corpo humano além do corpo físico, exige
um cuidado integral da saúde com auxílio de múltiplos profissionais. Porém, o que ainda se vê em
muitos hospitais, são instituições enormes com um número extremamente reduzido de profissionais
de Psicologia que lutam para atender as demandas emergentes.
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Os cuidados médicos e a atenção à saúde física são primordiais, mas o processo de enfrentamento da
doença não diz respeito apenas à cura, mas a maneira como os pacientes vão levar o tratamento,
como vão ressignificar a doença e lidar com os efeitos colaterais em diferentes momentos do
processo, encarando-o de forma mais saudável e positiva (Simonetti, 2011).
Estudos mostram que estratégias de enfrentamento que auxiliam o sujeito a lidar com os problemas
ao invés da fuga, trazem melhores resultados. Como exemplo, podemos citar o estudo de Heim,
Valach e Schaffner (1997), realizado com 74 pacientes em tratamento do câncer de mama,
observadas em período de três a cinco anos de intervalo. Os resultados finais mostraram que o
relacionamento interpessoal positivo e as estratégias de enfrentamento de aproximação ou
direcionadas para o problema auxiliavam na adaptação psicossocial por meio do suporte social e do
autocontrole, enquanto que a evitação (negação e fuga) do problema interferia negativamente nessa
adaptação.
Outro estudo realizado por Gimenes (1997) com 120 mulheres submetidas à cirurgia de mastectomia
mostrou em seus resultados que mulheres com níveis altos de bem-estar psicológico tinham famílias
coesas e focavam nos aspectos positivos frente à mastectomia e não em aspectos negativos como a
autoculpa. De modo geral, enfrentar e focar no problema traz melhores resultados para o bem estar
do paciente do que estratégias de evitação. Assim, podemos dizer que o uso de estratégias de
evitação leva não só a um maior relato de afetos negativos como a uma menor percepção de afetos
positivos, enquanto os pacientes que enfrentam seus problemas por meio de estratégias de
enfrentamento direto relatam mais afetos positivos (Paula Junior & Zanini, 2011).
Schmidt, Gabarra e Gonçalves (2011), buscaram analisar e refletir a atuação do psicólogo diante das
questões de morte e evolução da terminalidade dos pacientes e seus familiares em contexto
hospitalar. Observaram que o acompanhamento psicológico aponta para mudanças positivas nas
relações familiares com diferentes papéis e funções, proporcionando uma reaproximação dos
envolvidos. O ritual de morte é considerado um desencadeador de mudança nas relações familiares e
elaboração do processo de luto tanto no paciente quanto nos familiares e equipe de saúde.
Nesse entendimento, os cuidados paliativos são ações de assistência a pacientes com quadros
irreversíveis da doença, objetivando o controle da dor e alívio do sofrimento físico, psicológico,
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social e espiritual, quando o processo de cura é inatingível (Moritz et al., 2008). Nesse sentido,
Castro e Barreto (2015) analisaram a percepção dos médicos oncologistas sobre o sofrimento do
paciente em cuidados paliativos e a existência de critérios para encaminhá-los ao atendimento
psicológico. Como resultado, perceberam o reconhecimento dos médicos acerca da importância da
psicologia neste atendimento, no entanto critérios estabelecidos não parecem objetivos.
Esses achados de pesquisa ressaltam a importância de profissionais de Psicologia preparados e bem
capacitados para auxiliar pacientes, familiares, equipe de saúde, cuidadores, todos os sujeitos
envolvidos no processo do adoecer, do cuidado e da morte, de modo a tentar minimizar o sofrimento
e otimizar os processos de cura. O bem-estar psicológico e emocional não pode ser dissociado do
cuidado com a saúde, ele precisa ser tratado com seriedade e incorporado aos hospitais na proporção
necessária para que as demandas dos pacientes sejam de fato atendidas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho objetivou a pesquisa e reflexão a respeito dos conceitos de morte, reconhecendo-o
como parte do ciclo vital, e espiritualidade no suporte aos questionamentos advindos desse processo,
com foco na função do psicólogo em contexto hospitalar apoiado no instrumental teórico acerca das
demandas emergidas pelo paciente.
Atualmente a morte é tida como um tabu na sociedade, em que nos momentos de crise, doença
terminal, hospitalidade, o sujeito é atravessado pelo medo de morrer, pelo indesejável prospecto de
sofrer física e psiquicamente. O homem moderno promove a desritualização da morte, em que ela é
negada, distanciada da infância, e aos doentes é preferível um desvinculo com a família no processo
de hospitalização para não ver seu sofrimento diante da morte. A espiritualidade contempla a
retomada do transcendental, aquilo que está para além do empírico, uma tendência ao resgate do
espírito humano em sua completude. Atua, portanto, como recurso ao empoderamento do indivíduo,
dando sentido à vida.
Nesse contexto, a psicologia no hospital mostra sua contribuição na compreensão e aceitação do
processo de morte e morrer facilitando a permanência na instituição. O psicólogo é muito solicitado
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pela equipe de saúde para atender a carência no cuidado sobre o tema em foco, sendo capacitado para
auxiliar pacientes, familiares/cuidadores e equipe de saúde.
Compondo o ciclo vital, a morte permite a reflexão de diversas questões no indivíduo sobre a vida e
condições de melhor experienciá-la, mesmo em situações de crise e de sofrimento importante e letal.
Dessa forma, uma dessas condições é a experiência no campo da espiritualidade, em que há a busca
pelo transcendente através das crenças pessoais. A psicologia em contexto hospitalar ressalta sua
importância propondo ao paciente uma atenção à sua subjetividade, bem como à vivência da morte e
do morrer com respeito e serenidade.
REFERÊNCIAS
ANGERAMI-CAMON, V. A. (2010). O Psicólogo no Hospital. In V. A. Angerami-Camon (Org.),
Psicologia hospitalar: teoria e prática (pp.01-13). São Paulo: Cengage Learning.
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FACULDADE DE INTEGRAÇÃO DO SERTÃO – FIS / SERRA TALHADA - PE
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